Tumgik
arte-estrangeira · 8 months
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Parideira de brincadeira
Não admito que me desrespeitem, nem que me desejem aquilo que não quero. Abomino aqueles que tentam pisotear-me e por egoísmo me atravessam. Amarro a língua dos que citam meu nome, quando vinculado a palavras que não saciam minha fome. Fecho as portas dos que necessitam de acesso, escondo a chave e de ingressar os impeço. Dou risada no fogo, danço nos escombros, bebo água de lodo e descanso nos assombros. Não tente me perseguir se não quer acabar se perdendo, ao olhar pra trás não encontrará o caminho de volta e terá a obrigação de ir mais para dentro. Não recomendo. Pare aqui! Não me aborreça, não tente me manipular, não é uma boa ideia, porque eu não sei recusar jogar. Amo uma boa partida, uma dita competição sadia, valendo tudo, inclusive a sua miserável vida. Pense bem, o preço é baixo, já que você prefere cuidar da minha. Isso! Me entregue sua alma, seus sonhos, sua atenção, sua energia, cuidarei bem de cada parcela da sua patética ousadia. Continue me dando opiniões, me lançando sortes e maldições, jogando ao vento suas canções desafinadas vindas de medíocres corações. Não temo o mal que me abraça, nem o sorrateiro que me beija, aceito seus cortejos e me sacio sentada em sua mesa. Me alimento do escárnio da frustração alheia enquanto gargalho alto de barriga bem cheia!
Artestrangeira (02-01-2024)
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arte-estrangeira · 8 months
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Se andar na luz fosse bom, não era dito: “vai pela sombra!”
Artestrangeira (24-01-2024)
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arte-estrangeira · 8 months
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A Busca
“Não me interessa a aliança, o reluzir da filiação, a barganha da companhia. Me interessa o que realmente brilha! Saída das entranhas de criaturas noturnas habituadas a fungos e suas umidades, ao menor sinal de luz genuína - depois de vazia - reconheço o que me preenche feito comida. Não aquela que enche os olhos enganando a barriga, mas a que mata a fome e sacia a alma faminta. Pássaro esperto não se encanta com gaiola, nem vê proteção em grade. Ninho só se faz aberto. Quem tem asa não teme fazê-lo em altura, nem evita construí-lo por receio da queda.”
“Eu só faço o que eu quero e tudo que eu faço dá certo. Eu alcanço tudo que desejo e recebo tudo que peço. De um jeito torto ou direito, tudo que almejo chega com esmero. Sem dor e sem medo, aceito de coração aberto porque eu mereço!”
Artestrangeira (23-01-2014)
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arte-estrangeira · 10 months
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Base
Com o funk ostentação de bagagem, eu aprendi que: conforto e acesso ao básico não é luxo, é necessidade, que chuveiro quente, luz elétrica e Danone já traz certa felicidade. Ostentar na quebrada é ter um tênis novo, um óculos Ray-ban e qualquer tipo de IPhone, curtir um som no carro, mandando um churrasco sem arranjar encrenca com os homi. Esbanjar é ter três corrente prateada comprada na banca do camelô, um Juliet do china e uma berma da cyclone, morô? Não passa disso, opulência é outra fita. Ganância quem tem é quem tá sentado lá em cima: da produção, da indústria, do dinheiro, da política. Essa é a sina! É tudo armado pra nois ficar só com os resto e fazer das tripas, coração. Defendendo o discurso de que só consegue quem trampa enquanto eles descansam. Escravidão! Empreendedorismo de cu é rola! Dá o que não tem, trabalha o triplo e não vê devolutiva na nota. Meus pano são usado, comprei em brechó, achei em caixa de doação ou eram peças da minha vó. Os pisante são falso, imitação ou sem marca, comprei no mercado livre ou em loja sem placa. Não tem beleza nisso, mas tem moda! Ah, se tem… o estilo é foda e você não pode negar, eu faço ouro de chumbo com o que minha grana pode pagar. Na beira dos bueiro e das vala, eu acho minha inspiração pra continuar uma estética esotérica sucateada. Coroando ratos de esgoto e nomeando sapos de escombros, como reis de pompa, bonitos, a pampa. As pomba de praça bacana, cheia de ginga, colorida na calçada, exibindo um andar de gringa. Com um colar dourado de um pão que foi jogado, essa de fome não morre, come o que vier e o que não for dado, será roubado. Nos meus quadro, todo animal espiritual é bastardo, impuro, rude, selvagem e exilado. Mas nem por isso sujo, inculto, feio ou menos sagrado. O divino também reside nas migalhas e farrapos, se faz luz nos canto escuro e nos restos de trapos, mora num puxado, barraco, chão de terra e faz milagre com as sobras que a maioria excreta. É nessa cena que eu costumo enxergar arte e cor, como diria Racionais: até no lixão nasce flor!
Artestrangeira (16-12-2023)
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arte-estrangeira · 10 months
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Aracaré
“Eu fui a branquela da quebrada com fama de maloqueira e ladra, na escola escondiam as bolsas quando eu passava e diziam: “cuidado, essa aí é favelada!”. Eu morava em uma rua de terra toda esburacada, que em dias de chuva me enchia de lama e em dias de sol me empoeirava. Quase toda roupa que eu usava era doada, os tênis furados tinham a sola descolada e sujavam as meias que minha mãe trocava na porta da escola enquanto eu me escondia envergonhada. Lembro até hoje o que ela falava: você é pobre, mas é limpa! Não precisamos andar de qualquer jeito, só porque não temos dinheiro. Eu concordava calada. Pros moleque da sala eu bradava: roubar eu não roubo, mas eu sento a mão na sua cara! Nunca levei desaforo pra casa. Carregar fama de corre errado pela minha classe social era o auge da minha marra. Eu fazia de tudo pra ser a melhor e me destacar dentro de um ambiente que eu não sabia, mas todos eram os piores, conhecido como: periferia. Ser aquela que o professor preferia dentre todos os rejeitados, não me fazia importante, só anestesiava o meu estado. Nunca fui a mais bonita, pelo contrário, desprovida: de grana, de beleza, de magreza e de amiga. O tempo passou e fui excluída do grupo das mina normativa. Vista como um cara fui abraçada pelos chavoso do fundão que ficava fumando, arruaçando ou dormindo de exaustão. Um deles sempre me disse: “aí, se pá cê é mais homem que eu! Cê curte umas mina, né? Tá ligada que eu te considero um dos meu!”. Pra quem sempre foi tirada, ser vista como irmão, era ouro! Sem palavra! Era consideração. Nunca entendi porque quando meu pai ouvia Racionais MCs eu sentia tanta raiva, hoje eu sei, que é porque em grande parte eu me identificava. Como pobre, periférica, marginalizada, apesar de branca, vencendo as estatísticas transfóbicas do país que mais mata.. o meu corpo não estará na vala! Eu serei um orgulho pra minha mãe quando estiver formada e pro meu pai quando ele me ver sendo cuidada e amada. Na minha história, o final feliz existe, mas ele nunca acaba!”
Artestrangeira (14-12-2023)
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arte-estrangeira · 10 months
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“Eu refiz meu reflexo, o consagrei como marcador do tempo. Em banimento, expulsei todo meu presente tormento. Sou aquela que apenas rejuvenesce. Dentro do meu templo envelhece lento e independente do momento, meu corpo aparece fervendo para aquecer os olhos daqueles que estão me vendo. Vendi minha geração e cessei minha reprodução em nome da transformação da minha carne. De mobília a veículo, meu movimento é círculo que parte de mim como centro. Sou um grande oráculo vivo em andamento, enxergo toda lâmina de faca como espelho, cada corte é um ângulo novo que percebo.”
Artestrangeira (01-12-2023)
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arte-estrangeira · 10 months
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Hérnia & Aborto
Meu medo eu reservo a mim mesma, nada me assombra mais que meu próprio eu. Em pé, de frente a um abismo que carrego no umbigo, prestes a pular, percebo que é um lugar pior que o hiato chamado de noite escura da alma. Nenhuma atormentada visão de hostes infernais se equipara as dores de minhas perversões mamando em meus seios o pouco de vitalidade que me abria os olhos pela manhã. Me corrói a sanidade ter de caminhar pelo frio azul das pedras que juntei em cegueira, sem atalho, cortam meus nervos e me atrofiam os músculos enquanto fito meu reflexo ficar turvo, mudo, morto. Esse estado inebriante de tortura constante me traz alucinações úteis e informações indispensáveis, porque apesar de parecer que estou desmantelando em abandono a minha concha enquanto alguém despeja sal em cima do meu corpo mole, minha cabeça gira. Noite e dia. Eu vivo em vigília, mesmo durante o sono. Como quem espera no ponto, cansado mas ansioso pela partida ou pela despedida desse mísero pesadelo ou sonho.
Eu só queria ser bonita. Mas parece que nasci para ser artista. Criar. Pintar. Cantar. Viver uma vida catastrófica como pede o estereótipo, digna de um longa metragem dramático. Recentemente, perdi parte da mobilidade das minhas pernas por uma extrusão discal na coluna que me fazia correr o risco de ter uma paralisia definitiva, paraplegia. Em seguida, descobri que estava grávida e quatro dias depois tive um aborto folicular espontâneo no banheiro da clínica em que eu estava. As dores articulares, agora somadas as abdominais, me tiraram do eixo. Terminaram de dissolver o resto de juízo que me restava. Eu não podia caminhar, espairecer, mal conseguia me movimentar, fiquei de luto acamada. Acompanhada mas internamente isolada. Apesar de nunca ter almejado ser mãe, nunca aspirei tamanho fantasma. Frida Kahlo passou por terrores similares aos 23, eu estou com 26.
Deitada aguardo ser curada - de todos os males - temendo apenas a deformidade de minha sombra.
Artestrangeira (07-08-2023)
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arte-estrangeira · 10 months
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“Eu não nasci para ser desejada, nasci para ser amada. Minha carcaça é pedra pomes e mal pode ser tocada. A sensação da sua mão será de maciez, mas a minha pele sentirá que foi esfolada. De certo posso ser cortejada, admirada, desde que você saiba que na primeira noite eu serei venerada e na última profundamente odiada. De um objeto de estima à uma inutilidade descartada, minha vontade é uma esfera gelada, sem lado, sem face, oblíqua e acinzentada. Não pode ser aquecida, nem tão pouco derretida, precisa ser constantemente esfriada. Entre abraços e afagos, há estalagmites que fazem estrago nos pés de quem entra desavisado ou se faz de desajustado. Observe o buraco e veja que do profundo brotam criaturas míticas e objetos pontudos. Atente seu tato. São naturais do escuro. Minha libido é algo difuso, turvo, sem definição, tão pouco mútuo. É luxo. E como pobre, ressignifico seu uso. A ponho em um pedestal, protegido por lasers e portas de segurança, assim, quase ninguém a alcança. Não é por maldade, nem por desconfiança, é por estigma, é a minha aliança. Meu pacto é com o anômalo, incongruente, dissidente, é com o balanço do barco na contra corrente. Seria tu um sobrevivente dessa escassez? Seria capaz de suportar o prazer sem imediatez e sem cupidez? Meu tesão é uma banheira azulada de mármore coberta de pedras de gelo até a borda: após muitas imersões se aumenta a imunidade contra o que antes parecia uma mera crueldade imposta. Para mim é uma espécie de santidade que transborda e eu já não lamento se você não concorda. Apenas anseio: acorda!
(De todos os armários que saí feito matrioska ao longo dessa viagem que é ter um corpo, o mais difícil de todos tem sido o da assexualidade. Nunca discutida. Nunca validada. E apesar de sem visibilidade, presente e cansada de permanecer calada!)
Artestrangeira (28-06-2023)
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arte-estrangeira · 10 months
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A FICHA CAI
“Desprovida de beleza, a criança chora. Dos seus olhos minam dois peixes mágicos, embalsamados de feiúra, tratados como escória. Ela brinca com a imaginação, acredita que estão sobre seu domínio e implora: me façam loira e magra agora! Com aparência morta em água gélida eles a ignoram e fazem o que sua natureza pede: nada. O décimo segundo e último signo do zodíaco me empurrou para o fim da fila, me fez alta e quando posta em ordem crescente, eu nada via. Me sentia excluída não só pela altura, mas pela barriga. Me chamavam balofa, barriguda, gorda, baleia. Nunca sereia. Baleia não foi o único animal que viram em mim, vez ou outra eu era macaca ou ursa porque “nossa como você é peluda”. Meu cabelo não ganhou analogias animalescas, mas nem por isso deixou de receber uma crítica dura: “por que ele é assim armado? Você não penteia? Por que não alisa?” Cheguei em casa naquele dia, me fitei na mesma superfície espelhada que me refletia como o lago onde meu peixe-mago dormia e vomitei: maldita seja a superfície que me revela e a profundidade que me oculta, por que me criaste com uma carcaça bruta em uma Terra em que não consigo ter uma aparência enxuta? Sádico e doentio é o deus que me moldou do trigo em um mundo onde corpos são feitos de barro. Sentado no alto, de mim, ele tira sarro. Eu vago pelo meu pouco terreno imaginário forçando esquecer o audível comentário: “seu sorriso é feio, devia por um aparelho!”. Rumo ao topo da montanha do privilégio, eu marcho. Há anos. Mas não acho. Ela vira de lado. Cresce. Aumenta o fardo. Eu caio. De baixo realizo, é impossível. Sigo reto na planície com meu balaio carregando as quinquilharias que chamo de afeto. Me despeço do pesadelo de perseguir esse sonho com aparência de dejeto. Me liberto e ao longe enxergo todo território onde, por fim coroada, me interno.”
(Essa rede me serve de grimório. É a oportunidade de expandir em um milésimo tudo que guardo. Capítulo por capítulo. De dentro do meu quarto)
Artestrangeira (06-06-2023)
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arte-estrangeira · 10 months
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A ORIGEM
“O peixe andróide é o primeiro”, ela dizia enfaticamente enquanto eu fitava atônita as águas salgadas que cobriam a periferia. A areia brotava próxima a guia. Meus pés a sentiam quente e úmida. Eu sorria. Já sentia sua presença muito antes dessa maresia. Veio forte naqueles vinte e um dias de água fria quando sentei e te rabisquei essa pintura, início de autobiografia. Praticamente um auto retrato que ilustra o signo duplo que me permite dormir acordado por meio de magia. Tenho olhos de peixe morto, não de mago. Um deles fica na superfície e se mantém no claro, outro desce ao abismo e não se abstém do escuro. No fundo não há placa, no raso não há muro. Ambos se interligam pelo fio da ametista que se desfez de tão impuro e acabou por não ver a cor do futuro. Com o tempo, o cérebro maduro poluiu o rio onde desaguava a fonte de ouro e por longos anos não houve brio. Meu choro pueril, então, rompeu o agouro que eu mesmo perduro e das profundezas jorrou meu expurgo: “às vezes o que há de mais evoluído a se fazer é voltar atrás”. Eu conjuro, o passado não é de todo susto, há momentos que o tornam seguro.
De uma sopa caótica irresoluta e sem ordem numérica específica, surge da roda infinita a primeira criatura da lista. Intravertere passa a ter seu nascimento de forma vista anterior a criança que segura o ovo da vida. O peixe é o primeiro a sair da grande barriga.
Artestrangeira (05-06-2023)
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arte-estrangeira · 10 months
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FÓSMEO DÂNDI
“Eu não preciso do seu amor, nem tão pouco da sua aceitação. Eu sou uma força da natureza, que sai das sombras e estoura o chão. Um veio de água que corre invisível por baixo dos pés de quem me tem como maldição. Caminho por vias tortuosas e vales de ossos secos, sou peixe abissal que mergulha no profundo sem medo. Recebo tudo de mais horrendo, abraço e me entretenho. Do chorume que bebo, fervo meu veneno. Não me entenda mal, eu não pago na mesma moeda, eu uso uma mais cara. Porque repudio o mínimo, o pouco e o pequeno. Não quero nada razoável, mediano ou ameno. Ou você me ama ou me odeia, não há meio termo. Se os mornos enojam o paladar de deus, quem sou eu para não vomitar na imagem dos mais ou menos? Te convido a vestir meus sapatos e desfilar na minha roupagem, arrisco em dizer que você não tem essa coragem. Isso sai da sua própria boca, admitindo que é covarde e em mim, na verdade, sobra insanidade. Minha loucura nasce das violências que sofri, tal qual qualquer vilão que já assisti. Então, visto minha capa preta e meu chapéu de ponta para ocupar o lugar que a mim foi dado sem eu me dar conta. Aceito de bom grado o maltrato e faço dele reinado. Sentarei no trono da iniquidade e governarei todo rastejante pisoteado, para a glória do povo que até aqui foi humilhado, mas na minha presença será grandiosamente exaltado.”
(Clavígere, a soberana de intravertere, atua pela metáfora e pela apofenia através de um movimento corolário)
Artestrangeira (08-04-2023)
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arte-estrangeira · 10 months
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“A vida não tem reinício. Não tem fim e nem recomeço. Só a continuidade permanece. Evoluir é acrescentar, é somar, é melhorar o que até aqui existiu, sobreviveu e floresceu. Nada acaba de fato, a morte é uma mudança de forma assim como o nascimento. Nada é capaz de parar em totalidade, nada está em pura inércia. Ainda que pareça inativo, paralisado, inanimado, está em constante movimento. Mesmo que seu corpo e mente recusem, a existência avança, o universo expande e a vida continua.”
Artestrangeira (01-01-2023)
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arte-estrangeira · 2 years
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O AMOR ASSEXUAL
O amor que sinto é como uma conjuntura cósmica rara. É certo que acontecerá, está previsto. Mas talvez demore e seja de breve aparição. Nem todos verão, alguns estarão dormindo, enquanto outros nem validarão minha passagem. É sutil, quase invisível, quase imperceptível, mas no momento certo em condições muito específicas dentro de combinações favoráveis... Nasce. Esbarra. Brilha. Explode. Expande. Permanece. Cria mundos inteiros, alimenta vida, emana calor. Mesmo me distanciando num longo giro gélido similar a morte do inverno, eu retorno lenta, calma, como uma flor na primavera. É sempre cíclico, mas nunca constante. Pode passar um dia ou outro, mas a natureza, o magnetismo, as circunstâncias, são impossíveis de conter. Para todos os meus efeitos e defeitos, apesar das minhas faltas e secas, o que mantém meu amor nunca será seu corpo, sua matéria, suas posses, seus feitos, suas conquistas. Menos ainda a satisfação carnal capaz de me entregar no auge da sua virilidade e altivez. Tudo isso é consequência, efeito e não causa. Meu desejo mora no abstrato, no intocável, no inaudível e não se satisfaz de forma convencional. Mesmo que o meu astro sucumba, a força que o criou continuará navegando em sua direção como pequenos fótons de luz que apesar de não mais serem sóis, ainda brilham em meus olhos quando veem os seus na vasta escuridão do espaço que se criou entre nós. Não, isso não é um lamento, é reconhecimento. É realidade. É afirmação. É entendimento. Não é romântico. Não é normativo. Não é passivo. Não é permissivo. Não é confortável. Não é favorável. Não é maleável. E nem sempre é bonito. É inóspito, hostil, quase inabitável. E apesar desse cenário, você vive em mim como habitante de um coração salino, ácido e quase desértico.
Artestrangeira (30-12-2022)
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arte-estrangeira · 2 years
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EU DECLARO
Não cite meu nome, não me chame, não me evoque, se não quiser que eu apareça. Não se lembre, não se afete, não se choque, se não quiser que em importância minha imagem cresça. Me faça um favor e não mexa, não fale, não veja. Passe reto, vire à cara e quando dobrar a esquina, faça o sinal da cruz na frente a igreja. Peça cuidado a quem quer que seja e que este te abençoe e te proteja. Que te guarde da peleja que eu estou prestes a travar em nome do único nome, pois eu sou o que sou e não nada capaz de ocupar o meu lugar. Quando sua voz me amaldiçoar e seu grito me condenar, chegarei na velocidade de um riso para debochar de tudo aquilo que, em mentira, se pôs a falar. Comigo, irá toda sorte de discórdia, caos e guerra. Os deixarei a sua mercê para crer que não se deve mexer com aquilo que não se conhece, não se ouve e nem se vê. Não me perturba o retorno, nem me incomoda o que sucederá. Da maçã só há de sair conhecimento e ordem após seu sabor amargar. A mordida não é para matar a fome, é para abrir o apetite, de quem tem estômago de barata e não permite o seu sangue esquentar.
Artestrangeira (03-11-2022)
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arte-estrangeira · 2 years
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“A pele da virgem imaculada é preta como uma noite estrelada que brilha por natureza e não pode ser calada. É melanina que protege do Sol ardente e se camufla na escuridão confundindo o oponente. Oponente que a pinta de branco e lhe dá ascendência europeia deturpando sua origem palestina vinda da antiga Judeia. Apagaram sua cor e com ela sua história, seja ela verdadeira ou mitológica. É inaceitável o embranquecimento de uma santidade preta símbolo de sustento, amor e pureza, pois há milênios a figura da mulher preta tem sido retratada como objeto de ódio, fetiche e safadeza. Que Maria seja vista e retratada como corpo periférico em seus becos e vielas sociais, que apesar da pobreza, fome e escassez, se faz rainha abundante, fonte de misericórdia e de amores mananciais. A mãe de Cristo é a representação de todas as Marias que são senhoras de suas casas e mães de alguém da periferia: apesar da dor e da opressão, permanecem puras de coração dando a luz a mais um menino preto morto pelo governo e posto na cruz em solidão. Todo menino preto é um Jesus, porque toda mãe preta é uma virgem Maria.”
Artestrangeira (07-03-2022)
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arte-estrangeira · 2 years
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“Ao contrário do que se pensa, o natural não é sinônimo de nascer pronto a ponto de não precisar de prática intensa. Carregar uma disposição ou inclinação, não isenta a constância do exercício na busca pela aptidão. Naturalidade não significa facilidade, mas algo viceral, brutal. É inevitável a conexão, e a apartação, improvável. O processo de desenvolvimento é saudável quando se une a propensão através da feição pelo inefável. Assim, em uma estrada sem sinalização, o destino se choca com a liberdade e não há como distinguir a natureza da condição.”
Artestrangeira (04-03-2022)
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arte-estrangeira · 2 years
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“Nem tudo será inteligível, nem sempre será compreensível. Às vezes virá embaçado, turvo, quase invisível. Surgirá uma sensação de perigo, uma vontade de correr para o abrigo para fugir daquilo. Aquilo que nem se sabe o que é, mas que de pronto projeta um inimigo. É infalível, o desconhecido gera medo e põe em vigência tudo que é antigo, deixando o novo de castigo dizendo “repete comigo: eu não consigo!” Daí eu me intrigo, desligo a razão prática e aguardo pacífico o inconsciente subjetivo decidir conversar comigo. E assim começa o jogo dos 7 símbolos, não erros, pois todos são prováveis, coesos e vivos.”
Artestrangeira (18-01-2022)
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