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Você é um merda que nunca fará nada de extraordinário.
Conheça 5º Duque de Portland – John Bentnick (1800-1879)
Bem, ele era meio doido varrido. Nos anos de 1800’s ele vivia em Welbeck Abbey. Ele era tão introvertido que as suas refeições lhes eram entregues em seu quarto através de um trem em miniatura. Empregando 15.000 funcionários, o Duque construiu, sob a sua casa, uma biblioteca de 76 metros, 24 quilômetros de túneis e o maior salão de baile da Inglaterra com capacidade para mais de 2.000 pessoas. Um tanto quanto irônico quando levado em conta que se alguém se aproximasse dele, ele esconder-se-ia atrás de um guarda-chuva.
O que eu quero dizer é que temos o hábito de confundir atitudes que beiram a insanidade com excentricidade charmosa. A história está cheia de nomes de pessoas assim e nenhuma delas é você. É triste.
O poeta Lord Byron, por exemplo, acabado de chegar à Universidade de Cambridge descobre que c��es são proibidos na propriedade. “E então ursos?” – Perguntou. “Ehhhnnnnnnnnngggeeeeeee” – Respondeu a Universidade. Byron então arruma um urso, levando-o a passear pelo campus em uma coleira, como se fosse um cão. Sim, isso aconteceu.
Vários anos mais tarde, John Mytton, político inglês, que alegadamente vivia sob uma rigorosa dieta de oito garrafas de vinho do Porto por dia, certo dia convidou uma quantidade considerável de seus bem-intencionados vizinhos para um socialzinho de leve. Bem, John resolveu entrar no salão montando um urso. O urso não era muito amigável, pois após ter mordido o próprio Mytton, o animal acabou também atacando um dos funcionários que serviam a festa.
De qualquer forma. Só gente rica faz isso... Né? Qualquer um poderia ir à loucura se tivesse uma quantidade insana de dinheiro, certo?
E que tal histórias de pessoas não eram ricas, mas que ficaram ricas e que no processo ficaram também para a história?
Início dos 1800’s. Uma prostituta chinesa de nome Ching Shih acabou se casando com o pirata Zheng Yi. Os dois, juntos, fizeram a frota de 200 navios crescer para 1.800 com tripulação na ordem de 70.000 homens e mulheres. Quando Zheng Yi morreu em 1807, a sua viúva tomou o comando da frota e assim Ching Shih se tornou a Imperatriz de uma das maiores frotas navais do mundo. Aliás, uma frota PIRATA! Ching Shih introduziu contabilidade, impostos e leis à sua utopia pirata, toda a pilhagem teria que ser registrada antes de ser distribuída pela frota e se você desobedecesse a Ching Shih você era livre de pendurar o seu chapéu de pirata e ir embora desde que deixasse a sua cabeça para trás, é claro. Ela navegava entre Cantão e Macau surrando chineses, britânicos e portugueses; Yaaaarrrr!!!! Até que finalmente o governo ofereceu, a ela e seus piratas, amnistia. Que é tipo você roubar de todo mundo e no final eles responderem te chamando para tomar um café. O poder dela estava acabando mesmo, então ela aceitou. A ela foi permitida manter a sua fortuna desde que ela desmantelasse a frota, alguns de seus piratas de confiança obtiveram trabalhos no governo e à Ching Shih foi dado o título de Nobreza, transformando-a então em um membro da aristocracia chinesa. Ching Shih tirou um ano sabático da pirataria, manteve a sua fortuna, acabou montando uma casa de jogos e viveu o resto de sua vida numa boa.
Qual a moral da história aqui? Seja esperto. Seja esperto e um pirata. Seja esperto, um pirata e mate pessoas. Seja esperto, um pirata, mate pessoas e... fique de boas?
Ah, foda-se. Não tem moral da história.
O que interessa é que existem várias pessoas que ficaram para a história e que não foram necessariamente diferentes ou excêntricas. Algumas estavam apenas fazendo a coisa certa ou tentando fazer a coisa certa.
Tipo o Tenente Coronel Stanislav Petrov, que era um monitor do sistema Soviético de aviso nuclear. Ele viu no sistema que 5 mísseis nucleares haviam sido lançados pelos Estados Unidos e estavam em rota à Rússia. Petrov tem então a opção: ele pega o telefone e informa os seus superiores iniciando assim uma guerra nuclear que resultaria em milhões de mortos ou... ele não pega o telefone nem avisa ninguém. Petrov pensou que apenas 5 mísseis seria algo improvável visto os Estados Unidos terem milhares de mísseis e que muito provavelmente o que ele estava vendo no sistema seria uma falha técnica . Como você já deve ter imaginado, foi mesmo uma falha técnica e o mundo como o conhecemos ainda está aqui.
E que tal este tal de Ignaz Semmelweis? Semmelweis foi um médico do século 19 que reparou que – espero que você esteja sentado ao ler isto – lavar as mãos antes de fazer um parto reduziria a taxa de morte das mulheres em relação ao que era chamado na altura de “febre pós-parto”. A humanidade só iria descobrir sobre germes e bactérias alguns (bastantes) anos depois, mas mesmo assim Semmelweis notou que algo mudava sempre que os médicos lavavam as mãos e então informou a comunidade médica. O que você acha que aconteceu? Que ele ganhou vários prêmios por isso e morreu feliz e respeitado? Não. Ele foi impiedosamente ridicularizado pela comunidade médica da altura e acabou morrendo 14 dias após ter sido internado em um hospício, muito provavelmente por ter sido espancado pelos guardas.
Legal, né?
Um século depois, temos este Sergei Korolev. Em 1933 ele criou o primeiro foguete de combustível líquido a descolar na União Soviética. Por esse feito, ele foi recompensado com encarceramento e uma bela estadia em um Gulag. Por algum milagre, ele acabou sendo solto e colocou o primeiro satélite no espaço, o primeiro cão no espaço e, claro, o primeiro homem no espaço: Yuri Gagarin. Que no dia 12 de Abril de 1961 se tornou no primeiro Homo sapiens a deixar o planeta terra, orbitando o planeta por 108 minutos a bordo da “Vostok 1”. Sergei acabou por morrer 5 anos depois, provavelmente graças a ferimentos obtidos em sua estadia no Gulag. O programa espacial soviético era extremamente secreto e Sergei passou como anônimo grande parte da sua vida.
Conforme a história marcha, muitos eventos serão esquecidos. Este não. Este continuará se destacando. Foi a primeira vez que a humanidade foi além dos limites do céu e, em sua grande parte, foi graças a um homem que fora tão maltratado em sua vida e que segue hoje como um desconhecido além dos círculos da ciência e engenharia. Hoje existe um retrato de Sergei Korolev a bordo da Estação Espacial Internacional e, se por algum milagre, a nossa espécie emergir vitoriosa desta nossa adolescência, existe uma grande chance de que esse retrato acompanhe os astronautas do futuro para cantos do espaço que Korolev jamais conseguiu imaginar. Nem nos seus sonhos mais loucos.
Então, à luz destes fatos... O que faz alguém se tornar uma Grande Personalidade da história?
Bem, eis a receita:
Começamos com dois ovos de “nascer em uma família minimamente estruturada que te proporcione possibilidade de crescimento “ – Sim, ótimo.
Duas colheres de açúcar de “nascer no tempo certo e local correto”. – Certo.
Duas e xícaras de farinha de “talento” e, por fim;
Meia colher de chá de “grandiosidade”.
Excelente. Agora, espera aí... Cadê a gran... Aqui não, neste armário também não. Uai, cadê?
Ah, pois é! Saporra não existe!!!
Durante muito tempo eu acreditei existirem apenas dois tipos de pessoas; Os Sabe-Tudo: que sabiam o que estavam fazendo da vida deles. E a Plebe Sem Valor - onde me encontrava - um bando de idiotas à deriva indo de plano de vida falhado em plano de vida falhado. No entanto, hoje, com os meus 30 e poucos, a parte mais traumatizante de ter saído dos meus 20s não tem nada a ver com as dívidas que hoje tenho a pagar, ou as partes do meu corpo que começam, de forma randômica, a falhar. Nem também é a o fato da possibilidade de morrer por curtir uma noitada ser real. A parte mais traumatizante é entender que a ideia que eu tinha sobre o mundo além de estar completamente errada, em parte alguma é real. Sim, expertise existe. Não confie em um barista para pilotar um avião comercial nem peça a um piloto de avião para fazer o seu Macchiato Duplo. No entanto, sobre como obter sabedoria, sobre como é que as coisas funcionam para que sejamos felizes ou até mesmo sobre o sentido da vida; absolutamente ninguém sabe o que estão a fazer. Seja aquele famoso que as pessoas idolatram, algum herói que você tenha, os seus pais ou as pessoas mais inteligentes da história da humanidade. – Ninguém tem a porra da ideia. E isso é ótimo.
É ótimo porque quer dizer que não interessa o quanto a sociedade, tecnologia, arte e filosofia evoluam, o mundo seguirá sendo o que sempre foi; anarquia. Quando o assunto é a essência da vida, está todo o mundo brincando de quarto escuro.
E enquanto a maioria de nós tenhamos nos convencido que de nada adianta criarmos algo inovador ou escrever um puta romance pois alguém sempre fará melhor - sejam quais forem os grandiosos do passado que você admire e respeite, lembre-se de que eles também tiveram essas mesmas dúvidas e ainda assim seguirem adiante. Eles eram profundamente interessados e devotos àquilo que mais amavam ao mesmo tempo que se sentiam perdidos durante todo o processo. Um longo período de confusão e de se sentir perdido não é um efeito colateral de tentar fazer algo radicalmente interessante e inovador – é o preço de admissão.
Parece que nos esquecemos que Van Gogh tinha 27 anos de idade quando resolveu pegar em um pincel pela primeira vez. Que Charles Darwin uma vez disse: “Eu era considerado um aluno com intelecto abaixo da média por todos os meus professores”; que à Emily Dickinson mal lhe foi dado o respeito e reconhecimento enquanto era viva; que foi apenas cem anos depois da morte de Herman Melville que alguém começou a dar bola para Moby Dick. - Pelos colhões de Cthullu! - Sei de professores de arte que no início do semestre começam por garantir aos alunos que eles jamais conseguirão ser grandes artistas e que é inútil sequer tentarem; de cartas de rejeição que instruem os candidatos a largar a caneta e a que nunca mais se atrevam a erguê-la; de velhas, vazias e inúteis críticas destrutivas com o intuito de fazerem jovens artistas desistirem.
Por isso peço, por favor, que se algum dia te disserem que você é um merda que jamais fará algo de extraordinário em sua vida, em vez de você responder que “Sim, talvez você tenha razão”, responda com um “Vá para a puta que pariu. Vá se foder! Quem é você mesmo afinal? Porra nenhuma”.
Ó só as ideias desses filhos da puta. “Você já teve todas as suas ideias boas”; “Tudo já foi feito antes”; “Você é muito novo, muito velho, muito burro...”; “É impossível criar algo novo e original hoje em dia”;
Digamos que a sua expectativa de vida seja de 80 anos, isso são cerca de 29.000 dias. Se você tiver 18 anos, quer dizer que você já gastou 6.500 dias. 28 – 10.000 38 – 14.000 E independentemente de que se você acredite em vida após a morte ou não, esses são dias que você jamais terá de volta e não há tempo para darmos ouvidos a cínicos.
Pelos Poderes de Grayskull!!!!! Olhe a que ponto chegamos – história, tecnologia e sociedade. E foi tudo graças a pessoas que eram tão merda quanto você.
Por isso, aja sem expectativas. Crie coisas legais porque é legal criar coisas legais – ou ilegais também, se é que me faço entender. E não se esqueça de sempre, sempre, mas sempre mesmo... Sempre dê amor aos doguinhos!
E não menos importante, quando você resolver ser cauteloso ao seguir o caminho incomum, leve em consideração que todos os críticos serão esquecidos tão rapidamente como as vezes em que você falhar. Que nunca houve uma altura certa para que você possa fazer aquilo que sempre quis fazer. Que pelo fato da simples existência ser um conceito tão estranho e louco, ainda existem um montão de coisas que não foram feitas, que não foram criadas, vistas, curtidas.
“Essas áreas ainda não foram exploradas, Eli”. (There Will Be Blood)
O mundo é feito de infinitas possibilidades. Sempre foi e sempre será. Os grandes nunca souberam que o eram, eles eram meros humanos mortais que recusaram a se curvar perante o cinismo alheio. E o que das vidas desses grandes podemos tirar como lição é: Nos seus projetos, nos seus interesses mais bobos, nos seus gostos mais incomuns, nas suas expedições ao abismo da alma, você se transformará em algo jamais visto antes. Desejamos-te a maior das sortes.
Agora vá se foder e seja extraordinário.
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Matando a Grande Cobra
No pé da última montanha estava a última vila. E na última vila morava Ego.
Era o aniversário do Ego e, enquanto Ego trabalhava na plantação de milho da família, o seu amigo Eon chegou gritando por ele, chamando-o para que viesse depressa. Ego correu para os limites da vila onde a grande barreira estava e além da dela estava o seu pai, caído no chão. Ego chegou junto a seu pai. Seu pai não mais respirava. Ego arrastou-o de volta e o médico da vila examinou-o. O médico disse: "Ego, infelizmente o seu pai está morto". A Grande Cobra o matou.
No dia seguinte os moradores da vila foram à casa de Ego prestar suas condolências. "Que pena, era tão novo". "Lamentamos imenso, se houver algo que possamos fazer..." Ego agradeceu a todos e instantes depois estava sozinho novamente. Nessa noite ele observou a grande montanha brilhar com as luzes e a loucura dos Novos Deuses. Quem sabe o que estarão eles fazendo lá em cima? Quando Ego dormiu, ele sonhou com a Grande Cobra que lhe levou seu pai. As suas grandes presas afiadas, os seus olhos cheios de ódio, malícia e orgulho. Ela, que lança o mal sobre o povo da vila por centenas de anos trazendo doença e miséria a todos. E agora ela levou o seu pai. Chega!
Ego acordou pouco antes do amanhecer, colocou água e comida em uma mochila e depois foi à pira onde o seu pai foi cremado. Lá, pegou as suas cinzas e colocou-as em um pote de geleia. Logo após, Ego foi em direção ao limite da vila, à grande barreira.
- Para! - Alguém gritou. Era o médico da vila. - Se você for para o outro lado da barreira você morrerá. Deixe a Grande Cobra em paz, você não conseguirá vencê-la. Ego fechou os olhos, respirou fundo e atravessou a Grande Barreira, caminhando em direção à floresta. Ego caminhou pela floresta o dia inteiro à procura da Grande Cobra mas não encontrou nada. Ele via a cara do seu pai nas árvores. Para onde foi o seu pai? Este homem que deu a Ego o seu tempo, amor e que lhe ensinou como o mundo funciona. A quem Ego todas as manhãs trazia o café da manhã e à noite um cobertor. Este homem que o criou! Mas o seu pai se foi para a escuridão e Ego sabia que agora não poderia mais trazer-lhe o café da manhã, ou um cobertor ao anoitecer... Nem trazê-lo de volta. A Grande Cobra, aquela infeliz, ele acabará com ela.
Ego está agora sem água e com sede. Ele olha para a Grande Montanha e resolve então caminhar em direção às árvores ante à montanha. No pé da Grande Montanha havia um rio e Ego bebeu desse rio por um bom tempo. Quando ele olhou novamente para a Grande Montanha viu uma velha sentada no chão a poucos metros dele. A velha bebeu um gole do seu cantil e Ego seguiu o seu caminho.
- Ei! - Disse a velha. Ego ignorou-a.
- Você tem cara de quem tem problemas não resolvidos com a Grande Cobra.
Ego parou. - O que você sabe da Grande Cobra? - Perguntou.
-Verde, com 6 metros de comprimento? - Indagou a velha.
-Talvez - Respondeu Ego.
- Eu a vi! Foi naquela direção. Juro! - Disse a velha enquanto apontava para o cume da montanha.
- Você a viu!? - Perguntou.
- Sim! Com um andar todo orgulhoso.
-Ah, tá. - Respondeu Ego.
-Sabe... Ela mora lá em cima. - Disse a velha. - É lá que ela prepara todos os seus planos de malvadez. Quando a vi ela estava se regozijando de ter acabado de matar um velho da vila. Isso estava além de qualquer coincidência, Ego pensou. Talvez a velha realmente saiba de alguma coisa. Ego decidiu então partir em direção à montanha.
- Ei! - Gritou a velha.
Ego ignorou-a novamente. Ele caminhou por alguns minutos até ver outra pessoa em seu caminho. Era a velha! Sentada no chão. De novo.
- Como você chegou aqui? - Perguntou Ego.
Ela tomou mais um gole de seu cantil.
- Você precisa de um guia - Ela disse - Um escudeiro! A Grande Cobra é ardilosa.
Ego responde - Não me leve a mal, mas você está bêbada e é velha, não lhe vejo grande utilidade.
- Uau! Não tem nem como não levar a mal. - Retrucou.
Ego continuou o seu caminho e a velha foi atrás.
- Eu sei coisas sobre a Grande Cobra e os Novos Deus - Disse ela.
- Baboseiras!
- Será? Leva-me contigo ao cume da montanha e eu ensinar-te-ei como matar a Grande Cobra.
- Eu mesmo irei matá-la, com as minhas próprias mãos. - Disse Ego.
- Não - Disse a velha. - Você não conseguirá.
Eles procuraram a Grande Cobra sob pedras e dentro de buracos mas ela não estava por lá.Ela deve ter ido para mais alto na montanha. E assim eles foram subindo mais e mais a Grande Montanha.
Eles dormiram um pouco e pela manhã tomaram café da manhã. Ego comeu pão e a velha mais um gole de seu cantil. Eles seguiram subindo a montanha e, ao meio dia, eles estavam a uma altura suficiente para observarem a paisagem. E lá em baixo, ao longe, estava a vila de Ego. Pequena, nada de memorável. Apenas uns poucos pequenos edifícios e um leve risco de fumaça das chaminés.
- Existem outras vilas no mundo? - Ego pergunta.
- Não.
- E antes?
- Sim.
-Quando?
- Há muito tempo atrás. Antigamente costumava haver vilas gigantes chamadas de cidades. Havia muitas pessoas naquela altura.
- O que aconteceu?
- Ambição! A ambição aconteceu. - Respondeu a velha.
Ela tomou mais um gole de seu cantil e continuou.
- Me diga, rapaz. Quando você matar a a Grande Cobra e ela deixar de existir você acha será feliz para sempre então?
- Sim. - Respondeu Ego imediatamente sem pausar.
- Humm. Humm.
Eles procuraram a Grande Cobra sob pedras e dentro de buracos mas ela não estava por lá. Ela deve ter ido para mais alto na montanha. E assim eles foram subindo mais e mais a Grande Montanha.
Eles dormiram pouco novamente e acordaram para um cinza e triste amanhecer. Eles partiram em silêncio e logo abateu-se sobre eles uma forte neblina que lhes chegava aos joelhos. O ar tinha cheiro metálico. A luz do dia parecia errada.
- O que está acontecendo? Perguntou Ego.
A velha nada disse, apenas tomou mais um gole de seu cantil. Ego viu algo no chão, algo prateado e de aparência complicada.
- O que é aquilo? - Perguntou.
-Velha Ciência, rapaz.
- O que é ciência?
- Ciência é tipo magia. Só que realmente funciona. - Respondeu.
Haviam agora mais máquinas. Mais prateado. Vidros. Grandes torres industriais e formas geométricas.
- Quem construiu estas coisas?
- Os Novos Deuses, claro. - Respondeu a velha.
- E porque foi que eles as abandonaram?
- Porque todas as crianças eventualmente se aborrecem de seus brinquedos. - Respondeu.
E sobre eles apareceram linhas e símbolos como que grifos esotéricos no ar, e luzes faziam-se sentir à distância. Uma grande ventania começou e o fedor metálico se intensificou. As rochas no chão não eram rochas e sim hexágonos de metal e as árvores eram velas de cristal contorcido. À frente havia um pedestal de luz e nesse pedestal de luz havia um óculos. A velha pegou os óculos.
-Aqui, rapaz, toma. Estes são os óculos com os quais conseguirás ver a Grande Cobra.
-Óculos? A minha visão é perfeita.
-Não. Não é. -
Ela colocou os óculos em Ego e de repente Ego é lançado além do seu corpo e sentidos, em um caleidoscópio sem fim, conseguindo assim ver o mundo sem a sua máscara em um conjunto de campos e dimensões, vendo o tamanho do tempo e a profundidade do espaço, que a matéria era tanto um ponto como um objeto quanto uma piada. Viu também a lógica no fundo poço e a loucura no topo da mais alta montanha, viu a real forma da transformação e a beleza da dança do declínio. E, finalmente, ele viu a ele mesmo em total perspectiva, como uma uma nódoa, uma mancha, um pingo, uma gota... Um grão de areia em uma praia galática entre bilhões de outras praias, e essas outras praias em si apenas eram mais grãos de areia e mais grãos de areia e mais grãos de areia e mais grãos de areia e mais grãos de areia e mais grãos de areia em uma infinita praia chamada de universo.
A velha removeu os óculos da cara de Ego.
- O que foi aquilo? - Perguntou Ego.
-Ah! Ciência do século 31. Um pouco antes do teu tempo.
Ela entregou os óculos a Ego. - Guarda-o bem, ok?
-Quem é você? - Pergunta Ego totalmente confuso.
-Oh - Respondeu. - Quem é alguém!?
Eles procuraram a Grande Cobra sob pedras e dentro de buracos mas ela não estava por lá. Ela deve ter ido para mais alto na montanha. E assim eles foram subindo mais e mais a Grande Montanha.
Na manhã seguinte eles acordaram logo após o amanhecer e tinham uma linda vista sobre a vila de Ego.
- Porque o mundo está morto? - Perguntou Ego.
- Todos ficaram espertos. Agora se foram - Respondeu a velha.
- Se foram para onde? - Pergunta Ego apontando para o céu. - Lá?
A velha olhou para Ego e encolheu os ombros. - Vamos! O tempo está passando e temos uma longa caminhada pela frente.
Eles seguiram subindo a montanha. O pico lá em cima e a vila lá em baixo. Ego lembrou-se novamente de seu pai. Ele percebeu os dias vindouros como vazios e solitários, sem ninguém com quem verdadeiramente falar. Sem brincadeiras, sem gargalhadas. Quando ele encontrar a Grande Cobra, ele vai destruí-la. Ego então avistou um córrego que descia do alto da montanha, e a água desse córrego era vermelha. Ele percebeu que nesse córrego não havia água e sim sangue. O córrego de sangue alargava-se ao subirem a montanha. Não. Espera. Não é um córrego. É um rio de sangue... E por todo o chão, à beira do rio, estavam notas, moedas, joias preciosas, cajados e cetros. O chão era estéril e dele erguiam-se vapores em chamas. No ar fazia-se sentir o cheiro de morte, glória, domínio e vastos impérios. Em frente Ego viu uma espada cravada no solo. A sua pega cintilava vermelho, púrpura e ouro. A sua lâmina, feita de prata ofuscante. Eles aproximaram-se.
- Tira-a do chão - Disse a velha.
- O que é? - Perguntou Ego. - É a espada com a qual matarás a Grande Cobra - Respondeu.
Ego aproximou-se da espada. Envolve suas mãos na pega da espada e com grande esforço Ego ergueu a espada do solo a esgrimindo. Grandes plumas de fogo e raios saíram de sua ponta iluminando todo o chão. Ego esgrimiu-a de novo gargalhando a cada estrondo dos raios. Suas gargalhadas eram mais altas que os estrondos que ecoavam por toda a Grande Montanha. Tudo era poder. Todos o ouviriam agora, os anciões da aldeia, os oráculos, os valentes e os brutos. Até a Grande Cobra, quando a hora chegar. Ele gargalhou novamente e a Grande Montanha nada mais era que fogo, raios, trovões, poder, maldade e raiva. "Tu sempre matarás", Ego pensou. E ele sabia que ninguém poderia fazer nada para pará-lo. E mais que isso, com a mais profunda certeza ele sabia que poderia acabar com o mundo se assim quisesse.
Na manhã seguinte Ego comeu em silêncio, a velha bebeu em silêncio e eles seguiram caminhando em silêncio.
Quando encontraremos a Grande Cobra? - Ego interrompe.
A velha bebeu de seu cantil e nada disse.
- Não estará essa coisa vazia já?
A velha virou então o cantil de cabeça pra baixo vertendo uma corrente interminável de bebida.
- Você é um dos Novos Deuses? Perguntou Ego.
- Eu pareço nova?
- Bem, não... O que aconteceu com os Novos Deuses?
- A Grande Cobra aconteceu.
- Ela matou-os?
- Claro...
Ego parou.
- Como será que eu vou conseguir matá-la se nem mesmo os Novos Deuses conseguiram?
- Tenho vindo a pensar nisso - Resmungou a velha. - Ainda assim, os óculos e a espada ajudar-te-ão. E ainda temos mais umas coisas para pegar antes de você encontrar a Grande Cobra.
- Tipo o quê?
E do nada, Ego ouviu música chamando por ele. Eles haviam chegado no que restava de uma grande festa. Garrafas vazias e ornamentos espalhados pelo chão.
- O que aconteceu aqui? Ego perguntou.
- Abandono. - Respondeu a velha.
Nas ruínas de uma grande e majestosa casa jazia uma festa tão grande, tão sem limites, que o fogo de sua luxúria ficou para sempre gravado no cintilar de seus restos. E o resto que mais cintilava era uma jarra de cristal com detalhes em prata que, embora a casa estivesse em ruínas, ali estava a jarra, como que se nem um segundo tivesse se passado desde a última vez que fora polida. A mesma continha o que parecia ser, tanto pela vista quanto pelo cheiro, um licor.
- Beba. - Disse a velha.
- Mas o que é? - Perguntou Ego.
- Isso é a indulgência com a qual matarás a Grande Cobra - Respondeu.
E assim, Ego bebeu. E quando o copo ficou vazio, a velha pegou Ego pela mão e os dois dançaram. A montanha começou a dançar sob eles, as cores se misturavam.
- O que está acontecendo? - Gritou Ego.
E a velha gritou de volta - É isso! Dança, rapaz!
E Ego e a velha dançaram por toda a ruína em total deboche. De repente, Ego não estava mais pensando em seu pai, nem na Grande Cobra ou na vila.
-E se não houver sentido para a existência? - Indagava a velha. - Quem quer saber?
- Isso! - Concorda Ego. - Tragédias acontecem, gente morre. É tudo um jogo. É tudo uma fachada. Não há salvação. Não há sentido.
Ele olhou para a natureza da existência e viu que não existe difícil ou fácil, viu que sim, tudo era sofrimento e que nem mesmo isso importava. Uma piada sem graça que Deus pregou ao mundo apenas para seu próprio entretenimento doentio. Eles aproximaram-se do penhasco, dançando em perfeita harmonia, as estrelas rodando sobre eles a um ritmo estonteante e por toda a montanha ecoava a trilha sonora do abandono negligente de todos os valores pois nada mais importava. "Foda-se", pensava Ego. "Foda-se". E eles assim dançaram esta valsa niilista por toda a noite até o sol nascer. Ego acordou com a cabeça prestes a explodir e com gosto de morte na boca. A velha já havia acordado e estava fumando cachimbo junto ao precipício.
- Tudo bem? Perguntou ela.
-Hmmmm - Respondeu Ego - Era toda aquela dança realmente necessária?
- Com certeza! Vamos... Estamos quase lá e a cobra não poderá se esconder para sempre. - Disse a velha.
- Eu não vou a lugar algum enquanto você não me explicar o que raios está acontecendo! - Disse Ego assim de repente. - Onde estão os Novos Deuses, onde está a Grande Cobra e quem é você? - Completou.
-Aham, tá bom. Bora.
A velha começou a andar mas Ego não se moveu.
Ela parou, rolou os olhos. - Tá bom, tá bom - disse. - Em que anos estamos?
-Hummm... 326 - Disse Ego.
- Sim, no seu calendário. No meu estamos no século 98. Sabe, os seus ancestrais atingiram feitos maravilhosos. Tornaram-se poderosos e sábios, tá bom? Aqueles objetos; os óculos, a espada, a jarra; são objetos que eles deixaram para trás. Relíquias.
- Relíquias de quê?
-Eu vou te mostrar.
- Não! - Disse Ego. - Chega de joguinhos!
A velha perdeu a paciência.
-Olha! - Disse ela. - Você só está aqui fazendo tudo isto porque se sente culpado pela morte do seu pai! Ele te perguntou o que você queria no seu aniversário e você disse que queria um meteorito. Por isso ele atravessou a Grande Barreira para procurar um pra você. Foi assim que ele acabou morto. Então não desconte isso tudo em mim.
Ego ficou em silêncio por um instante e, depois, em voz baixa perguntou. - Como você sabe disso?
-Sei porque eu sou muito, muito inteligente. E eu estou tentando te ajudar aqui, será que você pode me dar um desconto?
Ego pensou sobre o assunto e pegou as suas coisas. Os dois caminharam juntos em silêncio. A vila era agora quase que invisível lá de cima e o cume estava muito perto. Ao passar em redor de uma enorme rocha, eles deram de caras como um retrato de um rei, depois o de uma rainha e depois mais. Retratos majestosos de faces orgulhosas que expressavam legado e direito divino. Eles seguiram em diante e agora os retratos eram de situações que Ego não reconhecia. De batalhas e governantes, de máquinas e estruturas que perfuravam o céu. Episódios da história da sua própria espécie que ele nunca ouviu falar nem sequer imaginava. Milhões mortos. Centenas de nações tornadas em pó. O grande projeto humano esquecido como um sonho após acordarmos. Testamento de um tempo em que bilhões existiram neste frágil berlinde entre a tintura negra do espaço, resistindo às hostilidades cósmicas e ainda às maiores ameaças que vinham de nós mesmos. E que, ainda assim, de alguma maneira, durante muito tempo, contra todas as probabilidades, resistiram. Melhorando vagarosamente, como uma criança aprendendo a subir um punhado de degraus para depois, por qualquer razão, regredir novamente. Como que para um grande sono. Para o grande esquecimento. Como uma criança indo para a cama sem jantar. Para o declínio, para a selvajaria e, logo após, o pó. O fim da humanidade.
E à frente, Ego viu, estava um colete.
- Ali - Disse a velha - Enquanto o usares, nunca morrerás. Poderás viver milênios, se quiseres. Esta é a armadura com a qual te defenderás da Grande Cobra.
O colete coube perfeitamente.
- E mais uma coisa. - Disse a velha.
Do seu próprio pescoço a velha tirou um colar e colocou-o ao pescoço de Ego. Nesse colar tinha um medalhão, e nesse medalhão estava uma fotografia do pai de Ego.
- Para você se lembrar - Disse ela. - Esta é a história com a qual matarás a Grande Cobra.
Desde o início de sua aventura rumo ao topo da montanha, finalmente Ego sentiu-se capaz de lutar com a Grande Cobra. Ele sabia que agora faltava uma curta caminhada.
O cume estava a apenas a alguns metros. Era apenas um pequeno planalto e o vento era forte. Estava chovendo na hora. E lá estava ela, a Grande Cobra, de costas para Ego, observando a vila em baixo. Planejando o seu próximo ato de malvadez.
- Pronto. - Disse a velha. - Faz o que vieste aqui fazer. - Completou.
Com os óculos dos Novos Deuses, ele viu a Grande Cobra em sua essência. O seu coração negro, a sua mente ardilosa, o seu desprezo pelos últimos humanos. Ego aproximou-se, silenciosamente, seu coração batendo fervorosamente quase fazendo mais barulho que seus movimentos, os seus olhos bem abertos e mão esquerda apertando o medalhão de seu pai. Ele s+o conseguia pensar no seu pai naquele momento. Pensou no homem morto. Na futilidade da morte. Então fechou os olhos, gritou de dor enquanto golpeava a Grande Cobra com tanta força que abriu espaço por entre a chuva que chegou até à base da montanha. Ele abriu os seus olhos e a Grande Cobra não estava mais lá.
Ego voltou-se para a velha. - Onde ela foi? Você a viu?
-Não. - Disse ela. - Eu não a vi porque ela não existe. Nunca existiu.
A chuva estava cada vez mais forte. Ego ficou em silêncio em sua armadura.
- Você realmente acreditava que existia uma Grande Cobra no topo da montanha responsável pela morte e miséria na vila? Você realmente acreditava que o mundo é assim tão simples e que apenas uma coisa é responsável por todos os dias ruins? Não vos compreendo. Vocês têm tudo lá em baixo, sabe? E vocês vão e desperdiçam tudo. Como quem vive em uma grande mansão até que um dia encontra um tijolo rachado e resolve demolir a mansão por isso. Vocês têm tudo lá em baixo na vila. Eu dei-vos tudo. Comida sem fim, vida sem fim... E ainda assim, vocês se sentem miseráveis. Você consegue imaginar o quão difícil é brincar de divindade? Eu daria qualquer coisa para conseguir deixar de saber tudo o que sei. - Disse a velha.
E no horizonte apareceram, embora que translúcidos e tremules, como que uma miragem, as ruínas das grandes cidades. Ruínas de arranha-céus e ciência.
- Eles conseguiram tudo aquilo que quiseram, os seus ancestrais - Disse ela. - E ainda assim não eram felizes. A "Grande Cobra" ainda estava lá: miséria, angústia, dor e sofrimento. Eles tentaram-na matar com conhecimento, eles tentaram-na matar com força bruta, tentaram-na esquecer com o deboche e indulgência, eles tentaram matá-la ao viverem para sempre. Eles tentaram matá-la ao apoiaram-se uns aos outros. Os óculos, a espada, a jarra, o colete e o colar. "Eles olharam sob pedras e em buracos, mas a Grande Cobra não estava lá, ela deve ter ido para mais alto na montanha. E assim eles foram subindo mais e mais a Grande Montanha" e não encontraram nada, eram apenas eles no universo e ainda assim, sentiam-se miseráveis. E por isso os Novos Deuses estão todos mortos. Todos exceto eu. E a sua espécie também, todos exceto a sua vila com o seu velho modo de viver. Mantenho-vos por perto por serem uma lembrança de como um dia já fomos. Lamento que o seu pai tenha morrido, lamento que você nunca mais o possa ver mas lá em baixo há toda uma vila de pessoas que te amam e aqui está você, gritando ao vento, no cume de uma montanha. Coisas ruins acontecem e as razões são complicadas; Não há uma Grande Cobra, uma Bruxa, um Gênio do Mal e nunca haverá um tempo em que tudo dure para sempre nem que nada te magoe de novo, mas a força está em olhar para o abismo, olhar nos olhos da Grande Cobra, e ainda assim escolher ser uma boa pessoa mesmo face a grandes incertezas, maldades ou o dia em que tudo chegará ao fim para sempre.O fim ainda não chegou e nem chegará por muito tempo, então, não desperdices o teu tempo com a Grande Cobra... Diz-lhe, sim, adeus - Disse a velha.
Ela então tirou o pote de geleia da bolsa de Ego e entregou-o em suas mãos, colocou o seu braço em seus ombros e, juntos e devagar, abriram-no. O vento levou as cinzas de seu pai e espalhou-as pela montanha, e na última luz do pôr do sol as cinzas foram como milhões de pequenos meteoritos cansados de serem cósmicos e decididos a ficar pelo dia-a-dia do chão.
A velha então disse - A sua espécie; que fora a minha um dia também, deve ser das únicas criaturas alérgicas à felicidade. Nós governamos a galáxia há muito tempo atrás e ainda assim brigávamos por quem recebeu mais sorvete na sobremesa. Ainda assim fizemos de conta que não viemos da lama. Ainda assim não conseguimos aceitar que o sentido da vida e preenchimento da alma não é encontrado em um paraíso mas sim nas trincheiras do dia-a-dia. "Nós saberemos tudo, então ficaremos bem. Nós mataremos tudo, então ficaremos bem. Nós esqueceremos tudo, então ficaremos bem. Viveremos para sempre, então ficaremos bem. Nos apoiaremos em todos, então ficaremos bem." E nem assim ficamos bem porque não é assim que as coisas funcionam. Vai pra casa, Ego. Não tente ser o herói, o sábio, nem o guerreiro. Apenas exista por um tempo e seja decente. Isso é heroísmo suficiente. É assim que sempre foi feito. Ei, você quer ficar com os óculos, a espada, a jarra e o colete? Você poderá governar o mundo, se quiser.
- Não. - Disse Ego.
- Boa escolha.
- Eu sou o primeiro da vila a vir atrás da Grande Cobra?
- Rapaz!! Todos da vila vieram em seu tempo, um por um. Dei a todos o mesmo tratamento, todos voltaram para a vila. Até mesmo o seu pai. Nossa, ele fez um montão de perguntas chatas sobre metafísica econsigo ver isso em você, sabia? Você é o último a subir a montanha. Pronto. Agora vá pra casa, seja humano, o universo não se importa com você. Já a sua vila, sua família, eu... Nós nos importamos com você. Lembre-se do seu pai. Ame-o sempre. Só Deus sabe o quanto ele te amou. E volte aqui sempre que você quiser, passaremos tempo juntos e lembrar-nos-emos dele juntos.
Ego tirou os óculos, largou a espada, pousou a jarra e despiu o colete.
- Posso ficar com o colar? - Perguntou.
- Claro! - Ela disse. - E as memórias, serão para sempre suas também.
A cortina de cinzas havia se dissipado. O céu estava limpo e calmo. Estava na hora de voltar. Ego partiu, descendo a última montanha, rumo à última vila. Não seria uma caminha difícil, e mesmo que fosse ele agora não se importaria mais pois dar-lhe-ia tempo para recordar.
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Aí você vai e viaja no tempo.
Eita! Peraí, carai. Como? Ah, véi, a sua tia, aquela que todo o mundo achava louca, na verdade sempre foi um gênio e criou, na garagem de casa, uma ruptura no tempo e espaço que pode levar qualquer um e qualquer coisa para o passado.
Então você viajou para o passado. E viajou fisicamente. Você viajou para o momento em que o seu você do passado levava a sua pessoa amada para conhecer a sua mãe. Sabe, aquela coroa gente boa que você respeita? Essa mesmo.
A sua mãe, naquela altura, morava em um vigésimo primeiro andar de um prédio no centro da cidade, e você acabou de desembocar no corredor desse prédio onde se situam as portas do elevador daquele andar. Naquele momento, o seu eu do passado está dentro do elevador subindo com a sua pessoa amada. Você vê o elevador subindo e entra em pânico. Se esconde na escada do prédio porque seria muito foda o seu eu do passado se trombar com você do futuro. De lá, você ainda assim consegue ver o elevador e não ser visto de volta desde que fique em absoluto silêncio. Então, você se vê saindo do elevador, super feliz, nos altos beijos com a sua pessoa que é mais que tudo neste mundo, se agarrando fervorosamente, ambos se jogando nas paredes e se chamando de lagartixa e o escambal. E você ali, em silêncio na escada. Após tudo isso, você se vê entrando na casa da sua mãe e ouve a festa porque você tinha prometido que não estaria ninguém além da sua mãe em casa mas ela, feliz por te ver deixar de ser um forever alone, programou uma puta festa com um montão de gente lá. É, a sua mãe é do caralho mesmo.
O que você não esperava acontecer, porque você não tinha a memória disso, é que aquele vizinho doido por exercício físico que a sua mãe sempre te falou sobre e que você nunca deu muita atenção quando ela falava e só dizia aham e tá pra ela - sim, esse cara - ... Ele apareceu. Não só apareceu como te viu. Não apenas te viu, como parou o seu exercício de subir e descer mais de 21 andares de escadas só pra falar com você. Te dar um oi. E o que foi que você fez? Você respondeu com outro oi. Um oi nervoso, mas um oi. - Mas nervoso por quê? – Por quê? Criatura, você acabou de viajar no tempo e acabou de trombar com uma pessoa do passado, possivelmente alterando todo o percurso da história com a porra de um mero... Oi... Mas você ainda não tem a noção disso, você só tem a sensação de que algo errado não está certo. Até porque a última notícia que você teve desse cara, foi que ele tinha caído da escada e morrido, mas não se lembra quando foi que isso aconteceu. Após o oi, você ainda nervoso e querendo disfarçar, vai e pergunta se está tudo bem, pergunta à qual é respondida com as respostas de sempre, fazendo prosseguir aquela conversa que nunca deveria ter acontecido. Dez minutos se passam e você não vê mais a hora de sair dali. De voltar para o seu tempo. Mas como?
Então você se lembra que a sua tia poderia te ajudar. Afinal, foi ela quem criou a viagem no tempo. É quando você decide dar por finalizada a conversa com aquele vizinho da sua mãe e resolve pegar o elevador para sair do prédio e correr na casa da sua tia. Você se despede do carinha lá, e, após o tempo parado e sem fazer novos alongamentos e aquecimentos, ele volta imediatamente ao ritmo insano de subir e descer as escadas do prédio. Contraindo assim uma contusão na perna esquerda que, no momento em que se dá, o faz perder o equilíbrio devido à dor, quebrando o pescoço na consequente queda nas escadas.
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Filhos.
Ela - Amor, estou grávida.
Eu - Sinto o frio da morte a apoderar-se do meu ser. O meu corpo já adivinha o rigor mortis que se avizinha. O silêncio avassalador da inexistência se faz mais e mais presente a cada calafrio. O chão trepida com a cavalgada dela, a morte. Essa é causa de cada calafrio, de cada espasmo que tenho vindo a ter.
O coração acelera. Troca os passos. Perde o ritmo que já era frágil por ouvir o maior inimigo e ao mesmo tempo valorizador da vida chegar: a morte. É agora. Os meus pulmões se esforçam para inspirar pela última vez. Os meus olhos apreciam a derradeira felicidade de um dia ter podido, embora que por pouco tempo, visto o que este imensurável e belo universo tem para oferecer. O meu corpo prepara-se para segurar a última carga de oxigênio que virá. O meu eu já está convencido que não se recuperará. Já aceitou. O medo foi embora. A morte chegou extendendo a sua mão amiga. O vazio me veio buscar. A solidão do nada será a minha eterna amante a partir de alguns instantes. Neste momento o meu cérebro está privado de oxigênio há dois minutos. Luzes aparecem em frente dos meus olhos como se fossem a de um cinema passando películas de 8mm. Nesses filmes vejo tudo o que fui. Tudo o que sou. Tudo o que fiz... e principalmente tudo aquilo que não fiz. Todos os meus arrependimentos se fundem em uma forma inicialmente irreconhecível que me falam palavras que provocam as últimas lágrimas em meus olhos já esbranquiçados de morte. Agora só tenho uma vontade. Vontade de poder voltar atrás. Não ao início, a apenas algumas horas atrás. Isto apenas para vê-la, senti-la, ouvi-la... e dizer o quanto me arrependo de não ter usado camisinha.
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E nada nunca poderá estragar isso...
Vocês se conhecem em uma festa. Vocês são jovens, provavelmente jovens adultos. Vocês dois já transaram com outras pessoas mas foi tudo meio sem graça. Vocês arrumam desculpas pra sair e fingem ser amigos. Ela tem uma pequena marca de nascença no pescoço, que você nota mas não fala nada. Você se pega pensando um pouco nela, então pensando muito e então pensando o tempo todo. Você para de dormir... e de comer, e qualquer música que você esteja ouvindo no momento vai estar tão atrelada a ela, que em 20 anos, alguém vai tocar aquela música de novo e por um segundo você vai relembrar exatamente como você se sente agora.
E em algum ponto, provavelmente com álcool envolvido, vocês vão tirar suas roupas juntos, e agora vocês realmente transaram porque ela está debaixo de sua pele. Você não tinha ideia de que você conseguia se importar com outra pessoa tanto assim.
E nada nunca poderá estragar isso. Qualquer um que te diga o contrário é um idiota.
Vocês nem tem 20 anos ainda, mas vocês já conheceram o amor de suas vidas; o quão sortudos vocês são? Vocês provavelmente negligenciam o tempo dos seus TCCs não dormindo muito, mas isso não importa. Você passa a conhecer bem os pais dela e ela passa a conhecer os seus também e vocês já tentaram todas as posições sexuais existentes na Terra.
E sexo é algo que te conforta agora, ao invés de ser algo que você pensa em fazer o tempo todo. Vocês têm grandes planos. E nada nunca poderá estragar isso.
Ela te mostra músicas novas que você provavelmente não ligaria antes, porém, de algum modo você meio que gosta agora. Você conta a ela das suas coisas e ela finge se importar convincentemente. Vocês vão morar juntos porque, por que não? Vocês ficam acordados até tarde. Vocês bebem. Vocês transam. Você algumas vezes assiste ela dormindo de manhã, e, de repente, toda aquela besteira de poemas de amor que te forçaram a estudar na escola, começa a fazer sentido. Você não acredita no destino ou em coisas assim mas você começa a entender porque algumas pessoas entendem.
Um dia ela olha pra outro homem... E sorri... Ou ri... Então você sente uma dor estranha no seu cérebro; Bem-vindo ao ciúme. É bem natural. Você não fala nada porque você não é doido. Ela provavelmente se sente do mesmo modo sobre você e isso é bacana.
Vocês dois arrumam empregos. Vocês se estressam. Vocês ficam cansados. Vocês assistem bastante TV juntos. Agora vocês não transam mais tão frequentemente, mas o que você esperava? Vocês falam sobre comprar um cachorro. Ela menciona algum cara do trabalho dela que fica mandando e-mails engraçados e você decide mata-lo mas rapidamente lembra que isso é ilegal. Você começa a correr durante as tardes e você nota essa garota que geralmente está lá nessa mesma hora.
Ela é bonita mas... tanto faz.
Vocês passam menos tempo juntos durante o entardecer. Você esqueceu como é sentir borboletas no estômago. Você fala isso pra um cara que está casado há anos e ele te fala que isso é normal. Você não pode ser amado pra sempre.
Isso te assusta um pouco mas está tudo bem porque tudo vai ficar bem E nada poderá estragar isso.
Você está com 20 e poucos anos agora, e alguns dos seus amigos de escola estão virando arquitetos ou médicos e você... não está. Você queria um... qualquer coisa, mas você não pratica isso há anos. Você então começa a praticar novamente, ou a planejar abrir um negócio ou fazer um mestrado. Ela parece completamente desinteressada pela ideia. Ela começa a fazer piadas sobre bebês ou a falar sobre comprar uma casa. Você não quer de fato a casa ou o bebê ainda porque você não é aquilo que você queria ser. E você já tem 25 anos, e 30 anos parece um número bem grande que está chegando assustadoramente perto.
O sexo meio que virou rotina, e você se pergunta se isso é só uma obrigação pra ela. Vocês ainda saem e é bacana mas vocês começam a sentir que algo está faltando. Vocês dois experimentam usar lingerie e ir para aventuras bem elaboradas e isso tudo é divertido durante um tempo.
Você vai correr mais e vê aquela garota novamente no parque. Tem algo meio que de outro mundo sobre ela. Ela para pra respirar então você também para. Você fala "olá". Ela é esperta. Meio que joga na sua cara sua parada proposital. E você gosta disso. E então vocês continuam correndo e você tira ela da sua cabeça, mas agora você lembra como é ter borboletas no estômago de novo.
Você vai para casa Vocês cozinham o mesmo prato que vocês comeram na noite anterior e na noite antes da noite anterior. Vocês não falam muito sobre nada. Ela menciona que aquele cara do trabalho dela quer te conhecer. E você responde que aquele cara do trabalho pode ir chupar 1000 rolas no inferno. Vocês ficam num silêncio constrangedor por um tempo e então vão assistir mais TV. E mais TV.
E vocês vivem assim por mais um ano. E está tudo bem. E nada nunca poderá estragar isso. Nunca.
Um de vocês transa com outra pessoa, ou termina sem razão alguma, ou menciona que vocês deveriam dar um tempo, ou começa a se distanciar, ou para de falar sobre o futuro ou qualquer outra coisa... E sendo você o que terminou ou não, você nunca vai acordar ao lado dela novamente, ou tirar as roupas dela, ou ter outra discussão bêbado a respeito da União Européia, ou sobre se cachorros conseguem olhar pra cima ou não.
Você vai deitar. E de repente o quarto tem o cheiro dela de um jeito que você nunca percebeu antes. Música é uma merda. Comida é uma merda. Todo mundo é merda, não importando o quão legais eles são com você.
E você percebe que você cometeu um erro terrível. Nada poderia estragar isso e agora a porra toda está estragada.
Você bebe muito. Você aparentemente é incapaz de dormir por mais de algumas poucas horas. Alguém menciona que ela está saindo bastante com seja lá qual for o nome dele. Você imagina rapidamente eles transando e vai fazer outra coisa.
Você joga bastante vídeo games e descobre que sim, que você ainda tem amigos e que eles estavam pacientemente esperando você por anos. Eles ouvem todas suas besteiras educadamente pois eles já passaram por términos também. Eles te falam alguns clichês, "muita mulher por aí" e etc.
Mas você não acredita neles pois eles não amaram alguém como você amou. Ninguém amou alguém como você amou. Você e ela mandam mensagens passivas-agressivas um ao outro a respeito de pegar seu violão de volta ou algo assim. E vocês se encontram para pegar suas coisas de volta. É bom vê-la novamente pois você já superou tudo aquilo. E ela não tem nenhum tipo de poder sobre você. E você vai arrumar outra em breve. Vocês transam e literalmente um minuto depois percebem o erro estúpido que isso foi. Vocês continuam transando por um tempo. Vocês começam a pensar em reatarem. Ela joga algumas coisas na sua cara ou você joga algumas coisas na cara dela. E de repente vocês param de pensar em reatar. Vocês discutem. Você a fala coisas horríveis, coisas que você não diria a seus piores inimigos.
Você joga mais vídeo games. Você bebe mais. Você ouve mais músicas tristes. As coisas estão indo bem com alguma garota que você conheceu no trem. Mas você não consegue suportar o pensamento de dormir com outra pessoa. Você brevemente começa se importar com alimentação saudável e com dar caminhadas e com os benefícios de manter pornografia a um limite de no máximo 17 sessões de 1 hora por dia.
Você continua praticando aquela coisa que você amava. Você fica bom naquela coisa que você amava. Você relembra como é se sentir como um ser humano. Alguém te conta sobre uma morte repentina na família deles e você percebe que você não tem razão nenhuma pra ficar triste. Não razão de verdade.
Com o tempo, pessoas te contam as histórias delas sobre términos e algumas são muito, muito piores que a sua. E, novamente, você percebe que você não tem razão nenhuma pra ficar triste. Não razão de verdade.
E, sutilmente, tão sutilmente que você nem percebe, você se torna você novamente. E um dia, do nada, aquela garota que você conheceu enquanto corria te convida para sair. E você nota que ela tem uma pequena marca de nascença no ombro mas você não fala nada. E você para de dormir, e de comer, e qualquer música que você esteja ouvindo no momento vai estar tão atrelada a ela que, em 20 anos, alguém vai tocar aquela música de novo e por um segundo, você vai relembrar exatamente como você se sente agora.
Música começa a ficar boa novamente. Comida começa a ter um gosto bom novamente.
"Deus, o que foi tudo aquilo antes?"
"Por que você estava sendo tão lameichas?"
Em pouco tempo, vocês dois estão saindo todo dia e você não consegue lembrar da última vez que você se sentiu tão vivo.
É isso o que você deveria estar fazendo o tempo todo? Ou talvez você só esteja repetindo o mesmo padrão idiota de novo mas, Jesus, isso parece tão incrível! Talvez tudo isso seja apenas um jogo estúpido, mas você não liga. Você não ligou da última vez. Dessa vez, você tem certeza do que sente. Tem mais certeza do que tudo. E qualquer um que te diga o contrário é um idiota.
Mas nada nunca poderá estragar isso... E nada nunca poderá estragar isso... E nada nunca poderá estragar isso... E nada nunca poderá estragar isso...
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Farei diferente na próxima vez...
Olá, você está vivo. Ótimo. Bem vindo ao mundo, pegue um assento porque você não pode andar... Ainda.
Você irá passar os próximos anos em um mundo psicodélico de cores que não fazem sentido, mas tudo bem porque você pode se mijar e alguém provavelmente vai resolver isso por você, mas não se acostume porque logo será esperado que use a privada, então aprecie o quanto puder.
E não muito depois disso você terá que ir a um prédio onde eles farão você aprender coisas que não sabia como tabelas, tempo, alfabeto e outras coisas. Talvez você ainda pense que é o centro do mundo e provavelmente essa ilusão até está certa em parte por algum tempo - algumas pessoas fazem isso a vida inteira - mas eventualmente você começará a irritar as outras crianças então você provavelmente terá que aprender um pouco de humildade também. Entendeu? Bom.
Certo. Agora terá que ir para outro prédio onde os testes são um pouco mais difíceis e os assuntos são mais intensos. Eles tentarão lhe ensinar coisas tipo trigonometria e pentâmetro Iâmbico, sem esperar jamais que você possa usar isso em sua vida. Mas não se preocupe, apenas memorize, cuspa fora durante a prova e esqueça no segundo que você sair da sala.
Agora você provavelmente está começando a ter vontades estranhas de fazer coisas com seus companheiros de classe, coisas que você nunca quis fazer antes e agora você vai ter que participar de um jogo pelo resto da sua vida onde você realmente quer esse tipo de proximidade com pessoas, mas, algumas vezes nem todo mundo sente de forma mutua, então você terá que esconder essas vontades. Bem vindo ao mundo do namoro, linguagem corporal e sexo. É, você vai gostar da parte final. Ela vai decidir sua vida e a maior parte dos filmes que você assiste e livros que você lê por algum tempo. Quer você perceba isso ou não.
Oh, você terminou de cuspir fora toda aquela memorização inútil. Bem. Ótimo. Vamos para a faculdade.
Você precisará dela se quiser ganhar muito dinheiro, que é obviamente muito importante porque bem... bem, apenas é. Cale a boca. Olha, todo mundo é feliz quando é rico. Escolha um assunto. Humanas não, seu idiota! Alguma coisa real como Direito ou Matemática. Seus pais não passaram 18 anos criando uma porra de um filósofo "Cogito Ergo Falido" este tempo tempo todo.
Oh, você terminou. Ótimo. Vamos arrumar um emprego para você então. Diga que é uma pessoa sociável, que tem excelentes habilidades de organização e que trabalha bem em equipe. Não mencione sua paixão real por jardinagem ou música. Eles estão pouco se fodendo para isso. Apenas soe o mais genérico possível. Fique aí uns 30 anos e talvez ganhe um bom dinheiro enquanto isso.
A coisa do sexo está provavelmente ficando um pouco vazia agora e você está necessitado de algum tipo de conexão real com o sexo oposto, ou mesmo sexo se essa for a sua pegada.
Jesus, você pensou que fazer pessoas tirarem as roupas era difícil? Tente então encontrar um parceiro para se apaixonar! Ok, você conseguiu! Mas e se eles ficarem entediados? Ou você ficar entediado? Eles vem com um manual de instruções ou algo do tipo? Bem, desculpe, você simplesmente terá que arriscar. Que nem todo mundo. Que nem na vida pra dizer a verdade.
Algumas pessoas estão mortas na sua idade, mas você não está. Não, você ainda se senta num poço de sua própria mediocridade, sentindo tédio e pisoteado pela vida, enquanto está em uma rocha que gira a 14 mil quilômetros por hora ao redor de um gigante de gás em um universo infinito, parte de 13 bilhões de anos de evolução cósmica, mas não, não... definitivamente você deve se sentir entediado e um lixo. E agora se sente pior porque sabe o quão grato deveria se sentir sobre tudo, impressionado e feliz o tempo todo... E ainda assim você se sente um bosta. Bem, isso é biologia.Seja bem vindo.
Então, talvez seus amigos por agora estejam ficando ricos, ou casando, ou engravidando ou algo, e você está pobre, solteiro e talvez não queira filhos. Não importa o que Carl Sagan diz, você não sente senso de maravilha nenhum. Você se sente um merda. Você não quer eloquentes prós sobre quão belo o cosmos é, você quer dinheiro para viver confortavelmente, você quer ser amado e talvez agora queira filhos. Tente livros. Há um punhado de caras mortos dizendo que podem explicar o que está acontecendo e como ser feliz, mas no fina das contasl cada um deles apenas contradiz o outro e, honestamente, tudo irá depender de você. Você vai ter que decidir, seja se acredita em Deus ou se quer comer carne, se apoia o aborto ou se afinal a vida tem um significado intrínseco. E o que quer que você faça, as pessoas vão cagar nas suas opiniões e vão dizer que você é um iludido. Desculpe, este é um jogo onde não há ganhadores.
E agora você está velho e talvez você tem dinheiro ou talvez não. E agora você está a dois passos da morte e você passa muito tempo pensando sobre o que poderia ter feito. Pensando na Ritinha, no jardim, atrás da casa dos seus pais quando vocês tinham 17 anos, e como você deveria ter dito "eu te amo" e ao invés disso disse: "olha, me desculpe. É que eu não estou no momento certo agora. Vamos pra dentro, está ficando frio”. Bem, agora que você pensa nisso a Rita estará provavelmente velha e raquítica como você está. Se ainda estiver viva.
Não há muito tempo sobrando.
Bem, acho que simplesmente você fará tudo diferente na próxima vez. Oh? Não há uma próxima vez? Oh, então, então foi isso? Merda. Se você soubesse disso antes! Porque se você soubesse que essa era a única chance que tinha de viver como um macaco falante no espaço, no melhor ponto da história, como a espécie mais brilhante do planeta usando magias como a internet, aviões e smartphones, com acesso a todo conhecimento humano na ponta dos seus dedos e à oportunidade de apreciar o quão bacana é estar estar vivo, talvez você não teria se preocupado tanto sobre o que os outros pensam e sobre suas vidas de merda, e talvez, apenas talvez, tivesse passado mais tempo aqui escrevendo, descobrindo se apaixonando ou... Simplesmente não sendo um cuzão.
Oh, bem. Se você soubesse... Mas você sabia. Apenas não queria na verdade pensar sobre isso...
Oh, ok, que pena...
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Macumba e Olho Grande
Primeiro desenvolvemos a linguagem, que se você prestar atenção é uma tecnologia do caralho que te permite, basicamente, ler o que vai na cabeça do outro. Aí vieram os primeiros instrumentos de corte feitos de sílex. Logo depois aprendemos a criar e controlar o fogo e assim começamos a desbravar, ainda que lentamente, a escuridão da noite. De seguida foi a roda, e em pouco tempo estávamos descobrindo as maravilhas de deixarmos de ser nômadas por causa da agricultura. A arte sempre esteve presente desde a altura das cavernas.
Chegamos à era da engenharia básica.
De cavernas passamos para casinhas de palha e delas para edificações de pedra. As primeiras grandes civilizações de que temos ciência estavam pipocando. Filosofia era a moda. A arte de pensar e isso moldou o mundo.
Descobrimos as vantagens dos metais, bronze, ferro e os caralhos.
Então, certo dia , algum filho da puta cujo o nome desconhecemos mas que chamaremos de “Manel”, olhou para o mar e disse: O que haverá depois desta merda?
Pronto, deu-se início à engenharia náutica. Jangadas, canoas, barcas, barcos, naus...
Descobriu-se que do outro lado existiam especiarias, então tornaram a culinária uma ciência ainda mais complexa. Sim, culinária é química. Sempre foi. Antes mesmos de sabermos o que raio tabela periódica era.
No entanto, outros Manéis, antes do Manel da engenharia náutica haviam se perguntado que merda eram aquelas a brilhar no céu de noite. Ainda que meio sem saber o que era, já tinham descoberto que dava para orientarem-se por elas durante a noite. Isto tudo para dizer que há muito tempo já estava plantada a semente da astronomia.
Algum tempo depois surgiram uns Manéis com uma ideia tri-louca, o Iluminismo. E desses Manéis tínhamos um Manel que, para esta história, se destacou imensamente. Esse Manel era o Manel Descartes. Pois segundo ele, em um sonho, um Manel Angelical chegou e disse que a natureza e o que ela comporta só poderia ser compreendida através de medições, matemática e lógica. Então boom, bem vindo ao método científico, motherfuckers!
Aí um outro Manel foi jogar pipa em dia de tempestade e... teve um vislumbre da eletricidade. Em pouco tempo tínhamos a lâmpada. Aí trocamos o fogo pela eletricidade e a noite deixou de ficar, novamente, tão escura.
Para comunicação tínhamos o Morse, e pronto, a primeira internet. Se bem que a o beta da internet tinha sido os ditos sinais de fumaça e o primeiro whatsapp teriam sido os pombos correio. Ghegou Manel Bell, trazendo o telefone, de seguida, Manel Marconi, roubando os planos de Manel Tesla, apresentando telefonema 2.0.
Outros Manéis olhavam agora para os céus, mais precisamente os pássaros. Então os Manéis Wright entraram numa corrida com o Manel Dummont para dominar o céu. Uns dizem que foi um, outros que foram o outro quem ganhou. O que interessa é que desses Manéis, todos ganhamos. Ganhamos a aeronáutica. E em pouco tempo passamos de atravessar uma ceara em um avião, para atravessar um oceano. Logo depois podíamos correr o mundo.
Em menos de 100 após o primeiro avião, estávamos na porra da lua.
Na lua, caralho!!! NA LUA, SEU FILHO DA PUTA!!!!
Sim, a semente da astronomia brotou. Ela estava grande, forte, linda e dando frutos já.
Atualmente temos robôs em Marte, sondas fora do nosso sistema solar, coletamos poeira de cometas, temos Manéis a investir em viagens espaciais mais baratas. Temos uma estação espacial com equipe permanente a orbitar a terra. Temos satélites que nos trazem magias da modernidade como GPS, Internet, TV a Cabo com 24h Porn, poderemos assistir com um delay de menos de 6 segundos a caralha da Copa do Mundo que está acontecendo na Rússia (hino soviético tocando). Temos carros nas nossas ruas, TV LCD de 55 polegadas, redes sociais, cirurgias sendo feitas onde o paciente está em um hemisfério e o médico em outro, transportadoras aéreas trazendo da china aquela compra feita no Ali Express (e por isso temos o Manel também rezando para o produto não chegar por Curitiba, pra não pagar imposto, mas se chegar pelo Rio, que não seja roubado).
Caralho, o que eu quero dizer é que hoje temos mais conforto que qualquer imperador do passado. Vocês acham mesmo que um Ramsés da vida tinha acesso a vacinas? Tinha acesso a travesseiros da Nasa? (coff, coff) Ou tinha acesso a água potável apenas ao girar uma peça de metal? Água gelada? Ar condicionado? iFood? Não, seu porra. E temos isso tudo graças ao sonho do Manel Descartes. Graças ao Método Científico.
Agora imagina o que seremos daqui a 10 mil anos com método científico? Vamos a moldar o próprio tecido da realidade, Esferas de Dyson serão trabalhos que os nossos filhos farão no dia dos pais. Vamos transformar planetas inabitáveis em nossos quintais para relaxarmos. Vamos domesticar a 4ª Dimensão. Vamos ter a galáxia toda explorada e estaremos de olho no que a outra esconde. Vamos dobrar o tempo e e o espaço para viajarmos instantaneamente para a puta que nos pariu. Vamos chutar o câncer no saco. Vamos acabar com todas as doenças. Vamos chegar ao ponto de criarmos novas doenças só para termos o prazer de as curarmos. Vamos retardar ou completamente acabar com o envelhecimento. Teremos upload de mentes para o universo digital.
Não morreremos mais.
Nós vamos ser Deuses!!
E tudo isso será na conta de Descartes.
Tudo será através de lógica, matemática e medições.
Mas enquanto isso, você está aí, hoje, acreditando que fizeram macumba ou estão de olho grande pra você.
Vá se foder, seu merda.
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E se aquilo que eu gosto der certo?
Às vezes paro para pensar sobre o que realmente quero fazer.
Por um momento respondo que talvez gostaria de ser pintor, poeta, quem sabe até domador de leões. Mas infelizmente sei que não é fácil ganhar dinheiro assim. Então lembro daquilo que realmente gosto e um pensamento muito forte vem lá do fundo da minha cabeça dizendo para que o faça, para que esqueça o dinheiro. Afinal, se o dinheiro é a coisa mais importante, então irei passar a vida desperdiçando tempo fazendo coisas que realmente não gosto para continuar vivendo para fazer coisas que realmente não gosto. E eu sei que isso é estúpido.
Em momentos assim entretenho a ideia de que é melhor ter uma vida curta e cheia daquilo que eu gosto do que uma vida longa, vazia e miserável. Começo a enxergar que se eu realmente gosto daquilo em que estou pensando, eventualmente tornar-me-ei mestre nisso, e o único jeito disso acontecer é se eu realmente estiver ligado àquilo que de alma e coração. Então começo a imaginar que sim. Que estou decidido a realmente largar a ideia de diplomas de administração, de psicologia ou de qualquer outra merda, e ser o que realmente sempre quis ser. Porque quando eu for mestre naquilo que faço, ganharei dinheiro pois se eu estou interessado em algo, e levando em consideração que existem 7 bilhões de pessoas no mundo, é seguro assumir que outras pessoas também estejam interessadas no mesmo. Pronto! Agora vai. Estou decidido a quebrar o ciclo vicioso no qual nasci. Nego-me nega a perder o meu precioso tempo fazendo coisas que detesto para seguir fazendo o mesmo e acabando por ensinar meus eventuais futuros filhos a fazerem coisas que eles detestam em nome de mero dinheiro e assim por diante. Vou mudar o futuro.
Mas o que é que eu realmente desejo?
Às vezes desejo controlar tudo. Ter filhos que nunca envelheçam, ter roupas que não se desgastem, comida que não se estrague, transporte instantâneo, que os mosquitos deixem de existir, fazer o impossível ser feito num estalar de dedos. No entanto, usando toda a minha imaginação no exercício mental, percebo que não é realmente isso que eu quero.
Porque isso é controle e eu não quero controle. Não quero previsibilidade. Porque controle e previsibilidade eu tenho no passado, em um diploma qualquer. Ter controle e previsão está intrinsecamente ligado a ter poder, e eu sei que isso não é algo que uma pessoa racional vá querer nesta vida. Imagino o meu chefe estando grudado, dia e noite, ao escritório repleto de telas e telefones, observando, espreitando e espiando tudo e todos. E até mesmo quando ele vai para casa, no quarto tem um telefone vermelho, uma linha direta para o escritório. Ele nunca realmente sai do escritório e eu não quero isso pra mim.
Eu não quero poder, eu não quero controle. Quero a surpresa. Obviamente não sei a surpresa que eu quero, ou não seria uma surpresa. Não sei se ela é boa ou má, tal e qual uma criança quando abre uma caixa de presente nunca sabe se é um Xbox ou um jiló. E é isso que realmente anima você: a imprevisibilidade.
Aí a minha mulher interrompe a linha de raciocínio perguntando sobre o que estou pensando.
- Nada não, amor, bora ver The Breaking Bad?
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Tudo depende de tudo o resto.
"Vi pessoas que tiveram tudo na vida... carro, casa, boa escola, dinheiro, família presente... E ainda assim foram para o lado da errado da vida. Tudo na vida é uma questão de escolha".
Sim e não. Sim, porque no final existe a escolha. Não, porque o te leva à escolha em si é algo mais profundo que uma mera decisão vinda do absoluto nada.
Creio que o que te faz escolher não são "coisas" no sentido literal da palavra. E sim "coisas imateriais", tipo exemplos, princípios, ensinamentos, modelos, vivências e por aí adiante. São coisas que não são coisas. Capisce?
Eu, por exemplo, sou péssimo em resolução de conflitos. O caminho que sempre escolho mesmo tendo total ciência do que estou falando, é sempre o de me fechar e ignorar a situação até a poeira baixar. O que é péssimo, por exemplo, para o meu casamento pois faz a minha esposa sentir-se ignorada. E apesar de saber disso, continuo fazendo sempre a mesma coisa porque simplesmente não sei fazer diferente.
Esta minha escolha deve-se à minha vivência e experiência. Não é uma escolha racional, lógica nem pensada. É intuitiva.
Mas por quê?
Na tentativa de racionalizar, chegar à raiz do problema ou... simplesmente arrumar uma "desculpa esfarrapada" para o problema, vou contar a todos aqui um pouco da minha vida e aproveito, também, para convidar a todos a refletirem sobre como a história de vida de cada um de vocês impacta ou impactou as vossas decisões.
Os meus pais foram para Portugal em 1990, quando eu tinha 05 anos de idade. Cresci por lá, aprendi a ler a escrever lá... Senti-me de lá mas nunca fui de lá. Nunca fomos de lá e por muito que às vezes pensássemos ser de lá, logo logo aparecia um estimado "ser humaninho" filho de senhora com profissão duvidosa pronto para nos lembrar que não éramos de lá. Devido ao fato de sermos imigrantes/residentes os meus pais tiveram que trabalhar muito tendo eu que ficar muito tempo sozinho ou nos por lá chamados de "tempos livres" das escolas em que as mesmas acabavam se tornando babás para os filhos de pais que trabalhavam além do horário normal da escola. O ponto é que passava muitas horas sem a companhia dos meus pais na infância. Até aí, normal... Eu acho.
Então, faltando um mês e um dia para completar os meus 14 anos, o meu pai conhece o seu trágico fim, deixando esposa e dois filhos menores de idade. A minha mãe, que já sofria de depressão, afundou-se nela acabando por deixar-nos, eu e a minha irmã mais nova, largados numa nova realidade muito mais complicada do que a antiga. Não a culpo. A minha mãe, tanto igual a meu pai, era uma pessoa muito doente. No entanto, ficamos sozinhos.
Na idade em que tantos conflitos apresentam-se na vida de qualquer um, a minha resposta a eles foi a mesma que encontrei para o luto do meu pai: recolher-me à segurança do isolamento e deixar a poeira baixar. Não tive ninguém para me ensinar, aprendi sozinho. Ficou gravado em mim como que em ferro quente.
Atravessei essa fase, crítica na formação do caráter de qualquer pessoa, completamente sozinho. Abandonando a escola e não tendo ninguém de moral suficiente para me obrigar a voltar a ela. Fui trabalhar assim que pude, julguei-me um adulto quando nem em sonhos o era. Achei-me o esperto, o malandro, o que estava em vantagem por ter largado a escola e estar agora a trabalhar e a ganhar uns trocados. Devido à falta de formação acadêmica, sujeitei-me a trabalhos que não a exigiam. Trabalhei horas sem fim por um punhado de migalhas que orgulhosamente levava para casa. Passei imensas dificuldades em relação às ditas coisas imateriais que citei acima.
Não era feliz. Ou pelo menos não me sentia feliz. Naquele momento da minha vida eu não tinha sonhos, não conseguia enxergar um futuro diferente. Para mim sempre seria assim, daquele jeito.
Aos 18 anos um amigo, dentre tantos outros em situações iguais e/ou piores que a minha, trouxe algo que apesar dos pesares sempre olhei com maus olhos. Ele trouxe haxixe/maconha/ganza. Por algum motivo que na altura não sabia qual era, apesar de enxergar as drogas de um jeito ruim, resolvi experimentar. Adorei! Eita trem bom! Senti-me feliz embora que por um instante. Comecei então a fazer uso diário e a tentar combinar o uso com o ritmo de trabalho.
Uns meses depois, ainda com 18 anos, arrumei trabalho numa cozinha de restaurante e conheci quem eu vou chamar aqui por "Zé". Ele apresentou-me o ecstasy e cocaína. PUTA QUE PARIU! Felicidade em doses cavalares.
Compreendi então o motivo de tantas pessoas serem usuárias, a sensação é a mais maravilhosa que já havia tido. Nunca antes havia me sentido tão bem, tão feliz, tão querido por aqueles que estavam, embora que na mesma situação que eu, ao meu lado. Durante um ano da minha vida, dos 18 e meio aos 19 e meio, assim por alto, fiz uso quase diário de ecstasy e cocaína.
Foi então que quase morri. Essa "felicidade" quase me matou de overdose e eu, então, cagado de medo, resolvi parar. Curiosamente, não sofri efeitos de ressaca nem tive vontade de voltar a usar. Eu estava decidido. Lição: não fui feito para ser feliz. Quando o fui, quase me matei.
Segui então, deprimido, a minha vidinha obtendo doses homeopáticas de felicidade com o haxixe. Esse com certeza não matar-me-ia.
Hoje, olhando para trás vejo a minha irmã crescendo não tendo o irmão, pois vivia "dopado", nem a mãe que vivia em depressão. Ou seja, cresceu tão ou mais marcada a ferro quente quanto eu.
Hoje, não consumo drogas há 10 anos (se bem que fumo cigarro que nem uma caipora - já fumei cerca de 10 cigarros desde que comecei a escrever)
Finalmente, de há uns anos para cá voltei a estudar, isto porque conheci a mulher com quem acabei por me casar. Ela mudou a minha vida. Ela trouxe o exemplo, a vivência, o modelo, os princípios e os ensinamentos que muito provavelmente me faltaram anteriormente. Hoje estou na faculdade e, como qualquer aluno de faculdade, estou no Facebook em vez de estar a estudar. O que eu quero dizer é que mesmo depois de ter visto tanto o meu pai quanto a minha mãe morrer, depois de ter me sentido tão infeliz por tanto tempo, depois de ter feito tantas escolhas erradas que sequer disse neste post devido à vergonha que ainda sinto delas, hoje consigo ter vislumbres do que o futuro pode vir a ser, hoje sei que sou feliz apesar de tudo aquilo que a vida tenha me atirado à cara.
Não sou mais aquela criança que se acha um adulto. Aliás, hoje nem quero mais ser adulto. Ser adulto é horrível mesmo. Talvez o maior ato de ser adulto é ter consciência da merda que é sê-lo.
Mas o que eu quero dizer aqui e agora é que foda-se esse negócio de que você escolhe tudo de forma consciente na sua vida. Principalmente quando você é um adolescente, você não faz a mínima ideia do impacto que as suas escolhas terão na sua vida. Quero dizer também que você só é quem você é devido a outro alguém ou a um coletivo de "alguéms" na sua vida. Que você não é você sozinho. Para o bem ou para o mal, ninguém é alguém sozinho.
Quero dizer é o caralho. Estou dizendo mesmo.
Tudo depende de tudo o resto.
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Sou uma pessoa de boas. Super de boas mesmo. Só tenho horror de gente frienta. Sabe? Aquela gente que quando estiver no inferno - porque todos eles irão pra lá - e os portões do inferno abrirem para receberam nova almas condenadas, essa gente frienta vai reclamar da "friagem" e pedir para o senhor demônio chegar uma brasa mais pra perto deles.
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