Saúde e Sociedade 2 Prof. Pedro Jabur Laiane G. de Carvalho Larissa K. Q. Cardoso Leonardo L. dos Santos Lizandra P. Aguiar
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1. Escolhemos o tema Mulheres com o recorte “filhos”; após 3 saídas e a partir de todos os relatos escutados conseguimos estabelecer uma linha de ligação entre essas mulheres. Buscamos entender a relação dessas mulheres com seus filhos, como essa realidade pode ser afetada com a responsabilidade delas sobre os mesmos, saúde, o desejo de ser mãe, gravidez e questões de abandono.
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2.1
Foram realizadas por todos os integrantes do grupo 6 saídas de campo, onde 3 foram bem sucedidas. Conversamos ao todo com seis mulheres. Nos dias 26/05 e 27/05 às 16 horas, encontramos cinco mulheres que vivem em grupo na Rodoviária do Plano Piloto; Uma foi encontrada na Igrejinha – Nossa Senhora de Fátima – no dia 30/05 por volta das 13 horas.
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2.2
Dias 26 e 27 de Maio:
Nos deparamos com cinco mulheres, Maria Rita de 40 anos, tendo uma filha; Claudecir conhecida como “Cici” de 47 anos tendo 3 filhas e 7 netos – Patrícia de 20 anos (dois filhos), Nailma de 22 anos (três filhos) e Nayara de 26 anos (dois filhos) – em frente à Rodoviária do Plano Piloto.
Essa “grande família” (nomeados por eles mesmos dessa forma) está junta desde o ano de 2014, pelas mesmas circunstâncias que os levaram a rua, segundo eles, a falta de escolaridade seguida pelo desemprego e falta de apoio dos familiares. “Eu só estudei o primário, sou nascida no interior do Maranhão, perdi a mãe com 8 anos de idade, meu pai morreu logo depois com diabetes, fui morar com uns primos e tive que trabalhar na roça deles pra ajudar no dinheiro, decidi vir pra Brasília tentar uma vida melhor, mas sem estudo, sabe como é né, as coisas só pioraram, estou na rua me virando desde os 15 anos, vim pra cá em 92, trabalhei como prostituta, quando cansei dessa vida fui pedir dinheiro no sinal e assim conheci meu marido, tive minha filha com ele e depois ele morreu e até hoje tô na rua me virando como dá.”, disse Maria Rita, ela também nos contou que já fizeram parte do Movimento Sem Terra (MST), por diversas vezes tentaram invadir terras, mas não obtiveram sucesso, “É muito cansativo e perigoso”.
Os netos de “Cici”, são todos menores, com faixa etária entre 5 meses à 13 anos de idade, desses, 4 vendem doces em ônibus e semáforos. “A falta de oportunidade que eu tive pesa nos meus filhos, trabalhei desde cedo pra ajudar minha mãe e hoje eles fazem a mesma coisa pra mim”, disse Nailma. “A gente fica com medo de acontecer o pior com eles né, mas precisamos nos arriscar porque não temos como sobreviver se não for assim”, reforçou Nailma.
Nayara, filha de “Cici”, é casada com Wanderlei, “Cici”, sua mãe, nos contou que a filha já foi agredida pelos policiais, que alegaram que ela estava portando drogas.
Maria Rita e “Cici” também catam latinhas para vender. “Aqui a gente se ajuda, compartilha comida e dinheiro também, o importante é se manter, manter essas crianças.”
Todas elas nos contaram que sentem medo e são ameaçadas pelos policiais e que durante a noite é quando ficam mais preocupadas, principalmente com seus filhos, por isso quando vão dormir se “mudam” para dentro da rodoviária “Tenho medo que alguém venha e faça alguma coisa com a gente, com todas as crianças né, a gente tem que ficar prestando atenção toda hora, uma vez já tentaram roubar pouco que a gente tem, já ameaçaram a gente, os polícias já pegaram minhas filhas falando que ia levar pro posto de saúde pra consultar e bateram nelas no postinho da polícia.”, disse “Cici”.
Patrícia – que possui 2 filhos, todos de gravidez inesperada – nos contou que ainda desejava ter mais filhos, mas nas condições em que vive passar por outra gravidez seria complicado. “Todas as vezes que eu engravidei não foi esperado, mas eu amo meus filhos, queria ter mais, mas vivendo assim não dá, tenho que dar banho neles na pia do banheiro da rodoviária, quando falta água agora a gente nem toma banho, meu maior sonho é que meus filhos estudem, se formem, tenha uma vida diferente da minha.”
Ao perguntarmos sobre a filha de Maria Rita, ela não quis entrar em detalhes, mas nos contou que não possui contato com ela desde que começou a namorar, “ela se rebelou com a gente e saiu aí pelo mundo com ele, quis me bater, me xingou, acho que ela tava drogada, eu pedi pra ela tomar juízo, mas não deu pra impedir.” foi então que pudemos observar a semelhança da historia de Inês Ferreira com a de Maria Rita, que também foi agredida e abandonada pelos filhos.
Elas nos relataram que tiveram assistência Pré-natal em um posto de saúde e de acordo com elas, não recorrem ao hospital quando possuem alguma enfermidade porque já sofreram preconceito por serem moradoras de rua, “Eles olham diferente pra gente em todo lugar, por a gente morar na rua, por a gente ser preta, não vai ser no hospital que vai ser diferente né, quando o povo passa por aqui seguram as bolsas com medo.”, afirmou “Cici”.
Dia 30 de Maio :
Conversamos com Inês Ferreira, 44 anos, possui 1 filho, onde nos relatou abandono e maus tratos por ele.
Inês é semianalfabeta, mas tem muito conhecimento sobre a Bíblia e mesmo com dificuldade consegue ler algumas palavras, sendo muito religiosa, tem seu maior apoio para seguir a vida através da fé em Deus. “Eu sei ler mais ou menos, eu sei o mais importante, a Bíblia e ainda sei escrever meu nome.”
Há 11 anos em situação de rua, passou a dormir em um espaço em volta da Igrejinha Nossa Senhora de Fátima. “O melhor de morar aqui é que eu ainda tô pertinho de Deus o tempo todo”. Durante o dia para conseguir ajuda para se alimentar e comprar alguns remédios, passa o dia na Rodoviária do Plano Piloto com uma cestinha para que as pessoas que quiserem a ajudem com algum valor.
Nós a questionamos sobre a violência onde vive, e ela nos disse que nunca sofreu nenhum tipo, pois já criou uma relação de amizade com policiais, alguns vendedores ambulantes da rodoviária, com os fieis da igreja e até com os moradores dos prédios por perto.
Quando morava com o filho, ela nos contou que ele começou a agredi-la verbalmente e fisicamente quando começou a ser usuário de drogas, aos 16 anos. “Nós morávamos de favor, eu fazia faxina, só dava pra comprar comida, aí ele virou traficante, e eu passei a ter medo que meu próprio filho me matasse, minha vida virou um inferno, ele saiu de casa e eu saí depois, não tinha como me manter, não estudei, tive que trabalhar e não tive oportunidade, do meu filho eu nunca mais tive notícia, sinto falta, mas tô bem agora, os trocos que eu ganho dá pra viver.”, explicou ela; depois de muitas tentativas para que o adolescente deixasse de usar drogas, Inês resolveu abrir mão e deixar que ele escolhesse seu caminho.
No fim ela nos pediu para ler um versículo para ela e também que colocássemos no nosso relatório:
“¹Senhor, tu me sondaste e me conheces. ²Tu sabes o meu assentar e o meu levantar; de longe entendes o meu pensamento. ³Cercas o meu andar, e o meu deitar; e conheces todos os meus caminhos.”
Salmos 139 : 1-3
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Maria Rita e “Cici”, com sua neta Emilly, filha mais nova de Patrícia.
Doces que as crianças vendem na rodoviária, ônibus e semáforos.
Emilly e sua boneca preferida.
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3.
A sociologia nos permite esclarecer a nossa personalidade, ensinando-nos que a identidade se forma com a ajuda do meio em que vivemos. A nossa identidade enraíza-se nesses grupos inseparáveis – Grupo de Pertença, por circunstâncias do nascimento, o qual podemos observar nos filhos e netos das moradoras da rodoviária; Grupo de Eleição, por escolhas, como a senhora Inês e Grupo de Referência, que nos identificamos mesmo sem fazer parte dele.
Passamos por mecanismos de socialização que nos ajudam a formular a nossa identidade, onde pudemos observar os conceitos do “Espelho Refletor” – em que os outros são fonte de definição da própria pessoa – e dos “Jogos de Papéis” – as “imitações” de gestos o qual aprendemos gradualmente para nos situar nos papéis – nas crianças, sempre refletindo e imitando os únicos exemplos que elas têm.
A sociedade se caracteriza por um conjunto de pessoas que interagem entre si, produzindo e reproduzindo fatos sociais e culturais (leis, tradições, ética, moral, ordem e desordem – onde tudo que é transmitido é modificado durante o tempo e assim por diante o indivíduo será “formado”). O que pudemos observar e também nos foi relatado é que há um grande preconceito com esse grupo, como se fossem pessoas nulas na sociedade, não tivessem leis, não produzissem cultura, nem costumes.
O Processo de Socialização e construção da nossa identidade se dá através da padronização e culturalização dos instintos, no qual há a trajetória do indivíduo nos seus respectivos microcosmos e macrocosmos. Os microcosmos são espaços de socialização – família, escola, igrejas e etc, os macrocosmos são como contextos – cultural, temporal, renda, raça, gênero e educação.
A relação de todas essas histórias é que não podemos julgar ou ignorar o outro, pois somos todos iguais diante corpo fisíco e direito; no entanto, desenvolve-se uma diferença de oportunidades entre os indivíduos, onde alguns tem mais opções de escolha, sendo maiores os seus microcosmos. Quanto maior for a interação nestes, maior é a possibilidade de escolhas e mais ampla é a sua identidade. Já para outros, essas escolhas são reduzidas e não havendo grandes oportunidades, torna-se um microcosmo restrito, restando apenas consequências. Com essa interação é que surge o Grupo Social, no qual há a relação do “Nós” e do “Eu”, possui um equilíbrio durante a formação do indivíduo. O “Nós” tende a construir barreiras (dentro dessa fortaleza podemos gerar o preconceito) de defesa.
O intragrupo (interioridade) e o extragrupo (exterioridade), são dois contextos inseparáveis, não havendo um sem o outro. O extra grupo é a oposição imaginária a si mesmo e o intragrupo estabelece a auto identidade. Desse processo incluem-se a solidariedade, o “laço comum” e a confiança. A ajuda mútua, proteção e amizade, tornam-se as “regras imaginárias”, na vida desses grupos, fator muito observado na “grande família” a qual encontramos, que compartilha tudo o que conseguem arrecadar, desde o alimento até o dinheiro.
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4.
Os indivíduos da sociedade possuem um pré-julgamento daqueles que vivem em situação de rua, compreendido pela exposição à diferentes riscos, colocando diferentes desafios para o seu enfrentamento.
A partir desse trabalho, pudemos obter uma nova visão através do contato direto com esse grupo, entendendo os seus costumes, hábitos, ouvindo as suas falas, assemelhando-as e compreendendo o seu modo de vida e também entendendo que nem todos dos indivíduos vivem na rua por escolha, mas sim, por adversidades pessoais da vida.
A situação de rua que muitas vezes é vista como um espaço de rebeldia e expressão de loucura, passa a atingir em maior escala indivíduos com boa saúde mental, mas que não conseguiram se inserir nos espaços econômicos e socioculturais.
A busca por mulheres com filhos, foi um trabalho difícil, a exposição a alguns perigos nos assustou em alguns momentos, mas por fim, pudemos pensar e nos colocarmos no lugar de pessoas que passam por esses riscos todos os dias.
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Referências Bibliográficas
PETER, L. Socialização: Como Ser um Membro da Sociedade. Berger e Brigitte.
MONTEIRO, S.; O Marco Conceitual da Vulnerabilidade social.
CAPÍTULO 3: A Formação da Nossa Identidade.
CAPÍTULO 2: Observação e sustentação de nossas vidas.
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