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Conferência dos que não suportam espaço
Eu achava que amar era ter milhões de assuntos. Eu achava que amar era conservar pausas rápidas, entre um suspiro ou uma risada, para retomar em outro ponto. Pensava que a falta de palavras muito parecia com a falta de conexão. E não era. Nunca foi.
Eu achava perigoso quando o temido silêncio se aproximava e só restavam os corpos espalhados no colchão. Qualquer tentativa de silêncio profundo deveria ser quebrada por algum assunto tomado de ansiedade e desespero. O medo do espaço. O medo da solidão do outro. O medo da solidão entre o casal.
Acontece. É natural. Eu demorei a entender também. Acreditava que amar era faltar o ar, gastar saliva, preencher vazios e nunca permiti-los ser. Mas uma hora – essa bendita hora chega – todas as conversas encontram um ponto em que não podem ser mais recicladas, e por percalço do destino ou só a vida fazendo o que tem de melhor, o silêncio chega. E não há o que temer. Não é porque duas bocas não estão se movendo que elas não estejam em constante comunicação. Tem um corpo correspondendo ao movimento do outro corpo. Tem um organismo digerindo tudo aquilo que foi dito. Em uma relação precisamos de tempo para receber, compreender e acomodar. Seja na hora em que vocês se despedem e cada um vai retomar do seu jeito aquele dia, seja no momento em que discutimos enquanto um fala e o outro escuta, seja daqui alguns dias em que alguém lembra com gratidão: obrigada por ter compartilhado comigo.
Os espaços existem para que possamos caminhar entre eles e ainda assim voltarmos para nós. Para o momento em que alguém quebra o silêncio com um barulho estranho ou correndo até a janela para ver a chuva caindo.
Você é um universo de assuntos e temas que ainda quero descobrir, mas eu estarei aqui em dias de escassez profundas para amar e respeitar todos os seus silêncios.
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eu te vi atravessar a avenida e por dois segundos nossos olhares se cruzaram e eu senti que nós não tínhamos nos destruído [o que não era verdade] eu parei, atônita eu quis te pedir para andar com cautela e ter atenção aos sinais porque eu sei como você gosta de andar rápido pela cidade porque você tem pressa mas o mundo não toma cuidado com aqueles que andam sem medo e eu tive medo quando esses dois segundos acabaram eu me dei conta
nós somos estranhos que já se conheceram bem demais
te desconhecer e te tirar do meu sistema foi a parte mais difícil e eu reconheço ter entrado em abstinência um pedaço meu desejou parar o tempo quando nossos olhares se encontraram porque foi como se tudo fosse puro de novo
enquanto eu te vi andando sem olhar pra trás eu notei que isso era o que tinha sobrado depois disso eu passei a te ver em outros rostos eu vi alguém de costas usando uma blusa que você tinha eu senti seu perfume eu andei nos lugares em que um dia nós andamos juntos eu pensei ter ouvido sua voz mas eu nunca mais te vi nem mesmo quando nos encontramos talvez porque eu nunca tenha te visto de verdade talvez porque eu nunca tenha encontrado quem você é realmente eu não te reconheci no seu próprio rosto somos estranhos desconhecidos anônimos
nos dois segundos em que nossos olhares se encontraram eu percebi que éramos apenas isso e nada daquilo nos marcaria o suficiente para olharmos para trás nossos olhares se encontraram assim como se encontrariam com os de vinte e três estranhos durante o dia de forma vazia e insignificante
enquanto eu te vi atravessar aquela avenida algo me atravessou e eu tive certeza você não estava mais alí
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pessoas se tocam, se destroem, se constroem e você fez isso tudo em mim. eu aceitei meu lado obscuro depois de você porque eu achei que não merecia nenhuma luz
eu achei que esse era o meu destino sabe? viver no vazio que existe entre a minha existência e a sua e eu quero ser maior do que isso, meu bem. eu não quero viver lamentando a falta do seu toque, não quero que você seja eternamente esse rasgo no meu miocárdio porque eu não fui nem uma coceira na sua epiderme
eu conheço seu olhar como uma mãe conhece a de um filho e eu soube dizer quando sua alma deixou de sentir fome pela minha presença, mas eu não quis aceitar. e quando eu aceitei me doeu, mas eu nunca te disse isso porque eu não quis parecer frágil demais e eu tive medo de você perceber a minha loucura e me dizer que eu tinha sido um erro porque eu já me sinto assim. eu não queria ouvir você dizendo que me amar tinha sido seu maior erro.
eu danço sozinha as músicas que dançávamos juntos e eu me atrevo a cantar tentando exorcizar a tristeza que sobrou em mim, mas eu sempre termino na mesma lista de músicas questionando quando foi que deixamos de existir um no outro. quando plutão deixou de ser planeta eu pensei em você e pensei em como você também tinha deixado de existir no meu sistema
eu achei que o resto de amor que você me dava era tudo que eu merecia, mas hoje te vendo de longe eu percebo que eu mereço alguém que me ame por inteiro e não só pedaços de mim, sabe? eu achei que a minha intensidade era o problema e eu me senti louca quando você disse que não entendia porque eu sentia o mundo nas mãos como eu dizia sentir.
nós sentíamos em sintonias diferentes e eu quis adequar a minha frequência à sua, mas nossas estações nunca se encontraram verdadeiramente acho que nós acabamos sendo um ruído
eu choro não por ter escutado você dizendo que eu fui um erro mas porque eu acreditei nisso e eu mereço muito mais
eu mereço muito mais do que o seu buraco negro no universo
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