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Bora estava quase convencida de que sua atuação tinha sido digna de uma indicação ao prêmio Treatan de Melhor Atriz Dramática — até Sergei abrir a boca. Grávida? Grávida?! Ela se sentou como um raio, olhos arregalados, boca entreaberta, completamente escandalizada. Ela piscou. Uma, duas vezes. ❛ O quê?! ❜ Cuspiu, como se ele tivesse acabado de chamá-la de algum xingamento antigo e proibido. Aquela palavra — grávida — cutucava uma parte dela que não costumava ser tocada. Uma parte que preferia ficar esquecida, junto das lembranças embaçadas de uma infância com pratos vazios na mesa e perguntas demais no ar. Sem dizer nada, ela se inclinou levemente pra frente e, rápida como um raio, levou a mão até a boca dele, tampando com firmeza. ❛ Eu não estou grávida, que absurdo! ❜ Os dedos mantinham o gesto teatral, como se calar fosse parte do jogo. Mas havia algo mais por trás daquele silêncio. Algo que não queria ser nomeado. Ela o encarou com olhos que riam — mas só até a metade. ❛ Ninguém gosta de plot de gravidez nas fanfics, tá? ❜ E ela, menos ainda. Filha de mãe solteira, órfã ainda muito jovem, ela sabia os riscos que corria — e as chances, já quase nulas, e que perderia, se algo daquela estirpe lhe acontecesse. Enquanto mantinha a mão sobre a boca de Sergei e o corpo ainda meio tombado, a outra mão foi aos poucos tateando o chão, como quem procura algo perdido... ou muito bem escondido. Achou. O medalhão estava bem debaixo do quadril. Num movimento lendo, ela o puxou para mais perto, enfiando-o entre as dobras largas do tecido da própria roupa, como quem guarda um segredo. Com um suspiro exausto — fingido, mas convincente — ela deixou a testa cair no ombro dele, como se estivesse precisando de apoio. Mas a verdade é que ela só precisava de alguns segundos até que ele esquecesse do que realmente estava acontecendo ali. ❛ Eu nunca nem fui beijada com intenção, para isso acontecer. Não me faça chorar pela minha vida amorosa também. ❜
"-- Envenenado?' Praticamente gritou, extremamente preocupado. Ignorando o leve chamado que o perseguia, simplesmente zarpou para perto de Bora, segurando seus braços com delicadeza e os acarinhando. "-- Borinha, o que foi? O que comeu? Tomou água?" A preocupação era palpável. "-- Acho que é melhor irmos para outro lugar. Talvez...lavar seu rosto? Deve ser tontura..." E então, os olhos se arregalaram. Ele tinha ido a aulas ciencia e tido garotas na vida o suficiente. Aquilo podia ser um sinal...
Se aproximando mais dela, sussurrou bem baixinho para que parecesse ser apenas preocupação. Bem, era. "-- Você ta grávida?" Pela maneira quase fúnebre que perguntava, até parecia que ele seria o pai em questão.
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Aquilo não estava nos mapas. Não... nem nos planos, nem nos cálculos, nem nas teorias que ela já tinha inventado com base em dois olhares e meia dúzia de falas. Ver o Príncipe Lobo em sua forma lupina já teria sido motivo o bastante para desmaiar com elegância — ou pelo menos tropeçar propositalmente e cair nos braços dele com um “oh!” ensaiado na frente do espelho. Mas ver o Príncipe Lobo… sem lobo. E sem roupa. Sem. Roupa. A mente de Bora simplesmente travou. O espírito da fanfiqueira que habitava seu corpo gritou. Um grito agudo, eterno, silencioso. “É ISSO. É O MOMENTO. FOI PRA ISSO QUE EU NASCI.” Mas por fora, claro, ela piscou uma, duas vezes, como se ainda tivesse algum controle sobre a situação. Não tinha. Nem um pingo. Ainda encarando o cenário com olhos arregalados, tentou formular uma resposta minimamente coerente. Falhou. ❛ Um favor? ❜ Repetiu, com a voz três tons acima do normal, como se estivesse disfarçando um incêndio interno com um lenço de papel. Desviou os olhos rapidamente, o rosto vermelho como seu sangue, e girou sobre os calcanhares tão rápido que quase tropeçou na própria dignidade. ❛ Eu— eu não vi nada. Nada. Nunca vi. Ninguém viu. Inclusive, perdi a visão. ❜ Anunciouandando como quem foge de um crime. Mas claro, ela tropeçou num galho — porque o destino não perdoa o drama — e soltou um “Ai!” indignado, olhando pro céu como quem queria processar os deuses, antes de parar. ❛ Tá bem, o que eu faço? Você quer uma folha? Eu não posso tirar minha roupa para te dar! ❜
Como bom apoiador das tradições azuis, desde que se entendia por gente que Hakon acompanhava a Althara e, por conseguinte, a Caçada. Com o tempo, tinha chegado à conclusão que a forma lupina seria a melhor quando se tratava de encontrar objetos perdidos, considerando os sentidos aguçados próprios do lobo gigante. Podia ser considerado golpe baixo, mas assim o príncipe poderia identificar mais facilmente a quem pertenciam os medalhões. Acabava de se embrenhar por uma trilha para seguir um rastro quando ouviu um ruído às suas costas e, antes que deixasse os sentidos assumirem e atacasse alguém, voltou rápida e imprudentemente para a forma humana, praguejando ao constatar que estava bem distante de sua pilha de roupas. ' Eu meio que vou precisar de um favor... '
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Bora virou-se de lado, como se o chamado tivesse puxado um fio invisível amarrado ao tornozelo. Quando James a chamou, ergueu uma sobrancelha — só uma — e o sorriso que despontou nos lábios parecia gentil. E era. ❛ Conversar? ❜ Repetiu, com um tom leve demais para quem acabara de cometer uma pequena traição cartográfica. — ❛ Eu acho que vossa Alteza deve ir para a floresta agora, procurar seu medalhão. E não conversar... ❜ Deu mais dois passos, agora mais próxima, e inclinou-se um pouco como quem ia contar um segredo de grande importância. ❛ Mas posso abrir uma exceção. Só por hoje. Porque você me chamou de sacerdota. E isso foi, de certo modo, fofo. ❜ Endireitou-se, cruzando os braços com ares de quem já sabia que ele não fazia ideia do que carregava nas mãos. ❛ Se quiser conversar, venha andando comigo. Ainda preciso abençoar… outros mapas. ❜ E piscou. A piscadela foi breve, quase imperceptível, enquanto ela se direcionava para a floresta, para acompanhá-lo, e, certamente, também o atrapalhar.
Aparentemente, James tinha escrito bem grande “idiota” em sua própria testa. E bom, meio que era verdade, pois o garoto sequer desconfiou da vermelha. “ Ahn, obrigado senhora sacerdota.” Olhou o mapa com curiosidade, e depois para Bora com os olhos castanhos brilhando. Desde a situação na floresta, James adquirira um certo encanto pela vermelha, e agora, estava entre dois amores, como em uma comedia romântica da sessão da tarde. Quem era sua verdadeira alma gêmea: Lili ou Bora?! Nesses filmes, o protagonista sempre sabia, no fundo, a resposta. E pra falar a verdade, James também. “ Espera!” Chamou, erguendo a mão para Bora. “ Será que a gente pode conversar antes?”
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HORAS ANTES DA CAÇADA
Bora estava deitada de bruços na cama, os pés balançando no ar, entretida em torcer uma mecha do cabelo com os dedos quando ouviu a resposta da colega. O canto dos lábios ergueu-se sem pressa, como quem já esperava por algo naquela linha — algo que fosse dela, da Ravzî. ❛ Você se rende ao tédio com uma elegância que até isso vira arte. ❜ Comentou em tom leve, com aquele tipo de admiração que só os vermelhos sabiam disfarçar tão bem. Virou-se de lado, apoiando o queixo na mão. O olhar enviesado trazia algo de cúmplice, e perigosamente animado. ❛ Mas sim. Entendo. Muito bem. ❜ Pausou, como quem gostava de se fazer esperar. ❛ É como se a gente aceitasse o luxo… só até que ele ameace nos domesticar. Aí… dá coceira. Eu, pelo menos, começo a querer morder as almofadas. ❜ Riu, o som leve, quase infantil — mas o brilho nos olhos era o de quem já tinha mordido coisas piores que veludo. ❛ Aliás… você tem noção de que em poucas horas a gente vai poder sair correndo pela floresta, fazendo exatamente o oposto do que mandam? ❜ Ela se levantou num pulo, o cabelo desgrenhado e os olhos faiscando de expectativa. ❛ Sem princesa Jiyoung me chamando de "querida" como quem quer cuspir, sem ninguém pedindo para trocar o chá três vezes porque o aroma “não subiu bem”… ❜ Fez um gesto dramático com as mãos. ❛ Eu com certeza vou enfiar um daqueles medalhões no bolso. Minha mão é leve, sabia? Ninguém vai nem perceber... ❜ E piscou para Ravzî, como quem prometia confusão… e convite.
𝒘𝒉𝒐: @eunaovouembora
𝒘𝒉𝒆𝒓𝒆: dormitório.
𝒘𝒉𝒂𝒕: all i ever wanna do is stay here.
* Um riso leve deixou os lábios da perfumista com o comentário da outra, não apenas pela graça contida nas palavras, mas por comungar do mesmo sentimento de resignação. Era fácil se acostumar com aquele conforto, mas também reconhecia que logo deixaria de ser suficiente. Estava mal acostumada e não tinha receio de admitir, apenas não se deixava consumir pelas sutis mudanças comportamentais que observava em si mesma. “ ── Eu me renderia à preguiça sem remorso, se o tédio não me consumisse tão rapidamente. ” Compartilhou em resposta. Era a busca por algo além que a mantinha na posição em que se encontrava. Seus olhos se voltaram para Bora, e um meio sorriso astucioso despontou no canto dos lábios. “ ── Tenho a impressão de que entende bem o que quero dizer. ” Parecia comum que o comodismo não fosse intrínseco entre os vermelhos.
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this is a starter for @amayitaon !!
Ela estava agachada entre os arbustos, o vestido sujo de terra e as meias rasgadas até os joelhos. Só os olhos brilhavam. Quando a caçadora encontrou o medalhão, ela sussurrou pra si mesma: “Ah, não… você foi tão bem. Pena que não vai durar.” A voz era digna de uma vilãzinha de malhação, e ela esfregou as mãos como se realmente fosse aquilo. Um segundo depois, surgiu correndo em disparada, saltando o tronco caído como se tivesse treinado pra isso. ❛ Me dá esse coração agora, ou eu vou gritar que você tentou me beijar à força! ❜ Berrou, com as mãos estendidas, pronta para subtrair o medalhão da princesa.
#huntingheart alt.#῾ ⠀ ⠀ 𝑰𝑰. ⠀ ៹ ⠀ ⠀reality is boring — she edits the ending.⠀ ⠀ 、 ⠀ ⠀ ❪ ⠀ 𝐢𝐧𝐭𝐞𝐫𝐬. ⠀ ❫
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❛ Aqui está seu mapa, senhor caçador. ❜ Ela entregou o pergaminho cuidadosamente enrolado, com um laço elegante. Por fora, tudo parecia normal. Mas dentro… trilhas desenhadas com caneta cor de vinho e setas que levavam para pontos inexistentes, era o que James encontraria. Nada pessoal, apenas cumprindo tarefa do Sumo Sacerdote! ❛ Boa sorte. Espero que encontre seu coração antes que o coração se perca de você… ❜ Desejou, falsamente, ainda que gostasse muito daquele garoto à sua frente.
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❛ Ai, eu vi um medalhão ali na clareira das folhas vermelhas… bem no tronco dividido. Vai por aqui, depois à esquerda. Certeza que é o seu coração, moço. ❜ Ela piscou como se fosse uma amiga prestativa. Mas o caminho que indicou não levava a nenhum coração, mas sim à um barranco que estava escorregadio pelo umidade da manhã, e o resultado poderia ser o príncipe russo rolando clareira abaixo. ❛ Se quiser, posso até ir com você, mas só até metade. Tenho uma reputação a zelar, sabe como é… ❜
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Ela observava a caçadora se aproximar demais, com os olhos semicerrados, cogitando se era hora de agir. A Lefevre estava muito perto. Perto demais. Primeiro, Bora atirou uma pedrinha. Depois, um graveto. ❛ Ai, credo… será que tem esquilo bravo nessa floresta? ❜ Murmurou em voz alta, como se fosse só coincidência, e não fosse ela atirando coisas com a azul. Será que seria punida por isso? O Sumo Sacerdote havia dito algo como sabotagens leves. Quando a outra se abaixou, quase pegando o medalhão, Bora saiu do mato e… empurrou de leve com o quadril. ❛ Oops… tropecei. ❜ Sorriso doce, olhos maliciosos.
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Bora se esgueirou até o esconderijo antes do caçador chegar. Sabia exatamente onde estava o medalhão, já que havia visto o coração esconder. Mas, ao ouvir passos se aproximando, suspirou, ajeitou o cabelo, e... tombou dramaticamente no chão, direto sobre o objeto. ❛ Ai… a floresta… girou. Deve ter sido o brunch envenenado… socorro…❜ Disse com uma voz tremelicante, ajustando seu corpo discretamente sobre o medalhão. Um olho abriu só uma frestinha, avaliando se ele estava comprando a encenação.
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#῾ ⠀ ⠀ 𝑰𝑽. ⠀ ៹ ⠀ ⠀accidentally enchanting.⠀ ⠀ 、 ⠀ ⠀ ❪ ⠀ 𝐧𝐚𝐫𝐜𝐢𝐬𝐬𝐮𝐬. ⠀ ❫#uma gata tá quitada#os olhos de gata dela <3
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Bora parou diante da suíte 129, respirando fundo antes de criar coragem para bater. O corredor estava vazio, silencioso demais para aquela hora da noite. Tinha atravessado praticamente o castelo inteiro depois que um dos guardas a procurou, dizendo que Baek-Ho queria vê-la — sem maiores explicações, como sempre. Por que, afinal, ela sempre aceitava esses convites? Ainda sentia no corpo o efeito do dia anterior, quando tinha passado horas lendo ao lado dele, fingindo desinteresse enquanto as páginas avançavam, mas, no fundo, com as malditas borboletas se agitando dentro de si a cada silêncio confortável, a cada olhar que ele deixava escapar por cima do livro. Quando abriu a porta e encontrou Baek, tão absurdamente à vontade, com aquele sorriso de quem parecia ter esperado exatamente por ela, suspirou uma vez. Ele a chamou, com aquele tom animado e confiante, e ela se deu conta, tarde demais, que já tinha cruzado a porta e estava sozinha com ele. O quarto parecia ainda maior à noite, e a cama enorme, tão diferente da beliche que ela dividia na ala oeste, com outras três pessoas. Ali, o espaço e o silêncio eram todos dele — e agora, dela também. ❛ Liberdade? ❜ Repetiu, num tom cético, olhando em volta, como se as câmeras fossem saltar das paredes. Quando ele puxou o assunto da fanfic, ela não conseguiu evitar o riso, soltando o ar de um jeito nervoso, mas já se aproximando, como sempre fazia. ❛ Tive sim… algumas ideias. ❜ Era diferente do picadeiro, quando olhos estavam fixos neles. E ainda que devesse temer aquela proximidade depois do exílio da azul, e desaparecimento do vermelho, Bora estava animada demais para se apegar a estes detalhes. ❛ Tipo… o protagonista chamou a mocinha tarde da noite pro quarto dele… ❜ Deu um passo à frente, bem devagar, até ficar próxima o bastante pra sentir o calor dele. Era desconcertante, mas também, muito empolgante. Ela se empertigou, sem se incomodar em reagir à presença dele. E então mordiscou o lábio inferior, olhando-o sob a camada de cílios. ❛ E aí, você não acredita… ele empurrou ela na cama. ❜ Sorriu, abrindo um pouco mais os lábios, como quem se diverte com a própria audácia, mas logo desviou o olhar, disfarçando a tensão que subia pela garganta. Olhou ao redor, como se de fato estivesse tentando lembrar que aquilo ali não era um espaço seguro — não totalmente. Mas então voltou a encará-lo, inclinando-se levemente na direção dele, o suficiente para que a distância ficasse desconfortavelmente curta. ❛ Não sei se vai ser drama, romance… ou… ❜ Ela deixou a frase suspensa, levantando a mão e beliscando levemente o tecido da camisa dele, sem nem perceber que fazia isso. Logo soltou, recuando um passo como se nada tivesse acontecido. ❛ Ainda, hun, estou decidindo. ❜ Virou de costas, fingindo observar qualquer coisa do outro lado do quarto, enquanto o coração batia rápido demais para o horário e para a situação. Foi quando viu o peso de mesa, pegando-o na mão. Frio. Estável. Testou seu peso, tentando se concentrar apenas nele. ❛ O que Vossa Alteza deseja comigo, para ter mandado me chamar? Precisa que eu conte uma história para dormir? ❜ Se manteve de costas para ele, analisando as coisas sobre sua mesinha, para evitar que ele constatasse seu suspiro sôfrego.
Esse é um starter para @eunaovouembora
Havia trazido seu notebook consigo — e embora a maioria pensasse que era só para editar vídeos, responder comentários ou postar selfies estrategicamente descabeladas, quase ninguém ali sabia que ele tinha um monte de cursos de programação nas costas. Bonito na frente das câmeras? Claro. Mas Baek-Ho também era perigosamente eficiente quando queria ficar fora delas. Ao contrário dos outros participantes do Althara, ele sabia como conquistar momentos privados sem levantar suspeitas. Já tinha conversado com uns contatos e feito o dever de casa. Hackear o sistema das câmeras não foi difícil, especialmente com o cuidado que teve ao forjar uma gravação contínua. Na véspera, passou boa parte do tempo deitado lendo — e chamando Bora pra ler com ele. A cena perfeita: pacífica, entediante, normal demais pra levantar qualquer suspeita. Agora, no exato momento em que a porta do quarto se abriu e a vermelha apareceu, ele apertou o Enter. A sequência fake de imagens começou a rodar como se fosse só mais um dia calmo e repetitivo. Baek-Ho largou o notebook ao lado da cama e se levantou com a leveza de quem já sabia que tinha vencido. O sorriso dele se abriu devagar, iluminando o rosto de um jeito quase indecente de tão bonito.
❝Bora!❞ Chamou, com o tom animado de quem estava esperando exatamente aquela pessoa. ❝Chegou bem na hora. Pode se sentir mais tranquila hoje... temos cerca de uma hora e meia de liberdade.❞ Deixou o mistério no ar, como se dissesse “confia em mim” sem precisar usar essas palavras. Depois deu um passo na direção dela, inclinando um pouco a cabeça com aquele olhar que mesclava brincadeira e segundas intenções na medida exata. ❝Aliás...❞ Continuou, se apoiando casualmente no pé da cama ❝Você teve mais ideias sobre aquela fanfic?❞ Fez uma pequena pausa dramática, e então arqueou uma sobrancelha com um sorrisinho de lado. ❝Não que eu esteja curioso com o protagonismo ou algo assim...❞ Fingiu desinteresse enquanto pegava uma das almofadas e jogava para o alto, distraído. ❝Mas, sinceramente? Tô começando a achar que você devia escrever mesmo. Só não sei se quero que seja drama, romance ou... algo mais picante.❞ O olhar dele encontrou o dela de novo, agora com um brilho malicioso enquanto parecia a analisar melhor. Tinha apreço por lhe provocar, mas isso apenas cresceu quando viu que ela também poderia ser mais ousada, a deixava mais interessante aos olhos do Choi. ❝Mas claro, isso é escolha da autora.❞
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Bora nem tinha planejado entrar na piscina, mas, no meio da correria para escapar de mais uma bronca da princesa Jiyoung — que havia acertado uma sapatada na cabeça dela mais cedo —, acabou tropeçando na borda escorregadia. Nem viu direito o que aconteceu: só sentiu o pé falsear, os braços rodopiarem no ar e, de repente, o impacto — direto em cima da Suzie. Cotovelo, joelho, tudo junto, como um míssil humano. Ainda tentando recuperar o fôlego, ouviu a amiga já soltando os cachorros. Bora levantou a cabeça, fazendo uma careta e afastando o cabelo molhado do rosto, enquanto resmungava. ❛ Credo, Suzzie! Calma, nem foi de propósito! Eu tava fugindo da Jiyoung, você queria que eu levasse outra sapatada na cabeça? ❜ Não era de bom tom sugerir, em rede mundial, que a princesa de seu país era agressiva — mas talvez sua distração estivesse fazendo um trabalho melhor do que o de Jihoon para afastar os irmãos dele do torno. Se sentou ao lado da amiga, ainda respirando fundo, e olhou em volta, meio paranoica, como sempre, com medo de alguma câmera ter flagrado a cena. Com certeza havia flagrado, mas ela duvidava que vermelhos possuíssem o famigerado tempo de tela. ❛ Meu Deus… eu quase esqueço que tem câmera em tudo quanto é canto! Vai ser lindo se pegarem isso… imagina, eu caindo em cima de você, bem na piscina onde a gente nem devia estar... ❜ Suspirou, passando a mão pelo rosto, e soltou aquele sorrisinho maroto de quem já desistiu de manter qualquer pose. Bora era extremamente alheia a política, ignorando as diferenças de sangue e tratando quase como amigos aqueles azuis que ela tanto se empolgava em acompanhar. Mas isso poderia acabar levando-a à forca. ❛ A gente podia fingir que vai tomar drinks né? O que você poderia, se pudesse? ❜
oh, please explain how this is my fault. 𝗼𝗻𝗱𝗲: piscina. 𝗰𝗼𝗺: @eunaovouembora .
✽ suzie não imaginou que fosse ter a oportunidade de aproveitar a piscina tão cedo. era uma surpresa as pessoas daquele lugar não acharem que eles, vermelhos, podem passar alguma doença pela água da piscina, mesmo com toda a limpeza e fiscalização. naquele momento, naquele período curtíssimo de tempo em que eles puderam entrar na menor piscina de todas, suzie tentou se lembrar do último verão que pode aproveitar bem aquela experiência. o sol na sua pele, a sensação não tão agradável do protetor solar, pode nadar de verdade. era um privilégio que fez ela querer beijar os pés dos azuis, só por terem deixado de serem insuportáveis uma única vez. estava descansando quando sentiu um corpo caindo sobre o seu. com toda a força, cotovelo na barriga e tudo. e então, a briga começou. suzie não era uma pessoa necessariamente fácil de se lidar, então não poupou a raiva na hora de culpar a outra menina, mesmo que fosse um acidente. "explicar? bem, eu explico! você não olha por onde anda! piscina é um lugar muito perigoso, é escorregadio. todo mundo sabe disso? você é cega?"
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Bora estava feliz. Não que fosse raro — ela sempre encontrava uma forma de se divertir, fosse com pequenas provocações ou grandes escândalos —, mas daquela vez era diferente: um tipo específico de felicidade, saborosa e perigosa, misturada com uma ansiedade crônica que a fazia olhar por cima do ombro a cada três passos. O sucesso das últimas fanfics tinha explodido de um jeito que nem ela, com toda sua presunção, tinha conseguido prever. Era incrível, claro, ver as histórias dominando as redes sociais, as citações fora de contexto viralizando, as hashtags acumulando milhões de interações. Mas, ao mesmo tempo… e se descobrissem? E se alguém juntasse as peças, seguisse os rastros, ligasse os pontos? Ela já se imaginava presa no salão principal, cercada pelos nobres e pelos malditos jornalistas da corte, enquanto alguém lia em voz alta trechos de suas fanfics e, pessoas como Hakon, fossem tirar satisfação dos papéis que ela havia dado. Arrepiou-se só de pensar. Por isso, naquela manhã, decidiu focar no mais banal e rotineiro dos afazeres: aguardava calmamente a comida da princesa Jiyoung ficar pronta para levar ao quarto dela. Um serviço simples, previsível, sem risco de exposição. Ou pelo menos era o que pensava… até Maria Soledad aparecer. ❛ Seria esquisito se a Alteza escrevesse sobre si mesmo. ❜ Comentou mais para si, ignorando o fato de que ela escrevia sobre si mesmo, nos mais diversos cenários e acompanhada dos mais improváveis pares. Bem, todos os pares eram improváveis, e impossíveis, para ela, mas aquele não era o assunto! ❛ Sabe, o nome não foi muito criativo. Dá para perceber que é você. ❜ Comentou em tom conspiratório, apesar de ser aquele o seu maior objetivo: queria que as pessoas de fora entendessem sobre as histórias que ela ouvia ali dentro. ❛ Mas então, é tudo verdade, então? ❜
Corredores, w/ @eunaovouembora
Milhares de comentários e mensagens diretas a levaram à história publicada há apenas alguns dias - tempo suficiente para que "Sempre você!" e "princesa ensolarada" aparecessem como trending topics das redes sociais. Como resultado, as métricas de suas contas estavam nas alturas, com um crescimento exponencial. E a principal pergunta que permeava seus vídeos era: quem é Ricardão? Postagens antigas foram divulgadas ao passo que novas teorias se formavam, com dezenas de versões mirabolantes, incluindo uma que alegava que o personagem poderia ser inspirado em um dos Choi, dada a relação de amor e ódio entre eles. "Não, não fui eu que escrevi essa obra de arte, mas estou distribuindo autógrafos como a princesa ensolarada." Ela disse para a vermelha, tão logo a jovem se aproximou. "Tenho certeza de que você também já leu a fic, não é? Uma das mais comentadas e compartilhadas do século, eu ouso dizer. Mas era de se esperar, claro. Eu sou a protagonista."
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Ela piscou algumas vezes, ainda atordoada, até o cérebro conseguir juntar as peças do que — e de quem — tinha acabado de trombar. ❛ Aaaaaah… ❜ Soltou um som que não soube bem se era um lamento ou só a alma saindo do corpo pela vergonha acumulada. As bochechas, extremamente rubras àquela altura. Os olhos desceram do rosto impecavelmente montado de Adonis para a postura irrepreensível dele, e depois para si mesma: uma blusa torta que revelava o ombro, uma sandália só, um botão pendurado como um piercing improvisado, e o cabelo preso com… Ela tateou o coque improvisado e puxou, revelando o talher prateado. ❛ Mas o que…? ❜ Murmurou, encarando o garfo como quem testemunha um crime que ela mesma cometeu sem perceber. E foi então que se lembrou — as câmeras. Se virou ligeira, olhando ao redor e, é claro, lá estavam elas: discretas, frias, objetivas, registrando cada detalhe daquela catástrofe estética e funcional. Ótimo. Agora não era só ele que tinha visto aquilo, mas o palácio inteiro, a segurança, os superiores… talvez até a princesa, em tempo real. ❛ Para a guilhotina, aparentemente… ❜ Disse, resignada, como quem já aceita o próprio destino. Fechou os olhos um segundo, inspirou o pouco de dignidade que ainda restava e continuou, gesticulando freneticamente: ❛ Eu tô atrasada! Atrasada pro turno! Não arrumei os vestidos da princesa, não ajeitei as joias, não salvei minha fa— bem, não fiz nada. ❜ Ajeitou a blusa com um puxão desengonçado e tentou enfiar de volta a sandália perdida, tudo isso sem parar de falar: ❛ Mil perdões Vossa Excelência Majestosa Majestade. ❜ Não caçoava do título do príncipe grego, apenas lhe faltava o devido conhecimento, e filtro!
Adonis estava saindo da sessão de exercícios quando sentiu um baque contra si no meio do caminho. Ele conseguiu se manter de pé, mas pela velocidade que a mulher estava indo, era capaz de sentir aquele esbarrão depois, quando aparecesse alguma mancha roxa onde ela bateu. "Mas o que...?" Questionou, um tanto confuso até perceber que era uma vermelha que olhava pra ele com um olhar perdido e desesperado, com os cabelos bagunçados e as roupas... bem, talvez fosse o jeito dela de se vestir. Adonis imaginava que os vermelhos não tinham muita dignidade mesmo, então sair de qualquer jeito era normal pra eles. Para a sorte dela, ninguém estava perto para ver que ela tinha acabado de esbarrar em um herdeiro, e tinha mais sorte ainda que Adonis estava de bom humor naquele dia. "O que está acontecendo?" Ele estreitou os olhos na direção dela; talvez o cabelo bagunçado e as roupas vestidas de qualquer maneira queriam dizer algo a mais. As pessoas ficavam assim quando estavam dando amassos escondidos com outros, não é? Adonis não era perito em aventuras do tipo, mas era óbvio que os vermelhos daquele lugar não tinham muita vergonha na cara para esse tipo de coisa. Aquela garota com certeza poderia estar levando algum outro azul para o mal caminho, como aconteceu com a princesa de Gales. Talvez Adonis estivesse sendo testemunha de mais um escândalo. Ele torceu o nariz pra isso, imaginando que não queria estar envolvido na bagunça de outra pessoa, mas, bem... talvez aquela só fosse uma vermelha inocente também e não tivesse nenhum outro azul na história. Ele só sabia que devia ficar atento para não ser arrastado para nada negativo. Adonis ajeitou a própria blusa e passou a mão pelo pano, como se ela tivesse deixado sujo, logo colocando as mãos para trás e retornou à postura impecável. "Para onde estava indo com tanta pressa, senhorita?"
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𝒇𝒍𝒂𝒔𝒉𝒃𝒂𝒄𝒌 ( night circus )
Bora apertou os olhos, inclinando ligeiramente a cabeça, como quem analisa uma pintura contemporânea que não faz o menor sentido, mas finge que entendeu pra não parecer burra. ❛ Gata? ❜ Repetiu, com um sorriso enviesado, arrastando a palavra como quem passa a unha numa lousa só pelo prazer de irritar. ❛ Desde quando você me chama assim sem me pagar antes? ❜ E ergueu as sobrancelhas, num misto de desafio e diversão, como se tivesse acabado de vencer uma batalha invisível que só ela sabia que estava acontecendo. O olhar se desviou por um segundo, dramático, como se fosse buscar forças no teto estrelado do picadeiro ou, quem sabe, agradecer aos deuses das fanfics por aquele diálogo digno de print e comentários emocionados no grupo secreto. ❛ Me vendo? Não, querido. Eu alugo a minha alma pro diabo, com contrato e cláusula de rescisão. Não me misture com amadores. ❜ Pelos santos da escrita, ela havia mesmo acabado de chamar Jiyoung de diabo? Estava morta, mortinha da silva! Deu dois passos para o lado, como quem vai embora, mas parou só pra lançar um olhar por cima do ombro. ❛ Mas obrigada pela preocupação com a minha coluna. Pode deixar que, se eu chegar aos trinta viva e minimamente ereta, mando um convite pra sua aposentadoria precoce. ❜ E então, girou nos calcanhares, como quem encerra o espetáculo, mas tropeçou discretamente num tapete e precisou disfarçar o quase-tombo com um giro completamente desnecessário, mas absolutamente performático.
𝒆𝒏𝒄𝒆𝒓𝒓𝒂𝒅𝒐.
𝐍𝐈𝐆𝐇𝐓 𝐂𝐈𝐑𝐂𝐔𝐒 Ele poderia ter sido menos brusco, mas isso daria tempo a Bora para se preparar e, então, qual seria a graça? "Príncipe Jihoon" imitou, afinando a voz e gesticulando com as mãos como se fosse uma garotinha que escreve fanfics. "Desde quando você me trata assim? Temos história demais pra toda essa formalidade, gata" piscou para a mais nova, alargando o sorriso no processo, apenas para revirar os olhos em seguida, quando foi avisado que ela não estava interessada na opinião dele. Bom, não é como se muitas pessoas estivessem - isso era uma verdade - mas o príncipe gostava de fingir que sim. "Não. Isso jamais me passaria pela cabeça. Até por que que espécie de masoquista gostaria disso?" negou com a cabeça, semicerrando os olhos com indignação. Jiyoung era uma criatura perversa e sem um pingo de humanidade. Ele não estava sendo hiperbólico ao mencionar escravidão. "Então você está se vendendo por um punhado de vestidos e umas colônias? Sinceramente..." era preciso relevar quando ela começava com aquele papo de vilões, traições e romances. "Se você conseguir chegar aos 30 sem antidepressivos e dor nas costas, já tem que se dar por satisfeita" o Choi já tinha vivido o bastante para chegar à conclusão de que não podia romantizar a vida, mas Bora era ainda jovem, se fosse pensar. "Se é só isso que está pedindo, posso te oferecer condições muito mais dignas do que o medo constante de morrer só porque perdeu o lugar na fila da montanha-russa" gesticulou, pensando que não poderia ser pior que Jiyoung. "Isso é um não? Uau. Você é mesmo masoquista"
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❛ Tá… tá tudo bem? ❜ Repetiu Bora, como quem precisa confirmar que está viva, com os olhos arregalados e as mãos trêmulas, tentando decidir se fugia ou se ajoelhava e pedia desculpas por… por existir? Ela puxou uma lufada de ar, mas saiu só um soluço esganiçado, tipo o barulho de uma chaleira prestes a explodir. E então veio o abano. Bora simplesmente congelou, braços abertos como um espantalho, sendo abanada pela própria princesa Melinda — A Melinda! — como se fosse uma criança que acabou de engolir uma moeda. ❛ Eu… fã?! Eu? Não! Quer dizer, sim! Quer dizer… ❜ Respira, garota! Bora levou a mão ao peito, como quem encena um ataque cardíaco só pra garantir o drama. O olhar de Melinda, impecável, blasé, cortou ela de cima a baixo, e foi nesse instante que Bora percebeu a blusa desabotoada, o cadarço desamarrado e o rascunho da fanfic — sim, da fanfic — meio amassado e saindo do bolso. Ela sabe. Ela sabe. Ela leu. Ela printou. Ela vai expor… ❛ FOTO?! ❜ Gritou, em um tom agudo que só cachorros seriam capazes de escutar. E então, sem nem pensar: ❛ VÍDEO?! ❜ Bora levou a mão à boca, horrorizada, e então, num movimento desesperado, tropeçou no próprio pé, girou num meio mortal desengonçado e apoiou as duas mãos no joelho de Melinda, tipo um pedido de socorro disfarçado de reverência. ❛ Qualquer coisa! O que você quiser! Um vídeo, uma selfie, um TikTok! Pode até me bloquear depois, se quiser! Eu… eu sou sua prisioneira agora. ❜ E ficou ali, ainda curvada, tentando decidir se ria, chorava ou pedia pra ser enterrada viva.
"Menina, tá tudo bem?" Melinda perguntou genuinamente quando percebeu a reação assustada da outra garota. "Respira, vai." Instruiu ao mesmo tempo que usou as suas mãos para abanar a outra. "Você é fã, né?" Ela já tinha visto aquela reação dezenas e dezenas de vezes. "Relaxa, eu sou só gente como voc..." Um olhar de cima abaixo fora o necessário para saber que não era verdade. Ela definitivamente não era gente como Bora. "Mas, hein, você quer uma foto?" A pergunta fora uma tentativa drástica de mudar de assunto. "Melhor se for vídeo. Como você quer o seu vídeo?" Sim, a princesa já estava se preparando quando ela passou a mão pelos longos cabelos.
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Bora arregalou ainda mais os olhos quando ele falou sobre televiosonar, atriz contratada e, meu deus, será que ele achava que ela era uma espiã? Ela abriu a boca, fechou, abriu de novo, e acabou soltando um risinho nervoso, balançando as mãos no ar, como quem espanta uma ideia absurda. ❛ Não! Quer dizer… NÃO! ❜ Fez questão de repetir, quase ofendida, quase rindo. ❛ Não sou atriz, nem agente infiltrada, nem enviada secreta de ninguém! Sou só… eu. Bora. Vermelha. Anônima. Sem contrato, sem câmera escondida e definitivamente sem habilidades de espionagem. ❜ Fez um gesto meio teatral, apontando pra si mesma como quem se apresentava num show de talentos falido. Depois suspirou, levando as mãos à cintura, numa pose que parecia querer passar confiança, mas só gritava: “me ajuda, tô desesperada”. ❛ E também não é uma brincadeira… ❜ Ela mordeu o lábio inferior, desviando o olhar por um segundo antes de voltar a encará-lo com a cara mais séria que conseguiu compor — o que não queria dizer muita coisa, considerando o quão vermelha estava. ❛ Eu só… achei que seria… educativo, sabe? ❜ Fez uma pausa dramática, erguendo as sobrancelhas, como se aquilo justificasse tudo. ❛ Não que eu saia por aí pedindo ensaios técnicos de beijo pra qualquer um. Nem que isso seja um hábito. NÃO É! ❜ Apontou o dedo pra ele, quase como quem ameaça, mas logo abaixou, envergonhada. ❛ É só que… você… você é… bom, você! ❜ Soltou um suspiro exasperado com a própria falta de articulação e bagunçou o próprio cabelo, frustrada. Tinha expectativas demais em coisas que ouvia nos bastidores, além de fantasias criadas por ela mesmo depois de ouvir sobre Hakon ser um lobo mal. Mas quem ela era, afinal? Ainda que não fosse uma criatura politizada, ela sabia que existiam diferenças entre eles, e depois do sumiço daquele vermelho durante o circo, ela se lembrava que aquilo que propunha não poderia acontecer. Fora o fato de que, é claro, Hakon era Hakon, enquanto ela era apenas... bem, Bora. ❛ Olha, Alteza, esquece. ❜ Virou-se de lado, como quem vai sair andando, mas parou imediatamente, voltando a se virar pra ele com um meio sorriso, meio desafio, meio desespero. ❛ Só… não tem televiosonar, não tem pegadinha… só eu, sendo ridícula. De novo. ❜ Depois de dizer, percebeu o absurdo da frase e soltou uma gargalhadinha constrangida, levando a mão à testa. ❛ Me desculpe, tudo bem? ❜ E cruzou os braços, esperando, resignada, pela sentença real dele — ou pela fuga estratégica.
Não era como se estivesse completamente ocioso enquanto participante da Althara. Enquanto a maioria usava os dias para arranjar encontros apenas com possíveis pretendentes, Hakon estava mais preocupado em conseguir reuniões com nobres influentes, herdeiros dispostos a ajudar e até vermelhos infiltrados dentro de algumas cortes. Seu posicionamento ali não tinha se dado ao acaso. Contudo, aparentemente, ele estava atraindo atenção demais. Não era comum que tivessem muitas trocas com vermelhos – estes, de modo geral, se mantinham invisíveis, especialmente em eventos como aquele, que dependiam do trabalho dos rubros para que funcionasse. Era por isso que ele estava surpreso que a garota soubesse seu nome e o abordasse com tamanha informalidade. Veja bem, Hak não desprezava vermelhos, mas apreciava a manutenção da ordem das coisas e entendia que a Magia tinha optado por fazer uma diferenciação que não cabia a ele questionar. Todavia, na posição em que estava, sendo esta de conhecimento geral, era bem possível que estivesse sendo visto como alguém mais acessível que outrora. " Claro. Quer dizer, acho que sim " respondeu, depois de um segundo e um pigarro, tentando compreender o motivo da afobação. Ele não sabia no que ele poderia ajudar uma vermelha, nem quando passara a ser visto como alguém que prestava favores, mas não daria sinais de incômodo quando podia ajudar. " Uh, minhas habilidades técnicas são bem restritas... " começou a dizer, para deixar claro que talvez ele não fosse a melhor opção para o que quer que ela estivesse precisando, até porque não estava conseguindo acompanhar a linha de raciocínio. Confiável? Ensaio? O cenho do príncipe foi se franzindo cada vez mais à medida que escutava, tendo se remexido quando a outra começou a falar sobre não sentir nada por ele... " Mas que diabos...? " ele queria completar a pergunta sobre o que ela estava tentando dizer com levantar os pés. Até que ela tagarelasse que ele seria seu mentor de beijo. " Calma, será que você pode respirar só um segundo? " cortou, temendo que ela continuasse a falar, negando com a cabeça enquanto processava. " Desculpe, isso é algum tipo de brincadeira? Estão nos filmando agora para televiosonar? Você é uma atriz contratada? " perguntou, genuinamente confuso, enquanto procurava por câmeras em torno deles. " Ou isso faz parte do programa? " enviar uma vermelha atraente até ele para seduzi-lo e testar sua reação diante das câmeras parecia muito com algo que Kestrel faria para desmoralizá-lo, mas ele não podia acusar sem provas.

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