Tumgik
#soren é RIDÍCULO
menaxpov · 2 months
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O Sonho
Madrugada do dia 20 de julho de 2024
OOC: Conversa entre Soren e Esther.
O dia estava claro, o céu sem nuvens e o sol brilhando na temperatura e na cor certa para tornar todas as cores mais vívidas. As pessoas andavam para cima e para baixo pela pequena praça da igreja, Esther sentada nas mesas de ferro branco do lado de fora de uma padaria tradicional, acenava para Soren enquanto bebericava seu café rapidamente provando a quantidade de açúcar que tinha acabado de colocar. "Olá, jovem"
Apesar de familiar, a cena ainda lhe fazia sentir deslocado. Caminhava pela praça da igreja, sem saber bem o motivo de estar ali. Foi quando ouviu a voz em sua direção ao passar pela padaria, e se virou para a mulher. "Não sou jovem há um bom tempo." Respondeu, reconhecendo a bruxa.
"Todos são jovens para mim", sorriu tomando mais um gole de seu café e sinalizando a cadeira à sua frente para que ele se sentasse. "Peço desculpas por invadir sua mente assim, mas não consegui pensar em uma forma diferente de falar contigo a sós, considerando, bem, sua prisão"
Puxou a cadeira, ajeitando o terno enquanto se sentava. Apenas com a menção de invasão de sua mente, foi que percebeu que estava sonhando. Olhou em volta, e então suspirou. No mundo dos sonhos, se esquecia de onde estava. "E o que pretende invadindo minha mente? Descobrir se roubei o livro?" Ergueu uma sobrancelha, curioso.
"Não, pelas Bruxas Anciãs, eu descobri que não foi você no momento que cheguei" riu baixinho conforme um garçom chegava para fazer o pedido de Soren, "Peça algo, garanto que estará delicioso" acenou com a cabeça pedindo ela mesma um croissant de queijo, Na realidade, duvidei que tivesse feito algo do tipo desde o começo. Lhe acompanho, e também a Gaspard, há tempo demais para acreditar em algo tão ridículo como você roubando um livro velho. Por isso queria conversar, saber se tem ideia do porquê estão fazendo isso com você. Ah, claro, você não pode mentir aqui."
Encarou o garçom imaginário, e demorou alguns segundos, mas finalmente pediu um café preto, sem açúcar. Depois, voltou sua atenção para Esther. Sempre muito contido, sempre muito calmo. Soren assentiu. "Acredito que quem tentou roubar o livro está tentando desestabilizar o acordo de paz. Não é apenas um livro velho, mas você já sabe disso." Se virou para o garçom, retornando com os pedidos de ambos. "Tem algum palpite de quem gostaria de destruir o acordo?"
"Entendo", como apenas um sonho pode proporcionar, assim que o garçom saiu outro idêntico ao anterior veio pelo outro lado servindo o croissant e o café preto, "Infelizmente a lista de pessoas não interessadas na paz é longa, desde aqueles que não acreditam em sua possibilidade, quanto aqueles que lucravam com ela. Há também aqueles que querem usar a guerra como desculpa para suas próprias ideias hegemônicas. Agora, se suspeito de alguém? É difícil dizer. O livro realmente estava na sua sala?"
"Muito tempo atrás, nós éramos maioria." Suspirou, segurando a xícara de café. "Gaspard convenceu pessoas o suficiente de que a paz era o caminho. Agora veja só." Deu de ombros, e então bebericou o café. "Eu não sei." Respondeu à pergunta, sendo sincero. "Apenas me disseram que sim, eu não vi. Estava acompanhando as buscas quando entraram na minha sala."
"E muito mais tempo atrás, eram pouquíssimos", retrucou pensando consigo mesma. "Se Alma estivesse conosco, provavelmente teríamos um apelo social maior. Ela tinha um jeito especial de guiar as pessoas, mas enfim..." suspirou se encostando na cadeira e cruzando as pernas. "Aparentemente a menina é a única que insiste nessa história ridícula, mas não consegui chegar até ela. Tinha algo estranho nela quando foram presos?"
"Ciclos." Deu de ombros. Assentiu quando Alma fora mencionada, mas não teceu comentários sobre a bruxa. Se Alma estivesse viva, muitas coisas seriam diferentes. "Não. E não acredito que esteja sob efeito de magia. Suspeito que apenas por lealdade à quem estiver por trás de tudo."
"Entendo...", Esther suspirou arrancando um pedaço do croissant com a ponta dos dedos e o mastigando lentamente. "Bem, claramente quem fez isso queria causar um certo caos, desestabilizar a já frágil paz. E isso é preocupante. Toien está uma zona, os alunos chegaram a estourar os canos do castelo e a fazer algazarra em todo o lugar, brigas estão eclodindo por todo lado lá dentro"
"Quem está cuidando de Toien?" Perguntou, preocupado. Trabalhava duro para manter a paz no castelo, e mal podia imaginar como as coisas estavam agora. Bebericou mais um gole do café, dando uma olhada em volta novamente. "Não espero ficar muito tempo preso. Não existem provas contra mim além de uma confissão."
"Adelaine assumiu a direção provisoriamente, aparentemente há alguns alunos não muito felizes dessa decisão, considerando a personalidade dela", disse suspirando fundo. "Soren, você irá ficar aqui enquanto desejarem que fique. Seja lá quem armou para você, tem seus meios para isso, afinal, em uma investigação séria não seria sequer cogitado a sua participação neste esquema, principalmente não tendo provas e apenas a confissão de uma aluna que, diga-se de passagem, tem a mesma fé pública que uma folha de papel. Lamento dizer isso, colega, mas a existência ou não de provas é irrelevante."
Ouviu tudo com uma tranquilidade inabalável, finalizando o café e encarando a borra na xícara. A resposta inicial foi um sorriso tranquilo, e então juntou as mãos no colo. "Sei que não é sua intenção ser pessimista, senhorita Duskfield, mas confio nos meus homens. A verdade, eventualmente, aparecerá."
"Confie neles o quanto quiser, jovem, eu confio na minha experiência", dito isto, Esther pegou um envelope embaixo da mesa e entregou a Soren. "Infelizmente o nosso tempo está acabando, a próxima ronda já está vindo jogar uma lanterna na sua cara e isso pode acabar perturbando esse sonho tão lindo. Mas antes de ir..." Esther pegou um envelope preto embaixo da mesa e entregou a Soren, "um presente meu para você. Quando perceber que está sendo usado em um jogo muito maior do que pensa, saberá como abrir o envelope e pedir ajuda" Esther se levantou indo até Soren e lhe bagunçando os cabelos "E peço desculpas, mas gostaria de manter nossa conversa privada por enquanto, então... Não tente sair falando dela por aí, sim? Hora de acordar" sussurrou no momento que o mundo inteiro ao redor deles desapareceu em um clarão de lanterna na cara.
Pensou em como fosse possível que aquela mulher, mais nova que ele, pudesse ter mais experiência que um homem que já fora general de guerra. Pensou em como já havia lidado com a arrogância de alguns bruxos tantas vezes, então não respondeu, apenas observou o envelope. Não o tirou da mesa quando ela se levantou, apenas pensou em como aquilo sairia de seus sonhos, para a realidade. Ou estaria presente em seus sonhos dali em diante? "Senhorita, se eu contar à alguém que aceito conselhos de sonhos, serei considerado um louco." Respondeu, finalmente segurando o envelope nas mãos e fechou os olhos. O clarão o fez abri-los novamente, e ele viu o guarda do outro lado das grades. O outro especialista o observou por uns segundos antes de partir para a próxima cela, então Soren se sentou, observando o cubículo gelado. Soltou um pequeno suspiro ao pensar que havia acreditado que aquele envelope do sonho se materializaria no mundo real, mas quando se deitou novamente e passou a mão por debaixo do travesseiro, o sentiu ali. "Bruxas..." Suspirou, fechando os olhos para tentar voltar a dormir.
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vozdodeserto · 1 year
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POR QUE TENTO CONVENCER GENTE QUE DESPREZO?
[O livro "Férias de Fornicação—e outras murmurações de um moralista" já pode ser comprado em Portugal no link aí em baixo. Hoje segue de oferta um dos textos dessa emocionante colecção de crónicas publicadas no Observador.]
Volta e meia dou por mim irritado porque pessoas que desprezo suscitam-me diálogos imaginados em que as convenço a reconhecer a sua falta de discernimento. Reparem: a minha irritação não é apenas aquela que estas pessoas desprezíveis me provocam no imediato; é também a de dar por mim a sentir a necessidade de as resgatar da sua burrice. Acabo numa condição duplamente patética porque, se estas pessoas já me repelem, repelo-me a mim mesmo por querer descobrir nelas algo além da sua estupidez óbvia. Detesto-me, sobretudo, quando o que é detestável nos outros pega no volante da minha imaginação.
Uma das estratégias imediatas, diante desta detestação em circuito interno, é cruzar-me menos com pessoas parvas e, assim, ficar mais desimpedido de diálogos imaginários com elas. Afinal, aborrece-me ser uma máquina automática de conversa virtual com interlocutores desprestigiantes. Na prática, estes interlocutores desprestigiantes estão mais na minha cabeça do que no dia-a-dia, o que me revela outro dilema: até que ponto é que a minha susceptibilidade a gente tola não é, bem vistas as coisas, uma tolice bastante minha? Se o que é mais desinspirador nas pessoas avança tanto dentro de mim, não serei eu mesmo o maior problema?
Lidar com a falta de discernimento dos outros é uma questão imemorial. Os antigos mais sábios, por exemplo, sugeriam que, para encarar o ridículo da humanidade, era útil um equilíbrio delicado entre convívio, confronto e conformismo. Não era conformismo no sentido de indiferença, mas certamente alguma capacidade de aceitação. É também por aqui que nos chega aquela velha oração pela serenidade, ainda célebre nos Alcoólicos Anónimos: “Senhor, ajuda-me a aceitar as coisas que não posso mudar, coragem para mudar as que posso, e sabedoria para distinguir umas das outras”. Também devo orar isto, e assim evitar ser cínico. Não quero cultivar prazer diante do desastre da estupidez colectiva.
Por outro lado, não vale a pena negar que a estupidez é parte considerável da nossa existência. O cristianismo, que guia os meus passos, é frequentemente apresentado a partir do que crê, mas não pode ser ignorado a partir do que constata. Os cristãos crêem em coisas incríveis e, aos olhos de tantos, até absurdas. Mas os cristãos, crendo nessas coisas incríveis possivelmente absurdas aos olhos de tantos, constatam inevitavelmente que o mundo é feito de muita estupidez. O arrependimento só pode ser um ponto de chegada se a estupidez for um ponto de partida (curiosamente, na casa da Família Cavaco os miúdos n��o podem chamar “estúpido” uns aos outros, mas sabem que esse diagnóstico espiritual está na Bíblia—a Bíblia inevitavelmente diz o que evito que os meus filhos oralizem entre si).
Sei que muitos dos diálogos imaginários em que convenço os meus oponentes da sua falta de discernimento são alimentados pela nossa absurda presunção de racionalidade. O modo como estamos inclinados a pensar que pensamos bem é uma tragédia cósmica, minha e de quem tento redimir da estultícia. Soren Kierkegaard, um dos meus santos de eleição, dizia no seu livro “O Conceito de Angústia” que “o homem não existe durante mais do que uma hora por semana”. A nossa vida é um tipo de sono com delírios de grandeza, um doente convicto de que vive o seu período áureo quando afinal se encontra em coma, ligado às máquinas. As nossas discussões são tão infindáveis porque o stock de sedação ao nosso juízo é inesgotável.
A irritação que gente tonta nos provoca participa no processo de desesperarmos, numa espiral imparável de ressentimento, hiper-sensibilidade e vingança. O Inferno também começa assim. Mas pode surgir um outro momento, preferível, feito de alguma admissão pessoal. Creio que o desprezo que justificadamente merece gente em quem a estupidez abunda é problematizado quando nós mesmos não somos tratados de acordo com a nossa. Também é por isso que a santidade—a capacidade de ser inteiro num mundo todo partidinho—não existe sem gentileza.
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tigerwxrrior · 4 years
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task 004; interrogatório
O olhar para os seres mágicos de grande poder à sua frente vinha por baixo, o queixo de Qi Liang quase encostando no pescoço em sua desconfiança. Quem mais encararia os grandes Merlin e Fada Azul com uma desconfiança tão desvelada, se não um bicho do mato turrão como ele? Alguém mais sensato procuraria sua distração em outro lugar da sala que não os rostos de seus acusadores mas, apesar da placidez da superfície que apresentava, o chinês era abrasivo e tinha o sangue quente demais para seu próprio bem. Era um ralieno, afinal.
— Parece descontente, senhor Fa. Está nervoso? — A pergunta de Merlin veio em tom paternal ao invés de acusatório, mas na posição em que estava, o aluno sentia que era apenas uma isca para fazê-lo cair em uma armadilha. Endireitou-se na cadeira com a postura reta de sempre, mas fez questão de cruzar os braços na frente do peito antes de responder. 
— O que estou é impaciente, senhor. Com todo respeito, acha mesmo que sou o tipo de fazer isso? — O mero fato de estar ali era ridículo para Qi Liang. Ele sequer tinha magia; será que Merlin realmente pensava que ele era tão forte à ponto de sequestrar doze pessoas e cavar covas para cada uma delas em apenas uma tarde?
— Sabemos que seu histórico era pristino, até pouco tempo. Até seu incidente com o senhor Alizayd que, por ventura, calhou de ser um dos desaparecidos. — Os lábios do chinês crisparam-se com a menção do evento, lembram-se das palavras duras que recebera do pai durante as férias por sua suspensão. Perto da reprovação de Shang, o olhar claro que não esperava esse tipo de coisa de você que Merlin lançava-o agora não era nada. — De qualquer forma, a conversa que estamos tendo ocorrerá com todos os aprendizes. Já conversamos com alguns de seus colegas, vê? — Um gesto vago com a mão do diretor indicou uma pilha de papéis preenchidos, presumidamente de outros interrogatórios. Qili respondeu-o com um suspiro descontente ao perceber que realmente teria que fazer aquela besteira, mesmo sabendo não ter feito nada.
— Pois bem, então. Pergunte o que tem pra perguntar, senhor. 
— Primeiramente, identifique-se: nome, idade, filiação, raça. — Com o olhar incrédulo de Qili em reação tal pergunta (ele já estava estudando lá há nove anos, pelo Narrador, Merlin sabia seu nome), Merlin emendou um rápido. — Faz parte do protocolo, senhor Fa.
— Fa Qi Liang, do clã Fa de Yucheng. Vinte e quatro anos, primogênito de Fa Mulan e do general Li Shang. Humano.
— Qual foi a primeira coisa que fez assim que chegou à Ilha dos Prazeres?
— Comprei tickets pra minha irmã, Meili. Eu não sou muito disso, de parques de diversão, mas ela gosta. Achei que poderia ser um dia divertido pra ela. — Engoliu em seco a última frase a sair da própria boca; tinha sido um dia divertido, até que não foi mais. Ter que passar a viagem de volta consolando à irmãzinha por que um imbecil a tinha magoado e uma de suas amigas tinha sumido realmente o colocou em um humor ruim o suficiente para dar um soco na boca de alguém. Teria que meditar um monte para resolver-se com seus instintos violentos. — Depois disso, sentei em um banco pra ler. Estou sabendo tudo de Gestão de Reinos, e nem tenho essa aula; mas os livros não eram meus, então não posso reclamar da seleção.
— E de quem eram, então?
— ... Hugo. Meu colega de quarto. — A pergunta foi respondida um pouco a contragosto; Qili não queria ter que incluir nomes em seu relato, ainda mais o de um amigo. Algo sobre isso o deixava nervoso, mesmo que sentar e ler seja a coisa mais inofensiva e tosca a se fazer num parque de diversões levemente assombrado.
— Viu algum dos aprendizes desaparecidos? Era próximo de algum deles? Tinha inimizade com algum deles? — Podia jurar que Merlin inclinou o corpo um pouco mais em sua direção, como se a resposta da pergunta anterior o encorajasse a pressioná-lo.
— Eu mal sabia que a maioria dessas pessoas existia; acho que uma delas era amiga da minha irmãzinha… Mas eu não me dava bem com o Ali. O senhor sabe disso. Já tivemos essa conversa.
— Fez algo inusitado no passeio, senhor Fa? 
— Inusitado? Não. Só fui arrastado para alguns brinquedos, me falaram que eu ia me divertir por bem ou por mal, basicamente. Se bem que a roda gigante enguiçou enquanto eu estava bem no alto, vocês deveriam ver esse tipo de coisa antes de trazer todo mundo pra um parque caindo aos pedaços. — A declaração veio em um tom de reclamação, e ele poderia jurar que viu os olhos da Fada Azul se estreitando de maneira reprovadora ao fundo. Não que estivesse prestando muita atenção nela, ocupado como estava tendo um staring contest com Merlin.
— Você se lembra de ter visto algo estranho no passeio ou uma presença estranha? 
— Dessa vez não, por incrível que pareça. Estava todo mundo amigável e festivo pelo que eu vi, o que honestamente é bem esquisito pra esse lugar, com todo mundo tentando acabar um com o outro o tempo todo.
— Tem inimizade com alguém em Aether? 
— Inimizade é uma palavra muito forte. Tem pessoas que eu não vou muito com a cara, e eles não vão com a minha, mas é uma troca de antipatias civilizada. Draco, Vincent, Aurae, Soren, essa gente toda, apenas os acho uns mimados insuportáveis. O que aconteceu com o Ali foi um ponto fora da curva.
— E o que aconteceu entre você e o senhor Alizayd, exatamente? É de suma importância que tenhamos todas as informações possíveis. — A explicação veio antes que Qili tivesse a chance de reclamar, por que ele iria reclamar de ter que repetir a mesma história dez vezes para Merlin. Já a sabia de cabo a rabo, e perguntar sobre era apenas esfregar na cara do guerreiro a única mancha em seu histórico.
— Pela vigésima quinta vez, excelentíssimo diretor Merlin: enquanto você e todos os funcionários estavam amaldiçoados, maldição essa que eu ajudei minha irmã a quebrar, que fique bem claro-
— Atenha-se ao ponto, senho-
— Não me interrompa. Não queria que eu respondesse? Então me deixe responder, que falta de educação. — A insolência não passou despercebida, mas o mago só teve tempo de lançar-lhe um olhar fulminante antes que ele continuasse. — Enfim. Enquanto todos vocês dormiam, o senhor Alizayd estava tocando o terror pelos corredores, intimidando e agredindo outros alunos à torto e a direita. Quando ele tentou fazer isso comigo, eu me defendi.
— Segundo os relatos dos seus colegas que viram a cena, foi você a desferir o primeiro golpe contra ele, senhor Fa.
— Depois de ele me infernizar, sim. Dei um soco nele, e depois mais alguns. Não foi como se eu estivesse chutando um cãozinho indefeso. — Fez questão de levantar a manga do moletom que usava e levantar a esquerda, ainda marcada por uma cicatriz na forma de uma mão queimada na carne, apesar do esforço das fadas curandeiras. Para o crédito delas, estava bem pior antes. — Todo mundo já sabe disso e já fui até suspenso, então não sei como isso é relevante pra sua investigação.
— Já cogitou prejudicar ou fazer mal a um colega aprendiz? 
— Eu me irrito às vezes, e desejo poder dar uns chutes na boca de algumas pessoas. Coisa que jamais faria sem o intuito de me defender, no entanto. — Apesar do olhar estreito da Fada Azul ao fundo, o nariz de Qili permaneceu perfeitamente proporcional ao resto das feições. Existia uma doutrina nas artes marciais que ditava que o objetivo destas era o melhoramento pessoal, e não merendar todo mundo que o irritasse na porrada, e Qili seguia suas doutrinas à ferro e fogo.
— Recebemos a informação de que você foi visto em atitude suspeita perto do Trem Fantasma e que já disse ter interesse em “acabar com a raça de Alizayd de Agrabah”. Por que disse isso? 
— Suas informações estão erradas, por que eu nem sequer estive no Trem Fantasma; no meu reino nós não brincamos com espíritos como vocês, brancos. — Podia jurar ter ouvido um suspiro exausto escapando pelos lábios de Merlin, mas não se deteve. — Em relação ao Ali... Isso está tudo fora de contexto. Alguns aprendizes brincaram falando que eu deveria ter cuidado, pois Ali era vingativo e viria atrás de mim pelo que fiz. E para isso eu respondi que, se ele viesse, acabaria com a raça dele igual fiz da última vez.
— Fomos informados de que se meteu em um desentendimento no final do passeio. Se importaria de explicar o motivo?
— Justamente o contrário. Eu evitei de entrar em um desentendimento, apesar de querer bastante.
— Reparamos que foi um dos últimos a chegar no ponto de encontro. Qual o motivo para ter demorado? 
— Bom, pra começo de conversa, fiquei preso na roda gigante com a Autumn. Pode perguntar pra ela. E depois, bem... De cima da roda gigante eu pude ver minha irmã, Meili, conversando com o namoradinho dela. Draco. Quando descemos, ela procurou a Autumn, aos prantos. Então eu tive que contar até dez, talvez até mil, pra não ir tirar satisfações com o palhaço. Não sou dono da vida da minha irmã pra fazer esse tipo de coisa.
— É verdade que passou quinze minutos sozinho antes de se encontrar com o grupo? — A última palavra de Merlin foi seguida de um audível “pfft” de Qili. Era a piada do ano.
— Quinze minutos sozinho? Seria um sonho, meu senhor. Não consigo passar mais do que meio minuto sem que brote alguém do chão pra me atazanar.
— Existe alguma razão para que algum de seus colegas possa querer te comprometer com respostas falsas? 
— Honestamente, senhor, você acha mesmo que precisaria de uma razão? Metade dos estudantes aqui tem sérios problemas psicológicos, e eu seria um alvo fácil pra alguém mal intencionado usar de bode expiatório. Meus pais não são realeza, eu já tive um desentendimento com um dos desaparecidos...
— Garantimos que ninguém será acusado injustamente ou será prejudicado por sua hereditariedade, seja ela qual for. Tem alguma coisa que queira nos contar? Essa é a única vez que vamos te dar essa oportunidade. 
— Contar? O que eu tenho são reclamações! — Jurava ter ouvido um essa não foi a pergunta na voz de Merlin ao fundo, mas deveria ser apenas uma alucinação. — Já estou no último ano e só temos festas, reuniões, maldições, excursões…. Será que o senhor poderia, pelo amor do Narrador, me providenciar uma aula? 
— Levaremos isso em conta, senhor Fa. — A expressão no rosto de Merlin traía algo próximo de divertimento, mesmo que tentasse manter-se neutro. Um aprendiz pedindo por aulas era algo semi-inédito em Aether, afinal. No entanto, toda a satisfação dissipou-se do rosto do mago quando percebeu que o chinês ainda não tinha terminado.
— Sem falar que vocês enfiam a escola inteira sem supervisão alguma em um parque que é claramente assombrado e, cá entre nós, tem uma cara de fachada pra tráfico infantil, e agora a culpa é dos aprendizes? Aposto que foi por isso que suspenderam as eleições para o grêmio, para poderem apontar o dedo pros aprendizes sempre que algo der errado e não ter ninguém para defendê-los!
— Basta! — Enfim o mago se fez ouvir, a pena parando abruptamente suas anotações com o rompante. — Já terminamos aqui, senhor Fa. Se retire antes que ganhe uma punição por sua insolência. 
— Com prazer, senhor diretor. — Tinha que responder com uma última insolência, como bom boca dura que era, antes de sair da sala do mago com os passos decididos de sempre.
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yourhghness · 4 years
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task  / 𝙖𝙧𝙦𝙪𝙞𝙫𝙤 𝙘𝙖𝙨𝙤 '𝙥𝙡𝙚𝙖𝙨𝙪𝙧𝙚 𝙞𝙨𝙡𝙖𝙣𝙙': interrogatório n. 073
Aquela era a quarta vez naquela semana que comparecia à sala do Diretor? Ele já não se recordava, especialmente porque o último dia parecia ter durado umas setenta e duas horas. Fato que o príncipe tinha de comparecer bem mais à presença de Merlin depois que tinha retornado à Aether, a fim de que o mago acompanhasse de perto seu progresso, ou falta de progresso, já que não tinham chegado a lugar nenhum. O diferencial, daquela vez, era que o homem estava acompanhado de uma fada que parecia etérea demais para ser real – tornariam-se todos os personagens de contos artificiais daquele jeito depois que assumiam seus papéis?
“ Temos algumas perguntas, senhor Westergaard. Esperamos que colabore conosco e esteja ciente de que temos métodos para descobrir se está falando a verdade ”   um vinco se formou brevemente na testa de Njord. Não contava com aquilo. Em todas as vezes em que tivera de conversar com autoridades, podia se valer das mentiras – seu único trunfo e poder – para se livrar de alguma situação, ou minimizar o que tinha feito. Gelo desceu para o estômago enquanto ele se ajeitava na cadeira, meneando a cabeça para indicar que entendia. “ Lembrando que o senhor, especificamente, está sob observação do Conselho desde que retornou para esta instituição. Além do mais, não estava autorizado a participar da excursão ” bom, agora tudo estava explicado. Havia um motivo para que os colegas tivessem avisado em cima da hora. Merlim não tinha a intenção de tirar-lhe dos estábulos naquela tarde. Krastan estava para expor alguma indignação por isso, mas nenhum bem isso faria. Assim, limitou-se a responder no habitual tom blasé:  “ Desde que seja breve. Essas olheiras não estão aqui a troco de nada. Faz mais de um dia que não durmo ”  “ Como todos aqui ”  emendou o mago, inflexível.  
“ Identifique-se para registro: nome, idade, filiação, raça ” “ Começamos com as perguntas fáceis, então. Okay. Vossa Alteza Real, Njord Krastan Westergaard das Ilhas do Sul. Vinte e cinco anos. Filho de Hans e Niahm. Humano ”
“ Qual foi a primeira coisa que fez assim que chegou à Ilha dos Prazeres? ”
Era uma pergunta simples, e Njord havia decidido que optaria por respostas diretas, no lugar dos discursos costumeiros. Havia menos chance de se comprometer se estivesse sendo conciso. Seria melhor, também, se fosse o mais sincero possível. Não teria como mentir, mas poderia desviar-se de contar verdades inconvenientes. “ Comprei um refrigerante. Nada surpreendente ” disse, abrindo as mãos e fechando, como se não tivesse nada relevante a acrescentar à investigação empreendida pelo mago.
“Viu algum dos aprendizes desaparecidos? ”
“ Em que momento? Sim, acho que sim. Estávamos em uma ilha pequena, vi alguns ”  comentou, dando de ombros, mesmo que não fosse essa a resposta esperada por aqueles que interrogavam – Njord via isso em suas expressões. As perguntas seguintes, no entanto, poderiam se mostrar mais reveladoras e complicadas se ele não soubesse quais palavras usar.
“ Era próximo de algum deles? Tinha inimizade com algum?”
“ Tive um... relacionamento com Lilian de Arendelle há algum tempo atrás ” respondeu, impassível. Era ridículo que tivesse de admitir aquilo para dois estranhos que tinham acabado de ouvir que ele era filho de Hans. “ A história não vem ao caso ” soltou, antes que fizessem mais perguntas. “ Já tivemos desentendimentos, mas eu nunca a machucaria realmente. Ela salvou a minha vida ”  engoliu em seco ao lembrar-se da Terra do Nunca, admitindo algo que não admitiria em outra ocasião. “ Quanto a Alizayd... Temos uma boa relação, na medida do possível ” temos, não tínhamos, falou, tentando manter o tom o mais neutro possível, os olhos passando de uma figura a outra para verificar se desconfiavam de algo. “ Muitas pessoas não aceitam alguns comportamentos dele, principalmente depois do... Enfim, todos sabemos o que aconteceu quando a maldição do sono foi lançada ” concluiu, inclinando-se para frente, para descansar os antebraços nos joelhos e conter a agitação da perna, percebendo que os lábios de Merlim se crisparam nesse ponto. Se dependesse dele, Njord não estaria ali, o príncipe tinha certeza.
“ Fez algo inusitado no passeio? ” “ Sim. Me envolvi em uma briga com Soren Fitzherbert ” disse de pronto, sabendo que era melhor usar a verdade a seu favor. Isso pareceu despertar o interesse dos interlocutores. Ele havia tomado o cuidado de falar que tinha se envolvido numa briga com Soren, o que dava a entender que um tinha agredido o outro. Ao mesmo tempo, a verdade estava ali para quem quisesse descobrir. “ Isso explica o curativo no supercílio, suponho”  se pronunciou a Fada Azul, pela primeira vez na conversa. “ Vossa Magnificência supõe corretamente ” retrucou, comprimindo os lábios em desgosto, esperando que o interrogatório fosse encerrado de uma vez.  
“ Qual foi o motivo da briga, Njord? ”  interpelou Merlim, ignorando a arrogância do herdeiro. Conhecendo o conto de Pinóquio, supunha que uma tentativa de mentir apenas faria com que uma parte de seu corpo crescesse ridiculamente, e não seria a parte que ele queria.  “ O que posso dizer? Algumas pessoas não sabem parar quando estão sendo inconvenientes ” respondeu vagamente, abrindo as mãos novamente.  
“ Isso tem a ver com alguma inimizade com o herdeiro de Rapunzel? Tem inimizade com alguém mais em Aether? ”
“ Você quer que eu faça uma lista? Porque podemos ficar aqui o dia todo se eu começar a falar ” respondeu, em exaspero.  “ É claro que meu relacionamento com as pessoas aqui não é um mar de flores. Eu ameacei metade da escola com armas não tem nem um mês, caramba! O senhor, professor, sabe melhor do que ninguém ”  completou, com um riso amargo.  “ Agora, isso faz de mim um assassino? Não. Ninguém morreu por minha culpa. Não intencionalmente ”  a fala tremeu na última frase, e Krastan passou a mão no jeans escuro para secar o suor.
“ Você se lembra de ter visto algo estranho no passeio ou uma presença estranha? ”  prosseguiu o Diretor, ignorando os protestos, e não direcionando a Njord nada além de um olhar que era um misto de repreensão e pena. “ Não ”
“Já cogitou prejudicar ou fazer mal a um colega aprendiz? ” “ Sim. Algumas vezes. Talvez muitas vezes ”
“ Algumas dessas pessoas consta na lista de desaparecidos? ” o príncipe olhou uma vez mais a lista, como se precisasse se recordar dos nomes, largando-a sobre a mesa do Diretor com displicência. “ Faço muitas ameaças que não pretendo cumprir ”
“ Recebemos a informação de que você foi visto em atitude suspeita perto do Trem Fantasma... ” “ Pra vocês todas as minhas atitudes são suspeitas agora ”  a fala veio acompanhada de um revirar de olhos que indicava impaciência. “ Eu estive no Trem Fantasma, como sei que um monte de gente esteve. As atrações estavam disponíveis para isso. Fim. O que quer dizer com atitude suspeita? ”
“Também soubemos que já disse ter interesse em “acabar com a raça de Lilith Cipriano”. Por que disse isso? ” “ Huh? Acabar com a raça da Lilith? Não me recordo. Talvez na cama? Isso já passou pela minha cabeça, pelo menos. Quem está passando essas informações? Que informante de merda, hein ”  
“ SENHOR WESTERGAARD, não está colaborando com essa postura! Preciso repetir que está sob observação do Conselho? ” exclamou o mago, elevando o tom de voz e dando um tapa na mesa. Devia estar no ápice do estresse naquele dia – o Westergaard sabia bem disso, e era por isso que não aliviaria. Alguém tinha de ser vencido pelo cansaço.  “ Não, senhor. Entendi da primeira vez. E estou respondendo às suas perguntas da melhor forma que posso ”  meneou a cabeça, sério, fingindo não compreender o porquê de tanto alarde.
Foi a Fada Azul que retomou as perguntas, dando tempo para que a raiva do velho fosse aplacada. A mulher parecia muito mais contida e profissional; pétrea. Nada que o filho de Hans dissesse seria capaz de fazer com que fosse levada ao limite. Então era por isso que os dois estavam ali? Para que as perguntas atingissem os suspeitos como metralhadores, sem dar tempo para que penassem muito numa resposta?   “ Fomos informados de que se meteu em um desentendimento no final do passeio. Se importaria de explicar o motivo? ”
“ Já disse o que aconteceu... Qual a relevância? Soren está vivo. Precisam que eu chame ele pra confirmar isso? ” esperava que não. Aliás, teria que ter uma conversa séria com o rapaz se não quisesse se comprometer. Afinal, se o Fitzherbert desse com a língua nos dentes, Njord estava fodido.
“ A relevância quem determina somos nós, senhor Westergaard. Apenas responda a pergunta ”
“ Minha doença. Teve a ver com a minha doença ” respondeu simplesmente, voltando os olhos para Merlim, como que esperando que o mago entendesse que ele não queria, e não precisava, falar sobre o assunto; porque esse era um tabu, um segredo compartilhado somente entre eles. Esse, no fim, devia ser o motivo da indulgência ao longo da conversa, já que depois do episódio da maldição do sono, Njord parecia ser um dos com potencial para vilania, um bom suspeito a ser pressionado.
A Fada Azul suspirou, dando-se por vencida, voltando à posição junto à parede, braços cruzados. Quando falou novamente, tinha adotado o tom neutro. “ Reparamos que foi um dos últimos a chegar no ponto de encontro. Qual o motivo para ter demorado? É verdade que passou quinze minutos sozinho antes de se encontrar com o grupo? ”  Tentou puxar da memória, franzindo o cenho ao não conseguir lembrar. “ Eu demorei? Perdão, é a falta de sono. Acho que tinha ido ao banheiro ” me livrar do sangue que gotejava do supercílio.
“ Você está nervoso, senhor? Tem certeza que não viu nada suspeito? ”  ao ouvir a pergunta, pensou que tivessem percebido o quão pálido estava. Também sentia a boca secar sempre que se lembrava do episódio. O corpo de Alizayd estendido no chão. A ausência de ajuda. Ele não se lembrava se o garoto estava respirando quando ele e Soren o deixaram para trás, mas quem ia prever aquilo?   “ Não estou me sentindo bem ”  anunciou, se levantando e levando a mão ao peito, numa massagem mal feita. “ Preciso tomar minha poção ”
“ Existe alguma razão para que algum de seus colegas possa querer te comprometer com respostas falsas? ”   prosseguiu, ignorando o apelo do príncipe.  “ Sim. Isso é possível ”  não queria se estender mais no assunto, mas qualquer um que conhecesse seu histórico entenderia a desconfiança. De qualquer modo, Merlim tinha acesso a tudo de que precisava. “ É só isso? ”  insistiu, entredentes, recostado na estante ao lado da porta, um dos braços estendidos para servir de apoio enquanto ele encarava o chão, aguardando uma resposta positiva.
“ Tem alguma coisa que queira nos contar? Essa é a única vez que vamos te dar essa oportunidade ”  como a resposta para essa pergunta seria positiva e potencialmente comprometedora,  o herdeiro lançou mais um olhar na direção da mesa antes de virar as costas e deixar a sala sem autorização.
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