Sem sonhos, a vida não tem brilho. Sem metas, os sonhos não têm alicerces. Sem prioridades, os sonhos não se tornam reais. Sonhe, trace metas, estabeleça prioridades e corra riscos para executar seus sonhos. Melhor é errar por tentar do que errar por omitir. Venha para a nossa família. Participe dos Nossos EmContos.
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REMÉDIOS DEMAIS
GILIARD MANENTI
Relato do Acusado Referente ao caso do dia 06/06/06
Não me lembro muito bem do que aconteceu, as últimas lembranças que tenho irei relatar aqui.
Não faço ideia de como cheguei no carro aquele dia, quando dei por mim já estava na estrada, com o carro ligado, então o que me restava era apenas acelerar, as dores de cabeça iam e vinham, era horrível, as vezes perdia os sentidos, em seguida retomava a consciência, e junto com ela vinha a raiva, algo que eu não podia controlar. Foi quando eu os vi, ali displicentes, felizes conversando perto da faixa de pedestre. Não pensei duas vezes, acelerei em direção ao grupo, e acelerei de verdade, eu queria fazer aquilo, disso eu lembro, até por que era só frear ou desviar deles, ah, mas eu não queria, a minha raiva fazia com que eu quisesse ver o sangue, a bagunça que eu iria causar. E foi o que aconteceu.
Atropelei os seis de uma só vez, o impacto foi forte, vários corpos no chão, sangue, ossos quebrados e gritaria, passei por cima deles, disso tenho certeza. Mas eu não fugi, eu me lembro muito bem, logo após o atropelamento, desliguei o carro, fiquei ali esperando, procurei no carro meus remédios, mas não encontrei nenhum, tudo isso enquanto esperava a polícia e o socorro chegar.
Daí em diante é que as coisas complicam, por que da hora quem que a polícia chegou até eu acordar na delegacia eu não me lembro de nada. Mas você sabe como é, eu tomo remédios demais, eu sinto raiva demais, eu nem durmo mais.
Relatório do policial Johnny referente ao caso do dia 06/06/06
Quando cheguei ao local do acidente, a situação estava feia, os paramédicos já estavam dando os primeiros socorros as vítimas.
O acusado ainda se encontrava dentro do carro, parecia estar muito tranquilo, não parecia ter consciência do que havia feito. Vi os outros policiais se deslocando até o carro onde ele estava, iriam fazer a abordagem para prendê-lo. Foi quando eu o vi se debruçar para o banco de traz do carro e pegar algo. Não tive tempo de avisar meus colegas, tudo aconteceu em um piscar de olhos. Antes que os guardas alcançassem o carro do sujeito, ele desceu do veículo com um rifle em mãos, não houve tempo de mais nada, já desceu com o dedo no gatilho, atirando em direção ao estacionamento, destruindo totalmente uns de carros, graças a Deus conseguimos domina-lo antes que ele virasse para a multidão de gente que se aglomerava ali perto, ele acabou por não atingir nenhuma pessoa.
Controlamos toda situação, prendemos o canalha no camburão, e o trouxemos imediatamente para delegacia.
Ele não trazia nenhum documento consigo, e não falava mais coisa com coisa, só balbuciava que sentia raiva demais, que tomava remédios de mais, e que não dormia mais. Passamos trabalho para conseguir identifica-lo, pois até o carro que ele usou no atropelamento era roubado.
Entramos em contato com todas delegacias das redondezas, para conseguir identificá-lo, foi só quando entramos em contato com a capital é que a surpresa chegou. Recebemos sua ficha por e-mail.
O sujeito se chama Doni, foi condenado por explodir o estacionamento de um shopping, ele afirmava que as vozes em sua cabeça o instruíram a cometer o atentado. Foi condenado a prisão perpetua na ala psiquiátrica de um hospital para condenados sem recuperação.
Doni estava foragido faziam cinco dias.
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ANTOLOGIA: CICATRIZES NA ALMA
ORGANIZACÃO: VANESSA NUNES
IDEALIZADOR: MARLOS QUINTANILHA
PSICÓLOGOS RESPONSÁVEIS: ERIK THOMAZI E ROBERTA COSTA
PUBLICAÇÃO: EMCONTOS EDITORIAL
A Antologia “Cicatrizes na Alma”, denominada apenas como Antologia nos demais itens deste Edital, é promovida pelo EmContos Antologias.
Este edital se refere à sua segunda edição
SINOPSE:
Quantas dores conseguimos superar? O que é te deixar cicatrizes para sempre?
Às vezes nada parece o suficiente. Nos sentimos perdidos, em meio a escuridão, procurando nos apoiar em algo que parece impossível de encontrar. Somos recobertos de vazio, diante das lágrimas, acusações e atos dos outros que destroçam nosso coração. Como superar? Como seguir em frente diante das feridas deixadas em nossa alma? Com histórias capazes de fazer os leitores refletirem, essa antologia deseja não apenas mostrar a tristeza que pode nos consumir em qualquer instante. Deseja celebrar a empatia, fazer com que cada um abra os olhos e celebre a vida, não só a própria, mas do outro, que pode estar ao lado, precisando apenas de um gesto de afeto e apoio para seguir adiante. Pois é bem melhor expor as Cicatrizes da Alma e reconstruir-se, fortalecer-se, a permitir-se que a dor te afogue.
SOBRE A ANTOLOGIA:
A ideia inicial do projeto e teve sua consolidação na Amazon, no ano de 2018. Com aproximadamente 90 contos dividido em duas partes. Em 2019, publicamos uma primeira edição em livro físico, lançado em 01 de setembro, na Bienal do Rio. Nesse projeto, o EmContos Editorial tem a finalidade de trazer à tona o mesmo projeto com os autores que já participaram e alguns outros nomes que serão selecionados pela Organizadora. Sabemos que não basta que combatamos a depressão apenas em Setembro, todos precisamos de ajuda nos outros 335 dias restantes do ano também.
Cicatrizes na Alma, a é um sonho de todos nós. Autores, idealizadores e psicólogos e que pretendemos compartilha-lo, sabendo que precisamos falar sobre isso. Mas que principalmente, precisamos ter responsabilidade quando a depressão nos bate a porta.
Link do edital completo: https://bit.ly/2Auv1bECicatrizes
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DA COR DO CHOCOLATE
Renata Maggessi
O aroma do café recém coado me fez sorrir. Ouvi os passos de Tamara e estendi as mãos, à espera da xícara.
— Está bem quente, cuidado — disse ela, me dando um beijo nos lábios e colocando a xícara entre as minhas mãos.
Aproximei o rosto, e a fumaça fez cosquinha no meu nariz. Sorri mais uma vez e aproximei os lábios da borda. Com cuidado, dei uma leve bicada para sentir a temperatura e sorvi o líquido.
— Hoje está cinza.
— Deixei esfriar um pouquinho para você não se queimar de novo. Quer que passe manteiga no pão?
— Não, pode deixar. Você passa muita manteiga. Mesmo quando passa pouco, fico com a boca amarela — rimos.
— Vai vestir a camisa azul?
— Não, prefiro a cor de chocolate. Além de estar meio frio, hoje é um dia especial.
Terminamos o café da manhã e fui me arrumar.
— Como estou? — falei, após fechar o último botão da camisa e pegar os óculos escuros e a bengala.
— Lindo, como sempre, ainda mais com essa camisa cor-de-rosa.
***
Sou cego de nascença. Minha mãe pegou rubéola durante a gravidez. Na época, sugeriram que interrompesse a gestação, dizendo que o bebê poderia nascer surdo, cego, com problemas cognitivos… mas ela foi contra, e meu pai a apoiou.
Logo que nasci, receberam o diagnóstico e não se abalaram.
Foi ela que me ensinou a “ver” as cores. Para mim, elas têm sabor, cheiro, textura e temperatura. Eu tinha uns sete anos quando cheguei da escola chorando.
— O Dario disse que hoje o céu estava cinza. Perguntei e ele caçoou de mim. Eu queria saber como é isso. — Fiz beicinho e senti mais uma lágrima rolando pelo meu rosto. — É muito ruim ser como sou.
— Matheus, ninguém é igual a ninguém, todos temos algo diferente. Você pode não enxergar como eu ou seu pai, mas pode ver do seu jeito. E estou aqui para isso. Espere aqui, vou até a cozinha e já volto.
Houve um abre-fecha de armário e geladeira, o barulho do pó sendo colocado no filtro, o blurp-blurp da água fervendo e o delicioso e tão característico aroma de café.
Eu percebia que ela entrava e saía da sala, até que parou.
— Venha até a mesa, Matheus.
Levantei do sofá, dei os seis passos e cheguei à minha cadeira.
— Isso é preto. — Ela esticou minha mão e pousou uma xícara. Instintivamente, aproximei o nariz.
— É quente e cheiroso — falei.
— Sim. Café quente e coado na hora é preto. — Recolheu a xícara. — E isso é branco.
Ela colocou na minha mão um monte de algodão. Sorri e pousei o chumaço na mesa.
— Abra a mão. — Obedeci. — E isso é azul.
Soltei depressa o cubo de gelo.
— Estou entendendo, mamãe! Estou compreendendo as cores! Existem muitas? Quero conhecer todas!
— Quantas exatamente existem eu não sei. — Ela deu uma risada gostosa. — Mas podemos começar com as mais comuns, que tal?
Aos poucos fui associando mais coisas às cores. O preto, por exemplo, era quente, cheiroso e me remetia a boas lembranças, mas quando esfriava um pouco, ficava cinza (entendi que quando o céu estava assim, nem a temperatura nem o cheiro eram muito agradáveis e geralmente isso acontecia quando eu fazia alguma estripulia e levava bronca. Os trovões tinham o mesmo tom dos gritos do meu pai).
Certa vez eu estava chateado e, na tentativa de me animar, mamãe me deu uma caixa de chocolates. Claro que eu já tinha comido chocolate antes, mas nunca havia associado a nenhuma cor, até aquele dia.
Depois de ter comido quase a caixa toda, fui até a sala.
— Mamãe, o chocolate é cor-de-rosa?
— Não… Quer dizer… Por que você acha isso?
— Porque me sinto bem quando estou feliz e o chocolate me dá essa sensação. Mas ele não é quente, então não pode ser preto. Aí fiquei pensando: de qual cor é o chocolate? E percebi que só pode ser rosa.
Ela se abaixou, me abraçou e, chorando, disse:
— Você entendeu direitinho! Não há nada mais doce do que um chocolate, assim como não há cor mais doce do que rosa.
***
— Matheus, meu amor, a médica está chamando.
Entramos no consultório para mais um ultrassom e sabermos como está o crescimento do nosso neném.
— Vamos lá. — A Dra. Nara começou. — Gestação de vinte semanas, peso e tamanho compatíveis. Pela posição que se encontra, dá para ver o sexo. Querem saber?
— Sim — falamos ao mesmo tempo, e apertei a mão da Tamara. Era uma sensação única, indescritível e maravilhosa.
— Parabéns! Terão uma menina! Já escolheram o nome?
— Rosa — falei.
Tamara levou minha mão aos seus lábios, que sorriam.
— Sim, Rosa. — Ela confirmou. — Nossa menina será linda como a cor e doce como o chocolate.
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Carta para um amigo
Marco Antonio
Estava sem nada para fazer, então resolvi escrever essa carta para você
Eu sei que faz um bom tempo que a gente não conversa
Sei também que negligenciei bastante nossa amizade, e acima disso nosso amor
Mas você sabe como as coisas são…
O tempo passa, a cabeça muda…
Nós mudamos
Queremos desbravar o mundo, conhecer outras culturas
Mas nem sabemos o nome de nossos vizinhos
Nessa mudança toda, acabamos deixando pra trás pessoas importantes
Aquelas que acenderam a chama da esperança quando o frio nos dominava
Aquelas que nos deram suporte nos momentos duros da vida
Nos erguemos, melhoramos, e o que fazemos quando elas precisam de nós?
Viram as costas e nos abandonam, assim como eu fiz contigo.
Você não teria me deixado na mão. Acho que não poderia, pra falar a verdade
Mas acho que se houvesse um “como” você nem pensaria no “porquê”
Afinal de contas, você se importava comigo de maneira incondicional
E eu te abandonei quando mais precisava, mesmo sempre estando ao meu lado
Não sei como você tem passado, mas eu sinto que você não está bem
Aconteceram algumas coisas que te deixaram pra baixo
Eu sei
Por isso eu voltei, e espero que meu retorno possa te ajudar de alguma forma
Eu te peço desculpas e imploro perdão por tudo que lhe causei
Vou dar meu melhor para não te abandonar outra vez mais
Mesmo que outras pessoas entrem em minha vida... Elas nunca tomarão seu lugar
Não outra vez
Seremos nós dois contra o mundo
Eu e você
Ou melhor dizendo, eu e eu.
Te amo, se cuida
De agora em diante, olharei mais pra dentro pra te fazer umas visitinhas
Conte sempre comigo, eu mesmo. Nunca mais vou te deixar na mão.
#colunas#emcontos#emcontoseditorial#Marco Antonio#Carta para um amigo#texto#cronica#carta#amigo#amizade
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Quarentena
Garbo Nael
É na solidão do isolamento onde eu encontro a paz necessária para o revigoramento do meu ser.
A quarentena não é contra a doença, mas a favor de mim.
Não significa evitar uma possível contaminação, mas promover a descontaminação de mim mesmo.
Imaginava controlar tudo ao meu redor sem perceber a desordem que habitava o meu íntimo.
Mantinha-me, inconscientemente, prisioneiro de mim mesmo, abandonado no calabouço pútrido dos problemas da vida moderna, da incerteza do amanhã.
De repente, o mundo parou. Um estalo surgiu no silêncio, um raio de luz despontou na escuridão.
A quarentena transformou-se em desintoxicação.
Entre cabelos crescidos, barba por fazer e quilos a perder, reflito serenamente.
Quem sou eu? Quem é você?
Isolamento social virou empoderamento pessoal.
Não sairei desta pandemia da mesma forma que entrei. Aliás, que pandemia? Já nem sei.
Já não sou mais aquele lá. Sou este aqui. Renovado, revitalizado, reenergizado, reinventado.
São tantas reflexões, inspirações e construções. Tantas buscas, encontros e desapegos.
Impossível a mesmice. Chega da velha cegueira, da miserável mudez, da inflexível surdez.
A minha mudança é a mudança de tudo a minha volta.
A minha conquista é a conquista de todos.
O meu mundo é o mundo de todos.
Após a pandemia, nova quarentena. Plena, devastadora, definitiva.
Porque eu decidi ser eu mesmo, para mim mesmo, por mim mesmo.
E você?
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Carta segunda - Meus segredos italianos
Sobre Ermelinda Ottoni
Lia Helena Giannechini
Ah minha amiga querida. Sinto sua falta. Queria poder lhe ver neste momento tão difícil, onde minha fortuna se reduz tanto, com as invasões de grileiros que nos tomam as fazendas do Paraná, da qual fui agraciada, com a morte de meu marido, pela família dos Paes de Barros, detentores de nossa fortuna.
Já lhe contei que, eu e Lulu, nos casamos com separação de bens por imposição de sua família. Um de meus irmãos também se casou com uma irmã de Lulu, Paulina, mas ele a deixou. Não entendemos muito porque, pois essa história fica guardada a sete segredos pela família deles. Em minha família, somos italianos de descendência e fazemos nossas derrocadas a céu aberto, como é costume dos italianos. Mas, na sociedade paulistana isso é impossível. Tudo é guardado a sete chaves, em condições tão particulares, que só temos acesso a pequenos detalhes, como esse que lhe contei. Meu irmão não continuou seu casamento. E eu acho pessoalmente, que não foi escolha dele se separar de sua mulher.

Por isso, este detalhe é tão importante agora. Nossa fortuna, que eu tanto ajudei a construir está nas mãos de sua família. E eles não acreditam nesse projeto da Escola de Agronomia. Seu irmão, Antonio Francisco de Paula Souza, é fundador da Escola Politécnica de São Paulo, e lá eles colocam o nosso dinheiro.
Sinto falta de nossa família de italianos. Meu tio avô, ajudou meu pai, Christiano Ottoni, a estudar. Com 15 anos ele foi viver na casa de seu tio avô, José Eloy Ottoni, que era um latinista, poeta, secretário da Academia da Marinha e fez meu pai estudar nas melhores escolas que pode em sua época. Dele nasceu minha paixão pelos estudos, pelas línguas que eu falo fluentemente, como o francês, inglês e alemão. Queria poder ter contato com esse lado italiano da família, para ser fluente em italiano também. Mas meu pai, com o desejo de viver a república e trabalhar por ela, nos deixou sem condições para isso. Tenho contato com minha irmã, Virginia, que vive na França, e da qual meus pais tomam conta de meus sobrinhos, depois da morte de seu marido, Misael Vieira Machado da Cunha, único barão de Madalena de linhagem portuguesa.

Eles, hoje por quererem se tornar adultos, pensam no nome que querem adotar. Cristiano desfaz mal-estares subtendidos em escolhas perfilhadas de sobrenomes familiares: "Lembro-me que, quando teu maninho disse que se chamaria – C. Ottoni Vieira, acudiste – eu não, não sou Ottoni, sou Machado da Cunha. Eu não me zanguei com isso, mas agora que te assinas – Misael Ottoni Vieira digo-te que é bonito assim, tomas de papai o nome – Vieira – e de mamãe o Ottoni". Misael, homônimo do falecido pai, parece sofrer com a exclusão do sobrenome Machado da Cunha. As cartas não a explicam. Preferências infantis por nomes de família insinuam rumos afetivos e também tensões abertas por adultos no sentido de expor genealogias e lugares de prestígio ou de apagá-los, se desgastados...[1]
Sei o quanto é importante esse nome. Depois que casei e tive o Souza Queiroz em meu nome tudo mudou. Mas, como lhe disse, ainda sinto a falta desse lado italiano Ottoni, de cultura e belas artes que meu tio, bisavô José Eloy, tanto tentou incutir em meu pai. Os poemas dele, “Poesias Avulsas”, “Drama Alusivo ao Caráter e ao Talento de Boca - ge”, “Ode aos Anos de Jorge IV da Inglaterra”, “Anália de Josino”, “O livro de Jó”[2], ainda tenho-os comigo. São anos dourados para mim, onde essa influência me fez ser a mulher que sou atualmente. Segui meu marido em todas suas construções, trabalhando lado a lado com ele, como os italianos fazem. Disto eu tenho orgulho. Não fiz, como minha sogra, Dona Francisca de Paula Souza, que se enterrou em sua casa. Vivo, meu mundo com tudo o que posso hoje em dia. Ajudo ao catecismo da cidade e procuro deixar meu conhecimento para esses pequeninos, que vão fazer a história de nosso amanhã.
Nisso a Escola de Agronomia tem essa referência. O mundo das poesias, das letras fez parte de meu legado. E a Escola é um sonho tanto meu quanto de Lulu. Nosso projeto é poder dar voz a esses pequenos agricultores, que constroem o nosso amanhã, com amor e gratidão por tudo que recebi de herança. Nessas letras eu me adorno, como uma anfitriã de tantas personalidades mundiais, que aqui recebo em minha casa e cujo registro faço em meu livro de visitas, que aqui está no hall de entrada de minha casa no Palacete Boyes, que hoje eu vivo.

Recordo cada uma delas e nas próximas cartas vou lhe contar.
[1] Tornando "à simpleza antiga". Rio de Janeiro, fins do século XIX, Suely Gomes Costa, Print version ISSN 1413-7704On-line version ISSN 1980-542X, Tempo vol.12 no.24 Niterói 2008 https://doi.org/10.1590/S1413-77042008000100009, retirado de Cartas aos Netos, de Cristiano e Barbara Ottoni
[2] https://museuregionalcasadosottoni.museus.gov.br/wpcontent/uploads/2019/05/GuiaMRCOGrafica_WEB_10_05-1.pdf

#colunas#emcontos#emcontoseditorial#LiaHelenaGiannechini#Carta segunda#Meus Segredos Italianos#Depoimento#Ermelinda Ottoni
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DRAMA
Paulo Narley
Ele olhou o céu. Encarou aquela imensidão. O Sol, com seu brilho intenso, fez com que os olhos do garoto não conseguissem ficar abertos por muito tempo. “Uma pena!”, ele pensou. Gostava muito de ver o Sol e toda a sua grandeza. Tirou os chinelos, em uma tentativa de sentir e se conectar com o solo abaixo de seus pés. Já que faria realmente aquilo, queria, pelo menos, se sentir conectado com alguma coisa.
Fazia um tempo que ele não se sentia mais preso a nada. Não se sentia parte de nada. Não conseguia entender de que forma sua vida, de uma hora para outra, havia se tornado em uma sucessão de quedas. Ou será que aquilo era drama? Ele ouvia isso o tempo todo. As pessoas estavam cansadas de todos os seus dramas.
Conseguia se lembrar da primeira vez em que ouviu que tudo não passava de drama. Ele tinha 8 anos de idade e chorava, pois sem querer, tinha matado seu hamster de estimação. Chorava e não conseguia se perdoar. E, então, ouviu de seu irmão as seguintes palavras: “Deixa de drama, viadinho!” DRAMA, VIADINHO... Aquelas palavras o acompanhariam durante muito tempo.
Mas não é esse o ponto que importa. O fato é que essa palavra, DRAMA, foi repetida diversas vezes no decorrer de sua vida. Era drama quando ele tirava uma nota baixa e se sentia mal por ver todo o esforço de seus pais. Era drama quando ele disse que não queria ser médico, e sim escritor. Era drama quando ele não conseguia aceitar a separação dos pais. Era drama quando se recusava em morar apenas com um deles. Era drama quando seu pai lhe deu um soco na cara, ao descobrir que ele tinha um namorado, com artigo masculino, e não feminino. Era drama também quando o seu namoro se espalhou por toda a escola e seus colegas lhe deixaram com um olho inchado, e tudo o que ouviu do diretor era que deveria deixar de drama e lidar com isso como um homem. Era drama. Era drama sempre que ele corria pro quarto quando seu pai o mandava se sentar como homem. Tudo o que ele queria era chamar atenção. Pelo menos, foi isso o que as pessoas pensaram quando ele pendurou aquela corda no teto, passou-a por seu pescoço, subiu na cadeira, se deixou suspender no ar.
Era drama. A vida não passava de um grande drama. E era por isso que ele estava ali, no meio de mais um drama. Talvez o último. O ato final. Talvez, depois daquilo, ele conseguisse fechar as cortinas de uma vez por todas. Seria melhor para todos, afinal. Sem dramas. Sem os seus dramas.
Enquanto caminhava, podia sentir a grama molhada em seus pés. Aquilo dava uma sensação de alívio, mesmo que momentâneo. E, então, viu um beija-flor suspenso no ar, “beijando” uma flor, e pensou em como seria bom poder voar.
Sentou-se na grama por um momento. Olhou para o rio e imaginou o quanto de vida havia ali embaixo daquelas águas. Queria fazer parte de algo. Queria sentir algo. Deitou-se, respirou, fechou os olhos e tudo, então, voltou à sua mente. Ele havia prometido para si mesmo que tudo ia ficar bem. Mas não ficava. Não passava. Aquela sensação de não pertencer, de estar nos lugares errados, inclusive, no corpo errado. Aqueles braços finos. Aquela voz. Aquele jeito de andar. Nada estava encaixado.
Decidiu acabar com o drama. Olhou seu celular. 10 chamadas perdidas de casa. Drama, é o que eles devem estar pensando. Mais um de seus dramas. Levantou-se, jogou no chão tudo o que estava na mochila. E, então, viu uma foto do namorado. Por um instante, encarando aqueles olhos congelados na foto, pensou em não findar-se. Pensou em como aquilo iria devastar seu grande amor. Mas ele mesmo já estava devastado e era despedaçado a cada amanhecer. Não podia mais viver com aquilo, com aquela sensação. Colocou a foto no bolso, como uma tentativa de levá-lo consigo.
Encheu a mochila de pedras e colocou em suas costas. Quase não suportou o peso. Então, começou a andar em direção ao rio. Sentiu a água gelada em sua perna. A sensação era boa. Lembrava do dia em que conhecera seu namorado. Naquele banho de piscina.
Enquanto avançava, sentia a água em sua barriga e a imagem de todas as vezes em que, depois de se amarem, eles corriam para o chuveiro. Lembrou-se. A água agora estava em seu pescoço e era cada vez mais difícil se equilibrar com todo aquele peso. Foi ai que ele afundou, deixou de sentir o chão. Uma sensação com a qual já estava acostumado. Por um momento, enquanto procurava pelo ar, pensou em desistir, mas já era tarde. Sentiu novamente o chão e soube que estava no fundo do rio. Não conseguia abrir os olhos. Não queria abrir os olhos. Permaneceu dessa forma até que todo o ar deixou seu corpo...
#colunas#emcontos#emcontoseditorial#Paulo Narley#Drama#LGBTQIA+#Literatura LGBTQIA+#Conto#contoscurtos
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Amores e desamores da literatura brasileira.
Decidir publicar nunca foi algo que me acorreu, achava que não me encaixaria dentro da literatura brasileira, minha escrita nunca foi rebuscada como me era apresentada nas aulas de literatura, nunca parecia uma Clarice Lispector ou um Manoel Bandeira. Por isso guardava minhas histórias.
Até um dia receber um incentivo para arriscar e dar uma chance para aquele mundo que eu tanto admirava, adoradora de livros como sempre fui, acabei arriscando, sentei todos os dias em frente ao computador e escrevia a história de Charlotte, em pouco mais de um mês estava pronta, mas e agora? O que faria com ela? Como publicaria?
Comecei a pesquisar e enviar meu originais sem nem ter ideia de quanto custava para publicar um livro no Brasil, a surpresa foi grande ao descobrir que nada era tão simples como aprecia e os valores eram tão distante da minha realidade que por meses guardei a história de Charlotte apenas para mim, porém a vontade despertada não cedia e dentro de mim algo gritava para que “Flamejante” fosse lançado.
Em meio ao caos em minha mente surgiu a história de Amy, e lá estava eu, dois livros na mão e nenhuma maneira de publica-los, a frustração foi me tomando até conhecer as antologias, livros onde podia colocar minhas histórias junto com outros autores, de forma mais acessível e que eu entendesse o mundo literário.
As antologias abriram as portas para que eu entendesse a maravilha e delicia que era publicar um livro e ver as pessoas conhecendo um pouco daquele mundo que você criava, aliás esse sempre foi o que me incentivava a escrever, conseguir estar na Terra e ao mesmo tempo em lugares como Nárnia ou Hogwarts. Depois de muita pesquisa lancei meus dois livros.
Um mundo se abriu para mim e percebi o quanto os autores brasileiros têm uma enorme dificuldade em ter destaque em seu próprio país, os autores internacionais têm uma imagem mais forte e cobiçada, e livros brasileiros viram referência como antigos e clássicos, mesmo tendo vários autores brasileiros atuais com uma escrita sensacional, passei a notar que a literatura é mais apaixonante vista de perto e sabendo a história dos autores, mas também decepciona ao ter que lutar muito para ter uma atenção que muitas vezes é dada apenas por ser um autor gringo.
Pare um minuto e procure um autor da sua cidade, dê uma chance para a literatura brasileira reinar e se reinventar no seu coração, com toda certeza você vai se apaixonar.
#colunas#emcontos#emcontoseditorial#Amandia Rodrigues#Amores e desamores da literatura#autores nacionais#publicação#literatura nacional
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FALA AÊ! (Crônicas do Cotidiano Carioca)
Guilherme Schrago
A CORNA
Natalício se recusava a acreditar na história de Dona Gersina.
Apesar de ser a senhora mais velha da rua, e costumeiramente vangloriar-se da sua condição de religiosa para intitular-se a guardiã da moral e dos bons costumes do bairro, a verdade é que a sua fama de fofoqueira era mais forte e reconhecida por todos dali.
— Dona Gersina, seu Valtenir sempre foi um homem correto.
— Um santo do pau-oco, isso sim! Um sem vergonha! Safado!
Ela insistia que havia visto o cara saindo do Motel Pecadillos, a pé, abraçado com uma loura de farmácia.
— Uma vagabunda! Daquelas que só querem destruir famílias cristãs! Com mamões deste tamanho...
Elionélson, que adorava ver o circo pegar fogo, babava só de imaginar o tamanho dos peitos que a senhora mimicava para descrever a louraça Belzebu.
— Um absurdo mesmo! Que safado! Devíamos contar tudo para Dona Adalgisa!
— Aquela pobre senhora! — concordou Dona Gersina, abaixando o olhar em claro sinal de compadecimento — Coitadinha!
— Calma aí gente, em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher — Natalício continuava tentando apaziguar os ânimos, pois odiava confusão e já começava a sentir o cheiro de barraco no ar. Olhou na direção do sabe-tudo da rua, Oriovaldo, implorando pelo apoio de alguém que tinha opiniões respeitadas por todos — não é, Oriovaldo?
— Assim diz o ditado popular, mas há também outro, que avisa que “por mais que a verdade venha a doer, a mentira não irá curar”.
“O filho da puta achava sempre uma maneira de ficar em cima do muro. De que adiantava saber tanta coisa se era incapaz de tomar uma posição? Natalício perdia a batalha contra D. Gersina graças ao apoio entusiasta de Elionélson e a irritante neutralidade de Oriovaldo.”
— Aquele safado chega tarde todas as noites! Trabalhando? A pobre Adalgisa pensa que sim. E agora sabemos que na verdade está sempre na esbórnia! Pecador! Esbaldando-se com uma piranha qualquer naquele antro de satanás do Pecadillos! Enquanto isso, a coitada fica em casa fazendo comida, e ele janta a vagabunda na rua!
— Isso mesmo! — berra Elionélson, já sentindo cheiro de sangue — um absurdo! E a pobre ainda passou as últimas semanas fora, dizem que cuidando da mãe do safado! Isso não pode ficar assim!
— Verdade, lembrou-se do babado D. Gersina. Enquanto a esposa, tão dedicada, cuida da sogra, ele se aproveita da liberdade para aumentar ainda mais o tamanho dos chifres na cabeça da coitada!
A gasolina colocada na fogueira por Elionélson, lembrando a caridade da corna, foi a gota d’água para definir a discussão. Saíram em peregrinação rumo à casa de D. Adalgisa, decididos a delatar a infidelidade de Valtenir.
Natalício balançava a cabeça de um lado para o outro, contrariado com o veneno da fofoqueira. Elionélson e D. Gersina puxavam o grupo, empunhando as tochas vingadoras da moral e dos bons costumes. Oriovaldo apenas acompanhava calado, com o seu ar de superioridade, talvez para não se comprometer, talvez acreditando que o silêncio separa os gênios dos ignorantes. Sempre achou burros os que insistem em falar sobre aquilo que não conhecem, ele que não daria um mole destes.
Elionélson tocou a campainha, sentindo um prazer mórbido em saber que o couro ia comer. A porta se abriu e a visão surgiu na varanda, para o espanto de todos.
“Seu cabelo, agora de um louro platinado, brilhava como um ovo de Páscoa neon no escuro. Em seu peito, duas bolas estufadas pareciam que cairiam a qualquer momento, pois claramente não cabiam onde estavam espremidas. Era como tentar fixar orelhas de elefante em um rato. A antiga barriga pronunciada havia desaparecido em uma mágica, deixando uma tábua achatada em seu lugar. Era uma nova Adalgisa. Feliz como um pinto no lixo, linda, parecia a Mérilin Monrou de Roliúdi.”
Ficaram em silêncio por algum tempo. A cabeça maldosa de Elionélson pensava em palavras como “silicone” e “lipuspiração”. Natalício respirava, aliviado. Oriovaldo, mantinha sua cara de paisagem, escondendo uma surpresa que alguém com a sua sabedoria não poderia admitir. Seu rosto demonstrava um “eu já sabia” superior, e mais falso do que nota de três Reais.
Dona Gersina saiu de fininho, sem que ninguém percebesse. Sabia que a coisa ia feder para o seu lado. Nem percebeu seu Valtenir chegando pelo outro lado com um buquê de flores em mãos, surpreso com o grupo parado e estarrecido diante da porta da sua casa, sem saber o que fazer ou para onde ir.
Ele estava tão feliz com a nova mulher. Trabalhou como um louco para financiar os procedimentos que ela queria tanto fazer. E aprovou o resultado.
Só pensava em livrar-se logo de todo mundo e seguir colhendo os frutos da tecnologia.
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Valorização
Erik Thomazi
Já pararam pra analisar que, quando se fala em valorização, também encontramos algumas coisas relacionadas a juízo de valores? Quando se fala desse aspecto geralmente temos sempre a impressão de que somente se trata de uma questão mais de ordem pessoal mas, parando para analisar, se trata de algo bem mais abrangente. Está ligado à nossa história enquanto sociedade.
Vamos olhar um pouco sobre isso...
Temos alguns exemplos bem significativos na história da humanidade:
“Descoberta” do Brasil: Pra começo de conversa não teve nada sendo descoberto não e muito menos achado porque não tinha nada perdido. Tava bonitinho aqui com milhares de pessoas vivendo de várias denominações e costumes que atualmente chamamos de índios, ou seja, as diversas culturas que existiam aqui nesse solo foram simplesmente qualificadas como não existentes e passaram a ser uma única.
Escravidão no Brasil: A valorização de um pouco em detrimento de outro que acreditavam ser de caráter inferior pois não tinham os mesmos preceitos
Segunda Guerra Mundial: Falo dessa pois a crença de que o mundo deveria ser “dirigido” por pessoas ditas puras foi catastrófica.
Mas, saindo do âmbito histórico que não nos compete nessa coluna, vamos falar sobre escrita, literatura e mercado.
Se dizer escritor hoje é o mesmo que dizer que você não trabalha, é quase a mesma medida de dizer que professor não trabalha, só dá aula, quando ouvimos a pergunta: O que você faz? E a resposta é: Sou escritor, sempre vem um Uhmm... ou um Ah... Entendi, mas a pergunta que fica de tudo isso é: Qual o problema de eu ser escritor? É uma profissão sabia?! Tem dois grandes eventos internacionais que ocorrem no país que dizem que somos profissionais do livro (juro que quando li isso a primeira vez eu me senti todo importante, olha aí, tá vendo? Até a gente faz menos juízo do que deveria da gente mesmo) e isso só prova uma coisa... Valorização muda com o olhar.
Quantos livros nacionais você já leu?! Além dos de “leitura obrigatória” para o vestibular? Quantos autores nacionais que despontam todos os meses em editoras que trabalham para promovê-los tirá-los do anonimato?
A vida de um profissional da escrita é uma vida de batalha como qualquer outro trabalho que se tem. Não é fácil trazer para o papel ou mesmo para linhas digitadas tudo que se quer passar ou transmitir, como disse um outro colunista recentemente aqui nesse site, nossos personagens têm vida própria e fazem o rumo da história que bem desejam.
Somos instrumentos de trabalho até mesmo para a ficção que criamos e isso não só transforma linhas em histórias, mas também transforma fantasias em vidas.
Sabemos como somos capazes de produzir e sermos aquilo que somos quando Basílio e Capitu embasam nossos Luizes e Anas.
Que da vida brote a inspiração e dela nasçam novos mundos e outras vidas.
Boa escrita e melhor ainda, boas leituras!!
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A verdade por trás do conto da Aida
Humberto Barino
O conto da Aia me assusta. Me assusta muito. Me assusta porque ele não está muito distante de nossa realidade. A receita para que o nosso mundo se torne como o criado por Margaret Atwood é bem simples: Infertilidade, ganância e fanatismo religioso. E digo mais meu caro, estamos cada vez mais próximos da infertilidade, os demais sempre existiram.
Segundo um estudo de 2017[1], a redução da fertilidade nos homens ocidentais caiu em mais da metade nos últimos quarenta anos. Ou seja, em termos bem brasileiros, um homem da minha idade tem metade dos espermatozoides nadando no saco, do que os homens da geração anterior tinham na mesma idade.
Segundo a folha de São Paulo[2], o número de igrejas, só na cidade de SP, cresceu em mais de dois mil e quatrocentos, quase cerca de cem igrejas ao ano, sem contar 2020. A tendência acentuada começou a partir de 1990. Fora, é claro, todo o Brasil. Sem contar o número das outras cidade e países.
Não irei citar aqui os radicais. Os islâmicos e etc…. Mas percebam a grande sacada de Margaret Atwood, ela simplesmente deu um pequeno salto ao extremismo e criou uma ótima personagem.
Nas últimas eleições de 2018, a bancada evangélica cresceu. Enquanto que a bancada gay, ou LGBTQIA+, nem existe. No conto da aia, os homossexuais são considerados traidores por falsidade de gênero. Nas últimas eleições ficou “bem claro” que o Brasil é um país cristão simplesmente porque a maioria dos brasileiros são cristãos. Mas são mesmos? Brasil ame-o ou deixe-o combina mesmo com amai-vos uns aos outros como a si mesmo?
Sem mais discussões, sem mais aprofundamento. Apenas fatos, e uma pequena reflexão: O que aconteceria se surgisse um grupo de extremistas religiosos e organizassem atentados aqui no Brasil, assim como ocorreu no mundo paralelo de Margaret Atwood?
[1] https://veja.abril.com.br/saude/reducao-da-fertilidade-masculina-pode-levar-a-extincao-humana/
[2] https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/09/sao-paulo-ganha-2433-novas-igrejas-em-25-anos-com-expansao-evangelica.shtml
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Até o fim
Marlos Quintanilha
O vento batia forte levando as ondas a quebrarem quase à beira da estrada de chão batido que levava até a praia. Dona Arlete estava cada vez mais ofegante enquanto se aproximava do mar. Ela não olhava para trás. Seu coração fazia isso por seus olhos. Mesmo sem olhar ela sabia que eles estavam lá. Suas crianças. Seus meninos. Aqueles por quem ela suportou até ali. Ela queria lutar mais um pouco. Buscou forças onde já não existia nem esperança. Ela queria ir em frente. Fazer aquilo que, em sua opinião, resolveria todos os seus problemas.
O sol já tocava o mar ao longe. No espelho d’água o astro-rei iniciava seu mergulho noturno. As águas estavam avermelhadas. Era uma espécie de sangue de ouro, pensava dona Arlete. Aquele era o cenário perfeito. Ela então fechou os olhos e inspirou quase que parando de respirar. O cheiro salgado da maresia invadiu seu nariz.
Naquele mesmo dia bem longe dali...
Este era o dia que a família Oliveira sairia em sua primeira viagem missionária. Todos estavam muito ansiosos pela empreitada em nome de Cristo. Bem, todos exceto um membro da família, Letícia. A jovem estava com pneumonia e não poderia ir. A jovem escreveu uma carta e a colocou numa garrafa, pedindo ao seu pai que a lançasse ao mar. Ela queria que suas palavras pudessem chegar aonde ela não chegaria. No porto ela despediu-se da família ao som de muito choro. Antes de chegar em casa uma chuva torrencial desabou sobre a cidade. Mais tarde naquela noite chega a notícia devastadora. Em meio a tempestade a embarcação veio a pique, levando consigo a vida de todos os tripulantes.
De volta à praia...
A maré já subia até os pés de dona Arlete que permanecia de olhos fechados. Seu coração estava apertado enquanto ela lutava contra a súbita vontade de olhar para trás. Ela sabia se o fizesse, mudaria de ideia na mesma hora. Foi aí que seu cheio predileto a tocou. Era o perfume com aroma de flores que passava nos seus filhos.
No passado, quando seu companheiro saiu de casa para comprar bebida e nunca mais voltou ela pensou que não daria conta de criar a pequena Ruth, o espevitado Ézio e a doce Vânia. Por muitas noites ela amanheceu em claro, pois a barriga reclamava a falta do alimento. A barriga estava vazia, mas o coração estava cheio por ver os filhos bem.
Dona Arlete nunca havia conhecido a Deus até que um pastor passara pela aldeia numa missão. O povo contava histórias sobre a criação do mundo de acordo com as lendas locais e até ali foi no que ela acreditou. Ela ouviu falar de um Deus que fazia milagres. Falaram que ele era a amigo e estaria presente para ajudar a vencer todos os problemas. Horas depois aquele pastor foi morto pelo povo local enquanto pregava a palavra do seu Deus e nunca mais foi ouvido falar sobre isso na região. Contudo dona Arlete ficou com aquelas palavras na cabeça. O tal Deus que poderia ser seu amigo. Era só chamar por ele.
O coração de dona Arlete palpitava em seu peito. Em sua mente tudo se resolveria com sua partida. As crianças dariam um jeito assim como ela deu quando viu-se sozinha no mundo com eles. Era um destino cruel. Porém um desfecho que ela não poderia evitar. Se ela olhasse para trás, certamente vacilaria.
Num último ato desesperado e já sem forças ela caiu de joelhos na areia branca e úmida. Nada se comparava com seu coração acelerado e o peso do mundo em seus ombros, era um fardo pesado e cruel. Fardo que ela já não aguentava mais. Foi aí que ela se lembrou das palavras do pastor. Ele dizia que Deus poderia ajuda-la. Sua pergunta era se essa ajuda serviria para seu vazio.
Num ato despretensioso ela sem abrir a boca, movendo apenas os lábios, chamou pelo Deus do pastor. Pediu que ele viesse até ela. Tirasse ela daquela dor. Nada aconteceu. Deus não apareceu. A única coisa que apareceu foram uns pedaços de embarcação, certamente fruto de um naufrágio devido à última tempestade que trouxe junto uma garrafa com uma carta dentro que dizia:
Olá, primeiro.
Não foi a força das águas que levou essa carta até você. Foi à força de alguém que te ama. É o amor daquele que levou meus pais para o outro lado do mundo. Então esse texto não é sobre você. Ou sobre mim. Mas sobre Jesus - o Filho de Deus que é um com o Pai - e que morreu por nós, pecadores. Eis o que nos torna tão iguais: eu e você somos criações de Deus, desesperadamente necessitados de um Salvador. Antes de me despedir, faço um convite: renda-se ao Salvador. Erga os olhos de si e coloque-os mais alto, em Cristo. Sua vida não é sobre você. É sobre Ele. Desista de viver para você, viva para a Glória de Deus. Isso não é a morte. Isso é um recomeço uma nova vida.
Com afeto, Letícia.
A mulher chorou copiosamente depois de ler a carta. Era tudo que ela precisava ouvir naquele momento. Ela pediu e ele respondeu. Mesmo sem conhecê-la, ele estava ouvindo. Ela duvidava até que ele soubesse da sua existência. Mas essas respostas agora podiam esperar. Ela queria correr para a orla e abraçar seus filhos e apresentar seu novo amigo, seu salvador. Aquele que esteve com ela mesmo sem ela saber, até o fim.
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As histórias que não me contaram
Madu Machado
Eu sempre fui apaixonada por contos de fadas e qualquer tipo de histórias, elas davam asas a veia criativa que sempre tive dentro de mim e se materializaram desde cedo em forma de brincadeiras. Minha mãe tem uma recordação que ama contar de quando eu deveria ter por volta de 5 anos e corria pela casa gritando: “Fuja Branca de Neve, fuja”. Eu fico com um sorriso bobo toda vez que ela me conta isso e hoje em dia gosto de relacionar essa lembrança um pouco ao ato de ler. Toda vez que leitores abrem um livro e se sentem à vontade para entrar naquele novo universo, acabam se apropriando daquilo de forma tão forte quanto eu aos 5 anos que acreditava poder ser a própria Branca de Neve fugindo de um cômodo para o outro. Claro que nem todas as pessoas são iguais e vão experienciar a mesma leitura na mesma intensidade, mas o que estou tentando dizer é que a literatura, assim como as diversas formas de arte, é um grande instrumento de empatia que por meio de suas histórias têm o poder de representar e nos fazer acreditar que podemos nos tornar parte de algo. E é aí que mora a responsabilidade.
Conforme fui crescendo aos poucos percebi que muitas das histórias que eu amava tanto não tinham espaço para alguém como eu: uma menina gorda, de cabelo enrolado volumoso, de óculos e LGBT. Percebi que os autores mais conhecidos ao escreverem se prendiam a um único tipo de narrativa que não representa a maior parte dos leitores e apenas reforçava um padrão estético e psicológico por meio dos personagens que nos faz ter a sensação o tempo todo de que temos que mudar. Lembra da responsabilidade que eu falei? Então, um de seus pontos é exatamente sobre deixar a literatura mais representativa entendendo que assim ela pode chegar em mais pessoas de maneira mais positiva. Em seu livro, O perigo de uma história única, Chimamanda Adichie faz muitas considerações importantes, mas uma das minhas passagens preferidas é:
"As histórias importam. Muitas histórias importam. As histórias foram usadas para espoliar e caluniar, mas também podem ser usadas para empoderar e humanizar".
Aqui a autora deixa bem claro o impacto que histórias têm e como podem ressignificar um passado doloroso, o que tem ocorrido gradualmente no cenário da literatura. Se antes eu e vários outros leitores não conseguíamos nos sentir parte de nenhuma história, isso tem se provado diferente atualmente. As pessoas estão se expondo e se sentindo motivadas a contar não só suas próprias histórias, mas também preocupadas com inserir outras vivências para que mais pessoas se sintam parte daquilo. Aos poucos vemos cada vez mais personagens diversos existindo e resistindo nas narrativas. E, mais uma vez, cabe falar de responsabilidade que não se restringe apenas ao autor que tem o papel de trazer representações positivas, mas também aos leitores ao consumir e apoiar essa arte. Então, deixo aqui algumas questões:
1- Qual é a cor dos autores que você tem lido?
2-Qual o gênero deles? São todes pessoas cis?
3- Quantas histórias LGBTs você já leu?
4-Quantas histórias de protagonistas gordos você já leu?
5- Você já leu autores PCDs?
6- Você busca valorizar autores nacionais contemporâneos?
Respondendo mentalmente essas perguntas você já tem um lugar por onde começar. Porque não basta apenas que a produção da arte seja diversa, ela precisa ter visibilidade. Isso acontece quando você consome, divulga e apoia o trabalho de artistas que fazem parte de minorias. A partir disso, além de encontramos leituras que dialoguem com nossa vivência também abrimos espaço para conhecer novos talentos, realidades e causas diferentes das nossas. Cada vez mais os leitores precisam se perguntar quanto de diversidade cabe na sua prateleira e também se perguntar o que muitas vezes a falta dela quer dizer.
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A INGÊNUA MENINA CLARA: PATRIARCADO E CONSERVADORISMO EM “CLARA DOS ANJOS” DE LIMA BARRETO
Tauã Lima Verdan
A partir de um contexto tal complexo, a partir do ponto de vista da institucionalização da violência doméstica contra a mulher e o processo de normalização verificado, a coluna se propõe a fazer uma análise de “Clara dos Anjos”, de Lima Barreto. Para tanto, o exame se baseia forma como a temática se apresenta, tanto no que concerne à denúncia social quanto à denúncia étnica, de gênero e de violência estabelecida. A peculiaridade a ser observada está nos contrastes entre o título da obra e a personagem homônima, posto que Clara, na realidade, não é clara, mas sim uma mulata; ao lado disso, o nome dos Anjos que transparece a concepção de pureza, de inocência também será colocado em contradição, quando é seduzida por Cassi Jones. “A contradição do nome também serve para reafirmar a crítica à fatalidade sócio-racial na obra. Dessa forma, o nome Clara dos Anjos e as referências evocadas assumem o papel de polo contraditório da denúncia” (FURTADO, 2003, p. 82). Trata-se de uma ironia estruturada, com o escopo de despertar a reflexão no leitor. A personagem central da obra se apresenta como uma jovem pálida, inexpressiva e que reunia os estigmas próprios do início do século XX, notadamente o de ser uma pobre mulata. A falta de expressão de Clara dos Anjos retrata a ausência de voz dos excluídos, marginalizados e da população da classe menos abastada, que se aninhava nos subúrbios, sufocados e achatados pela exploração da elite. Neste diapasão, cuida trazer à tona a descrição ofertada pelo autor acerca de sua personagem, havendo que se destacar a forma expressiva com que estrutura críticas à formação de Clara dos Anjos:
Clara era uma natureza amorfa, pastosa, que precisava mãos fortes que a modelassem e fixassem. Seus pais não seriam capazes disso. A mãe não tinha caráter, no bom sentido, para o fazer; limitava-se a vigiá-la caninamente; e o pai, devido aos seus afazeres, passava a maioria do tempo longe dela. E ela vivia toda entregue a um lânguido de modinhas e descantes, entoadas por sestrosos cantores, como o tal Cassi e outros exploradores da morbidez do violão. O mundo se lhe representava como povoado de suas dúvidas, de queixumes de viola, a suspirar amor. Na sua cabeça, não entrava que a nossa vida tem muito de sério, de responsabilidade, qualquer que seja a nossa condição e o nosso sexo. Cada um de nós, por mais humilde que seja, tem que meditar, durante a sua vida, sobre o angustioso mistério da Morte, para poder responder cabalmente, se o tivermos que o fazer, sobre o emprego que demos a nossa existência. Não havia, em Clara, a representação, já não exata, mas aproximada de sua individualidade social; e, concomitantemente, nenhum desejo de elevar-se, de reagir contra essa representação. A filha do carteiro, sem ser leviana, era, entretanto, de um poder reduzido de pensar,que não lhe permitir meditar um instante sobre o destino, observar os fatos e tirar ilações e conclusões. A idade, o sexo e a falsa educação que recebera, tinham muita culpa nisso tudo; mas a sua falta de individualidade não corrigia a sua obliquada visão da vida
(BARRETO, 2002, p. 90).
Infere-se que Lima Barreto, ao traçar os aspectos característicos de sua personagem, aborda a educação e a proteção exacerbada da família que atalha a inteligência, cerra a visão para a vida e os perigos existentes. Além disso, o emprego dos adjetivos “amorfa” e “pastosa” são comumente utilizados para descrever mulheres no início do século XX, transparecendo a necessidade de um homem, com mãos fortes, para moldá-las, adequá-las à vida.
Sem dúvidas, Clara dos Anjos reúne em sua estrutura o arquétipo da mulher, sob o ângulo de uma sociedade machista, agravado, de maneira rotunda, por ser mulata e pobre, desprovida de grande inteligência. “Clara não possui uma ideia transparente sobre a sua situação dentro da sociedade, em parte pela educação que recebera de seus pais” (GILENO, 2001, p. 135).
Lima Barreto denuncia à sociedade o padrão de comportamento erigido, o qual obrigava aos libertos e seus descentes a uma adequação aos valores burgueses existentes. Desta maneira, não era o suficiente tão apenas os arquétipos adotados pela sociedade, sendo necessário, além disso, “se comportar como branco, na verdade tornava-se imprescindível negar-se como afrodescendente, buscar o branqueamento da pele por meio de sucessivos casamentos miscigenados” (LIMA, s.d., p. 08). Os valores arraigados na sociedade imperial ainda gozavam de grande e proeminente destaque, notadamente na elite do início do século XX, na qual as negras e mestiças continuavam a se revestir de má reputação, decorrente de estrutura escravagista, alicerçadas por axiomas patriarcais, como se infere das passagens em D. Salustiana manifestava-se avessa à possibilidade de Cassi Jones contrair matrimônio com uma de suas vítimas.
Conquanto as violências sexuais não mais fossem sistematicamente praticadas por abastados fazendeiros ou ignóbeis capatazes ou ainda por curiosos filhos dos senhores da casa grande, Lima Barreto denuncia a situação de penúria que jovens negras, mulatas e brancas humildes que eram seduzidas e defloradas por jovens integrantes da elite existente. Nesse sedimento, o autor atribuía, ainda, à educação distinta, utilizada por D. Engrácia que que não preparava a jovem para vida adulta, como elemento que fomentava o aumento dos defloramentos. O complexo de inferioridade é algo palpável no romance, Clara, tolamente, anseia por um matrimônio que servisse como um instrumento apto a retirá-la da vida de reclusão que vivenciava.
Além disso, casar com um homem branco está próximo do pensamento bastante difundido nessa época, porque esse tipo de matrimônio avaliza positivamente a ideologia científica de cunho racial em voga, com livre curso nos meios republicanos e nacionais, da constituição da família brasileira via apagamento dos traços mestiços denunciadores do estigma da escravidão, efetuado pelo cruzamento com as raças brancas – ditas superioras – com a finalidade de promover um futuro melhoramento racial (LIMA, s.d., p. 08).
“Clara dos Anjos”, enquanto romance de cunho de denúncia, apresenta-se como trama, conquanto despida de um linguajar rebuscado e pomposo, multifacetada, dotada de complexidade, que permite uma análise a partir de distintos seguimentos, vez que, de modo cristalino, retrata a sociedade do início do século XX. O preconceito racial e social vivenciado pela personagem principal, trazendo à luz ainda as profundas e dolorosas feridas da escravidão, revelam um pensamento pautado na valoração de arquétipos que valorava o homem branco, detentor de posse, dinheiro ou influência, em detrimento das camadas mais carentes, que era suplantadas e subjugadas. Aliás, a indignação de tais camadas está corporificada nas linhas finais, quando Clara dos Anjos, amadurecida pela humilhação, pelo defloramento e pelo funesto destino, à sua genitora diz:
Num dado momento, Clara ergueu-se da cadeira em que se sentara e abraçou muito fortemente sua mãe, dizendo, com um grande acento de desespero: - Mamãe! Mamãe! - Que é minha filha? - Nós não somos nada nesta vida
(BARRETO, 2002, p. 133).
O excerto transcrito não traz em seu bojo apenas o desespero de uma jovem deflorada, desonrada, grávida e abandonada por seu sedutor, o ardiloso homem branco, de uma família pseudo-elitizada. Na declaração da personagem, há múltiplos significados que, de maneira velada, trazem à baila a realidade caótica da sociedade brasileira do início do século XX, são os gritos contidos de tantas outras vítimas, homens e mulheres apáticos pela sobrevivência difícil, vencidos pela árdua caminhada, despidos de ambição e achatados pela demais camadas, que infestam os subúrbios cariocas tão bem conhecidos e retratados pelo autor.
#colunas#emcontos#emcontoseditorial#Tauã Lima Verdan#A INGÊNUA MENINA CLARA: PATRIARCADO E CONSERVADORISMO EM “CLARA DOS ANJOS” DE LIMA BARRETO#Violência#minorias#literatura nacional#Lima Barreto#Clara dos Anjos
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CINEMA EM TELA: OS GRANDES MUSICAIS – ÁUDIO, VÍDEO E EMOÇÕES
Marcus Hemerly
“Esperem um minuto, esperem um minuto! vocês ainda não ouviram nada”
Personagem Jack Robin, interpretado por Al Jolson em O Cantor de Jazz.
Certa feita, o grande crítico já falecido Rubens Ewald Filho, quando comentando acerca do cinema mudo, disse que não poderia sentir saudades daquilo que não viveu, ressaltando a quase impossibilidade de dissociação da trilha sonora nos filmes. Decerto, existem algumas correntes de pensamento pelas quais o verdadeiro cinema, a verdadeira arte da película, seria a sua modalidade silente, pela qual as emoções e a trama seriam transmitidas, tão somente, pela pantomima intercalada por eventuais intertítulos inseridos entre as cenas. Em outras palavras, a verdadeira habilidade de atuação na interpretação, sem o auxílio de diálogos. Philip Kemp, em “Tudo Sobre Cinema”, Rio de Janeiro: 2011. Editora Sextante, pag. 68, comenta:
“O silêncio, portanto, não era uma limitação. Para muitos estetas e teóricos do cinema, a singularidade dos filmes estava precisamente em sua capacidade de contar uma história somente por meio de imagens”.
Respeitadas opiniões diversas, importante lembrar que mesmo em sua formatação muda, o cinema contava com trilha sonora – ainda que de forma rudimentar e improvisada – quando pianistas e outros músicos emprestavam a sonoridade em tempo real tocando nos cinemas e teatros, enquanto o público se deliciava com as imagens em movimento projetadas nas telas. O cinema funciona como um espelho que reflete as feições da sociedade em cada período por ele retratado, atuando a música, como um próprio coadjuvante nesse processo de interação entre a fita e o público; numa risada, uma lágrima fugidia ou um esbravejar de frustração. Com o lançamento do filme “O Cantor de Jazz” em 1927, de Alan Crosland, primeiro filme falado da história, ao alternar o vaudeville e o melodrama, deu-se início a uma revolução pela qual, inclusive, muitas das estrelas veteranas tiveram suas carreiras destruídas pela não adaptação ao novo modelo que se delineava.
Tal cenário é bem retratado no filme “Cantando na Chuva” de 1952, que não é apenas um dos maiores clássicos de todos os tempos, mas talvez o mais popular dos musicais, além de demonstrar muito bem, e de forma irreverente, a problemática enfrentada pela classe artística naquele momento de transição.
O início do século 20 para o cinema, foi marcado pelos períodos/movimentos do expressionismo, surrealismo, neo-realismo, nouvelle vague, film noir norte norte-americano – atualmente classificado como um gênero autônomo - cada qual, retratando por meio de suas peculiaridades, a verve criativa em suas nacionalidades e influências. Nesse passo, o público já se encantava com a dupla Nelson Eddy e Jeanette MacDonald nos anos trinta e quarenta, com Fred Astaire e Ginger Rogers dançando ao som de “Cheek to Cheek”, em “O Picolino”, além do lançamento de “O Mágico de Oz” (1939).
No entanto, o fervilhar de produções musicais de maior orçamento serão realizadas nos anos 50 e 60; e dessa forma, impossível não lembrar dos malabarismos dançantes de Gene Kelly e Frank Sinatra em filmes como “Marujos do Amor” e “Um dia em Nova York|”, o aludido “Catando na Chuva”, do apaixonante My Fair Lady (1964) com Audrey Hepburn, ou da diva nadadora, Esther Williams. Outras produções de peso que ainda permeiam o imaginário e as lembranças dos apaixonados por cinema, são títulos como “Sete Noivas Para Sete Irmãos” (1954), “Alta Sociedade” (1956), “Mary Poppins” (1964) e “A noviça Rebelde” (1965), ambos protagonizados pela encantadora Julie Andrews.
Nas décadas vindouras, os musicais perderiam um pouco do colorido, nas quais os blockbusters policiais, de aventuras, e suspenses dramáticos dominariam o gosto popular, com os melhores trabalhos de diretores como Brian de Palma, Martin Scorsese, Steven Spielberg, George Lucas e Francis Ford Coppola. Curiosamente, Scorsese dirigiria no ano de 1977, o fabuloso “New York, New York”, com Robert De Niro e Liza Minnelli – que se destacara também por Cabaret, em 1972 - cuja canção original, composta por John Kander e Fred Ebb, estenderia seu estrondoso sucesso e seria interpretada por inúmeros ícones até a atualidade. Afinal, como já disseram, um clássico é imortal.
A tendência dos filmes cantantes seria ressuscitada nos anos 2000 em diante, inclusive com produções vencedoras de importantes premiações e indicações ao Oscar, como Hairspray e Mamma Mia, lançados em 2008, e, recentemente, os festejados La la Land, (2016), Bohemian Rhapsody (2018) e Rocketman (2019), processo que constantemente revela astros cantores que se protraem de seu nicho de conforto, não apenas ampliando potencialidades artísticas, mas também brindando as audiências com surpresas aprazíveis.
Antes do início da pandemia, o MIS – Museu da Imagem e do Som, na bela São Paulo, iniciou a exposição “Musicais no cinema” de idealização do Musée de la Musique - Philharmonie de Paris, numa imersão musical ao cinema nacional e internacional, a qual este colunista teve o prazer de visitar. De uma coisa saí convicto, música – e aqui não me refiro apenas à trilha subjacente, que também é uma obra à parte – e enredo bem composto, são uma junção completa e complexa que amalgamam formas de arte numa nova roupagem única e individual. Então, quando deparar-se com um momento moroso, cante na chuva, acompanhe os marujos do amor em uma incursão à Big Apple, ou mergulhe em uma piscina de emoções com a sereia Esther Williams. Afinal, sonhar, assim como recordar, é viver.

#colunas#emcontos#emcontoseditorial#Marcus Hemerly#Cinema em Tela#OS GRANDES MUSICAIS – ÁUDIO VÍDEO E EMOÇÕES#musicais#cinema e literatura
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Sobre Perry Rhodan
Rafael Tsuchiya
Em 1971 a humanidade encontrava-se polarizada devido as tensões provocadas pela guerra fria, onde os blocos ocidental e oriental disputavam sua superioridade, principalmente bélica, mantendo seus cidadãos reféns de suas próprias nações. Neste ano, em meio ao caos e insegurança, algo marcou a história da humanidade: a chegada da primeira missão tripulada à Lua.
A famosa missão Stardust foi liderada pelo major Perry Rhodan e a humanidade vivenciou o drama da alunissagem quando a astronave passou por problemas técnicos e teve um pouso turbulento. Com as comunicações com a Terra cortadas, as horas que se passavam sem notícias, indicavam o fracasso da missão. Mas a tripulação sobreviveu sem grandes danos e iniciou sua exploração. Ficaram estarrecidos quando descobriram que não eram os primeiros em nosso satélite; encontraram uma enorme nave espacial de uma civilização extraterrestre. Um dos ocupantes alienígenas estava doente e a tripulação da Stardust decidiu que os seres deveriam ser levados de volta à Terra para serem salvos. Porém algo os incomodava. Se a tecnologia alienígena fosse tomada por qualquer uma das potências terrestres, certamente seria utilizada para fins bélicos. Tomaram, então, uma medida inusitada. Retornaram à Terra com a tecnologia alienígena e se fixaram em um território no deserto de Gobi, fundando ali uma terceira potência, que mudaria completamente a situação da humanidade e daria início à conquista galáctica.
Esse é o resumo do início do primeiro livro de Perry Rhodan, a mais longeva saga de space ópera de nossa história, baseada em uma filosofia cosmitas, criada por K. H. Scheer e Clark Darlton.

Perry Rhodan começou a ser publicada em 1961, na Alemanha. Eram pequenos livros de aproximadamente cem páginas com histórias episódicas, publicados semanalmente e que duram até os dias de hoje, ultrapassando a marca de três mil publicações. Segundo o site oficial, Perry Rhodan nunca teve interrupções, relatando que “Em todos esses anos, nem uma única edição foi perdida: não importa se acontecem crises mundiais ou desastres naturais, não importa se houve o pouso na Lua ou a queda do muro de Berlim, a edição de Perry Rhodan ia sair.”
O que me leva a indicar a leitura de Perry Rhodan é o processo de criação e planejamento deste universo, pois a saga se desvinculou das aventuras de um personagem central, o major Perry Rhodan, e se expandiu por eras, mantendo-se coesa e sempre apresentado dilemas originais, sem mencionar que as histórias são recheadas de críticas sociais e filosóficas que são pertinentes até hoje.
A saga foi ponto de partida para diversos autores e laboratório para inúmeros conceitos que estão estabelecidos na cultura pop atual, como grupos de mutantes com superpoderes, impérios intergalácticos, federações de diferentes civilizações, universos paralelos e toda a sorte de engenhocas científicas.
A série é publicada em diversos países e no Brasil, dependendo do ano em que você nasceu, deve se lembrar destes livros que eram encontrados em bancas de jornais, publicados pela editora Ediouro (na época Tecnoprint S. A.) entre 1975 e 1991. Eram pequenas edições que chamavam a atenção pelas fantásticas artes de suas capas. Atualmente, os livros podem ser encontrados por aqui pela SSPG em formato digital.

A saga, para manter a coesão e atrair novos leitores, de tempos em tempos passa por ciclos, onde uma nova odisseia se inicia. Estes ciclos são roteirizados, e cada autor, estreante ou veterano, tem a liberdade de criar dentro do contexto estabelecido.
Perry Rhodan, como era de se esperar pelo seu sucesso, também migrou para outras mídias. Em 1967 os primeiros livros ganharam uma adaptação cinematográfica (Mission: Stardust), que foi muito mal recebida, em 2008 foi desenvolvido um jogo para PC, chamado The Immortals of Terra: A Perry Rhodan Adventure. Uma série de quadrinhos também foi lançada, mas nenhuma destas versões conseguiu manter o espírito exploratório e inovativo original.
Para quem gosta do gênero, Perry Rhodan é uma leitura incrível, fascinante e inspiradora. Termino esta sugestão de leitura com uma frase do próprio major Perry Rhodan, do primeiro livro Missão: Stardust:
“Orgulho-me de ser humano. Sinto orgulho pela espécie humana por suas qualidades, por sua rápida evolução, seu futuro brilhante. Já conquistamos a Lua, e um dia, conquistaremos as estrelas.”
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“Ser Feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade”
(Carlos Drumond de Andrade)
Uma reflexão sobre Felicidade
Luisa Novaes
Será que nós conhecemos a plenitude? Conhecemos a felicidade? Sabemos o que estamos buscando em meio a esse turbilhão de acontecimentos diários?
Será que você já́ sentiu ou experimentou de fato a felicidade? Já se sentiu completo, com a sensação de que nada estava faltando e que você de fato é a pessoa mais completa do mundo?
Se você seguir a lei natural das coisas, eliminará os conflitos, e a plenitude aos poucos se revelará. Como sensação, como experiência, a felicidade pode durar mais ou menos. Porém, sendo uma sensação, pensamento ou sentimento, essa felicidade será, forçosamente, limitada: começa num determinado momento, e noutro momento acaba.
Como assim? O difícil é que sempre, cedo ou tarde, os momentos felizes acabam. Mesmo as experiências de felicidade mais profundas uma hora terminam, e depois, naturalmente, segue o contrário delas.
Mesmo com toda a sofisticação e modernidades, dentre os mais complexos e demais cálculos que os seres humanos são capazes de fazer, que os permitem inferir a existência dos buracos negros e desvendar a estrutura do elétron, esses meios de conhecimento não são capazes de revelar nosso coração e o que há de verdade dentro dele.
Às vezes, nossas limitações do corpo e mente são evidentes e não conseguimos olhar para as nossas costas, nem mesmo para nosso rosto. Com todas estas limitações em termos físicos ou de meios de conhecimento, como podemos fazer para nos conhecer e atingir um estado de felicidade
Autoconhecimento: Precisamos nos conhecer adequadamente. A lógica, a razão e a inferência são usadas para descartar tudo o que for crença, condicionamento ou simples tolice, que são coisas que, muitas vezes, veem junto com as religiões, ou impostas pela sociedade. É necessário descartar, tudo o que não for útil. Essa é a função que o raciocínio tem. Mas, o objetivo é olhar o seu agora, e pensar que o seu corpo pode ser limitado, mas a sua mente não, tente controla-la preenchendo-a com ideias e pensamentos positivos.
Tentar buscar e encontrar determinadas experiências que irão, finalmente, tirar-nos a aflição. Em verdade, tudo o que você experiencia, tudo mesmo, é o Ser e é parte de você. Todas as experiências são experiências do Ser. Sejam elas boas ou ruins. Isso é como uma montanha russa: todos nós estamos andando nela, alguns morrendo de medo, alguns rindo, outros chorando de nervosismo.
Você quer ser mais feliz? Comece cuidando melhor de si mesmo. Por mais que isso seja evidente, muitas pessoas pulam esse passo e tentam ser contentes buscando novas metas ou estabelecendo padrões de perfeição que muitas vezes não serão alcançados.
Mantenha consigo mesmo um acordo de se tratar com amor e carinho todos os dias. Desculpar-se ou perdoar-se nem sempre é fácil, mas é primordial, pois há uma tendência de se culpar por tudo que não deu certo no passado. As pessoas começam a se complicar quando tentam ser perfeitas demais e se castigam por não conseguir. Se aceite como você é. Para ser feliz, você precisa aprender a gostar de si mesmo.
A bem verdade é, que na real situação, estamos todos na mesma montanha russa, e todos dependemos de todos, sendo assim cada um deve buscar no seu interior o seu estado pessoal de felicidade, e trazer para o seu cotidiano e para a vida, para que desfrute no intimo do seu ser o passageiro momento.
E assim a vida segue, com perdas e ganhos, sorrisos e choros, alegrias e tristezas, o que precisamos e saber driblar, as incertezas e inconstâncias futuras que a vida lhe dá, seja perseverante e tenha fé, e agradeça mesmo pelos momentos difíceis, pois eles também nos ensinam.
Tudo irá passar!
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