Tumgik
Text
lute
Acendo cigarro, o queimar da garganta me alivia. Toda vez que dou um leve trago minha mente reduz as imagens recorrentes que aparecem em minha cabeça, talvez para um número aceitável em algumas clínicas. Não que diminua a dor que sinto ao ver elas, mas ao menos as leves descargas de dopamina me recompoem. Sobreviver ao inferno não é fácil, ou você se entrega a ele completamente e o absurdo diário se torna um com você mesmo, ou você encara ele, e ele continua enviando hordas demoníacas para lhe cansar. Mas tudo bem, 5 anos de combates incansáveis mostram o quanto eu resisti até o momento. Resistir, palavra chave. Certamente venho ficando mais frágil, o abismo em minhas costas aos poucos vem aparecendo conforme luto. Sendo empurrado constantemente, luta após luta. Afinal vale apena lutar? Eu continuo sempre vendo uma luz acima das hordas, com tantas cores que a união delas vai além do branco, algo até divino, mas conseguiria alcançar? Afinal se entregar aos demônios acabaria com as lutas definitivamente, seria despedaçado, sentiria dor por alguns segundos, até meu corpo parar de funcionar. Mas ao mesmo tempo a luz me chama, com várias vozes melódicas, quase implorando pra seguir-la. Que ironia! Eu, definhando, lutando, cansado e ferido era quem devia implorar pela salvação, ou... Não, não faz sentido, por quê diabos a salvação implora por mim?! Porquê infernos tenho que ir até ela, e por fim ser englobado por ela ?! NÃO É JUSTO. Mas, espere... Algo é justo por fim? Não, nada no inferno é justo, e nunca será. Será? Afinal de contas vivo no inferno por algum motivo, motivo o suficiente para eu ter lutado contra demônios por 5 anos seguidos. O cigarro está na metade já, consigo escutar uma nova horda vindo. Desamparado encaro o abismo atrás de mim. Ele ri, debochando de minha fútil resistência. Fútil? O que há de fútil, em lutar incansavelmente por tanto tempo, o que há de fútil encarar criaturas horrendas procurando sobreviver. Eu gargalho então, de uma forma que me alivia e relaxa o corpo. Percebo que a salvação que clama por mim, não debocha de mim, mas ela sabe o que eu mereço, ela sabe quem eu sou de verdade e do que sou capaz. O abismo deixa de rir, ele deixa de existir. Os demônios estão a 500 metros de mim, marchando com seus estandartes e lanças, suas caras nojentas me encaram, como mais uma vítima, acreditando na vitória. Então eu sorrio. Puxo minha espada, largo minha armadura, percebo que não preciso dela mais, esse peso nas costas já devia ter sumido a muito tempo. Então eu corro, avançando contra a horda, do meu cigarro só resta a bituca, e do meu passado só a armadura. Assim como acabou meu cigarro, acabará essa guerra, hoje, e agora.
0 notes
Text
Uma Ode às estrelas e a inevitável dor de observa-las
Dei adeus às estrelas
Sua luz iluminou meu dia
Mas me queimou
O suficiente para eu odiar a luz
Constelações desalinhadas
Noites menos claras
Me fizeram me perder
Na espera que meus olhos deixassem de arder
Então o solstício chegou
Suas estrelas não mais me ilumina
Cego agora me fascina
Que a falta de seu calor me magoou
Então percebo na noite escura
Que de todas as constelações
A que mais resplandecente
Era a sua
Aguardo então ansiosamente
O dia que os planetas se alinharem
E possamos nos encontrar novamente
E assim então sentir seu quente
0 notes
Text
saudades
Sinto falta de ti
E você diz que de mim
Porém sei que do mim
Não é saudades em si
e
A apoteose chegou
E com isso meu sofrimento
Mas este já passou
Falta de você eu não sinto eu percebo
L
Falta que eu sinto é do aconhego
Passado foi e eu entendo
Que o presente existe
E é mais denso
I
A saudade vem de madrugada
Determinada pela ansiedade
meu amâgo grita saudade
Mas do futuro é dessa vez
Z
Um futuro criado num pretérito perfeito
Mas de perfeito só o jeito
Que o passado amaranhou
O que antigo eu amou
A
Talvez um dia você perceba
Que dizer que sente minha falta é mentira
Pois do que sente está morto
Afundado em sua sina
0 notes
Text
Despertar
O mundo se perde
Em seus próprios desvios
Tristes com suas desavenças
Mas por seus dias tristes são impedidos
Sou melancólico de início a fim
Mas assim, reconheço sua existência e me corrigo em mim
Incapazes de discernir seu início e seu fim
Incapazes são de progredir
Pensam que o azul de sua vida é o início
E a morte solitária está em si
Encontro em meu enfado
Meu fadado destino
Mas procuro na inevitável morte
A incansável busca
Da cura de meu infortunio
0 notes