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design-e-industria-blog · 8 years ago
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Design e Indústria: Wedgwood como precursor de processos e inovações da industrialização americana
Introdução 
Neste texto, trabalho final da disciplina de Design e Indústria, irei trabalhar a ideia das inovações industriais trazidas com o crescimento da cerâmica Wedgwood [no texto Imagens de Progresso – Cap.1 (Forty, 2007, pp. 19-41)], tais como o atendimento por demanda, a organização industrial linear, o uso de catálogos, a introdução da tecnologia produtiva; e traçar um paralelo com o processo industrial de racionalização e padronização que estava acontecendo nos Estados Unidos no século seguinte [no texto Racionalização e Padronização -  Cap.4 (Heskett, 1998, pp. 70-80)], mostrando como Wedgwood estava à frente do seu tempo e como suas contribuições foram importantes para a indústria.
 Design e Indústria: Wedgwood como precursor de processos e inovações da industrialização americana
  Pode-se dizer que o estudo da história do design se dá a partir da separação de duas fases: projetar e fabricar. Isso ocorre principalmente a partir do século XIX, com a popularização do chamado sistema fabril, no qual a produção de bens de consumo passa a ser realizada por operários nos edifícios dos empregadores, que possuem e concentram a matéria prima e ferramentas e supervisionam o trabalho.
Se opondo ao sistema fabril, em que as máquinas gradativamente iam tomando o lugar do trabalho manual, nos séculos anteriores imperava o sistema doméstico, no qual a produção era realizada em casa pelo mestre artesão e seus ajudantes que possuíam as ferramentas, mas dependiam de um empreendedor para fornecer a matéria prima e mediar as trocas. Também havia o sistema de guildas, formado por corporações de mestres artesões que eram donos da matéria prima e das ferramentas. Em ambos sistemas, a produção de bens é para um mercado pequeno e estável, principalmente considerando que nesse período as cidades ainda eram um tanto independentes umas das outras.
É a partir do século XIX e do sistema fabril que este cenário muda, e a produção passa a ser para um mercado maior e oscilante, havendo também a (lenta) introdução de máquinas, que vem para substituir principalmente trabalhos pesados ou repetitivos.
O primeiro momento, de 1760 a 1850, é o que ficou conhecido como Revolução Industrial, e trouxe  "a criação de um sistema fabril mecanizado que por sua vez produz em quantidades tão grandes e a um custo tão rapidamente decrescente a ponto de não mais depender da demanda existente, mas de criar o seu próprio mercado" (Hobsbawm, 2006, p. 64). A produção de bens em grandes quantidades é possibilitada principalmente pelo trabalho mecanizado e pelas constantes inovações tecnológicas, além da mão de obra barata.
Neste cenário, podemos dizer que Josiah Wedgwood foi um precursor de muitas inovações e trouxe contribuições muito importantes ao design e à manufatura (que se tornava cada vez mais mecanizada). A cerâmica Wedgwood, um símbolo das Artes Decorativas britânicas, segue produzindo até hoje, adaptando seu estilo à evolução dos gostos da sociedade, mas fiel a seus princípios básicos: funcionalidade e simplicidade. Uma das características que mais se destacaram em Wedgwood foi não só sua capacidade inata de identificar e trazer novidades demandadas pelos consumidores, mas sim seu instinto comercial inegável. 
A Grã-Bretanha, no século XVIII, sofreu grandes mudanças sociais em grande medida, como resposta às mudanças econômicas que advêm da inovação agrícola, do movimento protoindustrial e da expansão do comércio internacional. Produtos de luxo como especiarias, sedas e porcelanas da Índia e da China foram inicialmente acessíveis apenas para a elite. À medida que as pessoas se mudaram para as cidades britânicas e os salários aumentaram, mais pessoas tiveram acesso a esses bens e a demanda por itens de luxo se espalhou da elite para as classes intermediárias. A crescente demanda foi acompanhada pelo desejo dos comerciantes de capitalizar no mercado; eles buscaram métodos para criar produtos produzidos no mercado interno que pudessem competir com os importados. Experimentação e inovação levaram a novos produtos caseiros que eram semelhantes às mercadorias asiáticas, mas eram mais acessíveis, à população britânica.
A produção de cerâmica despontou durante esta era como resultado da concentração, inovação e mudança tecnológica. Staffordshire dominava há muito a produção de cerâmica, mas as mercadorias eram utilitárias e simples, feitas para o público em geral; não eram consideradas itens de luxo. A mudança na produção de porcelana para itens de qualidade superior e mercadorias decorativas ocorreu no momento em que a demanda por itens de luxo aumentou e sua conotação decadente diminuiu, tornando esses produtos cada vez mais desejáveis. Muito da demanda por mais e melhor porcelana foi criada pelos próprios produtores, em particular Josiah Wedgwood, que convenceu as pessoas de que eles precisavam de cerâmica de qualidade superior, o tipo que sua fábrica poderia criar. Wedgwood viu a produção cerâmica como um processo industrial, e dedicou sua total atenção desde os aspectos artísticos até os aspectos produtivos e comerciais.
Por isso não é de se surpreender que a Inglaterra tenha sido a precursora da Revolução Industrial. Em 1782, Josiah Wedgwood introduziu máquinas a vapor em sua produção para acelerar o processo devido à grande demanda, assim como montou um sistema de distribuição barato e eficaz diante da abertura das vias fluviais que conectaram seu centro de produção (Staffordshire) aos portos de Bristol e Liverpool.
O sistema de divisão de tarefas já se havia feito presente na Inglaterra a partir da década de 1730, senão antes. Principalmente em fábricas de cerâmica, os trabalhadores haviam se especializado em uma das etapas do processo, fosse ela modelar, tornear, fazer o vidrado ou o acabamento. Como o trabalho estava dividido em etapas e vários funcionários trabalhavam para produzir uma única peça final, não tinha muitas chances de algum deles fazer uma mudança importante na peça, mas mesmo assim ainda era possível. Por exemplo, um funcionário encarregado de fazer os ornamentos moldados podia modificar certos detalhes, gerando pequenas variações. Era isso que Wedgwood procurava abolir em suas peças, principalmente nos artigos ornamentais. Ele queria uma produção constante, queria que seus funcionários fossem “homens-máquina”.
Para isso, Wedgwood adicionou ainda mais etapas ao processo de divisão de tarefas, sendo os funcionários supervisionados ainda mais de perto. Esse sistema de divisão era mais fácil e prático do que ensinar cada operário a trabalhar seguindo padrões mais altos, uma vez que dividindo a produção em etapas, ele poderia utilizar mão-de-obra menos especializada.
Etruria, a fábrica de Wedgwood, levou anos para ser construída, mas sua arquitetura transmite suas intenções claramente. É um edifício simétrico que insinua que foi projetado para conter a ordem.
No meio da fábrica havia uma cúpula com um sino, que era usado como um constante lembrete das divisões do dia. Isso chamaria a força de trabalho para o pátio os diria quando tomar as pausas para as refeições, além de avisar quando o dia útil terminava. O método de divisão do trabalho decidiu o layout da fábrica com oficinas separadas dedicadas a diferentes estágios de fabricação.
As estratégias de Wedgwood funcionaram. Ele transformou sua empresa em uma marca que as pessoas demandavam e compravam repetidamente. Seu maior sucesso profissional veio como resultado da inovações que ele fez na comercialização de seu produto para a aristocracia e, mais tarde, a classe média. Esta foi apenas uma decisão que impulsionou sua empresa para o topo do mercado de cerâmica. A empresa de porcelana Wedgwood subiu ao domínio em um momento em que o consumo de materiais e bens estavam aumentando como resultado de salários mais elevados, aumentando os padrões de vida associados à revolução industrial e maior disponibilidade de produtos. Wedgwood manuseou com sucesso o controle desse consumo, criando um mercado para coisas nunca antes necessárias ou mesmo desejadas.
Por isso, podemos dizer que Josiah Wedgwood foi um precursor de diversas inovações industriais, que estariam presentes mais tarde, no século seguinte, no processo de desenvolvimento industrial dos Estados Unidos, como é citado no texto Padronização e Racionalização:  “As vantagens da padronização seriam apreciadas depois por muitas grandes companhias industriais e comerciais, sobretudo pelas grandes fabricantes de artigos elétricos que surgiam no final do século XIX.” (Heskett, 1998, p. 71)
Um dos pontos em que os dois momentos convergem é na questão da padronização, tendo em vista que à medida que o sistema industrial americano evoluía, mais padronizado os produtos tinham de ser, com dimensões precisas e invariáveis.
A revolução industrial trouxe um novo modo de produção, incluindo, dentro outros fatores, o trabalho coletivo, cada vez menos controle do processo de produção como um todo pelos trabalhadores, e a compra e venda da força de trabalho. Nesse cenário, no final do século XIX e começo do século XX, uma administração do processo industrial focando na padronização e racionalização do trabalho começou a ganhar importância.
Peter Behrens, arquiteto e um dos primeiros designers industriais modernos, introduziu em seu processo produtivo de chaleiras peças e elementos padronizados que, quando combinados de formas diferentes, formavam mais de 80 variações da chaleira. Como cita o autor do texto, “foi a exploração da possibilidades de combinar um número limitado de componentes padronizados para fornecer uma grande linha de produtos que tornou inovador o trabalho de Behrens” (Heskett, 1998, p. 72).
A indústria automotiva foi um outro grande exemplo de sucesso dos processos de padronização e industrialização. As grandes empresas, como a Ford, eram capazes de produzir seus próprios componentes e a definição de padrões internos se fortalecia. “A sugestão de desenhos padrões (...) pareceu a muita gente um resultado lógico do processo de padronização e a seu favor apontava o sucesso fantástico de Henry Ford. Como seu sistema de produção dependia da linha de montagem, com o automóvel montado a partir de uma série de elementos como chasi, motor, transmissão, carroceria, a padronização precisa era implícita.” (Heskett, 1998, p. 72).
No entanto, o mercado foi ficando cada vez mais exigente e demandava mudanças estéticas nos produtos, dando início a um movimento que ficou conhecido como styling: “a introdução de mudanças frequentes no estilo externo que enfatizavam o aspecto estético.” (Heskett, 1998, p. 74). Daí voltamos para Wedgwood, que já havia aderido ao styling, testando e criando novos tipos de cerâmicas com novas cores, e contratando o que hoje podemos chamar de designers freelancers para fazer novos desenhos com pequenas alterações estéticas e assim manter o interesse e se adequar à demanda que seu público, cada vez mais exigente, pedia.
Com tudo isso, fica clara a importância de Josiah Wedgwood para a história do design e da industrialização, e a padronização e racionalização do trabalho permanecem sendo, até hoje, um conceito fundamental do design e um dos fatores mais importantes na difusão da forma estética. Sua fábrica de cerâmica, algo que começou há três séculos e está presente na sociedade até hoje, sempre se aperfeiçoando, é certamente um marco na história industrial e que deixou frutos por vários lugares do mundo.
Bárbara Rangel de Sá
Referências
FORTY, Adrian. Objetos de Desejo​. São Paulo: Cosac Naify, 2007
HESKETT, John. Desenho Industrial​. Brasília: Ed. UnB, 1998
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