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O grito que você causou
Eu te traí. Com lábios que não eram meus, com toques que não deviam existir, com mentiras vestidas de silêncio. Menti pra ela. Mas pra você… Ah, pra você, construí um mundo de espelhos trincados, onde cada reflexo meu se escondia atrás de uma desculpa. Não há perdão que baste. Nem as palavras que engasgo agora limpam o que deixei escorrer entre nós. Mas, meu bem, de todas as farsas, a maior foi fingir acreditar na voz doce e falsa de quem chamam de "querida". A dor que te dei foi traição. A que você me devolveu foi sentença de morte. Sua voz na ligação… foi navalha, foi tempestade em carne viva, foi criança em desespero dentro de um corpo adulto. Quando você riu — do meu silêncio, do meu trauma, do meu passado — você me abriu em dois. Trouxe de volta o grito abafado, a mão que tapava minha boca, o cheiro da culpa que nunca foi minha. A sensação de sujeira que nem o tempo conseguiu lavar. “Você não deixa tocarem porque foi abusadinha?” Essa frase ecoa mais alto que qualquer “eu te amo” que já ouvi. Seu deboche me matou em partes. As mesmas partes que aprendi a esconder. As que sangravam sozinhas enquanto eu fingia estar viva. Talvez agora você esteja em paz. Talvez sua dor tenha se saciado na minha. Mas saiba: o gosto da minha culpa é menos amargo que o gosto da lembrança que você despertou.
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