Tumgik
#sol berruezo pichon-riviére
cenadefora · 4 years
Text
Mostra de São Paulo: A Imagem que Falta (Mamãe, Mamãe, Mamãe)
Tumblr media
por Lucas Andrade
Embora eu esteja certo que essa discussão já foi levantada diversas vezes no passado, as vezes penso que as pessoas não têm consciência da influência que o cinema latino da virada do século possui na máquina de produção e exibição que anualmente desboca nos festivais e circuitos de arte. Finais abertos, ausência de ênfase, personagens ambíguos, aversão ao cinema de tese, trajetória algo erratica da narrativa, omissão de dados nacionais contextuais, oposição à demanda identitária e política: códigos que em maior ou maior medida se viam nos filmes de Lisandro Alonso, Martin Reitman e Lucrecia Martel quando irromperam no cenário duas décadas atrás e que ainda hoje encontram ecos, de cópias insossas até reconstruções vigorosas do que pode ser considerado um certo cinema latinoamericano, e mais especificamente um cinema argentino, com toda a vagueza e imprecisão que esses termos sugerem.
Digo tudo isso porque foi inevitável trazer essas comparações enquanto eu assistia Mamãe, Mamãe, Mamãe, seja pelas similaridades com obras dos diretores acima ou pelas formas com que a diretora Sol Berruezo Pichon-Riviére torce essa tradição. Uma casa suburbana num espaço e tempo não especificado é palco de uma tragédia familiar, anunciada rapidamente logo nos primeiros segundos: uma criança morre afogada na piscina da tia. O que vemos em seguida é o processo de recuperação dessa família observada tanto do ponto de vista das crianças (sua irmã e as quatro primas) quanto dos adultos (a mãe e a tia) enquanto tentam lidar com essa súbita mudança no tecido familiar; as mães tentando esconder as dores do luto para suas filhas e as filhas tentando compreender esse evento cuja própria natureza ainda lhes escapa a compreensão. 
Tumblr media
O filme funciona como uma peça de música de câmara: melodias reduzidas que em conjunção constroem complexas harmonias. O mundo explorado por Pichon-Riviére é micro, não se estendendo muito além da casa em que essas mulheres coabitam e a diretora está mais interessada nos climas íntimos dessas relações familiares específicas, a casa como esse palco onde as garotas performam os primeiros registros de uma feminilidade nascente e onde nos colocamos neste estatuto de personagem junto com a câmera, esquadrinhada por entre os cômodos apertados acompanhando esse amadurecimento. Não é à toa que o maior ponto de tensão do filme ocorre justamente quando abandonamos a segurança dos muros domésticos e as personagens se aventuram do lado de fora, não mais protegidas pela familiaridade de seu refúgio doméstico. As quatro paredes constituem um habitat de exploração, e acompanhamos essas garotas enquanto elas tentam preencher o vazio deixado pelo inesperado da tragédia, amadurecendo sob o constante espectro da morte sempre a espreitar por fora do plano. 
Mamãe, Mamãe, Mamãe é um filme submerso num estado de constante melancolia, mas ainda assim é um desses filmes raros que nunca permite o trágico da morte eclipsar seu aspecto humano e ao invés explora as infinitas possibilidades de reinvenção através do drama, uma crença nessa constante fabulação e reinvenção como aspecto renovador e porque não restaurador. Pichon-Riviére possui a voracidade típica de uma diretora estreante, mas sua honestidade e curiosidade para com seus personagens é apaixonante a ponto de suas imperfeições ao fim se transformarem nas suas qualidades mais sedutoras. Superar a morte significa não necessariamente esquecê-la, mas construir novas formas de viver através dela, e Mamãe, Mamãe, Mamãe entende isso muito bem.
Tumblr media
Mamãe, Mamãe, Mamãe está disponível na 44º edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Se quiser ler a cobertura de outros filmes da Mostra, clique aqui.
1 note · View note
haroldgross · 3 years
Text
New Post has been published on Harold Gross: The 5a.m. Critic
New Post has been published on http://literaryends.com/hgblog/our-happiest-days-nuestros-dias-mas-felices/
Our Happiest Days (Nuestros días más felices)
[3 stars]
It’s hard to believe that a 25 year old, Sol Berruezo Pichon-Riviére as director and co-writer, created this rich and nuanced bittersweet take on life, love, and aging so deftly. She even managed to bring new life to an old trope in the process.
Lide Uranga and her younger self, Matilde Creimer Chiabrando, rule the remaining family of brother and sister, Cristian Jensen and Antonella Saldicco. Well, sort of. Suffice to say, everyone gets their time and story, and we get to laugh and feel, mostly, good about it all.
This isn’t a fast and quippy kind of tale, but it is fun to watch it evolve and to see each of the characters find their way. And Pichon-Riviére is going to be a director to watch for as she, herself, matures.
1 note · View note
haroldgross · 3 years
Text
Our Happiest Days (Nuestros días más felices)
Our Happiest Days (Nuestros días más felices)
[3 stars] It’s hard to believe that a 25 year old, Sol Berruezo Pichon-Riviére as director and co-writer, created this rich and nuanced bittersweet take on life, love, and aging so deftly. She even managed to bring new life to an old trope in the process. Lide Uranga and her younger self, Matilde Creimer Chiabrando, rule the remaining family of brother and sister, Cristian Jensen and Antonella…
Tumblr media
View On WordPress
1 note · View note