Tumgik
cadernosvoadores · 3 months
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Quando minha cunhada abandonou meu irmão eu estava no teatro. havia ido secretamente ver a estreia da peça de uma nova professora, que recém tinha começado a trabalhar conosco do Dom Infante II. Ela era jovem, bonita, responsável e aparentemente talentosa. Não consegui acreditar com meus próprios olhos, então, lá fui eu. Estava com muita vergonha então sentei no fundo. Não queria ser vista porque meus motivos não era os menos benéficos e mais beligerantes possíveis e tinha a ciência moral total dos meus atos. Então, na verdade, escondia-me na fileira z-06 para esconder-me de mim. Ia ao teatro para fugir da minha vida. E ficava lá depois das luzes para esquecer do que eu sentia. Era como se meus 14 anos senta-se ao meu lado, pegasse na minha mão e sentisse nojo, dizendo: a sudorose aumenta com a idade? que nojo. Que nojo, eu disse. Meio sozinha, meio espiã. Até o momento em que vi a mensagem eu meu celular de Afonso e então fui embora. Eu não precisava ver a peça da talentosa diretora para saber que era talentosa. Infelizmente.
Encontrei-o em sua casa. A porta estava aberta. Eu o perguntei, tem certeza? Ele apenas falou: olhe em volta. Os móveis haviam sumido. São só objetos, devolvi. Meu irmão chorava de forma silenciosa, só percebida pelos soluções em colisão dentro da garganta. Sua voz, chorosa, era bonita. É por isso que há aqueles que cantam chorando, entendi. É como os chuveiros. Ela apenas levou tudo que haviam comprados juntos e deixou o apartamento. Que vendo assim, nu, simples, estrutural era feio. Seu apartamento é feio, eu disse, sem papas na língua. Sempre foi, ele respondeu. Questionei então o que aconteceu. Afonso me contou que guardava este segredo só para si havia meses. Tinha descoberto que sua mulher tinha uma amante.
Na verdade, começou muito antes disso. Primeiro sonhou que sua mulher teria uma amante. Depois, tiveram em um jantar com os sócios do escritório. Ele viu uma mulher muito elegante. Alta, com maquiagem sóbria, cabelos entre o laranja e o amarelo claro. Era a esposa de um de seus clientes mais importantes. Então, algo lhe disse, com uma estranha rígida e argilosa, esta será a amante de minha mulher. Lá, elas foram apresentadas. Foi uma pequena conversa protocolar. Mas meu irmão leu o rosto de sua mulher no exato momento que pronunciou seu nome para os presentes, naquela altura, testemunhas. Ele leu como seu olho desceu mais à esquerda e sua respiração parecia pressionada contra o chão. E os dedos viraram apenas periféricos das mãos, sem uso aparente. E a voz afrouxou como um colete salva vidas recém desinflado. Então ele viu ela se apaixonar desde o primeiro momento. Que durou semanas, pois começaram a sair juntas para praticar rapel (agora sua mulher gostava de rapel). Neste ponto acho que nem ela mesmo sabia, ele me disse. Mas a conheço muito bem. Então a vida dos dois melhorou muito. Havia mais sexo, mais presença. Por um momento, meu irmão quase amou a mulher - um amor de agredecimento, um amor de esperança. E sentiu-se também parte daquela paixão que se encaminhava lentamente para um endereço. Então, elas passaram sua primeira noite juntas e tudo mudou.
Toda vez que minha cunhada tentava tocar no assunto ele fugia, desesperado. No fundo, nunca acreditou que isto seria o bastante para terminarem um casamento, uma promessa de filhos, todos os sonhos que reviram juntos tantas vezes. Em um ato de desespero, segundo eu mesma, ela levou tudo. Deixou uma carta explicando tudo. Disse que havia mudado para o outro lado da cidade, portanto, pode ser que se virão no futuro. Falou que o amava muito, mas que a amizade deles tinha acabado. E que a relação não era mais possível pois havia escolhido ter uma relação com outra pessoa. Simples assim. Ela estava magoada com ele porque, quando mais preciso, ele não estava lá.
Finalmente tinha reunido a coragem para me chamar. Sentia-se envergonhado e enojado. E completamente paranoico. Não consegui parar de pensar nas duas juntas, transando sem parar, por cima de todos os móveis que haviam escolhidos um na presença do outro. Estava obssecado e eu não podia ajudá-lo em muita coisa uma vez que também guardava uma própria obssessão. Mas para ajudá-lo e despistá-lo de meus próprios pecados, falei com que vinha à mente. É apenas uma mulher. As mulheres são assim, eu disse. Não param para pensar. Não pensam.
Na semana posterior, o convenci a ir ao teatro. Eu tinha um plano perfeito: apresentar meu irmão a minha companheira de trabalho. Era um disfarce à altura. Ele tinha pedido licença do trabalho por questão de saude. Ninguem poderia saber o que de fato ocorreu, era vergonhoso demais. Ele não gostou da peça, é claro. Ele não gosta de teatro. Era sobre se Shekeaspere nascesse hoje em dia, e usasse as redes sociais para atrair seu público. A peça não era boa, o que foi um alívio, mas era bem feita e funcionava. O público ria e professores levavam seus alunos para assistir e depois escrever redações sobre. Suspeiteu se aquela altura meu irmão era um misogino incorrigivel. Se eu era a unica mulher que ele nao odiava ou que ele me odiou desde sempre e fora misogino desde sempre e precisou levar um fora de uma mulher para eu entender isso.O levei até a cabine dos atores e apresentei os dois. nada aconteceu, nem uma sobrancelha fora do normal. Os dedos eram coisas de agarrar e de obdecer. E só. Então fomos tomar uns copos.
Era um pé sujo na rua atrás do teatro. Os atores eram jovens e socialmente inteligentes. Sentamos numa grande mesa. Minha colega entre eu e ele. Então o mais absurdo ocorreu: minha colega não parou de secar meu irmão. Começou a fazer perguntas esdruxulas de tao desinteressantes sobre seu trabalho com especialista em direito autoral de pinturas antigas. Ele a tratou com desprezo. Quanto mais desprezo tinha, mais ela insistia - imersa naquele rastro de conquista ou submissão máxima mesclado por desejo de humilhação. Não sei se olhou ele e achou bonito ou apenas viu em sua insignificancia a insignificancia de tantos homens que ja teve. Meu irmão era alguem que eu amava porque era meu, meu irmão. E só. Ele chegou a dizer que arte para ele era apenas dinheiro. E que deveria ser para os artistas. Por isso que a arte neste país nao ia para frente - pelo medo do dinheiro. Falou mal de teatro. Mal a olhava nos olhos, empinando copos de cerveja sem parar. O que eu posso dizer? Não foram embora juntos. Ela queria. Ele queria que ela queresse. Queria negar. E no fundo, esta é uma história com uma moral da história. Uma história ruim, portanto. Pois foi aí que percebi o quanto eu e meu irmão éramos parecidos. Não apenas fisicamente. E no fundo odiassemos talvez todas as mulheres do mundo. O que para ele talvez estivesse tudo bem - era sua condição. Mas para mim era um auto-extermínio. Tive vergonha. vontade de desaparecer com todos meus móveis eu mesma. Colocar fogo na casa. Me abandonar na cama. Precisava que algo ou alguém fosse embora.
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cadernosvoadores · 3 months
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Congresso dos Autores Desconhecidos
Estava Rómulo e eu na esquina do grande Congresso dos Autores Desconhecidos. Era janeiro mas estávamos em Pádua, portanto, fazia frio como as chaminés fazem o elo entre o dia e a madrugada: sem noite. eu não falava com Rómulo havia seis anos e parte do meu corpo dividia-se em ter medo de estar lá com ele, enquanto a outra, medo de não estar e perdê-lo para sempre. havia se mudado para Suíça, com a mulher milimétrica, como assim chamavam os nossos amigos da Fronteira. Rómulo era previsível enquanto as mulheres, havendo um ciclo onde nós, os amigos mais íntimos, os que faziam ele chegar em casa mesmo bêbado e mandavam ele enviar mensagem aos pais mesmos brigados, apenas nós sabíamos. Primeiro veio a namorada desajeitada, depois, a certinha. A partir daí tudo se intensificava em uma intercalação sem fim: a completamente bagunçada dava lugar a neurótica, depois, era fácil saber que a intempestiva e passional máxima cederia para a pessoa mais organizadamente exagerada do século. eu amava a previsibilidade amorosa de Rómulo porque me dava estabilidade e e me aproximava dele, apesar dos anos. Rómulo deu a entender que nós, os seres que nascem na fronteira, na fronteira do sul do mundo, estamos sempre vivendo esta dívida de querer ficar em nossa casa mas ir embora. e assim, fui parar não sei como em Stutgart, e, depois disso, consegui uma residência em investigação em Salamanca. E agora estávamos juntos. Ele com uma mãe a menos, eu com um pai me faltando, o dinheiro, os amigos, o coração. Nós dois com uma tristeza que guardávamos no silêncio mais concreto, e que tinha, entre outros, nossos nomes.
O Congresso dos Autores Desconhecidos acontecem desde a guerra da unificação italiana: 1871. Pode ser difícil de imaginar, mas muitas pessoas que lutaram ou contra a monarquia, ou à favor da república ou pela unificação italiana eram escritores. E o motivo era simples: ir a guerra era naquele tempo ir atrás de palavras, principalmente, palavras faladas. Como muitos morreram, Ernesto Cavaglieri, um espano-italiano cuja família materina era de Lecce, teve a ideia de realizar a primeira conferência em nome dos soldados desaparecidos, cuja a ideia era ler seus nomes por dias a fio, contar suas histórias, suas vidas, para que não fossem esquecidos. Ao logo do tempo, as histórias foram sendo fabricadas para dar contínuo a tradição e o confresso dos soldados despaarecidos virou o Congresso dos autores desconhecidos de forma muito natural. Pessoas do mundo inteiro vinham à Itália para apresentar pesquisas, arquivos, textos, estudos sobre autores que viveram uma vida no anonimato, cuja existência talvez nem pudesse ser provada, mas que não podiam ser esquecidos. Cada ano a ansiedade era maior à espera de um nome a altura do seu tempo, que expressa-se a dualidade da guerra fria, o imperalismo no oriente-médio, um novo mundo frente as pragas. Que nos desse um alento, uma obssessão nova, fora do ócio, que fizesse a literatura, depois da guerra, ser viva de novo.
Eu e Rómulo sonhamos por anos estarmos aqui. Havíamos é claro lido Enrico Spaldi: o dono da casa editorial Spaldi, que descobriu diversos autores do início da alta idade média. Havíamos, é claro, seguido o trabalho de Clementino Abreu, que nos templos budistas da Mangólia, descobriu o poetas das pedras: Jan san Io. Nos vinhamos do continente do futuro, das américas, do continente das civilizações perdidas, da literatura de luta, da ressaca do milênio, do barroco máximo. Eu ofereci a Rómulo um café antes de fazermos o check-in e ele aceitou. Enquanto pedia seu ristretto à caráter, eu observava seu consumo excessivo de linho e tentava obter algumas pistas. O que Rómulo havia descoberto?! Sera uma nova epopeia maia, em algum vilarejo da Nicarágua? Ou o inicialismo lírico esquecido nas cavernas do Jalapão por algum nómade maluco, que podia sentir as linhas telúricas da terra com sua caneta e sua espinha e pensava ser sua coluna cervical seu tinteiro? Eu sei o que você está pensando, ele me disse. O que estou fazendo aqui e o porquê de não ter lhe avisado. Você não vai acreditar, disse ele.
Neste ponto estamos no saguão. Adeláide de Sá apresentou uma enorme lecture sobre a relação entre a escala cromática, a pulsão sexual e os espaços vazios na poesia de Célia Correia - uma agroprodutora recentemente falecida do extremo norte de Goiás. Os espaços seriam a monucultura da paisagem, expressa de forma inconsciente na respiração das páginas. A escala cromática viria dos cantos dos boiadeiros - de origem árabe, que dava predileção a palávras proparoxítonas ou de grande quantidades de letras, como os deslocamentos bovinos. Eu, que morria de medo de ser analisado por Adeláide de Sá, escutava tudo com atenção máxima. Tem pessoas que ficam mais bonitas quando sem palavras, eu penso, ou nós ficamos mais bonitos para nós mesmos quando deixamos alguém sem palavras. De qualquer forma, na ausência de palavras acho que surge a abundância do desejo. Não o desejo, aquele que nasce aos poucos, mas aquele que vem como a densidade de uma estrela de neutrons, no seu peito, de uma hora a outra. Eu olhei para Rómulo e ele disse: os brasileiros estão com tudo mais uma vez. Então ele entrou e iniciou sua comunicação.
Meu amigo tinha ganhado exatamente todas as rugas que imaginei que ganharia. Conhecia como seu rosto se retorcia para o aço do choro ou para o elástico do riso. Mas esta calma aparente eu não podia imaginar. havia desacelerado sua inércia, se convertido em um ser prudente - talvez mais chato. Falava devagar com um brilho que surgia por espasmo. Não sei o que a Suíça havia feito com ele, o que a ausência de terapia havia feito com ele, seus filhos, se é que os tinha - e sua esposa milimétrica. Eu avisei que faria mal a nós morarmos longe do mar, nós, que viemos da fronteira. Em Salamanca, tive um período de paranóia. Achei estar perdido para sempre, que haviam soldados pequenos que entravam em minha orelha à noite. Mas era apenas abstinência do oceano. Rómulo saudou a todos e de repente apareceu uma imagem no projetor: Era Lúcia do Carmo. Nossa amiga. Nossa amiga morta.
Minha almofada de Jasmim, escrevo de dentro do fogo dos fracos. Tenho todos os degraus alinhados como dentes de uma criança que tem pressa em nascer. Adivinho a reza das sementes e mudo o gosto das cerejas para a textura das cinzas ao serem desmanchadas. Eu quero menos hoje do que queria ontem e isto é uma conquista. Ganhar um ontem. Significa que estamos velhos, mais vivos, e menos sábios. Que esquecer alguém e iniciar uma nova biblioteca, que os antepassados sussuram alexandria no braile dos arrepios, quando ameaçamos nos apaixonar de novo. Te esquecer será meu maior feito. O cordão de esferas ameaça se retirar. As folhas tem equações mecânicas e se as formigas pararem de respirar os números variáveis e incógnitos nunca mais serão descobertos. A matemática é apenas isso: insistência, teimosia e fé. Perdi a fé, me restou as outras duas. E te esquecer é a outra ponta do tripé. Amar alguém que chega, amar mais alguém que vai embora. Não foste tu que me ensinou que as palmas só dão jeito para dentro por um motivo? Amar porque, seja qual for a direnção, é sempre para dentro.
Minha almofada de Jasmin era a forma como que nossa amiga Lúcia nos chamava. A última vez que a vi, estávamos juntos em uma cafeteria em Montevideo. Estava recém-separada, recém-juntada, de iniciando na arte da confeitaria. Eu fui visitar meus avós, ela, não sei ao certo. Rómulo estava ali, em minha frente, falando de nossa ex-amiga íntima que deve estar confortável em algum pedaço de Pirituba, enquanto ele lia suas cartas, cartas endereçadas a mim, contendo nossa juventude, contendo todos nossos os segredos, como, por exemplo, este fato nunca comunicado do que ocorreu entre Lucia e eu. O que nisso pode ser considerado literatura? O que possivelmente pode denotar isso como a maldita literatura? O estudioso basta? Ou nesse caso, um amigo um pouco fora de sua sanidade costumaz?
Lucia Moura nasceu em 1984 e frequentou a escola de São Vicente, em Santana do Livramento. Ele continuava: mudou-se para Porto Alegre aos 16 anos, depois da recomendação de uma benzedeira para ficar longe da língua espanhola. Foi estudar francês, onde conheceu, no Instituto de Literatura Contemporânea, Romulo Schuartz, Marcela Viera e Sebastição Macedo. Ele continuou ali, narrando toda nossa vida para os presentes. Os almoços na Lancheria dos Onze, as noitadas no Cassino de Mentira. Os saraus que faziamos na cada da Antonia, aos noites de orgia na orla do rio. As recorridas espirituais no dia 2 de fevereiro, a nossa aparenta falta de comprometimento político diante do extremismo político ganhando força. A nossa natureza de gente da cidade virada para o que ele chamou de a romantização do guasca. O portunhol como forma de fugir não maneira de conectar. As bombachas encomendadas em sites chineses, a casa de milongas do Salomão que era primeiro de tudo, um ex-austríaco. Mas eu não estava lá. Meu nome não foi citado. Rómulo me apagou da história e eu sobre apenas com o destinatário das cartas de Lucia Moura, das cartas que ela nunca me enviou, e compuseram seu diário. Tudo o que eu fui para Lucia Moura era tudo que eu nunca consegui ser para Lucia Moura, essa, aparentemente grande escritora desconhecida que a partir deste momento, para Romulo, não poderia mais ser minha amiga.
Dizem que o ressentimento move os que envelhecem. Rómulo estava envelhecendo de forma relâmpaga agora em minha frente. Por um momento, era como se eu estivesse novamente e Salamanca, delirando. Será que eu de fato nunca conheci esta gente? Apenas achei que conheci? Fora Lucia uma miragem?! O que havia naquelas cartas de tão interessante? Aonde ele queria chegar? A Zona Norte de porto alegre se derretia dentro de mim. As ruas se borravam das fotos, como se fosse uma cidade abandonada no século 19. Uma cidade sucumbida ao êxodo em massa, ao vento, às águas. Claro, havia outra opção. E era simples: a vida estudada ali não era a de Lucia, nem de Rómulo, a minha, a nossa. Era apenas a dele. Não podendo se tornar um grande escritor virou um pequeno conadjuvante. Ao ponto de até, talvez, imaginar que o destinatário daquelas cartas poderiam ser ele. Que Lucia Moura tinha uma paixão secreta pelo homem mais previsível do Atlântico Sul. Que precisaria vir na universidade mais antiga do mundo, falar em uma língua que não era sua, longe de tudo que conheceu, que sim, ele fazia parte da vida de Lucia Moura, da grande escritora gaúcha - ainda desconhecida mas já não mais, Lucia Moura. Só não contava com a minha presença.
Pensando agora, isso poderia sim fazer algum sentido. Mas no fundo, lá no fundo, eu não sei o quão próximo eram os dois. Nunca sabemos o que ocorre entre nossos amigos quando deixamos a sala. Eu sei que ele elogiava seus ensaios, sua dedicação com Paul Celan, sua ideia absurda de adaptar As Metamorfoses para animais que vivem no pequeno zoológico da redenção. Não sabia até que ponto falavam de dinheiro, de família, de amor. Ou do fato de uma noite, enquanto Júlio Serate chorava as pitangas por sua ex-namorada de infância se agarrar com nosso amigo Sebatião Macedo em frente a Usina do Gasômetro durante mais uma fanfarra habitual, Lucia me confessar que não dormia a noites seguidas porque tinha certeza que havia alguem de nome Artur em seu quarto, falando sem parar. Alguem morto, mas vivo, e para isso, naquele momento talvez, Lucia me beijara, para se distanciar de Artur, e se certificar mais viva talvez, para forçar os olhos a fecharem por algo substantivo. Não sei se sabia portanto que Lucia também gostava das mulheres - que a Lucia tudo era uma chance de prolongar a interrogação.
Ao fim da comunicação, Rómulo disse que no segundo dia da conferência apresentaria dois trabalhos recém descobertos: Os cadernos da circunferência e Espaços sem fio. Eu consenti. Não tinha maldade dentro de mim. Sentia até mesmo uma rara emoção. Meu amigo não conseguiu me olhar nos olhos, estava irritadiço e nervoso mas eu o abracei com uma piedade que nunca havia experimentado, misto de agradecimento. Talvez esta fosse apenas outra história que Lucia, secretamente, estava a contar. Eu sabia que tudo que importava ali era como ele se sentia ou eu. E o que cada um sentia, ou qualquer coisa que fossse que tivesse ocorrido, importava? O nome disso é literatura, para nós, a coisa mais importante do mundo. Nos os dá fronteira tínhamos nossa particular e unica literatura.
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cadernosvoadores · 8 months
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na apresentação do projeto de tese só houve uma crítica: "onde está o corpo?". se uma frase pudesse me matar sem deixar marcas, foi essa que ergue tal capacidade. é sintomática até acordada. detestei o excesso descarado de minha própria literalidade e angustia. passado alguns meses, inverto: quero só o corpo. como conseguir depois do açoite? do matadouro? da negação? não para a pesquisa, mas para continuar. como lembra os amigos de lisboa, quero dois casamentos, um homem, uma mulher, com em cada país. quero conhecer alguém que sai do hospital, alguem que entra. quero entrar em um trem já dentro da velocidade, quero chegar dentro da madrugada e sentar na cama. nos fins das refeições. qualquer coisa menos esta forma de não sustentar. aqui a cidade é pequena para mim e todas as viagens são curtas, as casas se repetem, os nomes são um cora até o século XIX. não há novidade. queria uma carona, no meio do uruguay, voltar ao sul da ilha onde dá vontade de falar com desconhecidos, onde os corpos brilham, voltar a zona sul, quando voltar para casa é também voltar a agua. voltar ao sul é impossível. o que faz o corpo voltar ao corpo?
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cadernosvoadores · 8 months
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mando uma mensagem para minha irmã que tem um problema. é um problema dos que viram adultos e inauguram a perda do mundo: a obssssão. eu digo: seja direta e obtenha sua resposta. depois penso. se seguisse meu conselho, direta, sincera, ao inves de silenciosa, secreta e dolorida, tudo talvez ja estaria bem. quando entregamos pouco, quando temos pouco para entregar, as frases voltam a ter sentido, é tudo que temos. e temos uma desculpa, se chama: linguagem. ela não seguirá meu conselho. não é da ordem do racional, só depois, quando se pensa sobre. dobro a cabeça sobre meu próprio conselho novamente. re-escrevo o passado. nessa história, não deixo meu vizinho sem resposta e digo a única coisa u tem, que são palavras duras, sem nenhuma intenção atrás, sem nenhuma pretensão e durarem. escrevo: te vejo no parque, quando saio para passear. te achei muito gostoso. quer vir aqui em casa? mas acho importante desde já lhe dizer onde estou. estou devastada, fui rejeitada, e preciso esquecer uma mulher. gostaria que você me ajudasse. você me ajudaria? é preciso tão pouco, tão pouco, para ajudarmos alguém. você faria isso por mim? é só isso que te peço, o pouco que te dou, é o pouco que foi cobertura, que não dei a ninguém. e ele viria. e passariamos tardes juntos, aonde ele me perguntaria, está bom assim? estou ajudando? e me diria coisas cafagestes, coisas de fazer rir, coisas de fazer molhar, com a ternura dos que sabem que não são o centro da casa. e as vezes eu gritaria de prazer e diria, não sabia que isso poderia passar. e em outras, eu choraria em seu colo, nua, sem vergonha alguma. eu sei que ele compreenderia. eu sei que poderia respirar. eu sei que não me ajudaria a esquecer ninguém, mas que poderia ganhar um amigo, eu poderia me lembrar de mim. poderia não ficar só, parada, no esmo lugar, com medo, resguardada, anciã, eremita, rude, soberba, como estou agora. ao invés disso, sou o silêncio da catástrofe. alucino leio livros práticos, a filosofia me tira a sobriedade. só queria um corpo cujo o caminho para sua chegada não fosse da dor. honremo s anos mesmos.
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cadernosvoadores · 8 months
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roma é uma cidade selvagem. uma cidade devastada pelo excesso da falta. pelo excesso do superlativo. campos vazios, lixo, ruínas e plantas selvagens. roma é onde podemos morrer. tudo pode acontecer quando se está mais próximo da terra. fundamento esperançoso, nada mais a dizer.
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cadernosvoadores · 8 months
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ontem à noite saí da palestra, e do trabalho, difici saber onde termina um e começa outro, irritada e com uma vontade de chorar. melancolia, catástrofe, brasil: mário peixoto. a dor doia mais ainda usando o corpo, este estranho perto, semi-aposentado. ando irritada e com medo de morrer. deitei a cama e pensei: vida, desculpa, não sei se vou conseguir não me matar. me retenho esperança frente a dor. só há a dor e isso é tudo. agora finalmente tenho um motivo para morrer, algo que não depende de mim. tenho que parar de ser eu, e viver só o que tenho. a dor. queria ser feliz, eu tinha uma sabedoria, uma filosofia e uma inteligência nisso. seria uma ótima pessoa feliz. isto é o que me dá mais tristeza. estou presa, nada anda, eram para ser os melhores anos. estou pensando aqui, até quando aguento. ou se aceito a pausa, desde que, seja só pausa. e se não for?
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cadernosvoadores · 1 year
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Enrico, é engraçado como dependo dos coisas preocupantes e preocupante como dependo dos coisas engraçados. Não sou eu mesma desde que cheguei a este continente. Desisti de escrever, dos gestos, matei a beleza como mosquitos. Agora sinto vertigem. Paro o remédio. Não consigo me sentir.face um mate. Não tenho cosa, não terá família, não tento amigos não tenho anos. Porque também não tenho a solidão? Gosto muito mais de Roma do que poderia imaginar e isto né assusta. -
Poderia viver aqui de verdade.
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cadernosvoadores · 1 year
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enzequiel, você acredita em destino cortado ou esta é a única forma de acreditarmos no destino? as guerras púnicas, o peloponeso, não passam apenas de intrigas entre o braço e o idioma o braço e o idioma mas os idiomas se falam com a língua. paz? é uma saliva que escorre. enzequiel, aqui no lázio janus construiu seu império criou o céu e o inferno deu a cabeça para um e a outra para o que restou e criou o ocidente e criou o oriente e todas as línguas latinas que são um gênero da madeira um gênero da madeira pegando fogo em diversos mundos ao mesmo tempo. não me interesso por esta história, não me interesso por nada neste percurso de olhar verde que me lembra os lençóis primeiros. me interesso sim pelos santos, pelos pecados, pelas cores, pelas estátuas sem cabeça, por um tempo onde se morria no mar mas não se morria escravo, pelo balanço, pela sobreposição das cabeças, pela complexidade, pelo sul e o problema do polen e o o problema do grao da arabia e o problema que respirar aqui é sufocar e se alimentar e que os relogios são parados e os tempos atrofiados porque o múscullo mais forte do corpo é a lingua e a lingua é fraca e curta e grossa e rala. o futuro é verdade está na borda do país onde chegam as barcas, onde chegam os botes, onde chegam os mundos e ondem eles morrem sem não antes no s humilhar até o fim. falo dos soldados vivos nos corpos dos vivos, dos fascistaas, dos senhores comuns que amam mussolllinnii e tem seu quadro na parede como um santo, como um jogador de futebol e de um país pobre e que sabe se divertir e que sabe morrer morrer sempre do mesmo jeito e se divertir sempre do mesmo jeito ou seja morrer a morte de seus pais aqui podiamos amar os coraçoes dos que poderiam ser. o formato dos corações mas não o seu empenho enzenquiei, quando vim para a europa eu sabia que tudo neste lugar que não gosto poderia mudar da guerra do vulcao da pobreza eu lembro de olhar nos olhos da romena e sua esperança sumiur antes de sua juventude aparecer isto quando falavamos de putin e hoje putin pode desaparecer para sempre porque os fascistas lutam com os nazistas como uma história chata para os acordados o oswald de andrade sempre soube e nós tambem o roteiro da vez que só o deixou mais triste mais conascelente apesar de tornar tudo em prova e toda prova em entusiasmo (a verdadeira esperança). é verão e ainda não estou bem mas tenho a esperança de conseguir andar de conseguir o que vim buscar aqui a energia dos passos e a antena entromedida naquele sonho. é verdade, enzequiel, que tenho péssimas derrapadas. é verdade que ocaminho foi torno assim como o acidente de fora e de dentro. o nome é um acidente entre fora e dentro? é verdade que nesta idade não desistir do amor é questão de fidelidade ao movimento dos justos e que há pessoas que me interesso sem saber sua língua como o menino persa e como a menina italiana e sinto que nos encontriamos tão bem mesmo que os encontros nem sempre aconteçam penso nas cartas e nos iinúmeros possíveis amantes queria viver, há data? e como neste país há bichos e animais fatais que podem te matar com um lindo amarelho ensaísta e que por mais que me energonhe eu morrerria feliz entre as oliveiras
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cadernosvoadores · 2 years
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carta a atila
às vezes acho que é mais fácil escrever endereçando, como agora, a uma personagem masculina. talvez isto tenha a ver com uma ideia de perda, pois é fácil atribuir o signo da distância a estas personagens, talvez tenha a ver com uma certa incondicionalidade errônea até, que surge nesta interação, mas agora, penso que tenha a ver com uma segurança que surge na incapacidade de compreender-me, de ser entendida, mesmo que pouco. acho que falo aqui, com o signo do masculino porque ele me parece muito pequeno, muito restrito, conciso, e até, pobre. porque não só é mais fácil falar nesta diferença como, eu sei, o que menos gostaria de fazer seria falar, então, deixo a fala para estas personagens. acho que falo contigo átila porque é só na fala que temos algo em comum, é por ela que me aproximo de ti, assim como, dos pedaços de roupas rasgados, do dicionário de italiano, das placas nas ruas, no entendimento de onde estou agora, o que busco. porque sim, diferente de você, há pessoas com quem não preciso buscar nada. e falar, este ato cirurgico e maldicente, não é requerido, acho que estou falando de corpo, e do corpo fora do corpo, no na comunicação entre mais de uma pessoa de que isto é possível. acho que as palavras não seguram os momentos mas o corpo segura os momentos, e, infelizmente, até as palavras. mas contigo eu tenho que explicar tudo, porque tu não espiona por traz do que digo, não busca na barriga das vogais outros cenários, outras caretas ou sinais contraditórios. falar é escrever de forma conjunta, em algumas vezes, mas você, você só me escuta. e nisto, me respeita. estou voltando a tentar falar as coisas. estou voltando a tentar causar algum movimento que tire do ciclo perpétuo que me meti, remeti, mas que neste último caso foi o que pareceu o mais pior de todos. então aqui estou. e a ti, eu dou a cara de uns outros, que foram alguns e tantos, que uso para te compor. eu me pergunto, por que é tão fácil falar com alguém que sabemos que também não fala nada, ou muito pouco? ou nem busca falar? este alguém seria você. acho que até então o tom desta carta pode parecer como se eu o estivesse desmerecendo. também não saberia te responder sobre isto. sei que posso te dizer algumas coisas. por exemplo: que nunca mais escrevi e que escrever era a coisa mais importante do mundo. isto veio com ferocidade desde que cheguei aqui, onde vivo agora. pois tudo, átila, tudo, deixou de ser importante para mim. agora, depois de um ano, e tendo em mim o de mais vergonhoso este fato, de que não escrevo, e que isto era tudo, para mim, meus amigos, e todos afetos que um dia eu conheci, portanto, perdi o que talvez alguns julgassem que fosse o mais interessante, perdi a mim mesmo, só consigo tentar me concentrar em escapar do selo mortal novamente. que é, bem sabe, esta repetição, esta falta de movimento. a falta de encantamento ou a vergonha e falta de merecimento por qualquer beleza. a repetição da obssessão, da neurose, vem, de fato, cada vez com roupas novas. meu corpo se aprofunda em seu iceberg. não sei o que diria aos meus antigos amigos, que me eram tão especiais, não sei o que posso oferecer a eles. vivo a engatinha novamente, sair do erro, do mecanismo de descompressão que é a sabotagem, esta vida passada querendo voltar a todo instante. preciso estudar. me falta animo e isto me doi como essa ferida que não cicatriza. tem isto também. quebrei meu pé e minha coluna, e não cicatriza. preciso trabalhar. preciso passar este mês. preciso ficar vivo e conseguir comer. e conseguir arrumar a cara para sair na rua. preciso dar conta dos amigos que ainda estão aqui, não deixar de fazer piadas, as piadas me são interessante. preciso que todos também continuem vivos. e que um dia eu consiga voltar a gostar de ler. enquanto isto não acontece, enquanto nada acontece, e eu me jogo fora da cama quando dá, muito tarde, mas no último momento busco resolver tudo numa culpa e pequena apoteose como um jogador viciado, e faço um sorriso bobo a todos porque preciso que não vejam como estou mal como sempre estive muito mal mas agora a vergonha é tamanha, e é vergonhoso mesmo, escondo a sujeira com muito silêncio, tento me divertir em vão, com muitas tentativas, eu que nem posso caminhar, mas respiro, e nada sei de respirar mais, é como andar de bicicleta me parece uma frase muito má, não sei nada, eu estou aqui e nem sei de que forma estou tentando. vejo os filmes japoneses e coreanos que tanto gosto para fugir deste mundo e não pensar em nada. é basicamente isto que faço átila, escondida e com medo. medo de não querer. med de falhar. medo desta sinceridade e pensando muito nos caminhos fáceis. esta carta saiu pior do que imaginava. é tão dificil querer ver alguem, como faz isso? nem recordo a sensação. por isto escrevo para ti, a distância, escrevo para alguém que sequer existe e mesmo se existisse, talvez, quisesse apenas só a distância mesmo.
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cadernosvoadores · 2 years
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Io no lo so come sono le stelle
Io no voglio sapere quando c’e lontano
Chi apre il spazio
Per me la spazzatura no essistere
Il fuori no essiste
Lei sta dentro del fuori da lui
Lui sta in il fuori da altre lui
Il interno de una stella c’e
Lei
Quando lontana da su pasato
Altre interno sono le stelle magari
Magari c’e una parola
Ma anche c’e il interno da qualcosa senza
indirizzo
Cosa sono le stelle 
Cosa sono
Interno dove va
Il interno da altre alcuni
In nuestro indirizzo
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cadernosvoadores · 2 years
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contra a memória
o mais triste talvez seja não o fato de não serem mais jovens mas sim de talvez nunca terem sido jovens. de estarem sempre atrasados, acometidos, saciados, ensimesmados, repetitivos, cansados, apagados. de não terem tido vocação e nem criação mas a vontade de criação, ou seja, puro suco barato da nostalgia. de terem vivido um tempo que não foi muito ruim, nem muito bom, mas de uma ingenuidade absurda, em um emplaustro de facilidade que hoje percebe-se: era apenas convenção, apaziguamento, herança dos discursos. nunca foram jovens, foram apenas enganados, medianos, com seu incontrole medido, com o disfrute de um materialismo luxuoso onde o progresso parecia manusear. não era paixão, era uma ressaca. não era lucidez ou maturidade, genialidade, era a herança da doença. eram mais jovens sem juventude, o criadouro da tristeza de todos os tempos. havia uma falta de gravidade e tudo será esquecido pois o mundo ficou mais jovem, mais louco, sagaz, espirituoso, persigoso. e eles ficarão sempre, e cada vez, mais eles. filhos de si mesmo. * nesta foto, um deles nunca mais deu as caras. um ficou com os amigos que antes eram amigos dele. ele deixou os amigos, deixou a cidade. era como se tivesse indo embora desde o princípio. talvez agora tenha outros amigos. mas ele, e seus antigos amigos, que eram os melhores amigos naquele tempo, nunca pensam nisso. não pensam nele. mas se perguntassem diriam que não que não conheceu mais ninguém, nunca mais. e isso não tinha a ver com a a amizade. assim como o tempo entre os dois não teve a ver com os dois. era uma questão contra a memória. contra a memória de si. um postulado de que a memória do mundo é a memória qque temos de nosso inimigo, ou seja, aquele que nos pesa, nós mesmos. não ficaria com os amigos dos outros não só por uma questão de princípio, mas sim, de novo, de memória. a memória dos outros. o mapa. todos temos lembranças, diria, em algum lugar. onde botamos a memória. me difere do que digo, e de porque o que fazem os outros é diferente do que faço. e por isso mesmo, não me importa, pouco me importa. nenhum tempo me pertence a emoção. * agora está tudo bem. porque assim como ela ninguém, absolutamente ninguém, poderia ensiná-la qualquer coisa. agregaria nada. seria igual. não mudaria nada. e isto talvez seja triste, ou não. ou talvez isto dê uma paz ou não. as pessoas que são só pessoas. e nosso trato que é com o mundo de o conseguir rachar.
#o
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cadernosvoadores · 2 years
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não sei como organizar essa história, se é que, é uma história para ser contada. nem sei se há algo aqui que necessita. em todo caso, essa é uma história da dificuldade. as coisas sempre foram simples até algo cruzar a rua e deixar de ser. um mínimo movimento. de como ver a dor. e o sofrimento. de como respeitar. ** mudo a foto de perfil e as pessoas já pensam que vou me matar. desde sempre, em todas minhas relacoes romanticas, as pessoas perguntavam se eu ia me matar. até que na ultima, mudei: me calei, porque me ensinou a calar, mas não disse nada que se passava. maquiava, não transparecia. me acostumei a não parece isos um problema porque era apenas um problema meu. e para mim, era uma forma de pensar as coisas, de se movimentar entre os objetos. se era só meu não era problema. as vezes era ate mesmo tudo que tinha. o mais engraçado é que nao tenho pacincia para a tristeza e sofrimento do mundo ou dos outros e sinto que nada bom pode vir disso. mas é assim. agora estou aqui. na mesma roda enredada. nao saio de muitos circulos, tudo se repete. o ciclo de sofrimento, a ultima historia de sofrimento, nada se supera, se cria de novo, esta cidade, novamente, do mesmo jeito de antes, com a mesma ausencia. nenhum horizonte. é engraçado. os poucos amigos que restam sao amigas. e mesmo eu vivendo dizendo coisas com ser feliz nao é necessario, é só ir adiante, cumprir compromissos, e nao morrer. o telefone toca. e elas sabem tudo que passa mesmo anos sem falar. falam com as entidades os fantasmas coisas sem nome. me dizem o que está acontecendo, que nao estou bem, que preciso buscar ajuda. eu de quando em vez peço ajuda, mas os amigos sao dificeis de retornar de dar ajuda. de responder uma mensagem. nao tenho problema em pedir ajuda eu digo. eu abomino o sofirmento, o suicidio. dizem é outro tipo de ajuda. é profissional, espiritual, médica. me dao receitas, me descrevem para mim mesmo, nem os persongens que aparecem nos sonhos de minha mae. mas nunca comigo. sobre mim mesma nada aparece. nunca me senti tao burra, nao vejo nada, nao sei ler, perdi a capacidade de entender ou ter intuicao. minha mae sempre está em sinal de alerta. como se me jogasse da sacada em um tintilar desde ccriança. como se aquela criança e eu fossem a mesma, as que quase morreram no inicio da vida e sofreram sem parar, sem motivo, sem compreensão, apesar de tudo que poderia prover. minha mae tras a historia ridicula do livro de poesia e da sua teoria de reincarnacao. sinto asco, é infantil, e é claro outro o tipo de dor. alem do mais nao mme relaciono mais de nenhuma forma com a poetinha carioca, tenho uma inpaciencia de classe, biografica,da branquitde, de tudo que já li, e entendi, do modismo acritico, de nao mencionarem a genialidade que vem dos podres, ou só os podres. quando disseram que era para eu tomar remedio e esse era o recado do outro lado e que seria vida ou morte e que me mataria se minha amiga nao tivesse interferido fiquei muito mal porque me sentia bem. se a mensagem chegasse em outro momento nao seria to horrivel. medo que isto me mudasse, que as ferramentas que criei para lidar com isso fossem ilusao de bebe. mas a patolgizacao estao presente como um processo traumatico, as substancias, a doencai mental. agora depois da raiva e da culpa e da vergonha e medo ja sinto um alivio. sou doente mental. vou tomar um remedio, e pronto, estarei automaticamente sendo resposavel e me cuidado, talvez nao sinta nada, emocao, nada, talvez seja melhor assim. ** mas acho que houve muita expectativa em conseguir mudar de vida. de sair daquela. daquele lugar terrivel. e do coração destruido e paranoia consumidora. e isos nao aconteceu, teve novos episodios. e ja fazem 6 meses quase. e agora começa a ficar preocupante. depois da covid, sinto tudo por um fio. há um medo de morrer ou de que alguma decisao leve a um fim bobo, a um arrependimento vital. a esperança que eu via nao vejo. nao vejo o amor chegando. nem eu escrevendo. querendo viver. equilibrada, conseguindo fazer o estudo, o projeto, construindo a carreira, a rede de afetos, os sonhos que decidi ter. de novo, a escrita, e ensennhanza, o ajudar o mundo e as pessoas, as coisas bonitas, boas. a alegria.
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cadernosvoadores · 2 years
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as vitrines exibem os preços dos bolinhos de berlim. no brasil, os chamamos de sonho. há muitos jogos de linguagem onde o bolinho aparece. há a imagem de comer o sonho, de dar o sonho para alguém, onde a única dificuldade é definir se o escolherá com doce de leite ou com creme. no brasil também povilhamos o sonho com açucar. leio um poema de maria llansol onde ela fala dos tais bolinhos. demoro muito para sentir o cheiro de fritura doce. o nome português me leva ao inverno alemão, ao frio da floresta sem folhas, ao gosto de sansichão com curry e sentir que pisamos em divisas. o tempo todo. a memória é o sexto sabor do paladar. já comi sonhos nunca comi bolinhos de berlin. não penso em dar berlin a ninguém. no brasil o pão cacete se chama pão francês enquanto aqui se chama pão brasileiro. o copo americano é brasileiro mas se chama americano. não duvido em nada os bolinhos serem portugueses. talvez a comida tenha isso, seja antinacionalista por natureza. talvez ela pause o tempo e erice as fronteiras apenas nos gatos: telêmaco oferece a comida a todos soldados antes da batalha. a comida é não ter um país por haver muitos países. em inglês céu da boca se chama também roof of the mounth. pequenas diferenças: o céu, o teto. o jeito não que a comida passa mas fica.
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cadernosvoadores · 2 years
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o que dizer da lisboa que habito? tenho vergonha até de escrever este nome mas isto é problema meu. a lisboa dos poetas está sempre sufocada. agora deveria estar sana? além dos turistas o que sobra? o rio parece a verdadeira ruina isto nunca havia sentido. aqui nao tenho coração, nada toca, nada passa, nada lasca. racioalmente sei a cidade ser bonita mas é um tipo amorfo que não entranha, condenscendente, alem do mais, viemos do pais das coisas naturalmente bonitas. a beleza é uma sensacao. aqui sua propria beleza parece nao ser o bastante porque vasculariza o tumor. é um tipo de tristeza maior do que todos de dentro da terra. mesmo com o sol, os jacarndas, o rio, as festas, as ruas acesas noite a dentro, a musica. nao falta uma coisa há todas as coisas mas falta o principal. aqui poderia dormir tranquilamente e estou meio morto sim aqui ond é mais triste ainda ser triste com essas praias no calor do mediterraneo e com peixes frescos n boca. é uma sensacao que a cidade nao sabe o que fazer consigo mesmo que nao tem cara só tem esforço em nao falecer. o dinheiro a moradia o preço do combustivel do gás. nao vejo a hora de parar de adormecer. nao sinto nada
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cadernosvoadores · 2 years
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pego o vírus. digo coisas horríveis coisas não direitas: que tenho carinho pelo vírus. pelo que ele me ensina. que o respeito. que ele me quis. ao menos algo me quis e me desejou. que ele é bom de drible, que ele é a bagunça, a confusão, o nó. que ele me chama para a terra, me chma falha, me deturpa, me rala e diz que a gente é o que consegue e se faz. digo essas coisas porque assim como a depressão foi ou é de qundo em ve o virus é minha companhia. e cuido de minhas ccmpanhias no sentido de valor. ao mesmo tempo sei que foi tudo de caso pensado, peguei esse virus talvez por querer, no pior periodo possivel. trabalhos da faculdade, precisava alugar um quarto e visitalo, iria sair com mulheres e homens, iria fazer amigos com meus amigos, iria ser a semana mais importante do trabalho. me sinto mais segura com o virus me mudando para sempre talvez até para a morte do que na vida a vivendo como se devia pois nao confio em mim. nao sei a hora de ir embora. de parar de falar de beber mesmo sem vontade de falar e beber. nao volto para casa. o virus me estouraos ouvidos, me deu a alteracao da cabeça fervilhando. me senti crinça tive o gosto de quando era criança de novo e gostei da nostalgia. não ligo para meus pais nem quero ngm perto de mim doente estou mais perto de mim doente sou a melhor pessoa do mundo par aisso porque a doença me é normal me da força me dá ganas. é um trauma e é toxico mas é a verdade por hora. o imperdoavel é mudar o gosto dos alimentos minha unica diversao é cozinhar. quero trepar. me masturbo muito com o virus. odeio poesia e literatura e arte. o virus é a maior poesia. devia ter feito biologia. penso em tentar entrar em embriologia. lembro que a poesia nunca me imortou o virus me deu isso tambem. o necessário sempre foi acessar a raspa. estar consciênte. chafrundar a linguagema até sua borra. este tipo de verdade. este tipo de contradição. o aniversario dela se aprxima e sinto que tudo isso ocorreu depois de meu surto paranoico que poderia ter me levado para um caminho sem volta. apesar disso preciso resolver o mundo. preciso saber falar. outra coisa que penso quando penso no meu paladar: meus avós por parte de pai. fico a ver receitas de nonnas italianas e sinto muita raiva de mim por nao ter sido proxima de minha avo paterna. é como se ela estivesse ali, cozinhando. por nao ter aprendido a comer como eles comiam, em uma italia de 1890, de quando bertolucci filmou sua obra de 6h. sinto raiva de meu pai de nao ser proxima de mim o que me deu um asco de toda sua familia de toda uma italia que eu subjulgava com um desprezo que nunca entendi mas que agora queria muito que não tivesse feito. nunca quis tanto fazer massa com as prórpais maos. e queijo. a lombardia, veneto. porque eles são o mundo que minha vó aprendeu a fazer.
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cadernosvoadores · 2 years
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as festas dos santos acabaram graças a deus. escuto o caminhão de lixo que vem três vezes cada madrugada. eu não durmo, o caminhão me leva a quebrar a casa da tranquilidade sem inquilinos além do tremor. tremor. o caminhão de lixo é a temperança e me esparrama a rua suas garrafas de vidro agora intactas seu braço robótico incapaz de um gesto dócil. as festas acabaram graças a deus colho alguns segundos de silencio. ninguém grita na rua, ninguém discute, nenhum bebado grita palavras de outra língua, nenhuma música na caixa de som, nem carros fazendo tremer o apartamento, nem o fogo saindo da janela do vizinho, meu o vucovuco do restaurante de baixo, nem os passantes, nem as musicas vindo viela abaixo escorrendo das colinas. é o silencio de um céu triste como uma maça do rosto que não mais colore não mais inquieta o azul nao mais se forma entre o verao que nao vem entre a areia do sahara que muda o tom para poeira para turbulencio toda cobertura e o céu é cobertura e a cobertura é triste. minhas maos doem minha barriga doi. a ressaca de tres semanas doi. a bebedeira ainda nao passa, o corpo ainda nao se recupera de atravessar a cidade, e gritar, e mijar, e correr, e dançar, e falar, e cansar muito, cansar publicamente e cometer a resignação, este crime social. me dou um tapa na cozinha tiro tapas da minha cara e meu ouvido inflamado piora. se calhar se continar assim terei a sindrome dos jogadores de futebol americano, do cerebro com buracos pelas pancadas. nao sei como tratar os amigos longe ou perto, todo mundo me irrita. na força do odio digo a minha amiga, eu tento. mas a cabeça nao organiza. nao quero mas tenho q fazer algo para um dia querer. nao podes reclamar. dancei sozinha e talvez pior queria estar sozinha. nao tive forças para querer para fazer. olhei a menina mas juro que tentei tentei querer não consegui o suficiente e cansei e fui embora. que momento ralo, extremamente feio.
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cadernosvoadores · 2 years
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Heinz Trökes
1913 Hamborn – Berlin 1997
Cityscape, Berlin. Oil on canvas on hardboard. (19)43. C. 43 : 53 cm. Signed with the monogram and dated lower right.
Karl and Faber
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