Tumgik
#S.I.C.P.V.M.
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Salas de Reuniões - Ilha Bonaccord - Arquipélago das Bermudas
All good things are wild and free
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Irwin Von Ziegler
Depois de tudo que aconteceu na ilha o jovem Ziegler decidiu cancelar outras saídas para ele, ficar ali e organizar tudo era a melhor coisa que poderia fazer para sua divisão. Se trabalho agora era colocar tudo em ordem novamente, acompanhar os projetos e encaminhar resultados realmente válidos para a comunidade mágica. Em se tratando de resultados foi informado sobre os resultados do teste com a Rana, um anfíbio desconhecido que encontraram na ilha Scamander. A matéria sobre a nova criatura seria feita e novamente nenhum magizoologista seria chamado, não era algo que o incomodava porque ele não gostava de ficar em evidência. Já tinha sido jornalista do Profeta Diário e sabia mais ou menos como as entrevistas seriam feitas. – Os louros vão para outros! – Comentou baixinho perto do vidro onde uma espécie de Rana estava. Rana não era o nome oficial, mas Irwin a chamava assim desde quando foi descoberta e tinha um apego por ela, fofa e mortal como o mundo selvagem deveria ser. Ele estava sentado no laboratório com os relatórios da outra divisão, para ficar de olho nas aprendizes a chamou para acompanharem todo aquele processo. Freya já tinha contato (mais que próximo) com a criatura, mas Aurea estava a conhecendo agora. Quando as meninas chegaram ele rodou na cadeira que estava sentado, não mais andava arrumadinho e usava a mesma camiseta cinza de mangas compridas de uma semana (ele tinha roupas iguais aos monte) e seu cabelo tão bagunçado quanto os tronquilhos conseguiam deixar. – Sentem-se perto de nós! – Sorriu ele e virou-se para a caixa de vidro novamente, pegou uma caneta e bateu contra a mesa enquanto elas se ajeitavam. – Rana vai ser exposta para o mundo, mas antes disso precisamos escrever as informações sobre ela de maneira didática, além de finalizar alguns detalhes sobre ela. Os relatórios estão aqui, quero a opinião de vocês quanto ao nome e classificação. – Falou e virou a caixa de vidro com furos para Aurea poder ver mais de perto a fofura. – Amphibia malumnoctis, em referencia a um anfíbio noturno venenoso. Ou, Ranae Tenebris, um sapo da escuridão, que parece ser coerente com a espécie e o modo de vida. Foram dois nomes que sugeri no começo, mas em geral a chamo de Rana mesmo! – Compartilhou o nome que logo no começo ele pensou, isso depois de ter descoberto sobre a visão noturna da criatura. Não havia nome fofo para as criaturas porque se pegavam características marcantes dela, e embora parecesse mais pesado era como ele via ela. Por ser especialista em criaturas perigosas sabia que a aparência nem sempre queria dizer sobre as capacidades de ferir e machucar, ainda que inconsciente, mas serviria de alerta para caçadores e mercenários de criaturas mágicas. Irwin escutou (?) o que Freya tinha para falar, baseado nas suas próprias experiências que o fez sorrir, embora na situação ele tenha ficado bem nervoso. – Não vamos colocar coisas ruins, no entanto, é preciso falar da toxina e talvez não precisamos contar tudo, por isso acredito que devemos classificar como XXX, exatamente pelos cuidados que devem ter. É possível que os alunos de Magizoologia comecem a estudar e quem sabe daqui um tempo entre nos livros das Escolas Bruxas! – Comentou não tão animado. Pegou seu papel de rascunho e anotou coisas básicas em forma de tópicos para o que deveriam apresentar. Nome, classificação, habitat natural, curiosidade sobre ser da noite e sua toxina. – Ainda não sabemos onde mais pode ter Ranas no mundo, compartilhamos a descoberta com outros centros e esperamos uma resposta, mas pelo seu habitat talvez possamos já localizar. – Comentou. O jovem pegou um pergaminho em branco e começou a fazer as suas anotações, escrevendo seguindo o roteiro para depois as meninas passarem a limpo – Em outras palavras, só precisamos de palavras bonitas e é aí que vocês entram. Vou deixar tudo em tópicos e as duas podem produzir os textos de forma clara, não saindo do cientifico e deixando para todos os leigos entenderem. – Especificou para elas entenderem o que fariam.
Nome: Ranae Tenebris. Classificação: XXX. Pode ser encontrada em pântano ou caverna em florestas de clima temperado. Informações gerais: Sendo uma criatura rara, o mesmo também é conhecido por ser tóxico devido ao seu “chapéu” de cogumelo e a substância que ele expele. Quando alguém toca seu chapéu cogumelo e entra em contato com a substância, passa assim a se sentir estranho e logo começa a ter dificuldades para conversar e andar. Se exposto por muito tempo ao veneno ou não ser tratado, a pessoa começa a desenvolver alucinações perigosas e pode acabar falecendo devido a elas. A criatura consegue enxergar no escuro e consegue se esconder muito bem devido ao seu tamanho, sendo bastante dócil em geral. A toxina alaranjada causa paralisia seguido de alucinações, sendo o melhor método de tratamento o Antídoto Contra Venenos Incomuns. Forma de manuseio: É importante manuseá-lo usando luvas de couro de dragão, sendo que feitiços imobilizantes são os mais recomendados.
Terminado de rascunhar entrou para as meninas.  – Vou tirar algumas fotos deles, primeiro no laboratório e depois vamos em uma caverna e no pântano da ilha Scamander para tentar achar eles em seu ambiente natural.– Talvez elas ainda não soubessem, mas quando ele trabalhava no Profeta Diário uma de suas funções era como fotógrafo e também era uma de suas paixões. – Acredito que as imagens sejam tão importantes quanto qualquer outra coisa, no sentido de enriquecer a nova espécie para o mundo! – Ele também tinha um livro que era de fotografias de comunidades bruxas pequenas e isoladas pelo mundo. Fez isso logo depois de se formar em Ilvermorny, era um escritor afinal. Ficou em pé tirando o tronquilho de seu cabelo deixando sobre a mesa – Vou pegar a câmera, vigie Rana e as meninas! – Conversou com a criatura, depois sorriu para as meninas. – Cuidem dele também, já volto! – Dessa forma saiu para deixar as meninas trabalhando a vontade, pois mais tarde sairiam para explorar a ilha. Uma forma deles deixarem para trás os erros!
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Aurea Woodward
Não tinha muito tempo que a missão que eu e Freya fomos enviadas havia terminado e fomos descobertas na Enfermaria pelo diretor Irwin e, agora, precisávamos seguir com nossas vidas, ainda que em marcha lenta. Meus ferimentos já estavam em processo de cura, mas ainda bem evidentes. E por mais que eu não quisesse que Freya me visse daquela forma, lá estava ela, parada em frente à porta da sala de reuniões. Seu modelito a fazia parecer uma fadinha da floresta e cada vez mais eu sentia vontade de protegê-la do mundo, colocá-la num potinho, graças à sua ingenuidade que ela mostrava diariamente com atos simples. Ela parecia me aguardar para entrarmos. Isso me fez sorrir e sentir uma fisgada dolorida no lábio. Me aproximei e enganchei em seu braço, olhando-a com uma expressão leve. — Vamos, ele não vai nos morder. — Pisquei para ela e adentrei a sala de reuniões. Irwin estava vestido de forma simples e com os cabelos bastante bagunçados, o que me fez pensar, primeiramente, se ele havia dormido bem e se não tinha acordado agora, mas logo notei um tronquilho escondido entre suas mechas ligeiramente ruivas. Mas aquele não era o animalzinho que estávamos ali para ver. O objeto de estudo estava em cima da mesa, dentro de uma caixa de acrílico toda furada. Era um sapo com um chapéu de cogumelo. Era uma graça, precisava dizer. Fomos conduzidas a sentar à mesa junto com Irwin e o sapinho chamando Rana, e quando o fiz, larguei minha mochila com alguns materiais ao lado da minha cadeira. O diretor explicou que dentro de poucos dias ela, a criatura, seria exposta ao mundo e precisávamos elaborar um relatório sobre seu descobrimento, um artigo científico que descrevesse a criatura e suas habilidades. Ela, provavelmente, seria anexada aos livros de TCM. Meus olhos brilharam com o privilégio de estar participando daquilo, e me aproximei do vidro, observando o animal de perto enquanto Irwin nos informava os nomes escolhidos por ele. Aquela criaturinha não tinha uma cara de maligna. — Eu gostei de Ranae Tenebris. — Toquei a jaula de acrílico com a ponta do indicador para ver o que a criaturinha faria, mas fui trazida para o grupo de volta quando várias folhas e flores secas caíram ao chão. Não consegui evitar de soltar um risinho pelo nariz quando Freya disse: "Ops". Enquanto ela se preparava para enumerar o que já sabia sobre Rana eu a observava com atenção, cutucando de leve a casquinha de ferida em minha boca, mas quando ela disse que após tocá-la sem proteção adequada achou que era uma árvore eu soltei uma risada, mas que logo foi contida. Lancei um olhar de "Desculpa" para Irwin e voltei a assumir uma postura séria, ou o mais séria que eu havia conseguido. — Ok, eu acho que devemos ocultar do público comum a parte das alucinações, ou frizar o perigo de morte. — Eu ainda achava que o perigo de morte não deixaria os stoners longe de caçar a criatura. — Porque ele pode atrair a atenção de pessoas que estão buscando, justamente, este efeito alucinógeno potente e virar uma espécie caçada. — Suspirei, lembrando do que as pessoas eram capazes de fazer com criaturinhas que só querem seguir o próprio fluxo de vida. — E o que ele come? Será que ele é uma dessas espécies que a fêmea é maior do que o macho? Será que põe ovos? — Eu estava cheia de dúvidas e animada com o estudo. Irwin então seguiu apontando novos tópicos baseados nas nossas próprias conclusões, tanto nas anotações - um tanto bagunçadas - de Freya quanto nas minhas levantadas agora, enquanto via a criatura pela primeira vez. Puxei um caderno e anotei os pontos que ele havia mencionado como lembretes na hora da análise. Nos entregou os materiais e eu os analisei enquanto o pequeno tronquilho zanzava pela mesa como se nos monitorasse de verdade. Achei engraçado, mas esperei que Irwin saísse para tirar as fotos para rir. — O que acha, Freya? Ele é um saltador? Parece ser capaz de saltar com essas pernas traseiras. — Apontei, na foto, com a parte de trás da caneta onde havia um rabo. — Isso pode ser um resquício da sua fase de girino, levando em consideração que ele é um espécime que tem uma parte da vida na água e a outra na terra... o que me faz pensar... esta é a forma adulta de um Rana? — Questionei Freya, entrando de cabeça na investigação e análise dos materiais.
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Freya O'Donnell
Estava suspensa de qualquer atividade divertida da SIC, mas estava aproveitando o momento para me vestir mais como eu mesma, trocando as calças compridas e shorts por uma saia verde-musgo até os joelhos e uma camisa clara.  Encontrei Irwin no laboratório a seu pedido e parei um instante na porta, por um segundo me sentindo intimidada demais para entrar. Apenas quando Aurea chegou e se juntou a mim foi que entramos juntas no ambiente. Puxei uma cadeira para perto do diretor e abri um sorriso quando ele nos informou que a Rana seria apresentada para o mundo em breve. Havia participado da captura inicial da criatura no meu primeiro mês na SIC e agora finalmente todos conheceriam aquele estranho sapinho peludo. A primeira coisa que Irwin quis saber era o que achávamos do nome e me mexi, meio inconfortável no lugar. Os dois nomes na verdade pareciam meio assustadores para um bichinho tão fofo… - Eu gosto de Rana, ou Ranae. - disse, timidamente. Ainda sentia um clima estranho no arquipélago por minha última aventura com Aurea, mas Irwin parecia tranquilo com a nossa presença e fiz o máximo para imitá-lo. - Ah! Eu… hm… Trouxe umas anotações. - depois de anos sofrendo para estudar em Hogwarts, aprendi que o melhor para mim era anotar absolutamente tudo. O problema é que ainda devia muito no quesito organização e isso ficou claro para meus dois colegas quando puxei um caderno de capa de couro muito surrado de dentro da minha bolsa. Assim que o puxei da bolsa, folhas e flores secas escorregaram de entre as páginas e se espalharam no chão - Ops… Apanhei as folhas o mais rápido que pude e as devolvi para o bolso antes de começar a revirar as páginas do caderno. Havia entradas de diário, desenhos de criaturas, listas de feitiços… - Aqui! - parei diante do desenho a lápis de um sapinho que se parecia muito com a Rana, acompanhado de vários esboços de árvores com mãos e olhos e palavras soltas que não faziam o menor sentido. - Hm… Eu fiz elas enquanto ainda estava no hospital. Quando eu achei que era uma árvore. - abri um sorriso diante do olhar confuso de Aurea - Eu me distraí e acabei tocando ela sem luvas. Essa é uma parte muito importante: - continuei, em tom sério - se você for cuidar da Rana, você precisa de luvas! Está vendo o cogumelo que ela tem na cabeça? Ele é venenoso e só tocar nele já pode te fazer mal. - pensei um segundo no que mais poderia dizer - A pessoa fica com dificuldade de andar e falar e depois começa a ter alucinações… - dei uma risadinha - As alucinações não são tão ruins. Eu achei que o Irwin era uma árvore. E eu também. - Mas eu poderia ter morrido se não tivesse aplicado o Antídoto Contra Venenos Incomuns imediatamente. - completei alegremente. Fiz uma careta quando Irwin alertou que não deveríamos colocar as coisas “ruins”, sendo apoiado por Aurea, que comentou que era melhor alertar sobre os perigos do veneno da Rana, pois algumas pessoas poderiam procurá-lo justamente para desfrutar das alucinações. - Talvez o veneno tenha algum uso em poções… - disse em voz baixa - As alucinações eram bem bonitas… - mas concordei em acrescentar alertas sobre o risco de morte do veneno. Depois disso o diretor nos passou suas anotações e escapou para buscar uma câmera para tirar fotos da Rana, deixando um tronquilho para nos vigiar. Dei uma risada da pequena criatura e lhe estendi a mão, para que subisse no meu braço antes de voltar minha atenção para Aurea, que agora me enchia de perguntas sobre a Rana. Algumas de suas perguntas me deixaram sem resposta. Talvez ainda houvesse muito para descobrir sobre a criatura, mas tínhamos o suficiente para uma introdução e, mais importante, sabíamos os maiores riscos que a criatura oferecia, para que outros bruxos pudessem estudá-la em segurança. - Ah! - abri um sorriso ao ouvir uma pergunta que eu sabia a resposta - Ela pula alto, pro tamanhozinho dela. Eu tentei pegá-la com uma rede de borboletas… Mas acho que um feitiço que a segure pelas pernas seria mais eficiente. Com esse pensamento em mente, debrucei sobre as anotações de Irwin e tentei escrever meu próprio texto. De forma alguma era a pessoa mais indicada para juntar informações em um texto conciso. Nome: Rana (Ranae Tenebris) Classificação: XXX. Essa adorável e rara criatura se assemelha a um pequeno sapo coberto de pêlos, com um chapéu de cogumelo no alto de sua cabeça. Capaz de enxergar no escuro, a Rana habita pântanos e cavernas em florestas de clima temperado e pode se esconder com facilidade devido ao seu tamanho. Apesar de ser dócil e pacífica, pode ser uma criatura perigosa e recebe sua classificação por conta da substância de cor alaranjada expelida pelo seu “chapéu”. Ao entrar em contato com a pele, a toxina age rapidamente, causando na vítima dificuldade para falar e se mover. A exposição prolongada à substância pode provocar paralisia, alucinações e até a morte. Recomenda-se usar luvas de couro de dragão ao manipular a criatura, assim como feitiços imobilizantes, que a impeçam de saltar para longe. No caso de entrar em contato com o chapéu ou sua toxina, indica-se a aplicação da poção de Antídoto Contra Venenos Incomuns no local, sendo ainda necessário buscar atendimento médico. Enquanto escrevia, o tronquilho subiu pelo meu braço, depois pelo meu ombro, até se pendurar no meu cabelo, tentando alcançar uma das flores que usava de enfeite no cabelo. Mal notei a criatura e logo terminei meu texto, mostrando então para Aurea para ver o que ela achava. - Acho que coloquei tudo que precisava. Quando o Irwin voltar, ele pode ver se tem mais alguma coisa para acrescentar. Espero que ele tire bastante fotos, gostaria de ter uma pra mim, para guardar. - concluí, sorrindo.
em 2023-01-28
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Floresta - Ottery St. Catchpole
Well, it makes me feel all right
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Era mais um final de semana de folga, um muito aguardado por Bjord, pois era nele que finalmente cumpriria o combinado de acampar com Freya. Conforme os meses passavam a ideia ia se tornando um fantasma nas trocas de cartas desde a última vez que se viram. Até então não haviam conseguido um espaço em ambas as agendas, parecia um milagre que finalmente o encontro pudesse se concretizar. Visitariam a Floresta de Ottery, a mesma onde Bjord passou sua primeira folga e contou detalhadamente à ela sob como foi a primeira vez viajando sozinho de trem pelo Reino Unido. Desta vez, porém, ele iria chegar até lá com uma ajudinha da rede de Flú. Fraser pediu para entregar um pacote a um amigo, então usaria a lareira para ir até a casa do tal homem e de lá ir a pé até o ponto combinado. Isso poupou algum dinheiro e muito tempo de planejamento, o único sacrifício é que a ida até lá seria bem menos interessante do que pegar o trem em Londres. Montou sua bagagem tão despreocupado que acabou colocando coisas demais, depois teve que decidir se levaria Newt ou não, mas o pelúcio fez tanto drama ao perceber que poderia ser deixado para trás que Bjord resolveu esquecer os problemas que a criatura poderia causar. Ainda não era dia quando ele deixou Evergreen, o relógio antiquado da casa que foi o seu destino marcava exatamente quatro horas da manhã quando ele parou de rodar dentro de uma lareira de pedra velha. Era um lugar de aparência hostil, mas o morador apresentava certa simpatia hospitaleira. Enquanto servia um chá preto com conhaque ele deu dicas dos locais que Bjord deveria evitar e ensinou como montar arapucas para algumas criaturas que habitavam o lugar. Também o presenteou com carne seca e uma trança de alho. Era um caçador de Lobisomens e Vampiros, a entrega em questão foi de lascas de madeira selecionadas para fazer estacas.
[...]
Sua mochila parecia grande e pesada demais, por mais que tentasse não conseguia aprimorar o feitiço expansor que havia lançado sob ela, então andava pela trilha parecendo uma espécie de alpinista exagerado. Entretanto não mostrava cansaço ao carregá-la, na verdade ele estava visivelmente mais preocupado com uma das duas bolsas de colo. Vez ou outra olhava seu interior e depois seguia caminho. Um pequeno lampião flutuava a sua frente iluminando as partes onde as árvores de copa alta faziam sombra demais. Só parou no alto de um pequeno cume, plano e desfolhado. Um tronco caído descansava ali junto de grama e musgo, um som como de um ronco suave saindo de dentro das fendas na madeira. Foi este o ponto de referência que deu a Freya: “O cume do toco falante”. O luar acabou ficando conhecido na região por ter uma vista privilegiada do vale e do rio, mas principalmente pela antiga árvore falante que foi atingida por um raio muito tempo atrás e passou a resmungar o dia inteiro, afastando turistas mágicos e não-mágicos que acreditam ser os uivos de fúria de um espírito agourento. Foi a única referência concreta que ele conseguiu dizer por carta. A cidade mais próxima estava fora de cogitação por também abrigar não-mágicos. No fim decidiu chegar mais cedo só para garantir, não sabe ao certo como funcionam chaves de portal.
[...]
O dia nascia por detrás das montanhas, uma vista espetacular, mas Bjord não tirava a imagem dela da cabeça. Seus olhos azuis como o céu, sorriso mais quente e aconchegante que qualquer raio solar... Newt também a esperava e a prova era que sequer tinha procurado coisas brilhantes pelos arredores. Ficou sob o chapéu de Bjord mimetizando os movimentos que ele fazia com a cabeça quando ouvia algum outro barulho que não fosse o ronco do toco falante ou o vento arrastando o galho das árvores próximas. Os olhos cheios de ansiedade esperando por algum sinal carregavam o medo de que ela fosse parar em outro lugar.
***
Por mais que tivesse deixado as Bermudas quando ainda estava escuro, ali naquela parte do mundo o sol já nascia. A chave de portal me deixou no meio da floresta e abri um sorriso ao reconhecer as árvores ao meu redor. Não estava na Irlanda ou em Hogsmeade, mas já me sentia muito mais em casa do que no arquipélago da SIC. Me deixei inspirar profundamente o ar fresco por um instante, antes de olhar ao redor, tentando descobrir onde estava. Estivera em Ottery alguns meses atrás, quando trouxera um dos filhotes de amasso para sua nova família, mas isso não quer dizer que conhecia a região ou que sabia onde ficava o tal cume do toco falante do qual Bjord falara na última carta. Não havia qualquer sinal de trilha ou outra presença humana ao meu redor, mas não me preocupei muito. Tirei a varinha do bolso e a equilibrei deitada na palma da minha mão, enquanto dizia as palavras necessárias. A varinha deu uma volta completa na minha mão e parou apontando para o norte. Olhei na direção, pensativa, e, sem tirar nenhuma conclusão satisfatória, preferi seguir a inclinação do terreno, subindo no que esperava que fosse a direção do cume. Tirando algumas brincadeiras no quintal de casa e um acampamento em Hogwarts, anos atrás, nunca havia acampado de verdade, mas preparei uma mochila com coisas que achava que poderia precisar. No ano trabalhando na SIC, aprendi que não era uma boa ideia se aventurar por aí usando saias e vestidos floridos (por mais que fizesse muito isso quando era criança) e me vesti mais de acordo com o que estava acostumada para o trabalho: shorts e botas e o cabelo preso em uma longa trança, enfeitada por uma presilha dourada apenas para o caso de Bjord também lembrar de trazer Newt. Havia dispensado a companhia de Sage, querendo dar alguma folga para o filhote de amasso depois dos dias intensos que havíamos passado juntos. O amasso também teria mais sucesso em farejar o caminho até Bjord, mas, depois de alguns minutos caminhando sozinha, fui avistada primeiro por uma única fadinha e, quando me dei conta, estava cercada por fadas curiosas. As fadinhas tinham a sua própria forma de conversar, que eu mesma não entendia, mas depois de algum tempo lhes oferecendo flores e biscoitos, uma delas entendeu o que eu procurava e se apressou em me mostrar o caminho até o alto de um morro, onde havia um tronco que parecia falar. Assim que deixei as árvores, antes mesmo de eu avistar Bjord e o toco no alto do morro, vi a pequena forma escura de Newt correndo na minha direção. - Newt! Que saudades! - me abaixei para que o pelúcio subisse dos meus joelhos para meus braços e lhe enchi de carinhos antes de erguer a cabeça e ver que Bjord vinha logo atrás. O pelúcio não deu a menor atenção para seu dono e subiu para meu ombro, imediatamente tentando alcançar a presilha que eu usava no cabelo. - Bjord! - corri para encontrá-lo, mal conseguindo parar até que o alcancei, jogando os braços ao redor do seu pescoço. Não disse mais nada, apenas o abracei com força.
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Newt foi mais rápido em perceber a figura que se aproximava, seu salto fez Bjord se desequilibrar e escorregar da pedra onde estava sentado. Piscou os olhos algumas vezes tentando acostumar a vista a claridade porque olhava diretamente para o céu, absorvendo lentamente a voz de Freya ecoando pelo lugar e enchendo seus ouvidos. Demorou alguns segundos para processar que precisava levantar e chegar até ela o mais rápido possível. Desatou as diversas alças de sua mochila com certa urgência, mas colocou a bolsa de colo em um lugar seguro antes de ir escorregando até o encontro de sua amada. Eles se abraçaram de um jeito desengonçado porque Freya ainda carregava sua própria bagagem, mas Bjord não ligou. Depositou-lhe um beijo nos lábios enquanto segurava o rosto dela com as duas mãos, um longo e apaixonado que tentava expressar fisicamente a falta que ela fazia. Sempre perdia a noção do tempo quando estavam juntos, por isso ficou surpreso quando abriu os olhos e percebeu que as feições dela agora estavam iluminadas bem na sua frente. Não era um sonho, sentia o rosto suave dela por baixo das mãos ásperas. Quando se deu conta tirou-as de lá depressa, a segurando pelos ombros e analisando-a com muito afinco. Parecia procurar se havia alguma parte faltando, às vezes Bjord tinha pesadelos onde criaturas de outro mundo perseguiam Freya, acordava desesperado com medo de serem premonições e passava alguns dias sem dormir. É por isso que na luz da manhã os dois parecem tão diferentes, Freya está mais jovial e saudável enquanto Bjord parece um pouco maltratado. O estilo de vida que anda levando vem reverberando cada vez mais em sua aparência de jovem-adulto. Muitos de seus pequenos arranhões estão se transformando em grandes arranhões ao mesmo passo que o corpo fica cada vez mais forte. — Que bom que chegou. Fiquei preocupado...— a voz confirmava, estava meio tremida por baixo da rouquidão de alguém que não a usa frequentemente. Também soava um pouco aliviado, mas havia apenas felicidade naquele sorriso. — Vem, quero te mostrar a vista. — ele segurou a mão dela e parou por meio segundo quando o fez. Agora ela também parecia estar carregando as marcas do  trabalho nas mãos. Ficou em dúvida se devia sentir orgulho ou preocupação, mas uma vozinha em sua cabeça o alertou que estava sendo imediatista demais. As próprias virtudes sempre entravam em conflito quando se tratava do bem-estar de Freya. A vista do topo agora mostrava um vale com ar de que começava a acordar. As fadas que acompanharam Freya agora estavam importunando o toco falante, ele ainda continuava fazendo um som de ronco. Bjord não soltou a mão de Freya enquanto apresentava a vista. O lago, o topo das casas distantes que provavelmente pertenciam a famílias bruxas, a imensidão de árvores. Quando finalmente pareceu satisfeito de apresentar Freya ao lugar finalmente olhou-a mais uma vez. Sentiu urgência de beiá-la mais uma vez, mas apenas encarou seus olhos azuis e deixou se perder neles mais uma vez. O coração pulou uma batida quando percebeu que o momento se estendeu demais. — C-como, hum... Como foi a viagem? — resolveu perguntar, um pouco da timidez do colégio dando às caras depois de tanto tempo. Na verdade, não queria fazer nenhuma pergunta naquele momento, mas sim uma afirmação. A sensação tomou de conta de seu estomago como borboletas, ou fadas, mas tinha esse outro peso dentro de si que dizia que talvez fosse mais apropriado esperar. Tinham muito tempo, o momento certo iria aparecer.
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Demorou para eu aceitar me afastar de Bjord. Continuei abraçando-o apertado enquanto o beijava, como se pudesse compensar todo tempo separados de uma só vez. Quis reclamar quando ele tirou suas mãos do meu rosto mas me contentei em continuar com meus braços ao redor da sua cintura, enquanto via ele me estudar atentamente. Devolvi seu olhar com a mesma intensidade, procurando sinais de como ele estava. Passar mais tempo longe tornava nítidas as mudanças que talvez passassem despercebidas quando eu o via todos os dias. Logo que o abracei, percebi que seus ombros estavam mais largos. Também havia cansaço e preocupação nos seus olhos, que logo desapareceram quando ele sorriu ao constatar que eu continuava inteira. Eu mesma tivera minha cota de noites mal dormidas e cheias de pesadelos, mas era difícil lembrar disso agora que estava longe do arquipélago e abraçada com Bjord. Finalmente me lembrei de tirar a mochila das costas, que Newt já tentava abrir e explorar o que havia dentro. A deixei aos meus pés e, na esperança de distrair o pelúcio por um instante, mexi na fivela de metal que a mantinha fechada, deixando que ela refletisse a luz do sol. Newt imediatamente se interessou no objeto e começou a tentar soltá-lo da bolsa com suas mãozinhas. Parei ao lado de Bjord para admirar a vista para o vilarejo e lhe dei um beijo na bochecha antes de apoiar minha cabeça no seu ombro e entrelaçar meus dedos nos seus. - Me lembra um pouco de casa, digo… a casa da minha mãe. As casinhas… - apontei, com um sorriso - Mas aqui tem mais floresta em volta, lá são mais campos… Ah. Ali é onde eu deixei a irmãzinha do Sage! - apontei uma das casas, quase completamente escondida entre as árvores. - Ah, a viagem foi rápida. Bem rápida. - respondi sua pergunta, com uma risada. Ainda estranhava a ideia de desaparecer em um lugar e imediatamente surgir em outro - Mas ainda era noite quando eu saí. Isso sempre me confunde. - olhei para o céu claro sobre o vilarejo, pensativa. Eu sabia porque isso acontecia, mas ainda assim parecia estranho. - E você? - queria lhe perguntar e contar tudo, saber da sua viagem, das férias, de Hogwarts, do novo emprego. E também tinha tanto para contar de todas as novas criaturas e amigos que tinha conhecido e tantas coisas que não cabiam em cartas e que preferia contar pessoalmente para ver sua reação. Precisei me segurar para não enterrá-lo em perguntas e em vez disso o abracei mais uma vez, sem conseguir parar de sorrir - Precisou me esperar muito?
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Quando retribuiu seu abraço sentiu-se muito mais leve por dentro, a realidade era muito melhor que qualquer sonho ou devaneio que tivesse que recorrer para acalmar a própria angústia de estar tão distante dela. Conforme se acomodava nos braços de Freya e roçava o nariz no dela ia absorvendo a certeza de que não havia lugar melhor para estar. Ele esperou um momento antes de responder à pergunta, ponderando se falava ou não a verdade. Desde que se tornou um homem a autoconsciência de Bjord oscila para problemas mais práticos. Seus olhos cinzentos refletiam os dela como se buscassem algo ali. Não queria preocupá-la, mas mentir era pior, por isso quando falou se sentiu meio bobo de admitir. — Ah, não muito... Talvez um pouco, eu saí cedo demais, estava ansioso... — não precisaria explicar pra ela que ficou a última hora pensando em diversos cenários onde tudo dava errado, A distância física dos dois tornava mais difícil de evitar os pensamentos de caminharem para ideias sombrias. Sem Freya por perto sua cabeça estava em um inverno eterno. Demorou muito tempo para perceber quando ainda eram só amigos. Ele olhou para onde ela apontou antes, lembrando da carta sobre como ela teve que lidar com os filhotes de amassos. Bjord soltou um risinho.   — Podemos montar a tenda perto do rio, ou em alguma clareira. Eu pratiquei o feitiço de fazer água com a varinha. — disse quando percebeu que não poderiam ficar ali pelo terreno ser instável demais para montar um acampamento funcional. Ele de fato tinha praticado o feitiço, mas era tão ruim fazendo isso que não passou muita confiança, o toco falante soltou um risinho debochado porque estava plenamente acordado agora que as fadas tinham brincado demais com ele. — É melhor ficar perto do rio. — concluiu, pensativo. — Ah! — desciam os terrenos quando ele lembrou. Passaram quase dois minutos argumentando sobre as duas mochilas serem demais para ele carregar. Freya venceu, mas Bjord ainda parecia meio desgostoso de não poder exibir sua força física para ela. — Sei de um lugar onde algumas criaturas aparecem pra beber água! — o lampião que levitava ao redor dele agora estava apagado, só se deu conta de que o objeto ainda estava seguindo os dois quando em uma das voltas da orbita bateu em sua cabeça. O pendurou em um gancho da própria mochila depois de tirá-lo do ar e seguiram caminho, a vergonha expressa em rubores nas orelhas. Newt não saiu mais de perto de Freya, nem as fadas. Enquanto caminhavam pelo bosque Bjord ia explicando para Freya sobre o homem caçador de vampiros de mais cedo. Ela ficou curiosa para saber porque ele tinha uma trança de alho consigo, depois sugeriu que usassem quando fossem preparar a comida e começou a ficar animada com a ideia de chamar um vampiro para jantar. Bjord estava até que investido na ideia porque poderia colocar os conhecimentos do livro “como fazer amizade com seres das trevas” em prática até num sopro de realidade se darem conta de que provavelmente vampiros não apareceriam se usassem os alhos na comida.   [...] Demorou cerca de meia hora de caminhada por entre o bosque até chegarem numa clareira onde as árvores eram densas e altas e faziam sombra sobre o espaço onde só havia grama seca, pedras e alguns arbustos sem frutos. Os galhos maiores se projetavam para fora da junta de árvores e faziam uma espécie de cobertura que apararia boa parte da água se chovesse. Há cerca de sem metros uma das veias do rio Otter corre tranquila. — Não é muito fundo, acho que chega até os joelhos. Seguindo o curso tem um pequeno lago, podemos ir lá mais tarde.— comentou enquanto ajudava a tirar a mochila das costas dela e depois se afastou para analisar o terreno, procurando a melhor parte para fazer o acampamento. Parou por um momento quando encontrou. — O que achou? — quando se virou para olhá-la percebeu que parte da grama ao redor dela tinha voltado a ficar verde e viva. Achou bonitinho, mas sorriu mesmo porque Freya estava linda iluminada pela luz do sol tendo como plano de fundo o campo dourado e as arvores antigas. Era como as pinturas bonitas de Hogwarts, só que ainda mais única, agradeceu aos Deuses por poder ser o único a apreciar tamanha beleza.
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Deixei que Bjord nos conduzisse até onde ele achava que seria o melhor para a tenda, mas fiz questão de levar minha própria mochila. Newt e algumas das fadinhas completavam nosso pequeno grupo. Ouvi suas explicações com atenção, tentando aprender alguma coisa: as noites que precisei passar ao ar livre por causa da SIC sempre eram precárias e desastrosas e não custava muito aprender a fazer as coisas do jeito certo. Observando Bjord e sua mochila, notei que ele parecia ter trazido o dobro de coisas que eu e de repente me perguntei se não estaria preparada de menos. Não havia trazido uma trança de alho, por exemplo, e me perdi por um segundo, tentando imaginar qual seria o seu uso. Já estava feliz por finalmente ter um momento junto com Bjord, mas fiquei ainda mais animada quando ele comentou que sabia de um lugar onde criaturas iam para beber água. Não importava que eu visse criaturas mágicas todo dia no trabalho, ainda tinha alguma coisa mágica de encontrá-las no seu habitat. Depois de algum tempo caminhando e conversando, chegamos no lugar que Bjord comentara. Era uma clareira protegida por árvores altas, com um riozinho por perto. No momento não havia criatura nenhuma a vista, exceto as fadinhas que ainda me seguiam, na expectativa de ganharem mais biscoitos. Bjord me ajudou a tirar minha mochila das costas e então passou a observar o terreno, tentando decidir onde colocar nossa tenda. O observei por alguns segundos, curiosa. Parecia saber bem o que fazia e o assisti, esperando aprender alguma coisa. Não fazíamos nada assim desde Hogwarts e de repente percebi que sentia falta desse tempo a sós. Encontros românticos de natal eram divertidos, mas gostava de como ele se revelava em momentos como esse. Só quando Bjord se voltou para falar comigo foi que reparei na grama verde, que não havia ali antes. Me abaixei e apanhei algumas ervas que haviam crescido perto dos meus pés, começando a prendê-las em um pequeno buquê. - Acho perfeito. - disse, me erguendo novamente, com um sorriso - Será que tem unicórnios aqui? - olhei depressa para a água, como se esperasse que um surgisse naquele exato instante - Ou sei lá, centauros,  tronquilhos... - apertei meus lábios fechados antes de me voltar para Bjord - Agora o que precisamos fazer? Quero ajudar você! Ah, eu também sei um feitiço para manter criaturas longe, se precisarmos. - acrescentei, mesmo que não quisesse usar o feitiço de verdade.
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Ficou animado quando ela se ofereceu para ajudar, mas fez uma cara de confusão quando ela comentou sobre um feitiço de afastar criaturas. O que conhecia de Freya o fazia pensar que era até absurdo ela conhecer um feitiço com essa finalidade, mas daí lembrou que em Hogwarts os encontros com a natureza sempre caminharam de maneiras meio caóticas. Talvez viesse a calhar, talvez fosse útil em seu trabalho. Para não parecer tão indignado ele virou-se para a própria mochila e começou a tirar coisas lá de dentro enquanto respondia. — Acho que não iremos precisar do feitiço... E... tem sim unicórnios, mas não acho que tenha centauros... As árvores são muito espaçadas... — tirou os alicerces da tenda, depois as estacas e um martelo rústico. — Mas tem diversas outras, li que aqui é um ponto de migração de alguns deles. E também tem os que fogem das famílias, imagino... —ficou uns segundos contemplando a própria ideia depois olhou para ela. — É que, bem, da outra vez eu vi um Kappa. Ele devia estar do outro lado do mundo, não é? Então pensei que... — sua voz foi baixando e ele entrou em seu modo introspectivo, demorou alguns segundos até se dar conta e quando o fez suas orelhas ficaram vermelhas. A coisa é que mesmo morando com outros três homens Bjord evoluiu muito pouco de suas qualidades sociais, a maior parte do tempo ele só fala quando é requisitado a fazê-lo. Apesar disto, hoje em dia é visto mais como modéstia do que como timidez. Se saiu bem quando estava nos correios, mas a falta de prática o deixou meio enferrujado. Pediu para que Freya o ajudasse colocando as estacas nos nós da lona que seria a tenda ou fazendo uma área para fogueira, arrumando os utensílios... — Você, hum, falou nas cartas sobre os Yetis... — ele disse enquanto usava o martelo para fincar uma estaca na terra. Procurou um jeito de comunicá-la que tinha lido um livro que falasse sobre eles e só encontrou relatos de como eram violentos, mas não conseguiu. Na época ficou tão preocupado esperando notícias que até teve febre, e mesmo quando recebeu os relatos lhe pareceram insuficientes. Bjord tem a impressão de que Freya não percebe muito bem o quão sua vida é interessante, por isso resolveu perguntar. — Como foi? — e queria mesmo perguntar: Como é que você sobreviveu? Quando as estacas estavam todas nos seus lugares ele usou um encantamento para fazer a tenta “flutuar”, ficando na posição de um telhado triangular. Tirou da mochila uma vara que em condições comuns não caberia lá dentro e colocou como apoio no centro da tenda a ficando na terra. Dela saíram pequenas vigas que pareciam galhos, elas sustentaram a barraca. Era espaçosa o suficiente para até três pessoas. Ele começou a tirar algumas peles de animais peludos para cobrir o chão enquanto ouvia Freya falar.
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Ajudei Bjord com a tenda como pude, enquanto ele me contava sobre as criaturas que já tinha visto na região. Era nessas horas que eu achava que havíamos invertido as carreiras. Talvez eu devesse estar cuidando de árvores na Escócia enquanto ele corria atrás de criaturas mágicas nas Bermudas. Estava tentando convencer Newt a devolver um dos utensilios de metal quando Bjord me perguntou sobre uma das cartas que tinha enviado, logo depois do nosso encontro no natal. - Ah, o Yeti foi fácil! - disse, animada, puxando a presilha do meu cabelo para oferecer para Newt como troca - Irwin estava comigo. O meu chefe. - expliquei, ao ver o olhar confuso de Bjord - Outros dois magizoologistas foram cuidar dos pais e sobrou o filhote pra mim. - dei uma risada - Eu chamo de filhote, mas ele tinha quase o meu tamanho! Acho que os pais deveriam ser ainda maiores. - abri os braços, gesticulando enquanto falava. - Quando a gente teve certeza que os pais não estavam mais na toca, a gente foi lá buscar o filhote. Eu consegui fazer ele dormir de longe e depois o Irwin o prendeu! - contei cheia de orgulho, pois essa realmente tinha sido uma das vezes que tudo correu de acordo com o planejado - Foi bom, porque o Irwin estava preocupado comigo, depois dos sapinhos alucinógenos. Depois disso voltaram a me convidar para resgates. - concluí, finalmente conseguindo recuperar o utensílio de Newt e o devolvi para o seu lugar. Bjord agora terminava de montar a tenda com um pouco de ajuda mágica. Observei a barraca tomar forma, animada. Quando acampei em Hogwarts, nossa tenda era encantada para parecer uma tenda normal por fora, mas por dentro parecia mais uma casa inteira. Tinha as suas vantagens, mas não parecia tão divertido. A graça não era justamente estar ao ar livre? Quando a tenda estava pronta, me apressei em ajudar Bjord, apanhando uma das peles para estendê-la no chão. - E as árvores, você está gostando? - perguntei, passando os dedos pelos pelos da pele, pensativa por um instante, mas logo lembrei de outra coisa - Eu te contei que encontrei bezerros apaixonados no arquipélago? Posso te mandar um monte de esterco de lá!
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Bjord olhou-a rapidamente quando ouviu ela citar um nome de alguém que não conhecia. Teve essa impressão de que se tratava de um homem, talvez ela já tivesse o citado nas cartas e agora não lhe viesse à cabeça, sua expressão de confusão foi para disfarçar este outro sentimento que não sabia bem explicar. Era ligeiramente parecido com o que o fez tirá-la de uma festa ainda na época de Hogwarts, e mesmo quando o título de “chefe” foi dado ao nome não foi suficiente para acalmar a sensação. Só quando ela terminou de contar a aventura foi que ele fez um esforço de verdade para tentar deixar do tal do Irwin de lado em seus pensamentos, até então havia sido citado três vezes, achou difícil não se preocupar. Tentou focar nos detalhes sobre os Yetis, por um momento imaginou Freya cantando uma canção de ninar para a criatura, depois sorriu sozinho para imagem mental onde ela andava por aí segurando a mão de um bebê gigante e peludo. Quando ela se aproximou para ajudar ficou feliz de tê-la perto. Ela parecia realmente interessada sobre as árvores, afinal era a área dela. Bjord pensou por uns segundos, não achava o próprio trabalho tão interessante quanto viajar o mundo. — Hm... Sim, ainda estou pegando o jeito... Mas gosto de ficar com as árvores. — diferente do conto dela, falou muito pouco, sentiu-se meio bobo. — Ah, Fraser ficaria muito feliz. E ele quase nunca está feliz... — comentou, meio que rindo. — As árvores também. Dizem que é um dos melhores fertilizante, não é? — depois de uns segundos em silêncio arrumando as peles nos cantos da barraca ele sentou e chamou Freya para perto. Quando a tenda está aberta tem essa vista do campo, do rio ao longe e do céu claro da manhã iluminando o resto. — Tem todo tipo de árvore lá, é engraçado... Tem flores selvagens também... — ele depositou um beijo na testa dela, depois não resistiu e lhe beijou os lábios também. — Ia trazer uns cardos, de presente... Mas eles... fugiram. — fez uma cara confusa quando lembrou das pequenas flores correndo do vaso na tarde anterior. Se pensasse melhor talvez chegasse à conclusão de que não eram Cardos de verdade. Ele sorriu depois apalpou as peles e se perguntando se estava confortável o suficiente. Imaginou que Freya traria um daqueles sacos de dormir que trouxas usam. Estava curioso para ver um de perto. — Não é tão emocionante... — retomou o assunto. — É meio repetitivo, e muito manual, e parece que sempre tem algum problema pra resolver. — apesar disso, Bjord parecia meio contente de que fosse assim. Alguém tão fiel aos próprios costumes não conseguiria reclamar de ter uma rotina. — Você já comeu? — perguntou, de repente, como se isso fosse a coisa mais importante do mundo. Antes que ela pudesse responder, completou todo animado: — Podemos cozinhar juntos! — e se apressou para procurar panelas na própria mochila. — Podemos colher frutinhas, depois... Viu os arbustos no caminho? Tem de todo tipo... — afastou algumas fadas que rondavam curiosas quando, com muita dificuldade, conseguiu tirar um cesto cheio de pães da mochila.
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- Não se esqueça de conversar bastante com elas. - disse, entre um beijo e outro, olhando séria em seus olhos - As árvores gostam disso. - concluí com um sorriso - E se elas gostarem da sua conversa podem te contar algumas coisas interessantes. Se vem chuva, ou se tem alguma coisa errada na terra… - ergui os olhos para as árvores sobre nossa tenda, como se esperasse que concordassem comigo, mas a floresta continuou quieta ao nosso redor. Inclinei a cabeça para o lado, pensativa, quando Bjord disse que seu trabalho não era tão emocionante. Me peguei por um segundo com saudades das aulas de Herbologia em Hogwarts, mas a verdade é que mesmo cuidar de plantas mágicas poderia ser emocionante. A pergunta de se eu havia comido veio logo em seguida e nem soube como responder. Eu não tinha certeza se fazia muito ou pouco tempo: ainda era noite quando fiz um lanche antes de sair do arquipélago, que horas seriam agora? Mas antes que eu pudesse formular uma resposta, Bjord sugeriu cozinharmos algo juntos. - Podemos usar o alho que você trouxe! - juntei as mãos, animada com a ideia - Pera, eu acho que também trouxe coisas para ajudar! Puxei minha mochila para perto, para investigar o que havia dentro. A SIC tinha seu próprio estoque de equipamentos e invadi a dispensa antes de partir, pegando o que achei que poderia ser útil. Pouco a pouco fui tirando os itens e revelando o caos que havia dentro da minha mochila. A primeira coisa que tirei de dentro foi uma coleção de materiais de desenho e um caderno cheio de folhas e flores entre suas páginas. Mesmo fora de Hogwarts, continuava a manter documentado tudo que aprendia. Não que as minhas anotações fossem organizadas para conseguir consultá-las com facilidade, mas estava tudo ali: feitiços úteis, criaturas, plantas… A verdade é que ao fazer minha mochila estava muito mais preocupada em registrar a maior quantidade de lembranças possíveis do que como passaria a noite, ou o que comeria. Mesmo assim, tirei da mochila trouxinha de tecido com batatas, legumes e algumas frutas. Tinha também o pacote dos biscoitos que havia oferecido para as fadinhas e alguns sanduíches. Fora isso, tinha também outro embrulhinho de tecido azul escuro, não maior que a palma da minha mão, decorado com bordados de flores de lavanda e camomila, acompanhadas de luas e estrelas, e, finalmente, o estojo de um pequeno kit de cozinha. Pequeno mesmo, pois parecia fazer parte de uma casa de bonecas. Abri o estojo e despejei as pequenas panelas e utensílios na minha frente. Antes mesmo de tocarem o chão, os itens cresceram até ficarem do tamanho normal e caíram amontoados, fazendo um estardalhaço. - Talvez tenha alguma coisa útil aí… - disse, indecisa. Encarei a pilha de pratos, panelas e talheres, curiosa. Sendo um kit usado por bruxos e lembrando quão preguiçosos outros bruxos costumam ser, sabe-se lá o quão “independentes” eram todos aqueles objetos.
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Bjord concordou com ela quando disse sobre o alho. Enquanto procurava os instrumentos para montar a fogueira ficou pensando na dica dela de conversar com as árvores. Percebeu que sua dificuldade social tinha entrado em um novo patamar quando sentiu dificuldade até mesmo de pensar em conversar com as plantas. Não via problema se fossem com as que respondessem verbalmente, mas sentiu-se meio estranho ao pensar que talvez aquelas que ajudasse a cortar para vender a madeira o vissem como um algoz e não como um amigo. No mínimo ficariam decepcionadas quando percebessem que ele só tratou delas para abatê-las depois. Se parasse para pensar melhor, não era muito diferente de ter um rebanho de animais, nem sabia ao certo porque essa ideia lhe deixava para baixo. Talvez por causa de Freya. Enquanto se indagava ouviu uma barulheira atrás de si e virou a tempo de observar as panelas crescendo assim que tocaram o chão. Ele sorriu para a cena, gostava de ver que Freya tinha se esforçado um pouco para viver a experiência de estar na natureza com ele, mas não tinha deixado de ser ela mesma trazendo seu caderno. Lembrou do dinossauro que ela desenhou para ele, sentiu-se um pouco culpado por ter perdido duas semanas depois. Bjord levantou e foi até uma área sem grama na frente da barraca carregando um saco de trigo que tirou de dentro da própria mochila. De dentro dele tirou pedras fazendo um círculo demarcando a área da fogueira. — Podemos usar as panelas... As que eu trouxe são bem velhas porquê... Bem, só tinha as da fazenda e eles precisam delas... Então tentei transfigurar umas pedras... — ficou um pouco envergonhado, mas depois se apressou para pegar uma estrutura de metal com uma grelha. — Mas ganhei isso aqui do meu antigo senhorio, dos correios. Ele ficava preocupado porque sabia que não sou muito bom com feitiços de produzir fogo... —  Bjord tinha a impressão de que o homem tinha quase certeza de que a qualquer momento o garoto ia iniciar um incêndio nos arredores de Hogsmead toda vez que saia para acampar e ficar mais próximo de Penumbra e Fionn. Depois de montar a base ele pediu ajuda de Freya para pegarem galhos secos. No meio da atividade de catá-los do chão ele parou várias vezes para observar a beleza dela sob o sol novamente. — Hum... Podermos, hm, ensopado e... Talvez batatas... Também ganhei carne seca, ou posso pescar... — apresentou as opções enquanto voltavam e despejavam os galhos no lugar. O excesso guardou do lado da barraca. Os pedaços que ele pegou eram grandes demais. Acendeu a fogueira com ajuda de uma espécie de fósforo mágico que usavam na fazenda. O fogo era meio esverdeado apenas no início. Quando sentou para esperar o fogo ganhar corpo ele serviu-se de um biscoito dos que Freya dava para as fadas. Ficou meio acanhado de pegar um, mas o fez mesmo assim. — Você, hum, fez novos amigos? — perguntou de repente. — Eu acho que... Os homens da fazenda me consideram um amigo... Eles são... interessantes, os bruxos adultos. Não são? — as fadas roubaram o pacote de suas mãos e saíram voando para perto de Freya dando risadinhas e cochichando. Bjord se perguntou se ela podia entendê-las, mas não perguntou, apenas sorriu meio que se divertindo. No meio tempo Newt tentava colocar a segunda panela dentro de sua bolsa.
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Não conseguia parar de sorrir diante do pensamento de "brincar de casinha", cozinhando uma refeição com Bjord. O meu bom humor me atrapalhava um pouco enquanto tentava encontrar galhos secos para a fogueira: mais de uma vez apanhei um galho no chão, e um segundo depois de segurá-lo, notava que ele tinha novas folhas brotando. - Pode ser a carne seca. - pescar parecia divertido, mas também parecia trabalho demais. Finalmente desisti dos galhos quando vi que Bjord agora tentava acender o fogo - Eu uso sementes de arbusto de fogo. - comentei, vendo o fósforo mágico - Mas em Hogwarts eu tinha uma caixa de fósforos normais escondidos no armário na sala de poções. Ah, se faltar legumes acho que consigo fazer mais. - suspeitava que até as batatas começariam a brotar se eu passasse tempo demais perto delas no momento. As fadinhas trouxeram o pacote de biscoitos para minha mão e distribuí mais alguns antes de pegar um para mim. Voltei então para junto de Bjord, enquanto ele me perguntava se havia feito novos amigos. - Tem bastante gente trabalhando na SIC. - meu primeiro pensamento foram as várias criaturas que haviam nas ilhas, mas também haviam alguns humanos por lá - Como são os seus amigos? Tem gente de outros lugares? - olhei para Bjord, curiosa. A SIC era cheia de membros de outros países, cheios de costumes e sotaques diferentes. - Tem outras duas moças que também são magizoologistas comigo. Tem a Aurea, que é americana... - disse, como se isso fosse o suficiente para descrever minha nova amiga - e a Jo. Que é japonesa... e amiga da professora Priyanka, de Hogwarts. Encontramos com ela em Hogsmeade, antes de ir pro Japão. - me abaixei ao lado de Bjord - Não contei isso nas cartas, foi uns dias atrás, ela ajudou eu e a Aurea a chegarmos em Tóquio com magia... - deixei a história no ar, enquanto observava enquanto o fogo mudava lentamente de verde para alaranjado.
***
Ficou curiosos sobre arbustos de fogo, não tinham desses na fazenda e fazia sentido que Fraser preferisse deixá-los longe de suas preciosas árvores. Também estava animado ao pensar na possibilidade de comer vegetais produzidos por ela. Quando perguntado sobre os outros homens da fazenda abriu um sorrisinho satisfeito. Eram tão diferentes, não sabia por onde começar a descrevê-los. Percebeu enquanto pensava que foi a primeira vez que alguém lhe perguntou sobre amigos daquele jeito. Em Hogwarts sempre assumiam que ele não tinha, e de certa forma estavam certos. Demorou bastante tempo para se aproximar de Freya e depois de Virgo desde que Mitzie tinha voltado para seu país. — Eles, hum... Bom, tem o Fraser... Ele é o proprietário da fazenda, te falei dele nas cartas... — sempre havia um parágrafo dedicado para alguma coisa que Fraser tinha feito por conta de seu temperamento, amor ao trabalho ou excesso de álcool. Os outros dois ainda não tinha sido citados. — E o Hagar, que é de um lugar chamado Turquia. Ele é enorme, mas não é parente dos gigantes... Também é super forte, consegue levar sozinho troncos que eu não consigo nem com magia... — ficou pensativo por um momento como se o desenhasse mentalmente. —E fala de um jeito, hm, engraçado... — pareceu se censurar quando disse isso porque não gostava de atribuir características às pessoas desta forma, mas não conseguia achar descrição melhor para o sotaque forte daquele homem. Evitou comentar sobre a pouca inteligência do brutamontes porque achou que seria indelicado falar de um amigo desse jeito, se Freya visitasse Evergreen ela descobriria por si só. — Ivan é sobrinho-neto de Fraser, não gosta muito de trabalhar... Acho que estar na fazenda é uma espécie de castigo... — Bjord começou a colocar pedaços de carne uma parte da grelha e encheu uma panela de água usando magia. Mal fez isso e ela foi voando sozinha para o fogo, alguns outros utensílios de Freya também começaram a agir sozinhos descascando e cortando batatas. Fico assustado num primeiro momento, mas depois confiou que fariam um bom trabalho. Enquanto isso escutou com atenção o nome das pessoas que Freya elencou. Ficou muito feliz de ela não ter repetido o nome Irwin mais uma vez, provavelmente o alegrava saber que ela não o considerava como um “amigo próximo” e sim como um “chefe”. Parou de cortar uma cenoura quando ouviu que ela foi até outro lugar usando magia. — Japão... — repetiu. O nome não parecia estranho, daí lembrou que uma moça chamada Alasca lhe mostrara os “hieróglifos” que usavam como escrita. — Isso não fica... Hm... do outro lado do mundo? — tinha um tom de preocupação muito mal disfarçado de fala casual. Ele sequer conseguiu tirar os olhos cinzentos de Freya, ambos pedindo uma explicação. A tabua que flutuava na frente dele esperando as cenouras serem cortadas se cansou de esperar e voo junto da faca pra terminar o trabalho ao lado da panela no fogo.
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- Você também falava de um jeito engraçado, no começo. - comentei afetuosamente, enquanto ele contava do sotaque estranho de um de seus amigos do trabalho - Ainda fala, um pouco, mas eu gosto... - ri baixinho. A parte mais engraçada é que às vezes me pegava usando a mesma entonação que ele, principalmente depois de passarmos muito tempo juntos. Estendi a mão para apanhar a faca e ajudar descascando as batatas, mas o utensílio saiu levitando por conta própria, antes que pudesse pegá-lo e começou a descascá-las, como se já soubesse seu trabalho. Sem saber direito o que fazer, tentei ajudar a faca, lhe passando as batatas uma a uma, que eram então descascadas por uma mão invisível. Franzi a testa, pensativa, ao ouvir a pergunta sobre o Japão. - É, é bem longe... - na verdade, eu mesma não conseguia entender bem a distância da viagem. Sabia que trouxas demoravam mais de um dia, de avião, para chegar lá, mas a distância ficava abstrata demais quando você podia atravessar o mundo num piscar de olhos. - A gente saiu de dia, mas chegou de noite... Mesmo sendo instantâneo. - só de pensar que a gente tinha viajado mais rápido que o próprio sol, minha cabeça já começava a doer e rapidamente me desviei do assunto - Pena que não deu pra conhecer nada, fomos só buscar um seminviso machucado… - apertei minha boca fechada, observando a faca encantada cortando as cenouras no ar. - Foi bem ruim. - a frase escapou antes que me desse conta e olhei depressa para Bjord - Eu fiquei bem, mas a Aurea... Machucaram ela. - estremeci e forcei um sorriso, tentando tranquilizá-lo - A gente conseguiu voltar juntas e cuidaram dela na enfermaria. Ela está melhor agora. - me ocorreu que mal tinha conversado com ela depois do nosso retorno.
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Encolheu os ombros quando escutou que seu sotaque também era diferente. Bjord já tinha aceitado há muito tempo que nunca conseguiria falar inglês perfeitamente por causa da maneira apressada com que teve que aprender a língua com os recursos precários que o ministério da magia lhe forneceu. As palavras daquele dicionário de 1755 seriam seu fantasma para sempre, mas por sorte ele não falava muito a ponto de outras pessoas reclamarem e mais importante que isso: Freya gostava. Ficou com as orelhas vermelhas, Bjord adorava quando ela expressava que algo nele a agradava. Escutou a pequena história de Freya enquanto virava umas tiras de carne e colocava tempero seco nos lados ainda crus. Ele ficou muito curioso pra perguntar como era ver um seminviso de perto, mas congelou no momento em que foi avisado de que havia sido... “Ruim”. Ele virou a cabeça para ela depressa, os olhos meio abertos demais e a boca meio entreaberta numa fala que não saiu. Nunca tinha ouvido Freya falar que algo era ruim, nem mesmo quando levou a chifrada de Fionn ela usou aquele tom para descrever a situação. Se tranquilizou assim que escutou que ela não sofreu danos, mas na mistura de tantas emoções em menos de um minuto não soube como demonstrar empatia pela colega de trabalho dela. Virou a vista para o fogo e ficou pensativo por um momento enquanto via a carne queimar e uma colher mexer o conteúdo da panela. — Que bom... Que sua amiga está bem agora... E que não te machucastes... — analisou Freya mais uma vez como se procurasse sinais, mas aí percebeu que isso não era o mais importante na questão. — Por que fizeram isso? Seu trabalho anda meio... perigoso... — um prato veio voando e ele colocou as duas primeiras tiras de carne malpassada ali. Já tinham montado um pequeno espaço de piqueniquei com uma toalha bonita ao lado da barraca, algumas das comidas já estavam dispostas no centro como a cesta de pães, algumas frutas, suco e outra cesta com geleias artesanais, sal moído e talheres — que Newt travava uma batalha para roubá-los, mas por serem encantados eles resistiam bravamente. Bjord tocou a panela com a varinha para acelerar o processo do que, ao que tudo indicava, seria um cozido de legumes.
***
Observava Bjord preparar a carne, ainda pensando em Aurea, mas ergui os olhos quando ele comentou como meu trabalho andava perigoso. Concordei com a cabeça, sem dizer nada. Eu estava aprendendo que criaturas mágicas podiam ser perigosas e até me machucar sem querer, mas era encontrar pessoas que podiam fazer isso de propósito que tinha me assustado. Encolhi os ombros, sem saber como lhe dizer isso em voz alta e me aproximei dele para ver o cozido na panela. Tirei do bolso do shorts uma bolsinha de tecido, cheia de pequenos buquês de diferentes ervas, amarradinhos como um incenso. - Acho que a Jo não teria mandando a gente se soubesse que era tão perigoso. - fui falando devagar, enquanto pensava. Encontrei na bolsinha buquê um com ramos de salsinha e alecrim, meio murchos por ficarem rolando no meu bolso, mas ainda perfumados - Eu e a Aurea não devíamos ter nos separado… E eu não sabia que teria gente ruim atrás da gente. - vi a preocupação nos olhos de Bjord e lhe dei outro sorriso - Mas o Sage cuidou bem de mim, ele sabia direitinho em quem a gente podia confiar. Comecei a arrancar as folhinhas dos ramos com os dedos, deixando que caíssem dentro da panela de ensopado. De repente me lembrei da parte boa da história: - O Seminviso também ficou bem. - contei - Ele soube que eu estava chegando para cuidar dele, sabia? Ele consegue ver uns segundos no futuro… - me senti um pouco melhor ao lembrar que a história tinha um final feliz e logo voltei a falar animadamente - Lembro que em Hogwarts disseram que a gente tinha que ser imprevisível, para pegá-los de surpresa… Mas o seminviso sabia que eu cuidaria dele e veio por vontade própria! - concluí, cheia de orgulho na voz.
***
Tentou não parecer tão apreensivo porque notou que a memória dos eventos a angustiava. Não gostava de vê-la daquele jeito, mesmo que fosse uma exceção dentro do tempo que estavam juntos. Freya era sempre feliz e positiva, o que era bom, mas muitas vezes Bjord achava que ela estava presa no próprio mundo. Não seria ele que macularia o encanto, mas sabia que conforme o tempo passasse sua amada acabaria percebendo que nem sempre é possível viver sob as cores vivas do arco-íris. Alguém tão cinza e azul quanto Bjord aprendia sobre estas coisas muito cedo. Ele segurou a mão dela e depositou um beijo ali numa tentativa de mostrar conforto. Não sabia o que dizer, se sentiu meio impotente por sequer ter uma ideia concreta de como funcionavam as coisas no trabalho dela. Era só um fazendeiro de árvores, mal conhecia o mundo além de sua zona de conforto. De repente percebeu que também estava preso em uma bolha. — Ah, que bom! Que bom que... Não aconteceu mais nada. E que encontrou Sage, antes, para que pudesse te ajudar... — ele sorriu fraquinho tentando colocar as preocupações de lado. Ficava mais fácil quando assistia o sorriso dela brilhar mais que a luz do sol incidindo sob os lugares além da sobra da árvore. Escutou sobre o Seminviso com muita atenção, até chegou mais perto para ouvir. Era uma das criaturas mais fascinantes que tinha lido nos livros na época da escola. Era esperado que Bjord também aprendesse a ler o futuro como profeta de seu povo, mas nunca se saiu muito bem nas aulas. No entanto ele conseguia compreender a arte de estudar o cosmos de seus amigos centauros e ler as runas. — Que incrível! E você, hm, segurou ele? Estão relacionados as runas, os Seminvisos...— ela provavelmente sabia disto, mas ele quis mostrar que conhecia a criatura. — Você é uma bruxa incrível, uma criatura tão especial reconhece isso. Deve ter previsto que uma fada iria ajudá-lo e não hesitou de ir até ela. — disse orgulhoso e sorriu. — Tem uma acromântula morando numa toca entre as árvores. Ela se chama Gardênia. — comentou despretensiosamente com um ar de que queria apresentá-la em algum momento. Disse enquanto tirava mais carnes e colocava alguns vegetais para grelhar também. Ele pegou alguns ramos da mão para temperar também, mas parecia ser só uma desculpa para ter mais contato físico com ela. Todo o processo de estarem juntos perto do fogo era tão aconchegante que ele não sequer ponderava as próprias ações como de costume.
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- Segurei o seminviso no colo, como se fosse uma criancinha. - contei, sorrindo, enquanto lembrava da cena. No meio de toda a confusão da nossa fuga, nem tinha aproveitado o momento, mas antes que chegasse a relembrar o restante, Bjord continuou falando e senti meu rosto esquentar ao ouvir seus elogios. O aperto que sentia no peito de repente dissolveu. Mesmo sozinhos ali na floresta, com apenas nosso acampamento, me senti segura e em casa. Ali não precisava me preocupar com nada de ruim acontecendo. Lhe estendi as ervas de tempero, que agora tinham pequenas flores brotando dos ramos e passei um braço ao por trás da sua cintura, querendo abraçá-lo, mas sem querer atrapalhar enquanto ele cozinhava. Apoiava meu rosto em seu ombro quando ele contou sobre a acromântula e me virei depressa para olhá-lo, boquiaberta, com a mesma curiosidade que teria se ele me contasse que havia avistado um bebê unicórnio. - Sério?! Ela se chama Gardênia? Que nome lindo! - não sabia porque, mas parecia o nome ideal para uma acromântula - Numa toca por aqui? Como você sabe? Você viu ela? A vontade de sair correndo para visitá-la imediatamente era grande, mas baixei os olhos para a refeição que Bjord nos preparava cheio de atenção e decidi que poderia esperar. - Quem sabe depois de comer. - me estiquei para lhe dar um beijo no rosto - Parece tudo muito bom.
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Retribuiu o carinho dela com um beijo em sua testa, depois meio que riu pela mudança repentina de clima. Tinha que se acostumar que não teria como ser sempre azul ou cinza perto de Freya, que as cores que ela trazia sempre pintariam a cena de forma viva e quente. Tirou a última fatia de carne do fogo e verificou se os vegetais estavam grelhados o suficiente. Por se tratar de um fogo mágico as coisas eram muito mais ágeis. A panela se preparava para ser servida, mas ele duvidava. Ele fez um sinal para que fosse em copos e não em pratos. Os utensílios pareceram entender e assim o fizeram. — Ah, sim! — respondeu sorridente ao ver empolgação para conhecer a criatura. — Ela meio que me salvou, quero dizer... — pensou um pouco e ficou sério, como se uma onda de sensatez tivesse invadido antes da história ganhar muitos floreios fantásticos. — Caí num fosso e... — e finalmente o pensamento de que talvez aquele buraco tivesse sido uma armadilha da própria Acromântula lhe passou pela cabeça. — Acho que... Ia me devorar... — se apressou para não chocar. — Mas gostou de mim! Estava tocando a flauta de chamar corujas... Aprecia música, então me pediu para tocar mais. — na memória, agora, soava mais como uma ordem direta valendo a própria vida. Antes que pudesse continuar um pequeno risinho se formou ao ver a reação dela. Concordou com a cabeça e se dirigiram para onde a comida estava posta. Seguiu a história enquanto partia o pão. — Bem, ainda é jovem, veio para cá depois de todos os problemas que aconteceram... — pareceu preocupado de que o ecossistema bruxo talvez nunca se recuperasse completamente, quando abriu um pote de geleia apimentada ficou se perguntando se falavam disso na ilha onde Freya morava. — Talvez você e as pessoas do seu trabalho possam resgatá-la, um dia, outras criaturas não gostam nada dela... — sugeriu. Preferiu não contar que caçou uns javalis para alimentar a criatura e que pretendia fazer de novo, talvez à noite enquanto estivesse adormecida. Por enquanto só aproveitaria a comida e a companhia. Espantou algumas fadas que tentaram roubar a colher de geleia e balançou a varinha para fazer Newt ser pendurado de ponta cabeça e despejar todos os talheres e pratos que tinha roubado. A criatura ficou ofendida e foi abraçar Freya pedindo consolo. Bjord não ligou.
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Escutei atenta quando Bjord narrou seu encontro com a acromântula, como ele caiu em um fosso e depois quase foi devorado por engano antes de conquistar a criatura tocando sua flauta. - Você falou com ela? - minha voz saiu com uma pontinha de inveja - Eu adoraria falar com ela... - disse, baixinho. Criaturas que podiam falar como humanos sempre me pareceram ainda mais interessantes. Uma das coisas que mais gostaria de fazer era sentar e ter uma conversa com uma criatura. - Quem sabe se eu cantar alguma coisa para ela, ela converse comigo? - eu de forma alguma era boa com músicas ou instrumentos, mas talvez ela gostasse de alguma cantiga... Ajudei Bjord a levar o prato de legumes até nossa toalha de piquenique, me perguntando que tipo de música uma aranha gigante gostaria de ouvir. A ideia de uma aranha gigante e amante de música chamada Gardênia parecia parte de um conto de fadas. Quase podia ver uma ilustração de Bjord tocando flauta para a acromântula, que, na minha imaginação, tinha uma florzinha branca como enfeite no alto da cabeça. Um dos copos de ensopado veio até minhas mãos e o apanhei no ar com um sorriso confuso, enquanto pensava o que Irwin havia dito sobre acromântulas. - Eu poderia falar para o Irwin, mas... -  meus ombros caíram e murchei um pouco - Ele não ficou feliz com o jeito que as coisas acabaram no Japão. Vou ficar um tempo sem sair do arquipélago a trabalho, mas acho que é melhor, né? É menos perigoso... - disse, tentando convencer a mim mesma. Era a segunda vez que cometia um erro que me custava semanas afastada de qualquer trabalho divertido. Ainda pensativa, provei o caldo do ensopado e abri um sorriso para Bjord. - Não sabia que você cozinhava tão bem. - o ensopado era simples, mas estava bem temperado e tinha um gostinho caseiro. Foi nessa hora que Newt correu para o meu colo, indignado por ter sido erguido no ar de ponta cabeça. Ignorando que Bjord tinha acabado de forçá-lo a devolver os itens que tinha roubado, apanhei uma colherinha da pilha de talheres e entreguei para o pelúcio.
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Pensava na ideia de Freya cantar, ficou curioso para saber como era e quase concordou de imediato, mas resolveu se precaver já que a ideia poderia acabar de um jeito ruim. Apesar da simpatia por Bjord, Gardênia ainda era uma criatura perigosa. Escutou com certa tristeza que Freya estava recebendo punições, por mais que concordasse que seria melhor que ficasse cuidando de bezerros apaixonados pelo resto da vida sabia que a amada tinha um espírito aventureiro que precisava ser alimentado. — Quem sabe no futuro, talvez.. — comentou enquanto mastigava um pedaço de pão com carne, tinha ficado no ponto e a geleia apimentada dava um toque excêntrico que ele aprovou. Por outro lado, teve que controlar a expressão ao ouvir falar do tal de Irwin de novo. Como é de se esperar, ficou meio envergonhado por receber um elogio tão de surpresa. Sorriu fraquinho, as orelhas vermelhas e um tom modesto enquanto agradecia com a cabeça. — Aprendemos a cozinhar desde cedo, na ilha... Às vezes passamos muito tempo ca... Muito tempo nos bosques.  — finalmente pegou o copo orbitando a própria cabeça e experimentou.  Não conseguia ver nada de especial, mas isso só fazia o elogio de Freya o encher ainda mais de orgulho. — Podemos colher flores depois, para seu... hum... caderno de flores? — ele olhou para o lado das mochilas, mas não conseguiu ver onde estava. — Tem muitas diferentes por aqui, talvez as fadas te ajudem... — ele continuava espantando-as com a mão vez ou outra, as criaturinhas implicavam com ele talvez por perceberem os olhares apaixonados que lançava para Freya, a quem elas demonstravam respeito e cordialidade. — Quem sabe... fazer um arranjo com frutos e flores para desejar melhoras a sua amiga... — sugeriu enquanto tirava outro pedaço de pão e o molhava no ensopado. Os talheres mágicos desaprovaram a atitude de Bjord, o deixando confuso, parece que eram enfeitiçados para fazer refei��ões civilizadas.
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Bjord comentou brevemente sobre a vida em Ymir e imediatamente comecei a prestar atenção. Ele era sempre vago ao contar sobre o lugar onde havia crescido e todo tiquinho de informação parecia importante para entendê-lo melhor. - Na sua ilha tem criaturas mágicas? Nos bosques perto de onde eu cresci tem fadas. Mas a maioria das pessoas não enxergava... - olhei as fadinhas que tentavam chamar a atenção de Bjord e dei uma risadinha. Elas o deixavam em paz a maior parte do tempo, mas às vezes alguma delas se enchia de curiosidade para olhá-lo de perto, pousando no seu cabelo, ou tentando espiar em seus bolsos... - Não fadas iguais a essas, aquelas você tem que tomar cuidado pois elas gostam de pregar peças e você pode se perder se tentar segui-las para dentro do bosque. Apanhei novamente o pacote de biscoitos que havia trazido e tirei alguns para oferecer as fadinhas, mas só deixei que pegassem depois que todas tivessem deixado Bjord em paz. - Eu sei fazer algumas coisas, tipo bolos e doces... Agora estou aprendendo mais, já que tenho uma cozinha pra mim no arquipélago... - observei Bjord comendo seu pão com carne, pensativa. Eu não sabia fazer nada que levasse carne, mas pelo visto era algo que ele gostava. Talvez devesse pedir para ele me ensinasse… Mas a ideia de passear pela floresta e colher flores para Aurea pareceu mais interessante, pelo menos por enquanto. Olhei as tiras de carne por um instante, mas voltei minha atenção para os legumes grelhados, espetei com o garfo uma das cenouras douradinhas e temperadas com alecrim e a levei direto à boca com um sorriso. - A gente pode ir ver onde a Gardênia mora, assim de longe. - disse, tentando negociar - E pegar flores no caminho? E colher frutinhas. Ah! E cogumelos! Também tem o lago! - parei por um segundo - Eu poderia só ficar aqui, que já seria ótimo. - disse baixo. Por mais que adorasse ver novas plantas e criaturas mágicas, o mais importante era passar o maior tempo possível com ele.
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A variedade de possibilidades também o animava, mas o efeito era mais nítido em Freya. Tinha conseguido instigá-la a tentar conhecer Gardênia, mas agora que estava mais consciente dos riscos não sabia se levaria o plano adiante. Ainda assim ainda existiam diversas outras atividades que poderiam fazer, e ele também não se importariam se apenas dividissem o acampamento e conversassem sobre qualquer coisa. Na verdade, nem precisariam conversar, como ela mesma disse: só a companhia era o suficiente. Serviu-se de mais carne enquanto pensavas nas criaturas de Ymir, mas estava mesmo interessado em provar algum docinho que fosse feito por ela. Ficou meio acanhado de pedir, então guardou a ideia para depois do mesmo jeito que guardou os talheres que tentavam corrigir seus hábitos à mesa. Por algum motivo a ideia de Freya se virando sozinha tinha um ar de graça, ele não conseguia tirar o meio sorriso da boca. — Não precisaríamos nos preocupar com isso... Provavelmente gostariam de te conhecer, também. — comentou sobre as fadas Irlandesas, abrindo mais o sorriso ao ver a reação. Achava que provavelmente seriam parentes, quem sabe até mesmo irmãs dela. Também guardou o resto da teoria para si mesmo.   [...]   Olhou para o céu claro, pensativo. Já tinham terminado o café da manhã e agora estavam abraçados juntinhos, cabeças coladas, Newt adormecido no colo dela. Os utensílios se mostraram muito úteis quando desfizeram a mesa sozinhos e se amontoaram de forma organizada em um canto perto do acampamento. Ele estava terminando de contar a ela sobre as criaturas que já tinha visto na ilha, sobre como tratavam a terra como um santuário. Sobre bestas marinhas parentes da Lula-Gigante e Dragões que dormiam nos vulcões.   — ...Mas ninguém pode chegar perto. Eles são muito agressivos e apenas sacerdotes do fogo moram na ilha, nem autoridades mágicas pode pisar lá. — estava explicando porque nunca tinha visto nenhum dos dragões, nem mesmo suas sombras. A porção do arquipélago em que Bjord morou ficava distante da ilha do centro com o grande vulcão. Não sabia se era um bom contador de histórias e sentia que faltava um pouco de apoio visual, mas não se preocupava porque pretendia mostrar tudo a ela, um dia. Uma coisa de cada vez.   — Acho que já podemos... ir. — disse quando sentiu que não teriam mais problemas de andar, subir e cavar por aí. Seguia à risca o momento de descanso após as refeições. — Talvez se... Explorarmos por aí... encontraremos coisas novas... — deu a ideia, aquele tom meio incerto de quem se preocupa e está animado ao mesmo tempo. Bjord só conhecia uma fração muito pequena do que a floresta pode oferecer e conseguia sentir que Freya tinha vontade de sair por aí procurando coisas interessantes. Ficaria com a tarefa de evitar as áreas que sabia serem perigosas e de tentar conduzir uma volta em segurança. Não se importava de ser um personagem de apoio nesta pequena aventura, ela era seu sol, afinal, só precisava orbitar ao seu redor e receber seu calor para se divertir.
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Ouvi enquanto Bjord contava sobre as criaturas de sua terra, tentando ser uma boa ouvinte. Minha vontade era enchê-lo de perguntas, comparar com as criaturas que eu havia conhecido nos últimos tempos, quem sabe tentar convencê-lo a me levar até lá um dia… Mas era raro que ele falasse sobre sua casa e me contentei em ouvir, deixando às vezes escapar exclamações de surpresa e concordando com a cabeça animadamente, incentivando-o a contar mais. O tempo passou enquanto ouvia suas histórias. Logo terminamos de comer e me aninhei em seus braços, com Newt adormecido no meu colo. Os utensílios encantados se organizaram sozinhos, sem que nenhum de nós precisasse se incomodar em arrumar a bagunça. Enquanto Bjord me contava sobre dragões que viviam em vulcões, me lembrei que tempos atrás, antes da SIC, havia visitado uma reserva de dragões. Lembrei como ele havia ficado impressionado quando lhe trouxe uma escama de presente e como um dia esperava levá-lo lá para ver os dragões de perto, ou para as Bermudas, para ver onde eu estava morando e o que fazia no trabalho. O abracei mais apertado enquanto lembrava quanto tempo passávamos separados e a quantidade de coisas que estava aprendendo sem poder dividir imediatamente com ele. Quando deixamos o acampamento para explorar a região, por um único segundo tive vontade de sair correndo, seguindo as fadinhas que ainda nos acompanhavam e deixando a curiosidade me guiar, mas logo me lembrei que precisava cuidar da minha segurança e, principalmente, da segurança de Bjord, que era sempre quem acabava se machucando quando eu deixava a curiosidade tomar conta de mim. Entrelacei meus dedos nos seus e fiz um esforço para andar devagar, prestando atenção onde eu pisava. Também me pressionava um pouco para me comportar e mostrar que estava aprendendo a cuidar de mim. Com meus olhos atentos às plantas ao nosso redor, fui apontando as que reconhecia, algumas das estufas de Hogwarts e da SIC e muitas outras mais comuns, que podia encontrar nos bosques na Irlanda ou em qualquer outra floresta na Grã Bretanha. Lembrei de repente que havia “gastado” a chave de portal que havia feito para chegar até aqui e depois de olhar ao redor por um instante, procurando as plantas ideais, apanhei algumas das ervas que cresciam perto da trilha, e as torci em um pequeno buquê, que depois guardei no bolso. - Assim fica mais fácil voltar, um dia. As plantas lembram onde elas cresceram e me ajudam a achar o caminho de volta. - expliquei com um sorriso, ao notar o olhar curioso de Bjord. Depois disso, comecei a procurar por arbustos com frutinhas e flores bonitas - Posso levar algumas frutinhas para a gente comer mais tarde, e algumas flores para a Aurea… - lembrei da sua sugestão, com um sorriso. Não sabia quais flores ela gostaria, mas apanhei alguns ramos de lavanda e margaridas que vi pelo caminho. Enquanto caminhávamos, aos poucos a vegetação ao nosso redor foi mudando, havia cada vez mais arbustos floridos e logo até as árvores tinham flores. Sabia que as fadinhas não gostavam que eu machucasse as plantas arrancando flores, então apanhei algumas pétalas que encontrei caídas pelo caminho, esperando dar de presente para nossas companheiras, mas só então notei que elas não estavam em lugar nenhum. A floresta toda estava quieta e nem as fadinhas, nem qualquer outra criatura estava à vista. - Acho que as fadas gostariam de um lugar assim. Tranquilo, todo florido… Vou levar algumas flores e frutinhas para elas. Quem sabe elas nos encontrem mais tarde. - despreocupadamente, revistei o chão procurando flores que tivessem caído das árvores.
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Bjord arrumou a bolsa de colo antes de saírem. Nela tinha tudo que achava necessário para uma incursão na floresta, como instrumentos e até alguns unguentos caso se machucassem. Newt se ocupou mergulhando dentro da terra para caçar pequenos tesouros, sabia que o pelúcio não iria muito longe e não correria nenhum risco sozinho no acampamento. Sentiu necessidade de tranquilizar Freya mesmo assim, e quando saíram ele esperou que ela soltasse o espírito aventureiro e desbravasse a floresta, estava pronto para correr atrás dela se fosse preciso, mas se surpreendeu de vê-la manter uma postura menos eufórica durante o inicio da exploração. Sentia-se bem de estar ali com ela, andando pela floresta e ouvindo seus conhecimentos sobre as plantas que viam pelo caminho. Muitas das quais Bjord sequer fazia ideia de que poderiam oferecer um risco moderado. Tentou tomar notas mentais das que seriam úteis, afinal a vegetação da Fazenda de árvores era bem parecida. Diferente das outras vezes em que se arriscaram na natureza, Freya parecia menos imprudente e muito mais confiante. Ela também parecia ter desenvolvido melhor suas habilidades mágicas, constatou isso quando a ouviu dizer que as plantas guardavam memória de suas casas e ajudavam a achar o caminho de uma chave de portal. — É incrível... e faz bastante sentido... — comentou analisando o buquê que ela fez com cuidado. Bjord não era capaz de criar chaves de portal, ou aparatar, sua magia bruta talvez nunca fosse refinada o suficiente para executar feitiços tão incríveis. Mostrou um olhar de aprovação que depois se tornou um pequeno sorriso. Enquanto caminhavam ele mostrou algumas trilhas que já conhecia para ela; uma que levava de volta até outra parte do rio, uma que seguia em direção para uma área mais densa... Enquanto falava sequer dedicou atenção para onde estavam indo, por isso só quando pararam e ouviu o “som do silêncio” foi que percebeu onde estavam. Enquanto Freya se ocupou em buscar flores do chão ele tirou a varinha e fez um movimento longo na horizontal, mas nada aconteceu. Pareceu meio preocupado por um segundo, depois ajustou a bolsa. — Hum, acho que elas não seguiram com a gente porque Gardênia está perto daqui. Não exatamente perto... — completou apressado antes que ela tirasse outra conclusão. — Acho que... Esta área pertencia a outro povo mágico... Centauros, talvez? Tem um monolito para aquele lado... — apontou para a direita, depois pensou melhor e apontou para o norte. — Parece um pouco com uma das pedras daquele círculo nos terrenos Hogwarts... Virgo e eu os estudamos por um tempo. — e não chegaram a nenhuma conclusão muito profunda, a teoria é de que serviriam para rituais ou outras cerimonias. Também podiam ser relógios, ou portais. De qualquer forma, estavam numa área pouco explorada, então ficou mais curioso e menos responsável. Guiou-a até lá, as árvores eram mais densas e altas, mas onde a pedra jazia havia uma clareira como se a natureza tivesse orquestrado para que fosse assim. Tudo era meio úmido mesmo que não parecesse ter chovido recentemente. — Ah! Olha, Visgo-do-diabo! — apontou para o topo do monolito, que tinha cerca de dois metros de altura. Estavam em uma distância segura, então ainda não corriam riscos. As vinhas abraçavam toda a pedra impedindo que se lesse os simbolos marcados ali. Bjord ficou muito intrigado com o lugar, mas não parecia perceber que tudo tinha uma aura meio macabra. — Acha que alguém, ou alguma coisa, colocou a planta ali? Visgo-do-Diabo nasce em pedras? — ele ouvia sussurros vindo da estrutura, mas não contou isso a Freya porque não tinha certeza.  O chão em um círculo ao redor era de pedra lapidada muito desgastada e cheia de musgo, como se fizesse parte de outro lugar. De um pátio de Hogwarts, por exemplo. Não tinha percebido isso da última vez.
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Acompanhei Bjord até o tal monolito, cheia de curiosidade. Era uma pedra que se erguia ereta no meio de uma clareira, realmente lembrando as pedras que haviam nos terrenos de Hogwarts, mas essa era apenas uma, sozinha no meio da clareira silenciosa. A pedra parecia estar ali há muito tempo e, mesmo assim, árvore nenhuma havia crescido por perto e apenas algumas vinhas a envolviam, estranhamente descendo do alto até o chão, e não o contrário. Bjord reconheceu o Visgo-do-Diabo antes de mim e o segurei pelo braço, ao mesmo tempo que eu mesma tentava me aproximar, dividida entre manter uma distância segura e ver a planta melhor. - Ela cresce em lugares escuros e úmidos... - franzi a testa - As árvores estão fazendo sombra nela, mas ela estaria mais feliz perto do chão... Ela não estava aqui da última vez que você esteve aqui? - perguntei em voz baixa. Contornei devagar a grande pedra para ver o que havia do outro lado, mas era mais do mesmo: inscrições ilegíveis e cobertas de vinhas e folhas do visgo, equilibrado lá em cima. - Já ouvi que bruxos usam ela pra proteger coisas e manter os curiosos afastados... - espiei Bjord pelo canto do olho e então voltei a sorrir - Eu adoraria ter uma mudinha dela. - concluí, cheia de vontade na voz. - Talvez se a gente perguntar com educação. Quem sabe o Visgo saiba o que ele está fazendo aqui. E o que é essa pedra! - disse, cheia de animação na voz e dei um único passo na direção do monolito. - Ah. Bom dia, senhor Visgo. - disse, alto o suficiente para que uma pessoa do outro lado da clareira me escutasse. Não era a primeira vez que conversava com uma planta perigosa. Se o Salgueiro Lutador, uma árvore antiga e mal-humorada, tinha me ouvido, porque o Visgo não me escutaria? - Eu sou a Freya. Esse é o Bjord, meu namorado. - disse com um sorriso, enquanto sentia meu rosto esquentar, ciente que Bjord estava logo atrás de mim, atento a o que eu estava fazendo. - Bom, a primeira coisa que eu queria saber é se o senhor está confortável em cima dessa pedra. - as vinhas e folhas da planta continuavam imóveis e dei outro passo na direção da planta, na beirada do piso de pedra que cercava o monolito - Não parece um lugar muito bom para uma planta como o senhor... - olhei para as longas vinhas que se espalhavam pela pedra. Não esperava que a planta me respondesse com palavras, mas às vezes até mesmo plantas que não eram mágicas reagiam quando eu conversava com elas. Tinha vezes que eu podia sentir também. O que era meio estranho, pois não era uma coisa de tato, mas com certeza eu precisava ter as mãos na planta para saber o que ela queria. E mesmo sabendo o que um Visgo-do-Diabo fazia, dei os últimos passos até o monolito e estendi a minha mão para tocar um dos ramos da planta.
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Deixou que ela tratasse da negociação com o visgo porque, de fato, não era muito bom em ouvir e falar com as plantas. Mesmo sendo um fazendeiro de árvores. O fez questionar se tinha as qualificações adequadas para o trabalho, por mais que estivesse indo bem nunca deixava de pensar em como Freya seria muito melhor que ele. Isso não feria o seu ego, ele até prestou mais atenção na argumentação como se quisesse pegar umas dicas para lidar com árvores temperamentais. A ideia de que alguém tinha colocado a planta ali para proteger o monolito não saia mais dos pensamentos, então continuou alerta aos arredores mesmo que estivesse muito curioso pra saber o que tinha escrito na pedra. Se eram mesmo runas do alfabeto tradicional, ou alguma inscrição celta antiga. Também tinha que dedicar um espaço em sua cabeça para a ideia de Freya demonstrar interesse em ter uma muda, acendia uma preocupação. Sua imaginação limitada não conseguia ver o visgo num vazo na janela sem que ele tentasse sufocá-la à noite. — Toma cuidado... — disse baixinho, ansioso, quando ela disse oi. A tendencia experimentalista das aulas da profa. Nottingham deram a ele uma boa base de como eram os comportamentos de plantas como aquela. Ele mesmo sentiu de pertinho o aperto de uma, em aula, a lembrança veio em uma má hora. Se sentiu meio esquisito por ter sido apresentado como namorado, olhou depressa para as vinhas esperando algo como aprovação, daí lembrou que elas não eram nenhum parente de Freya. O café da manhã se remexeu em seu estomago. O visgo-do-diabo, porém, não esboçou uma reação agressiva ao toque de Freya. Pareciam estar se comunicando, as vinhas aos poucos foram se encolhendo e no susto Bjord apontou a varinha para elas, pronta para queimá-las ou desidrata-las rapidamente com um feitiço, mas sua amada o acalmou. A planta foi retraindo até se tornar um nó no topo do monolito, mais ou menos do tamanho de uma goles. — Uau... Ah, hm. Wingardium Leviosa. — ele fez um movimento de “pesca” com a varinha e o feitiço fez a planta levitar lentamente até os braços de Freya. Era como se continuasse se enroscando infinitamente, ficar olhando lhe causava um certo desconforto pois se pareciam com vísceras vivas. Então estudou o monolito. — Não são runas comuns. Não pude vê-las da outra vez, porque... Bem, porque estava acompanhando Gardênia e só passamos por aqui... — ele viu o monolito enquanto era arrastado para a toca da aranha após cair na armadilha. Mesmo de perto os sussurros na pedra pareciam distantes, nada aconteceu quando tocou os símbolos, mas primeiro resolveu que tinha um assunto mais urgente. — Você vai... Ficar com... Ele? — Tinha chamado o visgo de Sr. Visgo, ele tinha a impressão de que desde que pegou as vinhas no colo Freya estava tentando pensar num nome para a planta. Bjord expressou sua preocupação com os olhos. Não queria o visgo-do-diabo no acampamento, a escolha mais sensata seria achar um novo lugar para ele, mas a decisão era somente dela.
***
Os ramos do visgo se enrolaram nos meus dedos, mas sem me apertar. Talvez porque estivesse exposta à luz e por isso não tivesse forças, ou talvez porque soubesse que eu queria ajudá-la, mas a planta não me atacou. Considerei que o aperto de mão da planta era um pedido de ajuda e depois de um instante a planta começou a se retrair, enrolando-se em si mesma. - Acho que podemos levá-la para um lugar seguro, na sombra talvez… - disse, pensativa. Bjord se adiantou para ajudar e com um feitiço fez a planta levitar do topo da pedra até meus braços. Segurar a planta foi uma experiência estranha, pois ela continuava a se retorcer e revirar nos meus braços, como se fosse algum tipo de criatura, e não uma planta. Alguns dos ramos às vezes tateavam pelos meus braços como se procurassem um lugar para se apoiar, mas parecia que faziam um carinho desajeitado, me fazendo rir. Dei um tapinha carinhoso na planta e então segui o olhar de Bjord até o monolito. - Você consegue ler o que está escrito? - não gostei muito da sensação que tive ao vê-lo estender a mão para tocar a pedra, mas nada aconteceu. O visgo agora se enroscava nas pontas do meu cabelo. Notei então o olhar preocupado de Bjord para a planta e afastei os ramos de perto do meu rosto. - Acho que arrumaria problemas no trabalho se levasse uma planta perigosa para o arquipélago. - disse, com uma pontinha de tristeza na voz. E parecia estranho cortar fora um pedaço do ser vivo que acabara de pedir minha ajuda - Vamos arrumar um lugar na sombra para ela, ele... - dei uma olhada desconfiada na planta - para o Gerânio! Pra combinar com a Gardênia. - disse, com um sorriso. A planta agora esticava seus ramos ao redor dos meus braços, como se tentasse me abraçar e comecei a caminhar na direção da borda da clareira, onde era mais escuro e talvez agradasse mais o visgo. - O que você acha, Gerânio, aqui está bom? - parei ao pé de uma árvore com galhos baixos e densos, que bloqueavam bem a luz do sol. Me curvei para deixar a planta no chão, mas o visgo tentava se segurar em mim e cada vez que conseguia afastar um ramo, outro me segurava pelo pulso, ou pelos braços… - Espere, ele já vai se soltar. - disse calmamente, não precisei olhar para trás para saber que Bjord se aproximava para me ajudar e o tranquilizei antes que ele tentasse arrancar a planta de mim - Gerânio, você não quer voltar pro chão? - perguntei, ainda achando graça nas tentativas da planta de me segurar em um abraço. Mas Gerânio não parecia nem um pouco interessado em me soltar e em vez disso, mais e mais ramos se enrolavam em mim. Agora que a planta estava longe da luz direta, ela parecia cheia de energia e… faminta? - Talvez… seja melhor levar ele de volta pro sol. - foi a primeira vez que tinha alguma preocupação na minha voz. Me virei para Bjord e vi que ele erguia a varinha, pronto para atacar a planta. - Não machuca ele! - avisei, sem conseguir alcançar minha própria varinha. Mesmo com a planta agora apertando meus braços e se enrolando ao redor da minha cintura, ainda me preocupava que ela pudesse se machucar. O pobre Gerânio provavelmente só estava confuso, com fome e animado por finalmente estar longe da luz...
***
Observou com preocupação quando ela resolveu levar o visgo, batizado de Gerânio, para um lugar distante da luz da clareira. Ele se aproximou alguns passos para ver de perto o que estava acontecendo. Freya estava confiante de que conseguiria lidar sozinha e confiava nela, mas mesmo assim ele sentia que precisava ficar atento. Ao analisar melhor, chegou à conclusão de que alguém ou alguma coisa tinha colocado a planta no topo do monólito. Se ignorasse os sussurros, ele reconheceria a sensação de estar sendo observado. No entanto, ficou mais preocupado quando Gerânio demonstrou resistência em aceitar se despedir de Freya. Bjord se aproximou ainda mais rapidamente, a varinha em punhos, mas parou no meio do caminho quando ouviu a voz tranquila dela. — Mas ele... — ela parecia demorar a entender o que estava acontecendo, o que o fez sentir certa simpatia por sua ingenuidade. O problema era fazê-la perceber que Gerânio não estava sendo simpático, mas sim agindo por seu instinto mais básico. Bjord estava pronto para dete-lo com um feitiço de secar plantas, mas escutou Freya pedir para não fazer nada e ficou confuso, acreditando que, pelo tom de sua voz, ela teria percebido a gravidade que situação poderia tomar. — Ele não vai parar, se continuar assim... — ele disse, mas ela ainda parecia relutante em acreditar que a planta estava agindo mal, o que ele até compreendia, mas de forma alguma permitiria que o visgo estrangulasse sua namorada. — Quem tal, hum... Relaxo!  — disse fazendo o movimento apropriado, mas elas apenas se soltaram o suficiente para outras tomarem seu lugar. Na escuridão, a planta parecia ainda mais saudável. Enquanto ele pensava em uma solução, foi abraçado também pelas vinhas. Ele tentou manter a calma, mas ao ver o estado de dela, que provavelmente tinha uma ligação mais profunda com a planta, não conseguiu evitar o desespero. Sua varinha soltou faíscas douradas. — Não vou machucá-lo. Prometo. — disse com firmeza ao ver a expressão de censura, e então pediu que fechasse os olhos. “Lumus Maxima”— e uma luz brilhante saiu da ponta da varinha, cercando os dois. A planta se retraiu rapidamente, voltando a ser apenas um ramo fraco. Ele se afastou, segurando Freya consigo. Quando o encantamento terminou, as vinhas se expandiram rapidamente, tomando conta da árvore e buscando Freya. Apenas um dos tentáculos se atreveu a entrar na área iluminada e tocou os sapatos dela. Suspirou aliviado ao perceber que ali ela não tinha forças para puxar Freya de volta. — Acho que o Gerânio é um pouco... hm... carente demais. — comentou fazendo uma careta para Freya, depois sorriu, abraçando-a e lhe depositando um beijo na testa. — Talvez seja melhor seguirmos pra outro lugar... — olhou o monolito mais uma vez, e por mais que tivesse curiosidade de entender o que era aquilo temeu pela segurança de Freya. A Luz forte poderia ter chamado a atenção de Gardênia e ele não saberia como conduzir uma introdução adequada depois de tudo. — Você está... bem? — não queria que ela ficasse decepcionada pelo visgo-do-diabo não ter colaborado muito, mas não saberia dizer em que nível de comunicação os dois estiveram. — Ele disse alguma coisa? — Bjord olhou para baixo, para a pequena fração da planta que continuava chamando-a. Não entendia como funcionava aquilo, mas percebia que o comportamento não parecia ser comum.
***
Percebi o que Bjord planejava fazer e apertei meus olhos fechados no mesmo momento em que ele conjurava uma luz cegante ao nosso redor. Senti Gerânio se encolher e me soltar ao tentar escapar da luz, ao mesmo tempo que Bjord me puxava para longe do seu alcance. Quando a luz se extinguiu, entreabri os olhos e vi que Gerânio parecia bem e logo se enrolava alegremente na árvore mais próxima. Mesmo depois de se afastar, o visgo ainda tentou nos alcançar mais uma vez, lançando mais ramos em nossa direção, mas que pararam assim que alcançaram o limite da sombra da árvore que o protegia. - Obrigada. - disse em voz baixa para Bjord, quando ele me abraçou e também lhe dei um beijo no rosto para agradecer a ajuda. Olhei pensativa para Gerânio, que ainda se retorcia no escuro, se esticando em nossa direção, mas sem querer vir para a luz. Ainda abraçada com Bjord, concordei com a cabeça quando ele me perguntou se estava bem - Podemos voltar para vê-lo outra hora, quando estiver mais calmo. Agora acho que ele vai ficar mais feliz, por não estar lá em cima… - e indiquei o alto do monolito. - Ele não disse nada sobre a pedra… - por um instante pensei em tentar uma segunda conversa com a planta, mas resolvi que poderia ficar para um outro dia - Só entendi que ele estava com fome… Acho que deve ser difícil conseguir comida lá do alto. - completei, pensativa. Bjord dava indícios de que queria voltar para nosso passeio, mas eu ainda estava cheia de perguntas sobre Gerânio, o monolito e Gardênia. Abri a boca uma ou duas vezes, tentando decidir por onde começar, mas finalmente aceitei que seria bom que nosso passeio não acabasse com eu ou Bjord estrangulados por uma planta, ou amaldiçoados pela estranha pedra coberta de runas. - Talvez a Gardênia saiba alguma coisa. - disse, desfazendo nosso abraço apenas para lhe dar a mão - Sobre a pedra. E Gerânio… Mas podemos ver eles depois. - ao mesmo tempo que o monolito me enchia de curiosidade, também me dava uma sensação estranha. Sentia como se a própria pedra nos observava e de repente não quis mais ficar ali. - Podemos voltar no caminho para ver se encontramos as fadinhas. - me estiquei para lhe dar um beijo no rosto e imediatamente me senti melhor - E não podemos esquecer de pegar algumas frutinhas para o Newt. E flores pra Aurea! Ah! E pra Gardênia também! Entrelacei meus dedos nos seus e deixamos a clareira com o monolito e Gerânio para trás.
em 2022-12-22
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Enfermaria - Ilha Bonaccord - Arquipélago das Bermudas
Maybe you are searching among the branches, for what only appears in the roots
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Aurea Woodward
A sensação da viagem através da chave de portal havia sido muito pior agora do que a ida para o Japão e eu sabia que o motivo eram meus machucados e a minha condição física. E assim que atravessamos o buraco de minhoca me senti desmoronar no chão de uma sala muito, muito clara. Meus olhos doeram como nunca antes por causa da sensibilidade e pude notar borrões vermelhos no azulejo onde havia caído. Eu ainda sentia a energia em meu corpo me mantendo acordada, mas a dor, agora, era terrível, o que me fazia murmurar baixinho a cada movimento. Senti Thyme cheirando meu rosto e lambendo minha bochecha demonstrando preocupação e, se não estivesse tão debilitada, provavelmente o abraçaria. — Aterrisagem quase perfeita... — Brinquei para não chorar, mas Freya parecia bem apavorada. Me mantive no chão enquanto Freya dava as primeiras assistências ao nosso mais novo convidado, apenas me permitindo descansar um pouco antes de precisar sair dali direto para outro lugar. Não demorou para notar o borrão de Freya se aproximando e a sua mão se aproximando de mim. Levantei minha mão e tentei alcançá-la, mas em um primeiro momento errei a localização real e, após a tentativa falha, corrigi a tragetória da mão e consegui segurá-la. Com um puxão sofrido me pus de pé e senti a garota me abraçar para eu não cair de volta. — Nunca estive mais pronta... — Disse baixinho, com uma risada nasalada no final. Eu teria muito o que explicar depois que aquilo tudo passasse.
***
Irwin Von Ziegler
Irwin teve que sair um pouco da ilha para uma conferencia com os países nórdicos sobre a construção de um santuário para abrigar as criaturas mágicas que precisavam de um novo lar. Ali havia ainda lugares naturais ótimos, o grande problema era sobre jurisdição novamente, quem ficaria a responsabilidade de gerenciar e financiar. Embora envolvessem todos os países nórdicos, a SICPVM era uma sociedade internacional e não estava sob nenhuma bandeira específica. Desse modo o novo santuário deveria agir de tal maneira, a sua proposta era que houvesse uma representação de cada país ali dentro e mais um da SICPVM. Convencer pessoas poderosas e orgulhosas não era simples, algo que o consumia lentamente por ser uma pessoa prática para resolver tudo. No entanto, ao virar diretor daquele setor sua vida havia se tornado um pouco mais complicada. Havia voltado a pouco tempo para a ilha, por isso ainda usava as roupas formais, não era seu melhor estilo, mas fez aquilo para agradar as pessoas na reunião. Assim que chegou havia uma coruja na janela de sua sala e uma carta fechada, era para informar de uma saída não prevista pelas duas Magizoologistas em treinamento. Não era correto enviar elas sozinha para missões externas, aquilo foi preocupante porque ele não sabia de nada. Por estar em operações longe geralmente era Jo quem ficava responsável, mas aquilo podia ser perigoso. Olhou em sua mesa documentos da missão e nada tinha e começou a ficar nervoso. Irwin sentia-se culpado em ficar muito tempo fora, parecia que não sabia mais de nada que se passava e temia que a direção da SICPVM não gostasse de tal notícia. Ele tentou localizar Jo para saber, mas um tempo depois uma outra coruja chegou para avisar que haviam magizologistas na enfermaria. Irwin saiu apressado para o local, preocupado e levemente sonolento, as reuniões sempre sugavam toda a sua energia. Ele preferia ficar e cuidar de criaturas do que lidar com pessoas o tempo todo. Observou de longe as duas chegando e não pareciam nada bem. – Mas o que aconteceu aqui? – Pensou alto, não era alguém que explodia com outros em público, nem em particular, só queria entender para tomar decisões racionais.
***
Freya O'Donnell
Havia acabado de atravessar o portal até a ilha Bonnacord, com Aurea se apoiando em mim, quando avistei Irwin nos esperando na entrada da enfermaria. O alívio de finalmente encontrar ajuda foi tão grande que quase comecei a chorar ali mesmo, mas continuei meu caminho sentindo que minha colega mal conseguia se manter em pé. - Irwin! - estava tão focada em tomar conta dela que não notei a expressão do diretor quando me aproximei trazendo comigo uma Aurea com o rosto todo machucado e coberta de sangue. Eu mesma acabara sujando minhas mãos e roupas ao ajudar a bruxa e era possível ler na minha expressão que estava a um fio de atingir a minha cota de experiências para uma noite (ou dia?), mas comparada com Aurea, eu parecia muito bem. - Eu deixei o seminviso na veterinária, ele está bem, só precisava trazer a Aurea antes. - claro que ele deveria estar confuso, por ver nós duas, mas nenhum sinal da criatura. Passei pelo diretor e entrei na enfermaria, levando Aurea diretamente para a maca mais próxima. Olhei ao redor, procurando a enfermeira e, ao não encontrar ninguém, continuei até o armário mais próximo procurando algo para limpar machucados.
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Aurea Woodward
O caminho até a enfermaria foi árduo, difícil e doloroso. Parecia que cada passo que Freya dava me conduzindo eram 10 que eu precisava dar. Os músculos das pernas queimavam e eu tinha quase certeza que era o ácido lático agindo nos músculos depois de tantos eventos traumáticos. Basicamente eu estava regada de adrenalina a algumas horas atrás e, agora, o corpo esfriava. Os pulmões queimavam e parecia que uma das minhas costelas estava a um fio de perfurar algum órgão vital, mas não mencionei isso para Freya. Ela não precisava se preocupar com mais isso. E por falar em preocupação, quem nos esperava na porta da enfermaria era o próprio Irwin, diretor dos Magizoologistas. Eu lembrava dele logo que havia chegado de viagem e, por mais que fosse um homem de bom coração, ainda era nosso chefe e nos via chegando cobertas de sangue de uma missão do outro lado do mundo. E era claro que ele queria saber o que estava acontecendo ali. — Senhor... Von Ziegler... — Murmurei e logo fui conduzida por Freya para dentro da enfermaria. Fui deixada em uma maca enquanto Freya ia até um ponto mais afastado e buscava por alguma coisa, mexia em gavetas e abria armarinhos. A claridade dali era bem forte e fazia meus olhos arderem um pouco. Eu atribuí isso à minha fraqueza momentânea. Com muito custo me pus sentada na maca e passei a língua no corte do lábio inferior, onde agora faltava o piercing. — Tivemos um contra-tempo, senhor... — Toquei minha orelha, que ardia e faltava outro pedaço. — O Seminviso que fomos resgatar... estava sendo negociado com uma máfia de peles de animais mágicos. — Suspirei e fiz uma cara de dor ao sentir algo dentro de mim espetar. — Ouch...
***
Irwin Von Ziegler
Sangue, isso era o que realmente o preocupava, sangue de quem? Era uma cena lamentável e horrenda para Irwin que deveria ser responsável por sua equipe. Aquilo apenas o deixava triste e com uma certa insegurança que não estava sendo um bom diretor, era como se a coisa toda virasse uma água e escorresse pelas suas mãos, impossível de controlar. No entanto, era apenas uma reflexo da humanidade e sua força incontrolável para agir por impulso ou seguir seus próprios desejos. Havia uma criatura no meio e isso era preocupante, que tipo de trabalho elas foram fazer sem supervisão, era uma falha tremenda! – Oh...pelos deuses antigos, qual a situação do animal? – Ele entrou na enfermaria para ajudar Aurea a ficar na maca, claro que a quantidade de sangue era preocupante. – Há muitas coisas que preciso de resposta, mas agora eu só preciso que ambas façam um check-in – Falou olhando para Freya que tinha sangue, mas não parecia realmente ferida como Aurea. Ele pegou luvas e colocou nele mesmo, Irwin era veterinário e não curandeiro, mas sabia algumas coisas úteis enquanto a enfermeira não aparecia, algo que não deveria acontecer era isso, ficar sem ninguém no lugar. – Vou coletar amostras de sangue para comparar com as toxinas que conhecemos! Seminviso são transmissores de doenças, ainda que neles mesmo não atuem! – E pelo pouco que ouviu, elas foram resgatar o animal, era normal aquele tipo de procedimento porque criaturas sobre muito estresse tendiam a apresentar anomalias e desenvolver doenças. Pegou a seringa e um algodão para isso, mas olhou bem para a garota que já era naturalmente pálida. – Perdeu muito sangue? Ainda tem sangramento? – Não dava para coletar mais naquele estado, então usou o algodão para encharcar e guardar a amostra. Em seguida com a varinha em mãos pode usar estanque sangria na menina. – Freya está ferida? – Perguntou sem olhar para a ruiva. – Estanque Sangria! – Usou o feitiço em Aurea, assim pararia de perder sangue. Virou-se para Freya. – Se pode andar é melhor achar a enfermeira, ou fique com a criatura, eu quero examina-la também! – Falou cansado, tinha muito para falar com as meninas, mas realmente não parecia ser uma boa hora, sua capacidade de pensar estava baixa. – Até onde eu saiba não há missão de resgate para vocês, nem tem como agirem sem a supervisão de outro Magizoologista, nem resgatamos animais de cativeiro, apenas os transportamos e cuidamos de seus ferimentos. O combate e resgate é feito pelos aurores especializados nisso. – Sua voz era calma, apesar de parecer firme nas palavras naquele momento, não tinha a expressão de alguém bravo ou chateado, estava desapontado com o rumo das coisas. Entrar em combate? Nenhum deles era auror e tampouco eram magizoologistas completos. Eram só....crianças (aos olhos de Irwin). – Estão suspensas até segunda ordem, mais tarde quero o relatório completo de tudo isso! – Finalizou com certa dor no coração, mas isso era a medida mais sensata antes delas agirem por si só.
***
Freya O'Donnell
Irwin imediatamente assumiu o controle da situação, e quando voltei para junto de Aurea com um frasco de poção Limpa Feridas, ele já tinha luvas e a examinava atentamente. Ver outra pessoa cuidando de Aurea foi o suficiente para me tirar do modo "gerenciamento de crise" e parei no lugar, com o remédio em mãos, assistindo o diretor em ação. Só quando ouvi meu próprio nome foi que voltei para a Terra. - Não, eu estou bem... - falei devagar, finalmente associando os comentários de Irwin sobre o seminviso - Não foi o seminviso que fez isso... - procurei o olhar de Aurea, mas ela estava também tinha seus olhos no diretor enquanto este a examinava. As palavras seguintes de Irwin me atingiram duramente, não porque achava a punição injusta, mas porque sabia que ele estava certo. Eu tampouco esperava ter sido jogada em uma situação daquelas, ser perseguida, atacada e ainda precisar escoltar minha amiga ensanguentada de volta para a segurança. Só agora estava absorvendo a gravidade do que havia acontecido e não percebi em que momento comecei a chorar, só me dei conta quando um soluço escapou dos meus lábios. O diretor havia deixado claro que eu não era mais necessária ali e dei uma última olhada ansiosa em Aurea. De qualquer forma, Irwin poderia cuidar melhor dela do que eu e talvez fosse melhor eu sair do caminho por enquanto. - Eu... eu vou achar a enfermeira. E depois vou cuidar do seminviso. - disse com a voz chorosa, antes de escapar pela porta da enfermaria e ir embora.
***
Aurea Woodward
Irwin prontamente assumiu a liderança da situação. A passos ligeiros e muito precisos ele entrou na enfermaria já nos questionando sobre o seminviso e nos solicitando um check-up. Suas mãos ágeis vestiam as luvas de látex e preparavam seringas enquanto, com os olhos, observava Freya e a mim, como se decidisse quem receberia a sua atenção primeiro. Não pareceu difícil me escolher como a primeira. — Um pouco, mas... . — Comecei a respondê-lo mas não pude terminar, pois ele ia usar um algodão para limpar o sangue da minha pele. O segurei pelo pulso e o olhei nos olhos. — Pode coletar. Esse sangue não é meu. — Soltei seu braço e suspirei. Não o julgaria, pois a minha camisa da SIC estava empapada de sangue coagulado da gola até a barra. O diretor então questionou Freya sobre seus ferimentos e ela explicou que estava bem e aquilo não havia sido obra do animal. Quanto a mim, por mais que estivesse a ouvindo, mantinha meus olhos nos primeiros socorros que Irwin me dava. Falei baixinho. — Freya foi ótima com o Seminviso, Sr. Ziegler. — Engoli em seco, recebendo o "Estanque Sangria". Tinha uma sensação curiosa, um pouco desconfortável. — O animalzinho praticamente pediu a sua ajuda. As palavras do nosso superior eram duras, mas eu sabia que eram necessárias. Eu entendia, também, o seu lado. Mas ver Freya encher os olhos de lágrimas não era bom e fez meu peito apertar, pois entendia o lado dela também e não conseguia imaginar o quão traumáticas aquelas últimas 36 horas haviam sido. Ela saiu dizendo com a voz embargada que buscaria a enfermeira. Meu primeiro instinto foi levantar e segurá-la, mas quem foi segurada fui eu por Irwin. Apertei os lábios e me ajeitei na maca. Quando Freya saiu eu olhei para Irwin. Podia notar que aquelas não haviam sido palavras fáceis. — Sr. Ziegler, nossa missão era para ser apenas a coleta do animal, mas haviam fatores que não estávamos esperando. Freya não agiu de forma imprudente, ao contrário de mim. — Umedeci os lábios. Gosto de ferro. — Aparentemente o Seminviso estava sendo negociado com uma máfia de lá, para confecção de capas de invisibilidade a partir da sua pele. — Fechei os olhos, sentindo o cansaço bater agora. — Eu fui capturada por essa máfia e eles fizeram isso comigo, mas eu escapei quando... — Não terminei, talvez não conseguiria dizer o que fiz com aquele homem, ainda que fosse em defesa própria. — Esse sangue é de um destes mafiosos...
***
Jo Hei-Ryung
- Suspensas? - Entrou na enfermaria em passos largos, mas cuidadosos. Ainda estava com a carta que seu irmão lhe enviou, o que fora uma surpresa inesperada. Lançou um olhar curioso a Freya, que deixava o local. Mas não pode deixar de reparar em Aurea. Seu rosto assumiu uma expressão séria, concentrada em não demonstrar exatamente aquilo que pensava. Sob a ausência do Diretor, ela fora responsável por comandar a equipe nos últimos meses. E absolutamente tudo havia saído conforme o planejado... Até agora. - O sangue é seu? - Sentou-se próxima a Aurea, ignorando Irwin e quaisquer que fossem seus protestos. Queria ser colocada a par de toda a situação, detalhes da missão que seu irmão não foi capaz de escrever. Mas quando seu olhar cruzou com o da mais nova, ela soube que aquele não seria o momento. - Eu confiei em você, Aurea. Entrar, resgatar, voltar. Era só isso. - Estava decepcionada e fez questão de deixar isso claro em seu tom de voz. Algo sobre Aurea lhe deixava inquieta. Via a si mesma quando mais nova, e isso não era exatamente a melhor das lembranças. Foi só quando Aurea começou a se explicar para Irwin que Jo voltou a encara-lo. Não queria parecer arrogante, afinal, era seu chefe e precisava que o homem não a detestasse. Mas talvez isso já não fosse mais possível. - Eu falhei em não te comunicar, Irwin. As garotas estavam sob ordens minhas e a decisão que tomei foi complicada, mas necessária. - Encarou Aurea, sinalizando para que a garota não falasse mais nada apenas com o olhar. - A suspensão não é justa e você sabe disso. Apesar da imprudência, as duas enfrentaram sozinhas muito mais do que eu antecipei... E retornaram, não? Estão aqui, salvas. E o Seminviso foi resgatado, conforme esperado. Elas completaram a missão com sucesso e nenhum... Homem, pode dizer ao contrário. - Cruzou os braços, ciente de que assumiria qualquer responsabilidade.
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Irwin Von Ziegler
Ele não poderia estar mais infeliz, Freya pareceu sentir o que ele falou e isso a deixou sensível? Irwin não imaginava nem o que tinha acontecido para o tanto de sangue ali. A suspensão era mais para desencorajar aquele tipo de coisa. Freya saiu e Aurea quis ir, mas automaticamente sua mão parou a menina porque ainda haveria muitas horas de drama pela frente. Sua preocupação maior era mesmo restaurar a saúde de sua aprendiz e só depois resolver isso. Quando escutou que o sangue não era dela quase teve um treco, visto que afirmavam que a criatura estava bem e por isso ficou com os olhos arregalados. Estava pronto para dá um pequeno surto, o caso parecia ficar mais obscuro e sabia que os aurores seriam envolvidos devido a violência das coisas e logo os presidentes saberiam. A bola de neve só crescia. Ele ensaiou abrir a boca para dizer algumas coisas, quando Jo apareceu e parecia mais surpresa do que todos pela suspensão. Desde quando ela estava ali. – Cuidado, ela ainda não foi curada! – Irwin tentou alertar, na realidade ele estava sem norte com o que a ensanguentada falou. "De quem é o sangue?" sua mente só conseguia pensar nisso. Pelas palavras de Jo a confissão da irresponsabilidade veio e por Aurea a explicação do sangue. – Nossa isso só fica pior! – Colocou a mão na cintura e baixou a cabeça pensando nas palavras, sua mente imaginando a confusão e outras pessoas machucadas. – Você não está em posição de falar qualquer coisa! – Cortou Jo. – Você não seguiu as regras, elas são aprendizes e fazer trabalho externo desacompanhadas não é a nossa política, um resgate com a máfia? – Ele falou ainda com a mão na cintura, mas sua cabeça estava voltada para Jo. – Desde quando os meios justificam os resultados aqui? A questão não é essa, elas estavam sozinhas e era sua responsabilidade e eu ainda nem faço ideia de onde isso aconteceu. Resgatamos criaturas mágicas na natureza, quando se tem contrabando os aurores vão junto, sempre foi assim porque não somos combatentes! – Ele falou um pouco alterado, mas levou uma mão até a testa e virou o corpo. Conflitos...não era uma coisa que lidava tão bem e aquele foi o primeiro incidente grave que acontecia fora da Ilha Scamander. – Elas permanecem suspensas de fazer trabalho externo até que o relatório desse caso esteja completo, apenas para evitar outras coisas. – Ele não voltaria atrás, era uma medida protetivo no fim das contas. Não iria mais falar com Jo naquele momento, visto que ela seria responsabilizada, mas não por ele, seria pelos presidentes quando ele soubesse mais do caso. Apenas se virou para Aurea que confessou ter sido torturada, aquilo o feriu profundamente porque todos ali significavam algo para ele. – Relidor – Ele aplicou um feitiço para diminuir quaisquer dores que ela poderia sentir. – Não se preocupe senhorita Hei-Ryung, não precisará mais tomar nenhuma decisão necessária de hoje em diante! Preciso que preste o relatório sobre o caso para ser tratado com os presidentes, casos de máfia devem tratados pelos aurores. – Ele voltou a sua voz suave sem olhar para a mulher, segurou a mão de Aurea e com sua face mais branda falou olhando nos seus olhos. – Sinto muito pelo que sofreu! – Irwin realmente sentia.
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Aurea Woodward
A conversa com Irwin rolava de uma forma estranha e com um misto de sentimentos entre: "Estou ferrada!" e "Estou salva!". Mas quando ele arregalou os olhos mostrando uma surpresa desagradável ao saber que aquele sangue não era meu, eu franzi as sobrancelhas e mordi a parte interna do lábio inferior. Eu havia feito algo ruim, sim, mas teria sido pior se não tivesse feito. Quando estava pronta para começar a explicar a srta. Hei-Ryung entrou na sala com velocidade, passos precisos. Questionou a decisão de Irwin sobre nossa suspensão e eu apenas abaixei a cabeça, focando nos seus pés. Aquela situação me causava um certo desconforto que eu não estava pronta para lidar depois da missão no Japão. Só dei uma olhada rápida para Jo quando ela também me perguntou se o sangue era meu e apenas neguei com a cabeça, depois maneei a cabeça de um lado para o outro, como quem diz: "Mais ou menos". Tinha sangue meu ali, também, afinal. Os dois discutiram por alguns curtos, porém intensos, minutos e entao Irwin me olhou nos olhos, o que me impeliu a focar em suas íris claras. Tocou minha mão e eu suspirei. Me sentia um pouco anestesiada e, provavelmente em meu zoom out ele deve ter feito alguma coisa para amenizar a dor. — Tudo bem, o que importa é que o seminviso está bem. — Sorri e olhei para os dois. Dentro de mim alguma coisa rugiu e minha visão ficou um pouco turva. Aquela sensação me fez engolir em seco e o cheiro do sangue, que antes me era incômodo, agora me causava uma ansiedade estranha. Uma ânsia incomum... era fome? Meus olhos foram para o Sr. Von Ziegler e, em seguida, para a srta. Hei-Ryung. Meu coração começava a acelerar como se eu estivesse me antecipando antes de fazer um movimento rápido e explosivo. — Gente, tem alguma coisa errada... — Quando falei aquilo senti algo estranho nas proporções da boca, pinicando o lábio inferior.
Eram presas?
em 2023-01-07
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Koishikawa Kōrakuen Garden - Tóquio
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Como eu havia dito anteriormente, eu odiava viagens através de chaves de portais. A viagem era muito rápida, mas nem por isso ela era confortável. É difícil explicar, mas a sensação é parecida com passar muito rápido por um espaço muito pequeno, além da sensação ferrada de vertigem e enjoo. Quando dei por mim estava me chocando contra um gramado de solo fofo atrás de alguns arbustos. Não havia mais sol e não tinha sinal de pessoas transitando por ali, o que era uma sorte nossa, ou planejamento. Muito bom, professora Priyanka. Lancei uma rápida olhada para Freya e maneei a cabeça em positivo, como se desejasse a ela boa sorte em sua empreitada apenas com um movimento e, sem mais me demorar, lançando uma olhadinha rápida para Thyme, virei e saí apressada, passando as mãos pelos meus cabelos, tirando possíveis folhas e gravetos presos ali.
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Caminhei por alguns minutos pelas ruas de Tóquio e seguindo algumas placas. O meu plano primário era chegar ao Palácio Imperial e dali passar a bisbilhotar as ruas. Afinal, a única coisa que eu tinha era o nome do irmão da senhora Jo. Segurei com firmeza a mochila em minhas costas e atravessei a rua em direção a uma lojinha de conveniências. Haviam algumas placas com muitos Kanjis. E, subitamente, lembrei de um feitiço que havia estudado durante minhas classes de "Assuntos dos trouxas". Para nos adaptarmos aos não-magi precisávamos estar sempre um passo a frente e para isso era crucial entender o que falavam à nossa volta. Olhei para um lado, em seguida para o outro, e quando me certifiquei que ninguém veria meu encantamento, saquei minha varinha e fiz um movimento discreto enquanto mentalizava os símbolos do alfabeto japonês. — Folgian Leoden... — Os Kanji começaram a fazer sentido e esse era o sinal de que o encantamento havia funcionado. Avancei e entrei na lojinha de conveniências. Assim que a porta se abriu uma sineta anunciou minha chegada, tilintando de forma irritante. Logo um homem de meia idade e olhos puxados, como toda a população daquela região, esticou a cabeça por cima do balcão me encarou. Pude ver a sua expressão de dúvida e receio ao me ver. Eu sabia que, por sua idade, estava receoso de que eu não falasse sua língua. Apenas parei e sorri, me inclinando para frente. — Oyasumi, ojīchan. — Lhe desejei boa noite e a sua expressão pareceu suavizar um pouco. — Watashi wa Aurea desu. Hajimemashite. — Boa noite, minha jovem. — Ele respondeu e eu entendi em meu idioma, imediatamente. Sorri simpática. — Me chamo Sr. Fujimoto. Você não é daqui, é? — Ele me perguntou e eu neguei com a cabeça, enquanto andava olhando os produtos. — Não, só estou de passagem. — Olhei para ele, por cima do ombro. — Intercâmbio. Eu estou procurando pelo Sr. Hei-Ryung. Por um acaso o conhece? Peguei alguns pacotes de biscoitos e macarrão instantâneo e levei até o caixa. Ele me estudava minuciosamente e a sua forma de me encarar me fez acreditar que ele conhecia sim o irmão da Sra. Jo, mas ainda ponderava se me contava ou não. Arqueei as sobrancelhas e olhei de canto, pensando qual seria minha próxima movimentação. Professora Priyanka mencionara o seu nome com muito carinho, o que me fez acreditar que já tivessem tido um caso, o que poderia significar que tinham coisas em comum. Se ele e a Sra. Jo fossem minimamente parecidos como irmãos, certamente, não havia sido o exoterismo que o uniu à professora de Hogwarts. Tinha ele uma paixão por ensinar? Seria ele, agora, um professor? — Eu preciso da ajuda dele para um trabalho da faculdade. — Completei e o senhor sorriu. Pareceu mais tranquilo em me passar a informação. Parece que eu havia acertado. — Ah, sim! — Ele rapidamente começou a passar as compras no seu caixa e me deu o valor em Iennes japoneses. Entreguei a ele meu cartão internacional. — Gosto de viajar... — Disse apenas, quando ele me observou de cima a baixo, ao pegar meu cartão para passar em sua máquina. — Eu não sei onde o Sr. Hei-Ryung mora, mas já está quase na hora de ele passar aqui e levar alguma coisa para a sua esposa. — Ele apontou para uns fliperamas no canto da loja de conveniência. — Se quiser esperá-lo aqui, temos essas máquinas de pelúcia. Comprei algumas fichas e resolvi que esperaria pelo Sr. Hei-Ryung ali mesmo.
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Quando o Sr. Hei-Ryung chegou eu já tinha uma pelúcia em mãos, um pequeno e feliz polvo azul que virava do avesso e ficava absolutamente pistola, e tentava pegar um Pokémon destes que eu não fazia a menor ideia do nome. O Sr. Hei-Ryung se aproximou e falou em inglês comigo. Senti algo cutucar em minha costela e, ao olhar para baixo, vi uma varinha. — Um movimento em falso e eu vou precisar explicar pro Sr. Fujimoto que a máquina de pelúcias dele explodiu por causa de um curto-circuito. — O olhei com uma expressão de surpresa, pois ainda que suas palavras fossem hostis seu tom de voz era controlado e parecia até mesmo demonstrar felicidade em me ver. Ele sorria. — Agora me diz quem é você, ou só os legistas vão poder dizer isso, amanhã. — Ãh... — Olhei para o Sr. Fujimoto de soslaio e ele fez um "joínha" para mim. Sorri para ele, como se o agradecesse. — Eu sou Aurea Woodward e eu trabalho como Magizoologista no S.I.C.P.V.M... — Ele suspirou pesadamente, como se não precisasse ligar muitos pontos para entender a situação. — Eu acho melhor irmos para um lugar mais reservado para conversarmos. Demos adeus para o Sr. Fujimoto e seguimos pelas ruas da cidade, por alguns quarteirões e vielas, mas ao contrário do que eu pensei o Sr. Hei-Ryung não me levou até sua casa e logo nos vimos em uma praça infantil. Quando chegamos ali, sem nenhuma testemunha, ele me empurrou para um pouco longe e me apontou sua varinha. Ele ainda não confiava em mim e como demonstração de confiança, puxei minha varinha pelo cabo, com dois dedos, e a joguei para ele. — Eu não to aqui pra te machucar, Jun. — Umedeci os lábios. Estava nervosa, afinal de contas. — E também eu não conseguiria se tentasse. — O estudei dos pés à cabeça. Ele não estava, de fato, em posição de combate. Só estava me confrontando. — E se me atacar pode acabar gerando sanções político-globalizadas. — Só estou me certificando... É sobre o circo dos meus pais, não é? — Maneei a cabeça em positivo e ele suspirou. — O que aconteceu dessa vez? — Um Seminviso escapou e se feriu no processo. — comecei a abaixar os braços, pois sentia que seu estado de alerta e paranoia haviam se tornado frustração e cansaço. — Eu to aqui pra resgatar ele e levar para nossa sede. Cuidar dele. — Negativei com a cabeça. — Eu não estou aqui pra tomar nenhuma ação contra o circo da sua família. — Não?! Igual à minha irmã?! Para ela foi fácil jogar a merda no ventilador e sair do país, começar uma vida nova. — Ele parecia muito irritado. — Ficamos sem prestígio na sociedade bruxa daqui, como párias que não cuidam do mundo mágico! — Engoli em seco. Precisava tomar cuidado onde pisava de agora em diante. — Então vocês cuidam? — Ele suspirou e positivou, se aproximando e me entregando minha varinha em seguida. — Quando eu estava lá eu ajudava, sim, a cuidar. — Ele desviou o olhar e voltou a me encarar. — Mas eu estou trabalhando como professor, agora, em Mahoutokoro. — Então a sua família... — Fui interrompida por Jun, que pareceu ficar um pouco mais furioso. — Seguem firmes e fortes, mas agora estão mais cuidadosos com suas contratações. — Ele se sentou num banco próximo e eu me aproximei, me sentando ao seu lado. — Quando a Jo denunciou nosso circo alegando os maus-tratos eu fui contra ela, sabe? Não queria ver o nome da nossa família na lama. Eu tinha uma visão otimista de nossos pais, mas com as denúncias a Jo foi deserdada e pessoas foram presas, mas eram todos bodes expiatórios. — Ofereci uma barra de chocolate para ele. Eu já comia a minha, pois a história era interessante. Ele negou educadamente. — Eles abafaram o caso e eu os confrontei, mas fui ameaçado de ser deserdado também... parece que aquele circo é a vida deles, e não Jo e eu. — Caramba... Você parece se sentir culpado com isso. — Ele deu de ombros. — Como primogênito, e homem, sempre recebi a maior atenção e as expectativas de seguir com o negócio, e essa pressão me fez ficar cego e não entender o lado da minha irmã. — Sua cabeça pendeu para frente e eu apoiei a bochecha em minha mão. — Se eu pudesse voltar atrás... — Ainda pode se redimir. — Me pus de pé e estendi a mão para ele. — O que acha? Prefere continuar um legado de mentiras de uma família poderosa e influente? Ou fazer algo que se orgulhe no futuro? O certo pelos animais mágicos? — Ele me encarou por vários segundos e eu sorri. — Quem me disse para falar com você não foi a Sra. Jo, mas sim a professora Priyanka. — Seu queixo caiu de leve. — Ela pode ser boa com previsões, mas tenho certeza de que me mandou aqui apenas pela sua fé em você. Ele abaixou a cabeça e eu me agachei em sua frente, olhando seus olhos uma vez mais. — Priyanka estava errada em me mandar falar com você? — Aquele era o ultimato. E após vários segundos ele se pôs de pé e respirou fundo, soltando o ar pesadamente. — Vamos fazer o certo dessa vez. Sorri e ele nos conduziu até a sua casa, onde demos início aos planejamentos para nossa empreitada futura. Feitiços usados: Nome: Folgian Leoden Classificação: Encantamento Descrição: Feitiço aprendido na aula de Estudo dos Trouxas de Salém. O bruxo(a) precisa mentalizar um elemento do idioma que quer mimetizar, uma letra do alfabeto local ou uma frase dita por alguém próximo, e profere as palavras Folgian Leoden juntamente com o movimento de varinha respectivo. Ele funciona como uma miragem para o ouvinte enquanto para o interlocutor os sons são convertidos em pensamentos que ele consegue entender.
***
Fomos ejetadas pela chave de portal em uma área escondida entre árvores, longe dos olhos dos trouxas. Me senti desnorteada por um instante: era noite e o céu já escurecia. Sempre me confundia quando viajava para um lugar distante, onde o horário era completamente diferente. Mas mesmo à noite o parque era lindo, com árvores iluminadas por luzes noturnas, mas mal tive tempo de admirar os arredores, havia trabalho para fazer. - Eu vou procurar o circo, eles devem estar abertos essa noite. - disse apressadamente enquanto soltava os amassos no chão. Me sentia nervosa por chegar no momento de entrar em ação - Me avise se tiver problemas. Boa sorte! Sage, Thyme, venham comigo. - dei um sorriso ansioso para Aurea e adentrei no parque, procurando o circo mágico. ___ O parque estava escuro, mas decorado com luzes noturnas, dessas elétricas mesmo, e depois de algum tempo caminhando entre visitantes trouxas, avistei uma trilha toda iluminada que serpenteava entre as árvores, até desaparecer em um bosque. Nenhum dos visitantes trouxas parecia notá-la, por mais bonita que fosse. Seguindo por ela vi pessoas vestidas como bruxos, conversando animadamente em japonês enquanto seguiam todas na mesma direção. Segui a massa de bruxos enquanto o caminho serpenteava pelas árvores, iluminadas por holofotes mágicos e fadinhas que flutuavam no ar, dando um ar encantado ao lugar. Já tinha certeza de que estava no caminho certo e, após mais alguns minutos caminhando, depois de uma curva, finalmente chegamos à tenda do circo. Era grande e colorida, tão iluminada que parecia ser dia. Mas mesmo impressionada com a estrutura, não perdi muito tempo admirando-a, fui me afastando para a lateral do caminho e então escapei para as árvores, com os dois amassos ainda no meu encalço. Enquanto a plateia lotava a tenda, eu segui entre as árvores, fazendo um grande arco acompanhando a estrutura. Avistei adiante, encoberta pela grandeza da primeira, uma tenda menor, de onde um bruxo puxava um cavalo alado cinzento. Mais adiante, podia ver um acampamento improvisado, com trailers dispostos em um círculo. Devia ser ali que os funcionários do circo dormiam. No momento toda a área estava fervendo de funcionários e visitantes e decidi esperar pelo fim do show. Me afastei um pouco, me escondendo atrás de uma moita e puxei os dois amassos para meu colo para lhes fazer um carinho enquanto esperava que o tempo passasse. Ali no escuro, fiquei me perguntando como seria o show do circo, se as plateia podia ver que as criaturas eram maltratadas, ou se era uma daquelas apresentações tão incríveis que as pessoas esqueciam o que estavam assistindo. A noite passou lentamente e logo Thyme adormeceu sobre minhas pernas. Sage continuava alerta, mesmo deitado ao meu lado, sempre com as orelhas em pé. Apesar de ser tarde, eu não sentia sono, ainda ajustada ao horário de Hogsmeade. Ou das Bermudas. Que dia estranho estava sendo esse… Depois do que pareceram horas, um show de fogos indicou que a apresentação do circo havia chegado ao fim. Me encolhi em meu esconderijo, quando uma onda de bruxos voltou pela trilha ao longe, rindo e conversando em voz alta. Quando finalmente a maior parte da plateia havia deixado o circo, o parque voltou a ficar quieto. Os holofotes da trilha foram apagados e eu estava sozinha no escuro. Me levantei e espreguicei, chamando os amassos em voz baixa. Voltamos para perto do circo o mais silenciosamente que podia. Agora era o pequeno acampamento de funcionário que estava iluminado. Podia ouvir conversa e cantoria, pelo visto comemorando o final do show com sucesso. Com todos comemorando, a tenda das criaturas deveria estar vazia. Já me sentia confiante de que poderia investigar o circo tranquilamente enquanto os funcionários enchiam a cara, quando dei de cara com um homem adulto trabalhando do lado de fora da tenda menor, parecendo consertar os elos de uma longa corrente de ferro com sua varinha. Ele me viu antes que pudesse me esconder e parou seu trabalho, vindo na minha direção com a varinha em punho. Congelei no lugar enquanto ele acendia a varinha e então pareceu relaxar um pouco. Senti ele me olhar de cima a baixo e então encontrar Sage e Thyme com seus olhos felinos brilhando no escuro. Eu mesma não tinha minha varinha em mãos e sabia que seria lenta demais para enfeitiça-lo. Só então me ocorreu que eu não tinha uma boa história caso fosse encontrada. Sorri para o estranho, nervosa. Só tinha uma coisa que eu era pior que duelos e era mentir para as pessoas. - Boa noite. - o homem me cumprimentou em inglês. Não era difícil de olhar para mim e adivinhar que eu não pertencia ao lugar e provavelmente era uma estrangeira. - Está perdida? - ele deu um sorriso, mas seus olhos estavam nos dois filhotes de amasso, que imediatamente começaram a chiar para o homem e me apressei em tranquilizá-los. - Mais ou menos… Sage, Thyme, se comportem! - disse, firme, e Sage ficou quieto imediatamente, mas continuou com os olhos atentos a todos os movimentos do estranho. Me abaixei e segurei Thyme em meus braços antes de voltar a olhar para o homem. Tinha traços orientais, ombros largos e era pelo menos uma cabeça mais alto que eu. Mesmo relaxado, continuou segurando sua varinha apontada na minha direção. - Esses amassos são seus? São muito bonitos. - ele falava lentamente, com um leve sotaque. Senti um arrepio desagradável quando ele pareceu me avaliar mais uma vez, seus olhos parando na varinha que carregava no cano da minha bota. - Ah. Sim… - meu coração batia depressa, enquanto tentava formular uma história que justificasse minha presença. Estávamos sozinhos ali e pensava em um jeito de despistá-lo para voltar à minha missão, sem despertar suspeitas. - Você não deveria andar sozinha por aí, no escuro. Não é seguro. - Thyme sibilou mais uma vez nos meus braços, mas o estranho apenas sorriu, sem se assustar - Você gosta de criaturas? Posso lhe dar um tour dos bastidores, o que acha? - e indicou a tenda atrás de si, hora olhando para mim, hora olhando Sage aos meus pés. Abri a boca. Parecia fácil demais, mas era exatamente isso que eu queria. Não gostava da impressão que o homem me dava e a reação dos amassos era um bom indicativo de que eu estava certa em desconfiar. Ao mesmo tempo, agora que ele sabia que eu estava ali, seria difícil despistá-lo para investigar o lugar em segredo. - Eu adoraria. - senti minha boca seca. Não era isso que havia combinado com Aurea, mas a chance era boa demais para desperdiçar. O homem acreditava que eu era uma turista perdida e era exatamente assim que eu me sentia, então deixei que ele me conduzisse para dentro da tenda das criaturas.
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Por mais que tivéssemos alinhado os termos, Sr. Hey-Riung e eu, nosso caminho até a sua casa foi silencioso a maior parte do tempo e eu não fiz questão de importuná-lo com mais perguntas. A noite no Japão estava gelada, o que me fez questionar o estado de Freya, pois da minha parte deveria conversar com o irmão da Sra. Jo, mas Freya estaria ao relento procurando pelo Seminviso e isso me fazia sentir um pouco de culpa. Eu devia ter pedido para ela vir conversar com o Sr. Hei-Ryung. — O que houve, srta. Woodward? Algo parece inquietar sua mente. Quando ele me perguntou isso estávamos saindo de uma rua apertada repleta de sacos de lixo e bicicletas estacionadas aqui e ali, amarradas em postes, além dos sacos de lixo. A luz amarelada da iluminação pública refletia na umidade que ensopava o chão. — É que uma colega minha veio junto e eu estou um pouco preocupada se ela vai ficar bem... ela está buscando pelo Seminviso nos bosques aos arredores do circo. Jun parou alguns segundos, com as mãos nos bolsos. Seus olhos fitavam um ponto fixo na parede, como se ele tivesse dado um zoom out e, então, olhou para mim por cima do ombro, com uma expressão serena, quase apática. — Foi Jo que escolheu vocês para missão? — Maneei a cabeça em positivo e ele continuou. — Então sua colega vai se sair bem. Vamos, sem tempo a perder. — Concordei e apressei os passos. Logo chegamos à casa do Sr. Hei-Ryung, ele destrancou a porta e entramos. Antes de eu avançar ele esticou o braço, impedindo minha passagem e apontou para meus sapatos, sempre com aquela expressão fria, sem demonstrar muitas emoções. E quando ele tirou os dele, também fiz com os meus tênis. Avançamos por um corredor estreito, porém, lindamente decorado de forma minimalista e de chão de madeira reluzente. Na sala de estar encontramos a esposa do Sr. Hei-Ryung assistindo televisão. Ele se aproximou e deu um beijo em sua testa. Só então que ela reparou a minha presença e se pôs de pé, ajeitando seus cabelos e dando um olhar de desaprovação para Jun. Sorri, contendo uma risada, pois havia notado que não era um problema, necessariamente, eu estar ali, mas sim que ela não estava preparada para me receber. — Querida, essa é Aurea. Aurea, essa é Megan, minha esposa... Aurea é... — Boa noite Sra. Hei-Ryung. — Quando Jun foi começar a explicar a situação eu dei um passo à frente, me prontificando a explicar por mim mesma. Não sabia se ele mentiria ou diria a verdade, mas eu não gostaria de deixá-lo em maus lençóis com sua esposa. — Mil perdões pela intromissão a essa hora, Sra. Megan. Eu trabalho na Sociedade Internacional de Proteção à vida Mágica. Viemos requisitar a ajuda do Sr. Hei-Ryung com um animal mágico perdido. Ela olhou para Jun com um olhar esperançoso e voltou a me observar. — Foi Jo que mandou você aqui? — Maneei a cabeça em positivo. Eu preferi omitir e interpretar “aqui” como “Japão”. — Você está com problemas, querido? — Ela perguntou, preocupada, mas o Sr. Jun sorriu de forma cálida, tocando seu ombro. — sim, um problema que eu ignorei a muito tempo, mas agora tentar resolver. — Acabei por sorrir mais largamente e tive que segurar as lágrimas para não chorar de emoção.
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As horas passaram enquanto eu e o Sr. Hei-Ryung trabalhávamos em poções em seu laboratório alquímico. O laboratório ficava no porão da casa, escondido atrás de uma estante de livros, e era equipado com várias tecnologias dos “não-magi” mas eu podia sentir, e ver, que muitas delas eram encantadas e trabalhavam praticamente sozinhas, o que facilitou muito nosso trabalho. Ele também tinha uma área dedicada apenas à confecção de vidros, também encantada. Eu tomei a liberdade de trabalhar com os recipientes das poções e havia explicado para ele o que queria, como poções de polissuco semiprontas para o caso de precisarmos nos infiltrar no circo, além de poções de cicatrização rápida e bombas de fumaça para caso fôssemos perseguidas. Produzi diversas ampolas circulares para as bombas de fumaça fedorenta que só nos demandaria arremessá-las no chão ou em alvos. Meu único medo era estourá-las em mim e precisar tomar 3 banhos por dia durante um mês inteiro. — Woodward-chan, algum problema? — Sr. Hei-Ryung me perguntou e eu o olhei rapidamente. Claro que ele me questionaria, afinal, estava super calada. Inclusive, uma coisa que eu havia reparado só agora que o efeito do encantamento que eu havia usado mais cedo já tinha passado, é que o inglês do Sr. Hei-Ryung não era muito bom, além de ele não saber muito bem usar o “L”. — Nada eu só... estou com um mau pressentimento. — Continuei tampando as pequenas ampolas de poções. — A professora Priyanka fez uma previsão para mim um tanto quanto... assustadora. Ele apenas maneou a cabeça em positivo e continuou misturando ingredientes e esquentando soluções em fogo baixo. Fiquei esperando por um minuto ou dois pela pergunta que geralmente se fazia depois de comentar algo que eu comentei, mas não, nada veio. Então resolvi eu mesma continuar, ainda que ele não tivesse perguntado. No fim aquela divagação era mais para mim mesma, para poder refletir sobre. — Ela disse que eu precisaria ser astuta como uma raposa... e que haveria luta em meu caminho. E que vermelho definitivamente era a minha cor. — Sobre previsões, Woodward-chan: são imprevisíveis. Só entendemos elas quando acontecem. — Ele suspirou. Parecia triste? — Nós não podemos mudar o futuro, podemos só... espiar. — Ele tentava procurar as palavras certas, pois seu inglês não era muito bom. — Se você recebeu essa previsão é porque  precisava dela, mas talvez só entende quando ela acontecer. — Acho que entendi... O telefone do Sr. Hei-Ryung tocou e ele começou a falar em japonês com alguém. Eu lembrava de tê-lo visto conversando com alguém mais cedo, mas a ligação partiu dele. Eles se conversaram por pouco tempo desta vez, mais ou menos 1 minuto. Ele repousou o telefone celular na mesa e me encarou com seriedade. — Woodward-chan, pedi favor ao meu auxiliar de Mahoutokoro. — Maneei a cabeça em positivo. — Ele me ligar agora e informar que bruxos ruins estão procurando na área do circo. Naquele momento meu coração parou e eu puxei o ar com força, apenas pensando em Freya lá correndo sozinha, no escuro, com nossos dois amassos. Se eles a encontrassem e a capturassem eu nem sei se conseguiria conviver comigo novamente. Peguei minha mochila e comecei a empacotar as coisas que já havíamos preparado embalada pelo sentimento de urgência. Eu não descansaria enquanto colocasse os olhos na ruiva de novo. — Woodward-chan, não deve se precipitar! — Me alertou, mas eu fechei o zíper da mochila e fui até ele. — Obrigada pelo suporte, Sr. Hei-Ryung, mas eu preciso ajudar a minha amiga, ela pode estar com sérios problemas, lidando com um monte de bandidos e... — Vamos, então! — Franzi o cenho e negativei com a cabeça. — Negativo. Se formos juntos podemos acabar os dois nas mãos destas pessoas que estão atrás do seminviso. — Quando eu dei aquele assunto por encerrado ele me segurou pelo ombro e eu o olhei uma vez mais. — Você me ligar, então. — O encarei por alguns instantes e, enfim, trocamos os telefones. — Se eu não retornar dentro de 24 horas: manda uma mensagem para a Jo. — Peguei o telefone da sua mão e, rapidamente, consultando em minha agenda, adicionei o telefone da sra. Jo ali. — Aliás, mesmo se eu retornar, você deveria ligar pra ela. — Girei nos calcanhares e saí.
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Caminhei pelas ruas com a urgência de chegar à área do circo e sequer me dei conta de que eu estava fazendo muito barulho, devido à urgência que caminhava e àquela hora da noite, sem ninguém caminhando pelas ruas que eu passava, fazia minha presença ser facilmente notada. Quando cheguei próxima ao local da chave do nosso portal notei lá na frente contra a luz de um poste, a silhueta escura de um homem caminhando e lançando olhares para o parque. Assim que ele notou minha presença se voltou em minha direção e passou a se aproximar. A sensação que eu tive foi a que meu coração despencou para a barriga. Amedrontada pela sua presença dei dois passos para trás, girei nos calcanhares e segui na direção contrária, porém, lá estava outro homem de sobretudo e, para meu desespero, notei que ele sacava alguma coisa de dentro do seu casaco. — Merda. — Paralisei enquanto tentava pensar em uma solução rápida para aquele impasse. Todas as minhas ideias terminavam em trocação de feitiços em uma área pública contra aqueles dois homens. Me estressava também o fato do meu coração bater tão acelerado e pesado que eu sentia meu peito tremer e meus ouvidos ensurdecerem com o sangue sendo bombeado. As mãos suavam a ponto de eu temer pegar minha varinha e ela escorregar pelos meus dedos. Passos rápidos de corrida e, então, uma mão em minha nuca segurou com força meus cabelos e puxou minha cabeça para trás. Senti uma ponta em meu pescoço e deduzi que fosse uma faca, ou uma varinha. Vozes conversando em japonês e, então, alguém falou em inglês. — Inglesa? Americana? — Apenas o olhei de maneira assustada e, então, maneei a cabeça em positivo. — Kanojo no bakku pakku o kure. O outro homem, que me segurava, tirou a mochila de minhas costas após ter desencostado a varinha do meu pescoço e entregou minha sacola para o que havia falado em inglês comigo. Este, por sua vez, passou a revistar as coisas que haviam ali e pude ouvir os vidros das poções se chocando de leve. Ele sacou a sua varinha e lançou um encantamento em minha direção. Acho que era a versão asiática do “Ariannum Detectum”. Engoli em seco e, então, recebi um soco no rosto. A última coisa que me lembro foi de ver o chão e, então, todo o resto foi um borrão.
***
Entrei na tenda com o estranho atrás de mim e por um segundo não consegui disfarçar minha reação. O chão era de serragem e terra batida, e senti aquele cheiro que indicava que as gaiolas eram limpas com bem menos frequência do que o necessário. Havia pelo menos uma dezena de jaulas, com as mais diversas criaturas mágicas. A maioria delas de aparência miserável. Vi um Farosutil, ainda jovem, não maior que eu mesma. Um hipogrifo e dois cavalos alados, em jaulas tão pequenas que não podiam estender suas asas. Em uma gaiola de pássaros havia uma infinidade de fadinhas amontoadas, em outras gaiolas havia também um caranguejo-de-fogo com várias pedras faltando em sua carapaça e um crupe, que imediatamente se levantou e começou a latir quando viu os amassos. Os latidos me trouxeram de volta e percebi que estava parada no meio da tenda, olhando horrorizada para todas aquelas pobres criaturas. Por sorte, o bruxo pareceu não notar a minha reação: estava ocupado fechando a aba da lona que servia de entrada para a tenda e lançou um feitiço na área para abafar o barulho da festa lá fora, assim como o barulho das criaturas dentro da tenda, para que não fossem ouvidos do lado de fora. Ainda assim, passou por mim para dar uma pancada na gaiola do crupe, resmungando alguma coisa em japonês para que ficasse quieto. O estranho afinal tinha um nome: chamava-se Ichirou. Estava muitíssimo interessado nos amassos e me encheu de perguntas: quantos meses tinham, onde havia os encontrado, se eram obedientes, se havia pensado em treiná-los como animais de guarda ou caça, se davam trabalho e finalmente perguntou se já havia pensado em vendê-los. Também reforçou que, por mais que estivesse acompanhada dos dois, eles não seriam páreo para as ameaças que poderia encontrar lá fora. Explicou que eu não deveria andar sozinha pois havia muita gente mal intencionada nos arredores do circo, ainda mais à noite. O tempo todo, ficou tentando se aproximar para ver os filhotes de perto e chegou a estender a mão para tentar um carinho em Thyme, que sibilou e mostrou os dentes, deixando bem claro que não queria conversa nenhuma com o estranho. Por mais que adorasse falar sobre os amassos, me contive em dar respostas curtas. Não gostava daquele homem cercado de tantas criaturas tristes fazendo perguntas sobre meus filhotes. Querendo sair logo dali, corri os olhos pelas gaiolas ao meu redor, procurando algum sinal do seminviso. Em vez disso, meus olhos caíram no pobre cavalo alado que eu havia visto sendo movido para a tenda principal mais cedo. Ele parecia incomodado com uma das asas, que segurava meio esticada dentro do pouco espaço que lhe era disponível, em vez de dobrada junto ao corpo. - O cavalo alado está com uma das asas machucadas. - disse em voz baixa, interrompendo Ichirou, que comentava que amassos jovens poderiam valer um bom dinheiro, quando ainda podiam ser treinados - Se não cuidar dele, ele não vai conseguir voar mais. Posso dar uma olhada nele? - comecei a andar na direção da criatura, mas parei, olhando para Ichirou, esperando que ele concordasse. O bruxo fechou a cara por um segundo e então pareceu mudar de ideia. - Claro, mas como vai cuidar dele se não soltar seu bichinho? - ele veio até mim, estendendo as mãos para tirar Thyme dos meus braços, que sibilou mais uma vez - Melhor não. - riu, achando tudo muito engraçado - Você pode colocá-lo na gaiola vazia. - e apontou para a única gaiola vazia dentro da tenda. Hesitei um segundo, apertando Thyme contra meu peito. Não queria me separar do amasso, mas também não ia conseguir cuidar do cavalo enquanto o segurasse para evitar que ele atacasse Ichirou. Ajudar a criatura também não estava na lista de coisas que precisava fazer, mas não podia deixá-la machucada daquele jeito. Odiava tudo naquela situação, mas finalmente concordei lentamente com a cabeça. - Sage vai ficar comigo. Ele vai se comportar. - disse, firme. - Muito bem. - o bruxo baixou os olhos para o amasso colado aos meus pés, que o encarava atento, mas parecia bem menos hostil que Thyme. Finalmente encolheu os ombros, rendido e voltou a sorrir - Não se preocupe, eu não vou roubá-los de você. - ele riu mais uma vez, parecendo muito satisfeito que eu aceitei sua sugestão. Depois de alguma conversa, Thyme aceitou ficar na gaiola e Ichirou passou o cadeado na tranca - Vamos lá, agora você pode cuidar do Ginka. - e me conduziu de volta para o cavalo alado. Quando me afastei, Thyme imediatamente começou a miar em protesto, mas Sage continuou colado nos meus calcanhares, enquanto eu examinava o cavalo alado através das grades de sua jaula. Ichirou me observava atentamente e ao tentar se aproximar, o filhote de amasso começou a me circular, como tomando conta de mim. Com um suspiro irritado, o bruxo se afastou novamente e encostou-se em uma das vigas que sustentavam a tenda, em silêncio. - Porque aquela gaiola está vazia? - perguntei em voz baixa, enquanto apanhava uma das poções cicatrizantes que havia trazido em minha bolsa para cuidar do seminviso. Tentei fingir que puxava conversa, mas já suspeitava que aquela era justamente a gaiola do seminviso: tinha o tamanho certo e uma porção de folhas secas para alimentá-lo. A não ser que eles tivessem mais de uma criatura desaparecida… Ichirou confirmou minhas suspeitas: admitiu que havia deixado o seminviso escapar noites atrás e agora teria sérios problemas se não desse logo um jeito na situação. Contou que estava preocupado, pois nunca se sabe quem poderia encontrar a criatura sozinha lá fora… Mas achava que ele não havia ido muito longe, pois havia se machucado quando tentou escapar. - O problema, - completou - é que ele é esperto e sabe quando estou chegando perto. Mas acho que tenho substitutos, caso não o encontre. Tinha meus olhos na asa do cavalo alado, distraída, mas outro miado agudo de Thyme chamou minha atenção, e me virei a tempo de ver o feitiço estourar nas grades da jaula do cavalo alado, a poucos centímetros da minha cabeça. Sage abandonou meu lado e saltou sobre Ichirou, cravando as garras em sua perna. O bruxo por sua vez gritou de dor, mas continuou atacando: entre uma onda de palavrões em japonês havia um feitiço que me atingiu no peito e me jogou contra a jaula do cavalo alado. Minha cabeça bateu contra uma das barras da grade e escorreguei até o chão, vendo estrelas. A criatura na gaiola relinchou assustada e todas as outras criaturas se juntaram à cacofonia. Ouvi Ichirou continuar praguejando enquanto Sage o atacava repetidamente e soube que precisava ajudar o filhote antes que o bruxo o machucasse. Apanhei minha varinha no cano da bota e me levantei, ainda meio tonta, a tempo de ver Ichirou tentando chutar Sage para longe e errar por muito pouco um feitiço contra o amasso. Toda a repulsa que sentia pelo bruxo se transformou em fúria quando vi ele tentando machucar Sage. Antes mesmo que percebesse o que estava fazendo, apontei a varinha, querendo tirá-lo de perto do amasso imediatamente. - Não encoste no meu filhote! - vinhas brotaram do chão de terra batida e rapidamente se enrolaram em Ichirou, subindo por suas pernas em uma velocidade impressionante. Sage ainda tentou um último ataque, mas acertou apenas as vinhas, que ainda cresciam, cada vez mais grossas e fortes, agora com espinhos, subindo e se agarrando aos braços do bruxo, que se contorcia em pânico, tentando escapar. Ichirou ainda tentou algum feitiço, que piscou na ponta de sua varinha e falhou. Só então notei que as vinhas continuavam crescendo, cravando espinhos na pele do bruxo que agora tinha os braços imobilizados junto ao corpo. Ainda sentia meu corpo todo tremendo de raiva, mas cancelei o feitiço com um aceno de varinha. As vinhas pararam de crescer, mas ficaram ali, segurando-o preso, como envolto por uma grande árvore. Tomei a varinha da sua mão antes que ele tivesse a chance de tentar mais algum feitiço. O bruxo agora pedia desculpas repetidamente, balbuciando que iriam matá-lo, que precisava dos amassos, mas que não fizera por mal. Sage miou baixo, chamando minha atenção e apanhei o amasso no meu colo. Lhe dei um beijinho no topo da cabeça e o filhote se aninhou nos meus braços, me oferecendo algum conforto. Aos poucos fui recuperando a calma e atravessei a tenda até onde Thyme estava preso. Lhe murmurei um pedido de desculpas enquanto abria a gaiola com magia e também tentei segurá-lo e meus braços, mas em vez disso o filhote correu direto para a saída da tenda, miando em voz alta para me chamar. - Já vamos, eu preciso… - olhei para as outras criaturas, ainda presas. O cavalo alado estava curado, mas não podia ajudar a todos. Abrir as gaiolas e liberatá-los apenas causaria mais confusão e mais criaturas feridas. Ichirou também ainda pedia que eu o libertasse, mas só de olhar para o bruxo, sentia minhas mãos tremerem de raiva. Thyme me chamou mais uma vez, agora farejando o chão - Você achou ele?! - o amasso apenas miou em resposta. Apertei meus lábios juntos e decidindo no último segundo, corri até a gaiola de fadinhas, abrindo a porta depressa. Pelo menos essas conseguiriam voar e se esconder pelo parque sem chamar atenção dos trouxas. As fadinhas escaparam todas de uma vez como uma revoada de borboletas coloridas, ocupando toda a tenda. - Eu vou voltar para buscar vocês. - avisei as criaturas e com um aperto no coração escapei pela entrada da tenda, seguida pelos amassos e mais uma revoada de fadinhas. Joguei a varinha de Ichirou na direção das árvores, o mais longe que pude, e me afastei do circo correndo, deixando Thyme indicar o caminho enquanto farejava o seminviso.
***
O recobrar da minha consciência foi bastante estranho, principalmente porque os minutos finais de meu estado desperto me brindaram com momentos dignos de pesadelos. E para a minha infelicidade eu não havia sonhado aquilo. Sentia minhas botas arrastarem as pontas no chão de concreto e um forte cheiro de mofo e, ao me mexer um pouco toda dormência que estava sentindo, subitamente, se esvaiu. A dor em meus pulsos e braços me trouxe de volta ao estado de alerta, principalmente porque não conseguia mexê-los. Estavam acorrentados no teto por longas correntes. — Merda. — Forcei um pouco para me firmar no chão e aliviar a pressão nos pulsos, mas a altura que eu havia sido acorrentada era apenas o suficiente para que eu ficasse me equilibrando na ponta dos pés. Eu já começava a planejar uma forma de escapar, pensando que seria difícil subir pelas correntes até o teto para ver se havia uma forma de me soltar a partir de lá de cima, ao mesmo tempo que calculava a altura da queda do topo daquele, aparentemente, galpão até o chão, mas eu ouvi o som de cadeira arrastando, farfalhar de roupas e passos de alguém que se deslocava pelo ambiente. Logo um sonoro “Clack” se fez ouvir e uma luz brilhou bem acima de mim. Soltei um gemido por causa da sensibilidade em meus olhos. Não demorou para um homem se aproximar. — Finalmente acordou, gaijin. — Disse com uma voz de deboche. Naquela hora eu pude notar o cenário à volta e vi uma mesa com várias ferramentas, desde alicates e facas até agulhas e pedaços de madeira, além de cordas e tiras de couro. Franzi o cenho e voltei a olhá-lo com atenção. — Qual o seu nome? — Me perguntou e eu ponderei algumas coisas em minha mente antes de responder. Era óbvio que eu seria interrogada e informações seriam extraídas de mim a força, mas eu sabia, também, que as chances de eu ser executada ali logo depois de ser interrogada eram igualmente grandes, então... é, eu já estava perdida. Senti meu coração pesar com essa conclusão, então eu não entregaria porcaria alguma pra esse desgraçado, pois Freya ainda teria uma chance. — Vai se foder, seu merda. — Gritei, sentindo algumas lágrimas verterem de meus olhos e escorrerem pelas minhas bochechas. — Entendi... vai ser do jeito difícil, então.
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Eu ainda não acreditava no que havia acabado de acontecer. Parecia que uma eternidade se passou, mas na verdade só meia hora foi necessário para que eu não aguentasse mais e entregasse informações para eles, por mais que eu tivesse suplicado por uma morte rápida, meu torturador disse que não me mataria e que ainda estava com paciência o bastante para seguir com os seus jogos doentios. Não haviam muitos lugares do meu corpo que eu não sentia dor. Eu podia ver sangue escorrer do meu rosto até o chão. Eu estava exausta e ferida. Não tinha certeza de quanto tempo duraria ali. A voz do homem, então, me trouxe de volta à realidade com um susto. Uma parte de mim não queria reagir a ele. Já havia mostrado que estava em uma posição superior a mim, mas dentro de mim podia sentir uma vontade primitiva e irracional de matá-lo assim que saísse daquelas algemas, como se um Hyde estivesse ali, escondido em mim, apenas esperando o melhor momento para sair. — Obrigado por cooperar conosco, Srta. Woodward. Estamos muito gratos por nos ter entregue os detalhes da sua rápida viagem até aqui. Não o respondi. Ao invés de me exigir uma resposta ele girou nos calcanhares e começou a sair. Em seu lugar chegou outro homem, mais novo e aparentemente inexperiente. Notei que seus olhos tinham um misto de pena e empatia fingida. Certamente ele não gostaria de estar em meu lugar. As palavras de Priyanka vieram a minha mente: Eu precisaria ser ardilosa. Deixei que o choro viesse para fora e comecei a soluçar. Não havia sido difícil, tampouco precisei me concentrar para tal. Eu simplesmente parei de impedir que ele viesse à tona. O capanga novato se aproximou e tocou meu ombro. Algo dentro de mim sabia que ele me levaria para o descarte, mas algo também gritava que ele queria se fazer passar por bonzinho, principalmente por causa da sua expressão facial. — Eu vou soltar você, agora, tá bem? — Maneei a cabeça em positivo e levantei o rosto, o observando. — Logo vai parar de doer. Ele sacou um molho de chaves e colocou nas algemas e girou, liberando a trava. Meu braço despencou, dormente e, por alguns segundos, me vi pendurada apenas por um dos pulsos, o que me fez sentir mais dor. Ele me abraçou, sustentando meu peso e, então, soltou meu outro braço. — O-obri... gada. — O agradeci, escondendo meu rosto em seu pescoço. — Não se preocupe, tudo vai acabar em breve. — Ele me respondeu e senti sua mão deslizar pelas minhas costas. — Assim que eu também tiver o que eu quero... — Ele soltou uma risada baixa e pervertida. — Nunca peguei uma gaijin. Era isso, ser torturada e em seguida abusada pelo capanga novato antes de ser morta e descartada no fundo da baía. Eu não sabia quão ingênuo aquele cara era, ou se as garotas que passavam por aquele tipo de situação não costumavam revidar após uma sessão de tortura, mas eu ainda tinha coisas a fazer e algo dentro de mim não me deixava desistir. Era como uma raiva intensa e primordial. Quando sua mão deslizou por baixo da minha blusa, na parte das costas, enterrei meus dentes em seu pescoço com força e raiva. Sua pele rasgou como marshmellow macio e quando puxei senti um banho quente e viscoso me encharcar de cima a baixo. As roupas colaram em meu corpo e logo aquela sensação de calor deu lugar ao frio, ao passo que o sangue quente esfriava e coagulava em mim. O local ficou em silêncio após eu e ele cairmos ao chão como sacos de batatas. A única coisa que ainda podia ouvir era um gotejar distante, o som molhado do seu sangue espirrando para fora do seu corpo e o seu afogamento engasgado enquanto ele tentava respirar com a garganta rasgada. Aguardei longos segundos ali, no chão e imóvel, até que ele não se mexeu mais. Eu havia matado uma pessoa e eu tinha a certeza de que aquilo me assombraria para a vida inteira, mas também estaria morta se não o tivesse feito. Eu esperava que essa justificativa pudesse me acalmar a alma. Me pus de pé quando não senti meus braços formigarem mais e me aproximei da mesa, pegando um bisturi para me defender, just in case. Dei uma olhada nos piercings que ele havia arrancado do meu rosto e também os peguei, guardando tudo em meu bolso. Logo na porta de saída do galpão, ao lado, vi minha bolsa e a peguei. Dentro dela busquei o frasco de poção revigorante que o Sr. Hei-Ryung havia fabricado para mim. Bebi tudo em um gole e me senti melhor, imediatamente. Um pouco mais distante notei num ponto escuro do galpão uma espécie de área de planejamento e me aproximei. Ali haviam alguns documentos e pergaminhos, além da minha varinha repousada em cima da mesa. Rapidamente a peguei e acendi sua ponta com um “Lumus”. Era um mapa com um local circulado do provável ponto onde o Seminviso estaria. Juntei tudo com urgência, coloquei tudo na bolsa com o feitiço de expansão interna, e aparatei para o nosso ponto de chegada ali.
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Caminhei um pouco trôpega por entre os arbustos, durante a noite, e fui do nosso ponto de chegada até o circo e pude vê-la correndo com os nossos filhotes de amassos. Por algum motivo meu pequeno Thyme liderava o caminho e eu tinha a impressão de que estavam fugindo, então agi rapidamente. Aparatei até a frente deles, peguei Thyme, e toquei em Freya, que praticamente esbarrou em mim. Nos aparatei para um ponto um pouco mais distante, atrás de algumas árvores. Soltei meu filhote no chão e me afastei um pouco, umedecendo os lábios e soltando um gemidinho de dor. — Oi, Freya... — Saquei o pergaminho com o mapa e a localização provável do seminviso mapeada pela máfia que o vinha perseguindo a alguns dias. — Espero que tenha se dado melhor do que eu... — Tentei soar tranquila, aproveitando o efeito da poção revigorante, mas ainda sentia meu lábio cortado, as orelhas e nariz ardendo, um olho inchado e o sangue seco que inundava meu queixo e a frente da minha roupa até as pernas. — Tenho... boas notícias. — Estendi para ela o mapa e dei atenção para Thyme, que se esfregava em meu pé, ronronando pedindo por carinho.
***
O bosque estava tão escuro que mal enxergava meu caminho enquanto tentava seguir Thyme e dependia de Sage, que às vezes olhava para trás com seus olhos brilhantes, mostrando por onde deveria seguir. Tinha pressa em achar o seminviso ferido, sabendo que logo Ichirou seria encontrado e todos os funcionários do circo estariam atrás de mim. Estava tão preocupada com o que poderia estar atrás de mim, que só notei que não estávamos sozinhos quando esbarrei em alguém, que me segurou pelo ombro e imediatamente aparatou comigo. Antes mesmo de desaparatarmos, eu já estava tentando me libertar de quem quer que havia me segurado e quanto reaparecemos, alguns passos adiante, imediatamente me desvencilhei do estranho, pronta para enfeitiçar ou chutar quem quer que fosse necessário para me defender. Foi só quando ouvi meu nome que reconheci os cabelos claros refletindo a pouca luz que havia entre as árvores. - Aurea! - deixei escapar uma exclamação de alívio e surpresa e a segurei pela mão, puxando-a para que se abaixasse atrás de um arbusto comigo - Eu escapei - disse em voz baixa, ao mesmo tempo em que olhava ao redor, esperando ver mais alguém entre as árvores - mas acho que logo vão estar me procurando… O susto de encontrá-la só serviu para me deixar ainda mais nervosa. Sentia a urgência de partir o quanto antes e olhava ao nosso redor, ansiosa, enquanto sentia meu corpo todo tremer. Só então prestei atenção em Aurea, que me estendia um pergaminho, no escuro. Mesmo na pouca luz, consegui ver a silhueta do seu olho inchado e o corte onde deveria estar seu piercing… - O que aconteceu com você? - estreitei os olhos, tentando enxergar melhor e finalmente desisti - Lumos! - esquecendo toda a cautela, acendi a varinha para enxergar melhor o rosto da minha amiga e prendi a respiração ao vê-lo desfigurado. O corte no lábio parecia muito pior sob a luz e também havia um buraco sangrento, onde deveria estar seu piercing no nariz. Senti meu corpo todo ficar gelado e a cor deixou meu rosto ao perceber que alguém havia feito isso. A luz da varinha tremeu na minha mão enquanto eu notava o sangue meio seco, que descia pelo pescoço e se espalhava pela sua blusa - Esse sangue é seu? - perguntei, com a voz fraca. Apesar de todos os machucados, não via nenhum ferimento que justificasse tudo aquilo de sangue - Eu preciso levar você de volta. - decidi, de repente - Não, tem o seminviso… - apertei meus lábios juntos, indecisa. Também não podia deixá-lo para trás - Você consegue voltar sozinha?
***
Admito que era ótimo ver que a ruiva estava bem e, ainda que parecesse um pouco assustada, parecia bem. Quando estendi o mapa para ela e ela ativou o Lumus em sua varinha abri o mapa, mas notei que seus olhos não observavam os rabiscos no pergaminho e sim o meu rosto. — Não tá tão ruim quanto parece... — Ela me perguntou se o sangue era meu e eu negativei com a cabeça. Não dei muita abertura para continuar falando sobre aquilo e ela passou a divagar e se perguntar o que fazer naquela situação sozinha. A interrompi, quase dando uma ordem. — Vamos voltar quando estivermos com o nosso Seminviso. Não vou deixar você sozinha. Coloquei a mão na ponta de sua varinha e a abaixei para que ela focasse o mapa e, ao mesmo tempo, usei a palma para impedir que luz saísse por cima do arbusto em que estávamos escondidas. Mostrei para ela a área de busca que os traficantes de animais haviam rabiscado após muitas outras áreas de busca terem sido riscadas. — Eles me extraíram informação, Freya... — Comentei, depois de ter apontado para o mapa. — Não consegui manter segredo. Sabem que estamos aqui e o que estamos fazendo. — Engoli em seco e olhei para ela, vendo apenas sua silhueta. — E os traficantes de animais estão a caminho, mas não sabem que eu escapei. — Me inclinei um pouco para observar por trás do arbusto. Notei um homem ficando visível na curva da pequena estrada do parque, esbaforido. — Temos que ser rápidas. Me levantei e saltei para fora da moita, já sacando minha varinha e encantando o bisturi que havia pego na mesa de tortura alguns minutos atrás. Com um movimento rápido da varinha a lâmina voou como um projétil e cravou-se na coxa do perseguidor de Freya. Não precisava de muita análise para entender aquilo. Balancei a mão chamando O'Donnell enquanto o japonês gritava de dor e caía ao chão, e começamos a correr seguindo Thyme que, coincidência ou não, ia para a área rabiscada pelos traficantes no mapa. Enquanto corríamos perguntei para Freya. — Preparada para uma possível batalha? —Eu me sentia energizada pela poção Vigorosa do Sr. Hei-Ryung, mas sabia que quando o efeito passasse eu estaria fora de combate.
***
“Eles me extraíram informação”. Odiei como Aurea disse a frase, ainda pensando no corte horrível no seu lábio, com seus piercings faltando… Ainda tentava lidar com o que ela me contara, quando a bruxa saltou do nosso esconderijo para atacar um homem que surgia de entre as árvores e logo em seguida me fez sinal para segui-la. Não respondi quando Aurea me perguntou se eu estava pronta para uma batalha. Eu de forma alguma estava pronta para um conflito e em vez disso preferi continuar correndo o mais rápido que podia atrás dos amassos. Ouvindo que haviam mais pessoas atrás de nós, parei apenas por tempo o suficiente para agitar a varinha e apontá-la para o chão, fazendo mais vinhas e raízes crescerem entre nós e nossos perseguidores, fazendo o mais próximo tropeçar. Elas continuaram crescendo e crescendo, fechando o caminho atrás de nós. Continuamos correndo no escuro, com Aurea ao meu lado e os amassos logo a frente. Logo não ouvia mais ninguém no nosso encalço e achei que tínhamos conseguido criar alguma distância entre nós e seja lá quem estivesse nos procurando. Foi nesse momento que Thyme parou no lugar, olhando ao redor. - Onde ele está? - sussurrei para o amasso, ofegante - Thyme conseguiu farejar o seminviso, no circo. - disse para Aurea, enquanto também olhava de um lado para o outro, ansiosa. Esperava que Ichirou aparecesse a qualquer momento, pronto para se vingar de mim. Senti então um puxão na minha bolsa a tira colo que me fez dar um pulo no lugar, já puxando a varinha, pronta para me defender. Mas a forma que surgiu na escuridão não era humana: estava agachada junto ao chão, mas não deveria ser maior que uma criança. Tinha olhos grandes e tristes e era coberto de pelo branco que refletia fracamente a pouca luz que havia. E no momento em que eu mesma pulei no lugar, a criatura voltou a se tornar invisível e desapareceu. - Não, espera! Eu vim ajudar! - levei a mão à minha bolsa, que o seminviso conseguira abrir e tirei de dentro um dos frascos de poção cicatrizante - Era isso que você queria? - perguntei para o nada, esperando que a criatura ainda estivesse por perto. O seminviso apareceu de volta, estendendo a mão para o frasco de poções e consegui lhe dar um sorriso, por mais que meu coração batesse depressa e minha vontade fosse agarrar a criatura e fugir dali o quanto antes. Sabia que se o assustasse o bichinho desapareceria de volta e poderia cair nas mãos dos traficantes que não deveriam estar muito longe. - Você sabia que eu ia cuidar de você? - perguntei suavemente e me abaixei ao seu lado para examiná-lo de perto - Primeiro a gente precisa ir para um lugar seguro, tudo bem? - seu pelo estava mais cinzento do que branco, coberto de manchas de lama e também sangue. O pobrezinho mancava ao caminhar e segurava uma das mãos junto ao peito, sem mexê-la. Nesse momento, os dois amassos de repente se agitaram, atentos. Aurea puxou a varinha de volta, percebendo que nossos perseguidores se aproximavam. O seminviso congelou no lugar, fitando o vazio por um instante e então correu para os meus braços. - Hora de ir? - olhei para Aurea, nervosa. Segurando a criatura nos meus braços, corri para apanhar Sage, enquanto a outra mulher pegava Thyme. Dois bruxos surgiram a poucos passos de nós no mesmo momento em que ela puxava a chave de portal do seu bolso e a estendeu para que eu também a tocasse. Apertei as duas criaturas nos meus braços e toquei a chave de portal ao mesmo tempo que Aurea. Fechei os olhos quando senti o parque todo rodar ao nosso redor, seguido pela sensação de ser comprimida em todas as direções, enquanto desaparecíamos no ar.
***
Freya não me respondeu sobre estar preparada ou não e eu entendia o motivo, principalmente por conhecê-la bem o suficiente a ponto de saber que ela não devia ser boa em um combate. Ainda assim, com toda a sua insegurança, ela fez vinhas crescerem do chão, se misturando com raízes de árvores, que fizeram um dos nossos perseguidores tropeçarem e não demorou para ele ser coberto por elas. O caminho atrás de nós foi bloqueado, mas estávamos em uma praça, em um local bem aberto. Aquilo não seguraria eles por muito tempo. — Acha ele, Freya! — Gritei e saquei minha varinha. Meu coração batia forte, energizado pela poção de alguns minutos atrás. Eu sabia que qualquer trouxa que visse luzes emanando da praça poderia vir e assistir feitiços sendo trocados entre bruxos e, bem, eu não queria isso. Ainda que fosse tarde da noite aquele barulho chamaria atenção. Ergui minha varinha e murmurei dois Encantamentos, um depois do outro. Imber torrens consistia em manipular a umidade e temperatura, fazendo com que nuvens de chuva se formassem rapidamente na área entorno do conjurador. O segundo era Crios Leithlis e consistia em criar uma área de contenção para o feitiço Imber Torrens. A chuva assolaria toda a região, mas os seus raios só cairiam ali.Sorri quando os primeiros raios começaram a cair nos aparatos não-maji no topo dos prédios. Os circenses começaram a se aproximar com suas varinhas apontadas, mas eles talvez não fossem tão estudados na arte da magia como eu era. O primeiro feitiço foi lançado e um projetil brilhante e vermelho foi lançado em minha direção. Era, claramente, um "Expeliarmus" e eu só precisei conduzi-lo na direção de um bruxo que notei se esgueirar por trás de uma árvore. Era fácil ver através das vinhas de Freya, principalmente porque as luzes do circo faziam as suas silhuetas serem bem definidas. O feitiço o atingiu e ele perdeu a varinha. As gotas de chuva começavam a cair grossas em toda nossa volta, e talvez o seu barulho não me permitiu ouvir um dos nossos perseguidores me disparar um feitiço. Ele explodiu ao meu lado fazendo voar terra e pedras em todas as direções. Me senti ser arremessada para o lado tal qual uma boneca de pano. Bati meu ombro contra uma árvore e por sorte ainda conseguia mexer meu ombro. Por um momento eu mesma achei que o havia deslocado. Mais e mais deles começavam a se aproximar e foi nessa hora, quando eu já estava encharcada, que ergui minha varinha para o céu. — Riktad stråle! Imediatamente senti os pelos dos meus braços se eriçarem e os nossos perseguidores também se entreolharam nervosos. Não demorou para um raio cair próximo a um eles. Só tive tempo de proteger meus olhos para não ficar cega. Nossos perseguidores estavam todos deitados ao chão e eu, por fim, suspirei, correndo até onde Freya estava. Ela já segurava o Seminviso e eu sorri para os dois, uma cena que não deve ter sido bonita. — Vamos pra casa. — Busquei a chave de portal, um bottom escrito "I ♡ Animals" e a ativei, nos levando de volta para a ilha Bonnacord e saindo dali antes de mais pessoas chegarem.
em 2022-12-01
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Campos - Ilha Scamander - Arquipélago das Bermudas
A night so still, I dance, I soar
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Irwin Von Ziegler
O número de Magizoologistas havia crescido, depois de tantas idas e vindas da equipe parecia que agora as coisas podiam finalmente se ajeitar. Bom, era o que se esperava de uma Instituição como a Sic que era aberta e colaborativa com muitos governos e países, não representava apenas um lugar e sim o mundo mágico como um todo. Uma coisa que tinha notado era como as mulheres estavam dominando aquele ramo, quando se deu conta era o único homem de sua divisão e isso lhe deixava nervoso, pois nunca foi bom falando com mulheres. Só que ele também gostava de trabalhar com elas, eram bem organizadas coisa que sua dispraxia não lhe permitia muito bem. Irwin também sabia que estava ausente, questões levaram ele para fora da ilha por quase dois meses. Ser diretor era pesado, pois todos queriam a presença dele em alguma coisa e sua especialidade em criaturas perigosas também faziam ele ser requisitado para lidar especialmente com Nundus. Ele estava de volta a sua velha e boa ilha, só precisou de uns dias para organizar sua sala e agenda, sabendo que estava em falta com as duas últimas e morrendo de saudade das criaturas da ilha que tão alegremente cuidava. Alguns criaturas voltavam para a natureza, mas outras já não poderiam existir fora da ilha, quebradas, machucadas, traumatizadas pelos maus tratos de um trafico de criaturas. Por isso ele organizou um final de semana com as meninas, tinha projetos a anunciar e também era um momento de unir a equipe. Não suportava a ideia de trabalhar em um ambiente caótico ou com pessoas que nem se cumprimentavam. Enviou as cartas com o local e hora marcada, no pôr-do-sol da sexta feira, como assinava como diretor da divisão era quase que uma convocação. No terreno ele cuidou de montar estruturas com panos e lonas para ficarem debaixo deles, além de uma fogueira e bastante fruta e cereal, pois não achava correto consumir carne perto das criaturas. – Eu trouxe para vocês também! – Colocou umas frutas estranhas perto de dois tronquilhos que geralmente estavam com ele no escritório, ambas as criaturas foram resgatadas e uma delas a perna estava crescendo ainda. Faziam parte de um programa de aprimoramento genético desenvolvido por ele, que era sobre o que ele iria propor para a equipe. Sentou e esperou pelas mulheres.
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Aurea Woodward
Havia acabado de chegar nas cabanas de repouso da equipe da SIC, vinda dos estábulos de equinos mágicos e, bem, não vou descrever o que passei boa parte do dia fazendo, apenas direi que precisava de um banho urgentemente. Ao me aproximar da cama notei na janela, acima do bidê, uma coruja me observando. Era dia e eu soltei uma risadinha ao vê-la assim, tão de perto. Thyme, meu amasso, a observava deitado da minha cama. Rapidamente me aproximei da janela e abri o vidro, o que fez com que a coruja abrisse as asas levemente e piasse em represália. Desmarrei o pequeno pergaminho de sua pata e, assim que se viu livre, alçou voo. — Tchau, dona coruja! — Disse com um sorriso e li o conteúdo. — Olha, Thyme! Fomos convocados. Olhei para o gatinho mágico que deixava algumas lambidas cuidadosas em seu pelo e, ao me ver olhando-o, se deitou de barriga para cima, fazendo graça. Prontamente o peguei no colo, mas ele se desvencilhou e foi para o chão, obviamente sentindo o mau-cheiro. — Desculpa, acho que vou tomar um banho antes de irmos.
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Cerca de 40 minutos depois eu estava pronta e indo até o local combinado com o Diretor Irwing. Eu não tinha muitas informações sobre o motivo de estarmos indo até lá e nem se havia um código de vestimenta, então optei por um shorts jeans e a camiseta de mangas curtas amarela do SIC que eu fazia questão de usar muitos números acima do meu. Era quase um vestido. O calor do dia já começava a dar entrada ao ar mais fresco de uma noite ventosa que se aproximava. Quando cheguei lá vi o diretor Irwing com alguns tronquilhos, dando algumas frutas para eles. Haviam muitas frutas, na verdade, e eu deduzi que seria para os convidados. A estrutura montada me fazia crer que eu não era a única convocada. Thyme, ao ver a cena, desceu de meu ombro e eu me abaixei para falar com ele, mas para isso precisei segurá-lo e conduzir seu queixinho para cima afim de olhá-lo nos olhos. — Não vai longe e não me perde de vista. — Disse firme e Thyme miou estalado em resposta. Finalmente deixei que fosse fazer o que quisesse fazer. Caminhei até onde o diretor estava, com passos apressados, e parei próxima, com as mãos para trás. — Boa noite Sr. Ziegler! — Sorri um pouco nervosa. — Bem-vindo de volta à ilha! Eu sou Aurea e sou Magizoologista em treinamento novata. — Estiquei a mão para cumprimentá-lo. — Prazer em conhecê-lo! Eu havia sido informada diversas vezes e por diversas pessoas que o diretor Irwing era alguém muito requisitado fora da ilha por causa da sua formação e especialização, então provavelmente aquele era um evento para que ele se apresentasse novamente à sua equipe. Um ato que eu achava bastante fofo e saudável para uma equipe trabalhar.
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Jo Hei-Ryung
Trabalhar sozinha era uma das maiores facilidades pra Jo. Gostava de tomar decisões quando e como quisesse, agir dentro dos próprios termos e elencar prioridades de acordo com aquilo que ela (e somente ela) achava necessário. Mas quando decidiu tentar uma vaga na SICPVM, permanecer em sua zona de conforto não era meta. Ali, havia uma equipe. Um Presidente, um Diretor de Divisão e algumas funcionárias em treinamento. Haviam decisões colaborativas e estratégias coletivas, nada poderia ou teria como ser só. - Mas justo na minha folga? Merda. - Amassou a carta que recebera de Irwin dois dias atrás. Estava atrás de alguma possível desculpa que pudesse dar para faltar a reunião proposta, mas não haviam motivos plausíveis disponíveis. Sua única saída era comparecer em o que quer que o homem estivesse planejando. Sem pressa, decidiu que esperaria o momento certo para estar atrasada e só então começar a se arrumar. Gostava de se vestir bem. Um dos seus maiores interesses fora do mundo bruxo era moda e estilo pessoal, então (apesar de não estar em um ambiente tão qualificado assim) a mulher montou um look básico com peças escuras. Uma bota de cano alto que cobria boa parte de sua perna, um espartilho de poliéster branco com uma saia jeans e um blazer longo e preto. Prendeu o cabelo em um rabo de cavalo alto, deixando as argolas a mostra. E após uma última conferida no visual, Jo aparatou em direção ao encontro. Por mais que quisesse, não foi a última a chegar. Quando seus pés voltaram a tocar o chão, ela notou que apenas Aurea e Irwin estavam presentes. E por mais que o homem fosse seu chefe, ela havia conversado bem mais com a estagiária. Se aproximou cautelosamente, com um largo (e forçado) sorriso no rosto. - Eai chefinho, raramente te vejo! - Não gostava muito de ser mais velha do que o homem que chamava de chefe. Acenou para a loira ao seu lado, Aurea, se limitando a um cumprimento sério. A estrutura montada sugeria que a intenção do encontro era informal. Mas Jo não sabia bem o que esperar.
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Freya O'Donnell
A rotina do meu trabalho na SIC exigia que eu usasse shorts ou calças e os cabelos sempre presos, então fiquei feliz pela chance de finalmente poder vestir como eu mesma. Tinha os cabelos soltos, enfeitados com uma única flor natural do arquipélago e usava um vestido leve e claro de estampa florida. Mesmo assim, ainda vestia minhas botas apra andar tranquilamente pelo grama do alto dos campos da ilha. Encontrei o grupo de magizoologistas conversando animadamente numa área elevada do campo, reunidos ao redor de uma fogueira. Sage, o amasso, que vinha colado nos meus calcanhares, farejou o ar e olhou para mim, ansioso, ao ver que seu irmão estava ali. - Pode ir dar oi pro Thyme. Não vão longe! - mas o amasso saio correndo assim que entendeu que estava dispensado de seu trabalho. Assisti enquanto os dois filhotes se encontraram e imediatamente começaram a brincar e então me dirigi ao grupo de humanos. - Boa noite! Irwin, obrigada pelo convite! Jo, tudo bem? Aurea, viu que os "meninos" já se encontraram? - e apontei rindo para os dois filhotes de amasso, que brincavam de briga não muito longe de nós.
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Irwin Von Ziegler
Claro que tinha um Amasso, todos que seguiam naquele ramo de trabalho deveriam ao menos amar criaturas mágicas, não era atoa que a maioria tinha um ou muitas criaturas mágicas. A jovem apareceu com um amasso consigo, fazendo até os tronquilhos se assustarem, visto que facilmente eram alvos de criaturas maiores. – Vandinho e Egor, não se preocupem, aqui todos somos amigos! – Delicadamente afastou Egor de seus dedos quando esse o segurou com suas longas e finas mãos. Irwin estava ali tentando socializar as criaturas um pouco mais, visto que eram demasiadamente apegados ao diretor, mas nem sempre ele estava por perto. Von Ziegler ficou em pé para cumprimentar a moça de maneira mais cortês possível! – Olá senhorita Woodward, sinto muito não estar presente em sua chegada, mas espero que esteja bem instalada! – Expressou os seus mais sinceros votos a novata, logo em seguida a Magizoologista veterana apareceu, eles não eram exatamente amigos e esperava que pudesse mudar isso. – Hei-Ryung, que bom que se juntou a nós! Uhum, não pensei que ficaria mais que uma semana na Rússia, mas vamos colocar tudo em dia agora que retornei! – Gaguejou um pouco no final, para quem tinha Dispraxia era uma perturbação falar com muitas pessoas, pois a gagueira atacava. Sentou-se e apontou para elas ficarem a vontade em relação a comida, mas sua atenção foi para a garota do cabelo de fogo, a pobrezinha tinha sofrido um acidente logo que entrou e ele ainda ficava preocupado. – O'Donnell, parece ótima! – Pontuou, a divisão de poções e herbologia ainda estavam trabalhando com o veneno de Rana, por esse motivo considerava a menina um milagre pois não tinha consequências aparente. Com a chegada de mais um Amasso Egor se jogou novamente nas mãos de Irwin que daquela vez o segurou com as duas mãos, já que Egor era o que não tinha uma perna. – Não queria que isso fosse uma reunião de trabalho, mas gostaria de saber como estão, sobre projetos e tudo o mais enquanto estive fora! – Comentou depois todas parecerem acomodadas. – Não se preocupem, isso não é uma avaliação de rendimento. Na verdade, temos uma ilha tão linda e passamos grande parte ocupados ou dentro de laboratórios. Acredito que temos ter momentos para aproveitar a paisagem não acham? – Sorriu, Irwin não era muito sério e era um tanto desajeitado, as mulheres estavam tão arrumadas e bonitas que se sentiu mal em continuar com o sobretudo bege que tinha mais remendo que outra coisa, mas havia uma história muito especial por detrás daquilo. – Minha real intenção é que possamos trabalhar como uma divisão de verdade, unidos e ao mesmo tempo independentes! –Irwin era um pesquisador nato, por seu primeiro trabalho como escritor e redator de jornal, gostava muito de relatar as coisas, por isso incentivava que todo membro da divisão estivesse inserido em um projeto particular ou em grupo. Dei abertura para elas falarem, enquanto pegava uma pera e comia despretensiosamente.
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Aurea Woodward
Apertamos as mãos e pude fazer uma rápida leitura, um pouco genérica, do homem à minha frente apenas pela posição que ele se mantinha e da forma como havia me cumprimentado. Sua postura era retraída, o que poderia dizer que ele não gostava muito de atenção direcionada a ele. No fim eu entendia que ele amava animais, como cada um de nós que havia escolhido aquela profissão mas talvez, para o senhor Von Ziegler, a companhia dos animaizinhos fantásticos era a mais confortável. Muito cortês e educado, usando sempre de um tom calmo e baixo na voz, não me parecia ser um homem imperativo. — Não sinta, Sr Von Ziegler! — Sorri mais largo para ele. Era adorável, no fim das contas. — Tenho certeza de que você estava com quem precisava da sua atenção mais do que eu! — Lancei um olhar por cima do ombro, notando Freya vindo ao longe e dando alguma ordem para Sage. Me aproximei um pouco de Irwin, como se fosse contar um segredo. — Tive uma ótima guia no primeiro dia. Me virei de frente para Freya, me posicionando ao lado do diretor, mas quem apareceu antes, do nada, foi a senhora Hei-Ryung, fazendo a grama balançar com o deslocamento de ar da aparatagem. Ela estava com uma vestimenta social que lhe caía divinamente bem e lhe dava um ar de respeito e imponência, além de contrastar com o ambiente natural em que estávamos. Era algo que nem que Irwin e eu quiséssemos, juntos, conseguiríamos superar: a sua imponência. Para um observador desatento, Senhora Jo era a nossa superior. Engoli em seco com a sua aproximação e ela cumprimentou o Diretor. Em seguida apenas me deu um aceno de cabeça, o qual respondi rapidamente, com um sorrisinho. — Oi senhora Hei-Ryung. — Disse baixinho. A sua presença havia abafado a minha voz, mas quando ouvi as informações de onde o senhor Von Ziegler estava, acabei por reptir. — Rússia?! E então Freya finalmente se aproximou. Ela estava radiante, como sempre costumava estar. Embora a sua vestimenta fosse simples ela assentava bem no seu corpo e com a sua palheta de cores. Até mesmo a flor colocada entre os fios cor de cobre parecia expressar o seu estado de espírito. Acabei observando minha própria vestimenta e pensei: "Eu me visto mal, puxa vida." — Ah, sim! Eu vi você chegando! — Abri um largo sorriso, apontando para os gatinhos que brincavam de "lutinha" por entre a relva. Quando ela se aproximou me posicionei ao seu lado e não consegui evitar me inclinar um pouco para frente, observando a senhora Hei-Ryung. Seus olhos afiados observavam Irwin como se esperassem por suas palavras e que fossem objetivas. Eu tinha muito essa impressão, de que a sua expressão era muito afiada e que seus olhos, principalmente seus olhos, nos colocavam uma pressão descomunal. — Ahm... — Quando o Sr. Von Ziegler perguntou sobre nossos projetos eu simplesmente não tinha um. Só queria aprender o máximo possível. — Até então estou aprendendo o básico. Entendendo como as coisas funcionam aqui. O calor e o sol têm sido meus piores inimigos, por enquanto. — Ri, nervosamente. — Como projeto pessoal, eu quero conhecer os cantos dessa ilha e todos das equipes, saber o que fazem e como trabalham... e não menos importante: os animais. — Disse, olhando com um sorriso fraterno para os tronquilhos que comiam frutinhas. — Afinal, os que nós trazemos aqui são nossos hóspedes e os que já estavam aqui são nossos anfitriões, e eu não quero desrespeitar nossos anfitriões em sua própria casa.
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Jo Hei-Ryung
- Oi Freya, amei o vestido! Super combina contigo. - Jo com toda certeza havia odiado completamente o vestido florido que mais parecia ser de uma garota de cinco anos de idade do que de uma mulher, mas tentou não soar tão sarcástica a ponto de fazer a garota ruiva perceber. Não era novidade que os Magizoologistas ali presentes estivessem com criaturas de pequeno porte, que carregavam para cima e para baixo como animais de estimação. Hei-Ryung, entretanto, estava sozinha. Era contra a ideia de ser dona de alguma criatura, então não pode evitar olhares tortos para os Amassos e Tronquilhos que os colegas de equipe carregavam consigo. - Não sei se sobrou alguma coisa pra colocar em dia chefinho, mas que bom que estendeu suas... Férias, por lá. - Sorriu ao falar. No período em que Irwin ficou fora, Jo havia trabalhado incansavelmente, tentando organizar cada uma das pendências possíveis. Não gostava muito de deixar coisas pra depois, e já que ela era a única responsável pelo Departamento na ausência do Diretor... Ou era isso, ou era deixar com que as Aprendizes continuassem limpando fezes de cavalos alados. E condenar mulheres a trabalhos pequenos não era algo que Jo aprovava, ou se orgulhava de fazer parte. - Aurea... Oi. - Evitou qualquer outro tipo de contato além do básico cumprimento. Não gostava muito da maneira com a qual a loira lhe olhava, então evita-la era a melhor solução. Jo estava fora da ilha quando Aurea chegou e não teve grandes oportunidades de conhece-la minimamente, talvez aquela fosse a chance de quebrar a distância que ainda existia entre as duas. Mas um pressentimento estranho lhe perseguia sempre que a encontrava. E Hei-Ryung não era de esconder ou não dar ouvidos aquilo que sentia. Mordeu uma das maçãs disponíveis entre as opções de lanche. Não pode deixar de notar que Irwin não havia disponibilizado nenhum tipo de carne, e mentalmente lhe agradeceu por isso. Afinal, eram Magizoologistas por um motivo. Mas já que não sabia bem se os cereais disponíveis tinham traços de origem animal, uma das frutas lhe pareceu a melhor opção. Jo permaneceu em silêncio, deixando que as mais novas falassem. Não era assim tão sociável, então preferia apenas sorrir e acenar do que engajar em conversas. Mas como não pode ficar em silêncio por muito tempo, respondeu Irwin tentando parecer minimamente amigável. - Eu to bem, Irwin. Não sei se lembra, mas tenho aquele projeto pessoal de rastrear pontos de tráfico internacional de criaturas. Fiquei bem focada nisso nesses últimos tempos, consegui alguns contatos e obtive algumas denúncias importantes... Por sorte fechamos um Circo Mágico recentemente na Irlanda, e acolhemos os bichinhos. - Irwin usava um sobretudo cheio de remendos, que Jo não deixou de reparar. Gaguejava ao falar e permanecia constantemente retraído, como se estivesse completamente envergonhado por estar ali ou falar com as meninas da equipe. A mulher permaneceu mordendo sua maçã, certa de que seria uma Diretora de divisão muito mais assertiva.
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Freya O'Donnell
Só notei os tronquilhos quando um deles correu para se esconder dos amassos. Abri um sorriso para as duas pequenas criaturas. - Não se preocupem, estou treinando o Sage para respeitar outras criaturas. A não ser que elas tentem me fazer mal. - disse para os tronquilhos, mas esperando que Irwin também me ouvisse e ficasse tranquilo que seus protegidos estavam seguros. As outras duas bruxas contaram brevemente sobre seus trabalhos e ambições, mas quando chegou a minha vez de falar, não soube bem o que responder. Havia passado os últimos tempos conhecendo as criaturas do arquipélago, mas a surpresa dos bebês amassos tinha me distraído do trabalho por um tempo... - Eu realmente prefiro passar mais tempo fora da sede principal. Encontrei algumas criaturas bem interessantes pelo arquipélago, incluindo os amassos... - indiquei os filhotes, que brincavam não muito longe - Eles nasceram em uma cabana da ilha, mas a mãe não voltou mais para cuidar deles. Por sorte consegui encontrar novas famílias para todos e Sage ficou tão apegado a mim que estou treinando ele para me ajudar no trabalho. - pensei por um segundo - Foi muito gratificante cuidar dos filhotinhos e ver eles crescendo saudáveis, mesmo tendo perdido a mãe. Espero poder fazer mais disso no futuro. - concluí, com a voz cheia de emoção. - E o senhor, como foi de viagem? - perguntei, sentido que todas tivemos a chance de falar um pouco sobre o trabalho e também queria saber o que Irwin tinha para contar.
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Irwin Von Ziegler
Ouvir o que elas tinham para falar era algo que todo líder deveria fazer, o jovem Ziegler queria ficar por dentro das últimas novidades também, pois parecia que seu tempo ausente tinha afastado ele dos demais membros e isso podia ser ruim para o trabalho em equipe. As mulheres estavam bem, pelo menos a Jo parecia estar em um projeto sólido e muito benéfico para a sociedade. O número de criaturas maltratadas havia aumentado desde a guerra na Grã-Bretanha, visto que fizeram muitos aprimoramentos genéticos. – Eu estive fora e isso também abriu minha mente quanto a criaturas mágicas! – Iniciou ele em um tom mais sério do que geralmente ele falava, sua gagueira já estava controlada.  – O que notei é que muitas vezes estamos vendo as criaturas apenas como guardiões delas, protegendo de tráfico, curando, observando. Nossa intervenção com elas no âmbito veterinário ocorre pouco. Até porque muitos desgostam de pesquisas genéticas. – Ele fez uma pausa e segurou um dos tronquilhos na mão e mostrou a parte danificada dele. Algo que fez a criatura ter certa vergonha.  – Só que a genética deve ser algo nosso. Souberam que durante a guerra da Grã-Bretanha modificaram as Acromântulas? Os trouxas pegaram e combinaram Dna as modificando para terem de 8 a 16 patas. Com lâminas em suas articulações? – Ele fez carinho no tronquilhos o colocando sobre o ombro de novo. Era um assunto que havia o perturbado profundamente.  – Isso me assombrou por muitas noites, como os humanos sozinhos tem mais conhecimento genético que nós magizoologistas? Estudo, ciência e pesquisa! – Pontuou. Obviamente ele sabia que haviam bruxos nesses projetos, mas ainda assim eles podiam ser mais e usar mais coisas em favor das criaturas. Adaptação de clima, reconstrução celular, melhoramento de habilidades particulares. Criação sintética para evitar a caça predatória indiscriminada. – Eles tiveram coragem de entrar em um campo que nosso pudor impediu! Mas vamos continuar perdendo para trouxas? Não, eu não quero pensar em quantas combinações e modificações genéticas eles conseguem fazer atualmente. Além do tráfico entre bruxos, temos agora que ficar atentos aos trouxas – Suspirou fundo cansado, era um assunto que realmente sugava sua energia. – Queria as convidar para um projeto pessoal sobre genética de reconstrução das criaturas! – Sorriu meio sem jeito e olhou para cada uma delas.
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Aurea Woodward
Ouvi atentamente cada uma das minhas colegas mencionar suas ambições e projetos pessoais, seja o simples ato de se manter em contato com os animaizinhos e cuidar deles, como aspirava Freya, ou a complexa tarefa de rastrear circos e investigá-los para impedir maus tratos para com os animais mágicos. Eu ainda me sentia uma novata ali, mas esperava que com o passar do tempo também desenvolvesse meus próprios projetos. Em seguida ouvi o diretor Irwin falar sobre as guerras que ocorreram na Grã-Bretanha e sobre as atrocidades biológicas realizadas pelos trouxas nas criaturas mágicas. Acromântulas com 8 a 16 pernas? Eu já achava aquilo assustador o suficiente antes dele mencionar lâminas. Eu entendia a vontade dos não-maji de brincarem de Deus, mas aquilo, para mim, havia atingido outro patamar. — Entendo perfeitamente, Sr. Von Ziegler. — Comentei quando ele disse ter ficado assombrado. Eu entendia a indignação de Irwin e tinha minhas próprias opiniões sobre o avanço da ciência não-maji com as criaturas em comparação à nossa. Os trouxas não dispõem da magia para facilitar seu dia-a-dia e para isso precisam compensar com a tecnologia e o seu avanço constante. E quanto nós, bruxos e bruxas, ficamos obsoletos com práticas que funcionavam muito que bem, mas o cenário havia mudado. A principal prática para aprender sobre algo é desmontar esse algo. No ramo da biologia você precisa matar para entender. Dissecar, muitas vezes com o objeto de estudo, para não dizer vítima, ainda vivo. É uma prática dolorosa e considerada antiética, mas trazia resultados. Pinos de platina na medicina trouxa, com o intuito de fortificar ossos enfraquecidos, só foram possíveis por causa das práticas grotescas e inumanas dos Nazistas. — Bem... — Olhei para minhas colegas, um pouco insegura. — Eu acho a ideia válida, Sr. Von Ziegler, mas uma falha no geneticismo pode significar uma vida desperdiçada. — Engoli em seco, um tanto receosa. — Mas a gente não pode ficar esperando os não-maji destruirem tudo com a sua ganância. Eu to dentro, se minhas colegas também estiverem ok com isso. Eu sabia que Freya era ingênua e inocente, e odiaria ver a morte de uma criaturinha mágica tão inocente quanto ela mesma, e que Jo, por mais que tivesse a pose de mulher forte e inabalável, não suportava maus tratos e eu entendia que animais poderiam sofrer com o nosso avanço prático. Era uma faca de dois gumes e eu esperava não estar apontando-a para minha própria barriga.
em 2022-11-19
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Hogsmeade - Casa de Chá Madame Puddifoot
Maybe you are searching among the branches, for what only appears in the roots
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Aurea Woodward
Em questão de segundos havíamos aparatado do arquipélago das Bermudas e aparecido na frente da Casa de Chá Madame Puddifoot, o local que a senhora Jo havia me indicado enquanto eu esperava por Freya na recepção da Ilha Bonaccord. A magizoologista havia me dito que a pessoa que deveríamos procurar era a professora Priyanka, uma indiana que havia estudado com ela em Mahoutokoro e, além de nos ajudar com previsões, teria contatos no leste asiático para encontrar o circo e a área de fuga do Seminviso. — Você está bem, Freya? — Perguntei e, assim que ela respondeu, olhei para Thyme. — E você, meu Macinho? — Em resposta recebi um miado rouquinho com um misto de ronronado. Após me certificar de que todos estavam bem após a aparatagem, principalmente os pets, me dirigi até a porta de madeira pesada, abrindo-a e sendo recebida pelo ambiente climatizado agradável e o cheiro inconfundível de chá. Caminhei junto da ruiva por entre as mesas ocupadas à procura de Priyanka de acordo com as descrições que a senhora Jo nos havia passado, mas parece que ela ainda não estava ali. Lancei um olhar preocupado para Freya, mas imaginei que haveria um bom motivo para ela ainda não estar nos esperando ali, afinal, ela era docente em Hogwarts e devia ter seu próprio cronograma. Puxei uma cadeira e me sentei em uma das mesas. Thyme zanzava pelos meus pés, olhando a tudo e a todos. Parecia mais preocupado em averiguar o ambiente do que aquietar o facho. A garçonete se aproximou e tomou um pequeno susto com o nariz gelado do amasso em seu tornozelo. Acabei por rir da situação. — Eu vou querer um chá preto, por favor. — Olhei para Freya, apoiando a bochecha em minha mão e o cotovelo na mesa. — Vai querer alguma coisa, ruiva? — Perguntei, descontraída, hora ou outra observando a porta de entrada.
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Freya O'DOnnell
Olhei ao redor, meio confusa quando desaparatamos. Esperava um lugar completamente, mas logo notei que estávamos na casa de chá em Hogsmeade. O lugar não estava tão cheio, pois era meio da semana e a maior parte da clientela eram alunos de Hogwarts em busca de um lugar romântico para seus encontros. Lembrei que eu mesma já estivera ali naquela situação, apesar de na época não saber que era por isso que os alunos de Hogwarts gostavam tanto de frequentar o estabelecimento. Senti meu rosto esquentar lembrando da ocasião, quando Sage se mexeu no meu braço, tentando se libertar. - Ah, desculpa. - abri os braços e deixei que o filhote de amasso fosse para o chão - Fique comigo, tá bem? Segui Aurea para uma das mesas e sentei com ela, com Sage sempre colado nos meus calcanhares. Fiz um carinho no alto da cabeça do amasso e dei uma olhada ao redor, procurando por Priyanka, mas não a encontrei. - Ah. Vou querer... como era mesmo? - baixei os olhos para o cardápio e logo voltei a olhar para a garçonete com um sorriso - Frutas e especiarias. - A Priyanka já era professora em Hogwarts quando estudava lá. Mas nunca cheguei a ter aulas com ela. - disse, pensativa.
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Priyanka M. Bhatt
Tomou o último gole de chá assim que observou as duas meninas entrarem. Sentada em uma das mesas nos fundos da loja, a mulher estava bem camuflada entre os outros clientes. Nos últimos meses Priyanka mal havia conseguido deixar Hogwarts. Mas agora que Jo (uma das suas amigas mais antigas) havia lhe pedindo um grande favor, ela não pode evitar a não ser escapar para Hogsmeade junto de alguns alunos mais velhos e poder auxiliar na missão da SICPVM. Um arrepio leve lhe percorreu por toda espinha no instante em que Freya se aproximou, acompanhada por uma loira até então desconhecida. Permaneceu em silêncio, observando ambas realizarem seus pedidos. Pelo pouco que havia conseguido falar com Jo, Priyanka sabia que ambas estavam rastreando mais um dos animais feridos deixados pela trajetória em que o Circo Hei-Ryung passou. Saber de sua volta a ativa era como receber uma adaga profunda em seu peito. Uma de suas prioridades a partir de agora seria permanecer alerta as atividades de exploração animal. Cobriu a cabeça com o véu e se levantou, logo após a garçonete entregar para as meninas o que quer que haviam pedido. - Você cresceu. Sua aura brilha mais forte. - Puxou uma cadeira das mesas próximas e se sentou ao lado de Freya, abrindo um largo sorriso a garota - que já conhecia, mas que nunca fora sua aluna. Descobriu o rosto antes de falar com a loira. - E você... - Havia algo de errado com a loira. Priyanka pode sentir, com um aperto no peito. - Sangue e guerra. Vermelho... Vermelho com certeza é sua cor Aurea. - Sua voz assumiu o tom profundo e aveludado de toda vez que um pressentimento como aquele vinha. Precisou de alguns segundos antes de continuar. - Jo me explicou um pouco da missão de vocês. É sobre o circo, não é? Um Seminviso ferido... No que posso ajudar? - Jo havia deixado claro que precisaria de ajuda para levar as meninas até as proximidades do circo. Mas antes, Priyanka esperava por mais detalhes.
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Aurea Woodward
Observei a ruiva fazer o seu pedido com um sorriso simpático no rosto e me perguntava o que se passava em sua cabeça. Ela parecia um pouco insegura com a nossa viagem, principalmente pela forma como chegamos ali. Ela parecia agarrada ao seu Amasso como se ele fosse uma pelúcia. Por alguns segundos eu temi pela vida de Sage. Volta e meia observava a porta e me perdia em pensamentos ainda confusos e incertos sobre nossa missão, até que a voz de Freya me trouxe de volta. — Ah, mesmo? — Franzi o cenho fazendo as contas. Ser amiga da Jo e ter estudado com ela me fazia imaginar que ela teria a mesma idade, talvez. Descontando da idade de Freya, de quando entrou... — Ela deve ser inteligente. Ser contratada para lecionar em uma escola bem conceituada como Hogwarts com tão pouca idade... Não cheguei a completar minha frase, pois dessa vez quem se assustou fui eu com alguém parando ao lado de nossa mesa. Suas roupas eram lindas e com cores vibrantes ornamentadas com dourado e, por vezes, tilintavam. E a sua voz era calma e macia, de certa forma exotérica, como a voz de alguém que passou por muitas meditações. Era uma presença difícil de esquecer, de fato. Falou algo sobre a aura de Freya e eu achei bastante bonitinho, pois eu tinha esse sentimento, também, quando estava próxima dela. Não que eu enxergasse alguma coisa, mas me sentia bem com a bondade da ruiva. Naquela altura da conversa eu já havia deduzido que aquela era a professora Priyanka. E quando se sentou e removeu o véu, pude notar toda a sua compleição: pequena, pele cor de amêndoa um pouco pálida devido ao clima frio do seu local de trabalho. Bonita. Seus olhos castanhos escuros se vidraram em mim e as suas palavras tinham outra entonação, agora. Era um tom baixo e profundo, quase como se não fosse dela... E as palavras me causaram um arrepio na espinha. Quando ela, subitamente, mudou o assunto para a nossa missão. Me peguei por alguns segundos de queixo caído, observando-a quase em transe e tentando entender o que ela havia previsto. Previsão era uma faculdade mágica que eu respeitava, não entendia, e temia. Nunca tive o mínimo dom para aquilo e talvez por isso me sentia tão fascinada com aquelas dúzias de palavras. — Ah... a missão... é. — Pisquei algumas vezes e desviei o olhar para Freya, em seguida, para a professora Priyanka, agora sorrindo um pouco mais. — Nós temos que ir até o japão. O tempo é crucial e não podemos nos dar ao luxo de viajar de forma segura... nem de estrunchar. — Dei um sorriso amarelo, afinal aquelas eram informações ruins. — Jo falou muito bem de você e que poderia nos ajudar com algum contato ou com alguma forma de pegar o Seminviso, já que eles têm uma certa capacidade de previsão, também. — Olhei para Freya, com um pedido de ajuda no olhar, caso estivesse esquecendo de mais alguma informação.
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Freya O'Donnell
- Prof- digo Priyanka! - exclamei, ao ver a bruxa se aproximar e sentar ao meu lado, deliciada por encontrar pessoas de Hogwarts mesmo quando não frequentava mais o castelo. Dei uma olhada curiosa em Aurea quando a docente comentou sobre sua aura: obviamente não consegui ver nada, mas concordei com a cabeça. Vermelho parecia uma boa cor para Aurea, seja lá o que isso quisesse dizer. Logo o assunto mudou para a nossa missão e Aurea passou as informações que tínhamos. Escutei minha colega passar suas informações enquanto bebericava meu chá pensativa. - Essa é uma boa pergunta, como que a gente pega de surpresa alguém que já sabe o que vai acontecer? - olhei para Priyanka antes de soltar um suspiro triste - E o coitadinho deve estar machucado e bem assustado, vai ser difícil dele confiar na gente. Precisamos capturar um uma vez, em Hogwarts. Mas aquele era saudável e bem cuidado e não machucado e desconfiado de humanos como esse deve ser. - E antes de tudo isso, precisamos encontrar o circo. A Jo tinha só uma localização aproximada, não? - mais uma vez, olhei para as duas bruxas em busca de apoio. Memorizar informações não era meu ponto forte, ainda mais quando estava focada em alguma outra coisa, no caso estava preocupada com o pobre Seminviso.
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Priyanka M. Bhatt
Endireitou a coluna e permaneceu atenta aos comentários e questionamentos de Freya e Aurea. Priyanka sabia bem que não entendia muito de criaturas mágicas, mas não conseguia negar a importância de encontrar logo o Seminviso e garantir a segurança do animal. As informações que Jo havia lhe passado mais cedo foram apressadas e um tanto incompletas. Lembrava, e muito bem, que a amiga da escola vivia com anotações e mapas mentais que a ajudavam e muito no dia a dia. - Hm... Por acaso Jo deu algum pergaminho a vocês? Eu não sou a melhor das pessoas pra falar de criaturas mágicas, mas acho que sei como localizar o circo. - Aquele era mais um palpite do que uma previsão de fato. Priyanka retirou das vestes um baralho cigano, que havia preparado especialmente para auxiliar na tarefa. Espalhou as cartas na mesa, todas viradas para baixo, e encarou as meninas. - Escolham uma carta, por favor... - Respirou fundo, contente por poder revisitar as cartas que a acompanhavam desde pequena.
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Aurea Woodward
Freya seguiu com as indagações sobre nossa missão e Priyanka parecia prestar atenção em nós, como se avaliasse de forma lógica e me perguntei se previsões funcionava com algum nível de lógica. Quão livres estávamos para seguir nosso próprio caminho? Ou será que nossos caminhos já estavam traçados e por isso que as previsões existiam? Será que previsões apresentavam uma possibilidade futura sólida? Se nos fossem apresentadas uma certa quantidade de informações, poderia Priyanka manipular a forma como a nossa história se desenrolaria? E então a professora perguntou sobre o pergaminho e eu lembrei do documento que Jo havia nos entregue. Prontamente abri a mochila enquanto ouvia Priyanka espalhando cartas sobre a mesa e pedindo para que nós escolhêssemos uma cara. — Uma carta? — Franzi o cenho, colocando o pergaminho ao lado da mesa, ao alcance da professora. Olhei para Freya com um sorrisinho animado. — Pra mim eu acho que... essa. Apontei uma carta no canto da esquerda de Prianka, mas não sendo uma das primeiras da fila. Deixei que ela continuasse com a sua previsão e que Freya escolhesse a sua carta enquanto abria o pergaminho e colocava em minha frente da mesa, virado de frente para as duas garotas à minha frente, para que elas pudessem ver o conteúdo do pergaminho, mas sem atrapalhar o jogo de cartas de previsão de Priyanka. — Foi isso que a Jo nos deu.
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Freya O'Donnell
Observei enquanto Aurea entregava o pergaminho de Jo para Priyanka, mas minha atenção se desviou quando vi a bruxa mais velha espalhar seu baralho na mesa, com as cartas viradas para baixo. Por um momento esqueci até do Seminviso, animada para ver Priyanka em "ação". Corri meu indicador acima das cartas, mas tem tocá-las, até parar em uma mais à direita, perto do centro. - Essa aqui. - sussurrei, apontando para a carta, sem conter um sorriso animado. Tinha assistido a algumas aulas de adivinhação no meu último ano de Hogwarts e, apesar de ter me divertido muito, não tinha mais praticado. E era muito diferente ouvir as previsões de uma bruxa experiente como Priyanka, em vez das tentativas desajeitadas de um monte de adolescentes em treinamento. Observei a professora com atenção, na esperança de aprender alguma coisa enquanto a via fazer sua leitura.
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Priyanka M. Bhatt
Priyanka ficou séria. Fechou os olhos por alguns segundos e permitiu que todos os seus sentidos entrassem em contato com o etéreo. Ela já tinha informações o suficiente, e preencheria as possíveis lacunas com o que o baralho cigano apontasse. Aurea foi a primeira a escolher, apontando para uma carta entre as primeiras da fila. Já Freya pode escolher logo em seguida. - Obrigada pela escolha meninas. - A professora separou as duas cartas escolhidas e reuniu as restantes em um monte cuidadosamente organizado com as escrituras viradas para baixo. - Obrigada também baralho. Vou fazer a leitura e caso necessário puxarei mais algumas cartas. - Agradecer a energia que se formava sempre que precisava praticar a leitura de tarot cigano fazia parte do processo, e a mulher não esperou que as mais novas entendessem de fato. Priyanka colocou as cartas sobre o pergaminho que Aurea abriu, respirou fundo e virou para cima a primeira carta - escolhida por Freya. - Dezenove, a torre. Te vejo em um grande momento de introspecção, Freya. Autocuidado e solidão, de certa forma. Seu caminho é bem... Florido. E as possibilidades estão mais mais próximas do que você imagina. A Torre é imponente, é grandiosa. Ela faz diferença em um Castelo, não é só mais uma, mas sim parte do todo. Essa missão vai ser o seu primeiro de muitos encontros com animais e criaturas, Freya. E você vai ser a chave necessária pra mudança na vida deles... - Deu alguns segundos para que a menina pudesse digerir as informações. Logo em seguida, Priyanka juntou a carta da menina ruiva ao monte e sinalizou com um sorriso que sua leitura estava encerrada. Faltava mais uma, Aurea. Priyanka virou a outra carta. - Quatorze, a raposa. Aurea, a raposa é uma ladra astuta e pronta pra atacar galinheiros... Ela se prepara, é pensativa, planeja e organiza. Essa carta é o símbolo da trapaça. Eu te vejo em caminhos tortuosos. Luta. Você vai precisar impor suas ideias e se defender, muitas vezes, sozinha. É preciso ter calma! É interessante que a missão de vocês seja no japão. Por lá, algumas comunidades enxergam a raposa como símbolo de fortuna e sabedoria. Você será o guia, e precisará pender a sua racionalidade e agilidade na hora de tomar decisões. Também vejo filhotes. Os Amassos de vocês são a chave principal para encontrar o Seminviso perdido. - Finalizou a leitura de Aurea unindo a carta ao monte, e logo voltou sua atenção ao mapa de Hei-Ryung. Conhecia um pouco do raciocínio da amiga, apesar de não se verem mais com frequência. Se as meninas estavam com o mapa, a mulher deveria confiar que fariam um bom trabalho. Observou os pontos em vermelho, com anotações que sinalizavam as últimas localizações do circo. Não foi difícil achar um padrão. Priyanka retirou do Saree que vestia um relógio de bolso, um pouco enferrujado de tão antigo. - Imagino que Jo não tenha dado muitos detalhes sobre o circo... - Palpites sempre lhe saíam muito bem. A professora não precisou de muito para saber que estava certa, a própria feição das meninas já lhe indicava. - Ele pertence a família dela. Os Hei-Ryung tem bastante influência e poder no Mundo Bruxo da Ásia, em especial no Japão. - Priyanka apontou para o mapa, onde podia-se ler "Koishikawa Korakuen Garden". - Vocês conseguem perceber que a maioria das localizações do circo nos últimos meses, segundo o rastreio de Jo, fica ao redor desse parque? Ele costumava pertencer, também, a família dela. E quando estudávamos juntas, o Circo vivia fazendo apresentações por lá... Acho que temos um local, meninas. - Com sua varinha, Priyanka encantou o relógio para que se tornasse uma chave de portal. Entregou o objeto a Aurea, que Priyanka notou carregar uma bolsa. - E esse é o caminho, programado para partir em minutos! Alguma pergunta de última hora? - Sorriu para as duas, atenta.
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Aurea Woodward
Assim que havia escolhido minha carta a professora Priyanka virou-a de face para cima e eu observei o seu desenho. Era uma raposa saindo de trás de alguns troncos e folhas. Passei um tempo observando a carta enquanto ela explicava o significado da Torre para Freya e, pela expressão no rosto da ruiva, tinha a impressão de que aquelas palavras detinham um significado mais profundo do que pareciam ter. Mas quando a explicação foi direcionada a mim, com a minha carta, eu tive uma experiência de primeira mão. E era de cair o queixo. Em minha cabeça eu estava sempre planejando nossos próximos passos e cogitando nossas possibilidades e trazia comigo o sentimento de que cedo ou tarde precisaria lutar sozinha. Não iria envolver a doce Freya em uma luta, mas sentia dentro de mim que não seria tão fácil trazer aquele seminviso. — Bem... assustador. — Lancei um olhar nervoso para Freya, com um sorriso amarelo. — Que bom que temos nossos filhotes de amasso, né? Enfim Priyanka começou a analisar nosso mapa, apontando alguns pontos de interesse que já estavam circulados. Ela explicou que estes pontos eram antigos locais que serviram de acampamento para o circo Hei-Ryung. Eu havia prestado atenção no nome do circo e no sobrenome da nossa magizoologista sênior e algumas deduções vieram à mente, mas não dei asas para esses pensamentos. Agora a professora de Hogwarts confirmava que aquele circo era da família da senhora Jo. Ao final, nos deu um relógio: era uma chave de portal. — Temos algum nome para falar, lá? — Questionei.  — I mean, alguém que pode ser um guia ou algo assim? Eu não sou exatamente boa com japonês. — Soltei uma risada sem graça, afinal, eu não sabia nada de japonês.
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Freya O'Donnell
Observei minha carta intensamente, enquanto Priyanka me dava sua leitura. Franzi a testa ao ouví-la falar sobre solidão e introspecção. Eu gostava de estar cercada de gente e me perdia fácil quando ficava sozinha com meus próprios pensamentos. Mas o sorriso se espalhou pelo meu rosto quando Priyanka anunciou que ajudaria muitas criaturas no meu futuro. Quando Priyanka citou "filhotes" no futuro de Aurea, olhei, espantada para minha amiga, mas logo a docente esclareceu que se referia aos nossos amassos e cobri a boca para segurar uma risada. - Os amassos são sensíveis as intenções das pessoas. Eles são bons de saber se há perigo, ou alguém mal-intencionado por perto. Tenho certeza que o Sage e o Thyme vão tomar conta da gente e ajudar na nossa busca. - e com um sorriso, me curvei para fazer um carinho no amasso sentado junto aos meus pés. Abri a boca ao ouví-la contando sobre o circo: não havia me ocorrido que Jo compartilhava o nome com o circo. Fiquei curiosa de o circo sempre fora hostil com criaturas mágicas, ou se alguma coisa havia mudado. Será que haveriam mais criaturas em risco lá? Será que eu conseguiria ajuda todas? Priyanka nos entregou um relógio que serviria como uma Chave de Portal, enquanto Aurea anunciava outras preocupações bem óbvias: nenhuma de nós conhecia o lugar ou falava o idioma. - Se vamos entrar em contato com alguém, podemos fingir que somos turistas? - disse, incerta - Ou podemos entrar escondidas... - comecei a me sentir nervosa. Eu podia encontrar criaturas em seu habitat natural, mas lugares dominados por humanos eram difíceis para mim.
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Priyanka M. Bhatt
Estava incomodada. Direcionar as meninas para outro país para rastrear uma máfia de tráfico de criaturas sem o mínimo apoio ou supervisão não era lá muito seguro, mas se Jo havia confiado, não tinha o que Priyanka questionar. Se não tivesse assumido mais de uma turma e completamente atarefada com as aulas em Hogwarts, poderia acompanha-las sem problemas. Mas a ausência era um luxo que não podia usufruir. Um nome surgiu em sua mente. - Procurem por Jun Hei-Ryung, o irmão mais velho de Jo. - Não pode evitar sorrir com a lembrança do namoradinho da adolescência. Mas preferiu não dar essa informação as meninas. - Um pouco antes de me formar, lembro que ele morava próximo ao Palácio Imperial com a esposa Americana, em Tóquio... Apesar de ser uma cidade grande, não é muito distante do jardim, pra sorte de vocês. - Havia perdido contato com o homem após deixar a Ásia para estudar, então não podia dar um endereço exato. Tudo o que sabia sobre Jun vinha das amizades que Priyanka ainda mantinha com colegas da escola ou com professores. - Sendo casado com alguém que fala inglês, imagino que ele ou a esposa possam ajuda-las... - Priyanka não sabia bem como andava a relação entre os irmãos Hey-Ryung. Desde que Jo fora proibida de pisar no Japão, e com o irmão não tendo medido muitos esforços para ajuda-la, imaginou que a amiga teria algum tipo de remorso. Mas Jun tinha um bom coração. Tinha se tornado professor e dedicado a vida as aulas de Poções em Mahoutokoro. Com certeza não se negaria a ajuda-las. - Vocês tem uma vantagem, meninas. O Seminviso está ferido e com toda certeza não vai conseguir usar suas habilidades por completo. Vocês não terão problemas, eu sei disso. - Podia pressentir o nervosismo nas meninas, bem mais em Freya do que em Aurea. - A chave já vai ativar meninas... Queria acompanha-las, mas não consigo por conta de Hogwarts. Então por favor, me mandem uma carta quando tiverem sucesso na missão, quero ser informada sobre como as coisas andaram... E mandem um oi para Jun por mim. - Sinalizou com a varinha em direção ao relógio de bolso nas mãos de Aurea, que já começava a dar sinais que seria ativado. Sairia do local assim que as meninas partissem.
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Aurea Woodward
Lancei um olhar rápido para Freya que cogitava a possibilidade de nos passarmos por turistas e isso, certamente, nos pouparia algumas preocupações e perguntas desnecessárias, mas certamente não teríamos muitos acessos e, principalmente, já tinha visto um documentário ou dois sobre estrangeiros na terra do sol nascente. Muito preconceituosos para com quem não é como eles, tendo até mesmo um termo para tal: "gaijin". — Podemos usar essa como uma das abordagens, mas não podemos confiar nela a toda hora. — Apontei para Freya, fazendo menção à sua ideia de tentarmos nos passar por turistas. E então Priyanka mencionou o irmão de Jo: Jun. Franzi o cenho e me voltei inteiramente para a professora, visivelmente mais interessada nas descrições que ela passava sobre ele. Não consegui evitar um meio sorriso quando reparei que sua expressão mudou completamente, como se a menção do homem lhe trouxesse nostalgia. Eu podia lê-la agora como ela fizera com o meu futuro. Amiga de infância de Jo e colegas em Mahoutokoro, não me impressionaria caso ficasse sabendo que ela já teve um casinho com o Onii-chan. — Certo, procurar pelo Jun Hei-Ryung que mora próximo ao Palácio Imperial. — Comentei, mais como uma nota mental e, em seguida olhei para Freya. Era impossível esquecer a cena de antes. — Eu não acredito que passou pela sua cabeça que os "filhotes" seriam meus.. — Deixei uma risada baixa. — É, eu reparei na sua carinha quando a professora Priyanka mencionou essa parte na minha previsão. Após este momento de risadas, a senhorita Bhatt continuou nos explicando sobre o Seminviso e que, infelizmente e felizmente, por estar ferido estaria com seus poderes debilitados. Maneei a cabeça em positivo enquanto olhava para o relógio em cima da mesa, já ativo. Era só tocá-lo e, bum, passagem de ida para o Japão. Não podia evitar tamborilar os dedos no tampo da mesa, ligeiramente nervosa. As pessoas nas outras mesas pareciam até mesmo distantes. — Pode deixar, Senhorita Bhatt! Eu vou mandar um oi pra ele. — Sorri para ela e, então, me voltei para Freya. — Então, como seremos duas, acho que devemos nos separar para cobrir uma área maior. Me inclinei para o lado para alcançar Thyme que se mantinha deitado debaixo da cadeira, deixei um beijinho na sua cabeça e o alcancei ele para Freya, por cima da mesa mesmo. Ela poderia usar ambos os filhotes para localizar o seminviso e aumentar as suas chances de encontrá-lo antes do pessoal do circo. Eu sabia que ela se dava melhor com animais do que eu e, bem, quanto a mim, humanos sempre foram mais a minha especialidade. Eu podia lê-los muito bem e era quase natural para mim me aproveitar disso. — Você procura pelo Seminviso com nossos filhotes. — Sorri para ela, fazendo referência, como se fôssemos as mães dos irmãos Amasso. — E eu vou localizar o senhor Hei-Ryung e tentar atrapalhar as buscas do pessoal do circo e de quem mais estiver procurando pelo nosso cliente. — Fiz uma pausa e beberiquei um gole da xícara de chá. — Deal? E quando estiver com ele em mãos retorne imediatamente para a chave do portal e dispare fogos de artifício amarelos, da cor da SIC. Eu irei para lá imediatamente para te pegar. E usaremos uma lareira para voltar para a ilha. — Exibi para ela um saquinho de pó de Flu. Esperei que ela estivesse pronta e, por fim, com um aceno de cabeça e um tchauzinho para Priyanka, não esquecendo de colocar 10 galeões para cobrir as despesas da casa de chá, toquei na chave do portal junto com Freya e, pelas barbas de Merlin, eu havia me esquecido do quão ruim era viajar com uma chave de Portal.
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Freya O'Donnell
Priyanka nos apressou para partir e ao mesmo tempo Aurea me confiou Thyme, para que o amasso me ajudasse nas buscas. Quando me levantei para partir, os dois filhotes se apressaram em se reunir ao meu redor, como se soubessem que deveriam me acompanhar. Me abaixei e apanhei os dois nos meus braços, para que não se perdessem durante a viagem. Estava pronta para partir, quando me lembrei de alguma coisa e corri até o balcão onde uma atendente dispunha caprichosamente pedaços de torta no mostrador. Conversei rapidamente com a moça, que me respondeu cheia de sorrisos. - É uma caixinha do chá de frutas e especiarias, vocês podem entregar em Hogwarts? Para o Bjord Sigurðsson. - senti o olhar de Aurea e Priyanka em minhas costas e meu rosto começou a esquentar. Apanhei o bloco de pedidos que estava na minha frente e escrevi uma nota apressada - Pode entregar isso junto? Tirei do bolso um galeão para pagar a moça e voltei correndo para junto das mulheres no momento em que o relógio começava a brilhar. - Obrigada pela ajuda, Priyanka! Mandaremos notícias! - abracei os dois amassos junto ao meu peito e toquei a chave de portal, desaparecendo no ar junto com Aurea.
em 2022-11-16
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Centro de Boas-vindas - Ilha Bonaccord - Arquipélago das Bermudas
Let me take you into the garden
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O dia estava particularmente bonito, com um sol se erguendo soberano em um céu sem nuvens. Águas cristalinas flutuavam a pequena embarcação ao sabor das ondas e, logo à frente, podia avistar o conjunto de ilhas paradisíacas. Em meus pés, sentado e escorado contra minha canela, estava Thyme, o amasso que havia adotado de Freya. Sentia uma felicidade grande de estar voltando, principalmente por ter simpatizado muito com a ruiva e, agora, estava reunindo os irmãos amasso. — Senhorita Woodward, parece que já convocaram alguém da SIC para recebê-la. — Sorri para o capitão da embarcação. — Obrigada, capitão Hokuikekai? — Agradeci o homem de meia idade de pele cor de amêndoa. — Você deve ter visto muita coisa doida nesse mar, não é? — Perguntei, interessada. — Você não faz ideia. — Ele se aproximou e eu o observei se posicionar ao meu lado, também ancorando os braços no corrimão do barco. Os ventos salgados jogando seus longos cabelos para trás. — Tem quem diga que essas ilhas possuem criaturas devoradoras de homens. — Soou misterioso e eu apenas o observei, tentando incentivá-lo com o olhar a prosseguir com a história. — Criaturas bizarras que lembram seres das profundezas do mar, mas que andam na terra. — Bufei, me fazendo passar por incrédula. — Isso é só história. — Claro que eu sabia que isso era possível, mas não sabia se ele era um não-magi, então manteria a discrição. — Bom, se você ver uma dessas coisas... aconselho a se apegar a um sentimento feliz. — Ele piscou para mim e voltou para a cabine. Passei um tempo o avaliando. Aquela dica era muito suspeita, mas dúbia. Ainda não sabia qual a procedência do seu sangue. Dei de ombros e me permiti aproveitar o resto da viagem.
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Quando o barco ancorou eu arrumei minhas coisas, peguei minha bagagem de mão, onde Thyme se deitou e parecia se divertir de morder levemente meus dedos. Precisava comentar que eu também o instigava a brincar, mexendo o indicador e cutucando sua orelha. Parei um tempo, ainda no cais, observando as pessoas que iam e vinham, procurando quem seria meu guia de primeiro dia.
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Esperava em uma área coberta, longe do movimento e do sol quente, enquanto observava o barco de visitantes se aproximando do cais. Sage, o filhote de amasso, me imitava, sentado imóvel junto aos meus pés. Me abaixei para lhe fazer um carinho e tranquilizá-lo: era a primeira vez que o trazia em um lugar mais movimentado e cheio de desconhecidos, mas o pequeno amasso parecia inabalável e apenas acompanhava os passantes com o olhar. O cais não era um lugar tão agitado: o arquipélago recebia poucos visitantes, sendo frequentado apenas pelos poucos membros da SIC e normalmente bruxos mais experientes preferiam formas de viagem mais eficientes. Também não fazia parte do meu trabalho receber novos membros da SIC que chegavam ao arquipélago, mas quando soube que teríamos uma nova magizoologista aprendiz, e reconheci seu nome como a moça que havia adotado um dos irmãos de Sage, me ofereci imediatamente para recebê-la. Logo os poucos ocupantes começaram a desembarcar e logo avistei Aurea entre eles, trazendo consigo um filhote de amasso muito parecido com Sage. - Vamos lá? - dei um tapinha no meu próprio ombro e o pequeno amasso entendeu o sinal imediatamente, saltando nas minhas costas e se equilibrando no meu ombro enquanto eu me levantava. Lhe fiz outro carinho e avancei para o cais, até onde Aurea olhava ao redor, parecendo meio perdida. - Aurea! Thyme! - alcancei os dois com um grande sorriso no rosto - Bem vindos! De volta. - dei uma risada - Fizeram uma boa viagem?
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O sol ali era bastante forte e me ofuscava um pouco a ponto de eu não reconhecer os traços de nenhuma das poucas pessoas que passavam por mim e tampouco ver mais longe, mas com certeza eu havia reconhecido a voz que chamou a mim e ao Thyme, perguntando se havíamos feito uma boa viagem. Sorri imediatamente e fui na sua direção, mas acabei por quase esbarrar em um senhor, o que me deixou um pouco constrangida após pedir "desculpa" para ele e, finalmente, ir até Freya, lhe dando um abraço. — Oooi, flor! — Disse no meio do abraço para, em seguida, me afastar e tentar observá-la. Ainda estava ofuscada. — Argh... acho que vou precisar de um chapéu e um par de óculos! — Exclamei. Larguei a mala no chão e peguei Thyme em meu colo, permitindo que ele também subisse em meu ombro e se aproximasse de Sage, farejando o ar em direção ao irmão. Ele demonstrava estar feliz e até mesmo soltou alguns miados. Acabei não contendo um "own" enquanto acariciava seu queixinho, mas ele claramente estava mais interessado no amasso que pousava no ombro de Freya. — Fizemos uma boa viagem, sim! — Suspirei, olhando para as belas árvores da ilha. — Embora eu prefira aparatar, sempre gosto de fazer a primeira viagem da forma convencional... Me permite conhecer o caminho. — Abaixei a intensidade da voz, quase em um sussurro. — Muitas pessoas passaram mal durante a viagem. Fiquei boa parte do tempo do lado de fora pegando um arzinho. — Deixei uma risada concluindo o relatório da viagem para Freya. — E então, como está o processo de adoção dos outros amassinhos? — Segurei em seu braço para que ela nos conduzisse.
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Abracei Aurea desajeitadamente, enquanto Sage tentava farejá-la do meu ombro. Logo ela apanhou Thyme do chão e deixamos que os dois amassos também se cumprimentassem. Os irmãos se farejaram e miaram alegremente, Sage se agitou no meu ombro, querendo brincar com o irmão e também lhe fiz um carinho para acalmá-lo. - Mais tarde vocês podem brincar. Aqui tem muita gente, certo? - Sage continuou miando para o irmão, mas parou de tentar alcançá-lo com suas patas. - Eu devia ter preparado um kit de boas vindas. Com óculos, chapéu, protetor solar... - dei uma risada - Todo mundo chega aqui despreparado, mas logo vocês se acostumam. Eu mesma de forma alguma estava preparada quando cheguei e ainda sofria por causa do calor que durava o ano inteiro. Pelo menos havia aprendido a me vestir de acordo e lentamente estava adquirindo um bronzeado que combinava mais com o arquipélago. Na verdade tinha mais sardas do que bronzeado e adorava ver como mais e mais pintinhas novas surgiam no meu rosto, braços e ombros cada vez que me olhava no espelho. - Os amassinhos estão bem. A Rosemary já tem uma casa nova, o Parsley está esperando a nova dona voltar de Hogwarts, aí vou levá-lo também. Por enquanto ele fica em casa com o Corvo, meu gato. Fiz um sinal para que Aurea me seguisse para o centro de boas vindas. - Eu não sabia que você queria ser Magizoologista, poderia ter dado uma tour da outra vez que você veio! Ah! Quer ajuda para levar suas coisas?
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Mostrei um sorriso para ela e maneei a cabeça em positivo, ainda que o sorriso não fosse muito diferente da expressão de dentes à mostra por estar tentando espremer os olhos o máximo possível por conta do sol. Realmente eu precisava de um kit de sobrevivência a climas tropicais. Conforme fomos andando pelo píer, nos dirigindo para a parte mais interna da ilha, ouvi com atenção o relatório sobre as doações de amassos e saber daquilo me dava um quentinho no coração. — Fico feliz! — E não consegui esconder a confusão quando Freya me disse o nome do seu gato, Corvo. Ou seria um corvo que se chamava Gato? — Ah, que escolha de nome peculiar... — Soltei uma risadinha. Foi nessa hora que percebi que estava parada, pois precisei processar a informação e aquilo, aparentemente, exigiu demais do meu cérebro, pois Freya começava a me chamar, fazendo movimentos rápidos com a mão para que eu a acompanhasse. Apressei o passo e Thyme desceu de meu ombro, passando a andar lado a lado comigo, mas por vezes se distanciando para verificar alguma coisa que lhe chamou a atenção. O chamava cada vez que isso acontecia. E funcionava chamá-lo! Amassos realmente tinham uma inteligência mais desenvolvida. — Eu sempre fui boa com bichinhos, mas acho que Thyme me ajudou na escolha. — Falei olhando para o gatinho mágico e, em seguida, olhei para Freya. — E você também. Eu achei muito inspiradora a forma que você cuidou desses gatinhos, maaaas... — Apressei o passo, parando alguns metros em sua frente, de frente para ela. — Você vai fazer o tour comigo, agora, certo? — Voltei a acompanhá-la lado a lado. — Dessa forma eu tive tempo de pesquisar algumas coisas e não ser uma sabe-nada sobre a S.I.C. — Comentei, e troquei a mala de mão quando Freya perguntou se eu queria ajuda. — Nah, tudo bem. Ela está leve. Então, onde vai me levar primeiro?
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- Bom, Aurea e Thyme, sejam bem-vindos à Sociedade Internacional de Cuidados e Proteção a Vida Mágica! - paramos logo na entrada do Centro de Boas-vindas, onde parei e abri os braços indicando o prédio. Minha postura oscilava entre a de uma guia turística e de uma criança mostrando todos seus brinquedos preferidos. - Estamos na Ilha Bonaccord, essa é a ilha principal, onde a maior parte da estrutura da SIC. Tem os escritórios, biblioteca e a enfermaria. Essa é importante saber, por via das dúvidas. - e apontei na direção do prédio - Eu conheci bem ela já na minha primeira semana de trabalho. - disse, com um grande sorriso. - Mas eu posso te levar para conhecer a melhor parte do arquipélago. Você precisa conhecer a Ilha Scamander, onde a gente faz a maior parte do trabalho de magizoologia. Você pode deixar sua bagagem na recepção e vamos até lá, se você não estiver cansada da viagem. - sorri ainda mais.
em 2022-11-13
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Salas de Reuniões - Ilha Bonaccord - Arquipélago das Bermudas
Maybe you are searching among the branches, for what only appears in the roots
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Aurea Woodward
Eu já estava esperando a, mais ou menos, uns 10 minutos. A reunião havia sido marcada para daqui a uns 5, mas eu estava tão ansiosa com a possibilidade de fazer algo legal que nem me importava de estar já sentada ali, esperando. E no fim das contas, era gostoso ficar numa sala de reunião com ar-condicionado depois de passar os últimos 45 minutos limpando bosta de equinos dos estábulos. Havia também notificado Freya para aparecer, afinal, ela era tão interessada em ajudar animais mágicos quanto (se não mais que) eu. Me mantive com os olhos fixados em meu telefone, zapeando entre postagens do Instagram à procura de alguma publicação interessante sobre animais trouxas ou, quem sabe, alguma publicação suspeita envolvendo o encontro entre um não-magi e um animal fantástico. Até que a porta da reunião abriu e eu subi os olhos, o coração quase saiu pela boca. Eu estava esperando que fosse Jo, mas por sorte era a Freya, que havia chegado antes. — E aí? — Bloqueei o telefone e o repousei sobre a mesa. — O que você acha que a gente vai fazer? — Perguntei, interessada. — Tem esse papel pardo aí na ponta da mesa, mas eu não quis abrir. Dentro do papel pardo:
Tumblr media
Dentro do papel existem informações sobre o avistamento de um Demiguise ferido. Ele precisa ser resgatado mas, pra isso, precisa ser capturado. E é bem difícil de capturar um principalmente por conta das suas habilidades proféticas e capacidade de ficar invisível.
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Freya O'Donnell
Recebi com surpresa a mensagem de Aurea, me chamando para encontrá-la na sala de reuniões do arquipélago. Havia passado a manhã alimentando as Ranas, os sapinhos alucinógenos que havia capturado no meu primeiro mês na SIC, que agora já estavam bem acostumados com seu aquário em um dos laboratórios. Mesmo sendo esse um dia em que planejava cuidar apenas de criaturas menores, sem sair para o ar livre, usava calças compridas, botas, uma blusa fresca e o cabelo preso em uma longa trança, que haviam se tornado meu uniforme de trabalho. Ao chegar na sala, notei Aurea mexendo em seu celular e a observei, levemente curiosa. Por mais que meus pais fossem trouxas, nunca havia me dado muito bem com aparelhos eletrônicos. Eu mesma tinha um celular para emergências (o mesmo aparelho desde o meu terceiro ano em Hogwarts), mas mal sabia como usá-lo. - Esse envelope é pra gente? - perguntei, curiosa, ao ver o envelope sobre a mesa. Não quis abri-lo, por não saber de quem era, mas lembrei das tarefas que recebia as vezes de Irwin e outros membros da SIC  - Será que vamos ter uma tarefa juntas? - o tom da minha voz deixava claro que estava empolgada diante da possibilidade.
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Jo Hei-Ryung
A manhã não tinha sido das mais fáceis. Jo estava agitada, tentando estabelecer contato com os informantes que ela ainda mantinha pela Ásia. Denúncias de um possível retorno do circo onde a mulher cresceu a torturavam, principalmente quando soube de um Demiguise ferido em uma tentativa falha de captura. A SICPVM vinha investigando a fundo os canais de tráfico animal que muito provavelmente vinham ressurgindo aos poucos, mas a grande mídia bruxa não parecia se importar tanto assim. - As meninas já estão sabendo? - Sentada na sala de Irwin, seu chefe, Hei-Ryung destrinchava o plano que havia bolado. Estava proibida pelo Ministério da Magia Japonês de retornar para casa, mas isso não a impediria de coordenar de longe uma caça ao Demiguise ferido - a pele do animal tinha certa importância na fabricação de capas da invisibilidade, e se a Divisão de Proteção a Vida Animal não conseguisse encontra-lo ainda com vida, não sobraria muito da criatura para que pudessem salvar. Enviou cartas para Freya e Aurea, convocando-as para um encontro em uma das salas de reunião. Tinha sido autorizada por Irwin a conversar com as meninas, já que a missão a envolvia em um nível extremamente pessoal. Mas não pode evitar passar em uma das salas de descanso para pegar um copo generoso de café e por isso, estava atrasada. Chegou na sala em silêncio, sentando-se em uma das cadeiras opostas as Aprendizes (que já estavam no local). - Eu vou ser bem direta, meninas... - Jo não gostava muito de longas conversas. Falava o mínimo, somente o necessário. E muitas vezes era taxada como grosseira, mas não se importava tanto assim. Percebeu que muito provavelmente nunca havia conversado com Freya ou Aurea além de cumprimentos esporádicos. Tinha sido recepcionada pela ruiva quando foi contratada, mas a loira (que parecia ser um pouco mais velha) era completamente desconhecida por Jo. - Antes de ser contratada pela SICPVM, eu vinha investigando algumas linhas de tráfico animal. Conexões criminosas que vem surgindo em boa parte do mundo, explorando as criaturas de todas as formas possíveis... - Tentou amenizar o tom assim que percebeu a feição das garotas mais novas. Talvez precisasse aprender a ser mais sutil. - Venho trabalhando com Irwin no combate a circos e zoológicos mágicos, que cada vez mais vem caçando criaturas mágicas e destruindo completamente seus habitats naturais... Essa semana recebemos a denúncia do retorno da Academia Hei-Ryung de Magias Circences, que costumava operar quando eu era pequena pelas ilhas de Tóquio. - Decidiu guardar a informação que aquele Circo era comandado por seus pais. As meninas provavelmente fariam a conexão de qualquer forma. - Tenho alguns amigos que denunciaram um Demiguise ferido por esse circo. Ele conseguiu escapar, mas ninguém sabe exatamente a localização do mesmo. - Jo esticou-se até alcançar o pergaminho no centro da mesa, onde previamente ela havia reunido algumas informações. Sem dar tempo para qualquer questionamento, ela seguiu dando instruções - conforme já havia combinado com o chefe da Divisão. - E eu preciso da ajuda de vocês pra encontrar e ajudar esse Demiguise... A equipe está meio curta, então Irwin autorizou que eu delegasse essa função a vocês duas. E ele vai mandar mais alguém pra supervisionar e ajuda-las. - Jo desenrolou o pergaminho, mostrando para Aurea e Freya o que ela havia escrito. - Deixei algumas informações nesse pergaminho que podem ser úteis de alguma forma. Mas também sugiro que vocês entrem em contato com uma amiga minha, a professora Priyanka de Adivinhação em Hogwarts. Nós estudamos juntas em Mahoutokoro e ela pode ter alguns contatos... - Depois de despejar desenfreadamente os detalhes da missão, Jo deu alguns goles generosos em seu copo de café - que já estava ficando gelado. - Bom, alguma dúvida? - Encarou Aurea e Freya, esperando que elas tivessem compreendido.
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Aurea Woodward
Arqueei as sobrancelhas e dei de ombros para a primeira pergunta, porém, quando Freya levantou a possibilidade de trabalharmos juntas eu não consegui esconder a excitação. — Eu não tenho certeza... — Voltei os olhos do envelope pardo para Freya com um sorriso animado. — Mas eu espero que sim! Aqueles papéis poderiam muito bem ser para nós, mas poderiam não ser e, bem, se não fossem nós estaríamos sendo enxeridas. Precisava admitir que estava prestes a me levantar da mesa para dar uma olhadinha quando a porta se abriu e a senhora Jo adentrou a sala. Passadas firmes, expressão austera. Ela tinha um jeito de se portar muito semelhante à forma como passava as informações pra gente: Direta, sem manejos linguísticos para amaciar fatos e nos jogando todas aquelas cruéis realidades. Em um momento lancei um olhar para Freya, apenas para ver como ela estava. Me preocupava com ela e sabia que ela poderia se sentir um pouco mal por causa da realidade de maus-tratos a criaturas mágicas. Tirando estes detalhes não "calorosos", pude perceber que nossa Magizoologista chefe era extremamente competente e já havia pensado em tudo, ou grande parte de tudo. Só precisaríamos caçar o pobre Demiguise e tratá-lo. — Acho que a única dúvida é: quando a gente começa?
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Freya O'Donnell
Me sentia meio desconfortável pelo ambiente formal da sala de reuniões. Havia acabado de me sentar em uma das cadeiras da sala e agora mexia distraída no cabelo, fazendo a única florzinha que enfeitava a ponta da minha trança crescer e criar novos ramos, que lentamente subiam pelo penteado. Abri um sorriso ao ver Jo entrando na sala, mas me segurei quieta ao ver a expressão séria da bruxa. Apertei meus lábios fechados e me sentei ereta, na pontinha da cadeira para ouvir o que ela tinha a dizer. Minha expressão rapidamente mudou de curiosa para séria quando a bruxa começou a explicar que vinha investigando e combatendo a exploração de criaturas mágicas. Eu era fascinada por animais mágicos e trabalhar na SIC vinha muito aos poucos rompendo minha bolha de contos de fadas, me mostrando que nem todo mundo compartilhava esse encanto comigo e que, inclusive, haviam pessoas que se importavam tão pouco com animais que podiam tirar proveito do sofrimento deles. Jo explicou que um Seminviso havia escapado de um circo e que eu e Aurea precisávamos encontrá-lo. Lembrava de ter estudado Seminvisos em Hogwarts, e que já havia capturado um em aula. Ouvi o restante da explicação apenas com metade da minha atenção, pois logo a bruxa confirmou que enviaria eu e Aurea juntas na missão e de repente estava empolgada demais para me concentrar nas instruções. Só quando Jo perguntou se tínhamos alguma dúvida foi que voltei para a Terra e pisquei lentamente, tentando disfarçar minha confusão. - Onde precisamos encontrar ele? - não havia preocupação na minha voz, apenas animação. Tinha ouvido alguma coisa sobre Tóquio, mas não tinha certeza, e mesmo que não fizesse ideia de como chegar lá, sabia que sempre se dava um jeito - Podemos começar o quanto antes! - exclamei, talvez animada demais para recuperar o pobre bichinho.
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Aurea Woodward
Quando Freya perguntou sobre o local onde precisávamos encontrar o Seminviso foi que meu cérebro pareceu começar a trabalhar e, com o cenho franzido, comecei a rabiscar algumas coisas em meu caderno. O nome do circo ainda estava fresco em minha mente: Academia Hei-Ryung de Magias Circences. Era um nome coreano, definitivamente. Mas, porque eu achava aquele nome estranhamente familiar? Balancei minha cabeça em negativa levemente, afastando esse pensamento por hora. Precisávamos buscar a localização atual deste circo e cruzar essa informação com a data da denúncia recebida pela senhora Jo. Era um Seminviso, estes animais não se teleportam. Não deve ter ido longe, ainda mais ferido. — A invisibilidade é um fator bastante complicado... — Murmurei com a caneta entre os dentes, olhando para o papel onde havia desenhado uma série de quadrados com nomes, círculos e setas nomeadas. — Senhorita Jo... — Não pude evitar de ler o crachá da nossa magizoologista chefe. "Hei-Ryung Jo". Franzi o cenho rapidamente. — A pergunta da Freya é muito importante, mas talvez a minha complemente a sua resposta: Quando a senhora recebeu a denúncia? — Olhei rapidamente para Freya. Enquanto olhar para Jo me deixava nervosa como encarar um tigre, olhar para a ruiva me deixava mais tranquila, como apertar um Amasso. — I mean, com a informação da denúncia, e a d-data... — Nervosa de novo. — ...podemos comparar com a localização do Circo no dia da denúncia e tentar calcular no mapa uma possível área de busca. Voltei a olher para a ruiva e apertei meus dedos em um punho, em cima da mesa, agora gelados por causa do nervosismo. Era minha primeira missão e, logo de cara, já nos víamos frente a frente em uma possível corrida contra a equipe de circo que havia escravizado aquele pobre Seminviso. A grande diferença é que, talvez, os circenses não estariam preocupados com a segurança do animal, enquanto nós sim.
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Jo Hei-Ryung
- A denúncia que recebi veio de alguns contatos que mantenho no Ministério da Magia do Japão, que atualmente está localizado em Tóquio... E isso tem duas semanas, Aurea. - Foi preciso que Jo desviasse o olhar por alguns segundos ao confirmar para as mais novas que a a tarefa já começaria com uma pequena desvantagem: duas semanas de atraso. Deu mais alguns goles em seu café, agora já quase frio, tentando organizar os pensamentos. Jo estava insatisfeita, antes de qualquer coisa. Não precisaria da ajuda das aprendizes se ela mesma não estivesse proibida pelo Ministério local de voltar a pisar em Tóquio. Sabia bem como o circo operava, e não esperava ter que lidar com as ações ilegais de seus pais tão cedo... Encarou as meninas, tentando decidir se revelava ou não sua ligação pessoal com o circo mencionado. Talvez fosse melhor deixar com que elas descobrissem sozinhas. Com um aceno breve de varinha, Jo materializou na mesa de reuniões um pergaminho longo - com um mapa colorido cuidadosamente desenhado. - Vim rastreando o trajeto do circo nos últimos meses pela Ásia. Esse mapa contém algumas das minhas anotações, com as últimas localizações conhecidas antes da denúncia do Demiguise ferido... Não é muito, mas é um começo. - Enrolou o pergaminho e o entregou a Freya, com quem já havia trabalhado antes. - Talvez o principal agora seja o contato com Priyanka... E falem comigo ou com Irwin caso precisem. Estarei completamente disponível, mas acredito que vocês vão se sair bem. - Finalizou o café de sua caneca em um único gole, sinalizando para as meninas que estavam livres pra sair da sala.
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Freya O'Donnell
- Duas semanas? -  minha voz saiu uma oitava mais aguda, pensando no pobre bichinho - O quanto antes então. - recebi o pergaminho de Jo com as informações necessárias e o olhei brevemente, já querendo agir. Mal ouvi as últimas instruções da bruxa e quando finalmente deixei a sala com Aurea, minha cabeça já estava cheia de planos confusos, mas me obriguei a respirar por um instante. - Aurea... - toquei o braço da minha nova colega logo que saímos para o corredor - Você pode nos levar? Eu não tenho licença para aparatar. - disse, murchando um pouco. Podia usar chaves de portal para lugares que eu já estivera, mas o Japão era longe demais. - E quero levar umas poções. E será que levo o Sage? Você acha que vamos demorar? - minha cabeça começou a girar enquanto me afundava em planos e apertei meus lábios juntos para me impedir de continuar falando. Imaginei que talvez Aurea esperasse que eu soubesse o que fazer, já que estava nesse trabalho há mais tempo. - Poções de cura, para o Seminviso. Sage vai, pois ele ajuda a farejar, se o Seminviso estiver invisível. - tentei soar decidida, mas franzi a tentando pensar o que mais precisaria - Você busca as poções no laboratório e eu pego Sage? - não esperei a resposta de Aurea, estava agitada demais - Te encontro na recepção em meia hora! - e saí correndo para buscar meu amasso e o que mais precisasse.
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Aurea Woodward
As informações passadas pela Senhora Jo zanzavam em minha mente enquanto eu tentava organizar uma linha para começar, por onde começar a puxar. Saímos da sala de reunião e logo senti o toque de Freya em meu braço e notei que sua expressão estava preocupada, bastante emocionada até. Eu já sabia de como estavam as suas emoções por causa da conversa dentro da sala, mas quando ela se dirigiu a mim, ali fora, apenas consolidou a minha análise sobre ela. — Claro que sim, Freya. — Franzi o cenho, ficando de frente para ela e segurando de leve seus ombros. — Nós vamos juntas resgatar esse Seminviso. Ela parecia ainda perdida em pensamentos de planejamento para a missão, ainda que eles estivessem confusos sobre o que levar e quando partir. Me preocupei um pouco mas acenei em positivo para cada uma das perguntas. Era uma boa ideia, sim, levar os nossos amassos para ajudarem a rastrear a criatura mágica ferida, e também levar umas poções para tratá-lo com primeiros socorros. — Sim, é uma boa ideia. Leve o Sage que eu vou levar o Thyme também. — E balancei a cabeça em positivo, mas demonstrando incerteza sobre a pergunta se demoraríamos. Quando ela saiu correndo para pegar as coisas, eu apenas suspirei e aparatei para os locais que precisava para preparar a nossa viagem. O ato de aparatar poupava tanto tempo que arrumei todas as minhas coisas e ainda precisei aguardar alguns minutos até que Freya chegasse na Recepção.
em 2022-11-06
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Área Externa - Família Gremory - Ottery St. Catchpole
On the side of a hill in the deep forest green Fazia algum tempo desde a última vez que estivera em Ottery, mas ainda lembrava o suficiente para conseguir chegar lá usando magia. Dessa vez também havia me lembrado de que aquela parte do mundo era bem mais fria que o arquipélago da SIC e me agasalhei adequadamente. E, mais importante que isso, lembrei de forrar o cesto onde carregava Rosemary com uma coberta, para que ela ficasse quentinha e não estranhasse muito a mudança brusca de temperatura. - Tudo bem aí? - levantei a tampa do cesto, espiando para ver como estava o amasso lá dentro. Rosemary estava enrolada nas cobertas e me olhava por uma brecha entre as cobertas. Um miadinho agudo de resposta me disse que ela estava bem, apesar de parecer meio contrariada com a agitação - Pronta para conhecer sua nova casa? Ajeitei o cesto nos meus braços e segui pela trilha na direção de uma grande casa, quase oculta pela floresta que a cercava. No caminho fui apanhando flores que cresciam nas bordas da trilha, prendendo algumas delas na minha trança.
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Perceber que eu havia me tornado uma das mais velhas remanescentes na imensa casa quase que solitária dos Gremory me trouxe muito além do conhecimento das responsabilidades adultas, mas também o baque de conhecer uma família conturbada e brutal. O tempo, quando o vento batia nas bordas de meus pêlos avermelhados, parecia correr mais devagar em um lance de mudança referencial. Rodear o terreno de minha casa tornou-se uma rotina após a explosão que ocorreu nas redondezas da floresta e, talvez pelo fato de eu ter estado presente, a preocupação de manter o local seguro havia aumentado consideravelmente. Apesar de eu ter intensificado os feitiços protetores, não deixei de lado este meu meio pessoal de confirmar a segurança de algo ou alguém, até mesmo por aproveitar para me exercitar pela manhã. Por isso, corri por uma distância razoável, sentindo a brisa do rio quando passava perto dele e o frescor da relva ao longo do caminho. Tudo parecia estar em ordem e voltei aos poucos para a trilha que levava aos fundos da residência, procurando no ar algum sinal de novidade no perímetro. Mas, ao invés de sentir algo que me alertasse negativamente, o ar trouxe um cheiro novo e que me lembrou um misto de grama fresca com gato molhado. Estiquei o focinho para a direção que o vento anunciava e levantei as orelhas, involuntariamente. Fechando os olhos, desejei voltar à forma humana e em questão de segundos senti meu corpo se transformando em seu normal de ser. Naquela altura eu estava na entrada lateral da residência e entrei no quarto onde eu costumava guardar algumas coisas pessoais, como roupas de trilha, arco e flecha, coletes de couro sintético de dragão e outros ítens que costumava usar quando saía de casa. Na parte dos fundos do local havia uma espécie de lavatório com espelho, espaço que eu mesmo tinha criado depois de formada. Nele, tentei me limpar o máximo que conseguia depois de ter passado algum tempo andando pela floresta e, por garantia, tirei a varinha do coldre que ficava em meu braço para dar o toque final com magia. Quando terminei, enfiei a varinha de volta no lugar e saí em direção à entrada de casa, do outro lado. Eu sabia, pelo cheiro característico, que havia grande chance de ser a visita que eu esperava, principalmente pela combinação incomum que tinha sido. Depois de encontrar um anúncio de doação de Amassos no profeta diário na semana anterior, não exitei em enviar uma correspondência para a mulher que os oferecia e que, por coincidência, era uma colega de casa. Por eu ter convivido com Freya durante anos pelo castelo, já conhecia o cheiro que a denunciava quando estava por perto, entretanto, devido ao tempo longe, eu não tinha como ter tanta certeza. Então, quando a vi se aproximar pela trilha rodeada por flores bem cuidadas, abri um sorriso, ainda mais por reconhecer a cestinha que ela trazia nos braços. — Freya, oii! — Dei alguns passos animados em sua direção, acenando. — Como foi a viagem até aqui? — Falei com sinceridade quando nos aproximamos.
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- Claire! - abri um sorriso ao ver a moça se aproximando na direção oposta. Não a via desde Hogwarts e fiquei encantada ao descobrir que ela era uma das pessoas interessadas em adotar um dos bebês amassos. - A viagem foi rápida! - disse, rindo. Ainda não estava acostumada com o transporte instantâneo - A Rose também ficou meio confusa… - dei um tapinha carinhoso na cesta nos meus braços, ao mesmo tempo que um miadinho agudo vinha lá de dentro - Estava bem quente lá no arquipélago… Mas eu agasalhei bem ela. - meus olhos brilharam, animada para apresentar o amasso - Quer conhecê-la? Não esperei pela resposta e levantei lentamente a tampa que mantinha o cesto fechado, revelando a pequena amasso meio oculta pelas cobertas. Como os irmãos, Rosemary tinha o pelo cor de caramelo, coberta de pintas marrom. À primeira vista, poderia ser confundida com um gatinho normal, se não fosse pelo seu rabo, que parecia o de um leão, e pelos seus olhos muitíssimo inteligentes que agora estudavam Claire atentamente. - Essa é a Rosemary. - disse suavemente - Rose, diga oi pra Claire, é ela quem vai cuidar de você.
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Bem, não que eu tivesse reconhecido a cestinha que Freya trazia mas, considerando que tínhamos combinado de eu adotar um de seus amassos, imaginei muito que ela estivesse ali dentro, aninhada de algum jeito. Estava animada com a novidade e o sorriso em meu rosto denunciou isso, somando-se ao fato de rever que há muito não via. Depois que perguntei como tinha sido a viagem e ouvi que Rose havia ficado um pouco confusa, senti uma desagradável sensação de que talvez devesse ter sido eu a ir buscá-la e não o contrário. Apesar da oferta que a menina logo deu, não me custava nada ter reorganizado isso. Porém, isso não impediria que uma viagem ocorresse com o animal logo depois, então não mudaria muita coisa. — O caminho até minha casa é um pouco longo mesmo, e frio, ainda mais por ela ser afastada do centro… Mas podemos entrar, se quiser, então vocês conseguem descansar um pouco. — O miado de Rose, mesmo baixo, era perceptível de onde eu estava, o que me despertou uma vontade enorme de me erguer e olhar da bordinha da tampa. Então, quando Freya comentou sobre isso, abri um sorriso largo. — Eu quero sim. — Meus olhos brilharam e me aproximei dela até um pouco em que consegui olhar pela entrada da tampa recém aberta. A filhote de amasso estava enrolada em meio a cobertas mas ainda assim consegui observar que seus pelos eram caramelos e que ela também tinha manchas pretas espaçadas por eles. Ela parecia confortável dentro do pequeno espaço e imaginei que fosse por estar tão quentinha ali, aninhada. Apesar de conhecer um pouco da personalidade das criaturas que os bruxos podiam ter como animal de estimação, seria uma experiência nova ter Rosemary por perto. Quando seus olhinhos encontraram os meus e O’Donnel nos apresentou, não pude evitar de quebrar o silêncio e me adiantar. — Oi, Rose. Muito prazer em te conhecer. — Seu rabo, que naquele momento eu podia confirmar, era tão parecido com o de leão, continuou parado, mas suas orelhas se levantaram, mostrando como estava atenta ao que estava acontecendo. — Espero que possamos ser muito amigas. Aqui tem muito espaço pra correr, acho que você vai gostar. — Comentei num tom mais suave, ainda próximo à cesta mas, para não assustá-la, deixei que a amasso pudesse analisar tudo e reagir como preferir. Por isso, deixei de estar inclinada e me voltei para Freya. — Muito obrigada por ter trago ela aqui. Como eu disse antes, vou dar o meu melhor para cuidar dela. — Comentei, dando um sorriso sincero.
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Abri um sorriso ao ver Claire cumprimentando Rosemary. Querendo incentivar as duas a interagirem, me abaixei, depositando a cesta no chão e tirei Rosemary lá de dentro, mantendo-a enrolada em seus cobertores. - As cobertas são o suficiente… E logo ela se acostuma com a temperatura. - a segurei nos braços como se fosse um bebê e lhe fiz um carinho na cabeça entre as orelhas. O amasso fechou os olhos e ronronou, como se aprovasse o carinho. - Quer segurar ela? - perguntei com um sorriso, esperando que Claire se aproximasse - A Rosemary é a mais tranquila da ninhada e a mais carinhosa. Vocês vão se dar bem! - estava estendendo o filhote para sua nova dona, mas parei no meio do movimento - Ela deve ficar mais brava quando crescer, pois amassos costumam ser mais agressivos… Mas ela vai crescer perto de você, se cuidar bem dela, vocês vão se tornar boas amigas. - Rosemary miou alto, como se concordasse comigo e a entreguei para Claire, ainda sorrindo - Estou treinando o irmão dela, o Sage, para ir trabalhar comigo. Eles são bem inteligentes e bons para sentir quando há perigo por perto, então ele vai poder cuidar de mim quando for mais velho. Quem sabe você e a Rose sejam iguais e uma vai poder cuidar da outra.
em 2022-10-18
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Centro de Boas-vindas - Ilha Bonaccord - Arquipélago das Bermudas
Are you going to Scarborough Fair?
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Já tinha um tempo que eu vinha vasculhando os jornais do mundo bruxo à procura de um animalzinho de estimação para adotar. Não que eu tenha alguma coisa contra os bichinhos dos trouxas, mas você já tentou cuidar de um cachorro? Dá um trabalho enorme, são carentes e fazem uma bagunça! Ou então gatos! Gatos são independentes, mas eles não poderiam se importar menos com o que você fala com eles e quando os chama. Eu mesma sou uma pessoa que gosta de gatos, mas eu preferia encontrar um que fosse conectado ao meu lado bruxo do sangue, então, naquela manhã de quarta-feira, estava eu folhando as páginas do Profeta enquanto ouvia as chamadas do rádio trouxa em meu apartamento, em Nova Iorque. O cheiro do café recém passado ainda pairava no ar, assim como o vapor quente que bruxuleava para cima a partir da minha caneca.
"You're listening to the Radio X. The best place to wake in New York! Now stay with The Strokes, Someday, to all of you tha are feeling a little bit nostalgic..."
Com os olhos seguia os anúncios do jornal, lendo algumas notícias, ou outras apenas lia o título, até que um anúncio específico me chamou a atenção: "Adote o seu Amasso". Eu lembrava de ter estudado sobre estes bichinhos em Salem. Eram quase gatos, mas mágicos e muito independentes. Se se apegassem o seu bruxo poderiam ser muito leais. Lembrava algo sobre uma licença e sobre sua aparência chamar a atenção, mas eu não me importava muito com isso. Hoje em dia, o que mais haviam nas ruas, eram trouxas alterados de droga ou alterados por precisarem delas. — Nas Bermudas? — Exclamei baixinho, dando um gole do meu café. — Parece que vou fazer um bate e volta. Me levantei da mesinha curta na cozinha, iluminada pelos raios de sol que adentravam pela janela da cozinha, e corri para o quarto. Ali peguei algumas mudas de roupas curtas, preparadas para o calor, e vesti um biquíni por baixo de tudo isso. Dei uma olhada no espelho, pondo o óculos escuro redondo. Era importante estar vestida a caráter quando você aparataria, afinal, os trouxas podem até engolir algumas bizarrices mas, para eles, aqueles que destoam do que esperam ver tendem a chamar muita atenção. Com isso em mente, peguei uma bolsa com algumas toalhas, minha varinha e muito protetor solar e aparatei. Caminhei por longos minutos com os pés afundando na areia quente da praia da ilha Bonaccord. Mantinha meus olhos focados em possíveis placas do local mencionado no anúncio do jornal, agora, um pedaço de papel rasgado da folha inteira do Profeta. E após alguns locais me ajudarem, finalmente me vi em frente ao estabelecimento. Soltei os chinelos no chão, bati os pés para tirar um pouco da areia, calcei os chinelos e entrei. — Uff, que calor... Bom dia! — Disse, tirando o óculos. — É aqui que posso adotar um gatinho especial? — Perguntei com um sorriso. Quem entendesse aquele pedido saberia do que eu estava falando, mas quem não deveria entender não daria muita importância, ou no mínimo me acharia decente por estar querendo adotar um gato com necessidades especiais.
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Não estava muito longe do centro de visitantes do arquipélago quando fui avisada que havia alguém interessado em adotar um dos filhotes de amasso que rapidamente estavam tomando conta da pequena cabana que eu ocupava. Havia uma parte de mim que queria manter todos eles, mas também sabia que não poderia manter quatro amassos e mais Corvo. A melhor decisão então parecia ser encontrar um bom lar para cada um dos filhotes e resolvi anunciar três dos quatro filhotes para adoção no Profeta Diário. Em pouco tempo cheguei na recepção, com Sage, um dos filhotes, equilibrado no meu ombro, enquanto carregava embaixo do braço uma grande cesta fechada. Estava vestida para o trabalho, com uma bermuda verde escura, uma camisa clara, botas e o cabelo preso em uma longa trança. Já não sentia tanto que estava fantasiada para trabalhar, mas ainda sentia falta dos meus vestidos e saias, principalmente no clima quente das Bermudas. Logo identifiquei a moça de cabelos claros no meio da recepção e fui até ela com um grande sorriso no rosto. - Olá! Eu sou a Freya, é você quem quer adotar um dos bebês-amasso? - Sage caminhou de um ombro meu para outro, olhando para a visitante, com as orelhas altas, atento - Ah, esse é o Sage. - sorri para o amasso, enquanto um miado agudo saía da cesta nos meus braços - Ele é meu guarda-costas. Quer conhecer os irmãozinhos dele?
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Aquele, definitivamente, era o ponto de encontro. O recepcionista fez várias perguntas antes de me dizer que contataria a pessoa responsável pela adoção dos pequenos Amassos. Eu não precisei esperar muito, ou talvez eu tenha me distraído lendo alguns panfletos turísticos sobre a ilha e alguns pontos de interesse para visitar (Leitura essa que me fez precisar usar os óculos de volta, por causa do excesso de claridade), até que a garota apareceu. Tinha cabelos da cor de cobre bem tramados em uma trança. Estava com uma espécie de macacão musgo e botinas de trabalho. Foi adorável ver a sua indumentária, tanto que inclinei a cabeça para baixo, ligeiramente, para olhar por cima dos óculos escuros. — Olá! Eu sou a Freya, é você quem quer adotar um dos bebês-amasso? — Acabei também sorrindo com o seu sorriso. — Eu mesma! — Observei o pequeno gato mágico em seu ombro. — Pelas barbas de Merlin, quem é esse fofo? — Perguntei, me referindo ao seu próprio mascote. — Ah, esse é o Sage. — Me respondeu, Freya, sorridente. Só então reparei na cesta que trazia, porque ela miou. — Ele é meu guarda-costas. Quer conhecer os irmãozinhos dele? — Fiz uma expressão de espanto, mas de forma exagerada de propósito. — Você está protegidíssima, dona Freya, pois ele é um ótimo guarda-costas! — Sorri largamente para a menina de cabelos cor de cobre. — Sim, eu adoraria! Aliás, eu me chamo Aurea. — Ergui uma das mãos para ela, esperando um cumprimento. — Espero estar à altura da adoção. Só quero que libere o filhote se tiver certeza de que sou apta a cuidar dele. Você parece uma Magizoologista.
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Imediatamente gostei da moça, principalmente ao ver seu interesse por Sage. Talvez ela gostasse tanto de criaturas mágicas quanto eu, o que eu já considerava um ótimo sinal. - Prazer em te conhecer, Aurea! - movi a cesta para segurá-la debaixo de um dos braços, liberando uma das mãos para cumprimentá-la. - Por enquanto ainda estou em treinamento, mas sim, eu ajudo a cuidar das criaturas daqui. - fiz sinal para que ela me seguisse e fui até um dos cantos da recepção, onde deixei a cesta no chão sem atrapalhar o caminho de ninguém. Logo que me ajoelhei no chão ao lado da cesta, Sage saltou do meu ombro e circulou a cesta, ainda muito atento. - Sage, pode sentar, a moça é nossa amiga. - falei tranquila, enquanto levantava o tampo da cesta. O amasso me ignorou e continuou circulando a cesta, tomando conta dos irmãos. - Venha aqui... - apanhei Sage e o coloquei no chão bem eu meu lado - Fique aqui. - tentei soar firme e o filhote pareceu entender, pois continuou nos observando atentamente, mas ficou no lugar - Estou tentando ensinar ele. - expliquei, fazendo um carinho de aprovação em Sage. Percebendo o olhar curioso da moça para a cesta, levantei o tampo, mostrando os dois filhotinhos de amasso lá dentro. Ambos tinham o pelo cor de caramelo e eram pintados de marrom. Poderiam passar como gatinhos normais, se não fosse pelos olhos muitíssimo atentos e inteligentes e o rabo, que tinha um tufo de pelo na ponta, como o de um leão. - Esse é o Parsley... - apanhei o primeiro dos filhotes, o mais gordinho, que imediatamente ergueu suas patas, pronto para brincar e o coloquei no chão, diante de Aurea - Esse é o brincalhão. - tirei do bolso um brinquedo improvisado, com algumas penas coloridas amarradas por uma cordinha e o ergui acima de Parsley, que logo saltou para tentar apanhá-lo.
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Assim que ela apertou minha mão nos conduziu para um dos cantos da recepção. Observei com atenção os movimentos que Freya fazia, tanto para lidar com o seu próprio Amasso quanto ao conduzir a pequena cesta cheia de pequenos gatinhos mágicos. — Por enquanto ainda estou em treinamento, mas sim, eu ajudo a cuidar das criaturas daqui. — Maneei a cabeça em positivo. Em um primeiro momento aquelas palavras me revelaram algumas coisas sobre a bruxa, como por exemplo, sua competência e paixão por aquele ofício. Nenhum magizoologista que estivesse no ramo apenas pelo dinheiro, comodidade ou fama, cuidaria de tais criaturas com aquela atenção, sendo que elas poderiam ser deixadas vivendo naquela ilha, à sua própria sorte. Eu não sabia dos motivos daqueles filhotes estarem sendo dados para adoção, mas o que me vinha a mente, primeiro, era "Morte da mãe" e, segundo, haviam sido resgatados de tráfico ilegal de animais mágicos. Notei o pequeno Sage zanzando em volta da cesta, o que me fez sorrir. Em meu coração havia uma pontinha gélida de tristeza também, pois eu estava prestes a separar a família. — Sage, pode sentar, a moça é nossa amiga. — Freya disse, ajoelhada em frente à cesta. Sentei-me no chão, à sua frente. — Venha aqui... — Ela colocou o gato ao seu lado, fazendo-o se sentar. — Fique aqui. - Disse firme, o que pareceu fazer o Amasso entender. Seus olhos eram dotados de uma inteligência que eu achava estranho. Não é como se eu esperasse tal profundidade no olhar de um animal. — Estou tentando ensinar ele. Observava com atenção e curiosidade cada movimento e gesto que ela fazia com o seu próprio gato pois sabia que, no futuro, poderia precisar fazer com o meu. — Parece estar dando certo. — Comentei encorajando-a. A cesta voltou a miar e eu a encarei, era possível ver coisinhas se mexendo por entre as fitas tramadas. Parecendo notar minha curiosidade, Freya abriu a cesta e puxou o pequeno peludo. — Esse é o Parsley... — Sorri para o pequeno gatinho colocado em minha frente. Era gordinho e pequeno, e quando Freya tirou um brinquedinho do bolso ele prontamente tentou capturar o amarrado de penas coloridas. — Esse é o brincalhão... — Quanta energia! — Disse, tendo uma overdose de fofura. — Será que é você que vai me dar trabalho? — Cutuquei de leve o gatinho, chamando sua atenção e permitindo que ele brincasse com meu dedo. — Quantos mais tem aí? Talvez eu prefira que um deles me escolha, sabe... — Disse sem olhar para Freya, trazendo o pequeno Parsley para minhas pernas e fazendo uma "garra" com minha mão, brincando com ele e instigando-o a brincar de me morder.
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Sorri, reconhecendo minha própria animação na voz de Aurea quando ela avistou Parsley. - Ele com certeza não vai dar tanto trabalho quanto cuidar de quatro de uma vez. - continuei sorrindo, mas alguma coisa na minha voz indicava que havia passado alguns apuros tentando dar conta de uma ninhada toda sozinha - Mas acho que ele vai sossegar um pouco conforme for crescendo. Ou não. - dei de ombros e baixei os olhos para o outro amasso no cesto. - Tem mais um, o Thyme. A irmã deles, a Rosemary já tem uma casa nova. - pensei um segundo e olhei para Aurea - Você pode trocar o nome deles, se preferir. Ou dar um apelido. Eu dei nomes de ervas, pois era mais fácil de lembrar. - encolhi os ombros e apanhei o segundo filhote, colocando-o no chão, diante da moça. No segundo em que suas patinhas tocaram o chão, ele foi investigá-la para conhecer quem estava brincando com seu irmão - Ele é o mais curioso. E não tem medo de nada. Notei a indecisão de Aurea e deixei que ela interagisse um pouco com os dois filhotes, para ver se algum mostrava mais interesse nela. - Você já cuidou de um amasso? - observei enquanto Thyme a farejava, curioso, e Parsley brincava de atacar sua mão - Quando são pequenos são mais tranquilos, mas quando ficam mais velhos eles podem ser meio agressivos, então precisa cuidar bem dele e ensinar ele a se comportar perto de outras pessoas. Ou animais. Eles também são bem inteligentes. O Sage está sempre cuidando de mim. - fiz um carinho no alto da cabeça do amasso, que agora estava deitado ao meu lado, observando os irmãos - Ele é melhor em perceber o perigo do que eu. - disse, com uma risada.
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E então me foi apresentado o outro amasso, o pequeno Thyme, que prontamente veio me farejar, demonstrando curiosidade. Ou talvez ele apenas quisesse saber quem era a estranha que estava abusando o seu irmão, e eu prontamente o puxei para amassar os dois ao mesmo tempo. Fazia isso enquanto ouvi sobre a irmã deles, Rosemary, que já tinha um lar garantido. — Você pode trocar o nome deles, se preferir. Ou dar um apelido. Eu dei nomes de ervas, pois era mais fácil de lembrar.. — Sorri, me divertindo com as brincadeiras que os dois amassos faziam com minhas mãos. — Não são nomes ruins... — Disse sem desviar os olhos dos dois amassos. — É uma forma de lembrar de onde vieram. Rawr! — Brinquei imitando um rugido. — Ele é o mais curioso. E não tem medo de nada. — peguei o pequeno Thyme com as duas mãos e levei para perto do rosto, estudando aqueles olhões espertos e curiosos. — Você é curioso? Quer ir conhecer a minha casa? — Falei com uma voz infantilizada, porque essa é a única voz que dá pra falar com um amasso filhote. Em seguida olhei para o Parsley. — Ou quem sabe levo você pra brincar até cansar? — Você já cuidou de um amasso? — Abri um sorriso malicioso, mas logo em seguida dei uma risada, soltando os dois pequenos gatos mágicos no chão para brincarem entre si. — Eu ia fazer uma piada, mas eu não conheço você bem o suficiente pra isso. — Negativei com a cabeça, como se me reprimisse. — Não, eu nunca cuidei de um amasso. — Quando são pequenos são mais tranquilos, mas quando ficam mais velhos eles podem ser meio agressivos, então precisa cuidar bem dele e ensinar ele a se comportar perto de outras pessoas. Ou animais. Eles também são bem inteligentes. O Sage está sempre cuidando de mim. Ele é melhor em perceber o perigo do que eu. Observei Freya acariciar o topo da cabeça do seu próprio amasso e a cena me fazia sentir um quentinho no coração, mas tais conselhos acabaram por me fazer ficar um pouco preocupada se eu conseguiria educar direitinho e dar a melhor vida para o amasso que eu estava disposta a levar. Olhei para os dois gatinhos mágicos se engalfinhando no chão e, então, peguei o mais gordinho, Parsley, levantando até a altura do rosto, como se tentasse decidir. Em seguida peguei Thyme, também levando-o à altura de meus olhos. — Eu acho que vou levar o mais parecido comigo, então... — Apertei Thyme contra minha bochecha olhando para Freya. — Embora eu goste de me divertir, eu acho que sou mais curiosa. Talvez me entenda melhor com o Thyme. Disse, finalmente, escolhendo o segundo filhote.
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- Eu acho que vocês dois vão se dar muito bem! - fiquei feliz de saber que Thyme teria uma dona atenciosa, mas me senti um pouquinho triste por saber que teria um filhotinho a menos para me fazer companhia - Tenho certeza que logo vou encontrar uma para o Parsley também. - puxei o amasso gorducho para meu colo e lhe fiz um carinho. - Ah! Amassos precisam ser registrados no ministério britânico e você precisa cuidar com ele ao redor de pessoas que não sejam bruxas. - recitei as palavras como se tivesse as decorado cuidadosamente. Eu mesma ainda não havia registrado Sage, mas, como uma magizoologista em treinamento, era importante que eu passasse essas informações se estava distribuindo criaturas mágicas por aí. - Eles chamam um pouco de atenção… - concluí, encolhendo os ombros. - O que você acha, Thyme? Você vai ficar bem com a Aurea? - o filhote parecia satisfeito com a decisão, pois não me deu a menor atenção, ocupado em inspecionar a farejar sua nova dona - Eu acho que isso é um sim! - dei uma risada. Observei por um instante enquanto Aurea já mimava Thyme e o cobria de carinhos. Parsley agora tentava convencer Sage a brincar com ele e logo os outros dois filhotes brigavam de mentirinha ao meu lado. - Agora vocês precisam se despedir do irmão de vocês. - disse, suavemente para os dois. Sage entendeu imediatamente o que eu dizia e voltou ao seu posto ao meu lado, enquanto eu estendia a mão para receber Thyme das mãos de Aurea para me despedir. Antes, estendi o filhotinho para seus irmãos, para que os dois tivessem sua vez. Sage o farejou mais uma vez e Parsley tentou abocanhar a orelha do irmão, querendo brincar mais. Quando foi a minha vez, fiz como Aurea havia feito antes, o aproximei do meu rosto e tentei lhe dar um beijinho, enquanto ele estendia as patinhas para tentar pegar a flor atrás da minha orelha que usava como enfeite no cabelo. - Tenho certeza de que você vai cuidar bem dele. - disse com a voz meio triste, mas logo abri um sorriso de volta - Se você precisar de ajuda, ou se tiver alguma dúvida, pode me mandar uma coruja!
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Observei Freya atentamente enquanto ela me explicava sobre precisar regulamentar o meu amasso junto do ministério da magia, o que me fez revirar de leve os olhos. Eu odiava muito estas questões burocráticas, embora entendesse que nem sempre podíamos esperar um “bom-senso” de um bruxo que não está familiarizado com o mundo não-mágico. Sempre têm aqueles casos em que o bruxo resolve encantar um carro pra que ele voe. — Entendo perfeitamente. — Comentei baixinho, acariciando atrás das orelhas de Thyme e, então, Freya o questionou. — O que você acha, Thyme? Você vai ficar bem com a Aurea?  — O pequeno amasso cheirava meu cabelo, tentando subir em meu ombro e me causando arrepios e risadas toda vez que seu nariz gelado tocava meu ouvido. — Eu acho que isso é um “sim”! Eu me sentia sendo estudada por Freya, como se fosse um último “checkout” antes de me entregar o filhote de verdade, mas eu apenas fiz o que tinha vontade de fazer com o filhote, levantando em frente ao rosto, enterrando meu nariz em sua barriga peluda, deixando que ele mordiscasse meus dedos enquanto eu tentava fazer “boop” em seu nariz, até que sua voz nos trouxe de volta ao que precisávamos fazer. — Agora vocês precisam se despedir do irmão de vocês. Nesse momento alcancei Thyme para Freya, que colocou ele junto de Sage e Parsley. Os três interagiram e aquilo me deu um aperto no coração, pois sabia muito bem que despedidas nunca eram fáceis, mas será que eles tinham este mesmo sentimento que humanos? Acabei por sorrir quando Thyme ganhou um beijo da magizoologista e ele, por sua vez, tentava agarrar a flor em seu cabelo. — Tenho certeza de que você vai cuidar bem dele. — A ruiva estava visivelmente triste eu apenas sorri para ela, entendendo o seu sentimento. — Da melhor forma possível! — Disse, pegando finalmente Thyme, que me foi entregue. — Se você precisar de ajuda, ou se tiver alguma dúvida, pode me mandar uma coruja! —  Maneei a cabeça em positivo. — Com certeza! E eu vou vir visitar você, trazer o Thyme para brincar com o Sage mais vezes. — Leve meu dedo até Sage, brincando um pouco com ele. — Não fico confortável, também, em separar os irmãozinhos. Me levantei finalmente, deixando o pequeno amasso livre para andar por meus ombros. Ele era muito bom em se equilibrar e no fim era o melhor jeito de sair para passear com ele, como já havia demonstrado Freya com Sage. — Obrigada pelo seu trabalho. — Disse finalmente. — E você também: Se precisar de alguma coisa, por favor, pode me contatar por coruja ou qualquer outro meio que você conheça. — Peguei um panfleto do balcão, e uma caneta, e dei meu endereço para ela. — Nos vemos por aí, Freya. — Pisquei para ela, saindo do local em seguida.
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Hesitei um instante antes de devolver Thyme para Aurea. Observei enquanto a moça o colocava em seu ombro, como eu havia acostumado a fazer com Sage, e Thyme se equilibrou ali, parecendo adorar o ponto de vista privilegiado. Fiquei um pouco mais feliz quando ela prometeu trazer Thyme para visitas: pelo menos ele e Sage continuariam se vendo. Também me levantando para me despedir, trouxe Sage e Parsley comigo, um em cada mão. Assisti em silêncio enquanto Aurea escrevia seu endereço em um pedaço de papel e o aceitei com um sorriso. Fiquei com uma boa impressão da moça e não acharia ruim de vê-la novamente, ainda mais se ela trouxesse Thyme junto. - Cuide bem dele. - disse baixinho - E façam uma boa viagem! Acenei enquanto Aurea e seu novo amasso deixavam a recepção. Quando estava sozinha novamente, apanhei o cesto no chão e dei um beijinho no topo da cabeça de Parsley antes de também ir embora, levando os dois amassos comigo.
em 2022-10-13
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Observatório Everest
And there are many different places to see Era meu primeiro trabalho fora do arquipélago e mal podia esperar para botar a mão na massa. Estava feliz por finalmente ter sido liberada de limpar gaiolas, depois do meu acidente com as Ranas, e ansiosa para provar que podia fazer o que me era pedido sem me machucar. Pelo menos gravemente. Mais cedo, naquele mesmo dia, fui encarregada de entrevistar os moradores do vilarejo próximo ao Observatório Everest, que vinha recebendo a visita inesperada de iétis. As dicas dos moradores nos direcionaram para uma caverna onde uma família de iétis havia providenciado uma toca. Enquanto os bruxos mais experientes trataram de capturar os iétis adultos, escondidos entre as árvores próximas, eu e Irwin partimos na direção oposta para capturar o filhote, que esperava por seus pais na toca, para que voltassem com o jantar. À primeira vista, meu trabalho parecia simples: teria que capturar o filhote de iéti que estaria sozinho na caverna, pois o restante do nosso grupo se encarregaria de capturar os adultos. Mas, no caminho para a entrada da caverna, Irwin me passou algumas instruções que logo mostraram que a atividade seria um pouco mais complicada: como o iéti era resistente à magia, era melhor não lançar feitiços diretamente nele. Também deveria me lembrar que por mais que fosse um filhote, era uma criatura perigosa e seria melhor se pudesse resolver a situação sem enfrentá-la diretamente e, finalmente, deveria capturá-lo sem machucá-lo. Para ajudar, tinha iscas de carne, que poderia usar para atrair o filhote para fora da caverna, onde poderíamos capturá-lo com maior facilidade. Quando finalmente avistamos a caverna, Irwin indicou o caminho até nos escondermos atrás de uma pedra coberta de neve, logo ao lado da entrada, e ergueu sua varinha, indicando que eu fizesse o mesmo. - Você pode levitar as iscas até dentro da caverna, para atrair o filhote - instruiu em voz baixa - E quando ele chegar aqui fora, conjuramos uma gaiola ao seu redor. Você se lembra do feitiço? - concordei com a cabeça, mas fiz um sinal para que ele esperasse. - Posso tentar uma outra coisa antes? - perguntei, de repente me sentindo nervosa por simplesmente não seguir as instruções do diretor - Quando me disseram que a gente ia encontrar Iétis… Eu trouxe uma coisinha. - sorri, puxando a mochila das minhas costas. Sob o olhar confuso de Irwin, puxei o frasco de poção do Morto-Vivo que havia apanhado do estoque de poções da SIC. Tirei então da sua mão as iscas de carne e deixei que algumas gotas da poção caíssem sobre os pedaços de carne. Se três gotas eram o suficiente para botar um bruxo adulto para dormir, também seriam o suficiente para um filhote de criatura mágica, certo? O diretor não me impediu, então continuei o que estava fazendo: com um aceno de varinha, fiz com que as iscas se erguessem no ar e flutuassem para dentro da caverna. Estreitei os olhos, tentando enxergar o que havia dentro da caverna, enquanto me esforçava para manter o foco no feitiço. Não conseguia ver se o filhote estava em algum lugar lá dentro e levei um susto quando, pelo canto do olho, vi grandes labaredas na distância, provavelmente de Jo, tentando capturar um dos adultos. O susto foi o suficiente para interromper meu foco no feitiço e quando voltei a olhar para a caverna, vi que as iscas estavam esquecidas no chão. De repente me senti nervosa, sob o olhar de Irwin e notei que o bruxo estava pronto para intervir e concluir a tarefa por mim. Agitei a varinha, murmurando as palavras do feitiço para mover as iscas, mas nada aconteceu. Vi, pelo canto do olho, que Irwin também erguia a própria varinha e lhe fiz um sinal para que esperasse mais um pouco. - Espera. Eu só preciso… - só precisava chegar mais perto. Se largasse as iscas ali, podia ser que o filhote não as notasse e acabassem esquecidas. Antes que o bruxo pudesse usar o feitiço, abandonei a segurança da rocha que nos escondia e avancei até a entrada da caverna. Não planejava entrar completamente na escuridão da caverna. Haviam me deixado bem claro que mesmo o filhote poderia ser perigoso e sabia que precisava ser responsável, ainda mais com Irwin me observando. Torci o nariz ao sentir o cheiro logo na entrada da caverna e senti um arrepio ao notar a quantidade de ossos espalhados no chão. Avancei apenas mais alguns passos, apenas até poder enxergar as iscas no chão e então repeti o feitiço. - Wingardium Leviosa! - as iscas se ergueram novamente no ar e prendi minha respiração, ao ouvir minha voz ecoando pela caverna. Sentindo meu coração batendo depressa, fui recuando sem tirar os olhos das iscas, ao mesmo tempo em que ouvia atenta para qualquer coisa se movendo dentro da caverna. Por um segundo, achei que ninguém havia nos ouvido e comecei a me perguntar como faria para atrair o filhote caso a caverna fosse muito extensa e precisássemos entrar para buscá-lo. Foi nesse momento que ouvi uma mistura de urro e choro e depois os sons de passos se aproximando. Dividida entre a curiosidade de ver a criatura e correr para minha segurança, me encolhi junto às pedras da entrada da caverna, bem no momento em que o filhote de iéti apareceu. Quando me disseram que era um “filhote” pensei que ele seria pequeno, talvez do tamanho de uma criança humana, mas não, o tal filhote era quase do meu tamanho. Era coberto de pelo branco, que serviria de disfarce na neve, mas ali na caverna escura fazia parecer que estava brilhando no escuro. Assisti, boquiaberta, enquanto ele se aproximava a passos lentos, chorando pela mãe. O iéti farejou o ar, percebendo que havia algo diferente, mas em vez de se voltar na minha direção, ele avistou as iscas de carne flutuando a alguns palmos do chão. Esquecendo que estava exposta, observei, encantada, o filhote de iéti estender suas patas para apanhar as iscas no ar. Ainda mantendo o foco no feitiço, ergui a comida ainda mais alto, só para vê-lo se esticar como se fosse uma criança tentando encaixar um brinquedo muito alto. A diferença é que essa criança ficava maior do que eu quando tinha seus braços erguidos no ar. Finalmente baixei as iscas e deixei que o filhote as apanhasse, enquanto eu tinha um sorriso enorme no rosto. Me virei para ver o que Irwin achava da situação e encontrei o diretor espiando atrás da pedra, varinha na mão, pronto para enfeitiçar o iéti caso alguma coisa desse errado. Nossos olhares se cruzaram por um instante e lhe fiz um sinal de joinha para mostrar que estava tudo bem. Voltei a olhar para o iéti e vi que ele agora estava sentado no chão, comendo as iscas alegremente. Decidi que no momento ele estava distraído o suficiente e resolvi voltar para junto de Irwin, com um sorriso triunfante no rosto. Mas mal dei dois passos e pisei em um dos vários ossos espalhados pelo chão, que se partiu com um estalo. Congelei no lugar, torcendo para que o filhote não tivesse me notado, mas ao olhar em sua direção, vi que ele havia abandonado seu lanche e agora me olhava cheio de curiosidade. Dei um passo para trás, tentando decidir se havia chegado a hora de correr, ao mesmo tempo em que o filhote se levantava. A criatura soltou um urro indignado, ao mesmo tempo que ouvia Irwin saltar do seu esconderijo, mas o iéti mal conseguiu se levantar e caiu, como se não conseguisse sustentar seu próprio peso. O bruxo ainda me puxou pelo braço e conjurou uma barreira mágica na nossa frente, mas apenas assistimos o filhote tentar se erguer mais algumas vezes antes de sua cabeça tombar no chão e ele fechar os olhos, finalmente adormecendo. Depois disso, Irwin tomou novamente a dianteira: conjurou uma gaiola ao redor do filhote e o ajudei a levitá-la com magia. Deixamos a caverna juntos e seguimos para encontrar Jo, antes de providenciar o transporte das criaturas de volta para seu habitat natural.
em 2022-09-30
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Cabanas - Ilha Scamander - Arquipélago das Bermudas
Through the darkness to the dawn Já faziam algumas semanas que havia encontrado uma mãe-amasso e seus filhotinhos em uma das cabanas da SIC e, depois do desaparecimento da mãe, me mudei para a casinha para cuidar dos filhotes no meu tempo livre. Os filhotes agora já se alimentavam sozinhos e começavam a explorar a cabana e atormentar Corvo, meu gato preto que me acompanhava desde meu primeiro ano estudando magia. Ao me mudar para a cabana, outros membros da Sociedade me alertaram para reforçar os feitiços repelentes, para me proteger durante a noite, mas como Feitiços não eram bem o meu forte, concluí que algumas velas de citronela seriam o suficiente para manter os mosquitos longe. Nessa noite havia uma brisa fresca que agitava as árvores lá fora e eu dormia espalhada na cama, com braços e pernas abertos, na esperança de aumentar a área de contato com o ar fresco que entrava pela janela, numa esperança de combater o clima sempre quente do arquipélago. Acordei brevemente quando senti algo se movendo na cama comigo, mas mal abri os olhos, achando que era Corvo, meu gato preto, vindo me fazer companhia, já que os filhotinhos de amasso ainda não conseguiam subir na cama. Nesse calor, ele nunca dormia comigo e preferia explorar os arredores da cabana durante a noite, às vezes voltando de manhã com algum inseto enorme morto como troféu das suas caçadas. Um dos amassos começou a miar continuamente de sua cama do outro lado da cabana, mas mal ouvi, cansada demais para lidar com a bagunça que os filhotes faziam todas as noites. Eles agora passavam a noite dentro de uma grande gaiola, para que eu pudesse dormir mais tranquila, já que eles adoravam se enfiar nos lugares mais estranhos quando eu não estava tomando conta. No estado meio sonolento em que me encontrava, fiquei até feliz quando senti o manto geladinho me cobrindo lentamente. No meu sonho, eu ainda estava nas estufas de Hogwarts e levou um segundo para eu voltar para a realidade e perceber que o manto se movia sobre mim por conta própria. Abri os olhos, sem conseguir ver muita coisa na escuridão da noite. Ouvia apenas o miado cada vez mais alto e urgente de um dos amassos que, pelo barulho, também parecia querer escapar de gaiola. Na fraca luz da lua que entrava pela janela, podia apenas ver o que parecia um lençol preto, gelado ao toque, que já me envolvia, quase carinhosamente. Desnorteada e ainda meio no sonho, estendi a mão para apanhar minha varinha e iluminar melhor o quarto. - Lumos! - a luz se espalhou pelo quarto e finalmente fui arrancada completamente do meu sonho. Agora via perfeitamente o manto preto que se arrastava e ondulava levemente pela a cama, subindo ao redor dos meus ombros, como se quisesse me abraçar. Tentei me levantar depressa, ao mesmo tempo em que esperneava para chutar o manto para longe, mas este se enrolou ao meu redor, prendendo minhas pernas e braços, e caí da cama para o chão com um estrondo. Tentei levantar, mas a coisa prendia meus braços contra meu peito e senti seu toque gelado no meu rosto, enquanto ela continuava se movendo, até cobrir minha boca e nariz, como se houvesse uma mão tentando me sufocar. Apavorada, lembrei de repente de já ter visto uma criatura dessas em um dos meus livros de Trato das Criaturas Mágicas. A Mortalha-Viva era uma criatura que parecia ser um manto negro que sufoca suas presas durante o sono e depois as devora. Como essa era uma das poucas matérias em que eu prestava atenção, lembrava qual feitiço precisava para enfrentá-la. Apertando com força minha varinha na mão, tentei conjurar meu patrono, mas já mal tinha ar nos meus pulmões para falar. Continuei esperneando, numa última tentativa de afastar a mortalha pelo menos por tempo suficiente para que pudesse inspirar, quando ouvi um rosnado agudo e o que parecia ser um animal pequeno colidindo contra eu e meu agressor. A criatura estremeceu e me soltou por um milésimo de segundo quando Corvo invadiu o quarto e cravou suas garras na mortalha. Foi tempo suficiente para eu puxá-la para longe do meu rosto e encher meus pulmões antes que ela grudasse em mim novamente. Era meio difícil pensar em alguma coisa feliz quando você estava sendo sufocada provavelmente até a morte, mas não foi preciso muito esforço para que o rosto de Bjord surgisse na minha memória. Eu tinha prometido para ele que tomaria cuidado e agora estava sendo atacada enquanto dormia, que ótimo. - Expecto Patronum! - com o rosto de Bjord na minha mente, lembrando daquele dia na Floresta Proibida de Hogwarts, quando lhe prometi que não correria mais de encontro ao perigo. Minha voz saiu abafada pela mortalha e uma fumaça prateada saiu como um jato da minha varinha. A mortalha se contraiu sobre mim, mas dessa vez continuou me segurando com força. Sentia também Corvo atacando repetidamente a criatura com suas garras, tentando me libertar. A primeira lembrança de Bjord pareceu abrir caminho para todas as outras que vieram em sequência: quando lhe roubei um beijo na Ala Hospitalar, o dia que ele quase matou o Salgueiro Lutador para me salvar, o abraço em uma festa nos corredores de Hogwarts… Estávamos há meses sem conversar, eu achei que tinha perdido meu melhor amigo e aí ele apareceu na festa de repente e me abraçou sem dizer nada. Aquele abraço sozinho poderia ser a minha lembrança preferida, mas ela continuava. Lembrava como fui levada da festa ainda naquele abraço, como depois Bjord pediu desculpas e me beijou. Como fiquei feliz quando ele disse que gostava de mim… - Expecto Patronum! - usei o finzinho de ar que ainda tinha nos pulmões para exclamar o feitiço. Dessa vez, o jato de luz prateada que saiu da minha varinha tomou a forma de um animal de quatro patas, antes de atingir a mortalha, arremessando-a para longe de mim. Sentei depressa, tossindo e lutando para encher meus pulmões novamente. Meio me arrastando, recuei contra a parede, para longe da mortalha, enquanto assistia, de olhos arregalados, meu patrono, que antes era apenas uma nuvem de fumaça prateada, tomar a forma de um animal que lembrava um pouco cavalo, mas pequeno. Meu primeiro pensamento foi que se tratava de um unicórnio, ainda mais por brilhar intensamente, mas ele não possuía um chifre. A segunda coisa que me lembrei foi do filhotinho de gamo que uma vez encontrei preso na cerca de uma uma plantação, perto da minha casa, na Irlanda. Era como um cervo, mas jovem, sem chifres. Também era menor e, apesar de ser feito apenas de luz, podia ver manchas claras no pelo do seu dorso, exatamente como aquele filhotinho e vários outros gamos que vi perto do meu vilarejo, pelos anos seguintes. O gamo feito de luz parou na minha frente, entre eu e a mortalha, enquanto eu abria os braços para segurar Corvo, que correu para ver se eu estava bem. A mortalha agora parecia um simples pano preto esquecido no chão, mas logo ela voltou a se mover, se recuperando do ataque. Me levantei, segurando meu gato em um braço, enquanto com a outra mão apertava a varinha. O patrono avançou na direção da mortalha, se erguendo nas patas traseiras, pronto para pisoteá-la, mas sua presença foi o suficiente para que a criatura deslizasse pela janela aberta e escapasse da cabana. Ele ainda a seguiu, saltando a janela com uma elegância que só um animal feito de luz e magia seria capaz de fazer, e aterrissou no gramado do lado de fora, vigiando enquanto a mortalha deslizava para longe apressadamente, até desaparecer na escuridão entre as árvores. Ainda segurando Corvo em meus braços, me aproximei da janela, ainda olhando incrédula para meu patrono. O gamo de luz ficou satisfeito com a partida da mortalha e se aproximou novamente. Quis muito saber como seria a textura de um animal feito de luz e estendi a mão para tocar seu focinho, mas antes que pudesse tocá-lo ele se dissolveu no ar, me deixando sozinha de volta na cabana escura. Agora fora de perigo, sentia meu corpo inteiro tremer, a ponto de que minhas pernas não conseguiam mais me sustentar. Fui trêmula até a gaiola dos amassos, que ainda miavam me chamando e deixei que saíssem para me fazer companhia. Um deles, o que mais miara tentando me acordar foi o primeiro a subir no meu colo, logo seguido pelos irmãos. Assustada demais para voltar a dormir, passei o restante da noite em claro, acompanhada por Corvo e os filhotes de amasso.
em 2022-09-14
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Hogsmeade - Três Vassouras
Home is wherever I'm with you Entrei no pub logo atrás de Bjord e espiei o ambiente por cima do seu ombro: o salão estava decorado para o natal, com guirlandas e luzinhas de natal penduradas nas vigas do teto. O lugar estava cheio de bruxos, considerando a hora do dia (apesar de eu estar completamente perdida no horário por causa da minha viagem) e segui Bjord até encontrarmos uma mesa livre no fundo do salão. - Você já tinha vindo aqui? - perguntei em voz baixa, enquanto olhava ao redor, admirando a clientela variada do pub. Haviam velhos e jovens, alguns usando roupas modernas, outros que pareciam saídos direto de um conto de fadas ou de Hogwarts e meus olhos logo caíram no grupo de duendes sentados do outro lado salão com gorrinhos de Papai Noel e uma cara mal-humorada. Ao contrário de lá fora, ali o ar estava quente e aconchegante e logo senti a necessidade de tirar a camada extra de roupas que Bjord havia me emprestado. Tirei as luvas e o gorro e pude segurar sua mão por cima da mesa enquanto erguia a cabeça para ver a decoração ao nosso redor. Olhando com mais atenção, notei que as luzinhas de natal na verdade eram fadinhas com suas asinhas coloridas que refletiam a luz. Encantada, apertei a mão de Bjord e apontei para um conjunto de fadas logo acima das nossas cabeças. - Sabia que nas Bermudas não tem fadinhas? - exclamei, levemente indignada - Acho que elas gostariam de lá, o tempo é sempre quente e ensolarado…
***
Bjord estava estudando teoria da magia em Feitiços, achava incrível como lhe explicavam que a magia está muito além de apenas encantamentos mesmo que já soubesse disso desde antes de ir para Hogwarts. Ele tinha uma visão muito mais mística do que era magia, conseguia vê-la em muitas coisas que nem mesmo a disciplina escolar lhe abordava. Andar de mãos dadas com Freya por Hogsmead cheia de neve era mágico, sentir sua presença quente e a felicidade com que ela observava tudo no pub, também. Bjord e Freya tinham essências ligeiramente diferente que se completavam, quando ele segurou a mão dela sem as luvas no caminho sentia essa espécie de energia correndo de um pra o outro. Ela aventureira de seu ponto de ingenuidade, ele muito consciente observando tudo de dentro de sua concha segura. Suas reações quase nunca estavam em sincronia e é aí onde a magia habita: Não importava. Bjord sorriu quando percebeu que ela ficava ainda mais bonita sob aquele jogo de luz e sombras, o barulho e as risadas de outras pessoas ficavam distantes quando ela falava, logo estavam numa bolha particular. — Ah, sim, na verdade mais do que uma vez... — admitiu sem muita vergonha, agora ele correndo os olhos pelo local para analisar onde estava cada figura emblemática do ambiente. — O senhor dos correios joga cartas aqui, às vezes. Eu não bebo sempre, gosto só de escutar. Contam muitas histórias. — quando se voltou para ela novamente olhou direto para cima, para as fadas, e tentou não pensar nelas como parentes distantes de Freya. — Já aqui é cheio delas, até das com dentes venenosos... — pensou em contar que fora mordido e passou dois dias na enfermaria, mas deixou pra depois. — Como é... Nas Bermudas...? O nome é engraçado... — imaginava algo como o que viu em um cartão postal uma vez, com árvores que fazem sombra e o céu sempre em um tom alaranjado. Também tinha essa impressão do lugar ser instável por causa dos problemas que às vezes eram relatados nas cartas — e acabam se tornando temas de alguns de seus pesadelos. Fez uma cara séria enquanto analisava os duendes mal-humorados sentados num canto. Pelas expressões eles não pareciam nenhum pouco dispostos a cantar, e se fossem fazer isso tinha a impressão de que seriam muito ruins. Evitou focar nisso e passou a tentar chamar a atenção do atendente, srta. Scofield, para que fizessem o pedido. Ele balançou a mão alguma vezes competindo com outros clientes.
***
Concordei com a cabeça quando Bjord comentou sobre as fadas mordentes e apertei os lábios fechados, me segurando para não começar a dar uma aula sobre fadas, mas não consegui continuar me segurando quando ele me perguntou sobre o arquipélago da SIC. - Ah, é diferente daqui... O tempo, as plantas, os animais. Tudo é meio estranho. - fui falando devagar, lembrando de como tudo parecia novo e diferente nos primeiros dias e como essa sensação nunca foi embora - As plantas lá não me escutam. - disse, baixando os olhos para minhas mãos - As coisas não crescem direito quando falo com elas. Acho que elas não entendem inglês. - encolhi os ombros e abri novamente um sorriso quando vi a atendente cruzando o salão para tomar nosso pedido. - Tem um monte de criaturas, mas a maioria são boazinhas e estou aprendendo a me proteger... Também estou colocando em prática um monte de coisas que aprendi em Hogwarts. Todas aquelas aulas de curandeirismo estão valendo a pena! Umas semanas atrás eu precisei remend- Ah, oi! - nesse momento a atendente nos alcançou e parei de falar para estudar o cardápio, tentando decidir o que pedir. Torci o nariz para a quantidade de pratos com rins e então olhei para as bebidas, que todas tinham nomes estranhos, exceto pela cerveja amantegada, que não tinha certeza se entrava na categoria de bebidas de adultos. - Acho que o quentão é bom no frio, né? - olhei da atendente para Bjord, incerta - O que você vai pedir?
***
Não conseguiu identificar se aquela primeira apresentação do lugar era positiva ou negativa, mas confirmou com a cabeça quando ela falou sobre as plantas não falarem a mesma língua que ela. Bjord tinha essa teoria de que a magia de Freya que influenciava a natureza ao seu redor funciona melhor em lugares que se sinta confortável ou familiarizada. Arqueou a sobrancelha direita quando ela fez menção a contar mais uma história que provavelmente o deixaria preocupado, mas foram salvos pela atendente. — Ah, hum, sim. Acho que sim. É como um suco de uva que esquenta as orelhas. Para mim... hum... — a mulher com o bloco de notas olhou quase que com piedade pra Bjord, como se quisesse dizer com os olhos que quentão se encaixaria em qualquer outra descrição que não essa. Ele então se voltou para o cardápio mesmo parecendo já ter decidido o pedido. — Hidromel. E vamos querer um assado de natal pra dois... Pão com ervas e uma cesta destas iguarias natalinas... — ele ia apontando os pedidos e a mulher anotou tudo muito rapidamente. Depois apanhou os cardápios e saiu. Bjord voltou-se para Freya com um sorriso. Foi a primeira vez que conseguiu pedir qualquer coisa do cardápio. Tinha uma pequena fonte de renda agora e não se importaria de gastar até seu último galeão se fosse com Freya. — Ouvi dizer que a comida de natal daqui é muito boa. — voltou a segurar as mãos dela sob a mesa. — E sabe, acho que é só uma questão de tempo até as plantas das Bermudas te responderem... — retomou o assunto. — Demorou algum tempo até ganhar a confiança do Lírio engolidor-de-gnomos que achamos nos terrenos, lembra? — Ele até se tornou mais dócil depois de um tempo, mas aí tiveram que tirá-lo das estufas porque intimidava outras flores. Bjord sabia que a empolgação dela uma hora ia legitimar o tal lugar como sua casa também e logo estaria conversando com toda a fauna e flora sem dificuldade. Freya é talentosa, mas ainda não consegue enxergar isso em si mesma por sua atenção estar sempre em outras coisas. — E espero que você não precise usar tanto os ensinamentos das aulas de curandeirismo... — falou mais sério, mas depois deu um sorrisinho para mostrar que era só um pouco de preocupação comum.
***
Devolvi o sorriso ao reconhecer sua preocupação e carinhosamente apertei a mão de Bjord sob a mesa quando ele se mostrou curioso com quanto eu estaria usando dos meus conhecimentos de curandeirismo nos últimos meses. - Não muito… Só me machuquei mesmo uma vez desde que comecei. - meus critérios do que era um “machucado mesmo” não eram dos mais confiáveis, mas estava orgulhosa do meu histórico - E arrumei rápido, pena que foi no mesmo braço da varinha... - antes que percebesse, já estava puxando a manga do casaco e mostrando meu antebraço: além de uma coleção de pequenos arranhões causados por quatro filhotes de amasso que ainda estavam aprendendo a brincar, havia uma cicatriz grande, deixada por garras muito maiores - É meio difícil quando você não consegue alcançar, aí ficou a marca... - torci o braço, tentando mostrar como seria difícil mirar a varinha, mas parei ao ver a cara de Bjord. - Uma criatura atacou um dos bezerros apaixonados e tentei protegê-lo. Foi meio minha culpa, eu não deveria ter separado ele do grupo... - expliquei, baixando o braço lentamente - Mas no fim deu tudo certo. Consegui me curar e o bezerro também… - completei satisfeita, no momento em que a atendente nos trazia nossas bebidas com um sorriso simpático. Provei um gole do quentão e abri um sorriso ao sentir o perfume das especiarias misturadas no vinho quente. - Lembra um pouco o chá que tomamos daquela vez... - soltei um suspiro alegre ao sentir a bebida descer quente e depois o calor subir pelo meu pescoço até alcançar minhas orelhas. Devolvi a caneca de quentão para a mesa, apenas para segurar a mão de Bjord novamente - E Hogwarts? E o Newt?
***
Até que tentou ser compreensível, mas quando viu os machucados dela algo em si parece que se revirou. No meio de sua expressão tinha uma nota de pânico que ficou mais grave quando ela falou que uma criatura de verdade a atacou. Ele passou os dedos pela marca enquanto seus olhos esquadrinhavam tudo tentando imaginar que criatura teria feito isso, só conseguiu perceber que ela tinha ficado muito boa em fazer curativos. Parecia que aquelas marcas não combinavam com a Freya que ele conhecia, a garota pacífica que fala com flores e atrai as fadas como se fosse rainha delas, que era tão pura a ponto de ganhar a confiança de um unicórnio sem sequer fazer esforço. Só quando ouviu aquele tom satisfeito e orgulhoso com que ela encerrou a história foi Bjord percebeu que a imagem de uma Freya idealizada não funcionava mais. Ela é uma adulta agora, está fazendo o que gosta e suas cicatrizes vão se tornar parte de sua história assim como as dele. Bjord nunca parou para pensar que tipo de reação suas próprias cicatrizes, muito maiores em tamanho e quantidade que as dela, causavam em Freya. Ela nunca perguntou a história por trás de nenhuma delas, mesmo quando lançava olhares curiosos. Sentiu vontade de contar, de fazer disso uma coisa para aproximar-se dela, mas a atendente chegou e a ideia se perdeu. Ele também sorriu de forma simpática, mas sequer tirou os olhos de Freya. — Fico feliz. Por você e pelos bezerrinhos... — nunca tinha visto um de perto, só as ilustrações dos livros. Imaginou uma Freya muito contente perto deles. Depois de tomar um gole generoso de sua caneca o gosto não podia ser mais diferente do daquele chá, mas ainda assim concordou. — Foi uma tarde agradável... —olhou pela janela procurando o lugar no meio da neve, mas voltou-se para ela ao sentir sua mão. — Hm... Hogwarts está... é... — pensou em alguma palavra além de “difícil”, mas seu inglês ainda é muito limitado de sinônimos mesmo depois de tanto tempo. — Difícil. — completou. — O último ano é bem mais complicado, não é? Tem toda aquela teoria e ainda precisamos usar mais magia do que nunca... E as poções... Eu achava que não ia conseguir continuar no nível NIEM em poções, mas pedi ajuda ao grupo de estudos da Corvinal... — algo que o Bjord de uns anos atrás nunca conseguiria, estar com Freya o deixou mais confiante. — E o Newt está bem, ele ficou em Hogwarts porque trazê-lo para cá não é uma boa ideia. Nas férias ele abria as correspondências atrás de coisas brilhantes, uma confusão... — balançou a cabeça em reprovação. — Ah! — ele quase derrubou hidromel em si mesmo na empolgação, mas não conseguiu falar porque a moça de antes tinha voltado com os pedidos flutuando e os pousou sobre a mesa. Tudo parecia delicioso à luz daquelas fadinhas, ele pensou em "romântico", mas não sabia muita coisa sobre isso para ter certeza. Os duendes estavam nas preparações para começar a cantoria, muitas pessoas pareciam tão descrentes que fariam um bom show quanto Bjord que os olhava preocupado. Com a atenção de volta a mesa pegou a faca e começou a partir o pão em fatias enquanto avaliava a cesta. Havia nozes, biscoitos que pareciam ser mágicos, uma seleção de frutas secas e dentre outras coisas um homenzinho de açúcar vestido de vermelho que tentava fugir lá de dentro. - Pelo menos em Hogwarts o Newt pode se divertir roubando as decorações de natal... - sorri, imaginando a alegria do pelúcio ao ver o castelo todo decorado com uma infinidade de enfeites brilhantes - Você pode fazer um carinho nele por mim quando voltar de férias, também estou com saudades dele… Deixei escapar uma exclamação de surpresa quando a atendente trouxe nossa comida e assisti, encantada, enquanto os pratos levitavam até nós e depois aterrissavam na mesa. Agradeci à bruxa com um sorriso e estendi a mão para pegar um biscoito natalino. Do outro lado do salão, os duendes se preparavam para sua cantoria, olhando para o público com uma cara de "vocês vão gostar, senão...". Logo um deles se adiantava no meio do salão do pub e começava a cantar uma cantiga de natal bruxa que eu não conhecia, acompanhado pelos outros em uma harmonia meio desconjuntada ao mesmo tempo em que tocavam sininhos fora do ritmo. Me mexi na cadeira para sentar ao lado de Bjord e segurei sua mão para assistir à apresentação, lhe fazendo um carinho na palma da mão, distraída. Ele não disse nada quando lhe mostrei a cicatriz, mas vi seu sorriso sumir e dar lugar a uma expressão séria, enquanto ele passava os dedos pela marca. Eu havia me empolgado, cheia de orgulho por ter conseguido me virar sozinha, e não parei para pensar como a história poderia parecer assustadora aos ouvidos de Bjord que era sempre cheio de preocupações. Haviam mais histórias e algumas mais assustadoras, mas poderia contá-las outra hora. Em vez disso, lhe dei um beijo no rosto e descansei minha cabeça em seu ombro, enquanto o duende terminava a música com uma nota grave longa e desafinada. Poucas pessoas bateram palmas, até que o duende olhou ao redor, ameaçador e logo mais clientes se juntaram aos aplausos. - Se um dia você for me visitar, eu te mostro os bezerros apaixonados, eles são bem bonitinhos. - disse em voz baixa - Ou a gente pode ir em outros lugares ver criaturas. Ou só passear... - fiquei animada de repente com a possibilidade de conhecer lugares diferentes com Bjord. Agora que havia conseguido viajar com magia, só precisava treinar mais um pouco e conseguiria levá-lo comigo.
***
Bjord separou as fatias do pão em um prato e estava pronto pra servir os dois com pedaços do assado quando os duendes começaram sua apresentação. Ele teve um susto quando sentiu Freya do seu lado porque ficou concentrado na desafinação da primeira nota. Olhando a cena ele percebeu que deviam ter sentados juntos assim desde o começo. Quando recebeu um carinho na mão ele depositou um beijinho na cabeça dela, depois cheirou os seus cabelos mais uma vez. Voltou a vista para os Gnomos só por educação, eles eram terríveis como imaginara, então ficou assistindo com uma expressão vazia. Imaginou Newt roubando todas as decorações da sala da Corvinal até o ponto de não conseguir mais andar por ter tantas coisas em sua bolsa. — Talvez tenha sido uma péssima ideia ter deixado ele sob os cuidados daquelas segundanistas... — pensou alto e depois olhou pra Freya, mas meio que tinha uma cara de quem queria rir. Sem Bjord por lá com certeza seria um desastre. Quando a apresentação terminou ainda tinha uma expressão preocupada, mas se confundia com a do resto do público que absorvia a última nota longa da cantoria. O silencio modorrento cortando apenas por algumas palminhas aos poucos foi sumindo conforme todo mundo voltava a falar, provavelmente sobre o que tinham acabado de ouvir. O que despertou Bjord de seu devaneio foi a voz de Freya, voltando-se para ela abriu um pequeno sorriso com o canto dos lábios. — Vai ser uma aventura e tanto... Nos podemos passear com os bezerros e vê-los dançar, e li que dá pra tomar banho de mar com cavalos aquáticos... — tinha um sorriso que já era nostálgico só de pensar nas possibilidades. — Pòdemos passear depois, também. Você vai passar a noite aqui? — os olhos de Bjord brilharam como os de um cão triste esperando a resposta. Mas aos poucos seu rosto e orelhas ficaram vermelhos só de pensar na possibilidade de Freya dizer sim. Provavelmente foi o Hidromel colocando ideias em sua cabeça.
***
Tomei meu quentão enquanto escutava Bjord e meus olhos brilharam diante da possibilidade de mostrá-lo a dança dos bezerros à luz da lua ou de nadar com ele e cavalos aquáticos. Ainda não tivera a chance de aproveitar o mar do arquipélago, talvez até houvessem sereias por perto... Percebi as fatias de pão cortadas por Bjord e estendi a mão para pegar a faca e ajudá-lo, cortando o assado, mas parei no meio do caminho quando ouvi sua pergunta. Abri a boca para responder, mesmo sem saber a resposta: meus planos começavam e terminavam com chegar a Hogsmeade, depois era tudo na base do improviso. - Hm… Eu não posso voltar hoje… - comecei falando devagar, botando meus pensamentos em ordem e recolhendo minha mão - É melhor eu estar descansada para a viagem de volta. - era um feitiço difícil e já havia sentido seu peso quando cheguei ao vilarejo. Ao mesmo tempo, adorava a ideia de passar mais tempo com ele e seria um desperdício ir embora correndo - Eles devem alugar quartos aqui, ou no Cabeça de Javali… - Você precisa trabalhar amanhã? - perguntei, notando seu olhar triste. Estando perto do natal, eu tinha alguns dias de folga para aproveitar o feriado, que inicialmente havia planejado passar explorando o arquipélago, mas não sabia se Bjord tinha a mesma sorte. Também não me incomodaria de ajudá-lo no trabalho, ou ficar mais tempo até que ele tivesse um dia de folga. Senti meu rosto esquentar enquanto me admirava por encontrar desculpas para não ir embora e tomei mais um gole de quentão, que não ajudou em nada, fazendo minhas bochechas queimarem ainda mais.
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Não conseguiu esconder quase nada do contentamento de saber que ela não iria embora da mesma forma que chegou. Faria o possível para aproveitar esse tempo juntos e embora estivesse quase a certa urgência de fazer todos os minutos valer a pena sabia que as coisas seriam perfeitas de qualquer forma. — Sim... Melhor... — concordou para reforçar a ideia de que era a melhor opção. — Eu fico instalado na... — mas aí alguma coisa o fez parar a frase e ficar meio paralisado por uns segundos, depois corrigiu a fala. — Podemos perguntar, depois, ficam aberto até mais tarde... — agora Bjord estava tão vermelho quanto a roupinha do homem de açúcar que finalmente pulou da cesta. O prendeu sob a mão por instinto. — Hã? Ah, não. Quero dizer, sim. — estava enrolado como se não conseguisse processar tantas informações de uma vez, mesmo a maior parte delas estando só em sua cabeça. — Mas posso tirar uma folga. Vou tentar fazer o Newt vir... — Quando Bjord olhou para Freya estava um pouco menos vermelho. Ele deixou o homenzinho fugir da mesa porque ficou com pena de comê-lo. — Também não consigo com aquelas rãs de chocolate... — comentou. Depois de experimentar uma primeira garfada do assado ele aprovou com os olhos. — Podemos ir a floresta... Ou a outro lugar usando pó de flu! A Lareira dos correios está ligada à rede... — acenou com a mão para pedir mais uma rodada de bebidas porque a da sua caneca tinha acabado. — Ou voar no Penunbra... Ele já aprendeu a bater as asas direitinho... Quero dizer, mais ou menos... — fez uma expressão de quem pensa melhor, mas não contou que da última vez caiu de quase dez metros. Teve sorte de ter sido na água.
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- Eu tentei cuidar de um sapo de chocolate, quando estava no segundo ano… - comentei, pensativa, enquanto me servia das batatas que acompanhavam o assado - Mas ele derreteu. - concluí, observando enquanto o pequeno papai noel de açúcar escorregava da mesa e fugia entre os pés dos outros clientes do pub. Escutei atenta enquanto Bjord listava o que poderíamos fazer juntos. Eu, que estava animada só de surpreendê-lo no trabalho, nem tinha pensado na possibilidade de irmos juntos a algum lugar pela rede de Flu. Havia uma porção de lugares bruxos que poderíamos visitar juntos, mas nem sabia por onde começar minha lista. Abri e fechei a boca algumas vezes, tentando lembrar o nome daquela ilha que havia visitado logo nas minhas primeiras férias de Hogwarts, quando Bjord sugeriu que também poderíamos voar no Penumbra. - Ele tá voando? Você ensinou ele?! Ah, eu quero ver! - exclamei, cheia de animação, mas logo baixei a voz - Quer dizer… eu não quero ver mesmo... Mas se eu pudesse. Se não precisasse… Só queria saber como ele é. - terminei minha caneca de quentão com um suspiro frustrado e desisti de tentar me explicar. Nesse momento, um dos duendes voltou ao meio do salão do pub, esperando a atenção da plateia para começar sua próxima canção. A maior parte do bar não lhe deu a menor atenção e foi preciso um pigarreio alto para que notassem sua presença. - Deve estranho voar sem enxergar ele. Imagina só, ver alguém voando em um cavalo invisível. - disse rindo baixinho, no mesmo momento em que o duende cantava a primeira nota de uma canção trouxa de natal - Ah! Eu conheço essa! - exclamei e imediatamente cobri a boca com as mãos, enquanto ganhava um olhar torto de um dos duendes.
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Bjord mastigou pensativo enquanto ela tentava sem muito jeito explicar que gostaria de ver Penumbra, o Testrálio. Se sentiu um pouco culpado, não era a primeira vez que as raízes diferentes criavam entravam em pauta dessa forma, para ele, poder ver os bichos não era uma grande coisa porque na maior parte de sua vida escolar eles já estavam ali. Demorou um tempo até saber do que se tratava. Mas se parasse para pensar ele não gostaria que Freya pudesse ver o Penumbra algum dia, quis dizer isso mas não conseguiu achar uma forma que não soasse tão... Dramática. — Não é tão diferente, quero dizer, ele é... Hm... Ele não é como um cavalo normal, você já viu as ilustrações, não é? E o Penumbra ainda é meio desajeitado, mas aprendeu tudo sozinho... — ele sentiu vontade de se justificar, mas toda vez que tentava desenvolver uma fala imaginava que talvez esse tipo de coisa ainda seja muito fora da realidade de Freya. Tinha medo de ser a pessoa a estourar a bolha pacifica que ela estava envolta pois sabia que a vida faria isso de alguma forma. Já está fazendo. Pensou olhando de relance para o braço dela onde agora havia uma cicatriz. E olhando para o duende pela primeira vez com uma expressão que não era negativa ficou feliz do tópico da conversa mudar rapidamente. Nem ligou para as outras pessoas que pareceram notar os dois ali pela primeira vez e perguntou à Freya depois de engolir mais uma porção do assado. — O natal dos... hm... Trouxas... — nunca iria se acostumar em usar o termo em voz alta. — É muito diferente? O do meu povo... — e ele parou uns segundos para refletir, afinal a maioria das pessoas de Ymir podia ser considerada trouxa mesmo que existissem fora das leis de sigilo. — Bom, em Ymir os costumes são distantes dos bruxos... — continuou como se um lado da razão tivesse vencido o embate. Depois olhou para a decoração e cantoria como se quisesse indicar as diferenças. Quando voltou-se a ela novamente os olhos estavam brilhando com a mesma curiosidade que já havia mostrado ao longo do tempo que se conheceram. Parecia estar fazendo um esforço para não enche-la de perguntas, principalmente sobre a canção — que como esperado soava péssima na voz do Gnomo. As outras bebidas chegaram flutuando dessa vez. Bjord pegou a sua ainda no ar e bebericou um pouco, o hidromel parece ter lhe dado coragem pois em seguida ele a abraçou pelo ombro imitando um casal que viu uma vez. Ficou surpreso com a própria atitude e logo percebeu que fez a coisa certa quando aconchegou Freya.
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Sorri ao ouvir Bjord se esforçar para me descrever Penumbra. Eu tinha uma boa visão de como ele era, na minha imaginação. Mas sempre ficava aquela curiosidade de como ele era mesmo. Nos livros os testrálios eram sempre descritos como sombrios e assustadores, mas não sabia como um filhotinho poderia ser assustador. Mesmo os desenhos que tinha visto não me pareciam assustadores. Talvez houvesse alguma coisa na aparência dele que estavam esquecendo de me contar… Pensava enquanto observava os duendes cantando, sem perceber que estava murmurando a letra da música junto. Só voltei a mim quando Bjord me perguntou do natal dos trouxas. Encolhi os ombros e espetei um pedacinho do assado enquanto pensava o que seria um natal dos “trouxas”. - Depende, eu acho. Em casa a gente decora uma árvore, que nem em Hogwarts, mas não tão grande, e enfeita tudo com luzinhas… Mas são elétricas. E de manhã o Papai Noel deixa presentes para as crianças. - olhei na direção para onde o Papai Noel de açúcar havia fugido - Eu achava que ele era um bruxo, ou alguma coisa assim. - disse, cheia de dúvidas. Me aconcheguei no abraço de Bjord enquanto uma nova caneca de quentão aterrissava suavemente na minha frente. Tomei mais um golinho da bebida, mas sentia que ela já tinha feito sua parte: tinha esquentado não apenas minhas orelhas, mas todo meu rosto estava aquecido e tinha certeza que minhas bochechas estavam coradas. - Vocês têm árvores de natal em Ymir? - perguntei, falando devagar. Bjord sempre comentava como Ymir era diferente, mas na minha cabeça era muito parecido com Hogsmeade, ou o vilarejo onde cresci.
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Demorou quase um minuto para que ele pudesse formar uma imagem mental da descrição que Freya lhe deu. Tinha dificuldades para cortar a relação de eletricidade e relâmpagos então em parte de sua fantasia ele ficou se perguntando como é que os pais de Freya conseguiam engarrafar raios se não possuíam magia. As aulas de estudos dos trouxas sempre eram muito vagas quando tentavam explicar como os não bruxos usavam as coisas. Seus primos também não conseguiram lhe dar uma explicação satisfatória sobre como a eletricidade corria por entre os fios e alimentava os aparelhos eletrônicos. — Hm... Bem, montamos árvores e é até parecido... — disse voltando ao presente enquanto olhava de novo para os enfeites do bar. — Mas definitivamente não são de Natal. Comemoramos outra coisa, é como um festival... Tem música e leitura de poemas ou profeciasl... Acontece na noite mais longa do ano, então também tem essa fogueira enorme... — ele até que tentou selecionar bem as palavras e o que dizia, mas o Hidromel além de lhe dar coragem também lhe tirava alguns filtros. Uma troca quase justa. — E nós lutamos... Com espadas e outras armas... E quem ganhar é abençoado. Eu nunca ganhei... Ah! Tem uma caçada de dia para o banquete e... — ele parecia muito nostálgico, mas algo o beliscou como se seus próprios sentidos tivessem avisado que se entrasse em muitos detalhes acabaria instigando mais ainda a curiosidade de Freya. Nunca haveria momento para conversar com ela sobre sacrifícios de animais, ou de humanos... Franziu o cenho e ficou quieto por um momento. — Hm... Acho que aqui é mais tranquilo. Até trocam presentes. Queria ter comprado um pra você. — e tomou mais um gole generoso de Hidromel quando o Gnomo parou de cantar. Alguém avisou que um grupo musical bruxo ia iniciar uma apresentação em breve e todo mundo do bar bateu palmas animado. Bjord agradeceu a Odin por isso, depois beijou as bochechas rosadas de Freya sem motivo nenhum. Não pareceu suficiente, então a beijou nos lábios. Duas vezes.
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Ouvi Bjord contar sobre Ymir com a mesma atenção que ele me ouvia quando falava do meu natal. As lutas e caçadas pareciam coisas que se lia em livros de fantasia. Junto com um festival, com banquetes e fogueira, só me deixava mais curiosa para saber mais sobre o lugar onde ele havia crescido. Enquanto ele se perdia em suas lembranças, o olhei, pensativa, tentando imaginá-lo lutando com uma espada. Pisquei lentamente, sentindo minha cabeça leve por causa do quentão. Minha imaginação falhou, enquanto tentava juntar o Bjord sorridente ao meu lado com as imagens de guerreiros que se via em filmes e finalmente desisti quando ele se curvou para me dar um beijo no rosto. - Eu também não te trouxe nenhum presente. - teria corado, se meu rosto já não estivesse vermelho - Se eu soubesse que viria… Mas ver você é o suficiente. - disse com um sorriso. Não podia estar mais feliz enquanto retribuía seus beijos cheia de carinho, esquecendo completamente que estávamos cercados de gente. Sua barba me fazia cócegas, me arrancando um sorriso, e passei o braço ao redor de sua cintura para abraçá-lo enquanto o beijava. Ouvi então uma risadinha baixa, logo acima da minha cabeça. Me afastei de Bjord apenas o suficiente para recuperar o fôlego e ergui meus olhos, avistando um grupo de fadinhas da decoração agrupadas em uma das vigas de madeira do teto, nos observando. Fazia tanto tempo que não via uma que abri um sorriso, como se visse um velho amigo. - Pera, tenho uma coisa pra vocês… - sem desfazer meu abraço com Bjord, estendi a mão para apanhar um dos biscoitos de natal da mesa e estendi para as fadinhas - Também estava com saudades de vocês! - não eram exatamente as mesmas que às vezes encontrava nos terrenos de Hogwarts, mas só ver criaturas familiares já me deixava feliz.
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Agora que tinha começado ele quase que não conseguia largar Freya. Parte daquele sentimento que refreava seus impulsos tinha caído sabe-se lá em que golada do Hidromel. Ficou feliz em perceber que ela não parecia se importar, depois mais ainda quando se separaram e ele pode perceber que estavam bagunçados e sorridentes. Bjord já estava acostumado com a presença de Freya lhe desviar muito do que tinha como sua “personalidade”, mas o que antes era transformado em tempestade hoje era um dia de primavera com céu limpo e brisa quente. Até sentiu suas orelhas queimarem, mas provavelmente foi por culpa do Hidromel de novo. Ele olhou para cima também quando ela o fez. Se sentiu meio ofendido que as fadinhas amigas dela estavam rindo e assistindo a cena, fechou a cara numa expressão resignada que Freya não pode ver por estar ocupada alimentando-as. Enquanto isso ele arrumava o cabelo dela só pra sentir os fios macios correndo por seus dedos, e percebendo o estado de seus rubores resolveu que era melhor pararem com a bebida antes de terem mais sentidos prejudicados. — As fadas do castelo me seguiam... Acho que te procurando. Ficavam me assistindo trabalhar nos jardins, mas como você não apareceu devem ter me achado desinteressante... — ao menos a maior parte delas, as mordentes ainda achavam a pele dele perfeita para cravar os dentinhos. Ele observou algumas delas dançarem por cima da cesta, depois olhou para um espaço do salão onde alguns casais estavam colados e se balançavam ao ritmo lento de uma música sobre um boneco de neve encantado que não conseguia achar seu amor de Natal. Primeiro ele ficou meio triste pelo tal boneco, depois ficou grato por ter um amor de natal ao seu lado. Depois sentiu vontade de dançar com Freya como aqueles outros casais estavam fazendo. Olhou para ela novamente e resolveu deixar essa ideia suspensa por um momento. Na verdade, sua cabeça estava começando a ficar cheia de ideias que não pareciam ser inteiramente suas. Ele agradeceu que Fionn não estava ali na janela para pressentir algumas delas que tinham desapontado sem ele querer. — Ah! — exclamou lembrando, mas foi mais uma tentativa de desviar o foco dos pensamentos do que qualquer outra coisa. — Fionn está tentando arrumar uma namorada! Ou namorado... Ainda não deu pra saber se é um macho ou uma fêmea, ou se Fionn é macho ou fêmea... — fez uma expressão de confusão por um momento antes de continuar. — E as tentativas de me assassinar também diminuíram. Só sete nesses últimos três meses. — comentou isso como se fosse uma vitória, e de certa forma era mesmo. Não pretendia revelar assim, mas meio que escapou com a animação.
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As fadinhas tagarelavam felizes no seu idioma ininteligível, enquanto eu partia o biscoito em pedaços para distribuir. E quanto mais biscoito eu partia, mais fadinhas apareciam. Logo a maior parte da decoração do pub brilhava ao nosso redor, conversando e dando risadinhas, até que não havia mais biscoito nenhum para distribuir. - Não precisa ficar triste, eu tenho outra coisa para você… - os biscoitos haviam acabado e uma última fadinha pousou na cesta vazia, parecendo decepcionada. Levei a mão ao bolso do vestido e apanhei um punhado de folhas secas, amarradas em um ramo de incenso. Puxei uma única folhinha do ramo e o devolvi para o bolso. A fada me observou atenta, enquanto eu fechava as mãos em concha ao redor da folha e depois murmurei alguma coisa entre meus dedos. Sentindo a expectativa da minha platéia, aguardei um segundo a mais para fazer mistério e então abri as mãos. A folhinha antes seca agora estava verde novamente, com uma florzinha violeta brotando do seu caule. Impressionada, a fadinha voou até minha mão para apanhar a flor e logo outras fadas se juntaram para vê-la de perto. Era uma das flores que cresciam nas Bermudas e provavelmente eram uma novidade para as fadinhas. Orgulhosa do seu novo presente, a fadinha ergueu a flor no ar e bateu suas asas para longe, sendo seguida por suas amigas. Observei as fadinhas voando para longe antes de voltar minha atenção para Bjord, quando o ouvi citando Fionn. Meus olhos brilharam diante da possibilidade de ver mais unicórnios, e melhor, talvez bebês unicórnio no futuro. Mas meu sorriso desmanchou quando ele comentou as tentativas de assassiná-lo. - Como assim? - minha voz saiu trêmula enquanto, na minha cabeça, revia Bjord sendo jogado longe pelo unicórnio - Ele te machucou? - me afastei o suficiente para inspecioná-lo como se só agora fosse notar que tinha algum pedaço faltando.
***
Percebendo que falou demais Bjord dedicou quase um minuto para mastigar a comida, provavelmente neste meio tempo estava tentando achar um jeito melhor de contar para Freya que a natureza selvagem de Fionn só sumia quando ela estava por perto. Pelo que andou lendo os unicórnios demoram mais para se acostumar com a presença de homens do que de mulheres e ainda assim por serem criaturas poderosas podem oferecer risco se acharem que estão em perigo. — Hã... Hm... Sim. Mas não como da outra vez... Não... — ele olhou para as fadinhas deixando a mesa e ouviu alguém comentar sobre como os dois tinham roubado quase toda a decoração do bar. Bjord não sabia bem porque ficou com vontade de rir quando ouviu isso, mas ao virar para Freya e ver sua expressão voltou a ficar sério. — Fionn... Bem, ele é uma criatura muito cheia de personalidade, às vezes não gosta de companhia... Acho que espera que eu leve você de volta... — cutucou a comida com o garfo, pensativo. — E... Bem, não gosta muito de ser estudado também, então passei a visitá-lo só por companhia e melhorou, um pouco... A vida na floresta deve ser estressante, quero dizer... Um unicórnio consegue sobreviver muito bem, mas tem conflitos por lá... — resolveu ser sincero porque sentiu que se mentisse ela saberia. Agora que estavam próximos fisicamente começou a perceber que conseguiriam ler um ao outro sem muito esforço se quisessem.   O único esforço que fez foi ocultar que achava o unicórnio meio rabugento, a maior parte das vezes que foi atacado por Fionn nos últimos tempos foi porque o unicórnio mudava de ideia ou implicava com Bjord de graça. Quando parou pra pensar era até meio cômico, mas não sabia como dizer isso a ela. — Não fiquei ferido, desculpe se te preocupei... — sorriu fraquinho porque sentiu uma vontade enorme de se exibir, de deixar claro que estava se tornando um homem mais competente e que da próxima vez seria ele quem a protegeria de algum perigo.   — Posso tentar chama-lo, amanhã. Ele nem sempre atende ainda mais agora que tem esse outro da mesma espécie... — quase esqueceu que essa era a notícia principal. Tentou recuperar um pouco do entusiasmo. — Ah! Ele é muito bonito e tímido e parece não gostar do jeito, hm... Da forma que Fionn é cheio de energia. Mas ficam sempre juntos, é um bom sinal, não acha? — quase que sem pensar a aconchegou mais pra si como se fosse uma forma de reafirmar a própria ideia.
***
Ainda dei uma olhada desconfiada em Bjord antes de relaxar, aceitando que ele estava mesmo bem. Apesar de já estar satisfeita com o quentão, a segunda caneca ainda estava cheia na minha frente e tomei mais um golinho, com pena de desperdiçar a bebida fumegante. - Eu poderia tentar falar com Fionn amanhã. Talvez ele fique feliz em me ver. - disse com um sorriso - E quem sabe posso conhecer o namorado dele. Ou namorada. Concordei lentamente enquanto Bjord comentava que a vida na floresta poderia ser estressante. Na teoria, eu sabia que nem todas as criaturas eram amigas entre si, mas só recentemente estava aprendendo isso na prática. Mesmo assim, não entendia como o unicórnio podia ser tão dócil a ponto de em um momento nos levar em um lindo passeio de despedida pelos terrenos de Hogwarts e depois resolver atacar Bjord sem motivo nenhum. - Talvez devesse perguntar na SIC se alguém entende porque ele se comporta assim. - franzi a testa, tentando pensar, mas logo desisti. Meus olhos caíram nas pessoas dançando no centro do salão do pub e as observei por um instante, me sentindo um pouco aérea. Voltei a abraçar Bjord, mais tranquila por saber que ele não tinha se machucado gravemente e descansei minha cabeça em seu ombro com um suspiro feliz. - Será que ele está bravo com você porque eu não apareci mais? Ou será que ele acha que você está atrapalhando o namoro dele? - perguntei, enquanto começava a rir. Tinha alguma coisa muito engraçada em imaginar Bjord atrapalhando o namoro de um casal de unicórnios.
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Tinha algumas ideias sobre o porquê de Fionn ser tão agressivo com ele, mas nenhuma delas era baseada em alguma fundamentação que pudesse ser clara ou que estivesse em condições de explicar. Bjord concordou com a cabeça quando ela sugeriu perguntar a algum colega de trabalho, depois riu junto com ela. Ainda não tinha parado para pensar na possibilidade de estar atrapalhando. — Hm, será? Bem, eu meio que tentei ajudar algumas vezes... — olhou para as fadinhas dançando em cima de suas cabeças tentando lembrar, depois percebeu que ficou meio tonto com o movimento luminoso e olhou Freya. — Mas foram poucas as vezes que realmente cheguei perto dos dois. Talvez você dê sorte. Podemos tentar amanhã. — pareceu muito satisfeito. O tempo que passou amargando a partida de Freya para o outro lado do mundo criou essa pequena parte nele que aflorava uma vontade descontrolada de que fizessem tudo juntos, procurando constantemente qualquer motivo para não desgrudarem mais. Só agora tinha ficado consciente disso. Então a beijou mais uma vez. A banda continuou com outra música lenta que fez ele lembrar que nunca tinha ido a um baile da escola com Freya. Que nunca tinha ido a baile nenhum. — Você quer... Hm... — e olhou para a banda, depois para alguns pares de pessoas dançando em seus espaços limitados dentro do bar lotado. Ninguém além das fadas parecia se importar com isso, elas circundavam as pessoas rodopiando e tremulando sua luminescência como se estivessem hipnotizadas pelo som. Bjord só sabe parte do conceito do que é dançar com alguém, leu em algum livro e viu figuras vivas que simulavam muito bem como funciona. A coragem de convidá-la provavelmente partiu do hidromel, ele agora está muito mais parecido com o garoto tímido que já foi um dia do que a pessoa cheia de atitude que decidiu ser. Sorriu fraquinho como alguém que não tem muita certeza de para onde está indo, mas ainda assim tem esperança de que seja bom de alguma forma.
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- Dançar? - completei a pergunta de Bjord e olhei novamente para os poucos casais dançando pelo pub. Todos pareciam muito felizes, se movendo lentamente no ritmo da música, com as fadinhas piscando alegremente ao seu redor, dando um ar romântico à cena. Me decidindo, voltei a olhar para Bjord com um grande sorriso no rosto - Eu quero! - concordei com a cabeça, animadamente. Levantei depressa demais e senti o pub bambear ao meu redor por um instante. Pisquei algumas vezes, resolvendo que tinha atingido minha cota de quentão e estendi as mãos para segurar as de Bjord, fazendo que ele se levantasse e viesse comigo. Nunca havia dançado assim com ninguém, mas estava ansiosa para tentar. A música que tocava era uma canção natalina bruxa, contando sobre alguém que havia ganhado um hipogrifo de natal. Troquei um olhar com Bjord entre risos, imaginando a surpresa incrível de encontrar um hipogrifo sob a árvore de natal. Parei a alguns passos da nossa mesa e dei um passo para diminuir o espaço entre nós. Ainda segurando suas mãos, as puxei ao redor da minha cintura e fiquei na ponta dos pés para lhe dar um beijinho nos lábios. Ergui então meus braços ao redor do seu pescoço, como já tinha visto outros casais fazerem. As fadinhas que haviam nos abandonado quando os biscoitos acabaram logo voltaram para nos circular, com suas asas mudando de cor lentamente enquanto refletiam a luz do ambiente. Olhei para Bjord, cheia de expectativa, e abraçada com ele, tentei dar um primeiro passo para seguir a música.
***
Não teve muito tempo para processar, talvez estivesse esperando que o quentão fizesse o efeito contrário em Freya e a deixasse mais tímida, mas ela que o tira da mesa e logo se vê numa posição de valsa. Estava nervoso por encostar nela desse jeito, e mesmo que não tivesse ninguém olhando sentia que todo o resto do bar estava assistindo o momento com ansiedade. Deu um primeiro passo para o lado, depois para o outro, foi tudo meio desajeitado até conseguirem acertar o ritmo. Ao menos não pisou no pé dela nenhuma vez até aqui. — Acho... Acho que pegamos o jeito. — ao menos era o que parecia a ele porque girar no lugar o deixou um pouco mais ébrio do que já estava, mas também parecia que a cada movimento que repetiam parte da timidez era deixada de lado. Freya ficava muito bonita iluminada pelas cores das fadas que circundavam os dois, Bjord falou isso no ouvido dela, depois a beijou de volta. Não conseguia parar de sorrir. — Talvez um dia... Eu te presenteie com um Hipogrifo. Uma das fêmeas do castelo pôs um ovo, mas ele já nasceu... — Bjord riu da própria ideia, depois pareceu pensativo por um momento. Tinham os rostos meio colados, ele tinha acesso livre ao perfume do cabelo dela. Apesar de ser uma festa natalina era como estar sendo abraçado por uma brisa de primavera. Ele pôde notar que algumas flores da decoração ao redor deles brotaram gêmeas ou estavam maiores.   — Ou talvez... um unicórnio... Fionn não vai se importar se você ficar com algum filhote dele. — a música mudou para algo mais agitado e ele parou a dança, mas não saiu da posição. Encarou os olhos claros dela, estavam brilhando, podia se ver refletido neles. Foi uma das poucas vezes até ali que Bjord viu a própria beleza. Acariciou a bochecha dela com o indicador, depois seus lábios meio tingidos de vinho, quando os beijou o fez de forma suave. De olhos fechados ouvia um coro de valquírias sobrepondo a canção do bar. De volta ao mundo, ainda agarrado a ela, olhou em volta como se estivesse vendo tudo pela primeira vez. — Podemos terminar a noite em outro lugar? Só eu e você. — os olhos cinzas de Bjord encontraram com os dela e tentaram se comunicar de alguma forma, depois do último beijo ele começou a ter essa sensação de que ali tinha gente demais. Só Freya era o suficiente.
***
Os primeiros passos foram pequenos, meio confusos, mas quando meu olhar encontrou com o de Bjord e parei de pensar no que estava fazendo, tudo ficou mais fácil. Giramos lentamente no lugar, abraçados o tempo todo. Esqueci por um instante onde estávamos, o bar ao nosso redor saiu de foco e não sabia mais se o calor no meu peito era só culpa do quentão. Ri baixo quando Bjord sugeriu me dar um hipogrifo de presente. Como na música, pensei na casa toda destruída e como minha pequena cabana nas Bermudas não seria grande o suficiente para receber um hipogrifo. - Quem sabe, um dia, tenha uma casa grande suficiente para ter um hipogrifo morando com a gente. E um unicórnio, por que não? - tive um rápido vislumbre de eu cuidando de um filhote de unicórnio, com Bjord ao meu lado, e quis ficar em Hogsmeade para sempre. Ver tantas criaturas mágicas novas no arquipélago não era tão divertido, se ele não estava por perto. O abracei com força, me sentindo feliz de um jeito que não me sentia há meses e só percebia isso agora. Foi fácil esquecer que logo precisaria me despedir mais uma vez, quando meu rosto estava tão perto do seu que podia me ver refletida em seus olhos, ao mesmo tempo em que ele acariciava meu rosto, tão delicadamente, até nossos lábios se tocarem. Retribuí seu beijo lentamente, aproveitando cada segundo, demorando o máximo que pude antes de nos separarmos novamente. Só então me dei conta que a música havia mudado e continuávamos abraçados, parados em pé no meio do bar, enquanto as outras pessoas haviam voltado para seus lugares, ou dançavam mais animadamente. De repente, o pub pareceu cheio e barulhento demais. Mesmo já tendo combinado que o veria no dia seguinte, não queria que a noite acabasse e concordei silenciosamente com a cabeça, quando Bjord me perguntou se poderíamos ir a outro lugar, só nós dois. Muito relutante, desfiz nosso abraço e voltamos para nossa mesa apenas para apanhar nossos casacos e pagar a conta. Só me dei por satisfeita quando deixamos o pub e pude passar o braço pela sua cintura, para seguirmos abraçados pela rua já escura.
em 2022-09-13
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Hogsmeade - Rua Principal do Vilarejo
Home is wherever I'm with you O ar gelado me pegou de surpresa quando me materializei em algum lugar de Hogsmeade. As casinhas tortas com telhados cobertos de neve, e o castelo de Hogwarts ao longe, me indicavam que eu estava no lugar certo, mas não sabia exatamente onde. Senti uma ardência estranha na minha mão e, de repente, notei que o ramo de flores secas que havia usado como chave de portal estava em chamas, que agora lambiam meus dedos. Soltei o ramo depressa e imediatamente notei que a barra do meu vestido também estava pegando fogo. Com uma exclamação de surpresa, bati nas minhas vestes apressadamente e por sorte consegui apagar o fogo antes que deixasse mais que um chamuscado na barra. Torci o nariz ao ver meu vestido preferido agora com a barra queimada, mas logo voltei a olhar ao meu redor com um sorriso no rosto. Apesar de estar cansada e desnorteada pelo deslocamento instantâneo, sem falar do frio, não conseguia parar de sorrir. Fazia pouco mais de seis meses que não pisava em Hogsmeade, mas parecia fazer toda uma vida. Fechei bem minha capa para me manter aquecida e comecei a andar, primeiro devagar, enquanto tentava me localizar e depois acelerei o passo quando encontrei a rua principal do vilarejo. Meu coração começou a bater depressa enquanto seguia pela rua e mal percebi que comecei a correr quando avistei a placa do correio algumas casas adiante.
***
Bjord lembrava de casa enquanto cuidava de seus afazeres, embora lá estivesse em outra estação ele gostava de pensar em Ymir como um lugar frio porque quando estava lá era sempre assim. A neve o confortava, mas ele não podia dizer o mesmo das corujas. Estavam todas muito preguiçosas em seus poleiros e pareciam muito agradecidas de haviam poucas entregas sendo feitas naquele recesso de inverno. Como prometido ele estava pagando com trabalho a sua permuta pela coruja que usava para enviar cartas à sua namorada, Freya, que por sinal não tinha lhe respondido a últimas até agora. Tudo bem, ele pensou, é muito longe. E os primeiros dias fora de Hogwarts se passaram numa tranquilidade quase tediosa. Sem pacotes para despachar e com metade das corujas quase hibernando só sobrava o trabalho de cuidar daquelas que eram especificas para inverno. Geralmente nenhuma delas era muito ativa, então só as alimentava e as deixava em paz. Tinha parado de contar os dias desde que o recesso começou porque o deixava estranhamente ansioso, não estava sendo um aluno muito excelente nas disciplinas NIEM’s e o futuro parecia cada vez mais próximo no horizonte. Ele via Freya, os cabelos ruivos se destacando no meio da neblina branca e gélida que lembrava o mar de Ymir. Por um momento ele pensou estar tendo algum momento de iluminação divino muito real enquanto cuidava das penas daquela grande coruja da torre. Ficou atônito vendo a tal ilusão e parecia buscar um significado naquilo, será que os seus Deuses estavam tentando dar uma resposta aos seus receios? Freya, Ymir, tudo parecia tão próximo agora, mas seu coração parecia focar mais na moça que amava, ela estava tão nítida se aproximando pela rua... Quando percebeu que não era uma alucinação ele congelou. Piscou algumas vezes. Bjord estava parado na frente dos correios muito mais agasalhado do que um dia já estivera na presença de Freya. O dono do estabelecimento não queria que ele ficasse doente então lhe doou luvas, dois cachecóis e um gorro com cores natalinas. Era um presente antecipado, mesmo quando Bjord quase recusou dizendo que não comemorava a data o homem insistiu. Diferente dele, ela não apresentava muitas mudanças, talvez só estivesse mais bronzeada. — Freya?! — o tom saiu entre uma exclamação incrédula e a dúvida, parecia achar que era coisa do frio congelado sua cabeça e lhe dando alucinações muito vivas. A coruja ficou olhando para os com certo desgosto depois bicou Bjord para que continuasse a lhe dar atenção, mas ele nem sentiu. Na verdade, ele parecia estar num estado de suspensão da realidade. — Como... Isso... Você, aqui... — só dava para ver seus olhos cinzentos por trás de tantas roupas, mas ainda assim qualquer um conseguiria enxergar que haviam rubores por todo o rosto ali embaixo. Se fosse uma criança sem tanto controle de sua magia com certeza teria soltado vapor pelas frestas. Foram ganhando brilho a medida que ele absorvia a presença dela, logo dava para perceber que estava sorrindo. Sorrindo muito. Quando finalmente a abraçou não maneirou, foi apertado e cheio de sentimentos que não conseguiam ser transpostos nos pergaminhos daquelas cartas que trocaram enquanto estiveram afastados. Ele a ergueu do chão e se aninhou em seu pescoço, o cheiro do cabelo dela não tinha como ser uma ilusão. Era único demais.
***
Havia reconhecido Bjord de longe, antes mesmo de ver seu rosto e apesar de estar coberto de mais roupas que jamais havia visto. Seu jeito de andar e como parou no lugar, incrédulo, ao me ver me aproximando, o denunciaram e só parei de correr em sua direção quando colidi com ele, jogando meus braços ao redor do seu pescoço. O abracei apertado enquanto ele me erguia do chão e quis enchê-lo de beijos, mas encontrei seu rosto coberto até o nariz. Deixei escapar uma risada enquanto afastava o cachecol para revelar sua expressão sorridente, irradiando calor. Segurei seu rosto nas minhas mãos, cobrindo-o de beijos, sem conseguir parar de tocá-lo, como se precisasse ter certeza de que ele estava ali mesmo. - Eu disse que ia dar um jeito de vir te ver! - sorria cada vez mais, satisfeita por ter conseguido surpreendê-lo. Se Bjord parecia não acreditar que eu estava ali, eu mesma sentia que estava sonhando. Estar em Hogsmeade não estava nos meus planos quando acordei naquela manhã quente e ensolarada nas Bermudas. Foi de repente que me lembrei que o recesso de natal já deveria ter começado em Hogwarts e de impulso corri para providenciar uma chave de portal. Ainda usava o mesmo vestido florido daquela manhã, coberta apenas por uma capa de viagem, mas no momento nem reparava no frio. - Como você está? - estudei seu rosto, atenta. Fiquei feliz ao notar seu rosto corado e sorridente, muito diferente da última vez que havia o visto - Está aproveitando as férias? Você está no seu horário de trabalho? - lembrei de repente que estávamos na frente do correio e desfiz nosso abraço, sem saber direito como me comportar. Mesmo assim, não consegui soltá-lo completamente e continuei segurando suas mãos. - Eu estava com saudades. - falei baixo, observando meus dedos entrelaçados nos seus por cima das luvas, sem conseguir parar de sorrir. Consegui me manter quieta por mais um instante e então fiquei na ponta dos pés para aproximar meu rosto do seu até nossos lábios se tocarem.
***
Quando o abraço foi desfeito e ele conseguiu olhá-la novamente ele sentiu que todo lugar de seu rosto que ela beijou estava quente, como se um pouco do calor do lugar que ela estava vivendo agora residisse dentro de si. Freya ainda parecia alheia a própria aura primaveril, o contraste de sua presença radiante quando eles dois se beijaram teria derretido a neve da calçada se Bjord não a tivesse tirado ela mais cedo. Ele não sabia por onde começar quando abriu os olhos novamente, sempre tinha a sensação ter saido da realidade e acordando num sonho. Tinha tantas perguntas, tantos planos, as coisas pareciam se amontoar em sua cabeça para saírem todas de uma vez, mas só sorriu para Freya e lhe retribuiu o beijo com outro. Foi intenso daqueles que deixam sem ar no final. — Eu não esperava que... eu teria... foi tão de repente... Estou tão feliz! — sua fala era cortada e ofegante, mas não dava para saber se foi por causa do beijo ou se era mais um acesso de empolgação. Sua expressão radiante foi lentamente ganhando um ar mais sério quando viu que por mais que ela irradiasse todo aquele calor, suas vestes não estavam nenhum pouco apropriadas para o frio.  — Aqui, vista isso. — começou tirando um dos casacos, depois se enrolou quando passou alguns dos cachecóis e suas luvas para ela. Por fim lhe deu o gorro verde escuro e branco, ele arrumou no topo da cebeça dela e meio que riu ao ver que as vestes eram ainda maiores nela. O Bjord por baixo das roupas ainda estava vermelho e meio sorridente mesmo estando todo bagunçado. Sua barba estava um pouco mais selvagem e quando ele tocou o próprio rosto sem luvas pareceu ponderar se isso a incomodava, mas afastou o pensamento. — Eu estava cuidando da... — ele olhou o poleiro do lado e a coruja tinha ido embora enquanto os dois ficavam de chamego. Ele demorou uns segundos para voltar a si. — Vamos, entre... Não fique no frio. — ele a conduziu para dentro dos correios. As corujas de vários tamanhos estavam empoleiradas e chacoalharam as penas quando ele fechou a porta. Ele moveu uns objetos de limpeza para um armário e mudou algumas coisas de ordem como se quisesse deixar o lugar mais apresentável. Não tinha mudado muito desde a vez que os dois estiveram ali juntos a última vez. Ele parecia ansioso, mas se contentou apenas segurando a mão dela. Se arrependeu na mesma hora de ter lhe dado o par de luvas. — Só estou fazendo a limpeza, tecnicamente estamos fechados porque o carteiro foi visitar a avó dele que pegou um resfriado, foi levar umas... Ah! Vem ver, vem... —a puxou pela mão até a lareira num dos cantos perto do balcão onde se despacha as cartas. — Salamandras! Ele foi levar umas pra ela. Apareceram do nada faz uns dias, mas ainda estão saudáveis. — disse orgulhoso. Havia um monte delas aninhadas no fogo. Bjord aproveitou o momento para dar um beijinho no rosto de Freya, depois outro, mas aí se controlou. — Também estava com saudades. Que bom que está aqui. — ele encostou o rosto no dela e o calor de Freya era muito mais reconfortante que o de mil salamandras de fogo.
***
Eu sentia o ar gelado ao meu redor, mas eu mesma não sentia frio. Ainda me sentia quente e ofegante por ter subido a rua principal correndo, ou talvez por conta do longo beijo, e quase protestei quando Bjord me ofereceu seu casaco, mas acabei aceitando quando vi que ele estava infinitamente mais agasalhado que eu. Agora que havia menos roupas no caminho, podia estudá-lo melhor. Ele havia crescido de volta e a barba lhe dava uma aparência de adulto… Me perdi um segundo observando enquanto ele se atrapalhava me estendendo luvas e cachecóis, mas voltei a rir quando ele tentou encaixar seu gorro na minha cabeça. O ajudei, tirando as folhas secas que tinha enfeitando o cabelo e senti meu rosto esquentar mais uma vez ao notar que o casaco e o cachecol tinham seu perfume. O segui para dentro do correio, ajeitando o cachecol junto ao meu rosto, enquanto Bjord corria tentando colocar o lugar em ordem. Eu percorria os olhos pelo lugar e pelas corujas empoleiradas quando ele me puxou pela mão para inspecionar a lareira do estabelecimento. Pequenas salamandras vermelho vivo e laranja se escondiam entre as brasas. Deixei escapar uma exclamação de surpresa e me abaixei para olhá-las de perto. - Ah! Elas vão ficar bem enquanto o fogo estiver aceso… Você também pode dar pimenta para elas… - me levantei novamente ao seu lado e passei um dos braços ao seu redor, enquanto ele me beijava no rosto - O sangue delas é bom para… resfriados. - fui falando mais devagar ao me dar conta de que ele provavelmente já sabia disso. Encostei meu rosto no seu e soltei um longo suspiro de alívio que nem sabia que estava preso dentro de mim. Estava achando difícil de soltar Bjord, como se pudesse compensar todos os meses separados de uma vez só. - Hoje cedo lembrei que era natal, então você não tinha aulas, e resolvi vir te ver. - expliquei, de novo cheia de animação na voz - Nunca tinha ido tão longe… eu poderia ter acabado no meio do oceano. - encolhi os ombros como se não fosse nada - Mas se você precisar trabalhar, eu posso te ajudar! Estou muito boa em limpar gaiolas e dar comida para animais. - disse com um sorriso - E acho que as corujas vão ser mais tranquilas que um hipogrifo mal humorado.
***
Ficou extremamente alarmado quando a ouviu falar da possibilidade de ter acabado no oceano. Só de imaginar ele sentiu um frio na espinha que não era relacionado ao inverno, sua expressão se fechou num olhar sério e sombrio. Como todo formando Bjord estava tendo aulas de aparatação e embora obviamente fosse péssimo e tivesse conseguido somente uma vez ele ainda tinha lido muito da teoria. A imagem de partes fragmentadas de Freya ao longo de grandes espaços de água lhe quase lhe causou tontura, mas aí lembrou que seria impossível até mesmo para um bruxo muito talentoso se deslocar de um continente para outro. Isso fez ele arquear a sobrancelha, curioso. — Como exatamente... — parou no meio da fala e ficou em silêncio. Percebeu que não queria saber, ao menos não agora, a última coisa que precisava era mais um receio para atribuir a Freya. As cartas dela já faziam o trabalho de deixá-lo meio ansioso, então agora que estava do seu lado e aparentemente inteira não iria estragar esse momento. Discutiriam isso depois, ou talvez nunca. Tem coisas que é melhor não saber. Resolveu focar na parte que importava no momento: ela continuava com a mesma atitude ligeiramente impulsiva de quando ainda estava em Hogwarts. A saudade que sentia ser tão genuína a ponto de sabe-se lá como atravessar todo o oceano só para passarem um dia juntos deixava Bjord tão feliz que não conseguia controlar aquele pequeno sorriso de satisfação que não ia embora. — Trabalhar? — voltou a si, tinha ficado uns segundos admirando-a novamente. — Ah, não! Não... Você está aqui, precisamos fazer algo... hum... especial? Quero dizer, podemos ir tomar alguma bebida no três vassouras... Temos idade pra isso agora! Quero dizer... Bebidas de adulto... — fazia algum tempo que ele não falava tanto assim que até sentiu sua garganta ficar meio arranhada, escutar a própria voz encher os correios pareceu engraçado. Ele meio que riu da própria empolgação. — E os duendes vão fazer uma cantiga de natal, acho que é esse o nome... — e ficou absorto em ideias do que poderiam fazer depois, animado por antecipação diante das possibilidades.
***
Não notei a cor desaparecendo do rosto de Bjord quando comentei o que aconteceria se me perdesse no caminho e continuei tagarelando enquanto observava as salamandras correndo entre as chamas da lareira. Ficaria feliz em só ajudá-lo com seu trabalho e passar o resto do dia limpando cocô de coruja, se isso significasse que poderíamos passar algumas horas juntos, mas um passeio juntos seria muito mais divertido. - Um encontro de natal, então? - meu sorriso aumentou enquanto sentia meu rosto esquentar de novo. Apesar de passarmos muito tempo juntos quando ainda estava em Hogwarts, nossos encontros eram só passeios nas estufas ou na orla do lago. Lembrei vagamente da nossa promessa de tomar chá juntos, mas fiquei curiosa diante da proposta de visitar o pub. A ideia de que agora tínhamos idade para comprar bebidas de adultos de alguma forma não parecia verdade e me fez rir baixo enquanto esperava que Bjord fechasse o correio. Antes de sair, acenei para as corujas e então seguimos de mãos dadas até o Três Vassouras.
em 2022-09-12
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Campos - Ilha Scamander - Arquipélago das Bermudas
I am going out to see what I can sow Havia se passado um mês desde que avistara os bezerros apaixonados dançando à luz da lua e, com a próxima lua cheia se aproximando, decidi voltar aos campos da ilha à noite, para vê-los dançar novamente. Dessa vez com um trabalhinho extra: quando contei para outros membros da SIC que havia avistado um rebanho de bezerros apaixonados na ilha Scamander, me foi sugerido que tentasse capturar um deles. Aparentemente bezerros apaixonados também eram o prato preferido de outra criatura mágica, o hodag, que por sua vez, tinha chifres com propriedades mágicas. Fiquei horrorizada diante da ideia de usar o pobre bezerro como isca, mas logo fui tranquilizada: apenas sua essência seria o suficiente para atrair um hodag. Só precisaria capturar um bezerro e outros bruxos mais experientes poderiam cuidar do resto. Não me ocorreu perguntar como essa essência era extraída. Antes do anoitecer, voltei ao meu mesmo posto de observação no alto de uma árvore de um mês atrás. Dessa vez, além da pá e baldes para recolher o excremento do bezerro, tinha enchido minha bolsa de petiscos para atrair pelo menos um deles. Logo a lua subia no céu e o grupo de bezerros surgiu no mesmo ponto do campo da última vez. Os observei por um instante, pensativa. Havia decidido esperar que eles estivessem distraídos com a dança e então tentaria atrair um deles para longe do grupo. Havia passado a tarde olhando minhas anotações de Hogwarts em meu grimório, até encontrar o feitiço que conjurava uma gaiola para prender criaturas e então o anotei na palma da mão para que não esquecesse. Enquanto assistia à dança de uma das criaturas, concluí que poderia vir para vê-los todos os meses e nunca cansaria de testemunhar a cena. O desenho formado no chão era diferente do feito mês passado, mas igualmente bonito e complexo, e logo um dos bezerros da plateia decidiu se juntar ao dançarino. Assim como eu, o restante do grupo de criaturas também observava a dança do casal e, tomando proveito da sua distração, desci lentamente do meu esconderijo no alto da árvore, tentando não fazer nenhum barulho. Me abaixei e avancei, meio escondida pela grama alta, até chegar a poucos passos de distância dos bezerros. Tirei de dentro da bolsa um punhado de petiscos e com um aceno de varinha fiz com que as bolotinhas de ração se erguessem no ar. Franzindo a testa para manter a concentração, fiz que elas fossem levitando lentamente até o bezerro mais próximo. Não demorou muito para que o bezerro, com seus olhos enormes, notasse a comida flutuando logo ao lado da sua cabeça. E também não estranhou quando a ração se moveu na minha direção quando ele tentou abocanhá-la no ar. Segurei o riso e comecei a recuar devagar atraindo o bezerro para longe do restante do grupo. Muito lentamente me afastei da colina onde estava o restante do grupo de criaturas, enquanto era seguida pelo bezerro que estava tão distraído com a comida flutuante que mal parecia me notar. Finalmente, deixei a área de grama alta, me aproximando de um amontoado de pedras e arbustos, onde achei que seria mais fácil acuá-lo caso ele tentasse fugir. Foi nesse ponto que o bezerro finalmente me enxergou e parou no lugar, desconfiado. Prontamente, botei a mão na bolsa e tirei mais um punhadinho de petiscos, lhe estendendo com um sorriso. Continuei encolhida, falando em voz baixa e tentando não parecer muito ameaçadora. - Está tudo bem, eu não vou te machucar. - me ajoelhei na sua frente, deixando que ele viesse farejar a comida na minha mão e depois fiz com que ela levitasse para que ele pudesse pegá-la no ar - Você quer dar uma volta comigo? - o bezerro deu mais um passo na minha direção e prendi a respiração em antecipação, me preparando para o que faria a seguir. Mas no momento em que baixei os olhos para minha mão, para ler o feitiço de conjurar a gaiola, vi um vulto saltar do meio dos arbustos em nossa direção. Antes que eu pudesse entender o que estava acontecendo, o vulto de olhos vermelhos brilhantes, cheio de chifres e garras derrubou o bezerro no chão que berrou de dor ao ser perfurado por um dos chifres da criatura. Olhei ao redor, em pânico, procurando alguma coisa que pudesse me ajudar contra o monstro que atacava o bezerro, antes de perceber que tinha minha varinha mãos. - Solta ele! - um aceno brusco da varinha empurrou a coisa de cima do bezerro, que imediatamente se levantou, tentando se equilibrar sobre uma das patas feridas no ataque e fugiu, passando por mim. Ainda estava de joelhos e estupidamente me levantei, me colocando entre o monstro e o bezerro ferido que cambaleava para longe do perigo, balindo de dor. Agora podia prestar mais atenção na nova criatura: tinha o tamanho de um cão grande, com a cabeça como de um sapo, com dois chifres curtos entre os olhos vermelhos e mais dois no alto da cabeça, longos e apontando para trás. Nunca tinha visto um hodag, mas batia com a descrição dos livros da biblioteca da SIC. Parada entre o bezerro e o hodag, era o único obstáculo entre ele e seu jantar. Irritada, a criatura soltou um rosnado grave e imediatamente saltou sobre mim. Consegui erguer meu braço a tempo de me proteger e soltei uma exclamação de dor quando as garras rasgaram minha pele e carne, antes cair de costas no chão. Me encolhi, esperando a segunda parte do ataque, mas o hodag passou por mim e rolei na terra a tempo de vê-lo passar por mim e partir para perseguir o bezerro cambaleante que havia acabado de escapar. - Pare! - com um aceno da varinha, senti a terra vibrar sob a minha mão e vinhas brotaram do chão e se agarraram nas patas da criatura. As vinhas foram o suficiente para desequilibrar a criatura e parar seu salto, mas logo em seguida o hodag começou a se contorcer, arrebentando os ramos que insistiam em crescer em volta das suas patas. - Enjaulius! - lembrando do feitiço que havia anotado na mão, conjurei uma gaiola ao redor do hodag, no exato momento em que ele finalmente conseguiu se livrar das vinhas. As grades de metal se fecharam ao redor da criatura, impedindo que ele continuasse perseguindo o bezerro ferido. Tão rápido como havia começado, a luta acabou. Corri os olhos pelo campo para ver se haviam mais inimigos à vista, mas estava tudo quieto novamente. Os demais bezerros haviam fugido para longe, espantados pelo hodag e pelos meus gritos e apenas o pobre bezerro ferido estava por perto, ainda tentando voltar para seu junto do seu rebanho. Precisei de um minuto para finalmente conseguir me levantar, sentindo minhas mãos e joelhos tremerem violentamente enquanto eu tomava consciência aos poucos do que havia acontecido. Percebi que meu antebraço da mão da varinha ardia e ao baixar os olhos para ele encontrei o corte fundo que sangrava intensamente, causado pelas garras do hodag. Apertei o machucado com minha mão livre e caminhei até o bezerro, que ainda cambaleava e chorava de dor, tentando voltar para seu grupo, que havia se reunido do outro lado do campo em um grupinho nervoso, olhando ao redor e procurando se havia mais algum perigo. A criatura tinha um corte no alto de uma das patas, onde havia sido atingida pelo chifre do hodag. Parecia assustada, mas mesmo assim deixou que eu me aproximasse e relaxou um pouco quando lhe fiz um carinho no pescoço. - Desculpa, eu não sabia… - eu mesma ainda tremia por conta do susto e agora começava a me sentir culpada do acontecido: se não tivesse separado o pobre bezerro do grupo, ele provavelmente não teria sido atacado - Eu vou cuidar de você, você vai ficar novinho em folha. - me esforcei para soar tranquila e fui conversando em voz baixa enquanto examinava o machucado: não era muito sério e poderia cuidar dele ali mesmo. Não valia a pena levar o coitado para ser cuidado depois do susto que havia passado. Apontei a varinha para o ferimento e disse algumas palavras mágicas, vendo o corte se fechar magicamente, deixando apenas uma pequena cicatriz no lugar. O bezerro testou a perna antes machucada e percebeu que podia andar normalmente. Soltou um pio agudo como agradecimento e correu de encontro ao resto do seu grupo. Só então voltei minha atenção para meu próprio machucado. Soltei o corte que estivera pressionando fechado com a outra mão até o momento. Minha mão veio cheia de sangue e soltei um suspiro trêmulo. Já havia cuidado de machucados piores, mas não em mim mesma… Fiz uma careta enquanto torcia meu braço para apontar a varinha para o ferimento. Ninguém havia me explicado na escola como você fazia quando não conseguia alcançar o machucado com a varinha… Depois de um pouco de contorcionismo, consegui limpar o ferimento com um feitiço e fechá-lo com outro. O trabalho não ficou bonito: o corte só estava meio cicatrizado e podia ver claramente o desenho das garras do hodag na minha pele. Precisaria passar na enfermaria para que um curandeiro mais experiente desse uma olhada, mas pelo menos não estava mais com um machucado aberto. De repente, me sentia exausta. Pensava em me arrastar de volta para minha cabana e procurar a enfermaria na manhã seguinte, quando um rosnado grave me lembrou que o hodag ainda estava ali, dentro de sua gaiola. As coisas não poderiam ter sido mais diferentes do que eu planejara e agora não sabia o que fazer direito. Encarei a criatura aprisionada enquanto pensava, franzindo a testa e apertando meus lábios juntos. Me decidi de repente, apontei a varinha para o céu e conjurei fagulhas vermelhas, que ficaram levitando no ar como um sinalizador. Avisaria na sede que havia capturado uma criatura e deixaria que outros magizoologistas lidassem com a situação. - Alguém vai voltar para buscar você. - disse ao hodag, que ainda circulava mal humorado dentro de sua gaiola - Eu estou cansada demais para te levitar até a ilha principal. - por mais que a criatura tivesse me atacado, não pude deixar de me sentir mal por deixá-lo sozinho no meio do campo. Abri a boca para dizer mais alguma coisa, mas me contentei em encolher os ombros e comecei meu caminho de volta para a sede.
em 2022-09-10
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Cartas
Querida Freya, Peço-te perdão pela ausência de cartas durante o primeiro mês de férias, não consegui a licença para levar a nova coruja de volta a Islândia comigo e tive que deixa-la em Hogsmead. Senti sua falta o mês inteiro e ainda sinto, mas confesso-te que estar na companhia de meus pais que já não via há algum tempo foi muito bom. Eles ficaram felizes e eufóricos com a escama de dragão, foi surpreendente vê-los daquela forma. Nunca tinha acontecido.   Mesmo explicando que foi um presente dado por ti e não um troféu de batalha ninguém escutou ou se importou, fizeram uma festa para comemorar minha volta e brindamos à minha “conquista”. Um amigo de infância que acabou por se tornar um trovador recitou um poema sobre o episódio do unicórnio, que contei a ele por carta no verão passado. Nossa pequena aventura agora está eternizada no folclore do meu povo. Por isso também preciso te pedir desculpas, no poema você é minha esposa e eu estava tão feliz por ser prestigiado que não lembrei de pedir para corrigir. Foi a primeira vez que brindaram ao meu nome desde que descobriram os meus dons mágicos. Parte disso devo a você, então muito obrigado por me proporcionar momentos de alegria mesmo quando está tão distante.   Newt gostou muito de Ymir, mas como já esperava ninguém além dos pequenos ficou muito contente com a presença dele por lá. Numa das primeiras noites ele foi até o altar da vila e pegou todas as oferendas de pedras preciosas e ouro, e embora eu as tenha devolvido prontamente as pescas do dia foram fracas. Como castigo tive que queimar algumas ervas para tranquilizar Ægir, sua esposa e suas nove filhas. Newt também fez uma toca na encosta de uma montanha e ficou amigo de um lobo, não sei quando isso aconteceu, mas dividiram o espaço durante toda nossa permanência na ilha. Sei que você deve estar curiosa para saber se nomeei o Lobo, mas sinto contar que não foi possível. Ele não gostou de mim e me atacou, mas consegui me proteger usando magia. Evitei a toca para não incomodá-lo.   Também estive com os sacerdotes e eles concordaram que quando eu me formar poderemos conversar sobre o meu futuro na comunidade. Estou esperançoso mesmo que ainda não seja uma certeza. Não quero renunciar meu dever com meu povo, mas também não quero ficar mais longe ainda de você e do mundo exterior. Estou escrevendo esta carta de uma estalagem em Hogsmead onde foi me concedido um quarto pelo mesmo senhor que me ofereceu a vaga de ajudante nos correios. Ele é um homem muito gentil, era de se esperar de alguém tão amigo das corujas, certo? Em agradecimento o ofereci uma garrafa de hidromel que trouxe de casa, ele ficou muito animado e brindamos algumas vezes com outros homens no bar Três Vassouras. Acho que fiz novas amizades, embora não tenha falado quase nada eles me reconhecem quando passam por mim.   Comecei a trabalhar tem alguns dias. Os pacotes e corujas são bem trabalhosos. Você certamente gostaria de ver, as encomendas que chegam por aqui sempre são muito surpreendentes. O pequeno testrálio vem me visitar todos os dias quando estamos fechando, o senhorio sempre lhe dá carne seca e acho que é por isso que ele volta. O apelidamos de Penumbra porque ele aparece sempre à noitinha.   Você acha que é um bom nome?   Fionn ainda não apareceu e não tive oportunidade de procura-lo, farei isso quando começar as aulas. Estou um pouco ansioso, não sei o que esperar do meu último ano em Hogwarts sem te ter por perto. Virgo me disse por carta que recebeu a função de ser monitora da corvinal, deve estar muito orgulhosa, mas imagino que vá estar mais ocupada do que de costume. Irei comprar meus materiais na próxima semana, vai ser a primeira vez que viajo usando a rede de flu! Ando fazendo alguns trabalhos menores pelo vilarejo para juntar dinheiro e te enviar um presente que irá junto desta carta.   Espero que você goste. Espero que esteja bem po aí.   Me falaram que é muito longe e que demorará alguns dias para minha coruja te achar. Ela está ansiosa por essa entrega, o que é meio engraçado porque quase nunca demonstra alguma emoção, só sei pelo jeito que mexe suas penas e estala o bico. Ando aprendendo muito sobre corujas no trabalho. Uma delas, bem grande, quase arrancou o meu dedo. Doeu bastante. Usei o pouco que aprendi nas aulas de curandeirismo e uma bruxa simpática do apotecário local me ajudou. Ganhei mais uma cicatriz. Na próxima carta reportarei sobre Fionn. Aguardo notícias suas.
með ást, Bjord.
***
Tell me there's a garden where my flowers will grow Cabanas - Ilha Scamander - Arquipélago das Bermudas
Caro Bjord, Fico feliz de saber que você e Newt aproveitaram bem suas férias. Ymir parece um lugar muito interessante e gostaria muito de conhecer um dia. Também gostaria de mostrar para você minha casinha perto de Cork. Ela está diferente agora que não moro lá, tem bem menos plantas crescendo pelas paredes e parece menos com a casa de uma bruxa. Minha mãe não é tão boa com plantas quanto eu, mas o novo namorado dela se mudou para lá há alguns meses e gosta bastante de cuidar do jardim. Espero que logo possa ver você, Newt, Fionn e Penumbra (mesmo que eu não possa ver ele de verdade). Também adorei o nome que vocês escolheram para ele. É muito estranho não poder te ver todos os dias e nem poder te apresentar todas as criaturas mágicas que estou conhecendo por aqui. Não sei se aqui tem testrálios, pois não posso vê-los, mas tem alguns cavalos alados e um hipogrifo meio rabugento. Pensei em aprender a voar em um deles para te visitar em Hogwarts, mas me disseram que a viagem é longa demais para eles, ainda mais para um bruxo inexperiente. A maior parte dos bruxos chega aqui em um barco, mas estou aprendendo a fazer chaves de portal para ir onde eu quiser! Aqui tem dias muito agitados e outros muito tranquilos. Não me deram nada muito perigoso depois que acabei na enfermaria na minha primeira semana. Eu contei essa história? Me pediram para capturar uma criatura nova nos pântanos da ilha. Era tipo um sapinho, mas todo peludo, com um chapéu de cogumelo na cabeça. O problema é que ele era meio venenoso e acabei tocando em um deles... Aí acabei na enfermaria, achando que estava virando uma árvore. Depois disso, meu trabalho virou alimentar criaturas e limpar cercados, mas não deixa de ser divertido, já que vive aparecendo alguma criatura nova. E no meu tempo livre eu acabo explorando o arquipélago. Algumas noites atrás vi um grupo de bezerros apaixonados dançando à luz da lua cheia e recolhi o excremento deles para ajudar nas estufas... E agora estou cuidando dos bebês amassos. Uns dias depois que mandei minha última carta, a mãe deles sumiu e não apareceu mais, então acabei me mudando pra cabana onde os encontrei, para poder cuidar deles. Também trouxe Corvo comigo, que está aprendendo a ser um bom irmão mais velho. Te prometi um desenho deles, mas consegui uma coisa mais legal! Peguei emprestada uma das câmeras fotográficas que usamos para registrar algumas das criaturas e um dos pociologistas daqui me ajudou a revelar a foto com aquela poção que faz as imagens se mexerem. Na foto, eu nunca consigo segurar todos eles ao mesmo tempo, pois eles nunca param quietos, e quando fui tirar a foto de verdade demorou horas pra convencer todos a ficarem parados por tempo suficiente. Ainda não sei que nome vou dar para eles e nem o que vai acontecer quando eles ficarem maiores. Por enquanto estou gostando da companhia. Como vão as coisas em Hogwarts? Dê parabéns a Virgo pela monitora por mim! Também diga a Newt, Fionn e Penumbra que mandei um abraço para eles. Quem sabe logo poderei te visitar e podemos tomar chá juntos. Aqui faz calor o tempo todo e tomar chá quente é uma péssima ideia. Espero te ver logo. Beijos, Freya
em 2022-09-05
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