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Um breve resumo de como me tornei o que sou
Não vou mais me calar, nem abaixar a cabeça, nem aceitar ajuda que vem com um sermão ou ordens de bônus.
Tive uma infância difícil, desestruturada. Graças a Deus nunca passei fome e tinha tudo do bom e do melhor. Mas pra isso, vira e mexe a luz era cortada, o condomínio não era pago e outros compromissos básicos não eram honrados. Minha mãe era bipolar e 70% do ano ela estava na cama, com depressão. Passava dias sem tomar banho ou escovar os dentes. Mas meu uniforme da escola estava sempre impecável, o almoço na mesa quando voltava da escola. Com a ajuda da minha avó, claro. Minha mãe era puro AMOR, tirava dela pra dar para os outros, sempre estava disposta a ajudar, mesmo qd estava na cama. Incluía caixas de leite ninho na lista de compras pra ajudar uma vizinha alcoólatra que tinha um netinho que berrava o dia todo. Ela levantava da cama pra montar minhas amigas e eu quando tínhamos festinha. Era minha amiga, sabia de TUDO que acontecia na escola comigo e meus amigos. Dava conselho, fazia lanchinho, mas voltava pro refugio do quarto escuro o mais rápido que conseguisse. Quando éramos só nós duas e minha avó ( não só conosco, com qualquer pessoa próxima que tivesse alguma ligação) é que a coisa ficava feia, ela arrumava briga, virava bicho por coisas muito pequenas, rasgava as próprias roupas, tentava se jogar da janela, e eu com uma força de sobrevivência conseguia puxa-la de volta que até a jogava no chão, perseguia a família do meu pai quando ele faleceu. Eu tinha apenas 7,8 anos. Uma vez tentou tomar um vidrinho de chumbinho, mas consegui dar um tapa na mão dela e derrubar tudo no chão. Na mesma hora aquela vibe de suicídio se desfez pq ela ficou desesperada com medo de nossas cachorrinhas comerem, então fomos lavar a cozinha as pressas. Assim foi a minha vida desde as minhas primeiras lembranças até os 15 anos, quando ela conseguiu colocar o chumbinho no pão escondido e conseguiu comer. Em seguida ela ficou ligando para pessoas q estava brigada. ( Sim ela brigava muito com as pessoas q mais amava, eu e minha avó sofríamos mais pq estávamos ali todos os dias) Escreveu cartas para uma prima pedindo q tomasse conta de mim. Ela sempre disse que faria isso, mas estávamos sempre vigilantes, e a gente nunca acha que vai acontecer. Eu vivia com medo, quando ela começava a se descontrolar, eu me enfiava num vão entre uma cômoda e a parede do meu quarto, chorando pedindo que deus a acalmasse para ela parar, sempre funcionava. E quando ela parava vinha chorando me tirar daquele cantinho e pedindo desculpas. A noite, eu dormia agarrada nela, apesar dela ser o monstro que me apavorava dia após dia, era o anjo que me protegia a noite. Eu me agarrava nela p dormir, pq só ela podia me proteger. Ela era realmente o anjo e o demônio ao mesmo tempo. A grande questão é que o anjo era tão poderoso, transmitia tanto amor, tanta generosidade, empatia, me ensinou a ser a pessoa q sou hoje. Eu sabia que o demônio n era ela, era uma parte dela que precisava aparecer pq o medo, insegurança e sentimentos horríveis a corroíam por dentro, e quando ela explodia um pouco daquilo saía. Eu também sabia q era só esperar que passava, ela cansava, claro. Mas a minha avó, infelizmente não entendia isso, não aguentava ouvir todos aqueles absurdos que ela dizia e brigava, batia de frente e a coisa virava uma bola de neve, neve não, fogo.. A parte mais triste é q naquela época as pessoas resistiam muito mais a tratamentos. Ela começava a se tratar, ganhava peso e ficava bem, aí Pronto. Ela parava com os remédios e logo o pesadelo voltava. Essa foi minha infância. Nunca me senti segura, a sensação era de q a qualquer momento o mundo desabaria, vivemos assim até meus 15 anos, quando ela finalmente conseguiu tomar o chumbinho e depois de muito sofrimento no hospital partir dessa vida. Foi isso que aprendi naquela fase onde aprendemos a ter medo ou ficar mais calma, rotinas e o desenvolvimento moral. Ela me deu todo o amor do mundo, mas não pode me ensinar as coisas mais básicas da vida, o que me tornaria uma pessoa adulta responsável, com rotina, que saberia os momentos certos pra ter medo e coragem. Aliás, coragem, até hoje eu estou tentando aprender. Pq quando tinha medo, eu me encolhia e esperava passar. Assim desenvolvi Transtorno de Personalidade Borderline. Não sei lidar e controlar sentimentos e emoções. Eu simplesmente paraliso, me jogo na cama, fujo ate que passe ou tomo decisões, falo e faço coisas no impulso. Eu n aprendi a enfrentar as coisas, mesmo depois de seu falecimento, fiquei rodando pela família que como ela tbm n tinham condições de ensinar pq tbm não sabiam lidar ( se vcs estiverem lendo isso, me desculpem, mas vcs precisavam de ajuda tanto quanto ela)Só fui começar a ter essas noções aos 21, 22 anos quando finalmente uma pessoa q nem era tão próxima, mas da família, literalmente me adotou. Eu tinha acabado de sair de uma tentativa de suicídio que me debilitou muito, tive trombose, estenose traqueal, fiquei meeeeeses com uma traqueostomia aberta no pescoço que só quem precisa disso faz ideia do quanto é difícil. Ela me cuidou, me deu amor e compreensão ao máximo dentro do que ela aprendeu e tbm podia dar. Afinal somos primas distantes, mas somos da mesma família, a parte dela é a menos cagada, pq seu pai sempre soube que o único caminho era a educação. Não deixou bens materiais mas passou a importância do conhecimento.
Estou escrevendo esse texto, honestamente para uma reflexão pessoal e para mostrar as pessoas que estão ao meu redor que eu comecei a sair de uma bolha de desequilíbrio muito tarde, com 22 anos. E elas acham que eu já deveria ter autonomia, ser responsável, equilibrada e levar minha vida de boa. Sei que todos tem as melhores intenções e me ajudam muito.
Mas toda vez que a ajuda vem, vem com cobranças, sermão, quase como se estivesse tentando dizer que estão me ajudando pq eu só faço merda. Até pouco tempo atrás isso entrava no meu cérebro e me envenenava, me deprimia, me cobrava por não conseguir e isso só me destruía ainda mais. Falam como se eu não soubesse o que eu preciso fazer p que as coisas deem certo e eu não passe mais perrengue. Deixa eu falar uma coisa pra vcs: EU SEI. E toda vez que vocês vem e repetem tudo que a minha mente já repetiu milhares de vezes, morre mais um pouco de esperança dentro de mim. Essa pessoa, que foi a primeira a me ensinar na prática como fazer as coisas acontecerem não sabe ( eu acho), mas ela mora numa cobertura que corresponde mais ou menos a 15 andares, e uma vez, eu cheguei a sentar no muro do terraço com as pernas penduradas para fora. E eu não tive coragem, a adrenalina e desespero eram enormes, mas eu não poderia causar esse trauma a eles, e principalmente ao meu priminho que na época tinha uns 12 anos. Era só o que passava na minha cabeça, que eu não tinha o direito de causar um trauma desses a uma criança. Aliás essa bengala pra não me matar foi usada muitas vezes. Eu não queria que ninguém me encontrasse morta. Por isso, a vez que tentei e realmente n morri por pouco, me encontraram caída na rua. Tomei um coquetel violento de remédios variados, dei uma desculpa pra minha avó e fui p rua.
... ( pausa pra lágrimas)
Graças a Deus encontrei um anjo, que é minha psicóloga que solta umas frases que qd estou em crise voltam com td e ficam martelando ate me acalmar. Numa dessas, ela me disse: “ Cibele, não adianta, as pessoas nunca vão entender o que vc passa e sente. Só vc, nem eu consigo. Eu estudei e tenho conhecimentos científicos para te ajudar, mas saber de fato o que vc sente, eu não sei�� Isso foi uma virada de chave na minha mente. Eu finalmente entendi de que não adiantava gastar energia sofrendo e tentando fazer os outros entenderem pq eles não vão. Alguns tem mais empatia, se solidarizam mais, respeitam um pouco mais os meus momentos, meus sumiços e silêncios. E outros não. Continuam repetindo coisas obvias, q eu estou cansada de saber mas q eu não consigo aplicar.
Algumas pessoas de uns tempos pra cá resolveram... “me punir”, digamos, ser rígidos. E eu te pergunto: Adiantou ? Pelo contrário, só me causou uma mágoa gigante, mais um elemento que provavelmente vai levar um bom tempo p digerir e voltar a confiar nas pessoas. Tudo isso, não sei ... acham que faço ou deixo de fazer certas coisas de SACANAGEM, desinteresse, pq não me importo ou não dou valor. Pq n tenho caráter, sou caloteira, irresponsável. Pra todo mundo, tudo q eu vivi já passou, mas pra mim não. Ta gravado em mim. Mas insistem em chamar de muleta e bengala.Que quando o problema explode eu uso isso tudo e entro em crise. Não se dão conta que só eu sofro com tudo isso, que quando acham que eu estou bem todo o desespero, medo ainda estão ali, mas eu estou tentando viver sem dar poder a esses sentimentos. O que acham? que sou masoquista e gosto de sofrer ? Que gosto de passar fome, perder as pessoas q amo?
Por isso, em 2018 eu resolvi desaparecer da vida dessas pessoas, eu estava trabalhando e elas acharam q estava tudo sob controle, inclusive eu. Em aprox. 06 meses eu perdi 20 kg. Encontrava pessoas que me elogiavam falavam o quanto eu tinha emagrecido e estava bonita, algumas vezes corri para o banheiro pra chorar. Pq esses 20 kg eu perdi passando muita fome, eu não tinha mais coragem de pedir ajuda de tanta vergonha que eu tinha. Eu gastava meu dinheiro todo, sem comprar roupa, sem sair, sem pagar as coisas o dinheiro simplesmente evaporava e eu n comia. A única coisa que eu nunca deixei foi de alimentar meu gatinho, ele era a única prioridade. O dele estava sempre garantido. Mas o resto e minha alimentação, não tinha. Ninguem NUNCA me perguntou se eu estava bem de saúde. NUNCA. Só me parabenizavam e falavam p manter. Manter o que? fome ? Parabens pelo que ? Por ser tão descontrolada que gastava todo o dinheiro e não sobrava pra botar comida na mesa ? Por favor !
No momento em que estou tentando me matar tds são solidários pq tenho um problema e bla bla bla . Se eu não estou tentando me matar só sou irresponsável, acomodada, não tenho força de vontade, caloteira e muitas outras coisas que já me chamaram.
Apoiar uma pessoa com transtorno mental não é dar casa, comida ou dinheiro. Isso muitas vezes pode envenenar ainda mais a mente dessa pessoa se ao fazer isso vc cobra, fica dizendo q ela tem q ser isso ou aquilo, fazer assim ou assado. PQ NÓS SABEMOS ! Sabemos como as coisas tem que ser feitas pra dar certo, mas a gente sofre tanto, 24h por dia, se cobra tanto, se culpa, se questiona, que a qualquer sinal de prazer a gente se joga e DELETA que depois vem as consequencias. O impulso nos da. muitas vezes um prazer imediato que o nosso corpo suplica. Acho que deve ser parecido com o uso de uma droga. A gente quer aquilo naquele momento pra ter algum prazer que consiga substituir a dor e o desespero. É muito rápido. Seja comprando coisas desnecessárias, seja dando um pití com alguém por um motivo banal, seja a negação do fim de um relacionamento, ou a falta de atenção que a gente acha que precisa.
E vai terminar assim mesmo pq não sei como terminar, não sou escritora e não sou obrigada. Bjs de luz.
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