inoportuno
há algo de bonito em ver florescer o processo
suspirar nos afagos, respirar no excesso desacelerar: inquieto
observar os pequenos detalhes da intenção do ambiente em se perpetuar, fazer sujeira aqui enquanto se limpa acolá
evitar
levitar
reacender o encontro consigo dentro do peito, aprumar os arrepios, quem sabe vem aí
deliciar-se das possibilidades, chorar nos bons e ruins
emancipar as lágrimas suspeitas, torná-las poeiras liquefeitas de estrelas, explosões sinceras de tintilar
há algo de doloroso em rever o processo: ressignificar as dores
reconhecer que apesar das cicatrizes há peso para as cores
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fita métrica
me afogo de lonjuras
ao gosto de que nunca me caíram bem as proximidades: geográficas
figuramente me sinto mais perto do distante enquanto o olhar é por lá
o aqui mete medo, afaga os imprevistos, as incumbências, as indecências do viver
há de vir um advérbio que proximamente se acabe por diminuir à linha de dois átomos a distância de um beijo
ah, lonjura
logo ali
pertinho
unânime em assembleia o querer perto aquilo que se quer bem: dispor da saudade como relicário, trazer pro colo o ordinário exercício de combinar a voz, o olhar, o suspiro, o cheiro
na matemática da vida quando somam-se as saudades o que é que se tem?
qual a raiz da lonjura?
e a potência do aperto?
no peito, de leve, madrugada afora, imensidão adentro
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boreália
com o passar dos anos
o latir dos cães
e o secar dos panos
a gente se desdobra
num imenso lençol freático
de elástico: difícil de dobrar,
frenético, sem freio ao passar dar mãos, difícil organizar
caminhando sob a luz meio embaçada se diz: terra à vista,
há mar!
quando empapuçados os olhos se enganam
foi mar, se desfez num piscar
de olhos de rima barata
enquanto os óleos do corpo fervem os calos dos dias
há parte que ia
permanece em abismo,
se sente saudade do mar quando nem mesmo aos olhos saltaram as terras
com o passar dos danos
a parte que ia ficou no lugar da mais viva idade
cinza nublado de cor favorita
qualquer distopia acalenta a possibilidade de ação
há, são: trazer ao caldo dos dias frequentemente o verbo como faca no peito
fazer acordar qualquer parte que haja
qualquer parte que aja
enquanto abra no peito o coração
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estacionamento
cá entrenós
eu não desperdiçaria toda essa chance de viver
ou melhor, eu não despedaçaria toda essa chance
não me despediria dela
não me despeço
me diz: peço
e eu digo: posso, tento, espero
me diz: espero
não me diz calado o contente
que não grite aos olhos
que soe aos olfatos
e garanta ao comum uma última esperança
cá entre nós
eu não me amarraria em nós desatados
não amaria sem ter nos seus braços
amarras e cansaços
não esperaria nada
em lugar nenhum
não esperaria nós
mas entre nós, como quando se perde o fio da meada
se vagueia zanzando pela estrada
de uma conversa
numa rima barata com a primeira palavra
que diz nada com nada
mas também diz tudo
tudo
tudo
e quando se perde o fio
sem encontrá-lo
pelo meio dos nós
e procura-se nas entrelinhas, nos entrenós
nos entrenossos: um lugar comum
para desabrochar
aqui
eu não esperaria muito, nem esperaria demais
somente o suficiente: dois segundos de infinito
três quilômetros a pé carregando os nós
que a vida dá
mas quando aí eu paro
rodeio
observo
cá entrenós eu não desperdiçaria toda essa chance de viver
até que se despedace o querer
em sentimento algum
numa boa lembrança
abandonada ao relento
do lugar nenhum
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iú
ah se soubesse
do que é feita minha saudade:
incontáveis átomos de cacos intrituráveis, inúmeras e imbestáveis parcelas de sentimento fluido e desconexo conflitante e controverso
você ri
e chora
eu vejo em você
portinho
com agonia aos passos pequenos das poucas pidanças da cabeça - será?
um gole de café em combustão aos incontáveis átomos da saudade
ah se soubesse do que é feita minha verdade, baita mentira duvidosa aos olhos caricatos
aos olhos apagados do tempo
aos olhos marejados do momento
se esse caminho trafega por algo que algo em comum nos coloca no mesmo ritmo
qual tráfego aéreo poderia conectar esperanças perdidas motivos faltantes cabeças errantes dúvidas e dúvidas e dúvidas
se soubesse do que é feita minha saudade
você ri
ai se sesse
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à travers
atravessa-me o peito
essa estúpida saudade
trespassa
esgarça
gira
rodeia
ignóbil e imatura derrama pela carcaça o líquido quente da vida, esparrama pelo chão a delícia da dor, o aroma da sorte
ouço pelos cantos: sem tato
so much time in a heartbeat
repassa
te cuido de longe
te ouço comigo
perplexo, afoito, amigo
essa estúpida saudade
não é de tanto estúpida
pode ser estupenda
estupefata
galopa aos trancos nos campos da taquicardia sul-americana que cobre meu peito mais aberto que o mar da bahia
e nessas noites frias
repousa ansiosa debaixo das cobertas
guess i fucked up
kinda hurts too
se isso ou aquilo
na fronteira entre o acho e o sei
muito tempo pra brûler
divagar
quanto tempo é tempo demais
de menos
pra se saber se sabe ou não
implantar no sistema
o novo soft aware
ou atualizar as definições
ressignificar
épanouir
quando tínhamos
um suspiro, retorno ao processo:
distante vejo suas marcas d'água
trademark
a ferro e fogo
no reflexo de mim ainda neblina
retorno ao processo: me processo
sabotage
hoje é seu dia
cabe inteiro num abraço de longe
pouco a pouco
saudade
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matagal
no eco das fronteiras indivisíveis da mente repousa ligeiro na clareira
um imenso matagal
inabitável
indubitável
inatingível
impenetrável
ladeado pela insustentável leveza do ser
e pelo delicioso peso de estar
quando se diria que em um respingo de solução se faria leve o peso
no eco das fronteiras se torna ponte ou se torna muro?
indivisível feito pizza
partilhável feito ouro
certeiro: murro em ponta de faca pra decifrar o matagal
volta e meia se perde na mata
trilhar por caminhos inabitáveis as fronteiras indivisíveis da mente
sentir no âmago o doce amargo da vontade
espevitar
sincerar
no terreno baldio cresce o mato
enquanto aos poucos eu mato as fronteiras indivisíveis da mente
uma a uma renascem timpânicas, retumbantes
na cadente espera de se deixar levar
se deixar: levar
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imperícia, imprudência ou negligência?
incapaz de alcançar com o coração o que os dedos atravessam
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a maior montanha do mundo
mergulhar de cabeça
na profundidade do subjetivo
implodir o que passou
coletar o que se é
ops
volta e meia falta o ar
no tanque, na garganta
feito pilantra
nos alucina a profundeza
é preciso saber medir, ou melhor, estimar, a profundidade do estar
"nunca somos, sempre estamos"
volta e meia falta o ar
mais na garganta
quando silêncios absurdos gritam incessantemente
mergulhar com os olhos na clareza da escuridão
enxergar: como há mar
aprender a desmedida da hora de parar: disso não nos fala o relógio
tranquilizar o tombo da queda
descer
subir
saber que mesmo quando se cai a máscara de oxigênio em caso de descompressão da cabine
às vezes difícil é respirar
e reparar
na imensidão do tímido universo de estar:
cometa, o erro, o acerto, a dúvida
mergulhar de cabeça
na profundidade de águas rasas
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saúda saudade
quando o arrepio, afoito
o frio na barriga,
a garganta
superavam
por hoje: espresso
gole de segundos
no implacável silêncio ensurdecedor:
estoura os tímpanos da mente
na barragem de ideias,
nada em inundação
imperioso
imperativo
a um pretérito mais que perfeito
saudade em metalinguagem
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embargo ergonômico
ando ressignificando demais meus caminhos
fazendo embrulhos do que sinto
fora o calor
se soubesse o que seria
que seria?
por partes do que vejo
quando aumenta o desejo
mas vejo mesmo?
ando significando demais meus suspiros
turbulentos silêncios
é dia de terapia
será por isso?
é preciso conteúdo, vai na mente
e o estômago borboletando
fora o calor
ando desandado
desembrulhando o que sinto
desencontrado
desfalecendo
ai se sesse
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a maré
de porto
ser barco
âncora leve
a jusante
visibilidade, constante
tripulação ciente
turbulência sob
diálogo
a maré vai
de porto, ser barco
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com tato
olhos atentos no mundo
extensos, ora intensos
calmaria fechada
a divagar
ansiedade aberta
das mundanices me embriago
olhos atentos no mundo
cabeça nas nuvens
bobagem
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pro teu colo:
“o correr da vida embrulha tudo”
às vezes num pacote desgostoso
fascinantemente embriagado
que talvez é melhor nem abrir
mas é preciso
o correr da vida embrulha tudo numa colcha de retalhos
tim tim por tim tim
às vezes é melhor nem abrir
mas é preciso
o correr da vida embrulha tudo
num origami de palavras e sentimentos - imensuravelmente perfeito
mas é sombrio
mas é preciso
precisamente antes que me esgote o fôlego antes que me estoure a lágrima antes que me afogue a mágoa antes que me enterre a náusea
preciso
impreciso é o sentir
na entrega desse embrulho mora o embrolho e o embaralho, e o embaraço da firmeza
pregos cravados na areia, afrouxam, sossegam e depois desinquietam
mas não caem; hoje, não
amanhã, há de ser outro embrulho
o correr da vida embrulha tudo
o que ela quer da gente é coragem
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sinceramente
é óbio que a dúvida viria
o que se pede sorrindo
que não se faça chorando
a menos que saia de ti como um míssil
a menos que o guardar corroa os tacos
feito cupins enlouquecidos
numa floresta de carvalhos
é óbvio que a dúvida viria
o que se pode sorrindo
que não possa chorando
0 notes
superávit
sobra tanta falta
como se faltasse tanta coisa
ansiedade terrena
cabeça das nuvens
choque de gigantes: silêncio
da fusão surge paixão desenfreada
que engatinha, rasteja, cai
se desdobra em um dia de força
e faz queda livre em segundos de exatidão
se levanta em dias, semanas
rouba a cena, o ato, o palco
e ao fim da peça cai em queda livre
nos braços do bem me quer
feito pluma corrói
feito ácido aconchega
nos braços dela assim que der
põe na agenda: qualquer dia qualquer hora
falta tanta sobra
como se sobrasse tanta coisa
na balança comercial
a bolacha água e sal
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imensidão
em mar de possibilidades
expectativa é sardinha
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