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TENHOALMAS
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temo por dias com gosto de passado
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welcomescrewlessbrain · 2 months ago
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Querido Deus, hoje estamos de folga — eu e você. Pensei que dava pra te levar pra passear. Sentir o sol bater no meu couro branco, sujo de pelo, de homem. Mas o diabo também pediu passagem. Veio gritando, quebrando qualquer paz, como uma sirene dentro da cabeça. Pedi silêncio, mas ele chutou as portas e me trancou por dentro. A luz virou breu, e a cama — abrigo e cela.
Querido Deus. Querido Diabo. Vocês dois moram em mim. Mastigam meus ossos, me puxam em direções contrárias. Sou corpo, sou carne, sou guerra. Estou vivo, vejam. Ainda forte, vejam. Ainda lembro do que me rói os dedos, ainda sonho com o que me arromba o peito. Vocês são meus mentores e eu — a dívida viva. Então saio de casa. Deus venceu. Mas ando com medo. O diabo venceu.
Não sou um só. Nem por um minuto. Amo Deus. E com Ele sou inteiro, até me esquecer. Mas no Diabo tem algo que me pertence — uma tristeza afiada, uma fome. Ele sussurra anedotas, me dá medo e sentido.
Estive aqui. Agora entendo. Estou aqui. Ainda entendendo.
Sou a corda, a corda do cabo de guerra, vou a guerra e sou também quem puxa a corda.
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welcomescrewlessbrain · 2 months ago
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sextas
São perto das dez de uma sexta à noite, não a única que passas sem ter uma perna atravessada na sua, ou uma gargalhada em conjunto de amigos. É sexta à noite e você tem 26 anos. Em pouco menos de um mês, fará 27 — vinte e sete sextas de noites solitárias, de sábados e domingos também. Sozinho, em pleno corpo e mente.
Sabes lidar, eu sei — mais do que qualquer outra pessoa saberia. Mas isso não oculta o rasgo da ânsia em querer viver e ser amado, ser escolhido, lembrado.
São eternos, o não ser lembrado. E são eternos o desejo por ser
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welcomescrewlessbrain · 7 months ago
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welcomescrewlessbrain · 7 months ago
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Acho necessário te escrever um fim, 2024. Um ponto final.
Você foi a emenda de 2023. Não ouvi fogos quando começou a caminhar. Estava dormindo, com fones de ouvido, equipado para não te ouvir em sua alegria plena. Afinal, eu não estava alegre. Agora podemos conversar. Está indo embora? Acho que sim. A vida passa rápido, não é? Por conta disso, perdi um pouco da vergonha de expor o que sinto. Sempre sigo aquele pensamento: "Daqui a 200 anos, ninguém vai lembrar." Talvez bem antes disso. Ninguém lembrará da minha juventude, das noites viradas na faculdade, dos pedidos de ajuda após os términos, dos sorrisos que ofereci ou das gentilezas que proporcionei. Talvez, por saber disso, eu aguente tanto: no fim, haverá nada de mim. E é exatamente por isso que continuo escrevendo. Simbolicamente, para o tempo.
Pensei em fazer um resumo de tudo que floresceu em mim nesses dois últimos anos. Ainda que eu não saiba bem por onde começar, posso tentar te dar contornos.
Querido 2023, sua chegada foi cheia de entusiasmo. Pulei as ondinhas como prometido, mas você me empurrou para um processo de cura que eu adiava há anos. Se curar dói imensamente. Como em minhas outras duas "vidas", aos 25 anos partir, precisei me reencontrar nesta, na mesma idade. Quando se cresce em conflito com o lugar, com quem nos cria e com quem somos, tudo pesa. Você me ensinou a acreditar que tudo passa, que a vida é o que escolhemos enxergar.
Atravessei a vida raso na profundidade de muita gente. Deixei muitos me acessarem, com sede de conhecer o outro. Percebi que alguns vivem na negação, outros se anulam da realidade — boa ou não —, e outros ainda flutuam no mundo da lua. Eu? Vivia preso ao passado, ruminando dores que me roubavam o sorriso. Então, decidi ver a vida como um copo vazio, pronto para ser preenchido. E foi isso que fiz: confiei no meu coração e comecei a preenchê-lo.
Sei que prometi contar os fatos em ordem, mas seria detalhado demais para uma legenda. Então, concluo dizendo que aquilo que é pra ser nosso, ninguém tira. Quanto maior for a dor que enfrentamos, maior é a nossa capacidade de sentir uma felicidade imensa.
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welcomescrewlessbrain · 8 months ago
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Talvez você possa ser meu diário hoje.
Que sentimento eu deveria sentir? Que roupa devo vestir? Devo cumprimentar meu porteiro ou ele já está cansado de tanto dar bom dia?
Qual corte de cabelo me faria ser alguma coisa? Até quando ainda vou ter cabelo? Quais amigos eu mantenho? Quais deixo partir? Que amores devo apostar? Que profissão devo seguir? Quantas vezes ainda vou comer feijão? Quantas vezes verei minha gata miar? Meu sapato favorito aguenta mais quantos passos? E as árvores que eu sempre vejo, quanto tempo elas vão ficar onde meu olho alcança? Qual música ainda vai me fazer chorar? Quantas vezes vou mudar de ideia antes de acertar? Quanto tempo até a velhice? Quantas casas ainda farei de lar? Será que vou terminar tudo o que comecei?
Piso nas linhas brancas da faixa de pedestre ou devo evitá-las? Depois de amar demais, devo parar de amar? Depois de sonhar, posso morrer? Eu morro?
Eu morro. E depois de morrer, o que devo fazer? Depois que morro, eu só paro de existir? E meu amor, onde fica? E tudo o que vivi, eu esqueço? E tudo o que deixei de falar por achar que ninguém ia se importar?
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welcomescrewlessbrain · 8 months ago
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Dentro de mim, tudo acredita. Acredito em fadas, nessa filosofia flutuante, e na tua boca colada na minha, como se fosse uma verdade que não precisa de prova. Tudo me pega de assalto, como um monstro escondido no guarda-roupa. E, no fundo, eu adoraria que esse bicho medonho fosse você.
Eu sinto medo — medo que pulsa, que vibra, que ecoa dentro do meu peito. Um medo igual àquilo que sinto quando tudo se mexe dentro de mim, como se cada parte acreditasse em algo diferente e, ao mesmo tempo, acreditasse em você.
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welcomescrewlessbrain · 8 months ago
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amor
Me retirei naquela quinta virada em sexta. Deixei para trás a música baixa, as taças sujas, os risos que minguavam. Deixei tudo — a sujeira da festa — para que limpasses sozinho ao amanhecer.
Ela era toda tua, e ainda assim, sei que me pedirias para limpar. E eu limparia, com gosto. Esfregaria cada taça, aquelas novas que compraste só para teus amigos. Eu amaria arrumar tudo, do jeito que me doei ao ajudar-te a preparar. Mas corri. Fui embora. Porque, de fato, havia muita coisa a ser limpa. No meio de todos, eu era só mais alguém esperando a festa acabar. E tu? Nunca conheceste minha casa.
Do que é teu, só me restou um par de meias quase novo, desprovido de teu cheiro. A única coisa que me deixaste foram meias pretas — e nem eram tão tuas assim.
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welcomescrewlessbrain · 8 months ago
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amores
Na narração que me fez quem sou — um homem de sentires vastos — disseram-me para buscar o amor que durasse a vida inteira.
Mas como medir a vida, se nem sei o tamanho dela?
Tropecei no perguntar: qual a chance de cruzar todos os dias com a mesma pessoa e fazer do querer dela o meu querer? Tornar-me-ia eu uma só pessoa em dois corpos?
Atormenta-me a ideia de que o amor talvez não seja para sempre, por mais que eu deseje crer. Não há, no mundo todo, quem salve a narrativa falida de nossos avós. A mente de cada um gira, solitária, como uma bola — tão individual, aprendendo a ser só. Aprendendo a separar beijo de amor.
E eu? Onde estou? No meio. Indisposto com os dois lados. Perdido entre eles.
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welcomescrewlessbrain · 8 months ago
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Eu me mudei.
Ainda não sei ao certo pra onde.
Foi pra algum canto, junto com o cisco. Longe até de mim.
Sinto muito se não foi como esperava; também não planejei que fôssemos chegar aqui, dessa forma disforme.
Estamos nas nossas vésperas. Dizemos adeus? Ou esperamos mais um pouco?
Não tenhamos tempo a perder, apesar de tudo que já se escorreu.
Quando pequeno, jurei que nunca beijaria outro homem. Deveria ter seguido esse juramento, verde e duro, nunca ter caído do pé. Deveria ter tido um trabalho qualquer, ter vivido como todos os outros que me rodeavam. Ter uma casa no fim da rua de barro. Deveria ter me prendido a algum santo, desses a quem a gente pede pra não ser o que afoga o peito.
Mas agora é tarde. Mesmo o esperar já é o prelúdio da narrativa que se sucederá. Nesta história, eu já me mudei, e já não há mais de mim com um pouco de ti.
Sentirei falta, sinto falta.
Mas eu jurei: que amor sem amor, beijo sem boca, abraço frouxo não tirariam tempo algum da minha vida majestosa.
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welcomescrewlessbrain · 9 months ago
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Ainda estou com um par de meias "emprestado". Já fazem três dias. É a única coisa sua que posso dizer ser minha—suas meias, que peguei antes de ir embora.
É curioso pensar que, de tudo, só restaram essas meias pretas, quase novas. Nem eram tão suas assim pensando bem, talvez usadas uma ou duas vezes, sem muito tempo em contato com sua pele. E, apesar delas me servirem, você nunca me caiu bem. Sempre que tentei te "vestir," me sentia longe, desconfortável, como quem sabe que não foi feito para ser escolhido.
Agora, me pergunto como vai ser não te ter mais "nos" nos finais de semana, que, no fim, eram raros. Você preferia ir às festas sozinho. Às vezes, lembrava de me avisar; outras, nem se importava. Não éramos nada, e eu só queria que fôssemos, ao menos, mais que um par de meias velhas, que ainda insisto em manter comigo. meu amigo disse que você escolheu ser assim, e deixar eu escapar, mesmo eu querendo ficar ate não poder mais. talvez ele esteja certo.
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welcomescrewlessbrain · 1 year ago
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Querido diário
Estamos no meio do ano, como sempre ele passou rápido demais. O ano. Acontece que gostaria de lhe informar minha profunda agonia quanto a este fato. Parece que agora não tenho tanto tempo quanto tive, e mesmo que por vezes, eu soubesse disso antes mesmo do agora, não o usei da melhor maneira. Sim. passei grande parte dele na cama, jogado como estou agora. Me adentrei de mais no mar e agora, depois de desistir de relutar contra o que me puxava, me encontro no meio de um nada. Hoje acordei ansioso. não que essa seja uma novidade, única, de somente hoje. Comi um pão quando deu seis da tarde e depois o coloquei para fora for ânsia. Relutei para não. Mas pelo meu histórico, isso sempre me alivia. Queria lhe contar que talvez eu esteja indo embora, pra outra cidade. Mesmo com muito muito medo e sem nada nada de dinheiro. essa parte me preocupa. Ainda estou organizado as afirmações na minha cabeça - por isso da ansiedade - so hoje ela ja disse que eu seria assaltado, morto, que moraria na rua. e talvez isso tudo seja bem provavel. Minha gata ficara com minha mãe, que a mesma não fez questão de responder a ultima mensagem que enviei, apenas o começo dela. ignorou a parte em que eu comecei a chorar. ela sempre fez isso muito bem. Estou com medo, como lhe disse. Medo de verdade de passar necessidade. talvez eu não va. ou talvez eu va. Se eu ficar vai ser dificil pois não terei trabalho. se ir, eu nao sei. estou com medo. Quase me vejo no onibus com 200 reais no bolso e tremendo de medo. 200 reais pra um mês.
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welcomescrewlessbrain · 1 year ago
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sobre amor
Desejei o seu amor sem saber, procurando em cada pessoa que se deitava ao meu lado um pedaço que me fizesse querer ficar para sempre. Na maioria das vezes, era vazio, como esse texto que te escrevo. A única coisa que ressoava era meu olho em completo desfoque; a única coisa que ressoava era borrada, confusa, solitária, quase inexistente de uma verdade. Por vezes pensava nesse acometimento que tanto queria descobrir, tirar a coberta e vê-lo completo. Sentia a vontade como bichos sentem sede, desorientado, invalidando qualquer outra prioridade. Acontece que, no momento que desistisse, você esbarraria sobre meu corpo, cairia em minha cama e me falaria sobre o amor, e eu sentiria tudo, completamente tudo o que eu sempre achei que sentiria, mesmo sem saber. De todas as pessoas do mundo, naquela cama, dentro daquele quarto pálido, do lado do meu corpo pálido de banho recém tomado, era só você que cabia, por mais que você não exista ainda.
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welcomescrewlessbrain · 2 years ago
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tenho pensando nas palavras bonitas que ouço, e anoto cada uma em algum lugar que eu possa relembrar depois:
obtusa,
esplentido
seca, anemica.
tenho guardado uma serie de palavras que espero, por sorte, saber onde usa-las. tenho fortes tendencias a acreditar que não escrevo bem, assim como nao falo tão bem, é um ensaio ate sair algo minimamente aceitavel,
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welcomescrewlessbrain · 2 years ago
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eu aceito os amores perfeitos, eu naoa ceito amores modesto
eu não aceito o melhor amor, pois tenho notado quase que de sempre um corpo esguio, que se dobra numa tentativa de se aceitar frente ao reflexo, e pra esse corpo que tem como apêndice uma cabeça que conhece como aceitação de amor o que é perfeito, se dobra mais ainda ate se ver numa cena irreal, onde a barriga saltada não é o que chega primeiro, mas sim o peito, nu sem pelo, estufado, como se o pulmão tivesse trocado de lugar, mas não é sustável, dura pouco, pouco de mais pra essa ser a cena que ficara presa sobre sua forma na sua consciência total. corpo mucho, sem graça, sem cor, e sem falar na falta de hamonização, um braço maior que o outro, o andar torto, os joelhos grandes e o rosto que parede um barroco ao contrario, não ha simetria.
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welcomescrewlessbrain · 2 years ago
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ninguem vai me tirar daqui a nao ser eu. e eu nao consigo me tirar daqui
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welcomescrewlessbrain · 2 years ago
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essa é minha voz,
é ela que ecoa todo dia dentro da minha cabeça,
e esse é meu rosto, as vez com menos cabelo e as vezes com mais.
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welcomescrewlessbrain · 2 years ago
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Eu não sou, eu estou acontecendo.
Tem gente de mais aqui dentro, falando uma por cima da outra, talvez eu seja todo mundo.
um pouco de pai, de mãe,
dos irmãos e amigos,
dos professores e toda gente que já cruzei,
E com certeza eu sou um pouco do pó que vem junto com o vento que bate frio na quina da casa, e da água que já viveu em outros homens ou a lagrima de felicidade que escorreu do olho de um deles e num momento de sede eu tenha tomado, dentro de um copo de barro que já foi corpo de alguém.
Eu tenho sido gente de mais, acontecendo durante tempo de mais. Na consciência. No corpo. E quando eu fecho os olhos, sinto que tudo sou eu e assim continuo acontecendo.
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