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consiglierelorenzo:
Em nenhum momento Lorenzo se preocupou em interromper o rompante de raiva de Clarice. Chegara até se perguntar onde estava a própria raiva em função daquela situação, mas ainda se sentia parcialmente catatônico. Sem contar que, a cada movimento da ex-corvina, outras preocupações ganhavam autoridade, como não deixá-la se arriscar em algum tipo de estupidez. Nem por ele, mas mais por ela e pelas pessoas que, feliz ou infelizmente, sabia que prezava. Em contrapartida, sentia certo deleite em vê-la perder a compostura, refletindo-se em ondas pelo ambiente, seja pelas faíscas da varinha ou pelos itens arremessados a cada reclamação da parte dela. Um deleite incoeso, pois, ao longo da sua experiência na famiglia, sabia que raiva era um grande motor para realizar as mais abruptas decisões. Era encantador, no mínimo, ainda mais da parte de uma mulher que, até onde acompanhara, nunca fora tácita, porém, não perdia o temperamento. Além de ser totalmente distante, a parte que os equiparava. Todo seu convívio era masculino e sabia de cor e salteado como os homens da máfia se comportavam uma vez consternados. Não se considerava dono de tais modos, especialmente quando fora afunilando o próprio modo de operação assim que compreendera o fundo do poço que era a máfia. Logo, delineando a própria personalidade. Limitada. Unilateral. Contida. Reservada. Racional. Não podia negar certa elegância da parte da ex-corvina até na raiva e era essa a parte que secretamente o entretinha. Rendendo novas tragadas no cigarro, que continuava a lhe oferecer ondas de relaxamento, enquanto sua atenção era completa na figura feminina pelo hábito de agir depressa em casos de contenção de danos. - E você quer que eu te chame como? Posso manter o Frozen? - ele perguntou, ignorando a rispidez de Clarice. Bateu, novamente, o cigarro no cinzeiro, observando-a tornar o ambiente à prova de som. - Você não convive comigo o suficiente para saber que, às vezes, consigo ser engraçado sem me esforçar. - e a afirmação saiu sem o esboço de um sorriso. Um olhar penetrante da sua parte foi direcionado à mulher irrequieta. - Aliás, seu sangue tem uma pitada de italiano e acho que terei que conferir o filme novamente, visto que você está justamente honrando a péssima atuação da Lady Gaga. Exacerbada e descontrolada. Acho que, em termos de cafonice, estamos quites. - ele devolveu a provocação oriunda da piadinha sobre a aliança. Foi naquele instante que esboçou um raro sorriso, moldado em presunção, que se apagou no instante que tragou o cigarro. - O que te faz pensar que eu sabia dessa maracutaia? Quando, de certo, eu esperava que, hoje, fosse o dia da minha libertação? - não havia um dia sequer que Lorenzo não esperara uma libertação da vigia de Clarice. E agora percebia a realidade de que a vigia se transformara em um matrimônio do qual nunca fora informado em toda sua vida. Era um treinamento e isso o fez sentir uma onda breve de consternação, pois começava a se dar conta de que tinha sido enganado. Como um soldado calejado, sabia que aquele não era o ambiente para expressar emoções. Tampouco expressá-las. Aprendera bem demais a aplicar indiferença. - Emendando todas as suas questões: você gostaria que eu reagisse como? Dando tiros pelas paredes? - ele perguntou, com a mesma calmaria que parecia inflamar mais os nervos de Clarice. Manteve-se em silêncio, pois, de fato, ela não pararia até soltar tudo que tinha para soltar, dando-lhe tempo de encerrar o cigarro. - Caso lhe fuja da compreensão, minhas escolhas não são minhas desde que ingressei na famiglia. Não é necessariamente uma novidade, a não ser o contrato com nossos nomes no meio dessa caótica situação. Disso, Frozen, não sabia. - ele se atraiu pelas faíscas mais longas da varinha dela e franziu a testa assim que o estrondo contra as pratarias atingiu o chão. Suavemente, deslizou a língua pelos lábios, antes de se oferecer o resquício de água da taça. Moveu-se na poltrona, de um jeito rígido. Não havia “tudo mais” quando o assunto era ser integrante de uma máfia conhecida internacionalmente e a mente de Lorenzo se educara muito bem para não ver além daquilo. Nunca se deu ao trabalho de questionar, nem mesmo ver uma chance para ter as próprias escolhas. Ainda assim, se viu meio incomodado com aqueles apontamentos. - Como disse, donna, não tenho escolhas desde que nasci. Isso não me abala nem um pouco. - ele retribuiu o olhar atento, líquido de honestidade que duvidava muito que Clarice acreditaria. Se detestavam mutuamente e poderia fazer a apresentação da vida e ela continuaria a questionar. O arrastar da poltrona anunciou que se levantaria. Passou por ela a fim de organizar com a própria varinha o caos que a ex-corvina causara no ambiente. Sendo clínico, como se limpasse a cena de um crime. - É bom quando você sabe das próprias respostas, pois não tem meios para você lutar contra. Isso do pressuposto que seu papà é quem comanda a famiglia, então, automaticamente, você é parte dela. Querendo ou não. E, sim, reportar quem faz parte do seu convívio é trabalho de praxe. Tanto pela possibilidade de serem elementos de outras máfias quanto porque podem ser meramente ilustrativos. - falar sobre a máfia não era um tabu diante de Clarice, porque ela sabia da verdade. Ela sabia das próprias origens. No entanto, não significava que podia distribuir informações aprofundadas, pois não era leal a figura que se mantinha em estado de alerta, extremamente irritada e pronta para quebrar a varinha ao meio se assim quisesse. Indo contra todas as suas regras pessoais, Lorenzo se aproximou, coicindindo com o timing do punho dela atingindo a mesa de madeira. Delicadamente, como se a pele dela fosse tão frágil quanto a prataria, retirou a varinha de sua posse e a colocou sobre o mesmo ponto atingido. Com um breve aceno de cabeça, indicou para que voltassem aos seus respectivos lugares. Ignorando o formigamento nos próprios dedos em efeito de tê-la tocado sem permissão. - Clarice, pare um segundo! - ele pediu, quase implorando, com o dedo indicador em riste para desviar a atenção dela. - Quebrar objetos não vai mudar a realidade, capisce? - a constatação, de certo modo, o atingiu sutilmente. Não pelo alarde do casamento arranjado, mas porque as informações sobre não ser capaz de mudar ou coordenar a própria jornada queriam tomar conta do seu organismo. E isso o faria oscilar quando não era o objetivo. O objetivo era controlar a ex-corvina. - Senta. - ele pediu, dando a volta na mesa para abrir a única garrafa de vinho lacrada. Por via das dúvidas, era sempre melhor beber alguma coisa para apaziguar o caos de dentro. Elegantemente, destampou-a e serviu dois dedos do líquido tinto em uma taça limpa para Clarice. - Você realmente soa como uma adolescente e estou fazendo de tudo para controlar meus nervos. - ele se pronunciou assim que serviu-se do mesmo vinho. - Ninguém precisará se atirar da ponte, não seja dramática. E também não posso colocar em discussão como você se sente. Por isso mesmo te pedi caridosamente que não se manifestasse e mantivesse a compostura. Agora, sei que você é temperamental e um perigo à sociedade. - ele argumentou, sentindo um mínimo prazer palátavel do vinho de origem italiana. - Eu disse, na primeira vez que a vi, que não posso dar um passo sem você. Então, creio que a única pessoa que pode me dizer como isso funcionará é você mesma. Afinal, para sua infelicidade, eu sei atuar. Como também sei manter as aparências. Ao menos nesse pedaço, o noivado será anunciado como se tivessem encontrado o coração do oceano da velha do Titanic. Quanto às pessoas ao nosso redor, podemos blefar. Não me importo de ser o canalha que largou a esposa e te pediu em casamento. Ou que éramos amantes até minha esposa morrer e eu herdar toda a herança. Não sei por quais motivos você se preocupa com essa parte, quando a humanidade é trabalhada para dar desculpas esdrúxulas e que são facilmente digeridas. Trabalhamos com construção e desconstrução de cenários. Logo, isso será a parte mais fácil. - um sorriso forçado aliviou as finas linhas de cansaço da expressão de Lorenzo só de pensar na cara de Elissa e de Ravi ao anunciar que de repente noivo. E de Clarice ainda por cima. Respirou fundo de novo, quase bufando. Checando se havia outro risco de rompante de raiva para conter. Apesar de ser completamente desconectado de suas próprias emoções, era fácil notar que ela se abalara com aquela nova informação que os condenavam um ao outro. Lidara com várias viúvas depois de seus crimes. Não que Clarice fosse uma, mas ela poderia ser analisada como tal na sua mente para que elaborasse um pouco mais de empatia. - Como você é auror, domina estratégia, e a prioridade a partir de agora, donna, não é mais como você se sente. São as pessoas que você se importa. Por essa parte, mi dispiace davvero. - apesar de Clarice já ter as próprias conclusões sobre sua pessoa, ele estava sendo honesto de novo. Tinha uma família e sabia que teria que pensar além do que normalmente já pensava para que sua posição não respingasse nas poucas pessoas que importava. Contrafeito, ele deslizou a mão na testa. Sentia-se agitado. - Sei que não confia em mim, do mesmo tanto que não confio em você, mas, neste primeiro momento, essa é a melhor forma de externar o fato. Depois, torná-lo mais adequado ao que você precisa, visto que não sou a parte mais importante da equação. Pela lógica da famiglia, você é meu mais novo produto, o acessório, e gosto de andar sozinho. Não tenho a menor intenção de te transformar em oferta de zoológico. - o olhar atencioso de Lorenzo podia dizer muitas coisas, mas a principal delas é saber que todas as pessoas ao redor de ambos acabaram de ter um alvo nas costas caso vacilassem. E era importante que ela se sentisse segura ali. Não necessariamente com ele, já que era uma bomba desembrulhada. - E como ainda temos um pouco de humanidade para querer que ninguém morra por nossa causa, é bom que alinhemos um plano eficiente, em que você não precisará sorrir o tempo todo, e nem se comportar como uma adolescente apaixonada por mim. Creio que, nesse primeiro momento, você ainda consegue exigir algumas coisas e imagino que queira privacidade. É um benefício que você pode usar, como a futura noiva. - ele se anteveu ao novo movimento dela e, por reflexo, segurou-a pelo pulso suavemente. - Essa é a hora mais importante da sua vida, onde é possível barganhar. - o sussurro era um alerta que ele esperava que Clarice entendesse. - Assim como você, eu também não quero isso. A parte calamitosa é que teremos que pensar nisso juntos até que chegue algum momento que esse trato não seja mais necessário. - ele a soltou, confiando de que ela não quebraria mais nada. Ajeitou a postura e as abotoaduras douradas da camisa azul-claro. Serviu mais vinho para os dois, resignado. - Tratos não duram para sempre. Em algum momento, eu posso ser dispensado da função. Se você estivesse no cerne da famiglia, poderia indicar um noivo mais adequado. Ou, quem sabe, você pode indicar seu novo affair, Patrick Dickinson Lupin, para mantê-la dentro do reinado italiano. - as sobrancelhas dele se arquearam minimamente em sinal de deboche. - Se queremos que esse pseudocasamento funcione, não tenho motivos para reportar suas palavras ao seu papà. A não ser que sejam extremamente alarmantes. O que não é caso. É uma situação que dá para resolver. Veja bem, Clarice, você pode pedir uma grande casa em que possamos dormir em quartos separados, porque você é instável de manhã e não fala com ninguém até a hora do café. - ele sugeriu, com um Q quase omisso de entretenimento. Elegantemente, apoiou os cotovelos sobre a mesa e nivelou o olhar, como se fosse dar a última palavra de esperança. Definitivamente, não era o caso. - Eu não posso te controlar. Só seu papà pode, de certo modo. E reconheço que, se fui imbuído nessa situação, é porque ele já projeta um futuro para a famiglia e, provavelmente, saberei mais adiante. Já que você abriu tanto seu coração, nada como dar informação em troca para que tenhamos um nível frágil de confiança: nunca foi minha intenção ser nada mais que um conselheiro. E, ao contrário da passividade que você acredita que tenho, uma hora pode ser que você me veja brigar. - ele bateu o maço na palma para pegar um novo. - Enquanto isso, se preocupe em estourar o cartão de crédito. Garanto que isso será divertido, donna. E não se preocupe com meu pau frígido também, ele não tem a menor intenção de reagir na sua presença.
Embora o caos ainda dominasse grande parte de seus sentidos, fortificando a incomoda sensação de que se encontrava em uma situação derradeira de onde não via formas de escapar, Clarice aos poucos recobrava algum controle sobre a maneira que agia. Tanto era que sequer permitira que o instinto natural de repelir o toque não solicitado a fizesse agir de maneira agressiva com Lorenzo, pelo contrário, o contato dos dedos frios com sua pele quente parecia ter incitado uma espécie de choque térmico eficiente em fazê-la centrar-se um pouco mais. Não o impedira de tomar-lhe a varinha, embora detestasse a ideia de estar distante de seu único objeto de defesa naquele ambiente que considerava completamente hostil ainda que, tecnicamente, fizesse parte da realeza da máfia italiana. Como filha do Don era da cobiça dos homens, do escrutínio das mulheres e suas ações eram muito mais estudadas do que de qualquer outra pessoa, especialmente por não ter feito parte daquele mundo - condição que gostaria de continuar mantendo. - Tenho um nome e você o conhece. Não custa usá-lo. - resmungou recobrando a habitual antipatia apenas para fingir que não estava tão abalada quanto se sentia. Queria mesmo era fugir daquele ambiente de forma desabalada e não voltar nunca mais, mas infelizmente estava ciente que era impossível. - Não tenho uma pitada de sangue italiano, sou italiana. Nasci nesse inferno de lugar, mas desde que minha mãe foi assassinada pelos inimigos do seu chefe fui criada pelos meus avós maternos; minha avó era turca e meu avô irlandês, por isso domino os dois idiomas. Se você vai fingir que está apaixonado por mim o mínimo é saber detalhes da minha vida. Isso não consta na minha ficha? Imagino que o mequetrefe do seu chefe não goste de lembrar do que tem culpa. - bradou sentindo novamente a irritação arder em seu cerne. A relação com a figura paterna era total e completamente fragmentada, nas poucas vezes que estiveram juntos o distanciamento entre ambos demonstrara-se óbvio e sua falecida avó acreditava que devia-se à sua semelhança a falecida mãe, explicação que apenas tornava sua percepção dele ainda mais negativa. - Você é o homem de confiança do Capo, era de se imaginar que compartilhasse os planos para o futuro da organização, o seu mais especificamente, com a sua pessoa. Mas, bem, isso envolveria acreditar que aquele senhor dá qualquer importância a opinião a alheia. Seu cargo é puramente fantasioso, imagino. - uma breve careta pontuou suas feições. Não tinha intenções de continuar em contenda com Lorenzo, mas como era ele a única pessoa em seu caminho acabava sendo muito simples despejar todo seu descontentamento sobre ele. Entretanto, disposta a agir com maior civilidade a ex-corvina prontamente moveu-se em direção a cadeira indicada por ele e aceitou a oferta de vinho. Os dedos finos envolveram a taça e a acariciava delicadamente. - Nenhuma opção em que serei sua amante é válida. É humilhante para qualquer mulher. E eu jurei naquele maldito grupo que não tinha achado minha boca no lixo. Tudo bem que não haverá contato físico mas o restante do mundo achará que sim, então ao menos quero preservar minha decência, me poupe! Além do mais, isso implicaria em colocá-lo no clube dos cornos já que me relacionei com Lupin quando supostamente já estaria também envolvida com você. Não queremos isso, queremos? Pegaria mal demais entre seus coleguinhas. - disse rolando os olhos de maneira exasperada logo antes de bebericar o saboroso vinho escolhido pelo mais velho. - Eu me preocupo em ser crível, Lorenzo. Orgânica, para dizer o mínimo. Duas pessoas que se tratam mal o tempo inteiro não passam a ser noivas da noite para o dia sem levantar suspeitas. Não quero que ninguém saiba quem são meus parentes e imagino que você queira preservar a origem de seu negócio de vinhos. - um breve arquear de sobrancelhas marcou sua expressão. Clarice estava ciente que algumas pessoas ao seu redor desconfiavam da riqueza e excesso de seguranças de Lorenzo e o modo de agir de ambos poderia dar margem para curiosidade ir além do que deveria. - Ao menos estamos na mesma página quanto a falta mútua de confiança, contudo, precisaremos trabalhar nessa porcaria se quisermos fazer funcionar razoavelmente bem. E não estou falando isso por você ou por mim, mas pelos possíveis efeitos colaterais. Sabe o que é engraçado, Lorenzo? Eu nunca tive pessoas fixas na minha vida. Nunca. Sem amizades permanentes. Sem relações amorosas. Dominique é a única exceção a regra e me confiei no fato dela ser uma Weasley e ter uma boa proteção. Eu sempre soube que era vigiada. O produto, o ativo, a moeda de troca do meu pai, e por mais que tenha tentado não deixar fios soltos para que ele pudesse me puxar, bem, aqui estamos. - um sorrisinho debochado ganhou o canto de seus lábios e expressava parte de sua frustração, parte de seu cansaço e provavelmente o início de sua história de origem como uma completa insana. Com a taça na mão esquerda a ergueu como se a oferecesse em brinde ao seu então noivo. - Você está maluco se acha que colocaria Patrick no meio dessa insanidade. Além do que, não temos um affair, conhece o conceito de one night only? É o único que vivencio até aqui dada a chance de pessoas virarem alvos ao entrarem no meu caminho. Nesse momento me sinto mais italiana que nunca, extremamente dramática, só falta a bebedeira e as lágrimas soluçantes. - uma careta breve pontuou sua expressão. Entretanto não mentia ao dizer que não queria levar seu caos para a vida de Patrick assim como para a de mais ninguém. - Se vou ser obrigada a casar com alguém menos mal que seja você. Nossa antipatia é mútua, mas é inegável que nunca me desrespeitou como metade dos presentes aqui essa noite fizeram apenas com o olhar. Homens são nojentos. Mafiosos exalando testosterona são ainda mais repulsivos. - e eram realmente. Em determinado momento chegara a sentir-se despida pelo olhar insistente de um dos funcionários de seu pai. - Apesar de tudo sinto muito que você esteja nessa. Para ser honesta, sua família é adorável, sua prima e seu irmão ao menos, o que me faz pensar que você nunca deveria ter entrado nisso aqui, não só por eles, mas pelo seu direito de ter uma vida própria. Ou será que somos dois condenados pelo nascimento? Bom, assim vou começar a acreditar que nascemos um para o outro. - embora a princípio estivesse sendo honesta, o restante de sua sentença carregava uma sutil ironia. Era cética demais para acreditar em destino e se tal conceito existisse só podia supor que era escrito por um grande filho da puta sádico. - Se tenho direito a barganhas, bem, que fique claro que não pretendo morar em solo Italiano, muito menos abandonar meu trabalho agora que serei promovida. - um risinho contrafeito, exasperado, escapou por seus lábios. - Uau. A arruaça que Skeeter faria se fizesse ideia de que uma funcionária do Departamento de Leis da Magia é esposa de um Criminoso italiano! Ao menos vocês dariam cabo dela e pela primeira vez fariam algo de positivo em favor da humanidade. - resmungou em óbvia zombaria. As emoções de Clarice ainda pareciam espalhar-se para todos os lados, nada de positivo, mas ao menos o desespero em seu âmago parecia ter estabilizado o suficiente para não dominar seus sentidos. Em silêncio a ex-corvina observava Lorenzo, o movimento repetitivo do maço de cigarro contra a palma da mão era o único indicativo de que nada estava tão bem quanto ostentava. Clarice jogou os cabelos ondulados por cima dos ombros enquanto curvava o corpo para a frente de maneira que sua face estivesse próxima a dele. Sua mão direita envolveu a dele com a maior delicadeza que conseguiu reunir em meio a sua impaciência, seus olhos castanhos concentravam-se nos dele cor de uísque, enquanto discretamente tomava o maldito maço de cigarro. Tão perto tudo o que sentia era uma ponderosa mistura de perfume e nicotina, atraente a sua própria maneira. - Com o tanto que você fuma realmente não vai galgar outros cargos. O câncer de pulmão vem antes do velho maldito bater as botas. Pegue leve futuro marido! - arqueou brevemente as sobrancelhas num trejeito artimanhoso, o sorriso no canto de seus lábios era quase gentil e afetuoso, mas perfeitamente calculado. - Você ainda vai me privar da única parte divertida do matrimônio, como posso ser feliz assim? - voltou a rolar os olhos, exasperada, conforme voltava a posição de origem com as costas apoiadas ao espaldar da cadeira. - Não faço questão de gastar um centavo. Nunca usei o dinheiro que ele me mandou por uma vida inteira, imagina se vou começar a usar agora. Eu só quero ter direito a uma vida normal, ordinária, e entediante, Lorenzo, é pedir muito? Aparentemente sim. - murmurou tirando um cigarro de dentro do maço antes de devolvê-lo ao dono. - Farei o meu melhor para que sejamos convincentes mas precisaremos de termos de convivência caso essa desgraça se concretize. Por ora prefiro que não saia desse nicho italiano, não quero criar mais desconfianças do que já existem sobre nossa relação. - trincou o maxilar recordando-se de quantas vezes fora abordada a respeito do outro e como desgostara de cada uma dela simplesmente por odiar dar satisfações. - Agradeço sua paciência comigo hoje, sei que não sou fácil, especialmente com o temperamento aflorado, já me faz considerar que não precisarei ser uma viúva negra. - disse pensando na sorte do pequeno aracnídeo que tinha a sorte de poder livrar-se do macho logo após o coito. - Aliás, se terei que usar uma aliança espero que você também use. Não serei a única morta para o mundo. - concluiu, novamente curvando o corpo em direção a ele, mas dessa vez com o cigarro entre os lábios para que o acendesse.
#❝ ⚜ through the looking glass. ❞#❝ ⚜ lorenzo. ❞#amo a energia de caos desses#vão matar alguem antes do natal
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Eram atípicos os momentos em que alguém como Clarice, muito bem treinada para manter total controle sobre pensamentos e emoções, se visse consumida por tais questões de tal maneira que sequer conseguira recuperar o corriqueiro ar de impassibilidade. A ex-corvina sentia-se desconectada de si mesma e do ambiente em que se encontrava, como se fosse o personagem de um programa televisivo finalmente se dando conta que nunca, jamais, tivera controle sobre qualquer aspecto da própria existência - sentia-se especificamente como Truman ao descobrir que toda sua vida era uma farsa em O Show de Truman. Ela apertava a varinha segura em sua mão esquerda, e que veementemente se negara a ceder ao chegar ao lugar daquele maldito jantar, com um pouco mais de força do que seria necessário fazendo-a liberar pequenas faíscas que eram apenas uma singela amostra das emoções calamitosas que avolumavam-se em seu peito. Seu semblante refletia seu estado de espírito quando suas bochechas tinham um tom a mais de vermelho, que se combinava com a vermelhidão em seu pescoço, seus lábios estavam pressionados em uma linha fina e seus grandes olhos amendoados não escondiam a raiva que aquele maldito evento havia gerado em seu âmago. Vivia a porra de um pesadelo. O pior de todos. Seu inferno pessoal. Se normalmente já detestava estar vinculada a máfia italiana pela figura ausente de seu pai naquele instante simplesmente abominava por completo aquela instituição criminosa e queria ser capaz de implodi-los sozinha, entretanto, apesar do calor do momento e do combo de emoções negativas que vinham consumindo-a, ainda possuía consciência de que era diminuta perante o império construído por seu genitor e que ele a esmagaria sem dó algum para manter o que conquistara. Uma respiração profunda lhe escapou numa tentativa de tentar recuperar o controle sobre as emoções destoantes embora parecesse impossível, especialmente naquele instante em que se dera conta novamente que não estava sozinha, mas na companhia de seu fucking pretenso noivo; Lorenzo. A possibilidade de casar-se já parecia esdrúxula em situações normais, afinal, o que trazia de benefício para a vida de uma mulher heterossexual estar presa a um homem? Nada, era o que acreditava. Entretanto a ideia de ser obrigada a casar-se, por um acordo de matrimônio que fora feito muito antes de sequer saber escrever o próprio nome, era ainda mais ultrajante. Fazia com que se sentisse na idade média, ou como uma pobre coitada advinda de família purista que precisava manter a pureza do sangue. Naqueles poucos minutos após a notícia tentava racionalizar a respeito e a única ideia plausível em sua mente era que seu pai visava ter Lorenzo como futuro sucessor a frente dos negócios, como não possuía herdeiros homens, e aquele era um ramo majoritariamente masculino, restava usar a filha que mal mantivera contato como meio para um fim e tal percepção apenas inflamava sua revolta - o que mais uma vez refletiu-se nas faíscas na ponta de sua varinha que dessa vez riscaram o impecável piso de porcelanato branco. - Já pedi para não me chamar assim. - pontuou, mais ríspida que de costume, claramente incomodada com o uso da palavra Donna. Com um movimento de varinha, dessa vez proposital, Clarice tratou de fechar as cortinas ao redor do ambiente em que ambos se encontravam, trancar as portas, e tornar impossível para alguém de fora escutar o que seria tratado do lado de dentro. Podia estar fora de seu controle habitual, mas ainda era uma auror e obviamente havia percebido que estavam sendo vigiados por aqueles malditos soldados que reportariam a seu genitor o que se desenrolava dentro daquela sala. - Muito me impressiona que você tenha senso de humor, Lorenzo. E uma pitada de romantismo, uh? Treinando para o nosso futuro enlace? Uau! Ligeiramente cafona, mas combina com a estética. Vou ter que me esforçar para ser comparável. - bradou assim que o fitou sentado do lado oposto ao que se encontrava. Mais uma vez respirou profundamente em uma tentativa de manter-se não só sob controle como de analisar a linguagem corporal do outro. - A propósito, acho House of Gucci muito preciso no retrato das exacerbadas e descontroladas relações entre italianos. Cafona, sem dúvidas. Agora que falou a respeito, talvez me inspire no exemplo de Patrizia. - resmungou, com um revirar de olhos que deixava claro que não falava sério a respeito. Embora desgostasse da companhia de Lorenzo não possuía qualquer intenção homicida, ao contrário do próprio e de qualquer outro membro da máfia. - Kan cehennemi! Você possuía alguma ciência desse fato? De que estávamos sentenciados a um matrimônio compulsório em pleno 2027? Questiono porque me parece muito calmo e conformado com a ideia, o que não faz a porra de um sentido! Ao mesmo tempo, se sabia, o mínimo era tornar nossa convivência agradável e sem dúvidas você é a pessoa mais intragável que conheço. Você me detesta e é mútuo. Você não via a hora de se livrar dessa função insuportável de me vigiar, o que também é mútuo e agora ouviu que vai ser obrigado a casar comigo e simplesmente acatou como mais uma ordem corriqueira. Que merda é essa? Como consegue se manter quase completamente imperturbável, tirando essa porcaria de cigarro, com decisões pontuais sobre sua vida sendo tomadas sem sua anuência? E depois eu quem ganho o apelido de Frozen. - exasperada e irritada elevou as mãos para o ar, entretanto a varinha em sua mão esquerda, sentindo suas emoções exacerbadas, produziu faíscas mais longas que atingiram a prataria logo atrás de si. O barulho do metal indo de encontro ao chão sequer foi capaz de abalá-la porque toda sua atenção concentrava-se em Lorenzo. - Que tipo de servidão é essa que te tiram o direito até de escolher com quem casar? Já não basta tudo o mais? - voltou a questionar e era provavelmente a primeira vez que Clarice se dirigia a ele com nada além de consternação. Não parecia-lhe normal e nem justo que alguém cedesse todos os aspectos da própria vida para o crime, nem mesmo Lorenzo. Seu olhar estava preso ao dele, como se tentasse encontrar respostas que jamais ouviria em palavras, mas logo piscou vezes repetidas quebrando assim o contato visual. Só podia estar mesmo fora do próprio cerne para acreditar que encontraria nele algo além de obediência a famiglia. - Me diga, em qual momento vou poder lutar contra? Melhor que eu sabe que em nenhum. Meu genitor não te colocou na minha rotina à toa. Você deve ter reportado todas as pessoas da minha convivência, então imagino que todas corram certo perigo se eu intentar me rebelar. Por Merlin como odeio esse homem! - voltou a resmungar dessa vez batendo com o punho fechado da mão direita sobre a mesa de madeira ao seu lado. - Como as pessoas fora desse circo de horrores vão acreditar nessa besteira? Todo mundo sabe que nós não nos damos bem! Eu não posso simplesmente aparecer com a porcaria de um diamante imenso e cafona no dedo. Por Merlin, que maldito inferno! - esbravejou dessa vez empurrando de sobre a mesa alguns dos pratos da mais cara porcelana, como se tal ato fosse capaz de apaziguar suas emoções exacerbadas e destoantes, infelizmente não era. Mais uma vez se viu respirando fundo, dessa vez para tentar acalmar o ritmo frenético de seus batimentos cardíacos. Engoliu em seco. - Não tenho certeza se consigo encenar a noiva feliz porque estou furiosa e raramente fico nesse nível de furiosa. Então não espere sorrisos e nem olhares falsamente apaixonados, por hoje o máximo que posso me comprometer é talvez não amaldiçoar ninguém. Bok! Odeio que me tirem do controle da minha própria vida. Odeio ainda mais está a mercê dessa porcaria de organização criminosa. E simplesmente abomino soar como uma maldita adolescente contrariada! Eu entendo a problemática, ok? E não quero gerar consequências que possam atingir as pessoas que gosto e também a sua família, mas o que diabos faremos? Você é todo obedecer e servir e eu certamente prefiro me atirar de uma ponte a ir em frente com essa palhaçada. - exasperou-se ciente de que não tinha alternativas naquele instante e muito menos se Lorenzo quisesse seguir as regras do jogo. Em seu subconsciente sabia que poderia ser pior, ao menos dentre os homens da máfia, apesar de insuportável, Lorenzo nunca lhe faltara com respeito, mas a ideia de perder o pouco de liberdade que tinha era demais para que pudesse aceitar um disparate daquele de um genitor que mal vira durante sua vida. Ao fitar Lorenzo novamente seu semblante ainda carregava seu descontentamento, mas queria acreditar que já não parecia tão descontrolada embora se sentisse por um fio. - Presumo que faça parte de suas obrigações reportar minhas palavras ao seu chefe, o que torna injustificável a minha sana de abrir a boca na sua frente mesmo guiada pela raiva, mas, por Merlin, você não quer essa besteira certo? Se desejar seguir com isso ao menos guarde meu chilique para você mesmo em nome da harmonia do nosso falido matrimônio e da sobrevivência do seu pau frígido.
@claricethefirst
Nem todos os trabalhos irritavam Lorenzo como aquele em que fora designado a estar nos calcanhares de Clarice Sawyer, alias Frozen, o tempo inteiro. De início, a tarefa costumava a entretê-lo, pois parecia um jogo de WAR em que ela o driblava e ele a encontrava, cercando o território. Com o passar dos meses, aquela situação se tornara enfadonha e o ápice, e até mesmo a justificativa, se esclarecera no meio de um jantar de última hora com o cabeça da famiglia italiana. A sua omissa família que, novamente, tomava-lhe o poder das próprias decisões. Agora, pessoais demais. Parecia que havia sido anos luz que dissera a ela que estaria ao seu serviço, sendo proibido de se mover se não fosse para acompanhá-la em uma vigília que, em segredo, começara a parecer sem fundamento. A maior prova daquilo fora a festa de Alice Freitas que Clarice se enfiara, automaticamente ele próprio, e absolutamente nada ameaçara a segurança dela. Como nas outras ocasiões, em que ficara plantado no mesmo lugar, aguardando e tendo que revelar o diminuto temperamento aprazível para lidar com os ímpetos de humores nada simpáticos de Sawyer. Não que esperasse simpatia, nem ele mesmo conseguia ter simpatia por ele mesmo, visto seu histórico calamitoso, mas, estar à mercê dela, era como se despersonalizar da sua verdadeira função - que seguia em paralelo como se a ex-corvina não fosse um grande iceberg no meio do caminho. O mais engraçado é que todas as suas emoções pareciam ter se esvaziado ao ouvir os motivos de ter sido solicitado para aquela missão protetiva. Sua mente estava sem absolutamente nada para nervos que se acostumaram a pensar rápido demais, sem delongas, em caso de vida e morte. Estava paralisado, sendo que não poderia estar, especialmente quando Clarice parecia completamente à beira de quebrar alguma coisa. Não sabia ainda se era para ficar preocupado, ou algo parecido, pois quaisquer reações suas poderiam gerar questionamentos que não estava a fim de responder. Não era luxo seu se sentir desconfortável, nem expor tantas opiniões contrárias, especialmente se rebatesse na estrutura da máfia que atuava. Tinha que ser daquele jeito, rígido, apático, concordante e, aparentemente, impassível de qualquer sentimentalismo ao ponto de ser escolhido como noivo de Clarice. Com certeza, qualquer outro homem da máfia estaria contente com a novidade. Tinha até nomes, vários que desejavam Clarice sexualmente — e ele era obrigado a ouvir, ainda mais quando as piadas sem graça incluíam seu nome. Independentemente, o impacto fora sentido, forçando-o a filar um cigarro e acendê-lo. Era como se afugentava. - Donna, você precisa se acalmar! - era uma afirmação ridícula, ele sabia, mas era quase um conselho para ela segurar a onda diante de soldadinhos que estavam a postos em uma falsa invisibilidade. Tanto tempo como conselheiro da máfia afiou todos seus sentidos e não era preciso apurar o local para saber que estavam sendo vigiados a mando do Don. Moveu-se, batendo o cigarro na beirada do cinzeiro, fitando-a na tentativa de fazê-la ouvir o que tinha a dizer antes que tudo piorasse. - Aqui não é hora de reclamar, nem muito menos querer lutar contra. Deixe isso para outro momento, capisce? - até sua própria calmaria era espantosa, embora tenha deixado vazar uma respiração profunda, oxigenando o cérebro que voltava aos poucos a trabalhar. - No entanto, não vou impedi-la de querer quebrar alguma coisa para expressar tamanha felicidade de ser minha noiva. Ao menos, sorria de modo convincente, Luce dei miei occhi! Aliás, você prefere Vera Wang ou Antonini? Ou um pobretão da Tiffany? É sua chance antes que seu papà diga que é melhor usar um Concordia em nome da tradição italiana. - e, em um gesto inconsciente, ele girou um modelo parecido com o Concordia, que era símbolo da famiglia, no dedo mindinho da mão direita. Apesar da brincadeira, que escapou um breve sorriso debochado e que a aborreceria imediatamente, Lorenzo mantinha a postura em alerta. - Mio Dio, escuta, sei que você não deve nada a mim ou ao seu papà, mas estou te pedindo apenas uma ação natural para que você não sofra com nenhuma represália. Creio que você sabe fingir, não sabe? Esse é um bom momento para colocar seus talentos dignos de Oscar para fora. - ele avisou, voltando a tragar o cigarro em seguida. Um risinho fraco lhe escapou, mas diante da lembrança de outra situação que não condizia com aquela. - Espero que não seja nada como House of Gucci, pois aí estaremos encrencados.
#❝ ⚜ through the looking glass. ❞#❝ ⚜ lorenzo. ❞#Kan cehennemi = blood hell.#bok = merda.#squad também é cultura e vamos de aprender turco.#num sei se tá bom#mas é o que temos#engula com farinha
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consiglierelorenzo:
Enquanto aguardava pelas próximas ações de Clarice, Lorenzo ficou mais rente à janela, a fim de acender o cigarro e tragá-lo, de maneira que a fumaça se expelisse pela noite. Um sutil assovio entrecortou o silêncio, o seu sinal para um dos seus soldados que se encontrava do outro lado da rua e acenava como se pedisse desculpa pelo vacilo. Ele não sabia os motivos de ainda manter aquele soldado, pois, desde que estacionara naquele país, só ouvia perdão pelo vacilo. Censurou-o em italiano, meneando a cabeça em desaprovação enquanto tragava mais duas vezes o cigarro que contribuía para diminuir a adrenalina após o embate com a mulher que, finalmente, parecia disposta a lhe ceder a palavra. Por algum motivo, imaginara que o timbre dela seria mais grave, considerando a maneira como a mesma andava pelas redondezas com o queixo empinado, como se fosse uma dondoca britânica. O que lhe era minimamente engraçado, como assim fora naquele instante, em que abafara o riso com mais duas tragadas, até encerrar seu fumaceiro lançando o cigarro janela abaixo. Virou-se, deslizando a mão pelos cabelos, acabando no flagrante em que ela tentava esconder a renda do sutiã que ficara à mostra. Sem dúvidas, seria uma visão e tanto para alguns membros da máfia, que pareciam nunca ter visto uma mulher na vida, pois agiam como cães sedentos e em uma interminável fase de cio. Não era o caso de Lorenzo que tratou de desviar o olhar e se acomodar na poltrona que criticara. Tateou em busca do seus chiclete, refletindo a verdade de que não era preciso ser mais que um conselheiro da máfia para saber que estava diante de uma pessoa que não poderia ser contemplada com outros objetivos a não ser para manter a cabeça junto ao corpo. O que, definitivamente, era a missão que recebera e que minimamente o angustiava. Ainda mais porque a coisa toda meio que se oficializava com sua presença. Por saber o que parcamente sabia da mais nova, já que fora poupado de detalhes do background da família, ele não se espantou com a forma em que ela não disfarçou incômodo à sua presença e nem com as tentativas ansiosas de despachá-lo, com um discurso que achara quase interminável. Ouvira tudo muito atentamente e seu cenho enrugado era a maior prova daquilo. Clarice definitivamente se enganava sobre sua invasão ter sido um deleite pessoal. Afinal, sua atitude vinha mais do fato de saber que ela jamais abriria a porta à sua pessoa por vontade própria. – Antes tarde do que nunca. – ele declarou assim que a claridade tomou conta do ambiente. – Agora podemos ter uma discussão decente sobre o que virá a seguir. Ou sobre a minha presença invasora. Você, como ninguém, deveria saber que elogios não amansam meu ego, mas, de já ter reconhecido meu mínimo, não me custa nada agradecer. – havia certo divertimento contido em seu timbre. Um comportamento que não desviara sua atenção de Clarice, a quem cuja curiosidade estalava com mais eficácia em seu organismo. Tornando mais intenso o tom amarronzado de seus orbes interessados em capturar cada movimento da mais nova. Ela definitivamente estava diferente das fotos que lhe foram mostradas, mas alguns traços não tinham se alterado tanto. Como o olhar dela, profundo e em alerta, e a cor dos cabelos que estavam compridos. Detalhes que não chamaram sua atenção no instante que ouvira sobre sua nova irrecusável missão, pois, até aquele momento, ela era como qualquer outra mulher que precisava de uma atenção extra da famiglia. Salvo a diferença de que era filha de quem pagava seu salário e esperava um exímio trabalho. Tal ponto o deixou com os ombros enrijecidos, visto que a olhara por tempo demais, tão quanto salvaguardado já que a ex-corvina ainda estava de porte da varinha.– Figuratti! A poltrona nem é tão ruim assim. Talvez foi uma péssima impressão à primeira vista. No mais, você tem um quarto muito bonito, donna. – seu tom era de informalidade, embora seu elogio fosse sincero e acolhedor. Lorenzo era atraído por sistemas de organização que englobavam beleza. Como os museus italianos. – Ah, tem sim. Uma motivação que não a deixará contente. Pode ser que você tenha acertado a parte do capacho, pois estou aqui iniciando meu processo de garantir sua segurança. – e as palavras saíram assertivas e cirúrgicas. Queria se fazer entendido de primeira. – Não era uma ideia genial invadir seu apartamento, mas tudo se começa com a prova de um ponto. Como provar que sua segurança é péssima ao ponto de alguém como eu entrar. Sério que nem um alarme? – ele julgou, antes de jogar um chiclete na boca. Se havia algum alarme de tecnologia trouxa, certamente estava desligado. – O que me faz entrar na questão de eu ainda estar aqui em vez de me direcionar até a saída: seu nome vazou para uma roda de máfias das quais ainda não sabemos. É por isso que seu papà me acionou para protegê-la. Como deve imaginar quem eu sou na hierarquia, eu gosto de dar conselhos e meu conselho no momento é não me revidar. – seu tom não era de ameaça. Nem muito menos seu ato de se levantar de repente, pois ele estava tranquilo e, como sempre, confiante. Como tinha que ser em situações como aquela. – Seu papà não quer ter o prazer de vê-la morta. É o máximo que sei da parte dele, além da ameaça mencionada. Provavelmente, em algum momento, eu terei que arranjar um encontro entre vocês, mas esse não é o foco. – apesar de ter aquela tarefa, Lorenzo não possuía a menor ideia de como os dois se sentiam sobre o outro. Pelas atitudes de Clarice era fácil constatar que era péssimo e isso não lhe era abismal. O que era abismal, ao menos de um olhar externo, era a ideia de que integrantes da máfia sentiam algo que não fosse sede por violência. No caso, algo próximo ao afeto. Do ponto de vista de Lorenzo, as coisas se separavam exatamente daquela forma: por emoções. Quem gostava de carnificina era direcionado a isso, um exemplo que esclarecia as mais diversas desconfigurações de natureza, especialmente entre os que queriam subir rápido naquele sistema. Não era o modo de operação de Lorenzo que se preocupara em criar uma assinatura discreta, pois era a discrição em pessoa. O que não o tornava menos violento, pois tinha sangue nas mãos. E isso conflitava em seu código pessoal de silêncio, pois ele sabia que seu estilo de vida não era bom. Impedia-o de ser algo além do virulento. Inclusive, de estar mais tempo com sua família verdadeira. Parte essa que ele julgava como principal motivo de acabar sendo responsável pela segurança de Clarice. Ele amava demais a única família que considerava de sangue. Seu chefe sabia só da parte do amar demais, afirmando que deveria cuidar dela como se cuidasse dos seus parentes. E assim Lorenzo prometeu, consciente de que não ultrapassaria limites. Que não apostaria em violência gratuitamente. Aquela era sua natureza no final das contas como homem da máfia, o que incluía a necessidade de uma base de conversa. Porém, com singelas omissões e espaços amplos de desconhecimento já que o foco era fazê-la revidá-lo menos. Sem precisar dizer muito sobre si. – As coisas serão mais fáceis se você não fizer isso. Imagino que tudo que eu fale soe como uma ameaça, mas seu papà me avisou que, talvez, vocês tenham o mesmo gênio teimoso e, por Dios, eu já sinto a dificuldade de convencê-la antes de ouvir suas réplicas. Contudo, a ameaça é real e, para eu saber de onde vem, eu preciso acompanhá-la. Não imagine que será algo como eu no seu cangote, pois eu também não posso chamar a atenção. Isso significa que, inclusive, eu precisarei grampeá-la. – era a primeira vez, nas raras vezes que tinha oportunidade, que Lorenzo avisava que precisaria grampear alguém. Sua família nem tinha ideia de que fizera aquilo com cada celular, convencendo-os apenas do seu suposto exagero de 20 soldados, ou coisa parecida, por cabeça. Era um ótimo protetor justamente porque era um superprotetor 24 horas por dia. – Eu posso ser capacho aos seus olhos, mas, além de conselheiro, eu sei articular segurança e é por isso que a segui nos últimos dias e invadi seu apartamento. Eu precisava ver os pontos cegos e você me deu vários em curto espaço de tempo. Espero que esteja orgulhosa! – era o máximo que Lorenzo chegava ao trabalho de campo, pois ele pertencia à nata de quem tinha que ser protegido por assumir uma cadeira por tantos anos que nem sequer sabia diferenciá-los. Uma cadeira extremamente cobiçada, inclusive, e que sabia que tinha urubus esperando suas falhas. – Neste momento, eu preciso saber mais da sua rotina, com exímios detalhes, quem são seus amigos, com quem se envolve – e essa parte inclui o sexualmente falando. – ele sorriu, meio sem graça, porque havia certas coisas que poderiam ser dispensadas do questionamento. – Se você é viciada em alguma substância. Em suma, qualquer coisa que um desconhecido possa usar contra você ou se aproveitar. Essa é a parte que eu conto com sua bondade. – Lorenzo se afastou e começou a caminhar pelo quarto. Parou de novo na janela, fechando-a e puxando as cortinas. Ao se virar, percebeu que ela o acompanhava. Coçou brevemente o queixo e largou os braços ao lado do corpo diante da pergunta sobre Dominique. Era outro tipo de brecha que poderia distorcer para convencer Clarice de que ele era necessário, mas não era o caminho que percorria. Às vezes, Lorenzo era um doido ao prezar por honestidade em um ramo que tal elemento não ornava. – Sobre Dominique, ela não corre risco, mas é alvo. Ela precisará de um soldado também. Ainda mais porque a garota é meio desligada e deslumbrada. Se ela gostasse de homens, certamente eu teria entrado aqui como namorado dela ou amigo de biblioteca. O que seria mais chocante ao nosso primeiro encontro. – era uma das artimanhas de muitos mafiosos e que Lorenzo nunca experienciara, pois não misturava prazer com os negócios — e nem sequer sabia o que era prazer uma vez que era foco total em seu trabalho. Nem sequer tinha paciência para ficar seduzindo quem fosse, o que o fez aprimorar outros métodos de conseguir o que precisava em dado instante. - Os dias que eu a acompanhei foram divertidos. Ela a mencionou uma vez e mostrou uma foto, porque ela queria que eu a seguisse no Instagram para dar like em suas poesias. – e a lembrança o fez rir contidamente e negar com a cabeça, pois era inacreditável que, depois de crescidos, ninguém se importava de falar com estranhos e abrir a vida. Qualquer um teria assustado a companheira de apartamento de Clarice, esse era o fato cuja conclusão era óbvia: Dominique tivera sorte de ser ele a abordá-la por dias no intento de ter um alicerce dentro da dinâmica do apartamento. Talvez, a ex-corvina sacasse isso também, inspirando-o a ficar rente à parede para observá-la e saber quantos nervos teria atingido. Definitivamente muitos, pois ninguém reagia bem com a ideia de ter a máfia em seus calcanhares. - Ela é adorável, a propósito. Escreve bem. – emendou com honestidade, lembrando da poesia furtada. Não visava encantar Clarice ou algo do tipo, mas foi inevitável não encará-la firmemente para dar efeito às suas conjecturas. - Donna, literalmente, eu estou a seu serviço e não posso me mover sem você. Se você tem alguma ideia para essa vigília, que a incomode menos, eu sou todo ouvidos. – e aquela parte não era garantia de nada, pois Lorenzo faria as coisas do jeito que achasse conveniente.
Enquanto o ouvia, mantendo em sua face um semblante impassível, Clarice se questionava como era possível que mudanças daquela natureza pudessem se orquestrar em sua vida de um instante para o outro. Embora sempre tivesse mantido em mente que sua liberdade era frágil, a ex-corvina não parara para analisar de que maneira as mudanças seriam percebidas e recebidas. Ainda que continuasse a não fornecer nada de suas emoções em seu semblante, ela sentia como se estivesse indo em direção ao segundo loop em uma montanha-russa, quando a adrenalina que parecia ter se apaziguado subia tão rapidamente que fazia com que o ar faltasse. Sawyer moveu-se apenas o suficiente para que sua respiração profunda não ficasse tão evidente para um Lorenzo que a observava com um tipo de atenção que não desejava ter sobre si. Não que fosse incomum que a escrutinassem em busca de respostas em sua linguagem corporal, entretanto, seu corpo e mente pareciam muito mais conscientes diante daquele homem do que já estivera perante qualquer outra pessoa. O que provavelmente estava ligado ao fato de que aquele era o primeiro indivíduo da máfia, para além de seu pai, com quem era obrigada a estabelecer diálogo. Conforme ele se expressava tornava-se ainda mais claro que aquela não era uma situação da qual conseguiria se desvencilhar com facilidade, especialmente diante da descoberta de que sua existência era agora de conhecimento não só da famiglia, mas como de outros grupos criminosos conhecidos em essência pela violência que empregavam em suas ações. Clarice podia não estar envolvida nos negócios de sua família paterna, podia sequer ter uma relação propriamente dita com o genitor, mas nada disso importaria para quem certamente a enxergaria como uma moeda de troca. Aquelas revelações tornavam toda a situação muito maior e mais complexa que seus piores pesadelos. Por mais que quisesse insistir e bater o pé que não havia necessidade e que muito menos desejava a proteção que lhe ofereciam, ela sabia que ao menos enquanto se mantivesse com o mesmo estilo de vida sua localização não seria tão difícil de ser descoberta. Embalada por aquele fluxo de pensamento ela caminhou em direção a penteadeira, onde colocou a varinha, e em seguida esfregou as palmas suadas das mãos pela jeans que usava. Um ligeiro vislumbre de sua imagem no espelho a fez perceber que mantinha a feições impassíveis, embora estivesse obviamente mais branca que de costume - obra dos batimentos cardíacos levemente alterados diante da percepção de que se encontrava diante de um beco sem saída. Ela voltou a respirar fundo e em seguida seu olhar outra vez recaiu sobre um Lorenzo que parecia confortavelmente acomodado em sua poltrona. A ex-corvina arqueou brevemente uma de suas sobrancelhas. - Iontach! - resmungou, em irlandês, que considerava como sua segunda língua materna, algo que só fazia quando sentia-se empurrada para fora de sua zona de conforto, enquanto jogava as mãos pra cima em um sinal de sua exasperação. Sawyer não era o tipo de pessoa que colocava emoções à frente de seu racional, ao menos não na maioria das vezes e, especialmente, não no que condizia a sua persona profissional. Entretanto, diante do que era uma questão pessoal, familiar, ela sentia pela primeira vez em muito tempo seu controle emocional começar a escapar pelas pontas dos dedos. Ainda assim, esforçou-se para suprimir suas emoções destoantes, principalmente porque precisava pesar suas opções. Precavida, ela sempre soubera que não passaria toda a vida na Irlanda, ou no Reino Unido, assim sempre mantivera em mente que quanto menos laços tivesse mais fácil seria rompê-los caso ir embora fosse a única alternativa que lhe sobrasse. E, naquele instante, diante das opções que se desenhavam à sua frente, a de sumir do mapa, do alcance da famiglia ou de qualquer outra máfia, parecia bastante tentadora. Contudo, agora que tinha a atenção da famiglia direcionada a si, qualquer passo que desse precisaria ser perfeitamente calculado. - Bom, agradeço seu conselho não requisitado, o que me faz sentir que tenho direito a aconselhá-lo similarmente. É bem simples; guarde seus conselhos e recomendações para quem os aprecia e principalmente para quem paga por eles. - pontuou, cortando-o de uma maneira bastante seca que deixava transparecer aquela irritação crescente que vinha contendo pelos últimos minutos. Certamente deveria soar como uma maldita mimada aos ouvidos alheios, o que era exatamente o oposto de sua realidade. Além do risco que tornara-se ciente de que corria, o que realmente a incomodava e perturbava era a perda de sua independência. Depender de outros, por qualquer motivo, não a agradava. Depender da máfia e da atenção de seu genitor era ainda mais ultrajante. Embora tivesse crescido sob a tutela de sua avó materna anos já haviam se passado desde que a ex-corvina passara a ser a única por si mesma. A exceção ficava por conta de Dominique, com quem mantinha uma relação que se aproximava do que imaginava ser o normal entre famílias funcionais. E, naquele primeiro momento, era pensando em Dominique e no bem-estar dela que precisava manter seu gênio sob controle e trabalhar com a cautela. - Em primeiro lugar, você seria um homem morto se usasse da boa-fé de Dominique para que ter acesso ao apartamento e a mim. - disse, de maneira contundente, assim que seu olhar encontrou o do mais velho. Inevitavelmente os rumos da conversa fizeram-na relembrar que poucos dias antes alertara a Weasley para que tomasse cuidado e mantivesse a guarda em alta, especialmente naquela turbulência política que deixava a família dela cada vez mais visada pelos amotinados puristas. A calculada investida de Lorenzo apenas confirmava seus maiores temores a respeito da mais nova. - Ela possui essa aura de ingenuidade, carisma e acolhimento, difícil de se encontrar. Justamente o último tipo de pessoa que merece ser envolvida em negócios da máfia. - enquanto falava Clarice se utilizava do polegar e do indicador para apertar a ponte do nariz. Podia conversar com Dominique novamente, mas parecia-lhe bastante claro que não existia perigo iminente que a faria mudar a própria natureza. Seria cômico se não fosse trágico. - Bhuel, tecnicamente ela possui segurança contínua de um auror, assim como todos os membros de sua família. Contudo, diante do que diz, me parece que o responsável pela segurança dela precisa ser trocado por ineficiência. - pontuou, de maneira centrada e cordial, que sequer fazia parecer que considerava Lorenzo como um risco a Dominique. Ao citar a segurança fora inevitável não recordar de Aiden Cross e de todas as vezes em que o ouvira resmungar que o quadro de aurores era em maioria composto por incompetentes que conquistavam a vaga através do nepotismo. Situação que era também muito comum ao restante do quadro de funcionários do Ministério da Magia. Tal lembrança a fez esboçar um sorriso singelo, do tipo que tornava seu olhar mais dócil. - Pois bem, na possibilidade de ausência de escapatória, resta questionar; quão ocultos seus soldados conseguem se manter? Imagino que seria péssimo para vocês se o Ministério da Magia tomasse conhecimento que a sobrinha da Ministra anda sendo vigiada pela máfia italiana. - pontuou, rolando os olhos em expressão de sua exasperação. Por maior que fosse sua aversão ao sistema ao qual Lorenzo fazia parte, e por mais que mantivesse em mente que podia cuidar de si mesma, estava fora de cogitação deixar Dominique exposta a um problema que era exclusivamente seu. Ela tentava ponderar saídas a respeito, mas o questionamento seguinte de Lorenzo atraiu toda sua atenção. O ar de impassibilidade em suas feições fora substituído por uma ligeira surpresa que logo dera lugar a certa inconformidade. Eram surreais os caminhos que aquela conversa seguia. - Essa sua pergunta é completamente descabida e indiscreta, e chega a ser risível precisar respondê-la. - pontuou, entredentes. - Para sorte de ambos não há muito a ser dito. Por conhecer minhas origens tomei cuidado de não criar laços substanciais. Dominique é a exceção à regra, assim como dois de seus familiares mais próximos que estão sempre por aqui. Todos possuem proteção Ministerial. - pontuou, dessa vez evitando encará-lo. Não havia vergonha alguma em ter optado por ser o mais sozinha possível, mas detestava a ideia de abrir o que era de cunho pessoal para quem lhe era um completo desconhecido, especialmente levando em conta o que ele representava. Evitando maiores constrangimentos, optou por não responder o que cabia a sua vida sexual, uma vez que nunca tivera pares significativos. Envolver-se emocionalmente não fazia sentido para quem priorizava esconder as próprias origens. - Bhuel, se considerar trabalho como um vício, então esse é o único que tenho. - pontuou, voltando a encará-lo, mantendo em seu semblante novamente a impassibilidade. Tanto que sequer parecia que omitia o que, ao menos para si, não soava como um vício. Todas as noites, assim que chegava do trabalho, Clarice tomava uma taça de vinho, por vezes mais de uma, apenas o suficiente para que relaxasse. - O que nos leva a um segundo ponto de suma importância; ser grampeada está completamente fora de cogitação. - pontuou com um tanto mais de veemência. Embora vez ou outra o tom de Lorenzo soasse como uma ameaça não tão velada, Clarice não se deixaria intimidar tão facilmente. - Imagino que tenha feito um exímio trabalho e esteja mais que ciente da área em que atuo. Constantemente estou envolvida em investigações sigilosas e a última coisa da qual preciso é de um mafioso ciente de informações confidenciais. Além disso, trabalho cercada de aurores, investigadores, agentes, e sua presença, mesmo à distância, não passará despercebida. Novamente, imagino que não seja do interesse da máfia cair no radar do Ministério da Magia, não é mesmo? - disse, com uma calma que sequer sentia. Por mais que a ideia de estar no radar de outras máfias fosse aterrorizante, Clarice seguia pouco inclinada em aceitar toda e qualquer demanda que viesse dos italianos. Assim como não estava disposta a responder a críticas. Dar de ombros foi o que se limitou a fazer diante do ponto levantado por ele em relação à segurança. Não diria nada porque não devia àquele homem explicação alguma, assim como preferia que ele subestimasse seu intento de proteger o ambiente em que vivia. Era verdade que poderia ter incrementado o sistema de segurança ao criar armadilhas para quem invadisse o espaço, mas vivendo com Dominique sabia que qualquer exagero por sua parte certamente resultaria em machucados para a ex-lufana. No entanto, ao contrário do que Lorenzo acreditava, Clarice não havia dormido por completo naquele ponto. Ela tinha pleno monitoramento do ambiente e ninguém entraria e sairia sem que ela soubesse. Usar da tecnologia trouxa em conjunto a magia era uma de suas especialidades, e manter seu lar seguro era sua prioridade. Aquele lugar era como um santuário pra si, e seus problemas não deveriam atravessar a soleira da porta. Era o que tornava ultrajante ter Lorenzo em seu quarto, ele era a personificação de todos os problemas que nunca quisera lidar. Uma respiração profunda lhe escapou. Ela sabia que não teria as rédeas da situação que entrelaçava sua vida e a vida que seu genitor optara em manter, assim, ao menos momentaneamente restava-lhe fingir ser colaborativa para manter qualquer desconfiança distante de suas reais intenções. - Escuta, não há maneira de manter o mínimo de cortesia quanto a isso, então resta-me ir direto ao ponto; eu não o quero aqui ou em qualquer lugar perto de mim e de minha colega de quarto. Nada pessoal uma vez que tirando o nome e a posição que diz ocupar, nada sei a seu respeito. - expressou, pausadamente, ao desencostar-se da penteadeira e caminhar ao redor do quarto para parar diretamente em frente a ele, mantendo uma distância que respeitava o espaço pessoal de ambos. A ex-corvina mantinha a postura ereta e o queixo ligeiramente empinado. - Contudo, entendo que minhas vontades nada significam para você e para quem paga o seu salário, especialmente se minha vida for usada como moeda de troca. Não pense que por um só instante acreditarei que meu genitor se importa com algo que não sejam os negócios, o bolso, e a própria consciência. - disse em um tom de voz que, apesar de inflexível, não escondia que existia em si uma imensa mágoa com a figura paterna. O brilho ressentido em suas orbes amendoadas ressaltavam tal questão. - Gostaria de insistir nas negativas, mas me parece contraproducente, e nenhum de nós tem tempo a perder em uma discussão que não evoluirá ao meu favor. Posso insistir para que se retire e que suma das minhas vistas, mas creio que isso não o impedirá de seguir com o que lhe foi designado. – ao menos, levando em consideração o que conhecia a respeito da hierarquia da máfia, por mais que o conselheiro existisse para ponderar as decisões do Don, não poderia desautorizá-lo. Um trabalho que só deveria funcionar quando ambos estavam alinhados, o que parecia-lhe bastante ultrajante. - Assim como imagino que esteja longe de ser de contentamento para um consigliere ser designado para uma missão que, até onde sei, está bem abaixo de suas qualificações. O que nos torna dois presos em uma situação que não nos agrada. - Clarice pendeu a cabeça levemente para o lado enquanto o observava. Queria averiguar até onde estar numa missão abaixo de suas qualificações mexeria no sempre inflado ego masculino. - O que nos leva ao terceiro ponto, se terei que aturá-lo, mesmo contra minha vontade, precisaremos de um motivo para sua existência ao meu redor. - ela silenciou para respirar fundo. A ideia de ter alguém ligado ao seu genitor monitorando seus passos, mesmo que supostamente fosse por sua segurança, a deixava enjoada. Embora quisesse encurtar a conversa e seguisse pouco disposta a falar de si mesma, ao menos meias verdades precisava oferecer. Era mais seguro do que criar mentiras que poderia esquecer posteriormente. - Bom, creio que é sua obrigação criar uma configuração em que se encaixe na minha rotina. Mas, levando em consideração que tudo em você grita que vem diretamente da Itália, ao menos podemos forjar algum parentesco distante. Dominique não conhece meus familiares uma vez que metade deles estão mortos e a outra metade não tenho contato. Pormenores ficam por sua conta, mas creio que não seja difícil incorporar o primo distante. - pontuou, sentindo o ligeiro embrulhar no estômago conforme aquela ideia estapafúrdia ganhava contornos. Era mesmo um maldito pesadelo. – Você precisaria também de uma posição profissional. De preferência não no meu Departamento. Imagino que tenha uma formação para além de oferecer conselhos. – disse, com um bem disfarçado sarcasmo. A ideia de ter um mafioso dentro do Ministério da Magia era ainda mais ultrajante, mas considerando que o ambiente encontrava-se repleto de puristas e corruptos, acabava tornando-se apenas mais do mesmo. – Não possuo pretensões de encontrar com seu chefe, portanto minha única exigência no momento é que mande a ele o seguinte recado; não sou uma propriedade, um ativo, ou uma funcionária dele para que acredite que tem o direito de tomar decisões sobre a minha vida sem me consultar previamente. Ele fez uma promessa, era a única obrigação que tinha comigo, e falhou como em tudo mais ao meu respeito. - ao calar-se pressionou os lábios para conter um bico de contrariedade. - Há algo mais que queira, Consigliere? Dominique vai chegar em algum momento da próxima hora e não quero que ela o encontre antes de termos todos os acertos definidos.
#❝ ⚜ through the looking glass. ❞#❝ ⚜ lorenzo. ❞#kkkkkkkkkk#tão deixando a gente sonhar#lorenzo que lute com a rancorosa
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Aos olhos de Clarice parecia que seus piores pesadelos tomavam forma e invadiam a vida à margem de seu histórico familiar que muito cuidadosamente construíra para si. Ao longo de sua fase de amadurecimento, ainda durante a adolescência, a ex-corvina passara a compreender que para ter o que se entendia por vida normal precisaria se manter discreta, meticulosa, e nunca atrever-se em chamar para si qualquer tipo de atenção desnecessária. Até aquele ponto de sua existência parecia que seguir tal cartilha rendera resultados positivos, contudo, com a imprevisibilidade da vida tudo mudara em questão de poucas semanas. Ao menos, como forma de consolo, podia considerar que possuía bons instintos uma vez que desde o primeiro instante em que vislumbrara o homem de confiança de seu genitor por aquelas bandas soubera que aquela não era uma presença gratuita e que nada de bom se desenrolaria a partir dela. Ainda que em um primeiro momento tivesse sentido certa necessidade de averiguar o que levaria tal sujeito àquele pedaço do mundo, por fim optara por não fazer nenhum movimento brusco que denunciasse sua posição, o que em nada surtira efeito uma vez que a atenção do sujeito recaíra sobre si de qualquer maneira. Como uma agente do Departamento de Leis da Magia a ex-corvina se encontrava muito mais que gabaritada para perceber padrões que indicavam que era alvo da vigilância alheia e, quando se levava em conta o vigente cenário na sociedade bruxa, especialmente após o ataque a Cross e Popovich, manter-se em um alerta que beirava a paranoia era o que considerava como seu novo normal. Assim, ao perceber que possuía atenção indesejada direcionada a si, tomara suas providências para proteger-se, mesmo estando ciente de que dificilmente manteria-se à frente de quaisquer que fossem as intenções da máfia para consigo - levando em conta suas próprias impressões, não se podia esperar nada de bom de um grupo de pessoas que seguia um código de conduta próprio, que ignorava leis, e praticava a justiça da maneira que lhe cabia. Por mais fria e destemida que o fosse quando tratava-se dos negócios ao qual sua família paterna estava ligada sempre entrava o peso da morte materna, e do que considerava como abandono da figura paterna. O que a fazia se sentir extremamente tola ao perceber que, apesar da idade e da maturidade adquirida com os anos, aquele ponto em específico continuava a ser uma ferida de bordas doloridas, e não um caso encerrado e superado nos fins da adolescência. Era ainda mais tolo que, apesar do cuidado que tomara ao retornar para casa naquela noite, sem ser percebida por quem anteriormente a havia seguido, sua presença tivesse sido denunciada por uma falha no assoalho que Charlie Tyler havia lhe indicado que deveria consertar ainda em seu dia de mudança. O que se desenrolara a partir do instante em que sua presença fora notada fora rápido demais. Sua varinha escapara por seus dedos, e de um instante para o outro fora jogada sobre o colchão macio da cama com um outro corpo, muito maior e mais pesado, pressionado contra o seu. A ex-corvina estava ciente que mover-se para desvencilhar-se não era a melhor ideia, ainda assim, não fora capaz de conter o dito instinto de sobrevivência, contudo, seus movimentos, especialmente o de enlaçar as pernas do homem com as suas, puxando-as para que ele perdesse parte do equilíbrio, apenas servira para que o corpo dele se colasse mais ao seu em uma posição absurdamente constrangedora. Qualquer mínimo movimento era o suficiente para roçar sua pélvis contra a dele, o que, depois de alguns instantes, a obrigou a paralisar-se. Ali, aquietando-se embaixo de quem era maior e mais forte, Clarice sentiu um ligeiro formigamento pelo corpo ao mesmo tempo em que suas narinas eram invadidas pelo odor amadeirado do que deveria ser um dos muitos perfumes caros de quem sabia se chamar Lorenzo. Seu olhar encontrou o dele no instante em que compreendera a frase que ele proferira em um melódico italiano. Um bufo resignado escapou de si diante da audácia daquele sujeito que considerava como principal responsável por seu comportamento paranoico das últimas semanas. Paranoia que ainda existia em si, mas que naquele instante era suprimida pelo alívio de ter seu espaço pessoal devolvido. Clarice manteve-se na cama por um instante a mais, liberando uma respiração profunda antes de virar-se para se levantar. A confusão na cama acabara por desarranjá-la, abrindo os botões de sua blusa, deixando à mostra parte de seu sutiã. Rapidamente ela se recompôs e, ao colocar-se de frente para o homem mais velho, mantinha a varinha em punho uma outra vez, mesmo que ele mantivesse as mãos livres como quem intentava tranquilizá-la. Da posição em que se encontrava, diretamente oposta a do homem que se empoleirava em sua janela, com um maço de cigarro em uma das mãos, ela finalmente tivera a oportunidade de escrutina-lo com cuidado. A postura altiva, confiante, como se tivesse o maldito controle de tudo ao seu redor era típica dos homens da máfia, ao menos era a impressão que possuía. Sawyer franziu o nariz em descontentamento ao vê-lo filar o cigarro com os lábios. Não que tivesse qualquer coisa contra os hábitos alheios, mas o cheiro que se impregnaria em seu quarto meticulosamente arrumado certamente a incomodaria posteriormente. A ex-corvina liberou uma nova respiração profunda logo antes de apertar o interruptor, deixando que o cenário se iluminasse para além da luz da lua. Havia certa quietude no ambiente, uma obra da ausência de Dominique, e ela nunca estivera tão grata por sua amiga estar o mais distante possível do pequeno lar que dividiam. Norte de pensamento do qual distanciou-se para dar atenção ao que o homem mais velho tinha a dizer. Ele soava como quem tentava ser simpático, o que reconhecia como uma tática para ganhar sua confiança, algo que ela mesmo utilizara ao menos meia dúzia de vezes em seu campo de trabalho. Enquanto o ouvia Clarice mantinha-se em silêncio, a varinha não estava mais apontada para a figura masculina, mas seguia firmemente presa entre seus dedos finos. Como alguém que convivera com homens por boa parte de sua carreira, a ex-corvina mantinha em mente que em maioria eles subestimavam as mulheres e suas capacidades. Ela não fazia ideia do quanto Lorenzo sabia ao seu respeito, embora parecesse o suficiente, assim como ele certamente não estava ciente das poucas informações que acumulara a respeito dele e seus asseclas durante os anos. Em casos como aquele ter informação extra era uma vantagem, assim o que podia fazer de melhor era guardar o que sabia para si mesma. - Oh? Você está esperando receber um prêmio por fazer o mínimo? - disse arqueando as sobrancelhas enquanto mantinha em seu semblante um bem contido ar de ironia. - Ou quer que o agradeça imensamente pela dádiva de tê-lo invadindo meu apartamento, bisbilhotando meu quarto, e como plus ainda fazendo uma review não solicitada do estofamento da minha poltrona?! Bhuel, levando em conta o ramo em que você parece atuar, uma vez que está ligado ao homem que me colocou no mundo, talvez seja realmente uma novidade digna de congratulações invadir o espaço alheio e não cometer qualquer crime contra a vida. - embora se sentisse tremendamente irritada pela presença não solicitada, o tom de voz de Clarice assim como sua postura haviam se suavizado. Ter controle sobre as próprias emoções fazia parte de seu trabalho, e por mais que toda aquela questão fosse de cunho particular ela precisava manter sua persona profissional à frente. - Creio que mais apresentações sejam desnecessária, você já disse quem é, e sabe quem sou, é o suficiente. Sem ofensas particulares, mas não possuo qualquer interesse em conhecê-lo, Lorenzo que não disse o sobrenome e me impede de manter essa conversa ainda mais impessoal. - pontuou, deixando que um mínimo sorriso irônico se desenhasse por seus lábios cheios. Clarice em momento algum desviara sua atenção da figura masculina, não pela beleza inegável, mas por não querer perder qualquer movimento suspeito advindo dele. – Bhuel, feliz ou infelizmente também não possuo qualquer interesse em falar sobre meu genitor, assim como não o tenho de me engajar em qualquer tipo de assunto com um desconhecido que rompeu ao menos meia dúzia de regras de convívio social antes mesmo de dizer o próprio nome. – apesar de manter o tom de voz calmo e suave o descontentamento encontrava-se presente em cada palavra proferida pela ex-corvina. Poucas coisas a tiravam mais do sério que ter seu espaço invadido, ainda mais em termos como aqueles. – Penso que poderia acompanhá-lo até a porta e poderíamos fingir que nada aconteceu, uma vez que estou ciente que apenas perderia meu tempo prestando uma queixa contra qualquer membro da famiglia de meu genitor, contudo, imagino que sua presença tenha justificativas. Pessoalmente não me interesso por elas, posso cuidar da minha própria segurança, mas imagino que algo relevante tenha ocorrido para seu chefe ter revelado a minha existência para um de seus capachos. – um sorriso singelo pontuou o canto de seus lábios, como se não tivesse acabado de ofender o homem diante de si. – A única coisa que me interessa saber é; minha colega de quarto corre perigo? Detestaria expô-la a mais riscos do que naturalmente já corre. – concluiu, com firmeza em seu timbre e feições, sem em momento algum desviar seu olhar da figura de Lorenzo.
@claricethefirst
A última coisa que se passaria na mente de Lorenzo era transitar de conselheiro da máfia para babá particular de uma tal de Clarice Sawyer. A quem sabia ser a pessoa mais preciosa do seu chefe. No caso, uma filha que ninguém, nem mesmo ele, sabia da existência. Um segredo largado em seu colo que não alterava a hierarquia da máfia. Continuava no mesmo posto, mas era um tanto enervante assumir um outro que ele mesmo tinha uma série de soldados a indicar por serem mais aptos a realizar tal missão: segui-la como um guarda-costas e impedir qualquer mal de acontecer. Talvez, o que o rapaz intimamente temia era a questão de aparentar favoritismo em um cerne que os homens brigavam para reluzirem no ambiente. Serem os preferidos e, assim, conquistarem mais privilégios na atuação da famiglia. Ao contrário dele que, embora tivesse sido “indicado” pelo seu pai, crescera como mafioso no que estudiosos chamariam de forma orgânica. Sequer se recordava os motivos de ter alcançado a posição de consigliere, mas era resultado de um bom trabalho. Era dedicado. Cumpria suas ordens. Dava seu melhor sem saber se seria o suficiente. Se tinha um trato era consigo mesmo: não morrer por besteira. Uma crença um tanto tremida, pois lá estava ele imerso em uma tarefa com expectativas altas e que pedia sucessos constantes. Clarice tinha que se manter viva e ilesa, o que não era fácil de cumprir. Não quando nem ele sabia quais eram os inimigos. Contudo, era exímio e o que lhe restara depois de receber uma ordem direta do topo da cadeia foi acompanhá-la em seu habitat natural. Era como agia em um primeiro momento com pessoas e mafiosos suspeitos, pois fichas não significavam nada perto de como alguém interagia com o mundo. Tinha noção de que fora notado, ao menos esperava que fosse isso, pois ela mudara o trajeto no instante em que testava sua vigília. Ele não acreditava em coincidências e, por isso, partiu para a segunda parte, se encontrando no apartamento da ex-corvina para uma falsa vistoria — já que invadia o espaço na calada da noite. Circulava como se fosse dono, fuçando os móveis, as correspondências e bolsos dos casacos abandonados no percurso. Em um deles encontrou o que realizou ser uma poesia incompleta, afirmando o que sabia sobre Clarice não morar sozinha. Leu-o, gostando do que sabia ser stanzas, justamente por ser coisa do seu país, e o enfiou no bolso do casaco. Ali era a área comum, sem grandes revelações, a não ser retalhos que poderiam ser de qualquer uma das mulheres que vivia ali. Assim, prosseguiu até os quartos. Local onde se encontrava a intimidade das pessoas. O antro sem máscaras, como gostava de pensar. Se pudesse dar um conselho, diria para que todo mundo se poupasse de detalhes, porque nunca se sabia quando alguém da máfia prestaria uma visita. Nem precisou de instinto para saber qual seria o quarto de Clarice já que tinha conhecimento de que ela não era lufana — e uma das portas tinha a bandeira da casa pendurada na maçaneta. Ao adentrar, liberou um assobio. Ela sim parecia ser a pessoa que manjava da cartilha, talvez por saber que ela certamente receberia uma visita algum dia. Capturou o minimalismo e o zelo meio exagerados para quem trabalhava no Ministério da Magia, em um departamento que estava longe de ser dos mais sossegados. Era abismante ver tamanha organização, especialmente na cama, que se aproximou para checar a existência de algum vergão que indicaria uso recente ou a falta dele — e isso diria que Clarice vivia ali. Havia questões de magia, que oportunizava praticidade, mas Lorenzo conhecia um sistemático e ali estava uma querendo esconder os seus segredos. Nada como outras portas, como do guarda-roupa, fazendo-o concluir que, sim, ela habitava ali. O que era ótimo. Ruim mesmo era que ele não poderia grampear aquele ambiente e deveria contar com a astúcia de Dominique Weasley sem ser uma completa desorganizada para realizar o que fazia parte das razões de xeretar aquele apartamento sem autorização. Sua última futricada se deu na janela. Afastou minimamente a cortina e analisou o perímetro, pois precisava saber o que ela via e onde poderia enfiar alguns soldados à paisana. Sabia que o bairro era sossegado e isso pedia discrição. Nem que tivesse que colocar um dos seus para morar no prédio. Por fim, parou diante da penteadeira, dona de requinte e do mesmo faro de organização. Tocou os vidros de perfume, selecionando um deles para sua própria apuração. Poderia ter chegado a alguma conclusão, como bom degustador de vinho, mas se interrompeu diante da impressão de um rangido no soalho. Não fazia muito tempo que marcava presença no local. Até porque aprendera a ser rápido e invisível. Um flagrante não era o esperado, o que o fez praguejar inconformado enquanto sua mão pairava na varinha. Seus sentidos também treinados se aguçaram diante de um possível perigo e só quando teve certeza caminhou lentamente de ré a fim de não gerar contraste contra a luz tênue que vinha da janela. A última coisa que precisava também era assustar as moradoras, pois precisava da confiança de uma delas. Porém, não teve opção a não ser agir em sua própria defesa, especialmente quando capturou a proximidade do oponente pelas sombras que conspiravam na parede. Gerando um mínimo combate, com esquivas da sua parte para não agredir quem não via direito. Mas foi só o perfume feminino atingi-lo que Lorenzo soube o que fazer. Rápido e coordenado, curvou-se minimamente para colidir os corpos, e aproveitou da proximidade para pegá-la pela cintura, girando os dois corpos inconscientemente no pior lugar possível: a cama. - Clarice, algum sobrenome ilegível para mafiosos rivais, finalmente no conhecemos. - disse Lorenzo, emprestando uma dose mínima de humor à sua voz. Tentou contê-la tanto com o peso do seu corpo quanto com suas mãos enluvadas ao redor dos pulsos dela, sem imprimir muita força. - Caspita! Você me prometeu que trabalharia até tarde. Só assim para eu entrar na sua casa e esperar ao menos uma dose de um bom vinho italiano na sua poltrona que, a propósito, já pensou em trocar o estofado? - eram raras as vezes que Lorenzo se embrenhava em um diálogo que atenuasse uma situação como aquela. Normalmente, o embate continuava, mas o que queria era acalmar quem ainda se debatia embaixo de si. Mesmo quando a liberou do seu aperto nos pulsos, o que o fez tentar evitar outro embate enroscando as pernas dela com as suas. Gerando um tranco que deixou os corpos mais colados, mais do que gostaria por se tratar de uma mulher que ainda por cima era filha do seu chefe. Fato que o constrangeu um pouco e nem sequer deu tempo de pensar em uma solução, pois cada célula do seu corpo estava focada em manter Clarice em seu campo de defesa, fazendo-o se mover sobre ela desconfortavelmente. - Luce dei miei occhi! - ele murmurou em italiano para chamar a atenção dela. Sua voz era amigável justamente para que ela entendesse que não faria nada. - Eu sou Lorenzo e, por enquanto, isso basta, pois acredito que temos alguns assuntos para colocar em dia. E não adianta tentar se virar, Clarice, pois eu sou mais pesado. Acho que não queremos que isso fique mais ridículo. - e essa foi a deixa para ele devolver o espaço pessoal de Clarice. Erguendo-se, mas sem deixar de mostrar que suas mãos estavam livres de qualquer arma. O que poderia dar muito certo ou muito errado, mas, de todo modo, a intenção era mostrar que era inofensivo. - Peço desculpas por isso, mas eu não gosto muito de ataque pelas costas. Isso poderia ser mais simples se você só tentasse me assustar acendendo a luz. - ele indicou o lustre antes de se escorar na janela e abri-la. A meia-luz bateu perfeitamente contra o rosto de Clarice, dando-lhe a liberdade de se familiarizar, finalmente, com sua figura. Seu olhar era intenso e curioso, diferente da sua postura contida, cuja aparência se realinhava com o movimento cuidadoso de suas mãos. - Como sei que não ganharei uma dose de vinho, peço licença para usar da sua janela e fumar. - elegantemente, ele tirou o maço do casaco e filou um com o lábio. Sorriu, amigavelmente, para uma Clarice esbaforida. - Então, donna, como e quando iniciamos nossas apresentações? Antes que pergunte, eu não estou aqui para te machucar, ameaçar ou sequestrar. Minha presença invasora visa sua segurança e bem-estar. Afinal, eu estou aqui basicamente em nome do seu papà. E não adianta mentir sobre não saber quem é seu papà, capice? E tudo bem não querer falar sobre ele, inclusive, pois o foco é outro.
#❝ ⚜ through the looking glass. ❞#❝ ⚜ lorenzo. ❞#será que vem aí#kkkkkkkkkk rindo que lore pura cara de pau
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delaflaneur:
Dominique não era muito de beber, então, não foi nenhuma surpresa que nos minutos conseguintes àquela conversa se distraísse rodopiando a taça contra a bancada americana. O álcool tinha o poder de fazê-la rir que nem uma idiota, além de relaxá-la o suficiente para que terminasse capotando em algum canto. Experiência muito comum quando se via entre as andanças de seu primo, Teddy, que não se conformava com o seu poder de tornar um banco da balada em sua cama particular. Ao menos naquele instante, ela sabia que não podia se dar ao luxo de sentir sono. Não quando as ideias formigavam entre seus neurônios, gerando uma inquietude silenciosa que poderia retirá-la de cena para trabalhar em seus poemas — e isso não aconteceria porque era realmente um milagre divino ter Clarice em casa tão cedo e não faria desfeita. - Oui! Justíssimo! - exclamou Dominique, se curvando minimamente pela bancada a fim de ler a lombada do livro. Era o que fazia, o tempo todo, toda as vezes em que se via diante da possibilidade de adquirir um novo conhecimento. Por estar no dito nicho de poemas serem considerados arte com literatura, e consumir poetas e poetisas em demasia, podia-se crer que Dominique não tinha o menor interesse em política. Meio mundo acreditava que ela não se importava, pois era fácil crer que ela era um clichê ambulante de burrice. - Longe de mim fazê-la quebrar suas confidencialidades, mademoiselle. Isso viraria material para meus processos criativos, sem dúvidas, tão quanto inseriria mais caraminholas em uma mente que já tem caraminholas demais. - a ex-lufana sorveu mais do vinho, sem inclinar muito a taça, pois só queria molhar seus lábios, como uma criança querendo consumir a espuma do refrigerante o mais rápido possível. Nem se importou de ter ficado com uma marca de bigode, pois seus cachos tomaram sua atenção, sendo empurrados para longe dos ombros. Uma expressão introspectiva a tomou de pronto já que retinha as informações da ex-corvina e estava aí uma dificuldade: as burocracias do Ministério da Magia. Poderia ler tudo sobre, de cima a baixo, ainda assim se perderia. - Menos mal, porque eu não sei lidar com júri e eu gaguejaria se fosse necessário testemunhar a seu favor. - ela lançou um sorriso que começava sempre de uma forma contida até se espalhar harmoniosamente pelos seus lábios. Revelando a singela imperfeição dos seus dentes que Edward chamava de charme secreto e ela considerava extremamente ridículo e patético. Até porque foi um acidente em meio à sua crença de que não era tão desengonçada assim para jogar as típicas partidas Quadribol entre os Weasley. Acabara de boca no chão, perdendo assim alguns mínimos centímetros de seu dente e recusou usar magia para acertá-los. - Eu sempre fico abismada como as coisas mudam de uma hora para a outra. Uma hora você está tomando seu café e, do nada, bang! - Dominique estalou os dedos em um movimento interpretativo. Seus olhos se arregelaram minimamente de empolgação. -, você se torna uma noiva cadáver cheia de sangue na roupa. Muito doido, não? - por fim ela olhou para o teto enquanto se ocupava de enrolar uma mecha de cabelo no dedo indicador. - Por mais que eu seja contra ao seu… Chefe. É chefe, né? Tenho que declarar que me sinto aliviada por ele estar vivo ou eu teria que aguentar um primo sofrido. - aos poucos, a jovem foi aterrissando de volta à realidade, capturando a novela de Teddy que envolvia o acidentado Cross. Dominique tinha o talento de não se agarrar ao que não lhe era relevante. E, definitivamente, Aiden Cross não era relevante, porque não suportava mais ouvir o nome do cara e o cara não fizera nada. Mas parecia ter feito tudo para se transformar em um entojo — a forma como ela se referia ao auror em seus poemas que se usava para tirar Teddy do sério. O auge da sua vingança pelas suas orelhas se transformarem em pinico. - E, considerando que mademoiselle é deveras inteligente, creio que respondi quem é o novo afeto do meu primo, sua fonte de tristeza, o espinho em seu coração, o tiro que saiu pela culatra. - Dominique levou as mãos fechadas em punhos ao coração e o apunhalou teatralmente, expondo a língua para o lado, ilustrando uma falsa morte. - O que me parte, pois sou Team Antoni. O que não significa que não tenho simpatia pelo idoso Cross, mas o histórico dele com Teddy é tão grande que, de novo, me resta ficar espantada com sincronicidades que envolvem assuntos inacabados. Eu sempre acho que fantasmas retornam e este é o incrível caso de Edward Lupin que deixou o caixão semiaberto. - uma nova careta pontuou a face sardenta de Dominique. Sentia-se sortuda por não ter esqueletos no armário. Não confiava muito no seu potencial de gostar de alguém, pois, secretamente, acreditava que seu sangue francês era vencedor. Afinal, era totalmente diferente idealizar amor por meio de musas que não eram reais que tê-lo. - Eu fui meio mórbida, mas não tenho culpa se o clima está propício. Ao menos, nesse referente caso. - ela gesticulou, meio nervosa e se redimiu a pensar em suas inspirações questionadas por Clarice. - Eu estava na Biblioteca Britânica e eu não sei se as aulas retornarão como devem ser. Acredito que o ataque a um dos aurores seja definitivo para manter os estudos em hiatus. Até porque se atacam um auror com tamanha facilidade, não seria difícil a Ministra ser a próxima. - e parecia um efeito em cadeia, que se iniciara com Percy e não aparentava um tempo para se encerrar. Isso a deixava preocupada, embora não se sentisse tão insegura. Deveria, como sua mãe vivia a dizer a ela e aos seus irmãos, mas muito da sua natureza se moldara em reflexo a do primo. Dominique saía sempre despretensiosa, como se o mundo estivesse normal, como se seu nome fosse deveras banal. Mas, ao contrário do primo, ela compreendia o peso de seu nome e tinha muito orgulho de cada sobrenome que, infelizmente, a rotulava das piores formas possíveis. E essas sensações desconexas alimentavam sua arte, ainda mais por ser a filha do meio. A filha do limbo. A filha que parecia ter tudo resolvido. - Acredite em mim quando digo que esse revival não tem nada de divertido. - emendou ela com um contido azedume. - Como disse, ao menos o auror não morreu, ou eu não estaria aqui no momento, mas convencendo Teddy de que a vida continua. Pelo menos, ele me dá material para escrever. Mas, fora meu querido primo, minhas inspirações vêm da rua. Sei que você trabalha demais, mas eu aconselho tirar um dia para fazer nada a não ser observar os transeuntes. E com uma coleção de palavras novas, bom, eu espero terminar uma coletânea antes do Natal. Se as aulas não recomeçarem, acredito que termine antes. - uma nova onda de empolgação a tomou, inspirando-a a bater palminhas. Ela não descansava até terminar seus projetos. Com sorte, terminava tudo antes do seu próprio prazo, não porque era obcecada por eles, mas sim porque apreciava demais o que fazia. Ela não via o tempo sequer passar. - Óh, corta essa! Às vezes eu passo na casa da minha mãe, não se preocupe. Um evento a cada dia que eu sei que Vic não estará presente, pois eu não tenho maturidade para o papo autocentrado dela e sua obsessão ainda esquisita por Teddy. - pensar na irmã particularmente a divertia, pois, se havia alguém cheia de estereótipos, era a própria Victoire. Altiva, metida, aparecida. - Os galeões se economizam para fazer nascer novas folhas. E duvido que não esteja a altura, ma fleur, pois o aroma está atraente. Isso poderia emendar em uma cantada quase rítmica, mas não posso seduzi-la ou tratá-la como minha ninfa. O que seria ridículo, pois, primeiramente, eu não tenho luxúria. Segundamente, eu ainda não consegui transformar sarcasmo em sátira. - as sobrancelhas de Dominique se altearam, destacando um brilho em seu olhar que poderia dizer muitas coisas. A primeira mais exata é que ela gostava de garotas e, mesmo que Clarice fosse sua amiga, não escondia os fatos de que ela era muito atraente — e evitava de todo jeito vê-la nua ou seminua, pois era too much para sua cabecinha oca. A segunda é que brincava com sua ingenuidade que não dissimulava a malícia, pois Dominique não tinha malícia escancarada. Não era dada aos que os idosos chamavam de paquera. Talvez, deveria treinar mimica, pensou, se sentindo feia e patética. - Tirando meu mais novo mico de cena, você precisa de ajuda?
- É realmente muito doido e preciso me recordar todos os dias que não posso normalizar situações como essa, sabe? Não que em algum outro momento tenha ficado empapada pelo sangue alheio, mas quando se trabalha numa divisão como a minha você vê e ouve de tudo. - pontuou, meio reflexiva, recordando-se que o trabalho na divisão de inteligência e homicídios era por vezes bastante indigesto - especialmente em momentos como aquele em que as tensões entre a sociedade bruxa pareciam se ressaltar. - Bom, caso fosse necessário um depoimento seu, faria questão de treiná-la para que tudo corresse na maior das normalidades. - disse, afetuosamente, porém, mantendo em mente que muito dificilmente qualquer indivíduo da Justiça bruxa se atreveria a pegar pesado com a sobrinha da Ministra. Sendo ou não da percepção deles, e tinha a impressão de que Dominique não era assim tão atenta a esse detalhe, nascer entre os Weasley e os Potter dava um peso diferenciado a qualquer existência, tanto positiva quanto negativamente. Apesar de distraída com suas conjecturas Clarice não deixou escapar o comentário da ex-lufana sobre Lupin e seu objeto de desejo. Os grandes olhos amendoados da ex-corvina arregalaram-se ligeiramente. Não era uma real surpresa para si o fato de que Aiden Cross envolvia-se com homens. Em uma das investigações que fizeram em conjunto presenciara o auror flertar com outros homens em uma naturalidade que jamais caberia a homens heteros, contudo, a surpreendia que ele estivesse envolvido com alguém que por sua própria impressão era o completo oposto dele. - Madonna mia! - exclamou em sua língua materna, o que tratava de ressaltar o quanto de fato sentia-se surpresa. - Hum. Na verdade, ele é meu mentor e não chefe. Nós trabalhamos no mesmo departamento e ele foi meu chefe no início da minha carreira, mas hoje estamos em subdivisões diferentes. Em resumo, para não encher suas caraminholas com burocracias chatas, aurores podem trabalhar em qualquer tipo de caso, agentes como eu tem nichos específicos. - e fora Aiden quem a indicara para a subdivisão em que agora trabalhava, o que a fez sentir-se grata pelo incentivo que recebera do mais velho desde o seu primeiro ano como estagiária no Departamento de Leis da Magia. – Uh, é a sua cara ser Team Antoni! - disse apontando o dedo em direção a mais nova, mantendo no canto dos lábios um sorrisinho sarcástico. - Eu não vou negar que ele e Teddy formavam um casal bastante interessante, mas não sou a maior fã do trope friends to lovers. Detesto a possibilidade da relação amorosa dar errado e acabar estragando os laços fraternais, entende?! Teddy e Antoni ainda são bons amigos? Ou Antoni ficou chateado quando as coisas não foram para frente? - questionou com um ligeiro arquear de sobrancelhas de quem tinha a impressão de que conseguiria provar seu ponto àquele respeito. - Gostava de Teddy e Duncan, mas considero traição como algo imperdoável, então, espero que o bonitão escocês não volte a cena em qualquer momento do futuro. Portanto, serei Team Aiden, pois poucas coisas me divertirão mais do que acompanhar aquele indivíduo descobrindo que tem um coração que não é de gelo. - disse, com o óbvio divertimento de quem convivera com Cross o suficiente para enxergar além do indivíduo taciturno de poucas palavras que, por vezes, era intimidante. - Agora mais do que antes me sinto aliviada em saber que não será por agora que ele atravessará o véu para o mundo dos mortos, uh, odiaria ver Edward entristecido, principalmente porque isso significaria a monopolização da sua atenção. - concluiu em tom de brincadeira, lançando para a mais nova uma ligeira piscadela antes que se direcionasse uma outra vez para o fogão. Clarice mexeu lentamente o molho que fizera para acompanhar a massa que preparara. O cheiro inundava a cozinha e era certeiro em abrir seu próprio apetite. Enquanto seguia terminando os preparativos dava ouvidos a amiga. Ao ouvi-la citar que questões inacabadas sempre acabavam retornando recordou-se novamente da Itália e do dito Consigliere que marcava presença bem distante de seu lar. Por mais que não quisesse chamar a atenção para si, estava considerando empregar parte do seu tempo para descobrir o que o guiará até ali. Era o que lhe restava para tentar tranquilizar sua paranoia. – Hum, sabe, eu pediria para ler seus poemas sobre a vida amorosa de Teddy, mas creio que seja bom conservar certo distanciamento da vida amorosa do meu mentor. Ugh, ainda estou completamente desorientada com a info de que ele e Teddy tem algo, eu jamais suporia já que são completos oposto. E está aí um trope de minha preferência. Ao menos para leitura, para vivência prefiro manter a liberdade que acompanha a solteirice. - brincou ao voltar ao campo de visão da mais jovem trazendo consigo dois pratos que prontamente colocara em cima da bancada americana. – Poetessa, dê um desconto a Victoire, deve ser muito difícil ser excessivamente bonita e atraente e mesmo assim não conseguir alcançar o maior objeto de desejo. - disse, com um óbvio sarcasmo, a lembrança de sua antiga colega de casa em Hogwarts. Ao contrário de Dominique, a mais velha dos Delacour-Weasley sempre lhe parecera uma criatura de difícil convivência. Podia, é claro, ser uma impressão errônea sua, mas eram raras ocasiões em que Clarice errava em seus julgamentos prévios. – Aha, você quer enganar quem com essa história de que não possui luxúria, poetessa? Esses seus olhinhos e sorriso angelical que passam a impressão de que és um anjo inocente certamente escondem um fenômeno entre quatro paredes! Sorte das mulheres que detém sua atenção. - enquanto falava Clarice meneava a cabeça de maneira a corroborar o que dizia, sem esconder que divertia-se com a ideia de constranger a mais nova mesmo que minimamente. Logo ela voltou a abrir os armários atrás dos sousplat e dos talhares para terminar a arrumação da bancada, assim que os encontrou voltou a pronunciar-se. - Aliás, acho que é uma boa ideia suspenderem as aulas por ora. Se havia um auror difícil de ser pego desprevenido esse era Cross, e agora veja bem o estado em que ele se encontra. - respirou fundo. Apesar do ex-corvino estar se restabelecendo bem, era inegável o quanto a situação como um todo fora das mais graves. Nas primeiras noites após encontrá-lo Clarice guardara consigo a certeza de que não haveria melhora. - Seus tios provavelmente redobraram a segurança familiar e a própria, ao menos é o que foi indicado a ambos. Aliás, você também precisa tomar mais cuidado, poetessa. Sei que suas andanças são parte primordial de quem é, mas na atual circunstância todo cuidado é pouco. Qualquer situação suspeita não pense duas vezes antes de entrar em contado comigo, certo?! - pediu assumindo uma postura mais séria. Por natureza Clarice já era bastante preocupada com a segurança, deste o ataque a Cross aquela postura ressaltara-se. Por mais que não quisesse soar exagerada nos alertas que fazia a amiga, distraída da forma que Dominique era se fazia necessário redobrar as recomendações. Dito o que achava extremamente necessário Sawyer voltou para o fogão, dessa vez com o prato de Dominique em mãos para finalmente servi-la. Ao finalmente colocá-lo diante da ex-lufana o incrementou com um mix de ervas especiais que ressaltava o sabor do molho sobre a massa. - Além de ser mimada, sua única missão por hoje é a de averiguar se já posso abandonar a carreira no Ministério e montar um restaurante onde finalmente poderei ter tempo para observar o que há de tão interessante nos transeuntes. - pontuou enquanto retornava com um outro prato, dessa vez para si mesma. - Ah, também gostaria de saber mais sobre essa coletânea que pretende escrever. Quais suas inspirações além da Biblioteca britânica, os transeuntes e a vida amorosa agitada de Edward? Prometo que se me der detalhes a deixarei em paz após a sobremesa para que possa finalmente se dedicar à sua escrita.
#❝ ✵ through the looking glass. ❞#❝ ✵ dominique. ❞#kkkkkkkkkkkkkkkkkkk ô dominica#nao julgamos pois veja bem que grande gostosa#ja amo as bichinhas
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delaflaneur:
Quando não estava na universidade, Dominique Delacour Weasley buscava preciosismos na Biblioteca Britânica. De lá sempre saía com uma nova descoberta, que desvaneceria no instante que tivesse absorvido todo o significado da sua existência. E, naquele momento, em mais um fim de dia viandante, a ex-lufana encerrava suas atividades largando espirais de extasiamento para dentro do prédio que morava. Tudo graças ao tempo que se mantivera curvada no dicionário de língua inglesa criado em 1755. Certamente, uma atividade esquisitíssima, tão quanto chatíssima, mas não para quem passava boa parte do que sobrava do próprio tempo escrevendo poemas. Desse modo, conhecer novas palavras era uma parte essencial do seu trabalho, tão quanto ser uma flaneur. Uma conjunção que a munia com seus próprios significados para continuar produzindo — e seu foco atual era escrever na língua da Rainha visto que seus primeiros rascunhos, consequentemente suas primeiras coletâneas poéticas, se originaram na terra para sempre rival, como amava dizer, a França. A língua que considerava mais elegante e proporcionadora de ponderações e distanciamentos que arrematavam o seu eu-lírico. O que dizia demais sobre suas escolhas acadêmicas, inspirando-a na formação em Literatura Bruxa. Por essas e outras que a jovem flaneur estava dedicada, extasiada, distraída aos seus tropeços nas escadas graças à famosa postura de rimar e repetir a fim de não se esquecer de nada. Digerindo as descobertas de um dia. E na euforia a chave rodopiou e a silhueta de Clarice a freou na soleira do apartamento. - Mademoiselle! - Dominique fez uma mensura e arrancou sua boina vermelha teatralmente a fim de saudá-la. Em seguida, ela tratou de trancar a porta e seguiu com o malabarismo para anotar suas rimas no bloco de notas, largado no bolsinho da mochila, o gancho da futura stanza. - Parlez-vous italien? - ela indagou mais por entretenimento e para ganhar tempo no seu processo criativo. Cuspia os cachos para longe do rosto ao mesmo tempo que indicava que a ouvia. - Oh! Eu diria que isso é um milagre, considerando que eu só a vejo quando estou saindo de manhã. É um gracejo ter companhia esta noite. - emendou assim que se deu por satisfeita com o que escreveu. Logo, se aproximou, mas não sem antes lavar as mãos. - Edward está em meio a uma crise romântica que eu não conseguirei comentar sem rir. É meio que patético! - a ex-lufana murmurou a última parte, cobrindo uma parte do rosto como quem segredava. Quando, na verdade, tudo que não gostava acabava murmurado, como se quisesse poupar os tímpanos alheios de uma verdade dolorosa. - Le chef? Que alívio, pois, como sempre, eu pediria comida. O que é basicamente um café e um croissant, o clichê francês em pessoa. - Dominique circulou a própria face e sorriu amigavelmente em seguida. Clarice era evidentemente uma das poucas que conseguia deixá-la à vontade, pois já vinha rotulada como antipática Delacour. Automaticamente, antipática francesa. O que não a afetava, pois a imaginação era seu espaço seguro, com suas rimas, anedotas e metáforas. - Oui! Vinho nunca é demais. - e sua mão dançou no ar até que o limite da taça atingisse o que considerava ideal. - Clarice - Dominique a chamou, exaltando o francês no R, como sua mãe fazia para se fazer menos complicada diante da língua inglesa. Com direito a um bico esnobe. -, você sabe que eu não sei puxar assunto, então, partirei pela obviedade que é minha curiosidade sobre sua estadia antes do tique do relógio que anuncia que o tempo da Cinderela acabou. Está tudo bem no Mungus? Ou você está se preparando para se defender diante da lei? - em um breve aceno, Dominique indicou o livro que lhe roubou uma careta, desvanecida no instante que bebericou seu vinho.
- Apesar da fluência, infelizmente eu e o italiano não somos um abbinamento perfetto tal qual você e o francês, poetessa. - um ligeiro arquear de sobrancelhas marcara as feições de Clarice. Ela falava sério ao dizer que não combinava com o idioma de sua terra natal. A verdade era que apenas mantivera o italiano em uso porque seu pai sempre fizera questão que a comunicação entre ambos se limitasse as origens, o que tornara o processo de aprendizagem uma obrigação que roubara de si qualquer entusiasmo. Por mais que apreciasse a sonoridade do idioma em outras pessoas, sentia como se não combinasse consigo, justamente o oposto de Dominique e sua fluência em francês. No que dizia respeito a Itália Clarice parecia carregar inúmeros complexos, mesmo os mais descabidos. Um breve suspiro lhe escapou logo antes de sua atenção voltar a recair sobre a Weasley. Ao observar a mesura que ela fazia em sua direção liberou uma risada suave. Dominique carregava consigo uma energia com pinceladas de inocência que fazia-lhe bem ter por perto. - Posso saber o que a inspirou no caminho até aqui? - indagou enquanto observava a agitação da ex-lufana em transcrever para o papel o que tinha em mente. Como a conhecia bem, estava acostumada a vê-la puxar o bloquinho de papel e escrever sempre que a inspiração batia, mesmo em momentos que fugiam a uma dita normalidade. Clarice seguiu seu caminho em direção a cozinha, rodeando a bancada americana que separava o espaço da sala. Faziam poucas semanas desde que se mudaram para aquele apartamento, e como estava quase sempre fora de casa, ainda não estava completamente familiarizada com a arrumação do ambiente, mas, ao menos decorara facilmente onde ficavam as taças de vinho. Antes de se servi mais uma vez tratou de higienizar e colocar a taça de Dominique sobre a bancada. - Como tenho sido uma roommate da pior qualidade nas últimas semanas, considere o jantar e o vinho como minha maneira de mimá-la. - embora soasse como quem estava apenas brincando por vezes realmente sentia que falhava em ser uma amiga presente já que o trabalho preenchia boa parte de seu dia. O que a tranquilizava era saber que Dominique tinha uma família imensa e um melhor amigo sempre presente, assim sua ausência era atenuada. – Bom, agora que estou ciente de que anda se alimentando apenas de croissants, que são maravilhosos, mas não o suficiente para manter o corpo nutrido e saudável, tirarei algumas horas em meus dias de folga para preparar marmitas para nós duas durante a semana. - pontuou com uma animação singela. - Só não espere que esteja à altura da culinária francesa ou da Sra. Weasley. - o sorriso travesso voltou a pontuar o canto de seus lábios. Embora acreditasse em seus dotes culinários sabia que poucas pessoas superavam os dons da avó paterna da ex-lufana. - Enfim, será ótimo para economizar alguns galeões. - não que dinheiro lhe fosse um problema, especialmente quando era herdeira de uma linhagem que possuía um império particular, entretanto, desde que se tornara maior de idade passara a rejeitar a quantia mensal que seu pai lhe enviava. Quando viva sua avó materna dizia que era guiada por um senso de moralidade que beirava a burrice uma vez que dinheiro não se deveria recusar, mas Clarice prezava por ter noites de sono serenas embaladas por uma consciência tranquila. Além do mais, o que herdara dos Sawyer fora o suficiente para se manter até o início de sua carreira no Ministério da Magia. Não tinha grandes posses, vivia em um apartamento alugado em que dividia as despesas com Dominique, mas para si era o suficiente para viver bem. – Eu amo o quanto a vida amorosa de Edward é agitada. Quem é o causador da crise da vez? Antoni? Duncan? Ou temos um novo personagem por quem você parece não nutrir muita simpatia? – indagou assim que sua atenção retornou ao que a ex-lufana dizia. Era divertido para Clarice as idas e vindas românticas de outras pessoas uma vez que suas experiências naquele campo eram um tanto limitadas. Sua vida sexual era ativa, mas, poucas vezes investira emocionalmente em uma relação. Suas ressalvas vinham do fato de que escondia suas origens e não achava que seria justo envolver-se sem ter a intenção de ser aberta e honesta. – Bom, ao menos ele se diverte. – disse, dando de ombros, logo antes de tomar um novo gole de seu vinho. Clarice voltou a colocar a taça sobre a bancada e tratou de ir em direção ao fogão para aquecer a comida. – Hum? – murmurou antes de voltar ao campo de visão da Weasley, acompanhou o olhar dela em direção ao “livro” sobre a mesa e em seguida a encarou. – Seu tio achou que eu precisava de um descanso depois da completa insanidade que foram essas últimas semanas. – desde o ataque a Cross não houvera sossego para qualquer agente pertencente ao Departamento de Leis da Magia, Potter e Granger queriam uma resolução rápida. – Você sabe que há muita confidencialidade no meu trabalho, que são raras as vezes em que posso dar detalhes, mas, nesse caso posso informá-la que estamos na mesma. – e realmente estavam. O que possuía de informações a mais vinha guardando porque precisava antes conversar de maneira particular com Cross, o que não poderia acontecer enquanto ele estivesse no Mungus. – E não, eu não precisarei me defender diante da lei. O Departamento tomou meu depoimento, checou os últimos feitiços executados com a minha varinha e os últimos de Cross e constataram que apenas o resgatei. – o que a deixara desconfortável mesmo que fosse praxe naquele tipo de situação. – Eu estava apenas checando alguns artigos com relação a outro caso. Embora o Departamento esteja se focando em Cross e Popovich, há muitas outras coisas acontecendo. Os últimos meses tem sido exaustivos e tudo está uma verdadeira bagunça. – uma ligeira careta pontuou sua face ao pronunciar-se. Os ataques a minorias continuavam acontecendo e muito pouco era feito. – Aliás, tempinho atrás ouvi um burburinho sobre a possibilidade do reinício das aulas ser adiado, você sabe algo sobre isso?
#❝ ✵ through the looking glass. ❞#❝ ✵dominique. ❞#como é perfeita nossa amiga sandalinha#tudo pra mim
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@delaflaneur
A taça de vinho sobre a mesa vinha sendo a única companhia de Clarice pelas últimas horas. Eram raros os dias de semana em que ela se encontrava em casa tão cedo, ainda mais raros os momentos em que estava ali sem a presença de Dominique Weasley, sua roommate e amiga mais próxima. Especialmente nas últimas semanas tudo o que Clarice não possuía era tempo para viver qualquer coisa que não envolvesse o atual caos no mundo bruxo, a vigente investigação a respeito de quem estava por trás dos ataques a Aiden Cross e Olivia Popovich, além, é claro, de revisitar suas lembranças da noite em que encontrara o auror, que era também seu mentor, empapado de sangue e quase inconsciente, na tentativa de identificar algum detalhe que tivesse deixado passar despercebidamente em meio a urgência do momento. Ainda que estivesse envolvida com a investigação Clarice não a chefiava, afinal, se tornara parte integrante da cena do crime ao resgatar Cross. Em meio aos muitos esclarecimentos que prestara, ela omitira a natureza de seu encontro com o auror e o que sabia das investigações que ele fazia por conta própria. Decisão que provara-se acertada uma vez que Cross vinha agindo como quem não possuía qualquer lembrança do que ocorrera. Se era verdade ou fingimento ela ainda não possuía qualquer certeza, contudo, conhecendo-o era de se presumir que não deixaria a resolução daquela questão nas mãos do Ministério, principalmente quando levava-se em consideração a maneira como a instituição o deixara afastado das investigações mais importantes nos últimos meses. Entretanto, embora tivesse muito o que fazer em seu campo de trabalho, desde o início daquela semana era um fato de cunho pessoal que vinha perturbando o juízo de Sawyer. Apesar de ter se mudado para a Irlanda ainda muito jovem, onde fora criada por sua família materna, seu país de origem era outro; a Itália. Clarice não possuía grandes lembranças de seus anos naquele país, assim como não possuía grandes lembranças de sua mãe. O contato com a parte italiana de sua árvore genealógica limitara-se aos poucos encontros que tivera com seu genitor - sempre em algum outro país e cercada de protocolos de segurança que na infância não lhe faziam qualquer sentido. No entanto, conforme crescera as lacunas sobre suas origens foram sendo preenchidas e junto a elas crescera em si resistência a figura paterna e aos negócios que ele administrava. Fora impulsionada por essa resistência e, pela ideia de colocar a maior distância possível entre si e a famiglia, que no momento de escolher uma carreira ela optara por uma que seguia o rumo completamente oposto ao de sua ancestralidade. Entretanto, a ex-corvina sempre mantivera em mente que mais cedo ou mais tarde seu caminho poderia ser uma outra vez atravessado pelos negócios do pai, e foi por tal motivo que usara dos privilégios de seu cargo para acumular informações a respeito da hierarquia da famiglia. Fato que certamente soaria como paranoia aos outros, mas que nada mais era que apenas uma precaução de quem temia ter um destino similar ao da figura materna, eliminada em represália as ações do Don. Um suspiro contido lhe escapou logo antes de bebericar mais um gole de seu vinho. Diante de si mantinha aberta a ficha do consigliere de seu pai, o braço direito do mesmo. Pela última meia hora Clarice reavaliara cada mínimo detalhe das poucas informações que tinha a respeito do sujeito, demorando seu escrutínio especialmente a foto que conseguira anos antes. Embora pudesse identificar pequenas mudanças na aparência, fruto do amadurecimento, era inegável que aquele era o mesmo homem que vislumbrara pelos corredores do Mungus no início da semana. Um homem que possuía um tipo de presença difícil de ser esquecida. Ainda que não fizesse ideia do que levara àquele ambiente um dos homens fortes da máfia, a simples presença dele era motivo suficiente para que ficasse ainda mais atenta aos seus arredores. Norte de pensamento do qual distanciou-se assim que ouviu o barulho da chave na porta que indicava a chegada de Dominique. Com um aceno da varinha ela lacrou a pasta que mantinha sobre a mesa, transformando-a para quem via em um livro sobre constituição bruxa. Embora seus instintos indicassem que deveria guardar a pasta o mais brevemente possível, ela não queria chamar atenção desnecessária para o objeto. – Poetessa. – cumprimentou, em um raro uso do italiano, assim que a Weasley entrou em seu campo de visão. – Juro que você não está sofrendo de nenhum tipo de alucinação, sou eu mesma em casa antes da meia-noite. – um raro sorriso travesso pontuou as feições de Clarice. Era tão comum que chegasse em casa tarde da noite que por vezes sequer cruzava com Dominique. – Teddy não veio com você? – indagou ao perceber a ausência do fiel escudeiro da Weasley. – Uma pena pois ele perderá a chance de mesclar culinária italiana e irlandesa em um dia de rara inspiração por minha parte! – embora gostasse de cozinhar eram realmente raros os dias em que tinha tempo para isso. Clarice costumava usar do tempo na cozinha como uma espécie de terapia, e especialmente naquele tarde precisara de algo para distrair-se. Logo o sorriso voltou a pontuar seus lábios, dessa vez mais singelo, gentil. Ainda que pudesse se utilizar da varinha Clarice optou por levantar-se para servir-se de mais uma taça de vinho. – Me acompanha? - convidou indicando a garrafa em cima da bancada americana da cozinha.
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