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ׅׅ 🥛᭢ׄᅟ 𐔌ᅟ ⴗⱺ𝗎ᅟ ⴍꪱ𝗅𝗅
ᅟᅟᅟᅟ 𝖻ᧉᅟ ᨠⴗᅟ ᬊᅟ 𝗀ı𝗋𝗅ᅟ ꒱ ᅟ꒱
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Meu coração é uma catedral de cicatrizes.
Meu coração ainda é um lugar sitiado, mas aprendi a abrir frestas na muralha. Habito um corpo feito de fios desencapados, sim, mas descubro agora que até os fios partidos podem conduzir luz. Sou uma mulher que carrega cicatrizes como mapas, não como sentenças. Os fantasmas do passado ainda sussurram, é verdade, mas há uma voz mais nova em mim — pequena, teimosa — que insiste em responder: "Desta vez, será diferente."
Se antes cada silêncio era um abismo, hoje tento vê-lo como respiro. Se antes cada promessa era um gatilho, agora me permito sentir o calor das palavras antes de dissecá-las. Ando como quem planta em solo árido, sim, mas descobri que até a terra rachada pode germinar vida quando regada com paciência. Sim, ainda tremo. Sim, ainda conto os segundos, mas entre um suspiro e outro, lembro: você escolheu ficar. Você continua escolhendo ficar.
Minha alma ainda é um arquivo de despedidas, de negligências, mas estou escrevendo um novo capítulo em letras trêmulas. Há dias em que o medo me veste como um casaco de chumbo, mas aprendo, devagar, que é seguro tirá-lo. Quando me imagino segurando sua mão e imagino nossos dedos entrelaçando, percebo que nem todo toque é fuga. Alguns são chegada. Alguns são permanência.
Há uma semente teimosa brotando onde antes só havia cinzas. Cultivo-a com gestos miúdos: deixo de traçar cenários de fim, respiro fundo antes de perguntar, permito-me acreditar que sou digna do amor que não machuca. E nos meus piores dias, quando os velhos demônios grasnam que tudo vai desmoronar, me envolvo num silêncio que não é vazio, mas santuário.
Não sou mais a mulher que só sabia amar sob tempestade. Descubro agora a beleza do sol depois da chuva — e como minha pele, marcada por tantas guerras, ainda consegue sentir calor. Talvez eu nunca seja leveza pura, mas estou aprendendo a dançar com meus pesos. Vejo agora como o amor pode ser o linho limpo que envolve minhas cicatrizes, suave, sem pressionar.
Um dia, quem sabe, minhas mãos aprenderão a tocar sem a ansiedade de implorar e o medo de não te sentir mais. Até lá, sigo sendo esta mulher que escolhe, todos os dias, trocar um pouco de medo por um pouco de fé. E na parede onde antes pendurava premonições sombrias, começo a esboçar, com traços vacilantes, um retrato — onde eu não sou ruína, mas um ser que está aprendendo, melhorando e me curando.
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Visões Brutas de um Porvir Remoto e as Lembranças Tormentosas de um Passado Profanado
Eis que, nos corredores sombrios da memória, onde espectros do passado agarram-se com dedos húmidos às câmaras fatigadas do coração, vagueio — peregrina solitária entre dois mundos. O passado, sepulcro de semblantes, enclausura a face que outrora vesti como manto mal ajustado, máscara de verossimilhança grotesca que quase sufocou o sussurro da alma. Contudo, despi-la, ainda que o sopro da liberdade se agite, exige um sacrifício de agonia requintada: o rompimento de tudo que fui e de tudo que conheci.
É uma triste melodia, esta, o luto por um eu jamais vivido. A face que outrora fitava do espelho — contrafação de um estranho — agora assombra como quimera do que poderia ter sido. Amizades, laços de sangue, as ténues vinhetas da juventude — estas, também, devem ser entregues à turva maré do Lete. Ó, a cruel alquimia do tempo! Transmutar recordações outrora douradas em pesos de chumbo, arrastando o espírito à terra enquanto as asas da verdade alçam-se à luz empírea.
Mas sobreviver devo. Neste invólucro carnal, renascida porém marcada, talho um caminho emergente através dos espinhosos ermos do desdém do mundo. Cada passo, batalha contra a fantasmagoria dos dias idos; cada respiro, desafio à elegia entoada por aqueles que me querem espectral, silente. O espelho agora, mais clemente, reflete apenas fragmentos — mosaico de devir, onde estilhaços do antigo, agudos e reluzentes, mesclam-se à carne tenra do novo.
Viver autenticamente — que é, senão erguer uma cidadela sobre as ruínas de Babel? Pedra sobre pedra, alicerço o fundamento com mãos ainda trémulas, talhadas da pedreira da identidade conquistada. Aqui, na aurora silente desta existência indescrita, planto jardins onde nenhum antes criou raiz: frágeis flores de esperança, parentesco e a coragem trémula de ser percebida. O mundo, em seu giro cruel, talvez escarneça da arquiteta, mas a edificação ergue-se, lenta e adamantina, sob o sol da resolução inabalável.
Saiba-se, pois, que ainda que a jornada seja assolada por tormentas, e as sereias da memória chamem aos baixios do outrora, traço este curso intrépida. Pois, na medula deste renascimento, jaz uma verdade tão antiga quanto as estrelas: forjar-se novo é arrancar do cosmos um destino divino, inflexível e fulgurantemente próprio. O passado pode agarrar, mas não reclamará; o futuro acena, horizonte dourado pela promessa de uma aurora sempiterna.
Assim sigo avante, alma duas vezes nascida, carregando cicatrizes e louros da existência. No cadinho do devir, sou desfeita, refeita e eterna.
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