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* a presença de denver fez juno abaixar um pouco a guarda. tudo estava confuso o suficiente sem ter que ficar se explicando, e provavelmente descontou na professora o peso de estar lidando com tantas incertezas. tinha que lembrar que estavam todos na mesma. da boca dela, aquelas palavras pareciam menos ameaçadoras e contestadoras que da dos outros. chegou até a acreditar nela. ali estava ela, uma adulta em um termo mais sólido que o dela e dos outros, a fazendo não a pensar racionalmente, mas com empatia. mesmo que ela pudesse ter só alguns anos a mais que ela e os demais, o fato de ser professora era algo a mais. sempre seria. aliviou a postura antes de responder. — você tem razão. — assentiu. foi a primeira vez que realmente quis dizer isso; enquanto para muitos outros, disse aquelas palavras acompanhadas de um "talvez" ou "pode ser", sentia que denver na verdade tinha mesmo razão. — eu sinto que tem algo a mais nisso tudo e sei que estão começando a ficar com raiva de mim por levantar isso. tudo bem. é uma escolha de cada um. mas acho que de momento, o que basta é mesmo saber que não precisamos lutar com os pernilongos hoje à noite. — deu de ombros, um sorriso fraco surgindo. e como quem queria desviar o assunto de si, olhou atentamente à professora. — deve estar sendo difícil para você ser a adulta apaziguadora no meio desse bando de recém saídos da adolescência em pânico. — observou. / ♡
⸺ ei , não foi sua culpa ele estar morto , juno . não haja como se tivesse sido isso , hm ? em alguns momentos , denver sentia que sua mente estava pronta para explodir . era um mix tão grande de sensações , sentimentos e cobranças . como poderia ser responsável por aqueles se nem ao menos tinha noção de como lidar com seu próprio âmago ? ⸺ veja , as vezes foi um sinal bom . afinal , agora temos uma arma . tenta fingir , pois na verdade nem ao menos considera aquilo como algo bom . como poderiam eles , tão jovens , manipularem uma arma tão intensa ? seria irresponsabilidade sua deixar com que eles lidasse com aquilo ? com certeza . ⸺ eles vão nos achar . logo . é só questão de tempo . e denver acreditava nisso ? acreditava nas palavras que saiam da sua boca ? ⸺ acho que tivemos muitos acontecimentos hoje , não acha ? talvez devêssemos só agradecer pela moradia e descansar .
#MEU DEUS que anja eu amei mto <3#* nos escribimos sin palabras / ♡ chats#w. denver (TIMELINE PASSADA)
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* em partes, juno estava arrependida de se aproximar. foi impulso, e entre quinze anos de imersão em si mesma e autoconhecimento, era disso que buscava se desprender. só que algumas coisas eram sempre mais fortes e, aos trinta e cinco anos, ainda estava muito longe de buda. ficou aliviada de saber que ele estava bem, apesar de ser óbvio; a pergunta foi também um reflexo de preocupação. notou aquela coisa diferente, aquela coisa que percebeu em nick com o passar do tempo na floresta e, principalmente, quando saíram dela. ainda tinha algo de lá nele, mesmo inconscientemente. — que bom... eu também estou bem. só... foi um susto. — comentou, vendo de relance em sua mente o momento do acidente. — eu vim ver uma amiga que trabalha no hospital, cemile. queria ver se ela estava bem... nos encontramos no festival, mas bem antes do acidente. e não sei, queria ver se estava tudo bem de maneira geral. — se justificou. era tudo verdade. mas também tinha algo a mais naquela sua ida ao hospital, que era confirmar se os machucados eram os sobreviventes. só que isso ia ficar oculto. — e você? — acrescentou, porque também ficou curiosa com a presença dele. / ♡
O cheiro de desinfetante misturado com o ambiente frio e impessoal o deixava se sentindo em casa. Trabalhava tanto com isso em Nova Iorque que era comum, mas o motivo da sua visita ao hospital o deixava inquieto. E agora, ali estava ele, parado no canto da sala de espera, perdido em pensamentos. Nicholas não esperava ouvir aquela voz. Ao seu nome ser chamado, seu corpo ficou tenso por um instante. Ele reconheceria aquela voz em qualquer lugar, mesmo depois de tanto tempo. Mesmo depois de tudo. Virou-se devagar, os olhos escuros encontrando os dela. O olhar de Juno era diferente agora, mas ainda carregava algo familiar. Um resquício do passado, talvez. — Juno. — Respondeu, sem saber ao certo o que mais dizer. A preocupação dela era genuína, ou sentiu que era, e isso o desarmou por um momento. Parte dele queria se agarrar a esse fiapo de familiaridade entre os dois, mas a outra parte lembrava que já não eram os mesmos. — Eu? — A sombra de um sorriso irônico apareceu, mas desapareceu rápido. — Não, não me machuquei. — Seus olhos voltaram para ela, e por um momento, ele quase perguntou se ela estava bem. Mas engoliu a pergunta. — E você? — Sua voz saiu mais baixa do que queria. — O que está fazendo aqui?
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* existia uma parte que queria muito acreditar no que angelina dizia. na verdade, ainda sentia aquele resquício da antiga juno benítez lutando para sobreviver, respirando por aparelhos. essa era a resposta que daria para si mesma. só que a consciência da fragilidade daquele pensamento não lhe era mais estranha; sabia que precisava de mais do que aquilo, mais do que sobreviver. sobreviver consiste em quê, no fim das contas? comer quando precisa e não morrer de frio não parecia o suficiente. — acho que cada um sabe o que precisa para sobreviver. e acho que em algum momento só comer e acordar pode não ser suficiente. o tempo é uma coisa engraçada, algumas coisas caem por terra. e nem demora tanto. — foi o comentário que fez, quase em sussurro. falava de uma experiência humana geral, mas que tinha comprovação agora. oito dias não era nada em termos de tempo, e olha só onde ela estava. já abraçando todas as teorias que um dia rechaçou. — mas é, talvez seja o tédio. eu realmente sempre gostei de livros de mistérios. minha mãe sempre me disse que eu tinha imaginação fértil e que bloqueei ela com o passar dos anos. que acessar ia ser fácil. — "se eu soubesse que tudo o que bastava para voltar a ser criativa era uma queda de avião!", riu em silêncio, dolorosamente. / ♡
Havia algo no jeito que a outra falava que incomodava Angelina, talvez a necessidade insistente de encontrar um significado oculto, mas era diferente para ela. Ela queria dizer algo reconfortante, mas também não via sentido em alimentar uma ideia que, para ela, era besteira. — O que aconteceu foi um desastre. Acidentes acontecem, sobreviventes aparecem às vezes. Como aquele avião que caiu nos Andes. Foi uma sequência de eventos infelizes que nos trouxe até aqui, e agora a única coisa que importa é o que a gente faz pra continuar viva. — Angel fechou os olhos por um breve segundo. Ela sabia. Sabia dos números. Sabia que, depois de um tempo, as manchetes perdiam força, que novos desastres surgiam para tomar o lugar delas. — Acho que ninguém mais aqui espera otimismo, pra ser sincera. — Deu um meio sorriso, cansado. — Eu sei que é difícil aceitar que algumas coisas simplesmente acontecem. Mas a gente não tá em um livro de mistério. Não tem resposta escondida em algum canto dessa floresta. Só tem a gente, e o que a gente faz pra sobreviver. — E, para Angelina, isso era o suficiente.
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* juno prolongou um pouco mais o sorriso. sabia que eram raros. não sentia culpa de poder prolongá-los, quando tinha a oportunidade. — e uma edição bem cruel de halloween também. michael myers não tem nem chance contra... — a voz morreu, enquanto apontava para o entorno. ele entenderia o suficiente, provavelmente. assentiu diante da expressão de pesar de basil em relação a ela ter visto o esqueleto. — obrigada. quer dizer, não foi agradável. mas não acho que seja o pior. não acho que vou ter dificuldade em dormir hoje por causa da visão, mais por causa da... do simbolismo. — disse. parecia até estúpido falar aquela palavra. em psicologia, tratavam de símbolos como expressões de arquétipos. tudo estava ligado à mente humana. só que o simbolismo do qual falava naquele momento não tinha nada a ver com isso, mas com assuntos que entram mais na alçada dos interesses da família. esse era o mais assustador. escutou atentamente o que o garoto disse. verdade seja dita, ela estava desesperada para se agarrar a qualquer coisa, a qualquer frase ou sentido ou sabedoria. — acho que sua mãe tem razão. ou pelo menos sempre achei. tipo, ninguém tem medo de morrer, tem? o medo de morrer é uma consequência do medo de ser esquecido. só que só faz uns oito dias que estamos aqui e as coisas mudaram de perspectiva. no fim do dia, eu tô com medo de morrer. de frio, de fome, de insanidade... de seja lá o que ele morreu também. — disse, indicando com um aceno da cabeça a cabana. juno absorveu as palavras de basil como se fossem verdades. não foi muito difícil, porque encontrou ressonância dentro de si com o que ele disse. se viu assentindo. ela, juno benítez. esperava que sua avó estivesse satisfeita onde quer que estivesse! — eu vou te contar uma coisa. acho que tô ficando maluca. definitivamente me olham como se eu fosse, mas o pior é que não sabem nem a metade do que eu acho. — confidenciou, desviando os olhos dele e mirando o rio. esse era o pensamento mais escondido que tinha no momento. nem as pessoas mais próximas dela (ou da antiga versão dela) sabiam disso, apenas suspeitavam. — ter sobrevivido não foi a única coisa da qual eu tomei consciência quando o avião caiu. é como se em cada silêncio e barulho a floresta estivesse me contando coisas. eu sei que você tá certo. a gente tá aqui. pode ser por algo não planejado, pode ser que qualquer avião que passasse por aqui, com quaisquer pessoas que fossem, teriam esse "fim". mas agora estamos aqui. e vamos continuar aqui. os padrões na mata, os símbolos, e esse presente de grego aí... isso tudo é parte de algo que a gente ainda não entendeu. mas vai. eu sei que vai. — apenas jorrou aquelas palavras, sem pensar se seria julgada por ele. pensou que não. não parecia que seria, pelo menos. — desculpa jogar tudo isso em você. só que acho que ninguém mais tá preocupado com isso. / ♡
⊱ de certa forma, era um alívio ouvir uma risada que não fossem as que forçava de si quando as coisas começavam a pesar demais, de maneira que seus ombros são até capazes de derrubar um pouco da tensão que os mantinham altos. era tão cansativo. acho que todo dia é halloween quando se é uma caveira. ou jovens perdidos em uma floresta. considera os arredores mais uma vez, como se aquela não tivesse sido a sua rotina na última semana; se prestasse atenção o suficiente nas árvores, podia jurar que ouvia a brisa sussurrando algo em seu ouvido — ou talvez fosse a fome, frio, desidratação, cansaço, tristeza o fazendo se agarrar com unhas e dentes às bordas da consciência —, algo que deseja conseguir compreender, mas também temia que fosse algo sobre um fim próximo. o semblante brincalhão adota nuances mais duras com a descrição da cena, puramente por respeito, não se tratava mais de uma situação que imaginou em sua cabeça, era a morte de alguém. a fita com olhos de quem entendia, pode não ter encontrado um esqueleto, mas tem um largo crédito com o universo de coisas estranhas que viu e experienciou em primeira mão. sinto muito que você teve que ver aquilo. não me sinto bem em funerais, isso deve ser ainda pior. seu sorriso é sutil, mas gentil, genuíno em suas palavras e no pesar que sentia por aquilo ter sido o que restará para eles. talvez é um aviso, nenhum sinal existe por acaso. os dígitos agem por si só, trilhando no casco seco da árvore o símbolo que havia ido conferir depois que o caos cessou, era estranhamente… familiar, pensou ter visto no caminho até ali, nos destroços, entre os galhos das árvores, mas até então preferia pensar que era apenas um truque que sua mente tentava lhe pregar.
⊱ há certo reconhecimento quando se trata de espiritualidade, de maneira que a ouve atenta e respeitosamente, o acenar suave de sua cabeça quando ela termina, a minha mãe dizia que se você morre e ninguém percebe ou lembra, você simplesmente não existe. se ele ‘tá… descontente, espero que não seja com a gente. não porque teme, mas pelo sentimento de que já estavam sendo punidos o suficiente — fúria divina ou o que quer que fosse, não precisavam do rancor dos mortos. espero que ele tenha conseguido fazer a passagem em paz agora que ele existe. havia sido aquela a sua despedida pessoal quando enterraram os ossos. existe cumplicidade em suas feições quando se coloca em pé, o coração ecoando em suas orelhas ao ouvir nas palavras dela o eco de seus pensamentos, circular, como o tempo. gesticula com a destra quando se levanta aproxima-se da jovem, a figura do círculo gravada no ar como se fosse a resposta de muitas coisas. eu acredito e... talvez, pondera por um, dois, vários segundos, o suspirar sôfrego antes de prosseguir, alguém morreu quando não deveria ‘pra que a gente pudesse sobreviver quando era ‘pra termos morrido.
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* juno olhou para pandora atentamente: aquele rosto que já significou tanto para ela, que já foi como uma âncora e uma certeza no meio de tanta maluquice. então podia culpá-la por agora ser ela mesma? quem mudou foi juno... de personalidade, de cidade, até de nome. tinha soltado a frase por impulso... menos que isso, por um pensamento em alto. não queria agravar ainda mais a estranheza que nascia e se espalhava entre ela e uma parte dos sobreviventes. algumas coisas nunca mudam. ainda assim, contemplava a (ex?) amiga com uma calma certeira. "quantas vezes um acidente precisa acontecer para deixar de ser considerado um?", pensou, mas mordeu a própria língua. não queria soar combativa e nem irônica, porque não se identificava muito mais com esses sentimentos. só que aquele fio lógico era frágil demais. — tomara que seja assim. considerando a quantidade de dias que já estamos aqui, espero que a polícia nos libere antes do próximo acidente. eles parecem descuidados. — adicionou, erguendo uma das sobrancelhas e cruzando os braços sobre o peito. o ar aéreo, contudo, não a abandonava, como se o comentário tivesse sido feito até para ela mesma. / ♡
ㅤㅤㅤㅤㅤ﹡ㅤㅤ⸻ㅤㅤclosed starter for @amarcnta - timeline atual.
"put your head on straight , this isn't over yet."
Depois do acidente e com a tal premonição que Ezekiel ter tido e dito a todos, assim como aconteceu com Finnegan, a mulher ainda preferia acreditar que tudo não passava de acidentes isolados. A floresta tinha sido a muito tempo e estava claro que sofreram um trauma compartilhado de anos sem resgate. Toda aquela coisa mística e sobrenatural parecia mais uma bobagem para si, principalmente depois que retornaram e ficaram sabendo de toda a intoxicação que sofreram devido ser uma área de minas. ❝ Acabou o que? Delírios de jovens numa floresta? por favor... ❞ Ela soltou um grande suspiro antes de prosseguir. ❝ Já foi tudo esclarecido antes, não tem porque ficarmos nesse assunto. Sofremos um trauma coletivo e pronto. É isso. ❞ Tentou dizer mais uma vez porque, no fundo, ela precisava acreditar nisso. Era melhor viver com essa realidade porque voltar a viver da floresta era sua eterna ruína, e ela não estava limpa atoa agora. Mas ela sabia sim que algo estava acontecendo. ❝ Os ânimos estão aflorados por causa de uma morte, e tá tudo bem! É uma droga mesmo. Mas foram coisas isoladas, não tem isso acontecendo de novo. ❞
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* juno podia dizer o que fosse para cemile, a verdade era que parte sua até gostava de estar ali novamente. outra parte, aquela que ela convivia já há quinze anos, sabia que ela não teria ido se não soubesse que precisava. foi o mesmo impulso que a fez ir até o enterro de ethan. nem toda a consideração do mundo a teria feito ir se não fosse preciso. e sabia que estar ali era preciso também. só não sabia por quê. talvez pudesse se certificar, no meio do caminho, que as pessoas que gostava ficassem bem. cemile era um grande exemplo. sabia que o a fala dela foi um desabafo e trágica, além da verdade. mas queria vê-la mais pra cima. — falando desse jeito, não me deixa muito outra escolha! não tem nada que você me peça chorando, que eu não faço sorrindo. — brincou, apertando a mão dela carinhosamente. e, acima de tudo, se preocupava com a médica. às vezes era bom cuidar dela de uma forma mais terrena, não só zelar pela sua proteção espiritual. foi andando ao seu lado enquanto tentavam encontrar algo minimamente atrativo. ela avaliou a barraca indicada pela amiga, surpresamente não se sentindo nada repelida. fez uma pequena encenação engraçadinha, como se meditasse e checasse a áurea do local. — passou na vibe check, eu aprovo. — brincou. já era a segunda vez em minutos. que não dissessem que ela não tentava fazer os outros sorrirem! — existe algo nesse país que não fritam? quer dizer, eu já vi um cara fritar um peru de dia de ação de graças. acho que não vai ser abuso pedir um peixe. — afirmou, pegando um pequeno cardápio que estava na barraca. — como você está ultimamente? não se matando com turnos extras, espero. já te disse que faz bem sair do hospital de vez em quando. não seria de todo mal tomar um banho de arruda também. / ♡
O evento era o momento perfeito para que não ficasse pensando em tragédias. Já estava cansada de ficar sendo abordada por estranhos perguntando como estava indo as coisas, algo que não estava disposta a discutir com quem não conhecia. A primavera era um dos seus momentos favoritos do ano, já que amava manter o apartamento dela florido. Tinha um pequeno jardim na sacada, que mantinha com muito suor e esforço, já que não era exatamente a melhor jardineira da cidade. "Você veio porque sua amiga está muito triste e precisando muito distrair a cabeça para não voltar para o apartamento e chorar durante horas perguntando-se o porquê o marido e o primo morreram." As palavras saíram com rapidez e, mesmo que ostentasse um sorriso de brincadeira, havia uma grande parte de verdade, o que tornava um pouco triste. Por mais que estivesse em um processo de recuperação mais rápido da dor que tinha sentido, Cemile ainda sentia um pequeno aperto no peito quando dizia as palavras juntas. Tinha conseguido melhorar em relação a John, mas havia aquele constante vazio que não estava conseguindo mais preencher como antigamente. "Eu estou querendo um pedaço de pizza de pepperoni com bastante queijo em cima. Mesmo que não seja exatamente um horário normal para comer pizza, deve ter alguém vendendo aqui, certo? Faz tanto tempo que não como uma." Um suspiro escapou dela, que tentava não pensar que costumava dividir uma pizza com Ethan no domingo de noite, quando ele passava na casa dela para confirmar que estava tudo certo. O período da noite sempre é o mais difícil quando estava em processo de luto; as memórias vinham à tona e facilmente ficava triste. Novamente, passava pela mesma coisa, o que fazia com que passasse mais tempo fora de casa do que dentro. Havia uma certa solidão dentro do apartamento que não estava conseguindo se livrar. Parou em frente à uma barraca de comida, que cheirava a óleo recém frito e estava bem movimentado. "Aqui tem batata frita e batata doce frita. O que me diz para começarmos? Enquanto eu não acho a pizza, é claro. Será que se pedirmos para fritarmos um peixe para comermos juntos eles fritam?"
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* a mudança da postura de zeke a alertou que ele estava prestes a trocar o tom brincalhão pelo tom sério. algo que ela, de certa forma e talvez inesperadamente, apreciou. não percebeu e nem sentiu de nenhum dos sobreviventes a vontade de falar sobre o assunto. ela pensava que já tinham passado tempo demais calados. se juntou à ezekiel no "modo conspirador", chegando mais perto dele na mesa. — me assusta pra caralho. — juno respondeu, bebericando o café de novo, como se tivesse dito a coisa mais normal do mundo. costumava xingar e falar muitos palavrões antes da floresta. ela era latina, afinal de contas. mas depois da floresta, para além de ter ficado mais reclusa e conversar pouco com os demais, também assumiu uma postura mais etérea. não era etéreo xingar. mas ela não ligava, não de verdade. — não é só porque algo precisa acontecer que fica menos assustador. eu acho que é questão de tempo, inevitável e tudo o mais. por isso mesmo é... apavorante. — confessou. desde que saiu da floresta sabe que aquele não era o fim. era só o começo. esperou. algumas vezes, em rompantes de positividade e ilusão, chegava a pensar que se enganou; só que a vida era sempre implacável. — o que você acha que vai acontecer com a gente? — perguntou, olhando-o com curiosidade. apreciava a opinião dele. / ♡
Um sorriso de canto tomou o rosto, demonstrando que Ezekiel não se sentira ofendido ou alarmado pela fala alheia sobre Ethan; não era muito diferente do que ele mesmo pensava, afinal. Juntou as sobrancelhas em uma falsa expressão de derrota quando ela falou que não era assim que funcionava, como se tivesse acabado de receber uma notícia terrível. E realmente recebeu, com a expressão se tornando uma de sofrimento genuíno por um segundo ao ouvir sobre como as coisas mudariam mesmo sem que ele fizesse nada. Ezekiel odiava quando as coisas mudavam. No entanto, após a última fala da mulher, a voz dele baixou um tom, e se aproximou de Juno em um movimento quase conspiratório para que apenas ela pudesse ouví-lo. ❝ Isso não te assusta? O que aconteceu com ele. ❞ Se referiu a Ethan novamente sem ter a coragem de chamá-lo por nome, como se isso fosse sacrilégio demais com o falecido. ❝ E o que pode acontecer com a gente. ❞ Deixou o olhar falar por si, baixando os olhos na direção das cartas sobre a mesa. Se eram mudanças chegando, Ezekiel colocaria a mão no fogo para dizer que não seriam boas.
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* o sorriso de canto não sumiu enquanto juno respondeu o amigo: — óbvio. ou você acha que faz mais o tipo bad boy? odiaria destruir seus sonhos, então se for o caso, eu vou sorrir e acenar. — piscou para ele. e é claro que ela sabia que eles confiavam um no outro mutuamente; não foi à toa a amizade que construíram na faculdade. também não era à toa agora que uma conversa com ele era o que a fazia pender na sua sanidade agora. estava tudo bem. ia ficar tudo bem. — eu acho que algumas pessoas vão tentar. eu já percebi... algumas coisas. e em até certo ponto acho que alguém deve ter uma presença de líder, porque os seres humanos se perdem na desordem. não é isso que a gente aprende? — questionou, olhando o amigo. eles estudavam psicologia e estavam sendo ensinados a desvendar a mente humana. mais que isso, as relações que regem os seres humanos. quando todas as regras são retiradas, o que sobra? assentiu quanto à menção do plano B. — eu acho que cada dia fica mais clara a necessidade disso... não sabemos se... quando vai acontecer o resgate. não dá pra viver esperando esse dia chegar, senão a gente vai morrer de frio, fome e tudo o mais. — comentou. tentava colocar um pouco de racionalidade naquela sensação irracional de que deveriam estar ali e que ficariam ali por muito tempo. não sabia explicar, então era melhor se calcar na sensatez de ter planos alternativos. como se lesse sua mente, nick falou sobre sua racionalidade. por um momento, por alguns segundos, ela experimentou aquela certeza que é tão confortável e tão maravilhosa no ceticismo e na racionalidade. só não sabia se ela seria duradoura. — eu vou tentar. talvez precise de mais umas sessões de terapia como essa com você. — disse, empurrando-o de leve pelo ombro. — já parou pra pensar que vamos sair daqui formados? não vamos precisar nem de diploma. — brincou, rindo. / ♡
Nicholas não conseguiu segurar um sorriso de canto quando ouviu Juno listar suas qualidades como um sucesso de público. O senso de humor dela sempre tinha sido um ponto de apoio para os dois, mesmo nas piores situações, e saber que isso não tinha se perdido ali, no meio daquele pesadelo, trazia um alívio estranho. — Personalidade de ursinho? — Repetiu, arqueando uma sobrancelha com um tom divertido. — Não sei se fico lisonjeado ou preocupado com essa. Mas já que você falou da minha boa aparência, vou deixar passar. — Era bom rir. Mesmo que fosse algo pequeno, mesmo que fosse por um momento. — Eu confio em você também, Juno. Como sempre. — Respondeu, a voz mais firme. — E você tá certa. Se a gente quiser sobreviver, confiar uns nos outros vai ser essencial. Não dá pra bancar o lobo solitário aqui. — Queria acreditar que tinha uma equipe de resgate vasculhando cada centímetro daquele maldito lugar, que a qualquer momento ouviriam o som de um helicóptero cortando o céu ou de rádios chiando com vozes familiares. Mas ele também sabia que esperar demais poderia ser fatal. Ele lançou um olhar para a floresta escura ao redor deles. — Mas só por garantia, acho melhor também termos um plano B... — Ele não queria estragar a tentativa dela de manter a sanidade, mas também não queria que se prendessem demais a uma esperança cega. Sobrevivência não era só acreditar no melhor, era se preparar para o pior. — Só… não deixa essa coisa toda te engolir, tá? Você sempre foi a pessoa mais racional que eu conheci, mas até a mente mais lógica pode enlouquecer se ficar presa tempo demais.
#* nos escribimos sin palabras / ♡ chats#w. nick (TIMELINE PASSADA)#É MUITA SOFRENCIA TER QUE RESPONDER ELES NESSA TIMELINE
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onde: mary hitchcock memorial hospital quando: 2025, festival da primavera quem: juno & @rabbitfallz
* o hospital estava uma confusão. o cheiro de desinfetante e o som de passos apressados no corredor a deixavam tensa, mas ela tentava não pensar nisso. tinha ido até ali para ver se cemille estava bem e se as pessoas afetadas pelo acidente também estavam bem. isso era o que importava. depois de ter se certificado que tudo estava bem, não queria interromper a amiga, mas ficou ainda vagando pelo local por um momento. até que, ao virar para se afastar e sair do hospital, algo a fez parar. uma sombra no canto da sala a fez hesitar. ela olhou, reconhecendo aquela silhueta. o coração de juno deu um salto. não sabia o que fazer, não sabia o que sentir. o encontro não era esperado, mesmo que soubesse que ele estava na cidade (todos estavam). respirou fundo e foi até ele, sem saber se o que estava prestes a acontecer seria algo bom ou doloroso demais para suportar. ela só sentiu a urgência de falar algo. — nick. — foi tudo o que conseguiu dizer. ainda chamou-o pelo apelido. eles não estavam mais nos melhores termos, então não era como se ela pudesse chamá-lo por apelidos. ela deu um passo hesitante, quase esperando que ele fosse virar as costas e ignorá-la. mas, em vez disso, seus olhos buscaram os dele. o mesmo olhar enigmático, mas mais fechado do que antes. mais distante. o peso de tudo o que havia acontecido com eles parecia denso demais, mas ainda assim juno estava ali, esperando por algo que ela sabia que não poderia mais voltar a ser o que era. — você... se machucou? está bem? — perguntou, preocupada. o acidente foi caótico e assustador, e ficou imaginando se ele estava ali para receber algum tipo de tratamento... ou ver alguém. / ♡
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onde: abertura do festival quando: 2025, festival da primavera quem: juno & @ssquirrzl
* o festival estava a todo vapor, o ar fresco da noite e as luzes coloridas davam um toque mágico ao parque lotado. juno estava ali, entre as barracas, meio que flutuando entre o caos da festa e seus próprios pensamentos. ela e eliza haviam se encontrado ali, como nos velhos tempos, como se o tempo não tivesse passado e os dias na faculdade estivessem a apenas alguns minutos atrás. ela sentia a falta de momentos assim com a amiga, que apesar de tudo ainda continuou na sua vida. — acho que o tempo não consegue decidir se é inverno ou verão por aqui. — juno comentou com um sorriso, sentindo o vento fresco no rosto enquanto olhava para o palco, onde a energia estava explodindo em músicas e risadas. — mas é bom ver você de novo assim. o laranja combina muito com sua aura! — brincou com a amiga, embora dissesse uma verdade. elas estavam ali, curtindo a abertura do festival, quando a vibração do ambiente mudou repentinamente. o som do palco começou a vibrar de uma forma estranha, o barulho das tábuas e estruturas parecendo fora de lugar. juno virou a cabeça para olhar, mas antes que pudesse fazer mais alguma coisa, ouviu o estalo e viu a seção do palco ceder. o pânico tomou conta da multidão e, em um reflexo instintivo, juno puxou eliza para mais perto de si, tentando protegê-la. — eliza! — juno gritou, mas o caos tomou conta e ela mal teve tempo de processar o que estava acontecendo. o palco desabou a poucos metros delas, e juno sentiu a pressão do impacto no ar. seus olhos se fixaram no que estava acontecendo, o barulho ensurdecedor do colapso misturado com gritos e a poeira que subiu instantaneamente. quando o estrondo finalmente diminuiu, juno, com as mãos trêmulas, olhou para eliza. ela estava ali, segura, mas os estilhaços e o caos ao redor eram impossíveis de ignorar. as sirenes dos paramédicos podiam ser ouvidas, e a multidão começou a se agitar. — você está bem? — juno perguntou, ainda tentando processar o que acabara de acontecer. o choque estava começando a passar, mas uma sensação estranha e urgente a invadia. o ciclo. ela sabia. tudo que tinha sentido, todas as premonições, estavam se tornando reais. — o que foi isso? — a pergunta era mental, mas foi feita em voz alta. / ♡
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onde: feira de artesanato quando: 2025, festival da primavera quem: juno & @theresaadams
* a loja macondo tinha um estande em todos os festivais da cidade. funcionava sempre em paralelo e independentemente dela, porque juno nunca comparecia. fazia mais de quinze anos que não colocava os pés na feira. seus funcionários mal sabiam seu rosto. naquele momento, juno estava caminhando pela feira de artesanato, o burburinho de conversas e risos ao redor se misturando com o aroma de comidas e o som das músicas típicas do festival. seus olhos estavam atentos à movimentação ao seu redor, mas algo a fez parar quando avistou theresa se aproximando de uma barraca que ela conhecia bem (a dela). havia uma mesa repleta de objetos feitos à mão: colares, pulseiras e, claro, algumas pedras e incensos. o rosto familiar fez com que seu coração pulasse uma batida. fazia tanto tempo, mas era inconfundível – theresa. ela parecia a mesma de sempre, mas havia algo diferente, algo que juno não sabia exatamente como nomear. com um sorriso quase imperceptível, juno se aproximou lentamente, observando a psicóloga analisar uma pedra específica. — essa pedra aí... — ela disse, apontando para uma turmalina negra. — é ótima para proteção energética, absorve as energias negativas. eu sempre falo para as pessoas que ela pode ajudar a criar uma espécie de escudo contra os pensamentos que invadem a mente. — ela olhou para theresa, tentando não parecer invasiva, mas sabendo que essa era uma boa forma de puxar conversa. — algo que todo mundo precisa de vez em quando. algumas vezes mais que outras. — disse, críptica como sempre. passou a mão pelos banhos receitados, fixando o olhar no sândalo por mais tempo do que todos. — não esperava te ver aqui. quer dizer, sabia que estava em hanover, considerando... —pausou. não era o melhor momento de trazer morte para a conversa. não se viam há quinze anos. — como andam as coisas? tudo bem? — juno deu um passo atrás, esperando que theresa falasse, sem pressionar, mas com a sensação de que, finalmente, talvez fosse a hora de falar sobre as mudanças que estavam enfrentando. / ♡
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onde: tenda de bebidas quando: 2025, festival da primavera quem: juno & @svfiadaputa
* juno estava parada em frente à barraca de bebidas, absorta nas opções coloridas e exóticas que eram oferecidas. o festival da primavera estava em pleno andamento, e ela se pegou olhando para os outros ao redor, rindo e conversando como se o mundo fosse simples. ao fundo, a música dançava no ar, mas juno ainda se sentia um pouco fora de sintonia com tudo aquilo. ela olhou para a bebida em suas mãos, uma mistura doce e refrescante que parecia tão leve quanto o clima de primavera, mas ainda assim havia uma estranha sensação de peso em seus ombros. o barulho ao redor parecia abafado, como se ela estivesse em um espaço à parte, em sua própria mente, tentando se reconectar com o que havia sido perdido. de repente, sentiu uma presença familiar se aproximando e olhou para o lado, esperando encontrar um rosto conhecido. seus olhos encontraram sofia; não a via desde o dia do enterro. na realidade, parecia que até há mais tempo, porque naquele dia não prestou tanta atenção nos arredores. então sofia era como uma miragem de quinze anos atrás. ela deu um sorriso tímido, tentando romper o gelo. — não tinha planejado vir aqui, mas acabei me deixando levar. parece que todo mundo está se divertindo. — juno disse, olhando ao redor, ainda um pouco aérea de tudo aquilo. — nesses últimos anos, não sou de beber muito. mas levando em consideração as circunstâncias atuais... — falou, balançando levemente o copo de bebida, deixando o complemento no ar. sabia que sofia sabia. — ia te perguntar o que te traz aqui, mas considerando que somos obrigadas a ficar, realmente não tem muito mais onde ir... — disse. — como vai a vida? — perguntou, como se aquela mudança abrupta fosse completamente normal. / ♡
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onde: barracas de comida quando: 2025, festival da primavera quem: juno & @pedictrician
* juno não tinha costume de frequentar os festivais, nem esses lugares tão públicos. considerando a morte de ethan, seria de se imaginar que ela se recolheria ainda mais em seu refúgio nas montanhas; era o que queria, mas considerando que não tinham permissão de sair da cidade, ela aceitou, relutante, o convite de cemille para comparecer ao festival. juno observava o movimento ao redor, os rostos animados e os cheiros das barracas de comida preenchendo o ar. o festival da primavera parecia estar acontecendo em outro mundo, distante do que ela ainda carregava. sentiu a presença de cemille antes de ver sua figura, como se ela tivesse algum tipo de radar para isso. a energia dela era diferente, sempre trazendo algo de leveza ao seu redor, como uma mão invisível puxando juno de volta ao momento. ainda assim, juno permaneceu quieta, absorvendo a energia do ambiente, tentando deixar a sensação de desconexão um pouco de lado. olhou para as barracas de comida e, por um momento, se perdeu em um dos cheiros mais familiares, algo reconfortante e simples. a nostalgia. suspirou, passando a mão pelos cabelos, antes de olhar para cemille com um sorriso tímido. — eu… ainda não sei o que estou fazendo aqui. — juno murmurou para si mesma, mas sabendo que cemille provavelmente estava prestando atenção. ela deu um suspiro, uma risadinha baixa, um pouco constrangida. —mas, sério, você me convenceu a vir, então é sua culpa, viu? — tentou ser mais leve. sufocou o que pensou sobre como era esquisito estar ali, sobre como era antinatural algumas coisas. e, ao mesmo tempo, faziam todo o sentido do mundo. — vamos, você me deve uma fritura com muito molho. — chamou, sorrindo. normalmente sua dieta era meio restrita no veganismo, mas a vontade de comer algo do passado a acometeu com força. / ♡
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* juno sabia que metade das coisas que falava podia ser sentido. céus, ela mal se reconhecia. nove dias atrás, teria rido se encontrasse alguém repetindo as mesmas coisas que ela fala. então sim, ela sabia o que parecia para os demais. talvez devesse ir arrumar a cabana, procurar comida ou achar outra coisa útil para fazer. só conseguiu pensar na sua mãe. "existem coisas mais ou tão úteis quanto ser produtiva ou lógica. sonhar é tão importante quanto ocupar as mãos". só que não estava sonhando; se estivesse, seria um pesadelo. jamais se imaginou nessa posição. — pode ser. — disse, sem carisma algum, chutando uma pedra no lago. estava um pouco exausta também, como se precisasse sempre lembrar a todos que não era maluca. — mas as estatísticas também dizem que a porcentagem de queda de avião é mínima. que é tão seguro quanto andar de carro. sem contar que após oito dias de desaparecimento de um avião... algumas pessoas param de procurar. — compartilhou. sabia que não era legal ouvir aquilo. mas se as pessoas não queriam falar com ela sobre os significados das coisas, então talvez pudesse tentar mostrar como nem tudo era lógico. na verdade, não tinha nenhuma lógica no que estavam vivendo. — desculpa pelo tom pessimista. mas é que sinto que as pessoas querem ignorar as coisas. mas uma hora ou outra, a gente vai precisar lidar com certas verdades. / ♡
Angelina escutou Juno em silêncio, observando-a com atenção enquanto ela hesitava nas palavras. Inclinou levemente a cabeça, esperando que ela terminasse, mas não terminou. A frase ficou suspensa no ar, e ela percebeu que a outra garota não tinha coragem de dar nome ao pensamento. Ela entendia. Às vezes, as palavras faziam os horrores parecerem mais reais. — Eu acho que alguém esteve aqui por muito tempo. E acho que ninguém constrói uma cabana no meio do nada sem um motivo. — Angel soltou um suspiro e passou a mão pelos cabelos, jogando-os para trás. — Pode ser só uma cabana velha e um esqueleto de um caçador azarado. — Sua voz carregava um tom prático, mas não exatamente duro. Era simplesmente lógica. — Pessoas morrem na floresta o tempo todo, Juno. Especialmente se estão sozinhas. Você já leu as estatísticas? Eu acho que a gente está exausta, faminta e, pra ser bem sincera, desesperada para encontrar um sentido em qualquer coisa. Mas isso não significa que tenha um mistério aqui.
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* juno quase deu um resquício de sorriso, ou o mais perto disso possível devido às circunstâncias. a ideia de pensar em um esqueleto de halloween aliviou um pouco da carga do que tinha acabado de acontecer. — se era decoração de halloween, estão um pouco adiantados esse ano. — brincou da forma que pôde. era bom ver que ainda tinha um pouco de humor. — tava… inteiro, sim. mas não do jeito plástico e bem preservado que você tá imaginando. mais… seco. quebradiço. tipo aqueles que desmancham se você encostar forte demais. — explicou, relembrando os detalhes. tentava não pensar tanto na cena, mas era impossível. ela invariavelmente rastejava pelo seu consciente e inconsciente. a resposta do garoto lhe deixou surpresa, não conseguindo esconder a expressão. pelo menos alguém ali pensava algo parecido com o que ela vinha remoendo sozinha, em silêncio. — eu acho que tudo o que acontece aqui é bem mais do que parece. tem aquele símbolo... e fico pensando que isso pode ser o sinal de alguma outra coisa. — dividiu. normalmente tentava não falar essas coisas, porque sabia que ultimamente estava assustando as pessoas ao falar a primeira coisa que vinha na cabeça. só que era mais forte que ela. — eu sei o que a minha avó diria... — soltou, quase sem querer. e quando percebeu, já era tarde demais para engolir as palavras de volta. passou os dedos pelo próprio joelho, como se pudesse dissipar o arrepio que veio depois. — diria que os mortos não gostam de ser esquecidos. e que quando eles aparecem desse jeito, com os ossos expostos ao vento, é porque alguém falhou em rezar por eles. e que símbolo nenhum aparece por acaso. — juno riu baixo, um riso sem humor. sempre achou que a avó enxergava sinais demais onde não tinha nada. quando era criança, gostava de ouvir essas histórias porque soavam como contos de terror. depois, passaram a ser só exagero, coisa de gente que queria ver destino onde só existia acaso. mas agora… agora não sabia mais. — eu não sabia sobre o processo de esqueletização. mas concordo com você. e talvez tudo isso faça parte de algum tipo de ciclo infinito. — respondeu, ainda refletindo sobre tudo aquilo. sobre o peso das palavras. — você acredita... em sinais? / ♡
⊱ se há uma crença que carrega com mais fé do que as outras infinitas que também acredita, é a de que o tempo é circular. a coexistência do passado, presente e futuro em qualquer ponto — tudo em todo o lugar ao mesmo tempo. mas como ousaria externar o delírio de que, talvez, fossem um deles morto ali? um corpo deixado às ações do tempo, de carne à poeira. ‘tava intacto? tipo. igual aqueles de decorações que as pessoas colocam nas varandas no halloween. não se juntou à comoção para averiguar a cena como ela era, não queria desrespeitar a alma de quem quer fosse criando teorias em sua mente criativa ; atormentada. eu acho que… é conveniente. tudo que a gente precisava. seu lugar é amontoado sobre um tronco caído e em decadência há alguns metros do lago — por mais que saiba que a água cura, ainda tem medo do que ela pode esconder, ou quiçá revelar. é como se nós mesmos tivéssemos feito esse arranjo em algum ponto do tempo. mitiga a sua marca específica de loucura com o tom arrastado e sutilmente desdenhoso, talvez assim se convencesse da própria insânia. o processo de esqueletização leva entre dois a três anos, dependendo do ambiente. só acho que pode ser mais novo do que tem gente aí pensando.
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* juno assentiu com gratidão diante do comentário de finn. realmente parecia ter sido sorteada, mas ela sabia que era mais que isso. sentia que tudo que acontecia naquela floresta tinha propósito, precisava acontecer. isso que a assustava, se via transfigurada na avó, nos pais... e o pior era como sua mente reconhecia tudo aquilo como natural. como se sua lógica antes do acidente fosse uma barreira ao que ela de fato deveria entender e ser. enquanto o garoto falava, ela assentia. sim, tudo aquilo fazia sentido. mas... — faz sentido. mas não sei. ao mesmo tempo, fico pensando que ele 'tava apontando a arma pra janela, no segundo andar. é um pouco alto para um animal alcançar... — ficou silente novamente. não queria começar a parecer maluca, como já sabia que estava parecendo há dias, mas mesmo que se olhasse com toda a cética e lógica do mundo, ainda tinham elementos sem sentido. o tom reafirmador do garoto a deixou um pouco triste; porque não acreditava naquilo, mesmo que quisesse. ouvindo-o falar daquela forma, seria muito fácil só fechar os olhos e acreditar. mas a floresta sussurrava que isso era mentira. ficou observando ele jogar as pedras no rio, pensativa. — é estranho. acho que a gente devia agradecer de certa forma, por encontrar essa cabana e poder ter algum tipo de estrutura. mas não consigo só ignorar... — interrompeu-se novamente. talvez estivesse andando em círculos mentais e ficando obcecada. olhou para finnegan. — o que você faria no lugar dele? se fosse você ali, com uma arma apontada para a janela, o que teria te feito apertar o gatilho? — perguntou. talvez por curiosidade. talvez para matar o tempo. / ♡
Não queria ser mais um questionando Juno sobre o ocorrido, só que perto de tanto murmúrio a respeito, Finn preferiu ouvir diretamente da mulher o que tinha acontecido. — Lamento por você ter sido sorteada com essa descoberta. — Não estava zoando, muito menos brincando, afinal, só pelo jeito como Juno estava dava para saber de longe o quão traumático foi dar de cara com um esqueleto armado. Ele não a julgava, também teria ficado do mesmo jeito. — Esse lugar é enorme e o fato dele estar armado, apontando para a janela, aumenta mais ainda as minhas suspeitas sobre ser um caçador. Você reparou na cabana, certo? — Era o típico alojamento de um caçador, começando pelo crânio de um alce bem em cima da lareira. — Acredito que ele estava machucado e sendo caçado por algum lobo ou urso, por isso estava daquele jeito. Ninguém quer morrer, ainda mais comido por um animal. — Não queria e nem iria alimentar as teorias a respeito da cabana, para Finnegan todos estavam tão abalados ainda pelo acidente que qualquer coisa era motivo para delírio. — Com o inverno indo embora, mesmo não entendo muito a respeito, é bem provável que apareça outros caçadores por aqui que acabem nos encontrando. — Tentou ser positivo e, pela primeira vez, esboçou um sorriso para Juno antes de focar sua atenção novamente na água onde atirava algumas pedras.
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