doidoetu

[doidoetu]

Volte

Quando adicionar pessoas as nossas saídas for um algo a mais, mas que sairmos só nós 2 também baste para ser divertido.

Quando você sentir vontade, do nada, me dar carinho e me elogiar, simplesmente porque tem amor dentro de você e você quer por pra fora.

Quando fazer planos comigo for prazeroso e não um peso.

Quando você sentir me falta quando estiver longe e fique contando as horas pra me encontrar quando chegar em casa.

Quando falarem de mim e você sentir orgulho.

Quando pensar “nossa, eu admiro mesmo esse cara!”

Enfim, volte quando me amar.

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Estrada

Queria devolver-lhe aquele sorriso...

Aquela felicidade que emanava dela e que eu era capaz de extrair e jogar no mundo, deixando-o incrivelmente mais belo e melhor de se viver.

Naquele tempo em que era tão natural ser feliz...

Tenho saudade desse mundo, de ser quem eu era feito por ti.

No caminho para me achar, encontrei uma parte de mim que não queria ter e me perdi de você...

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Eu não preciso de você

Não sou eu que quero matar a Camilla.

Eu não tento tolher meus comportamentos tidos como femininos que a ela me ligam. Quando assim ajo, é você quem me corta. Diz que estou muito gay e não quer um namorado assim. Seu discurso é contraditório e suas atitudes me mandam sempre duplos sinais,

Você também me acusou de estar contigo lhe usando como muleta emocional, mas isso não é real. Eu estou bem sozinho, não preciso de você pra ficar bem. Acredito que isso se deva à transição, já que, tenho certeza, tempo atrás na mesma situação, eu estaria em um episódio depressivo de verdade, como já estive.

Mas não, estou bem.

Ocorre que não preciso de você, mas eu quero você

Porque te amo e desejo ter um futuro ao seu lado. Você não está aqui para me completar, mas pra se somar a mim.

E é isso que lhe desejo também: que você fique bem e feliz sozinha, que possa se cuidar e se autossuficiente na sua alegria e que eu possa ser um acréscimo, algo que vá exponenciar sua felicidade.

Pois só assim acredito que teremos sucesso como casal e como pessoas felizes. Estou pronto para me esforçar mais e a cada dia para me tornar o companheiro com quem você pode contar, o pai ao qual você confia seus filhos, o amigo pra quem você pode (e quer!) contar tudo e o amante que te deixa o dia todo com frio na barriga porque vai encontrá-lo à noite.

Eu não preciso de você, eu te amo.

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Sonhei

Há tempos sonho em poder asistir uma apresentação de orquestra em um teatro.

Com o passar dos anos, inclui Ana Luísa nesse sonho.

Aos poucos isso foi virando um projeto, morando em São Paulo, uma possibilidade real.

Compre ingressos para ir hoje. É uma apresentação mista, na verdade, pois a orquestra tocará para um balé.

A essa hora já deve ter acabado. Ela foi. Eu não.

O sonho segue. Acontece que agora ele não está mais só. E sem o romance, ele não se realizará.

[doidoetu]

O retorno

No vigésimo primeiro dia fui à consulta, mas a médica não. E nem me avisou. Fiquei um tanto puto porque acabei saindo mais cedo do meu estágio no núcleo trans pra ir e ainda paguei estacionamento lá perto para esse grande nada. 

A consulta foi remarcada para 2 dias depois e, dessa vez, ela foi - ainda que tenham marcado um horário e depois pedido pra eu ir antes porque a sala da ultrassonografia estaria ocupada depois e etc, então ainda tive que sair correndo do meu outro estágio pra lá, mas deu certo. O que não deu muito certo para as minhas expectativas é que ela me recomendou não iniciar a testosterona enquanto meus ovários não voltassem ao tamanho normal e os cistos que se desenvolveram por conta das medicações não sumirem.

Obviamente fiquei triste. Até porque isso ainda vai demorar e joga água abaixo meu sonho de iniciar a T no dia do meu aniversário (daqui 1 mês). Então, pela primeira vez na vida, estou pensando em, deliberadamente, não cumprir uma ordem médica apenas por vontade. Ainda pretendo marcar um endócrino esse mês e conversar com ele sobre minhas possibilidades e riscos, mas minha barganha ainda será para começar nessa data, mesmo que depois precise interromper. Sei que parece bem doido e sem sentido, mas pra mim os simbolismos são muito importantes e sinto que isso seria extremamente bom pra mim.

Tenho conversado um pouco mais com minha mãe, ela ainda se mostra resistente, sempre fala de como esta sofrendo e triste com tudo isso, mas acho que estamos caminhando para algo bom.

No mais sigo me desentendendo bastante com a Ana Luísa. E nem são mais brigas de raiva, pelo menos da minha parte, mas de tristeza. Isso muito me preocupa, me angustia e me dá medo, mas não sei se tenho o poder de mudar muita coisa. 

E logo hoje (vigésimo quinto dia) gravei um depoimento falando um pouco sobre nosso relacionamento para TCC de um pessoal que está fazendo um curta com a temática trans. Gostei da experiência, ainda que, se tivesse me preparado, falaria coisas diferentes. Mas foi bom receber elogios por “falar bem” e sempre me sinto feliz em palcos e, pude constatar agora, diante das câmeras. Só bate a tristeza de também não poder fazer isso.

Mas sigo tentando mudar as coisas e ter um final feliz. Em tudo.

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Décimo nono dia

Menstruei. Pelo menos eu acho que é menstruação... Só tinha tido um pouco de sangramento escuro no dia da punção e pronto. Aí hoje (5 dias após), comecei a ter um sangramento vermelho vivo. Acredito que essa “bomba” de hormônios com a interrupção repentina deu essa bagunçada geral no meu ciclo, então devo estar menstruando de novo agora (tinha menstruado 2 dias antes do início do uso das medicações).

Só que está sendo uma menstruação diferente das que costumo ter, pois estou tendo cólica, algo que não tenho normalmente e isso está incomodando bem hoje. Sigo fazendo xixi VÁRIAS vezes, mas em grande quantidade e parece que o edema abdominal está diminuindo (acho que “ tô mijando ele todin”).

Hoje eu e a Ana Luísa brigamos. Fiquei irritado com a irritação dela sobre coisas aleatórias (ela já é muito estressada e quando chega de plantão e não consegue descansar então...). Não queria ter me irritado, tenho tentado ser mais calmo e paciente, mas me sinto o tempo todo na corda-bamba... Piso em ovos para lidar com ela sob ameaças de fim por conta de qualquer erro meu nesse sentido. Tenho muito medo. No fim é sempre o que ela me diz que conta, que me fere. Fiquei bem triste por ver que o sofrimento dela em parte é porque ela acredita que “não merecia isso” (no caso um namorado homem trans), ou, como ela disse, fica se perguntando porque isso aconteceu justamente com ela.

Me sinto sempre esse peso pras pessoas. No máximo como um filho deficiente que os pais se sentem na obrigação de cuidar, mas não queriam ter. Minha existência sempre é um problema para as pessoas que tento ter por perto. Mesmo quando elas querem lidar bem com isso, não conseguem. Essa é a realidade. Por mais que eu saiba racionalmente que não deveria ser assim, que somos pessoas e deveríamos ser amados como qualquer um, sei que na vida prática não somos. Isso me ajuda a entender porque sempre me senti tão sozinho, mas me deixa triste por tirar minhas esperanças de mudança na minha vida. Não que eu queira deixar de lutar por ela, mas é que cansa. E essa briga eterna com o mundo só aumenta a solidão.

O João Nery estava certo, a viagem é mesmo solitária. Talvez eu deva me acostumar com isso e ser grato sempre que alguém se dispa de seus privilégios e me ame... Viver de esmola é tão ruim quando a outra opção é não conseguir sobreviver?

Vamos almoçar. Comi costelinha no Madero do shopping de São Caetano, mas não estava bom. Mas o petit gateau estava ótimo como sempre, então tudo bem.

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Décimo oitavo dia

Uma manhã produtiva. Muito produtiva. Como quase nunca na minha vida.

Explico: além de ter ido levar o carro na oficina para, mais uma vez, trocar a lâmpada do farol (e ter dado com os burros n’água, pois o local estava fechado, apesar de no google dizer que lá fica aberto sábado pela manhã) e fiz vários serviços domésticos e alguns pela primeira vez.

Por exemplo: fiz meu primeiro arroz ada vida e assei um frango. Ana Luísa me pediu pra fazer isso, já que ela chega tarde do trabalho aos sábado e hoje ainda tinha plantão à noite. E lá fui eu. Não ficou lá essas coisas, mas não morremos de fome. Espera um pouco mais de reconhecimento e um resultado melhor, na verdade, uma reação melhor dela (não pelos atos em si, pois sei que não faço mais do que minha obrigação, mas por estar sempre tentando agradá-la, mas parece que nunca consigo...), mas é a vida.

Além disso, varri e passei pano na casa, limpei o rack, organizei a bagunça que tava no sofá e na sala, lavei a sacada, limpei a areia do gato, tirei roupa do varal e guardei, coloquei outras roupas pra lavar e estendi, lavei todos os panos de chão e as louças... Enfim, dei uma mini geral na casa. E ainda sobrou tento de cortar o excesso de pele dos pés. Risos.

Eu gosto de fazer essas coisas e de ver que consigo manter uma casa limpa e organizada, mas infelizmente não é sempre que dá, porque é muito cansativa a rotina que vivo aqui. Às vezes sinto que a Ana Luísa não consegue entender isso e talvez só avalie o estressa da rotina dela... Ainda fiz cuscuz no microondas pra ela antes de levá-la ao plantão (segunda vez na vida, a primeira foi 3 dias atrás).

Mas ultimamente as coisas estão melhores. Pelo menos estou tentando fazê-las serem. Tentando aceitar as merdas da rotina, pois sei que são temporárias e fazer o máximo que conseguir em tudo. O fato de estar conseguindo dormir 8 horas por noite e não conseguir (e nem precisar) dormir demais aos fins de semana com certeza tem ajudado.

Comecei a buscar artigos e leituras para o meu TCC que ainda nem sei sobre o que vai ser. Esse mês começo um curso online da USP. Então, tenho muita coisa pra estudar e estou precisando de tempo pra fazer alguma atividade física, pois meu corpo tem pedido, devido as dores constantes que tenho sentido no pescoço e nas costas... Mas não sei se conseguirei. Pelo menos acordei de começar o estágio no CRT só em junho...

AH,hoje teve flaxflu e fomos desclassificados com um empate. Um gol defensável, nosso goleiro é péssimo. O Fluminense parece que está num buraco negro numa queda eterna. Espero que quando eu reler tudo isso daqui uns anos, possa, além de rir das minhas bobagens, saber que essa má fase terminou.

Tomei um cerveja. Tô velho. Cada dia com mais medo de morrer. E me sentindo mais pai de família... Começo a pensar que estou me preparando pra isso. Ainda estou tentando organizar minha festa de aniversário, mas a vontade é de desistir só pra não ter trabalho... No mais, sempre fico com medo de estar sendo enganado, é um problema.

Sem contar que preciso fazer minha declaração do imposto de renda (e tantas outras coisas pra resolver). Eu tenho muita dificuldade de organizar meu afazeres de uma forma que sobre tempo para viver, dormir e não me estressar e cansar demais. Mas será que isso é possível?

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Décimo sétimo

Segundo dia seguido que eu fiquei com medo de ficar cego. Ocorre que (olha a merda) fui usar um desodorante novo e não lembrei de agitar direito antes. Nisso em vez de sair o spray, saiu um monte de PÓ e acabou pegando um pouco no meu olho, mas na hora não senti muita coisa e acabei não lavando.

Aí fui dirigir para o trabalho e notei que tava enxergando embaçado. Primeiro achei que era meu óculo, mas depois vi que não. Fiquei bem assustado porque não melhorava, na verdade, depois que lavei a primeira vez, a impressão era que estava pior. Fiquei o dia todo lavando o olho com soro toda hora e nada de melhorar. Como sexta é meu dia mais cheio nesse começo de R3, nem dava pra ir procurar um pronto-socorro oftalmológico... Apesar de estar à tarde na enfermaria da residência, lá não tem mais oftalmologista, então só pude rezar e esperar mesmo.

Detalhe: meus R1 faltaram nessa tarde para irem ao Lollapalooza. E eu tive que ficar sozinho com Dr Nitta a tarde inteira. Tive também que tomar 2 vacinas na saúde ocupacional: tétano e tríplice viral.

De lá fui para terapia e fiz mais uma mandala. Eu gosto de fazer mandalas, ainda que não entenda muito como isso pode me ajudar psiquicamente de modo mais direto.

Em relação aos sintomas: segui com um pouco de dor em baixo ventre, pressão na bexiga, abdome expandido, peito aumentado e um pouco de edema nas pernas. Finalmente consegui marcar minha consulta pós-punção para terça à noite (no vigésimo primeiro dia - 1 semana após a punção). Vamos ver o que ela vai me falar sobre meus míseros 9 oócitos...

Cheguei em casa já quase 22 horas (sendo que saio 6:30h e acordo 5:50h), fiquei conversando um pouco com a Ana Luísa e fomos dormir. As sextas tem sido realmente difíceis...

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Décimo quarto, décimo quinto e décimo sexto dias

Dia da punção. 

Acordei cedo e fui com a Ana Luísa para a clínica. Chegamos quase junto com os funcionários, mas a indicação era de chegar mesmo 1 hora antes da punção, então 7 horas estávamos lá.

Preparo zero para atender pessoas que não mulheres cis lá, mas já tinha desistido de me importar com isso, então beleza. Fui para a sala de preparo, colocaram um acesso venoso com soro em mim e depois me levaram pra sala da punção. Lá a anestesio aplicou 2 medicações, sendo a segundo a realmente sedativa e me despedi das pessoas e apaguei. Depois disso só lembro de flashes. Cheguei em casa ainda muito louco na droga, mas sem a parte boa, estava só lerdo e com sono. Dormi o resto da manhã e parte da tarde e depois fiquei bem, sem sintoma nenhum. 

Mandei mensagem pra minha mãe aproveitando a medicação e contando que tinha feio a punção e que agora ia atrás do endócrino pra usar testosterona. Ela demorou, mas respondeu. Mais uma vez disse que não consegue aceitar e conseguiu colocar algumas de suas dificuldades. Ela ainda se coloca na posição de vítima, como se eu estivesse fazendo tudo isso contra ela e que ela que não soube me criar. Fiquei triste, claro, não é nada bom ouvir de sua mãe que você é um erro de criação dela, mas é um progresso quando ela fala; é muito difícil tirar coisas de mainha.

Peguei um atestado de 3 dias, período que deveria descansar. Porém no dia seguinte fui trabalhar normalmente. Senti um pouco de dor, mas foi um dor leve e mais ligada à movimentação. Fiquei 3 dias tomando um anti-inflamatório e não precisei de analgésicos.

Nesse dia fiquei bem triste pois recebi um e-mail da tal enfermeira madrinha me falando que o total de oócitos meu que foram de fato congelados foi 9. Não é absurdamente pouco, mas é abaixo do que, segundo pesquisei, é o ideal para garantir estatisticamente uma gestação de sucesso (claro que garantir 100% não dá, mas entre 10 e 15, quase sempre sai uma gestação). 

Fiquei triste porque sei que essa pode ter sido minha única chance. Mas depois desencanei. Fiz o que pude. Daqui no máximo 5 anos esses oócitos serão testado e, se não der certo, ainda dá pra tentar de novo (por mais que s chances sejam ainda menores, já que vou tá com 35 anos e provavelmente usando testosterona há 5), mas farei o que for possível. E também, se não der, vamos adotar, sei lá.

Foi bom também para me fazer cair na real que não sou mais um jovenzinho e que, na prática, as coisas são bem mais complexas que no mundo das ideias. Porque racionalmente é claro que sempre soube disso, mas a gente se engana pra viver e acaba tendo, lá no fundo do coração, algumas ilusões.

Engraçado que eu sempre pensei em adotar, mas nunca em não ter um filho biológico. O que é meio doido, levando em conta minhas questões de sexualidade e gênero, mas essa possibilidade nem me passava pela cabeça, negava mesmo. Agora estou tendo que, de fato, encarar essa possibilidade que é bem real...

Na quinta-feira (décimo sexto dia), fui pra uma consulta com oftalmologista (que nem lembrava mais que tinha) e fiquei preocupado com o resultado dos exames, achando que tenho risco de evoluir com glaucoma. Mas  médico disse que está tudo bem, mas que preciso acompanhar anualmente.

À tarde fui para o estágio novo na USP. Fiquei felizinho com meu crachá de lá, mas foi um tanto maçante, sem falar no peso de ter minha R1 igual comigo lá, entre outro motivos porque, por exemplo, ela queria que eu entrasse com ela no banheiro feminino e não ia rolar, né? E eu não tenho a menor vontade de explicar nadinha pra maioria das pessoas que não sejam meus pais, então...

O fato é que, nesse dia como um todo, ANDEI FEITO UM CONDENADO. Quando cheguei em casa, estava com edema nas pernas e com uma dor estranha na barriga, além de uma sensação de distensão. Minha barriga estava aumentada e um tanto rígida. Ana Luísa me examinou e tinha sinais de líquido na cavidade abdominal. Porém vida que segue. 

Já tinha voltado a beber água e comer normalmente, então só pensei em dar uma segurada nisso de novo...

Além disso, pude sentir que parece que há mesmo algo comprimindo minha bexiga, pois fico com vontade de ir ao banheiro toda hora, com certa dor e com pouco volume urinário em comparação ao meu normal. Ah, e os peitos seguem maiores também. Meu rosto me parece mais redondo, não sei ao certo se engordei, mas minha pele parece estar mais lisa e fina. 

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Décimo primeiro, décimo segundo e décimo terceiro dias

Nem lembro mais... Foi tudo tão louco e corrido que só estou escrevendo isso uma semana depois.

Mas sei que no sábado (décimo primeiro dia), apliquei a última injeção de FSH e recebe uma mensagem pelo whatsap da enfermeira, que tecnicamente era minha referência lá e nunca conheci (eles chamam de enfermeira madrinha), avisando que deveria aplicar as 3 injeções de HCG no domingo Às 21 horas e que minha punção estava marcada para terça às oito horas da manhã.

Então, no domingo tomei os últimos 2 comprimidos e fiz a aplicação das 3 injeções na hora acertada. Ficou bem edemaciado no local na hora, como não ficou com o TSH, mas depois passou. 

Na segunda não fiz nada de diferente (a não ser ter que sair 2 horas depois do meu horário do estágio por problemas no sistema e também porque é muita coisa pra fazer em pouco tempo - foi só 1 dias e já estou odiando). Não tomei remédios nesse dia e só aguardei a punção no dia seguinte.

E só aqui, dia 01/04, percebi que esqueci de mandar qualquer escrito meu para o concurso de literatura para pessoas trans. Mais um boicote, será?

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Décimo dia

Fui dormir tarde e acordei cedo (mesmo assim cheguei uns 4 minutos atrasado, isso segue me estressando muito). Do trabalho fui para uma reunião de preparação para o atendimento no núcleo trans da unifesp.

Foi bem legal, aparentemente foi aqui que “conquistei” o chefe (ele parece ter gostado do que eu disse - uma vez disse que até se arrepiou), então sinto que se abre um bom caminho para mim (principalmente se eu fosse ficar em São Paulo, então isso me causa uma angústia também).

Além dessa parte de trabalho, foi legal socializar com os tais pares... Porque algumas pessoas trans participaram da reunião e, mais uma vez, me sinto feliz em poder conversar com elas (minha chance também de receber elogios, tipo ouvir as meninas falando que sou bonito e brincando com isso - percebo que isso me faz falta... Afinal, quando visto como mulher cis, esses elogios vinham, mas agora, parece que a gente vira uma “maçaroca” para qual o conceito de beleza não vale).

De lá ainda fui encontrar a Ana Luísa e os amigos dela da residência em um bar (o pessoal da reunião me chamou pra sair com eles, até queria ir, mas tinha que voltar logo pra casa e aplicar a medicação que Ana Luísa esqueceu de levar pra mim).

Sigo evitando carne vermelha (não aguento mais frango frito/empanado/à parmegiana) e bebendo menos água que o normal (mas nenos encanado com a quantidade do que tava no começo do uso das medicações).

Ficaram de ligar amanhã pra avisar exatamente a hora que devo usar as 3 injeções de HCG e a hora da punção, fico no aguardo...

[doidoetu]

Nono dia

Voltei à clínica para reavaliação, fiz mais uma ultrassonografia transvaginal que constatou que estava tudo ok e marquei a punção para terça que vem.

Ainda sigo aplicando a medicação mais 3 dias. No quarto dia tomo os comprimidos e 3 injeções diferentes (antes era FSH e agora HCG). Ai é partiu punção.

Lembrei só hoje que não poderia ir à terapia amanhã porque não vou para Carapicuíba (onde fica o hospital da minha residência) e fiquei angustiado porque, se não fosse hoje, só sexta que vem. Aí Ana Luísa deu a ideia d’eu pedir pra ser por chamada de vídeo e assim foi. Ainda que prefira o processo de ir à terapia e estar lá e tudo mais, foi uma experiência interessante. Me acalma saber que não preciso ficar sem terapia já que tenho essa possibilidade agora.

Os peitos seguem inchados, mas a dor me incomoda menos. O edema também. Os problemas agora são outros...

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Oitavo dia

A dor no peito só aumenta. O edema também. mas passei o dia até de boa, mas na correria porque tinha que chegar cedo em casa pra ir ao show do Paul McCartney. Acabei esquecendo de tomar os remédios da manhã, só lembrei de tomar às 13h.

Apesar de tudo, conseguimos chegar até bem antes do show começar, mas simplesmente a organização foi UMA MERDA. Eles não venderam cadeiras marcadas, muita gente ficou marcando lugar e eles deixara. Fecharam as entradas de quase todos os setores e andamos o estádio quase todo e só deixaram a gente entrar no último setor com a desculpa que os outros estavam lotados. Mas, adivinha? Quando chegamos lá também não tinha lugar!! Nós e várias pessoas ficamos o show inteiro! E nós pagamos pra sentar em cadeiras!! Não compramos em outro setor mais perto do palco porque não queríamos ficar em pé e fazem isso com a gente...

Passei quase o show todo de costas pro palco, sentado na escada, com dor nas costas e nas pernas. O edema, claro, só piorou.

Fiquei muito irritado, quase choro de ódio, mas segurei. Então acho que os remédios não influenciaram muito no meu humor...

[doidoetu]

Sétimo dia

Mais uma vez não tive tempo de escrever o diário no dia do ocorrido (nem no dia seguinte). Então vou resumir o que lembro: a dor no peito começou a aumentar e comecei a notar um edema nas pernas, mas ainda sem incomodar demais.

Foi o dia da reunião mensal do Núcleo Trans da Unifesp e o tema foi Comunicação não-violenta (não conhecia, achei interessante) e depois participei pela primeira vez da triagem de lá. Conversei um pouco com uma das integrantes do núcleo sobre meu TCC e tô começando a pensar e pesquisar sobre... Claro que quero um tema relacionado à temática trans, mais especificamente à trans masculinidade. Vamos aguardar.

[doidoetu]

Sexto dia

Acordei 3:20h da manhã para ir ao aeroporto. Primeiro voo às 4:55h pra Fortaleza e de lá pra São Paulo. Até que consegui dormir quase o tempo todo, apesar de ter acordado rapidamente várias vezes, mas fiquei absurdamente dolorido, incluindo com um edema muscular nas costas que me incomodou o dia todo (e ainda deve incomodar por uns dias).

Cheguei, fui pegar o carro e tive que passar no drive do Mc pra almoçar (coisa que me dá muita tristeza e frustração). Acabei esquecendo completamente que não poderia comer carne e pedi um BigMc. Estou muti esquecido. Na verdade, minha desatenção, que é eterna, parece que deu uma piorada importante esses dias...

Fui pro estágio já bem triste e bem cansado. Pela primeira vez desde que iniciei lá, minha agenda estava aberta e teria 3 pacientes para atender. Todos faltaram. O que me fez pensar que poderia ter descansado a tarde depois da odisseia, mas também foi bom porque sofri muito para aprender a lidar com o sistema e se os pacientes tivessem ido, estaria lá até agora tentando terminar de atendê-los e colocar tudo no sistema. No fim consegui aprender um pouco como faz. Ainda devo me irritar muito nesse estágio não só com esse programa, ma por, aparentemente, ter que tomar condutas sozinho com as crianças.

Esse é de longe o estágio que mais me sinto inseguro, pois passei o primeiro ano da residência quase todo no hospital, vendo adultos e sempre acompanhado por algum preceptor. Ou seja: não tenho medo de adulto, consigo lidar bem, mesmo que não saia exatamente que conduta tomar na hora. Mas criança? Nunca nem vi... Vai ser bem difícil ter que atender sozinho de cara, mas não tenho escolha.

Ainda pedi mais um estágio extra lá, para poder acompanhar algum grupo. Acho importante, não quero só o ambulatório, mas também fiquei pensando se não exagerei pegando mais esse extra, porque, se conseguir todos, ficarei sem nenhuma folga e preciso estudar também...

Segui com o intestino mais ~~agitado e comecei a sentir um pouco de aumento da sensibilidade nos seios. Tá ficando muito difícil manter o “regime de água” e um pouco a história de não comer carne vermelha, além de que já comecei a ficar um pouco incomodado com o tanto de furo na minha barriga, mas no mais segue tudo super de boa. 

[doidoetu]

Quinto dia

Comecei a perceber o primeiro possível efeito colateral da medicação: aumento do ritmo intestinal. Não chegou a ser nada demais, nem diarreia, nem nada, só que eu, que sou meio constipado naturalmente, fui 2 vezes ao banheiro em um dia e sei que já é bem mais que meu normal. Mas nada que tenha me atrapalhado.

O fato de ter ido tomar sorvete e depois tomar uma vitamina de banana que mainha me fez (sou intolerante à lactose) talvez também tenha contribuído, mas ainda acho que tem um dedo da medicação aí... 

Não fiz nada o dia todo, seguiu chovendo bastante e nem parar para conversar com meus pais deu, até porque, temos muita dificuldade em falar coisas que realmente importam uns aos outros. Meu pais ficou mais afastado que antes, mas mais calmo. Começou uso de escitalopram (um antidepressivo) soube, fiquei feliz, é um começo. Mainha pelo menos não falou absolutamente nada de ruim sobre mim, nenhum comentário, nenhuma reclamação, e até me ouviu falar sobre minha noiva com a empregada lá de casa (somos amigos) e não falou nada. Também não falaram nada sobre meu esquecimento em pagar a inscrição do concurso. Acho que foi o melhor que poderia acontecer, agora cabe a mim ter mais coragem de introduzir assuntos, já que, naturalmente, eles jamais vão surgir.

De novo esqueci de aplicar o remédio na hora certa, mas fiz tudo certo depois. Fui dormir trade e meio triste com a expectativa do outro dia, já sem tanta empolgação pelo processo, só esperando que acabe logo e que venha a T...

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Quarto dia

Quase não dormi. Fui pra cama mais de meia noite e acordei antes das 5 da manhã. Antes de dormir Ana Luísa me disse que ficaria torcendo por mim para que passasse na prova que estava viajando pra fazer. Acordei e mesmo morrendo de sono, dirigi até o estacionamento próximo do aeroporto pra deixar o carro lá, afinal isso sai bem mais barato que ir e voltar de uber.

Dormi a viagem toda, apesar da poltrona ser uma das mais desconfortáveis que já viajei (sai com a bunda doendo!). Ao chegar em São Luís, meu pai me perguntou sobre meu local de prova e fui ver... Descobri que esqueci de pagar a inscrição, logo, não tava inscrito e não tinha prova nenhuma pra fazer.

Eu nunca esqueço de pagar inscrições (e olha que eu faço muita prova de concursos em geral, incluindo enem de vez em quando), mas é a segunda vez que isso acontece quando a aprovação no concurso significa morar em São Luís.

Isso me fez ter que obrigatoriamente aceitar que meu trauma com a cidade é muito maior do que eu imaginava. Não é fácil para mim ter que aceitar que voltar pra cá talvez seja a melhor opção. Racionalmente eu sei, mas sentimentalmente não bate... Mas como provavelmente isso irá acontecer, preciso trabalhar muito essa questão na minha psicoterapia (ainda farei uma postagem sobre minha vida em São Luís é minha relação com a cidade).

Passei o dia angustiado, aéreo, sem foco e muito improdutivo. Acabei passando e muito da hora de aplicar a medicação e, quando fui fazê-lo, errei cada passo possível. Derrubei o frascos no chão; o do soro quebrou; levei uma queda; esqueci de passar o líquido do frasco pra um lado só antes que quebrar pra aspirar, aí tive que aspirar os 2 lados; fiz as diluições, mas acabei deixando entrar muito ar no líquido (porque fiz um tira e bota que ficou parecendo uma batida) e ainda perdi uma gotas na passagem. No fim ainda esqueci de aspirar antes de injetar e saiu sangue quando retirei agulha, coisa que não tinha conhecido antes, o que me deixou preocupado se eu tinha injetado no subcutâneo ou não. Mas não morri e parece que deu certo (pode não ter feito o mesmo efeito que deveria, mas ok).

Minha barriga parece estar mais mole. O tecido adiposo, onde injeto a medicação, parece que está mais flácido e um pouco maior (edema será?). No mais não tive inchaço em outros lugares, nenhuma dor e nem acho que estou mais chorão ou sensível que o normal. Ou seja: sigo com zero efeitos colaterais, mas muita coisa pra trabalhar na terapia.