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COM/CÊNTRICO
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A Baixa e a Alta Gastronomia de Belo Horizonte
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comcentrico · 6 years ago
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Referências em tudo: A síndrome da referência falsa gerada pelo Instagram
A história humana é recheada de momentos onde sentar-se ao redor de uma mesa para um jantar, reunir-se com seus amigos para um brunch no meio da tarde ou ter um almoço de negócios é o ponto alto do dia de diversas pessoas. 
A relação entre os humanos e a alimentação é intricada em percepções sociológicas e antropológicas. Visualizada de um campo macro, é um campo onde acontece a gestão de migração das percepções culturais e é um momento de obtenção de conhecimento sobre outras culturas, sendo a culinária uma importante ferramenta na integração sociocultural, que implica situações de aprendizado de novas línguas, comunicação e identificação de novas culturas e modos de ser e fazer, que em muito podem variar da cultura do comensal que, enquanto à mesa, encontra-se pronto para saborear um prato do qual ele nada sabe, nem da cultura do país daquele prato.
Como um reflexo da globalização, a informação sobre múltiplas culturas se encontra na tela de nossos celulares e podemos, graças à importação de produtos culinários que certa vez foram únicos de alguma região ou país, criar esses pratos em casa. Podem também sairmos e irmos à algum restaurante sucedeu a importação daquela culinária para outro país. 
A facilidade com a qual acessamos essa informação aumentou de modo drástico nos últimos anos com a valorização das redes sociais e a importância e a vontade de conhecer a cultura de um outro local. Sendo a comida um imã que atrai a atenção e a curiosidade dos seres humanos desde o mais antigo dos tempos, quando o principal modo de comunicação eram os ruídos e as pinturas rupestres, é de se entender a isca colocada em nossas mãos, com o crescimento das informações e da disponibilidade de conhecimento sobre não só a gastronomia - termo que ainda se encontra atrelada sobre o cunho da alta gastronomia -, mas sobre a alimentação de diversas culturas.
A indústria alimentícia, como qualquer outra indústria inteligente nesse mundo, tem sua atenção constante sobre o que é novo e interessante, sobre o que atrai os seus prosumidores.  Mais importante, a alimentação se baseia muito nos modismos e nas tendências que surgem e desaparecem e, depois de anos esquecidas, voltam sob o cunho de serem uma nova informação como um super-gene que os cientistas descobriram, ou na descoberta ou recente comercialização de uma fruta do sul do Sudão, que tem todas as vitaminas necessárias para o funcionamento de um corpo humano adulto saudável em uma única porção.
Podemos nos lembrar do “surgimento” da quinoa como a nova queridinha das dietas. A couve-de-folhas, conhecida nos Estados Unidos como Kale, fez tanto sucesso que virou camisa, propaganda, esquete de programa de comédia, teve sua inserção feita em um episódio de Keeping Up With The Kardashians. A chia, o óleo de coco, o goji berry e o chá de hibisco são outros exemplos de modismos que a indústria alimentícia observou um interesse crescente e que conseguiu, de toda maneira que pode, inserir esses alimentos em nossas vidas cotidianas, mesmo que não fossemos os principais usuários desses itens. Afinal, a alimentação saudável é um assunto para todas as pessoas.
Esses modismos e tendências são um prato cheio para a indústria midiática, principalmente nas redes sociais. Percebe-se o aumento de postagem sobre certo assunto quando ele se torna a nova moda. Influenciadores digitais dos campos gastronômicos e fitness que, em certo momento se encontrariam em lados opostos, uma vez que o time gastronômico estimula a opulência de seus pratos e o campo fitness, uma comida mais clean e saudável, lutam no mesmo campo de batalha pelos likes que surgiram de receitas que incluam o ingrediente que está na moda.
O Instagram é o principal desses campos de batalha. Sendo uma rede social global, com influenciadores do mundo todo experimentando e criando coisas com um ingrediente, explorando primariamente o sentido da visão, quão mais bonitos forem os posts, mais conhecido aquele influenciador pode se tornar. Outro sentido amplamente explorado é a audição. Criadores de conteúdo que aprimoram suas habilidades para criar um vídeo com áudio e vídeo apelativos tem, em sua maioria, uma possibilidade de angariar um número maior de visualizações e compartilhamentos. Como local de troca entre as pessoas, as redes sociais ganham o poder de influenciar e alterar o comportamento das pessoas. A quantidade de informação que nos é dada sobre um assunto num breve período de tempo nos dá o poder de nos sentirmos referência sobre aquela coisa específica.  
Ao se tornar um hub de novidades, o Instagram se torna um porto hiper carregado de novas informações e experimentações, contendo em si uma possibilidade latente de alteração nos gostos e interesses de uma pessoa. Como vemos nos melhores detalhes a confecção e manuseio dos itens, adquirimos e absorvemos informações num nível além do imaginável.
Essa alteração do comportamento pode ter uma vazão positiva ou negativa. Alguém pode adquirir e absorver essas informações e se sentir apto a criar ou experimentar algo novo. De modo díspar, a quantidade de informação disponível online e o modo que a influência é gerada sobre as pessoas que consomem essa informação, tendo múltiplas referências despejando um conteúdo minimamente curado, pode fazer com que as pessoas se sintam referências naquela mesma coisa. Há uma “síndrome da referência falsa”, gerada por esses múltiplos pontos de absorção de informação que não sabem muito para falar de um assunto. 
Há lados positivos e negativos de utilizar redes sociais como o Instagram na absorção de novas informações. Como há uma multiplicidade de canais e cada um trata a informação de uma maneira diferente, de modo a se destacar de todos os inúmeros canais que estão falando do exato mesmo assunto, conseguimos enxergar diversos lados e possíveis usos para o mesmo item. No entanto, devemos procurar fontes mais relevantes antes de nos considerarmos referências em um assunto novo para todos.
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comcentrico · 6 years ago
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De sentinelas a turistas: O público e o Bar do Fernando
Uma importante parte da pesquisa de campo é visitar os lugares de onde se fala e escreve. Parecemos conhecer tanto esses lugares pela boca de outras pessoas que, ao conhecê-lo fisicamente pela primeira vez, um pouco do mistério do conhecimento já desapareceu.
Nossa ida no Bar do Fernando trouxe essa mesma sensação, mas solidificou-se os pensamentos que criamos nos posts. Conhecíamos o lugar de conversar com outras pessoas, buscar posts e publicações online sobre o lugar e de entrevistar pessoas que já o visitaram. Já conhecíamos o local e o nosso terreno já estava preparado. Mantivemos nossas expectativas para nossa excursão no Bar do Fernando num nível aceitável, pois sabíamos o que esperar.
Ao chegarmos no bar, Vinícius sentou-se em nossa mesa e eu fui buscar uma cerveja e dois copos para bebermos e observarmos as relações que aconteciam no local, essas de todo tipo. Fazendo isso, já agiamos como participantes naquele cenário social, pois sabíamos as leis e regras daquele lugar. Vimos, em pouco mais de uma hora no estabelecimento, diferentes tipos de pessoas frequentando a área e diferentes tipos de relações, tanto entre os grupos quanto na relação deles com o local e o santuário que o Bar representava.
O Bar do Fernando se mostrou um lugar… Honesto, em sua proposta. Cerveja gelada e num preço competitivo com outros bares das redondezas. As pessoas se sentem confortáveis naquele ambiente. Funciona como um ponto seguro no meio da cidade. Um respiro no meio do seu dia a dia, do peso diário da rotina.
Observamos algumas pessoas que pareciam já estar no Bar do Fernando desde que o mesmo abriu, ocupando algumas cadeiras ao lado das portas, mais afastado da rua. Essas pessoas têm a mesma cara daqueles que você veria em bares a partir do momento que eles abrem até quando fecham. São sentinelas do Bar, quase fazendo parte da decoração do lugar. 
Nas mesas mais próximas à rua, observamos dois grupos de estudantes de faculdade pequenos, contendo entre 3 e 4 pessoas. Esses grupos usaram o Bar do Fernando como ponto de passagem entre o trabalho e a faculdade. Eles, como nós, já conheciam o local e como ele funcionava. A diferença aqui vinha de como eles se portavam naquele ambiente. Era natural para eles, estar naquele lugar rodeado por aquelas pessoas. Alguns sentavam e alguns iam buscar cervejas e copos, de modo a relaxar brevemente, antes de encarar aulas até as 22h30.
Outros grupos, saindo de seus trabalhos, carregavam consigo o peso do trabalho diário. Pessoas com ternos e pastas, aparentando serem advogados e advogadas, ou talvez trabalhem nos bancos que estão na região do centro. 
Os dois grupos agem de maneira parecida. Não interagem com pessoas fora do seu grupo, mas estão sempre ligadas às pessoas que estão ao seu redor. Essa é uma habilidade disfarçada de vício, desenvolvida nas pessoas que normalmente interagem com o centro da cidade, a mania de sempre estar atento às pessoas e ao ambiente ao seu redor. Revezam na hora de pegar outras cervejas, e só ficam bebendo, sem arriscar a comer nada que a cozinha do Bar ofereça. 
Durante a nossa observação, vimos um jovem casal chegando ao bar. Ambos tinham, visualmente, idade entre 18 e 25 anos e tinham um visual e uma vibe diferentes.  Ambos trajavam roupas de marca, mas as mesmas passavam despercebidas de olhares não tão observadores. Corpos tatuados com traços finos e grossos, estilizados e artísticos. No entanto, eles trajavam, até mais que suas roupas, uma segurança e uma calmaria no olhar que os fazem pertencer àquele lugar. Como as outras pessoas regulares, e como nós que conhecíamos as regras daquele lugar, o jovem casal sabia como lidar com aquele lugar. 
É um dos poucos lugares que funciona 24 horas em Belo Horizonte. Tem características que o público mineiro ama, como honestidade, simplicidade. As pessoas se sentem confortáveis quando adentram aquele lugar, e há uma sensação de acolhimento e companheirismo nesse lugar. 
Caso você esteja com fome ou sede, ou precisa de um lugar seguro aberto a todo momento na cidade, você pode contar com o Bar do Fernando.
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comcentrico · 6 years ago
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“O Centro é lugar de passagem, ninguem fica.”
Um dos principais pontos que procuramos discutir nesse blog é a perspectiva do consumidor. Os olhares das pessoas que consomem os produtos dos barzinhos do Baixo Centro de BH e os que consomem nos lugares da “alta gastronomia” podem ser interessantes tanto para gerar novas hipóteses quanto para análise de algumas hipóteses já criadas.
As pessoas que transitam por esses lugares, criam histórias e relações de afeto e acabam inserindo isso na história de vida delas e dentro do seu cotidiano. Essa normalização dos ambientes acaba tornando “normal” algum tipo situação que deveria ser questionada e problematizada por toda a sociedade.
Observamos uma situação específica que se repete pelos barzinhos do centro. É grande a quantidade de pessoas que passam de mesa em mesa pedindo dinheiro, comida ou algum tipo de ajuda, seja durante o dia, à noite ou no decorrer da madrugada. 
No entanto, essa situação não ocorre em um barzinho no Lourdes, como o Mercearia 130. 
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Mercearia 130 (Foto do TripAdvisor)
O Mercearia 130 é um gastrobar que serve refeições e pratos com inspiração na culinária mineira e nordestina, está super popular entre os jovens universitários atualmente (jovens que pertencem a classes mais altas, predominantemente brancos, e de universidades privadas, como a PUC Minas e a UNA). 
A partir disso poderemos analisar o que as pessoas realmente sentem quando são questionadas sobre a existência dessa desigualdade nesses polos gastronômicos de Belo Horizonte.
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Bar do Fernando (Foto Foursquare)
Para essa entrevista, nós escolhemos alguém que percorra esses dois pólos opostos da gastronomia de BH e um amigo pessoal de nome Ícaro Brito Junior, que mora na Rua da Bahia com a Augusto de Lima, ou seja, bem no coração central da cidade.
Perfil do entrevistado:
Ícaro Brito, 24, formado em Publicidade e Propaganda
Designer na Kiwi Super Foods.
Negro, estudou a graduação na PUC Minas através do programa social Prouni.
“Os melhores rolês são nos barzinhos do centro que tem cerveja gelada e o preço é bom, a vibe das pessoas tem mais a ver com ideais com os quais eu me identifico. Posicionamentos políticos e ideológicos, tudo isso é percebido e está escancarado nas pessoas que vão nos barzinhos que eu vou.”
“Ele não.”
Militância negra LGBTQIA+
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Ícaro Brito
- Com qual frequência você vai ao Bar do Fernando (ou em outro bar do Baixo Centro)? E nos bares e restaurantes da Savassi e no Lourdes?
Ìcaro: Eu vou nos barzinhos do centro com mais frequência. Como é perto de casa já fica mais fácil de marcar com as pessoas, amigos, dates... Bem mais fácil. Acho que toda semana eu vou em algum bar. Lá em cima (Savassi e Lourdes) vou mais final de semana, talvez duas ou três vezes por mês.
- Como você descreveria as pessoas que frequentam esses dois tipos de lugares?
Ìcaro: Na Savassi é uma galera mais ligada em aparências. Um número maior de pessoas brancas, um número ainda maior de bicha branca que é muito ligada a padrões.
No Bar do Fernando é uma galera meio doida, ligada a estética underground, ligado no que elas acham bonitos, essa estética mais alternativa.
No centro (Baixo Centro) tem gente de todo tipo, gênero variado, preto, branco. Mas uma coisa que dá pra perceber é que são pessoas que de alguma forma demonstram que são engajadas em alguma causa social, tipo LGBTs que ficam com bottons de arco-íris, ou feministas com alguma coisa que simboliza o movimento. Mas não posso generalizar, porque nem todo tipo de militância é feita a partir de elementos físicos, então posso colocar que é bem variado mesmo.
Savassi e Lourdes... É sempre as mesmas pessoas, maioria branca, com iPhone na mão. Ai já vem o preconceito por parte delas, e já deduzo que a pessoa veio de alguma faculdade privada ou faz algo como direito ou medicina na UFMG. Mas é um pessoal mais homogêneo, as exceções são os negros ou pessoas mais humildes que destoam do resto.
- E pro lado de lá (Savassi e Lourdes), onde você costuma ir que você percebe pessoas como essas?
Ìcaro: Yellow Submarine, Mercearia 130, Ponto Savassi e aqueles na pracinha da Savassi.
- Como são os pratos ou os petiscos de cada lugar?
Ìcaro: Sempre mais caros. Na verdade, muito mais caros na Savassi. No centro a gente vai mais pra beber uma cerveja gelada e pedir só uma porção de batata frita ou mandioca pra petiscar, o que, em comparação com Savassi, meu Deus é claro que é mais barato. Mas as comidas mesmo, os pratos mais elaborados dos dois ambientes (alto e baixo centro) tem um preço mais alto e elevado mesmo. 
Coisa interessante que eu lembrei é que já vi o mesmo prato, do mesmo tamanho até, no Barkana (Bar que se localiza em frente ao Bar do Fernando). Lá tem carne cozida na cerveja preta que acompanha um molho e pãezinhos, e na Savassi, não lembro onde ao certo, tinha o mesmo prato, mas estava custava quatro vezes mais que no centrão.
- Como foi a sua primeira experiência em cada ambiente?
Ìcaro: Foi quando eu marquei um encontro e levei um fora. Isso foi no Bar do Fernando. Ele achou minha roupa ruim, não gostou da roupa que eu estava vestido, todo colorido com um vestido indiano. A gente se encontrou pela primeira vez lá, conversamos e ele inventou uma desculpa para ir embora rápido.
Na Savassi foi com o pessoal da faculdade, mas não me lembro onde ao certo. Senti liberdade, sabe... De estar em um lugar diferente do que eu normalmente frequentava, mas essa foi a sensação inicial, da primeira vez que eu fui. 
- Na sua opinião, por que a região central tem essa denominação de Baixo Centro?
Ícaro: Nossa... Acho que tem vários motivos. Por ser localizado em uma região mais perto do centro comercial, que a noite fica completamente vazio... Por ser perto da rodoviária, por estar mais próximo de uma área da Avenida do Contorno.
- E por que você acha que existem essas diferenças?
Ìcaro: Uma das maiores diferenças que acho é a questão da mobilidade. É muito mais fácil para as pessoas que moram na região metropolitana de BH irem para os bares do centro por causa do transporte público, né... Das estações de integração, e acaba que a maioria das pessoas que fazem uso desses transportes são pessoas com uma renda mais baixa. O Centro é lugar de passagem, ninguém fica.
As pessoas que vão pra Savassi colocam mais dinheiro no transporte. Vão de Uber, carro ou transporte público.
- Quando você vai em um bar na Savassi ou no Lourdes, você se sente pertencente a aquele lugar? O que você sente?
Ìcaro: Me sinto pertence a qualquer lugar (risos). Mentira. Até eu beber não me sinto viu. As pessoas reparam muito no que você está vestindo e usando. 
- Se você pudesse mudar alguma coisa nesses lugares (no baixo e alto centro) o que você mudaria?
Ìcaro: Eu mudaria... a variedade de pessoas, em ambos os lugares. Procuraria aumentar isso. Gostaria de fazer um experimento social, colocar o pessoal da Savassi aqui no Centro e as pessoas que ficam pela região do baixo centro lá na Savassi. 
Queria ver se essa sensação de falta de pertencimento é generalizada ou se tem mais coisas por trás disso.
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Após essa entrevista, concluímos vários aspectos que já havíamos pensado antes, como a presença de mais pessoas brancas na Savassi em comparação com o Centro. No entanto, outros aspectos levantados pelo Ícaro não tinha passado pelas nossas discussões internas. Um desses fatores é o da mobilidade urbana. O centro é capacitado por duas estações de metrô,  possui vários pontos de ônibus e pontos de integração que levam para toda a região metropolitana de Belo Horizonte. Essa rede de ligação isso faz com que uma extrema variedade de pessoas de diferentes gêneros e classes sociais percorrem pela região. 
Em sua maioria, as pessoas que moram na RMBH que acabaram de sair do trabalho, por exemplo em uma sexta-feira à noite, querem sair para se divertir com os amigos de trabalho, e a região central facilita deixa mais cômodo essa ação. Porque por mais tarde da noite que seja, os pontos de ônibus continuam funcionando para se locomoveram para outras cidades.
Outro ponto também, é como a região da Savassi já tem esse estigma de ser um centro comercial de “luxo” e preço alto, o que reforça cada vez mais o distanciamento entre regiões.
E as pessoas que vão a esses lugares, vão porque sabem desse alto valor, sabem desse valor de status que a região simboliza e possuem condições de se locomoveram até lá e consumirem os produtos da região.
O ponto da estética também foi levantado algumas vezes durante a conversa. Como as padrões estereotipados de beleza (branco, magro, alto, roupas de marca, jóias, celular smartphone do momento) são percebidos como importantes para a maioria das pessoas do “alto centro” (coloco como a maioria porque não podemos generalizar esse tipo de comportamento, é mais uma percepção generalista que acaba se formando automaticamente). 
O contraponto dessa estética é a estética do “alternativo”, do underground, que é comum no baixo centro. 
Por fim, essas diversas formas de manifestação de desigualdades, são muito mais complexas do que descrevemos aqui, mas é extremamente importante começarmos a discutir como podemos estabelecer possíveis mudanças.
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comcentrico · 6 years ago
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O Novo e o velho.
Uma das primeiras perguntas feitas pelos mineiros, diariamente, ao acordar e despertar é: “O que eu vou comer hoje?”
A gastronomia e a culinária estão tão intimamente entranhadas na vida mineira que a busca por algo saboroso e nutritivo em nossas vidas é constante. Sempre pensamos no próximo prato, na próxima sexta e no próximo almoço de fim de semana.
O alento da simples comida mineira é inegável. Tal calor e paixão é buscado por cozinheiros de todas as culinárias, nacionais e internacionais, que buscam entender o porquê de refeições com alimentos tão simples como alho, couve e fubá invocam o sentimento familiar do acalento de casa.
Um dos pontos característicos da gastronomia de Belo Horizonte é a existência de uma variedade de restaurantes e bares, tanto para as pessoas que se consideram em uma classe econômica mais alta tanto para a mais baixa. Há oferta para todo tipo de demanda e, se você procurar, há uma cozinha para você em Belo Horizonte. No entanto, quando elevados ao patamar gastronômico, os ingredientes e a geografia da cidade influem na percepção construída de uma comida mais classuda ou de qualidade inferior e muitas vezes até duvidosa. Tal percepção pode influenciar o preço do alimento?
Mas, se os ingredientes são os mesmos, se a base gastronômica é a mesma, o que deixa um restaurante no miolo do centro de BH ofertar um prato por 10 reais, e outro ofertar o mesmo prato por 50 reais? O que leva a essa diferença extrema de custo-benefício? 
Levantamos três possíveis pontos de análise à essa questão, de modo a buscar entendimento.
1) Posição geográfica na cidade
Geograficamente, percebe-se dentro da área central de BH, a construção de limites que não estão marcados em nenhum mapa ou guia turístico da cidade, mas que delimitam essa divisão socialmente estabelecida do que é considerado de “classe baixa” e o que é de “classe alta”, ao mesmo tempo que esses dois extremos são fundamentados pela mesma base culinária - a cozinha mineira. Esse é um ponto interessante que poderia levar à classificação desses restaurantes ou bares considerados de classe alta ou baixa.  
Vemos, no entanto, exemplos fora da curva que nos fazem duvidar desse ponto. Há uma crescente de restaurantes alojados no Mercado Novo, localizado próximo à Avenida Olegário Maciel e a Avenida do Contorno. A área é conhecida por não ter uma reputação boa e não ser visualmente agradável. Não parece, à primeira vista, a região mais apropriada para ser o próximo local a receber um boom gastronômico na cidade. No entanto, o crescimento de restaurantes que cobram caro em seus cardápios fez com que a área ganhasse ar boêmio e aventureiro, sendo lembrado pela surpresa de se encontrar comida tão boa num lugar “como aquele”.
O Cozinha Tupis, bar localizado no Mercado Novo traz cardápio tipicamente mineiro, com comidas caracterizadas como “do interior”. Uma análise de seus preços e público-consumidor destoa totalmente das pessoas que rodeiam diariamente o Mercado. Sua comida traz semelhanças com a comida encontrada em diversos bares do Mercado Central e da região do centro da cidade. A base culinária comparativa é a mesma. Então, o que difere esses restaurantes?
2) Base culinária, ingredientes e técnicas 
Como dito anteriormente, a base culinária das cozinhas mineiras é, virtualmente, a mesma. Aqui, o ponto da discussão seria o frescor e a qualidade dos ingredientes e suas possibilidades interpretativas. Diferentes ingredientes passam por diferentes processos de ressignificação, que aqui ganham o nome de técnicas culinárias. A capacidade imaginativa de buscar novas maneiras de preparar um ingrediente e a maneira que o mesmo é inserido em um cardápio ou menu traz a noção de superioridade ou de diminuição de valor percebido que é colocada nesses restaurantes.
Chefs contemporâneos fazem carreiras sobre pratos e ideias que existem a muito tempo, mas, com novas técnicas e ingredientes diferentes ou anteriormente não utilizados, criam comida que ganha o status de arte.
Seria o caso desses restaurantes que existem a anos no centro de BH e que se mantiveram “verdadeiramente” mineiros e orgulhosos de suas raízes e técnicas, publicizarem essas características? Capitalizar sobre a história e as raízes, trazendo sabores verdadeiramente mineiros, para competir com restaurantes novos que trazem velhas ideias reinventadas?
Bares como o Bar do Fernando, que está na mesma região do Mercado Central e o já citado Cozinha Tupis se encontram em patamares diferenciados de preço. Porque isso ocorre?
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Gráfico: Gasto médio dos clientes em bares e restaurantes em Belo Horizonte, 2010
O Cozinha se ressignificou, seguindo um boom de crescimento gastronômico, para atingir o público de classe alta, adquirindo um status de “boa gastronomia”. Caso o Bar do Fernando fizesse o mesmo, ele conseguiria adquirir o mesmo status? Ou será que perderia o seu público atual, e estaria então fadado a manter seus preços mais baixos que o de outros bares?
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Macarrão a bolonhesa e rocambole de boi - Parte do self-service do Bar do Fernando
3) Publicidade e conhecimento de marca
É difícil, senão impossível, arguir conta a presença e a relevância das redes sociais e do meio digital no cotidiano contemporâneo. A internet e suas possibilidades aproximaram os consumidores, tanto entre si quanto dos restaurantes.
A Web 2.0 trouxe, entre muitas coisas, a voz às pessoas por trás das telas. A publicação de opiniões sobre tudo e qualquer coisa é uma prática comum à todos com um celular, um público e uma opinião, e o crescimento do estado de influenciador movimenta as relações entre consumidores.
Comida é uma das coisas mais fotografadas, e a opinião sobre elas é valorosa. Uma nova legião de críticos gastronômicos é formada, e essa é percebida como mais confiável, vez que a opinião deles não foi comprada por restaurantes e eles são implacáveis, caso a comida seja ruim, ou bondoso caso seja boa. 
O feitio e a cultura do local parecem inferir mais do que a publicidade feita ao redor dele. O Bar do Fernando, previamente citado, vive a anos com um conhecimento passado pelo boca-a-boca, sem página oficial em nenhuma rede social, mas com uma legião de fãs e defensores em diversos sites conhecidos por suas críticas, como o Google Maps, o Kekanto e o TripAdvisor.
O Cozinha Tupis traz um Instagram tímido, com fotos de boa qualidade que mostram alguns dos pratos do lugar. A divulgação do local acontece muito mais pelas outras pessoas que fazem vídeos e por reportagens com o chef do local. 
A publicidade pode, então, interferir e elevar o preço de um restaurante? Quanto mais conhecido algo, mais caro ele será?
Acreditamos que, dentre os pontos levantados durante a construção desse texto, o que mais infere na colocação do restaurante como “classe alta” ou “classe baixa” é algo que escapa do socialmente construído, sendo uma soma dos três aspectos observados.
A publicidade é, aqui, um ponto decisivo na manutenção e continuidade do restaurante e do seu status.
A longa vida que o Bar de Fernando tem tido é uma mostra de que a publicidade boca-a-boca é forte e existe, mas ela somente não eleva o status do Bar à classe alta.
A principal força dele está em manter um produto intangível, que é o acalento de um local sempre aberto e disponível para qualquer pessoa, rica ou pobre, diferente do Cozinha Tupis, que é um restaurante percebido como de alta classe pelo seu preço e pelas pessoas que frequentam o local, e não necessariamente sobre onde ele está. 
Poderíamos argumentar sobre a longa vida dos bares “copo sujo” e sua consistência sobre restaurante de classe alta, por aceitar todo cliente e todo dinheiro, ao invés de separar seus clientes pelo quesito monetário. No entanto, essas divagações dão outro post nesse blog, que continuará por mais algum tempo.
GRÁFICO. GASTO MÉDIO DOS CLIENTES EM SERVIÇOS E EQUIPAMENTOS PARA GASTRONOMIA, POR CATEGORIA DE EQUIPAMENTO – BELO HORIZONTE – 2010 - Disponível em http://www.turismo.gov.br/sites/default/turismo/DPROD/PDITS/BELO_HORIZONTE/PDITS_MUNICIPIO_DE_BELO_HORIZONTE.pdf
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comcentrico · 6 years ago
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COM/CÊNTRICO
COM/CÊNTRICO é o novo blog de gastronomia de Belo Horizonte. Aqui, trataremos da culinária como tema unificador da cidade, mesmo com suas diferenças socialmente construídas.
Criado por Vinícius Winter e Vinícius Ribeiro, o nome do blog foi criado sobre o conceito matemático e geométrico de algo que tem o mesmo centro. No sentido figurado, algo concêntrico tem um ponto em comum, semelhante. Encontramos essa característica aqui, na nossa cidade.
Belo Horizonte divide-se em espaços comuns ao ser cruzada, como a Praça Sete, a Rua da Bahia e a Praça da Liberdade. Comida é o tema unificador que rodeia a cidade e todos os seus cantos. Habilmente montada, BH usa seu centro como divisor gastronômico.  
Conhecida como a Cidade dos Bares, Belo Horizonte é uma cidade boêmia, formulada sobre os temas da comida e da bebida, tendo uma vida gastronômica enorme. Tendo uma cultura notoriamente pré-estabelecida de restaurantes de alta gastronomia mineira e brasileira, BH recebe um novo incentivo cultural, que procura espaços de crescimento na área da rodoviária, conhecida como Baixo Centro, caracterizada pelos shopping populares Oiapoque e Xavantes. A cidade tem recebido um grande número de imigrantes, o que tem implicado na geração de novos sabores dentro da culinária mineira.
É percebido que a localização geográfica da cidade comunica o tipo de cozinha da região. O Baixo Centro é popularmente conhecido por ser uma região de alto fluxo de pessoas, das mais diversas classes sociais e econômicas, principalmente por estabelecer principais pontos de encontro importantes como a Rodoviária, pontos de ônibus metropolitanos, cartórios, centros comerciais, o Mercado Central, a Rodoviária e o Shopping Oiapoque, sem considerar o próprio centro de Belo Horizonte que tem sua própria vida econômica ativa.
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Pratos gastronômicos de bares e botecos encontrados no Baixo Centro.
Nessa região, os bares e botecos são as referências chave para se descobrir os pratos típicos que fazem parte da história local.  Percebe-se o crescimento das culturas culinárias vindas de outros países como a chinesa e a coreana, e a inserção desses imigrantes na cidade de BH tem gerado uma expansão cultural e culinária necessária.
No Alto Centro, há o conceito de restaurantes voltado à Alta Gastronomia que, mesmo de outros países como Índia e Japão, se diferenciam dos restaurantes encontrados no Baixo Centro, que também se diferenciam dos restaurantes, tanto novos e antigos e já estabelecidos em Belo Horizonte.
A região Centro Sul de BH,  área caracterizada por bairros como Lourdes e Savassi, é referência em relação a sua alta gastronomia. Restaurantes de alto padrão como Glouton, Vecchio Sogno, Taste Vin e Alma Chef são exemplos que destacam essa importância da gastronomia belo-horizontina gourmet no mercado nacional, com chefs premiados e restaurantes com estrelas Michelin, conhecidos por todo o Brasil e, em alguns casos, pelo mundo.
Esses restaurantes de luxo na Zona Sul apresentam uma cozinha contemporânea que transita entre ingredientes exóticos de várias partes do mundo e ingredientes clássicos da culinária mineira. Esse é um dos pontos que vamos explorar através de Experiências Narradas nesse blog. Descreveremos a ressignificação e repaginamento de ingredientes como o torresmo de barriga e o doce de leite, e a clara distinção e tratamento dos mesmos ingredientes quando encontrados nos botecos do Centro da Cidade.
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A elevação visual e gastronômica “esperada” de restaurantes de alta gastronomia.
A gastronomia em Belo Horizonte é extramente diversa, formada pelo encontro da cozinha clássica mineira com a cozinha moderna e contemporânea. O encontro dessas duas culturas gastronômicas é extremamente benéfico para a cidade, mas existem discussões sobre qual é a melhor gastronomia de todas. Buscaremos, com as nossas postagens, anotações e experimentações nesse blog, mostrar que há pontos positivos em todas as culinárias, e o que importa é o seu resultado final e a sua entrega, uma boa comida.
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