Tumblr dedicado a atriz e cantora Marjorie Estiano e ao ator Thiago Fragoso que deram vida aos personagens Laura e Edgar (Laured) na novela Lado a Lado
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Por Thiago
Desperto surpreso com o toque suave dos lábios dela sobre os meus. Sorrio. Não foi um sonho. Estou mesmo aqui, com ela, envolto em meus braços. Tínhamos passado a noite juntos e ao que tudo indica passaríamos a madrugada também. Basta olhá-la nos olhos para saber disso.
Torno a fechar meus olhos e deixo-me acariciar pelos beijos na nuca. Sinto o corpo inteiro arrepiar quase que instantaneamente, mais ainda, quando sinto a voz quente e suave invadir meus ouvidos.
— Você está com sono? – Marjorie graceja, mordendo o lábio inferior.
— Você não dorme, não? – questiono, apoiando o peso do corpo com os cotovelos.
— Dormir? Dormir é a última coisa que eu quero, que eu penso em fazer com você aqui... Vou ter tempo o suficiente para isso depois. Agora... Agora eu quero você, quero aproveitar ao máximo, cada segundo que resta do meu tempo com você, para poder lembrar depois.
Suas palavras ardem o meu coração, queimam minha pele. Percebo o calor se alastrar ainda mais, a medida em que as mãos abeis de Marjorie deslizam até chegar e parar na minha região intima, que nem bem é apalpada, mas ele já sente todo torpor.
— Marjorie! – repreendo-a. É algo novo, completamente, novo para mim. Nunca antes uma mulher tinha me tocado assim, nem mesmo a minha esposa, não a culpo por isso, apenas respeitava o fato dela não gostar de praticar o ato.
— Eu quero te dar prazer, Thiago – suas palavras chamam minha atenção. Como ela consegue ser tão ousada e destemida? — Me deixa te fazer sentir? — Sem saída, acuado como um menino, sou obrigado a admitir.
— Eu... Nunca... Eu e a Mariana nunca... — Marjorie encara-me surpresa, não esperava, nem de longe, ouvir essa confissão.
— Você está querendo me dizer que a Mariana nunca?
— Uhmmm
— Sem problema, eu mostro a você o quanto é bom. — Entregue. Estou novamente entregue as carícias das mãos habilidosas de uma Marjorie que ele conhecia a pouco e já a amava. O poder de dominar que ela exercia sobre ele era tentador. Ele participava do jogo que ela impunha, se questionando quantos ou tantos outros artifícios e artimanhas, ela será capaz. — Você gosta? – ela ergue a cabeça com o olhar curioso para inspecioná-lo — Me diz, Thiago, você gosta assim?
— Gosto... Ah eu... Eu gosto, Mah... Continua vai...
Levo a mão aos seus lindos cabelos, incentivando a continuar com os beijos em torno do meu pau rígido e excitado pelo prazer já proporcionado. Em vão, tento controlar os impulsos do meu corpo, respiro buscando pelo ar que parece mais rarefeito aos pulmões.
Como consegui viver sem ter conhecido esse prazer antes? Ele se pergunta e como o homem que é, duvida que vá continuar vivendo sem tal prazer, sem tê-la. Como viver sem ela depois que amanhecer o dia?
Antes que ele possa pensar em algo mais outra onda de prazer o invade ele ura tomado pelo desejo. Oh, como ele sente. A expressão dele enquanto ela o toco. Músculos se flexionam com tremores de urgência reprimida. Thiago põe uma das mãos na lateral da cama, agarra o lençol com força, a cabeça baixa, a respiração rápida.
Quando Marjorie alcança sua barriga, ele começa a praguejar baixinho. Quando o tomo em minha boca, ele não consegue formar palavra alguma, só longas vogais com voz rouca.
— Aaah Maaaaarjorieeee... Mais, eu quero mais, Mah
— Mais?
Mais. É a única coisa que ele consegue pedir. Mais. Ele quer mais. Quer tê-la de novo e de novo. Quantas vezes fossem possíveis. Ama-la até a exaustão, até doer e não suportar mais, até adormecer pelo cansaço.
— Eu quero mais, quero você, Marjorie, de novo, agora.
— Eu também quero, também te quero, Thiago.
Se pudesse, Marjorie o faria sentir-se assim o tempo todo. Amado e adorado. Eu faria suas dúvidas e inseguranças se derreterem em minha boca. Afastaria seus medos com toques fascinados e gemidos agradecidos.
~*~
O cheiro dela está em mim, é tão bom acordar sentindo esse perfume. Viro de lado e os olhos encontram com o despertador que marca 07hrs da manhã. Imediatamente, salto da cama, apressado, não poderia ter dormido tanto. Não posso estar aqui, a essa hora.
Mas estou e me culpo por isso. Visto minha cueca e calça e reviro o ambiente com os olhos a procura da minha camisa e nada.
— Marjorie, você viu a minha... – A pergunta morre na boca, quando a encontro na cozinha usando-a como traje. Paro estático, admirando a cena diante dos meus olhos. Lá está Marjorie. Está vestindo minha camisa, os cabelos em um coque, dançando ao som de uma alguma música. Só que não posso ouvi-la. Ela está usando fones de ouvido. Despercebido, eu tomo um assento no balcão da cozinha e assisto o show. Ela está fazendo café da manhã, seus cabelos desprendem enquanto ela se mexe de pé para pé, e percebo que ela não está vestindo roupas íntimas. Aquilo lembrava tanto um sonho que demoro a perceber que ela me cumprimentava.
— Oh, bom dia, achei que você não fosse acordar mais.
— Bem que eu gostaria, viu? Você tá linda assim. Observo-a derramar o café no bule. É um espetáculo elaborado e confuso. Ela o retira quase imediatamente e coloca o em uma das xicaras dispostas sobre o balcão. Minha boca está se contraindo com a minha diversão
— Humm... Thiago, você não quer café?
— Quero. Senta aqui, senta — eu convido, puxando-a em meus braços, seguro-a diretamente contra o meu corpo.
— Humm... — Ela arfa com surpresa e sinto-a contra mim. O dia está lindo. É uma manhã gloriosa, os raios de sol aquecem o pequeno ambiente e o tornam ainda mais aconchegante. Marjorie está radiante, talvez subjugada pela minha libido. Eu a quero. Ela é tão sedutora. Meus dedos puxam o cabelo dela, puxando seu rosto para o meu, e olho em seus olhos cativantes.
— Que foi? - Gentilmente a beijo, em seguida, provoco seu lábio inferior com os dentes.
— Sua barba.
— O que tem ela? — Ela acaricia meu rosto e passa os dedos pelo meu queixo, e minha barba fazendo cócegas. Fecho meus olhos, saboreando o toque dela.
— Não... Não é nada eu só pensei...
— Fala o que você tá pensando? - É ainda tão nova, essa sensação, a manhã tranquila. O ato de tomar café da manhã em sua companhia. Não me importo dela tocar o meu rosto ... ou os dedos no meu cabelo. Apenas aprecio.
— Eu só estou imaginando como seria te beijar sem essa barba. — Finalmente, ela responde, girando lentamente em meus braços para me encarar.
— Humm... Quantos fetiches você tem, hein? - Minha voz é rouca de desejo e minha calça jeans está se tornando extremamente desconfortável. — Aposto que esse é só um dos muitos que você tem!?
— Você não conhece nenhum deles, ainda – Ela está claramente querendo me provocar. Como não conheço outra forma de me satisfazer, eu participo do seu jogo.
— Eu conheço, ao menos um, eu conheço.
— Humm, você não imagina o que o meu capitão Fragoso é capaz. – Ela fita o meu olhar com desejo.
— Ah, deixa eu adivinhar, aposto que eu te amarei num mastro e te torturei muito, não? -
— Foi uma tortura muito prazerosa –
— Mais prazerosa do que me ter aqui? - Teço minhas mãos pelos seus cabelos e a beijo duramente, perguntando-me se deveria transar com ela sobre o balcão da cozinha uma última vez, como uma despedida.
— Não! Nem se compara. - ", ela diz baixinho, suas bochechas cor de rosa. — Esse prazer é incomparável. – Ah, eu a quero. Sei que deveríamos nos alimentar primeiro ... ou ao menos eu deveria deixa-la comer suas torradas com manteiga em paz, ao invés de estragar o banquete do café da manhã.
Beijo-a mais uma vez, pensando no que está por vir... meu beijo se aprofunda e desejo endurece meu corpo. Quero essa mulher. Pense em outra coisa que não sexo, por favor, Thiago!, libero-a, e nós dois estamos sem fôlego.
— Qual é a música? digo, com a voz rouca. Notando sua confusão, refaço a pergunta — A música que você estava ouvindo com os fones de ouvido?
—Villa-Lobos, uma ária das Bachianas Brasileiras. Bom, não é?
— Humm, e dá para dançar ouvindo música clássica, Mah, você me surpreende
— Você está caçoando de mim, do meu jeito estiloso de me movimentar enquanto preparo o seu café da manhã, Sr. Fragoso. Olha se for isso, eu
— Não, não estava ..., mas, e se, por um acaso, eu estivesse, você faria o quê? – O seu semblante muda de repente, e um sorriso travesso brinca em seus lábios. Um calafrio toma o meu corpo quando ela sussurra.
— Você pode esperar aqui, um momento? – O que ela está planejando? Queria ler seus pensamentos. Marjorie salta do meu colo e caminha em direção ao banheiro.
— Eu já posso ir? - pergunto ansioso enquanto mil ideias passam pela minha cabeça. Não aguardo por alguma confirmação ao meu pedido. Sigo pé ante pé em direção à onde ela está. Paro, estático na porta. Ela está vasculhando o armário do banheiro, exposto no balcão da pia estão alguns objetos que me apavoram – navalha e tesoura – há ainda creme para barbear, loção pós barba. — Marjorie, dou-lhe um susto — você não está pensando em..
— Estou.
— Não, você não está!
— Porque você não confia em mim, Thiago?
— A questão aqui não está em confiar ou não, é outra: nós estamos falando do meu cabelo e da minha aparência pessoal.
— Oh, me desculpe, onde está mesmo, aquele cara todo corajoso e disposto a tudo por um personagem. Como foi mesmo que você me disse. “eu não sou dono do meu cabelo” – está com medo do que eu posso fazer com ele?
— Ah... sinceramente, Marjorie, eu estou – encaro a navalha sobre o balcão — você realmente sabe usar isso? Por um caso, não teria uma Gillette, dessas comunzinha de supermercado? – Ela gargalha alto, sentando se sobre o balcão do banheiro, me puxa estrategicamente para frente do seu corpo, as pernas enlaçam minha cintura. Eu adoraria essa posição, em outo tipo de situação, uma em que eu estivesse sob controle, mas agora só consigo pensar que vou ter a barba aparada por uma lâmina afiada, e estou suando frio. Respiro fundo, conto até três e torço para que Marjorie saiba mesmo manusear essa coisa.
— Relaxa, Thiago, eu não vou machucar você. Tem coisas sobre mim que você ainda não conhece, por exemplo, a minha habilidade em fazer barba. — Agradeço por ela não ter começado ainda, e mais ainda por estar preocupa em se explicar. — Durante alguns meses em que meu irmão, Marllus se mudou para cá, ele sofreu um acidente, ficou impossibilitado de fazer inúmeras tarefas, e uma delas era justamente fazer a barba, então eu precisei aprender. E bom, você deve estar se perguntando o porquê da navalha, quem me ensinou foi nosso avo, e, você pode imaginar, ele é daqueles senhores antigos que vão a barbearia e só aceitam fazer a barba se for a moda antiga. – Ela me observa calmamente e prossegue — Acho que isso me dá permissão para realizar a tarefa, certo? – Eu sorrio apaixonado. Ela é tão cativante. — Ou você tem mais alguma pergunta, Thiago?
— Ah, não, não, me desculpa. Sem mais perguntas, você tem a minha total permissão para executar a tarefa. – Ela sorri confiante e quase me odeio por perguntar — Mas, antes você pode me dar o contato do Marllus, preciso falar com ele, você sabe, só checando informações.
— Ah, Ótimo - ela diz, a palavra tão suave como um suspiro. — Besta, como você é besta, Thiago. – Ignorando minha piada, ela dá de ombros e começa o seu trabalho de maneira concentrada. É bonito, elegante vê-la vasculhar o armário em busca da loção de barbear enquanto abre a torneira, e água morna jorra em uma vasilha pequena.
— Você pensou em tudo – meu pensamento sai em voz alta sem que me dê conta, seus dedos tocam meus lábios, como quem pede para que eu pare de falar. Eu instintivamente obedeço, submisso. Seus dedos em contado com minha pele, espalham a espuma de barbear e, então o que o processo que eu temia se inicia, com movimentos ágeis ele remove o pelo do meu queixo, depois contorna a navalia sobre a altura do bigode e soa provocativa:
— Você gostaria de deixar o bigode, Sr. Fragoso? – Me encaro no espelho por uns milésimos de segundos e sou rápido em negar, aproximando o seu corpo ao meu, aperto as coxas e a sinto arfar.
— Cuidado, não perca a sua concentração, Srta. Estiano - Apoiando-me contra ela, acaricio o seu cabelo. Seu perfume permanece nas minhas narinas, calmante, familiar, e unicamente Marjorie. A sensação de seu corpo contra o meu é tanto calmante e sedutora. Ela realmente é perfeita.
Eu admiro o trabalho que ela acabou de concluir. Grato por esse momento único, beijo sua testa e em seguida, tomo sua mão e puxando-a para o chuveiro quente.
— Ai - ela guincha e fecha os olhos, encolhendo-se sob a cascata fumegante. Sorrio para ela. Abrindo um olho, ela levanta o queixo e lentamente se rende ao calor. Espremo sabonete líquido na minha mão, fazendo espuma, e começo a massagear seus ombros. — Tenho mais uma coisa para contar - diz ela, seus ombros tensos.
— Ah, é? - mantenho a minha voz suave. Por que ela está tensa? Minhas mãos deslizam sobre os seus ombros até chegar a seus belos seios.
— Eu vou tirar uns 15 dias de folga, minha irmã Ellen me convidou para passar uns dias em Curitiba.
—Sim, o que é que tem?
— Eu disse que iria. Quer vir comigo? – As palavras saem desesperadas, como se ela estivesse ansiosa para dizê-las.
Um convite? Estou atordoado.
— Quando é, você já definiu a data?
— Eu estou pensando em ir esse fim de semana, o que acha?
— Tudo bem - digo sem pensar. Eu quero muito ir. Quero estar perto dela, da sua família. Fazer parte da sua rotina. Da sua vida.
— É Sério?! Você está falando sério, Thiago, está tudo bem mesmo? – Eu a encaro com paixão. Não digo nada, apenas quero provar que sim. Sim, está tudo bem. Sim, quero tornar o que temos realidade. Quero fazer desse momento, o nosso refúgio. Quero amá-la enquanto ainda tenho tempo.
~*~
— Thiago! Até que enfim, onde você estava? – Diego abre a porta, preocupado. — A Mariana ligou desesperada...
— O que você disse para ela? – Adentro o seu apartamento. Não podia ir para minha casa. Não podia encarar a Mariana. Não agora.
— Menti, disse que você estava aqui.
— Ainda bem, fico te devendo essa. – o agradeço, tomando a liberdade de me sentar em seus sofá, com os pés apoiados sobre a mesinha de centro. Ele imita o meu gesto e senta-se também no sofá oposto a mim.
— O que aconteceu? Ela está enlouquecida atrás de você.
— Eu sei... Não estava nos planos isso... A coisa fugiu do meu controle.
— O que não estava nos planos, eu não estou entendo nada, Thiago, dá pra explicar?
—Não dá... Não tem explicação pro o que eu vive, pro o que eu estou sentindo.
—Tá, e a mudança no visual, você consegue me explicar?
— É eu... Foi a Marjorie quem fez, ficou bom? – questiono, alisando a face e recordando dos bons momentos que tive com ela, instantes antes. Um fash rápido vem a minha mente, e sorrio maliciosamente.
— Fi-cou bom? Você tem coragem de me perguntar isso? Você passou a noite com a Marjorie, não foi?
— Passei... Foi a melhor noite da minha vida. Você não tem noção do quanto foi bom. Bom, não! Foi... Ah, Marjorie, que mulher! Que mulher é essa, Deus?
— Thiago!
— Que?
— A Mariana?
— Eu sei... Eu sei que fui um canalha, cretino, mas.
— Foi, não, você é um! Você não pensou nenhum minuto na sua mulher, na mãe do seu filho, no seu filho, Benjamin, na vida que vocês têm em comum?
— Não mistura as coisas ainda mais na minha cabeça.
— Não mistura as coisas? As coisas já estão misturas, você querendo ou não, Thiago. O que você vai fazer agora?
— Não sei. Não me faz ficar mais confuso do que eu já estou, por favor.
— Que ótimo, você está confuso, espero que esteja se sentindo culpado também, porque a Mariana não merece o que você está fazendo com ela.
— Nossa, você falando assim até parece.
— Parece o que, Thiago?
— Não é nada, passou uma coisa pela minha cabeça, esquece.
— Eu não quero que você estrague seu casamento, a sua carreira por romance sem fundamento.
— Ah vai começar, lá vem você com esse papo.
— Eu me preocupo com você, e não é como empresário é como amigo que eu tô falando. Pensa um pouco, vale a pena? Eu sei, a Marjorie é linda, é encantadora, faz qualquer homem virar a cabeça, até você. Hoje o objeto de prazer dela foi você, amanhã é outro e depois outro. Esse tipo de mulher é assim
— Esse tipo de mulher! Cala boca, Diego, você mal conhece a Marjorie. Não julgue como se você a conhecesse
— Ah é você conhece? Conhece bem?
— Conheço. Melhor do que você
— Tá bom, Thiago, você é adulto e vacinado, faz o que você quiser. Agora, pensa bem no que você vai fazer.
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Capítulo 57 – Minha sina é te querer demais
Por Marjorie
— Caramba, já vai.... – Merda, tropeço nos meus próprios pés. Que horas são?
— Marjorie!
— Eu já disse que estou indo, porra. Dá para parar de enfiar esse dedo na campainha? — Merda. É ele. — Thiago, o qu-e — Não tenho tempo de concluir, sua boca cobre a minha em um beijo urgente. Não consigo desviar. Porque ele faz isso, por quê? Porque causa em mim um turbilhão de sentimentos, por quê?
Tento afastá-lo, é inútil meu esforço. Sua língua buscando a minha. O hálito quente e com gosto alcoólico. Ele bebeu!?
— Thiago, você bebeu?
— Bebi
— E acha que pode vir aqui, você já viu que horas são?
— Não. O que isso importa. Droga, eu não quero conversar — ele responde. E, antes que eu tenha tempo de pensar ou me preparar ou correr, ele avança em minha direção. Suas mãos estão no meu rosto. Seu toque me faz ofegar. No momento em que tento levar ar para os pulmões, ele cobre minha boca com a dele novamente.
— Ah não... E o que você quer? — Ele respira com força, e suas mãos me apertam, uma a minha bochecha, a outra a minha nuca. Ele solta um leve som da garganta, e o calor me invade.
— Você sabe o que eu quero, você. Eu quero você. — Meu corpo está contra o dele, minhas mãos estão em seu cabelo. E cada motivo pelo qual eu deveria ficar longe dele perde o sentido quando nossas bocas se encontram. O beijo é rude e desesperado e cheio de uma paixão que não quero sentir.
— Vá a merda!
— Espera! Me desculpa, ok?
— Ok? — Gargalho alto. Ele realmente acha que as coisas são tão simples assim? Que vai chegar aqui e me beijar de forma audaz e está tudo resolvido. Não, definitivamente não. — Me faz um favor, me poupa disso. Me poupa das suas desculpas.
— Você não quer ouvir minhas desculpas
— Não
— Já entendi... posso pelo menos te entregar isso? — Odeio a forma como olha para mim. Essa atitude me atrai contra minha própria vontade. — É seu presente. Por favor não recusa, eu sinceramente vou me ofender se você o fizer. Eu o comprei alguns meses, porque bom... Não importa, eu apenas precisava te entregar isso .... E.… também pedir desculpa.
— E pelo que está se desculpando? — Estou tentando soar entediada por fora. Não quero que saiba o que está fazendo comigo. Ele não merece essa reação. Mais importante: eu também não.
— Agora você quer saber? Isso importa?
— Não — suspiro irritada, sento-me ao seu lado no sofá. Eu realmente não preciso das desculpas dele. Mas há uma necessidade aqui, a de nos entender então digo assim mesmo — Quando estiver pronto.
Ele fecha os olhos e enche o pulmão de ar antes de soltar num longo e constante exalar. Há uma sensação de expectativa no ar. Quando ele abre os olhos, ele aponta para um ponto no fundo da sala e foca nele. Seu rosto muda. Está mais suave. Arrependido.
— Me desculpe — ele diz, mas ainda não é sincero.
Ele engole saliva e aperta a mandíbula. Suas mãos se fecham enquanto ele oscila olhar de um ponto para o outro.
— Thiago? Ele pisca algumas vezes e baixa o olhar para o chão. — Eu amo você, Marjorie..., mas também amo a Mariana. Apesar das loucuras, de tudo o que ela tem feito, eu sei que seu único objetivo é proteger, me proteger, proteger o que ela ama. Não é o jeito certo, eu sei. —- Ele pondera como se o argumento fosse me convencer. — Mas foi a forma que ela encontrou. Ela não é a única confusa desta história.... Estava tudo perfeito antes de você chegar. Eu tinha uma vida com ela. Uma vida feliz e emocionalmente estável. Meus planos eram dar um irmão ao Benjamin, ser um bom pai, um bom marido, e na medida do possível, fazê-los felizes. Parece pouco, mas é o suficiente pra mim. Ou melhor, era... Era o suficiente até você chegar e bagunçar tudo aqui dentro.
— E.… e ao que isso nos leva?
— Como assim, o que isso nos leva? Você não ouviu o que eu disse. Nenhuma palavra...
— Sim, ouvi você ama Mariana.
— E disse que esse amor era... ERA — Ele enfatiza exaltando a voz — suficiente até você chegar e...
— Bagunçar tudo, sim, eu ouvi, e repito a pergunta, ao que isso nos LEVA?
— Nossa, Marjorie eu odeio esse seu jeito objetivo de ver as coisas, de simplificar sentimentos
— Ah, você odeia. Sabe o que eu odeio? Perder minha noite de sono para discutir com você. Eu tô cansada das suas promessas. Se você não tem nada de concreto para me dizer, por favor, vai embora.
— O fato de estar aqui não é suficiente para você? — Ele finalmente busca pelo meu olhar. — Eu não fui para casa. Eu não consegui ir. Se você não percebeu eu passei a noite inteira na aquela churrascaria bebendo e cuidado de você, ignorando completamente as reações da minha mulher.
— Você não consegue, não é?
— Da minha ex-mulher. Da minha ex-mulher. Eu pedi o divórcio. Você não queria algo concreto. Eu pedi o divorcio
— Ah pediu... prova, eu quero ver, prova.
— Você não confia em mim, caramba Marjorie, eu achei que minhas palavras tinham mais peso para você. Que nossa relação significasse algo para você tanto quanto significa para mim.
— É claro que significa, significa muito, mas...
— Não precisa explicar, eu vou embora, eu espero que você goste do presente ao menos, foi difícil manter ele a salvo até hoje. Até essa noite. Eu tinha planos para nós essa noite, mas ah ... esquece, é melhor eu ir.
— Espera, espera pelo menos eu abrir o presente, você quer saber se eu gostei, não? – Desembrulho o pequeno pacote com laço de fita e sorrio ao ver a joia com o pingente de coração dourado. Admiro sua escolha, curiosa para saber o que o fez escolher um relógio
— Você gostou?
- pergunta ele, depois de um tempo me observando em silêncio absoluto
— É claro que eu gostei, - o encaro finalmente, dando-me conta de quanto suas atitudes podem me surpreender — eu amei, é lindo... Você pode colocar para mim, por favor?
— Claro... é claro, e-eu coloco — ele parece dizer mais para seu subconsciente do que para mim, retirando o colar da caixa. Cuidadosamente Thiago afasta meus cabelos para o lado, seus dedos encostam em minha pele. O simples contato me faz arrepiar. — Ficou lindo em você — sussurra com os lábios próximo ao meu ouvido. Fecho os olhos e suspiro. Ele sabe o quanto seu ato me afeta e prossegue depositando um beijo no lóbulo da orelha, inspira traçando uma linha imaginária de beijos em meu pescoço. Porque não o impeço?! Porque não consigo dizer uma só palavra! É tão simples, Marjorie...
— Thia-go, eu – Ensaio uma fuga, mas as palavras morrem sufocadas pelos seus lábios colados aos meus – Ah... A quem eu estou querendo enganar? Eu não quero mais resistir. Não posso mais resistir. Deixo-me levar, estou em seu colo, pernas presas a sua cintura, de frente para ele, abraço-o pela nunca, os meus dedos deslizam em torno dos seus cabelos enquanto aprofundo o nosso beijo. Sinto o quanto ele anseia pelos meus beijos. O quanto desejamos um ao outro.
— Minha sina é de quer de mais, Marjorie
— Eu sei. Eu estou vendo, ou melhor, sentido o quanto o você me quer
— É está tão obvio assim?
— Que bom que está, eu senti sua falta. Tenho algo para te mostrar.
— O QUÊ!? — ele bufa, perdido com minha mudança de planos. Estou sorrindo internamente pela sua cara de frustrado.
— Uma música, eu escrevi ontem à noite – saio do seu alcance, para buscar minhas anotações — Quero sua opinião.
— Hã, é Sério, Mah, eu achei que nós fossemos... – adoro ver a confusão de sentimentos se formando em sua mente — não estou com cabeça para músicas agora. – Suspira inconformado.
— Você prometeu, lembra? E eu posso cantar ela para você.
— Ah você pode, é? – ele sorri para mim, vindo ao meu encontro, abraçando pela cintura. — Na verdade, você deve. Não aceito menos do que um show particular, todo, especialmente para mim.
— Deus, como pode ser tão convencido, hein?
— Deixa eu ver o que você escreveu.
— Não – tiro a agenda do seu alcance —, eu vou cantar para você, esqueceu?
— Eu sei, mas quero ler mesmo assim – diz, erguendo-me na altura da mesa da cozinha — eu gosto de decifrar seus garranchos — Ele abre a agenda, folheia algumas páginas. — Parece triste – observa depois de um tempo lendo-a.
— Não é, eu penso em pôr um ritmo alegre, talvez um funk.
— Funk? Duvido que você coloque uma batida funk em uma das suas músicas, Marjorie.
— Porque você dúvida? Eu posso cantar um funk.
— Bem lembrado, vamos voltar ao ponto que interessa: canta a música para mim, canta. Eu quero ouvir você.
— A música não está concluída, eu tenho a melodia e o refrão e...
— Shh.... – Ele aproxima nossas testas e me silencia com o dedo indicador em riste — Só canta, meu amor, canta pra mim, canta. — O seu olhar carinhoso, me incentiva a começar a cantar.
— Te procurei a noite inteira. Não posso mais com brincadeira - resolvo o abraçar e sussurro a música pausadamente em seu ouvido. — A vida é curta. E a minha sina é te querer demais — Sem pressa. — Anuncia, me diga. Aonde for. Só me deixe estar — Nós estamos próximos, tão próximos que posso ouvir sua respiração ofegar, a pele estremecer com o som da minha voz, com o toque dos meus dedos em seus cabelos. — Me deixe estar. Aonde você foi, me diz. — Suas mãos envolvem minha cintura, trazendo-me mais para perto. — Pra onde for, me leva.
— Ah, eu te levo... Quero te levar para cama agora — Antes que eu tenha tempo de responder, ele se movimenta. Em três passos, está com os braços à minha volta, apertando-me contra si enquanto toma minha boca.
O choque inicial é rapidamente substituído por uma febre incontrolável, que derrete meus músculos e se entranha em meus ossos. Thiago geme e me beija outra vez, e outra, mais apaixonadamente a cada segundo.
Eu mal consigo acompanhá-lo. Ele nunca me beijou assim antes. Nunca. É como se ele falasse diretamente com meu corpo. Pedindo permissão, e desculpas, e desejando coisas impossíveis. Ele me empurra contra o sofá, e ainda que o beijo esteja cheio do mesmo desejo faminto que sempre existiu entre nossas bocas, também significa outra coisa.
Algo que sussurra sob minha pele e aquece o ar em meus pulmões. Eu sinto todos os meus nervos formigar enquanto ele pressiona seu corpo contra o meu e murmura em meus lábios:
— Me diga como parar de amar você, Mah. Por favor. Eu não tenho a menor ideia, droga.
Thiago me beija mais profundamente. Por mais tempo. Com mais intensidade. É sedução e vontade, crua e sem vergonha.
É tudo.
Seus movimentos são bruscos, impacientes. Quando ele segura minha camisa, ergo os braços para permitir que ele a puxe. Tem um calor que vem dele para mim e volta. Onde quer que ele me toque, me sinto queimar. Todos os lugares que ainda não tocou doem. Sua boca está em toda parte, como se ele tentasse me consumir.
Sei como Thiago se sente: também estou assim faminta por ele. Eu me atrapalho com os botões de sua camisa, desesperada para chegar à pele que ela esconde. Desabotoo a maioria, mas o último não quer abrir. Gemo enquanto rasgo o tecido e afasto a camisa dos seus ombros.
Quando minhas mãos finalmente tocam seu peito e sentem o pulsar acelerado ali, eu suspiro. Isso é mais que desejo. É até mais que amor. É imperativo. Necessidade irracional, animal. Eu não consigo beijá-lo de forma suficientemente profunda, ou segurá-lo suficientemente perto.
Ele não é gentil, e por mim tudo bem. Não estou acostumada com ele assim. Tão instintivo e descontrolado. Nada está sendo reprimido. Nada. E é tão excitante tê-lo assim que fico com um nó na garganta.
Thiago pega meu sutiã e puxa as alças para baixo, para tocar meus seios. Tudo o que eu sou vira ar enquanto ele me beija e me mordisca, e quando enfia a mão em minha calcinha, sou um longo suspiro sem fim.
Eu o agarro com tanta força que é como se tentasse entrar sob sua pele. Enquanto desafivelo e solto seu cinto, ele continua me provocando com a boca e os dedos, mantendo-me encostada ao encosto do sofá, para me impedir de fugir.
Abro o jeans dele, e só quando escorrego minha mão para dentro de sua cueca é que ele hesita por um instante. De repente, fica imóvel, e seu corpo inteiro treme enquanto eu o tomo na palma da mão e aperto.
Logo ele está agarrando meu cabelo e me puxando para cima. Então, me beija com paixão renovada. Ele faz uma pausa para desamarrar os sapatos e tirar as meias. Aproveito a oportunidade para beijar suas costas, seu ombro, seu bíceps.
Ele volta para minha boca, e eu arranco seu jeans e cueca. Thiago mal acaba de chutá-los para longe e já está puxando minha calcinha para baixo.
Não sei bem como chegamos ao quarto, mas chegamos. Eu o faço se deitar na cama para que eu possa saborear cada centímetro de sua pele quente e perfumada. Cada músculo tenso e delicioso.
Enquanto estou beijando seu torso, noto vagamente que ele tira a carteira do bolso da calça e põe um preservativo. Quando termina, faz com que eu me deite de costas e se instala entre minhas pernas. Acho que nunca vou me acostumar à intensidade de vê-lo assim. Nu e glorioso.
Ele está em cima de mim com olhos que são de alguma forma escuros, mas também cheios de fogo. Thiago examina meu rosto enquanto se apoia em um dos braços, seus ombros largos tensos, e então eu o sinto, empurrando, abrindo caminho.
Oh. Sua pressão, doce, extática. Eu olho para ele, fascinada. Essa sensação. Esse preenchimento lento e intenso. O incrível milagre de um corpo se unindo a outro.
Com alguns poucos empurrões suaves, ele está dentro de mim e, ah, meu Deus, eu não sou grande o suficiente para o turbilhão de sensações que ele provoca em mim. Sua boca está aberta. Os olhos pesados e piscando.
Ele começa a se mover, a princípio devagar, sua mandíbula travada, determinado. Então, sua vontade toma conta e ele ganha velocidade. Cada estocada o traz mais fundo. Eu me agarro a seus ombros, e observo enquanto seu rosto se modifica ao passar pelas diferentes camadas de prazer.
Ele enfia as mãos nos meus cabelos. Beija meu peito. Chupa meu pescoço. Enquanto faz isso, o tempo todo ele se move, longos deslizamentos que me fazem tremer e perder o fôlego. Um calor sobe pelo meu pescoço enquanto o prazer gira por dentro de mim.
Quando ele aumenta o ritmo, sei que estou fazendo sons embaraçosos, mas não consigo parar. Ele é demais. Quando não suporto mais sua beleza, eu olho para o teto. Que se agita e ondula. Desisto e fecho os olhos. Ergo os quadris para ir ao encontro dele. Agarro os quadris dele para apressá-lo. No final, eu me contento em ofegar.
A adrenalina corre pelo meu corpo enquanto estou numa corda bamba de sensações, e quando ele enfia a mão entre nós dois e faz movimentos circulares com os dedos, fico fora de mim. Caindo e voando ao mesmo tempo, e dando voz às longas, intensas ondas que me dominam. Ainda estou girando quando ele deixa escapar um longo gemido.
Ele recua e avança tão fundo quanto pode, depois desacelera, e finalmente para. A essa altura, nós nem somos mais duas pessoas; somente uma massa orgástica, nos agarrando um ao outro com braços e pernas trêmulos. Incrível. O que mais duas pessoas poderiam querer uma da outra?
Eu deixo escapar um suspiro profundo. O corpo de Thiago pesa sobre o meu, seu rosto escondido em meu pescoço. Passo a mão por seu cabelo e tento respirar.
— Eu amo você, Thiago Fragoso — digo, baixinho, ofegante. — Não importa o quanto as coisas fiquem difíceis, apenas lembre-se disso, o.k.?
Thiago fica tenso por um instante, e justo quando acho que meu coração vai parar pela falta de resposta, ele solta o ar e diz: — Eu... eu também amo você.
~*~
Ao abrir os olhos lentamente, me dou conta que ele adormeceu aqui com os braços envoltos sob a minha cintura, na minha cama, ao meu lado. Não havia ido embora como o esperado, como imaginei que seria.
Sim, acordar, sozinha, pela manhã era o risco que eu estava sujeita a correr. Mas quando tudo aconteceu, eu sequer pensei. Quem pensaria diante do amor da sua vida? Não cogitei, apenas me deixei envolver pelo sentimento a muito tempo acumulado.
E olhando para ele agora, enquanto ainda dorme, tão lindo, tão sereno, fez tudo valer a pena. Cada segundo com ele, ao lado dele, valeu. Valeu muito.
Sem quer acordá-lo levo os dedos até a sua face e a acaricio cuidadosamente. contorno toda a extensão com um carinho que não sabia que tinha, mas sentia vontade de parar no tempo e permanecer assim por horas. Meus dedos pousam sobre seus lábios e então o beijo de forma singela antes de pôr os pés para fora da cama.
Envolta no lençol, busco com olhar pela camiseta do seu pijama, mas a única coisa que vejo são as roupas dele jogadas pelo chão. Caminho pelo corredor que vai dar até a sala e encontro o que procurava, mas algo me faz vestir a camiseta dele ao invés da minha. Sigo para cozinha, buscando por um café reforçado, estranhamente acordei com apetite incomum.
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Capítulo 56 - “Estou com uma sensação de luto mais do que fico em outras novelas que fiz.”
08 de março de 2013
Por Thiago
Luto! Essa é a minha sensação. Porque as coisas tinham que acabar? Porque tudo que começa um dia acaba? As respostas para as minhas perguntas são simples, eu sei disso. Qualquer um sabe até mesmo uma criança. Porque sim!
Porque sim – a resposta padrão a qualquer pergunta complicada demais que você não consiga explicar de forma racional a si mesmo. Tipicamente usado pelos pais ao responder um questionamento dos filhos em determinada época da vida.
Como eu odiava esse “Porque sim” quando criança. Era essa resposta padrão do meu pai quando eu lhe fazia uma pergunta a qual ele não tinha resposta. Eu quase posso ouvi-lo dizendo: “Porque sim, meu filho! Nem tudo na vida tem uma explicação e um dia, um dia você vai compreender isso”. Eu jurei a mim mesmo quando criança que jamais usaria isso como desculpa para minha vida e muito mesmo usaria isso de argumento para os meus filhos um dia.
Mas as palavras do meu pai nunca fizeram tanto sentido para mim como hoje. Acho que eu havia compreendido finalmente o que ele queria me dizer com isso.
O amor é uma dessas coisas que não tem uma explicação e o que eu sinto pela Marjorie - eu sabia - também não tinha, porque é amor. Eu a amo e como amo...
— O que você tem hein, Thiago? Você não para de olhar pra esse relógio. – Não digo nada apenas o olho indisposto para fazer qualquer comentário. — Hum, não precisa me dizer, eu já sei, tá esperando certa pessoa, né? Não fica nervoso, daqui a pouco ela aparece. Só disfarça melhor para sua mulher não reparar e pegar no seu pé, meu amigo.
— Cala boca, Emílio, vai ver se eu tô na esquina, vai!
— Uruh, por seu próprio bem, tô rezando para ela aparecer agora mesmo, que é pra ver se melhora esse seu humor do cão.
— Dê quem vocês estão falando? – Emílio ia abrir a boca para se explicar, mas não eram mais necessárias explicações a Mariana não era burra, ela já tinha sacado tudo quando a Camila anuncia a chegada da Marjorie.
— Olha só quem chegou pessoal: A aniversariante do dia!
— Já não era sem tempo, né Marjorie? – o Emílio diz me cutucando, eu podia matá-lo agora, se Deus me desse força para isso. Quem tem um amigo como o Emílio, não precisava de inimigos, com certeza, não. Custava ele ser mais discreto e deixar essa piadinha para outro momento? De preferência, um em que a Mariana não estivesse no meu encalço?
— Sei que você esperava uma festa surpresa, mas… – diz a Camila, tentando quebrar o clima tenso.
— Hey, vamos parando os dois aí! É meu aniversário, sim, mas eu não sou a única, Rhaisa também está completando mais um aninho de vida hoje, não é mesmo?! – diz ela, sorrindo discretamente para Rhaisa. — Esse não é o foco hoje – continua limpando a garganta, o sorriso típico ainda está no rosto. Nenhum pouco confortável com a situação, Marjorie cumprimenta a Patrícia, sentando-se ao lado dela em seguida. — Estamos aqui para assistir ao último capítulo da novela, lembram?
— Pera lá, Marjorie, vamos fazer uma correção aí: O aniversário de vocês pode não ser o foco agora, mas só por hora, viu? Não é, Thiago
— É! – respondo sem saber o que ele queria insinuar com isso. Agora se a sua intenção era me deixar constrangido diante da Marjorie, ele conseguiu.
— Gente, vamos parar com isso que daqui a pouco a Marjorie faz como no último dia de gravações, e sai à francesa. – Agora é a vez da Priscila brincar com a cara da Marjorie e eu encaro-a curioso pela sua resposta.
— Ah, não… até você, Priscila? Será possível, o que é isso? É complô contra mim, agora?
— Não é amiga, não mesmo, mas é que… convenhamos você tem se ausentado das comemorações ultimamente. Só você não, o Thiago também – A Priscila parece fazer um comentário daqueles que elas só têm coragem de conversar entre si, então foco ainda mais a minha atenção nelas, mas antes que ela falasse algo a respeito de ontem, ouço o chamado do Dennis:
— ATENÇÃO, VAI COMEÇA!
Porquê hein, Dennis?. A novela começa, mas quem disse que eu consigo prestar atenção nas cenas finais do meu personagem. A minha cabeça está no que a Marjorie poderia ter dito ou não a respeito de ontem.
Quando a nossa cena final passa é que me dou conta de que a próxima segunda-feira não será mais a mesma. Acabaram os nossos encontros no Projac, as conversas, a descontração de ter a sua companhia diariamente. Eu não a veria mais com a frequência que eu gostaria e pensar nisso doía. Doía mais do que eu imaginaria que fosse doer um dia.
Resolvo pedir uma bebida ao garçom, eu geralmente não bebo nessas ocasiões, mas para tudo sempre há uma exceção. Hoje é um dia de exceção. Hoje é o aniversário de Marjorie e eu sequer posso abraça-la como deveria ou dar a ela o presente que comprei.
Reviro a pequena caixa de joias em bolso. Queria poder agir de forma natural e espontânea como sempre agimos um com outro e ir ao encontro dela. Queria me sentir menos culpado pelo que aconteceu com Marjorie. Eu não estou sabendo lidar com a atual situação em minha vida.
Mariana não é mais a mesma. Não que pessoas não possam mudar de comportamento, elas podem, até devem se for para melhor. Não é esse o caso. Por mais voltas que meu cérebro tenha dado nos últimos dias, não encontro solução.
Peço outra bebida, ciente de que estou sendo observado por dois pares de olhos. Um severo o outro preocupado.
— O que foi hoje é um dia de exceções – murmuro, engolindo mais um gole. — Um homem deve beber quando tem seus dilemas.
— Wou, cara essa foi pesada. – Emilio me reprende. — Sabe você perdeu uma ótima oportunidade para meter o pé na jaca, vo-cê... - ele olha para Mariana e então conserta. — Vocês deveriam ter ido à festa.
— Para quê? Para assistir a mais um show particular da “sua amiga”, não, obrigada, acho que eu já estou cansada disso e o Thiago também...
— Wou... eu o quê!? Me diz quando você vai parar de colocar palavras na minha boca?
— Porque você não está casando? – A voz alterada de Mariana é abafada pelo som de aplausos. O capítulo havia terminado enquanto eu e ela discutíamos pela terceira vez em um único dia.
Estou tão cansado disso, até quando eu vou suportar Mariana e o seu jeito intempestivo de encarar os fatos. Estou tão cansado de discutir o tempo todo. Estou tão cansado de ouvir o nome de Marjorie ser ecoado como uma maldição. Porque é assim que soa todas as vezes que o ouço da boca da minha mulher.
Eu sou o errado. O culpado da história, e o pior é que, em parte, eu me sinto assim. Casamento é algo sério. Isso não é uma babaquice, é um código entre duas pessoas. Ninguém casa um dia querendo se separar no outro. É para ser pra sempre ou pelo menos enquanto for bom para ambos.
Eu não queria estar nessa situação. Se pudesse escolher, escolheria não magoar Mariana. – A mãe dos meus filhos. É isso o que ela representa na minha vida agora, e por isso eu quero seu bem. Quero manter uma convivência pacífica pelo bem dos nossos filhos. Quero ser capaz de construir isso.
Quero ser capaz de estar com Marjorie sem estar cometendo um erro por isso. Porque eu a amo. Amo muito. As pessoas com quem conversei dizem que eu devo esquecê-la. Que é coisa passageira, de momento, que dá e passa.
Especialmente o Diego, é impressionante a forma como ele defende a Mariana. Ele diz que eu devo esquecer a Marjorie, que tudo se resolve com o tempo. As coisas vão voltar a ser como eram antes. A Mariana precisa da minha ajuda e Benjamin não viveria sem mim.
O problema é esse: eu não quero que volte a ser como era antes. Eu não quero minha vida sem ela. Eu não imagino minha vida sem ela.
Reviro mais uma vez a caixa de joias em meu bolso tomando impulso para ir até ela. Há tanto tempo tenho esperado por esse dia. O tinha imaginado de tantas maneira, mas em nenhuma delas, nós estávamos tão distantes.
— Bom pessoal, a festa está boa, mas eu já vou indo... – Ouço-a se despedir. Ela está indo embora. Não!
— Ir? Onde você pensa que vai, mocinha? Você não achou que sairia daqui sem os tradicionais parabéns pra você? Na-na-ni-na não! Cadê o bolo das aniversariantes? – Dois bolos são trazidos a mesa pela equipe do restaurante e o pessoal começa a puxar o coro de parabéns para as aniversariantes do dia. Respiro aliviado. Ainda que eu não possa falar com ela. Saber que ela ocupa o mesmo espaço e eu posso observa-la, mesmo que distante, é gratificante. É tudo o que quero.
— Camila! – ela exclama revirando os olhos. Está mais animada. E o sorriso antes contido, agora é amplo e feliz. Eu gosto deste sorriso.
— Que foi Marjorie? Você merece. Faz um pedido… anda logo! – Camila a incentiva.
Acompanhado a Rhaisa, Marjorie inclina o corpo para frente e com um gesto sutil assopra as velinhas. — E PRA MARJORIE E A RHAISA: É TUDO OU NADA, PESSOAL? -Lazaro faz o que eu gostaria de ter feito. É horrível estar parado aqui e assistir a tudo como um mero espectador.
— É TUDO! – respondo em uníssono. Sua gargalhada enche meu coração de amor e acelera mais de pressa com a pergunta: — E o primeiro pedaço de bolo vai pra quem, Marjorie? - Ela faz questão de deixar em suspenso.
— Uhmm... – Seu jeito é irritante e encantador. — O primeiro pedaço vai para... Uma pessoa muito especial, a qual eu amo muito! Que me atura... Nos momentos mais difíceis e complicados da minha vida...
— Quem é? – Camila quase pula em ansiedade. A mesma ansiedade que está em meu coração. Ela não diria que é para mim, eu sei disso, mas suas palavras, o jeito que enfim ela encontrou de olhar para mm, me faz feliz.
— EU MESMA! – Seu jeito contagia a todos. Estão todos rindo, por causa dela: Marjorie.
— Ah, Marjorie... Vai se cata! – Bom... exceto a Camila. Dou risada da cara de frustração dela. Obvio que ela esperasse que o primeiro pedaço de bolo fosse seu, mas Marjorie é sempre Marjorie.
— Que foi, ué? Quer pessoa melhor do que eu. O bolo não é meu, então? – argumenta ela, enquanto leva um pedaço maior que boca para dentro do estômago.
— Só você mesma pra fazer essas coisas! – Eu as observo conversar como boas amigas que são. Camila é a companhia, a cumplicidade, o ombro amigo que eu queria, mas não posso ser. Não com Mariana me vigiando 24h por dia.
— Ela está linda hoje, não? – Emilio me tira do transe. — Desculpe ter que lembrar você disso, mas... Quer saber, vai lá, conversa com ela. Eu cuido da Mariana. Faça um favor a si mesmo e entrega logo esse presente para Marjorie, pode deixar que eu cuido do resto.
— Você tem razão, eu vou...
— Vai, vai mesmo!
— Ele vai... Nós vamos... Vamos? Nós já podemos ir... Thiago, vamos, o que foi?
— É – encolho os ombros, sem dizer nada. — Valeu a tentativa, irmão.
— O que foi? O que tá acontecendo Thiago, você pode falar comigo?
— Eu posso, mas não quero falar com você, Marina, vamos!? Você não vem... você não queria ir embora? Eu estou indo embora. Vamos! - Eu desisto de tentar explicar algo a ela e resolvo agir sem me importar com as consequências. — Espera... Eu preciso entregar um presente para Marjorie... Hoje é o aniversário dela. E nós já vamos embora.
— O quê?!
— Sim, para Marjorie, você ouviu bem... Você pode vir junto se quiser ou ficar aí, você escolhe. Eu vou cumprimentá-la, você querendo ou não.
— É sério!? Você não pode está falando sério, Thiago.... Thiago, espera!
— Marjorie... - Sorrio de forma contida. — Nós viemos dar os parabéns a você, porque está tarde, já deu a nossa hora. – Por que eu estou falando desse jeito com ela? Por que eu estou agindo como um completo idiota? Droga!
— Uhmm... – Ela acena sem jeito. Eu preciso fazer algo. Preciso abraça-la. Um abraço é tudo o que eu quero. Eu corto a distância entre nós e envolvo sua cintura, trazendo a para perto de mim. — Tudo de bom pra você – Droga, você não tinha coisa melhor para dizer, não? Todo esse tempo e a única coisa que você soube dizer foi isso: Tudo de bom pra você.
— Eu não acredito. Vocês já vão? - pergunta o Rafael - Mariana também a cumprimenta, e eu sei o quanto isso é constrangedor para Marjorie. Sei que ela não merece passar por isso, mas não fazer nada é pior... Eu sequer consegui dar a ela, o que eu venho guardado a meses. Também como poderia com Rafael tagarelando. Ele realmente não sabe seu lugar.
— Sim! – respondo com cara de poucos amigos.
— Mas logo agora que vai rolar um karaokê e Marjorie vai dar uma canja.
— Quem falou isso, posso saber? Que canja, o que!? Você está vendo alguma galinha aqui? Porque eu não tô vendo. – Ela mantém o contato visual comigo, quase explodo com aqueles lindos olhos castanhos me observando. Eu quero que isso continue, por Deus, talvez essa ideia de karaokê não seja tão ruim assim.
— Bora, Marjorie!
— Bora, nada… não vou a lugar nenhum. Quem disse que eu vou cantar?
— Deixa de ser estraga prazer e vem.
— Só queria saber qual o prazer que isso tem?
— O prazer de ver você se divertir no seu aniversário. Não é um bom argumento?
— Só se for pra você, porque pra mim não é. – Marjorie e Rafael discutem, enquanto eu decido pegar uma cadeira e me sentar na mesa mais próxima ao palco. O pessoal começa a sugerir canções para que a Marjorie cantasse e eu mal posso esperar para ouvi-la. Seja qual for a canção eleita, isso vai ser divertidíssimo.
— Hey... nós não íamos embora?
— Mudei de ideia, nós vamos ficar... - – Mariana caminha ao meu lado. Quase tão próximo que mal consigo respirar. — Quero dizer, eu vou ficar... – Encaro-a. — Você pode ir.
— Eu não vou. Ah... não vou. Eu sei que é isso o que você quer, mas eu não vou. Não vou mesmo.
— Tudo bem, você pode ficar, puxa a cadeira aí, senta, eu não me incomodo – eu digo, fazendo o gesto simultâneo ao dela, puxo a cadeira e sento. — Tô mais interessado no show ali na frete. Você tem que ver como ela canta bem.
— Jura?! Eu não acredito que você está me dizendo isso.
— Estou... Porque, isso te incomoda? Você não vai senta? Senta aí, senta logo, Mariana.
— Hey...Thiago, calma lá, amigão. Vamos todos sentar, certo Mari? – Lazaro, olha para Mariana e depois para mim, tentando apaziguar os ânimos, ele sugere. — Coloca o Karaokê para escolher a música aleatoriamente. – Assisto Marjorie ajudar Rafael na tarefa e depois implorar para que ele catasse com ela. Ele prontamente recusa o convite.
— Eu? Eu tô fora... Chama o Thiago, ele que é o cantor de musical aqui! – Quase tenho uma sincope quando ouço o meu nome. Sério que ele está sugerindo que eu suba no palco e cante com Marjorie?
— Você não ouse levantar dessa cadeira, Thiago, por favor, eu estou pedindo, não complica ainda mais a situação para minha amiga. – Camila diz. — Olha para ela...
— O quê?! Eu não ia... – a observo no palco confuso, os primeiros acordes da música que ela tem que cantar, ecoam. E ela está tão desconfortável, mal parecia a atriz que domina o ambiente que está. Seus olhos se perdem nos meus e ouço Camila sussurrar com altivez.
— Nós dois sabemos que você iria se pudesse, não minta para si mesmo. – Eu sorrio em concordância, vendo Marjorie dar o seu melhor para acabar logo com a situação constrangedora que o muito amigo, Rafael a colocou.
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08 de março de 2013
Por Marjorie
Tudo que cala, fala mais alto ao coração
Silenciosamente, eu te falo com paixão
Eu te amo calado, como quem ouve uma sinfonia
De silêncios e de luz
Nós somos medo e desejo
Somos feitos de silêncio e som
Tem certas coisas que eu não sei dizer
[...]
A música toca no rádio do carro enquanto eu dirijo a caminho da churrascaria Fogo de Chão na zona sul da cidade. É impressionante como até as músicas agora conspiravam a favor para que tudo me lembrasse dele.
Mudo a estação para afastar de uma vez por todas o meu pensamento. Outra música bem animada invade o ambiente. É a trilha sonora perfeita para mim no momento... Então aumento o volume, e começo a cantarola-la.
[...]
Hoje Hoje é meu dia de gente Hoje é proibido dormir Hoje Hoje é meu dia de gente Até o amanhecer Quero estar com você
[...]
Sempre dizem que o ano começa para você no dia do seu aniversário. Eu havia decidido: colocaria um sorriso no rosto e seguiria em frente. Custe o que custasse a presença deles naquela churrascaria não me abalaria. Não mais. Eu não deixaria me abalar como da outra vez em que nós nos encontramos.
Afinal como diz a letra da música: “Hoje é o meu dia de gente. Hoje é proibido dormir” E ninguém, ninguém mesmo estragará o meu dia.
Chego a churrascaria e antes mesmo de me posicionar para que os profissionais possam fazer o seu trabalho: fotografar e fazer as suas perguntas de praxe nessas ocasiões, sou recepcionada pelo entusiasmo contagiante da Camila, ao notar a minha presença corre ao meu encontro, dando-me um abraço do tamanho do mundo.
É tudo do que eu precisava para encarar essa noite, e ela sem saber contribui um pouquinho, dando-me forças com o seu abraço. E se agora, eu tenho um sorriso nos lábios devo isso a ela também.
Posicionamos para as fotos e então a Ângela, responsável pelas reportagens do site da novela me parabeniza pelo meu aniversário e aproveita também para pedir um depoimento. Eu claro, agradeço os cumprimentos e me animo em respondê-la.
— Sempre dizem que o ano começa para você no dia do seu aniversário. Meu aniversário começa com mais que um pé direito. Laura foi um presente! Eu sempre tive sorte de ser agraciada pelos autores com papéis muito bem estruturados.
Ela também aproveita e questiona a Camila a respeito do sucesso da novela e ela completa dizendo: — Sensação de dever cumprido e muito orgulho!
Nos encaminhamos à mesa, onde já se encontravam alguns amigos. Sou praticamente carregada até lá pela Camila enquanto a gente conversava animadamente. Ela é boa em me distrair. Estou surpresa por conseguir cumprir o meu objetivo de me divertir nesta noite, já que até então somos sorrisos e mais sorrisos.
Isso muda quando o meu olhar encontra com o dele. Por um milésimo de segundo o meu mundo parece parar. Meu coração acelera descompassado. A intensidade do meu sorriso diminui ao ver ela ao seu lado, mas mesmo assim, eu não consigo evitar sorrir ao encontrá-lo.
Obrigo-me a desviar o olhar do seu quando a Camila anuncia:
— Olha só quem chegou pessoal? A aniversariante do dia! - chamando a atenção de todos para mim. Ouço o Emílio soltar uma piadinha. “Já não era sem tempo, né Marjorie?” Mas não deixo de notar que ele cutucou o Thiago ao falar. Será que ele estava ansioso pela minha chegada? Ao jugar pela forma como ele reagiu a encarada que o amigo lhe dispensou na hora, eu podia jurar que sim. — Sei que você esperava uma festa surpresa, mas…
— Hey, vamos parando os dois aí! É meu aniversário, sim, mas eu não sou a única, Rhaisa também está completando mais um aninho de vida hoje, não é mesmo?! – Rhaisa alarga o sorriso com o simples comentário, assim como eu, ela está pouco interessada em ser o centro das atenções no momento. Então, limpo a garganta e continuo. — Esse não é o foco hoje - digo puxando a cadeira ao lado da Patrícia. E enquanto a cumprimento completo — Estamos aqui para assistir ao último capítulo da novela, lembram?
— Pera lá, Marjorie, vamos fazer uma correção aí: O aniversário de vocês pode não ser o foco agora, mas só por hora, viu? Não é, Thiago?
— É! - ele responde de forma rápida irritado com a brincadeira do amigo.
— Gente, vamos parar com isso que daqui a pouco a Marjorie faz como no último dia de gravações, e sai à francesa.
— Ah, não… até você, Priscila? Será possível, o que é isso? É complô contra mim, agora?
— Não é amiga, não mesmo, mas é que… convenhamos você tem se ausentado das comemorações ultimamente. Só você não, o Thiago também – cochicha discretamente. — Porque vocês não foram á festa, estava tão divertida...
— Ele não foi?
— Não... Bom, eu não o vi por lá, a não ser que...
— ATENÇÃO, VAI COMEÇA! - Antes que ela possa concluir o que ia dizer sou salva pelos gritos característicos do Dennis, chamando a atenção de todos para o início da novela.
O silêncio toma conta do lugar e todos focam a sua atenção ao telão. Ainda bem, porque eu não saberia o que responder à pergunta da Priscila. É obvio que eu sabia o motivo de ter saído às pressas da gravação, sem ou menos despedir-me ou ficar para uma última foto de elenco. Mas explicar isso a ela seria constrangedor, a ela e a qualquer outra pessoa.
Com que palavras eu diria que havia ido embora só para não ter que encará-lo nos olhos e me despedir? Depois daquela última conversa? E das últimas gravações? Não dava. Eu fugi. Fugi dos meus sentimentos, porque se eu ficasse ali, naquele momento, era capaz de vir átona os meus sentimentos e eu deixaria evidente pra todos o que se passava no meu coração.
E apesar de todo o meu esforço não adiantou nada fugir, Mariana estava a minha espreita como uma cobra pronta para dar o bote. Acho que nunca passei por momentos de tremendo pânico em minha vida.
Vê-la sentada ao meu lado, completamente desnorteada obrigando-me a dar a partida e dirigir Deus sabe onde. Sem sucesso, eu tentei trazê-la a razão do seu plano absurdo. O amor pode nos cegar às vezes, pode se tornar uma doença.
É incrível como o sentimento de posse sobre o outro pode nos ferir, nos tornar pessoas desumanas e cruéis, capazes de cometermos qualquer loucura e ainda assim acreditarmos que estamos agindo em defesa de um bem maior, de um sentimento nobre – o amor.
Agora estou aqui, assistindo com todo o elenco a essas mesmas cenas que tanto me torturavam, que eu gravei com um imenso esforço. A emoção e comoção é nítida em todos, eu não consigo ver o que ele sente ao assistir as nossas cenas, qual é a sua expressão ou até mesmo as suas reações.
Estou distante dele porque quero ao máximo evitar uma aproximação. Mas como eu gostaria de poder ser uma mosquinha agora e poder olhar as reações e o seu comportamento ao lado da mulher. Ah, como eu queria!
Ao fim do capítulo uma grande salva de palmas é dada por todos. Agora é oficial, se encerrava um ciclo de um longo trabalho, e pensar no que tudo isso representa, sinto lágrimas rolarem pela minha face, mas disfarço antes que alguém note a minha tristeza.
A confraternização continua com a chegada dos comes e bebes, eu havia comido e bebido além da conta e estava querendo me despedir do pessoal e ir logo embora. Sem pensar duas vezes, pego minha bolsa e começo a me despedir.
— Bom pessoal, a festa está boa, mas eu já vou indo...
— Ir? Onde você pensa que vai, mocinha? Você não achou que sairia daqui sem os tradicionais parabéns pra você? Na-na-ni-na não! Cadê o bolo das aniversariantes? – Dois bolos são trazidos a mesa pela equipe do restaurante e o pessoal começa a puxar o coro de parabéns para Rhaisa e eu.
— Camila! - exclamo revirando os olhos.
— Que foi Marjorie? Você merece. Faz um pedido… anda logo!
Assopro as velinhas enquanto o Lazaro berra: — E PRA MARJORIE E A RHAISA: É TUDO OU NADA, PESSOAL?
— É TUDO! – o pessoal responde em uníssono. Acabo gargalhando. Meu aniversário apesar das circunstâncias não podia ser comemorado de uma forma melhor: ao lado dos meus amigos.
— E o primeiro pedaço de bolo vai pra quem, Marjorie?
— Uhmm... – pauso pensativa — O primeiro pedaço vai para... Uma pessoa muito especial, a qual eu amo muito! Que me atura... Nos momentos mais difíceis e complicados da minha vida...
— Quem é? – Camila me olha curiosa.
— EU MESMA! – Arranco gargalhadas de todos, exceto da Camila, claro!
— Ah, Marjorie... Vai se cata! – Dou risada da cara de frustração dela.
— Que foi, ué? Quer pessoa melhor do que eu. O bolo não é meu, então? - argumento enquanto levo um pedaço a minha boca.
— Só você mesma pra fazer essas coisas!
Eu ainda estou conversando com a Camila quando sinto alguém tocar o meu ombro de leve.
— Marjorie... - Ele sorri de forma contida. — Nós viemos dar os parabéns a você, porque está tarde, já deu a nossa hora. - Ele precisa mesmo fazer isso? Porque não saiu à francesa, sem se despedir? Agora eu tenho que reunir as últimas forças que tinha para me despedir dele e da sua esposa que olha atenta cada gesto meu em relação a ele.
— Uhmm... - É a única coisa que consigo dizer. Notando o meu constrangimento, ele toma a iniciativa e me abraça sussurrando ao pé do ouvido: — Tudo de bom pra você - eu o agradeço com um aceno de cabeça e então a Mariana se aproxima desejando felicidades secamente.
— Eu não acredito. Vocês já vão? - pergunta o Rafael.
— Sim!
— Mas logo agora que vai rolar um karaokê e Marjorie vai dar uma canja.
— Quem falou isso, posso saber? - Reviro os olhos, brincando. — Que canja, o que!? Você está vendo alguma galinha aqui? Porque eu não tô vendo. - Vejo um sorriso se formar no canto da boca do Thiago e fico feliz por provocar um sorriso, mesmo que pequeno, por minha causa.
— Bora, Marjorie!
— Bora, nada… não vou a lugar nenhum. Quem disse que eu vou cantar?
— Deixa de ser estraga prazer e vem.
— Só queria saber qual o prazer que isso tem?
— O prazer de ver você se divertir no seu aniversário. Não é um bom argumento?
— Só se for pra você, porque pra mim não é.
— Ok pessoal! Decidam aí qual música a Marjorie vai ter que canta. - Rafael diz, me arrastando até o palco, enquanto todos discutem a respeito de qual música a boba aqui, vai ter que cantar. Eu só consigo olhar na direção em que o Thiago está. Por que ele e a mulher não foram embora ainda? E por que agora não parecem se entenderem? Desvio o meu olhar do casal ao ouvir uma sugestão de música do Marcelo.
— Porque você não canta aquela sua… Como é: Posso tentar te esquecer, mas você sempre será a onda que me arrasta que me leva pro teu mar… é Por Mais Que Eu Tente?
— Eu até posso, mas acho que você se confundiu aí, porque a música que você citou é: Você Sempre Será.
— Eláiah Marcelo! Suspende a cerveja dele, que ele já tá trocando as bolas.
— Cêis entenderam, né? – retruca empinando o copo de cerveja goela baixo outra vez.
— Depois eu que sou a bêbada aqui. - Ver Marcelo assim, me lembra da última vez em que eu e ele bebemos feito dos condenados e eu acabei a noite sendo carregada para casa pelo Thiago. Ao menos serviu para algo além de uma tremenda dor de cabeça no dia seguinte. Daria tudo para lembrar o que ocorreu naquela noite. Apenas saber pelos relatos Thiago não era o suficiente.
— Ah, não... Canta essa: São as águas de março fechando o verão. É a promessa de vida no teu coração…
— Vem cá, Patrícia, pode vir... Gostei da sua empolgação… - Chamo-a, pois, a ideia de pagar mico sozinha não me agrada. Qualquer chance que tivesse de desviar atenção sobre mim, eu toparia. — Qual é – resmungo impaciente —, vocês vão se decidir logo ou não?! Daqui a pouco eu coloco: atirei o pau no gato e canto essa mesma.
— Coloca o Karaokê para escolher a música aleatoriamente. – O Lazaro sugere e o Rafael prontamente resolve obedecer. O vejo procurando o botão, ele está tão confuso com a maquina que sou obrigada a ajuda-lo.
— Aqui oh, Cardoso! – Aperto o botão, deixando o equipamento fazer a escolha de forma randômica. — Não tem karaokê no Sul, gente, não liga! – debocho do estado deplorável em que Rafael está. A última discussão com a namorada não tinha sido fácil, eles ainda estão distantes, mas Mariana estava na última festa a fantasia na quinta-feira. Eu vi as fotos no site no dia seguinte. Mariana sorrindo com ele. Desconfio ser este o motivo da sua real felicidade.
O karaokê começa a tocar os primeiros acordes e qual não é a minha surpresa ao ouvi-los. Não é possível! Era a mesma que havia tocado mais cedo na rádio a caminho daqui. Eu olho espantada para a tela do karaokê
— Algum problema, Marjorie? - Rafael percebe o meu desconforto.
— A musi... Música é essa mesma? - Ele faz que sim com a cabeça sem entender. — Você vai cantar comigo!
— Eu? Eu tô fora... Me tira fora dessa! – Rafael revira os olhos, deixando-me sozinha no pequeno palco improvisado. — Chama o Thiago, ele que é o cantor de musical aqui! – Quase tenho uma sincope quando o ouço o seu nome, mas me contenho. Rafael às vezes parecia ler meus pensamentos, o que me faz odiá-lo mais agora.
— Não tira o seu da reta, não – murmuro entre dentes. — Foi você quem me colocou, aqui, maluco! - ele se nega a cantar comigo. Eu não tinha escolha, teria que cantar sozinha. — Lembrem-me de pedir uma cláusula contratual no próximo trabalho exigindo a ausência do Rafael Cardoso, porque não trabalho mais com essa criatura!
— Olha que você vai pagar a língua ainda, querida. - Mostro a língua pra ele antes de começar a cantar a tal música que lembra ele.
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01 de março de 2013
Por Marjorie
— Marjorie a gente precisa conversar – Com um suspiro pesado ele quebra o silêncio a meia hora instaurado entre nós. Thiago me arrastou até aqui, trancou a porta e agora estávamos desviando olhares um para outro porque eu me recusei a abrir a boca. Quando penso na maneira autoritária como ele puxou meu braço e me guiou até o camarim, me obrigando a compartilhar o mesmo espaço que ele e ao mesmo tempo me acusando de estar sendo infantil por evitá-lo mais de uma vez no dia, quando a única coisa que ele queria era resolver a nossa situação como adultos, fez com que as coisas só piorassem. — Nós não vamos sair dessa sala até termos uma conversa, por favor, Marjorie não me deixa falando sozinho como se eu fosse um completo idiota, diz alguma coisa, Marjorie.... Marjorie a gente precisa conversar.
— Precisa? – Viro o rosto na sua direção, sem fazer contato visual. Olhar para ele me impediria de mantermos uma conversa minimante civilizada.
— A gente tem que conversar, eu... eu sinto muito pelo que aconteceu... eu...
— Não sinta! – o corto com rispidez. Ele dá um passo a frente buscando por contato físico. O qual eu ansiava desde que entrei pela porta. Droga! Sinto que posso quebrar em mil pedaços se ele tocar um só dedo em minha pele, mas ele não se atreve, porque de algum modo ele sabe que não vai adiantar, não agora.
— Marjorie, eu não quis dizer aquilo daquela forma... Eu...
— Eu já entendi, Thiago, já entendi que você está confuso com tudo, que não tem certeza dos seus sentimentos, que não sabe o que quer. Tá tudo bem – Na verdade, não estava, mas voltar ao assunto daquela noite em que fomos flagrados juntos por um paparazzo, e sua reação diante do ocorrido me fez perceber o quanto Thiago era vulnerável e inconsequente quando o que estava em jogo era a sua reputação e credibilidade familiar, não estava nos meus planos.
— Não, não está tudo bem! – Sua voz é impetuosa e me atinge em cheio. Noto que estamos mais próximos do que antes. Enquanto eu falava devo ter andando inconscientemente em sua direção. Posso sentir sua respiração ofegar contra a minha boca e preciso de um esforço sobre humano para desviar da sua presença.
— Não! Não está, mas vai ficar quando tudo isso acabar. Tudo acaba bem, não é o que dizem? – Pisco nervosamente. Encará-lo não é tarefa fácil. — Então.... Quando tudo isso acabar, os próximos trabalhos virão e você sequer vai lembrar desde trabalho e de tudo o que aconteceu. Você vai seguir sua vida, com a sua mulher, seus filhos e eu vou seguir a minha, é assim que tem que ser. É assim que vai ser.
— Não é assim, você sabe... – Ele luta contra ele mesmo desesperadamente buscando lógica em seu raciocínio. — Sabe que tudo o que aconteceu foi sincero e verdadeiro. Todos os nossos beijos
— Que beijo? O que você fez questão de estragar, ontem à noite?
— Esse e os outros que se sucederam em cena e fora dela também e não venha você quer me dizer que não, porque eu sei e você também sabe que eles existiram e foram sinceros.
— Foram? Será que foram mesmo ou tudo não passou de uma fantasia da nossa cabeça alimentada pela história dos nossos personagens. Tudo não passou de jogo cênico e a gente se deixou envolver pelos sentimentos e emoções dos personagens. Nunca existiu beijo algum entre nós. – Perco o ar, não consigo respirar. Nunca existiu beijo algum entre nós. Mentira... Mentira. Como consegui dizer tamanho absurdo. Minhas palavras se repetem em minha mente enquanto percebo o quanto o magoei.
— Você sabe que isso não é verdade, os nossos beijos... a gente... A gente existiu - Seus olhos miram os meus cheios de pesar e sofrimento. Ele parou de lutar contra si mesmo, deixando os dedos escorregarem na minha face. Doeu vê-lo tão destruído e iria doer mais considerando as próximas palavras que me rodavam. Fecho os olhos por um instante, levada a sentir seu toque um pouco mais antes de destruir tudo. Suspiro, talvez essa fosse nossa despedida.
— Laura e Edgar existem, existiram. – Abro meus olhos e lentamente encaro o verde fosco dos seus olhos. — A gente? Eu não sei, nunca soube, Thiago, e acho que nunca vou saber por que essa é só mais uma das tantas perguntas sem resposta. - Sua mão abruptamente saiu do meu rosto. Eu dou as costas a ele, abro a porta e o deixo sozinho.
Ele não me impediu de seguir o meu caminho. Nem por um momento Thiago tentou, pelo contrário sua reação foi de extrema frieza e profissionalismo. Talvez nem isso. Ele permaneceu imóvel, completamente absorto pelas palavras duras que disse a ele.
Em nenhum momento eu quis o ferir ou magoar, porque magoa-lo, significa antes de tudo, me magoar. Mas é mais fácil assim. É mais fácil evitar do que enfrentar. É mais fácil fugir do que ficar e encarar.
Eu estava fazendo o trabalho duro por ele, no fundo estava nos poupando da dor e do sofrimento de termos que encarar a realidade dos fatos e isso não torna a despedida algo mais fácil de digerir, muito pelo contrário.
É insuportável ver todos os rostos felizes em minha volta. Todos comemorando o término de um trabalho e eu aqui querendo morrer pelo mesmo motivo. A cada cena gravada a sensação de despedida aumentava dentro de mim e junto com ela a certeza de que tudo tem um fim. Tudo acaba.
Foram longos meses de convivência. Eu tenho medo de perder o contato com essas pessoas. Tenho medo de perder essas pessoas que eu ganhei.
Tenho medo de perdê-lo. Não quero pensar o quanto essa possibilidade me amedronta, me apavora e paralisa. Não quero pensar que apesar de tudo o que tivemos, ele escolha estar com ela. Bom, eu praticamente acabei de empurra-lo para Mariana agora.
Eu não posso culpá-lo por isso, posso? Não posso culpá-lo pela loucura de quase matar um paparazzo para manter a sua integridade, posso?
Nós fomos um erro desde o começo. Nunca deveria ter existido nada entre nós. Eu nunca deveria ter alimentado essa chama e me deixar queimar pelo seu amor.
— Marjorie, o que houve? – evito olhar para Camila. — Você está bem? – ela insiste, me segurando pelo antebraço. — É claro que não está, você está chorando – observa erguendo o meu rosto, os dedos correm para minha face, limpando as lágrimas. — Amiga... você e Thiago – ela hesita sem saber se deve continuar a me questionar ou cessar as suas perguntas.
— Não quero falar sobre isso, não... - Suspiro, finalmente juntando as palavras. — Não agora.
— Tudo bem, você sabe que pode falar comigo quando quiser. Eu estou aqui por você, certo?
— Certo. – Forço um meio sorriso, ela não pararia até ver o resquício de um em meu rosto. — Nós temos trabalho a fazer.
— Tem razão. Você está certa. Temos um grande trabalho a fazer – comemora com empolgação. — Temos um grande trabalho para concluir, na verdade. Dá para acreditar que estamos concluindo as gravações hoje? Para mim é como se estivéssemos começando ontem. Lembra, nós duas sentadas em um banco de igreja vestidas de noiva.
— Você ainda está vestida de noiva. Isabel finalmente vai se casar com o seu Zé.
— É... para você ver tudo termina onde começou. A vida é feita de ciclos, minha amiga, precisamos concluir algumas histórias para dar espaço e vida para que novas ocorram.
— Humm... eu não estou pronta para isso, não como você está, Camila. Não estou pronta para abandonar Laura, não mesmo. Acho que preciso da minha última cena como Laura, nós podemos?
— Vocês devem – Denis nos interrompe pela sala de edição. — Mantenham essa emoção, por favor. Está ótima para o clima da cena, Ok? Certo... Marjorie, Camila podemos começar gravando em 3... 2
— Ah, como é que você me escapa justo na hora dos cumprimentos? – Camila cumpre o curto trajeto até onde eu estou, sentando-se ao meu lado no banco simples de madeira.
— Ah não, eu queria um minutinho de silêncio. – Sorrio timidamente, deixando meu olhar vagar pelo cenário enquanto a mente viajava para minha primeira cena ao lado de Camila. — Lembra daquele dia na igreja?
— Seis anos, enfim eu me casei com meu Zé, oh! – Ela exibe a aliança recém posta no dedo, eu rio com franca admiração.
— E eu? – prossigo com o meu discurso, brincado com as diversas etapas de Laura. — Casei, divorciei, reconciliei, separei enfim revoguei o divórcio.
— E então casou de novo – diz Camila, caindo na risada.
— É... – Concordo com sorriso, o desmanchando logo em seguida. — Nossa, eu tinha tantas duvidas
— E eu tinha tantas certezas – completa ela com sorriso amplo no rosto e um olhar emocionado.
— Mas o tempo me mostrou que o casamento vale a pena quando o marido... – Automaticamente penso no Thiago. Minha mente vaga outra vez, perdida entre inúmeras cenas que tive o prazer, a honra e o privilégio de jogar com ele. — Ah... quando o marido é o Edgar.
— Ah eu posso dizer o mesmo do meu Zé, mas, nossa, foram tantos encontros e desencontros.
— É... – Volto minha atenção para ela, quando meus olhos encontraram os seus, percebo o quão afetuosos e sinceros eles podem ser. Eu tinha de verdade estabelecido um vínculo genuíno de amizade, apesar de toda a correria do dia a dia, Camila estava lá por mim quando eu precisava. Isso definitivamente é raro de se encontrar. — Até a gente se desencontrou e encontrou – concluo, sem evitar a voz embargada.
— É verdade, mas a gente não se larga mais, não – Seus braços me apertaram com força, repleto de carinho, eu fui incapaz de me soltar do seu abraço.
— Não... não.
— Humm... - o que se seguiu foram múrmuros comprovando o nosso sincero desejo de nos manter unidas. — Não... não.
— Muito bom... Meninas, a emoção não podia ser melhor. A cena final ficará excelente, mas precisamos concluir a cena, certo? Marjorie, a partir da sua última fala, ok? – Eu então sigo o combinado e digo minhas últimas palavras como Laura.
— Aquele dia de tantas dúvidas, minha única certeza era que eu tinha encontrado uma amiga de verdade.
— Eu também. Eu dormi pensando que tinha perdido o Zé, mas eu estava certa que tinha encontrado você.
— E corta... – Dennis comemora depois de deixar a câmera viajar, distanciando-a lentamente dos nossos rostos. — Parabéns pessoal, ótimo trabalho.
A cena final é gravada com todo elenco e equipe de gravação, e assim que foi possível eu escapei. Deixei o local de gravação antes que qualquer um dê-se por minha falta. Eu definitivamente não queria prolongar a minha despedida.
Não queria aquela longa e exaustiva sessão de abraços e palavras de felicidade misturas a sensação de luto e perda.
E apear de ter dito a Camila que ficaria para a comemoração que o pessoal estava programando para o fim da tarde, meu destino em mente era um só: Ir para casa.
~*~
Por Thiago
— Hey André, preciso agradecer você, você sabe, não sabe?
— Sei? - Ele me olha com o olhar confuso, quase perdido como quem busca por um explicação razoável para o meu comportamento maluco, em abraçá-lo de forma contagiante.
— Sabe, o favor que você fez a Marjorie aquele dia. Você é o melhor! – Dou um tapa de camaradagem em seu ombro, fazendo-o estreitar o olhar em minha direção.
— Hã, eu sou?
— É mesmo, é uns dos melhores, senão o melhor diretor que já conhecemos, mas não conte aos outros, principalmente ao Dennis, que eu lhe disse isso.
— Certo Thiago, eu vou acreditar. – André se afasta do meu abraço e sorri com cara de poucos amigos. Talvez eu não devesse o agradecer, não naquele momento. Ah... Dane-se, pouco importa o que ele pensa ou o quão desconfortável ele está no momento, sigo-o elogiando efusivamente.
— Mas é a mais pura verdade, espera a Marjorie chegar, ela vai confirmar o que eu estou dizendo. – Bom, era o que eu esperava que ela fizesse. Afinal, o nosso momento foi... Foi tão... Ah eu sequer encontro palavras para descrevê-lo. Foi tão importante para mim... Pensar nela em meus braços me faz sorrir e até mesmo esquecer que discutimos a pouco. — Você viu a Marjorie? – André responde com um aceno negativo de cabeça, fazendo a preocupação dentro de mim aumentar. Depois de algum tempo procurando-a, buscando encontrá-la em meu campo de visão, desisto, me obrigando a insistir na pergunta.
— Ela deve estar concluindo a cena final com a Camila – O diretor acrescenta depois de notar a minha preocupação. — Daqui a pouco ela aparece, Thiago, não se preocupe.
Não deveria me sentir assim, ela foi rude comigo, suas palavras ainda me machucavam, a forma como concluímos as nossas gravações não lembra em nada o que fomos durante o processo desse trabalho.
Não era a minha Marjorie. Agir com frieza e pouco interesse diante de seu personagem, diante das câmeras e de um gravando contundente do diretor. Não consigo acreditar que nossa última cena tenha sido tão fria e distante, é como se não existíssemos de fato, como se toda a nossa cumplicidade fosse de repente jogada ralo a baixo.
Minha mente vaga entre lembranças da nossa última cena, do seu beijo protocolar, falas bem pontuadas e nossa discussão enquanto meus olhos teimam em buscar seu minúsculo corpo em meio à multidão de contrarregras, produtores, câmeras, figurinistas, atores e diretores. Ela não está aqui.
— Camila... Hey Camila, A Marjorie, você a viu? – trocamos olhares antes dela conseguir chegar até mim.
— Bom... ela deveria estar aqui, ela me disse que encontraria você.
— Então, onde ela está?
— Não sei, Thiago, Marjorie não é dada a multidões e confraternizações, esse tipo de coisa, você sabe. – Ela me dá um sorriso forçado antes de ser encurralada pelo repórter do site da novela.
Uma concessão de entrevistas é realizada e eu fujo, ou pelo menos tento, me esquivar de todas elas o mais rápido possível. Os fotógrafos que cobrem o evento solicitam que o maior números de atores se reúnam para uma foto final, é quase como se repetíssemos a última tomada de cena que fizemos a recém.
~*~
Quando enfim consigo ter acesso aos camarins masculinos, tomo uma ducha rápida, visto minhas roupas habituais, sabendo que não usarei mais os ternos de Edgar Vieira. Era estranho como cada parte do meu dia fazia com que eu me lembrasse que se tratava de uma despedida silenciosa do personagem.
Arrancar Edgar de dentro de mim, não será fácil.
Depois de checar se não havia esquecido de nada, pego as chaves do carro, minha pasta e fones de ouvido, plugo-os automaticamente no celular, batendo a porta atrás de mim ao sair.
Por algum motivo irracional, ainda busco por Marjorie no camarim em que compartilhamos nosso primeiro beijo, a sala em que descobri que não saberia viver sem ela, a sala em que soube que estava a cada dia lentamente me apaixonando por ela.
Sem sucesso, busco nos camarins coletivos, também não a encontro. Minha última tentativa de encontrá-la está no estacionamento. Rumo para lá, sem muitas expectativas, Marjorie era mestre em se esconder quando não queria ser encontrada.
Talvez ela já esteja em casa a muito tempo e eu estou aqui feito idiota, apenas perdendo o meu tempo porque sinto uma necessidade insana de vê-la.
— Thiago, por favor, espera! – Paro, girando os calcanhares para encará-lo. Noto o olhar preocupado.
— O que foi? – assinto, removendo os fones de ouvido. — Eu esqueci algo, porque essa cara, André, alguma cena não ficou boa, é isso, vou ter que regravar, se for, por favor me diz que é com a Marjorie.
— É com a Marjorie...
— A CENA!? – Arqueio as sobrancelhas, surpreso. Não pode ser verdade
— Não, a cena... o problema. - Ele diz em um sopro, a voz afoita. — Eu preciso que você venha comigo discretamente, e eu explico no caminho.
— Ir com você? Discretamente, André, você está me deixando preocupado.
— Thiago, eu sei, vai parecer estranho o que eu vou dizer, mas...
— Mas o que, fala... – Ando a passos largos ao seu lado, enquanto ele me explica o que está acontecendo.
— Encontrei isso jogado perto de onde meu carro está estacionado.
— Um celular? – Um celular destruído. Franzo o cenho com o estado do aparelho. Eu o reconheço. Reconheceria um pertence de Marjorie de todo o modo.
— É o celular da Marjorie, eu já chequei, a última ligação foi para você – capto a última informação dada por André e meu coração aperta.
— E por que o celular dela está completamente destruído? - Acabo formulando uma pergunta óbvia. Porque havia acontecido algo com ela. Algo grave, de muito grave.
— É aí que entra a parte estranha, a pessoa que está com ela no carro mandou ela fazer isso.
— Certamente para que ela não pudesse se comunicar com mais ninguém.
— Ou mais exatamente com você. – Droga, isso não pode estar acontecendo. Não, não pode.
— Como é que é, eu não estou entendendo. – Eu desconverso perplexo, buscando forças para seguir andando em direção ao estacionamento.
— Mas você vai, assim que ver a pessoa, você vai reconhecer. O carro ainda está parado no estacionamento. Nós só precisamos ir. – Eu peço para Deus que não seja verdade o que eu estou imaginado. Mariana não pode estar envolvida nisso. Deus queira que não.
— Ótimo, então vamos - Reunindo minhas forças, ordeno para prosseguirmos. —, o que estamos esperando, o que-
— Thiago, olha...
— Mariana?! É A MARINA!?
Meus olhos recaem sobre a tela quebrada do celular, o aplicativo de mensagem está aberto. Leio as mensagens de Marjorie.
*EU ESTOU COM MEDO, THIAGO*
*EU TENHO MEDO DE PERDER VOCÊ*
Não penso no que estou fazendo. Não tenho nenhum plano em mente para evitar que o pior aconteça, para evitar que a Mariana cometa uma loucura e estregue nossas vidas.
— Você não me conhece, meu amor, não sabe do que eu sou capaz por amor a você. Eu sumo no mundo. Você nunca mais vai ver seus filhos, faço eles te odiarem, esquecerem que você existe. Isso é só o começo, eu posso fazer pior, posso pôr a vida da Marjorie em risco. Eu já a ameacei uma vez. Ela não te contou? Acho que ela não levou muito a sério a minha conversa, mas não custa nada mandar mais um recadinho para ela.
— Você está louca, completamente fora do seu juízo.
— Você quer ficar com Marjorie, não quer? Fica e vamos ver o que acontece com as pessoas que você mais ama.
Ciente das ameaças que Marina fez a Marjorie, corro em direção ao carro enquanto meu coração salta do peito.
~*~
Por Marjorie
Eu sinto medo. A adrenalina percorre o meu corpo. O vento bate em meu rosto. Olho para baixo, vejo pequenas luzes, do que são casas – tão minúsculas aos meus olhos. Pessoas convivem normalmente, seguem suas rotinas corriqueiras, com os mesmos velhos hábitos de sempre.
O quão frágil a vida pode ser? Em um dia comum você levanta, escolhe o que vai vestir, toma o seu café da manhã, se alimenta mal ou às vez mal come, sai de casa e volta tarde da noite provavelmente exausta, mas você está em casa e isso, apenas isso, te faz feliz ou ao menos deveria.
Minhas pernas tremem, fazendo com que eu perca o pouco equilíbrio que tinha, os pés vacilam um pouco, quero me afastar do parapeito do prédio abandonado, mas uma mão me impede enquanto fala. Eu resolvi ignorá-la. Suas palavras são como sussurros para mim.
Ela está nitidamente louca e perturbada, de cada vinte palavras, dez são sobre como eu não vou sair daqui viva. As outras dez, desrespeito ao Thiago e ao fato de que ele não me ama. O que eu espero não ser verdade.
É desesperador. Me abraço, encolhendo os ombros para diminuir a sensação de frio. O medo nos faz sentir tanto frio? Não me lembro da previsão do tempo para hoje. Por que eu estou pensando na qualidade do tempo? Quando estou prestes a ter meu corpo arremessado para baixo desses andaimes?
Faço sinal a ela, indicando que quero me sentar, ela não deixa. Eu imploro. Ela cede. A sensação é ainda pior. Minhas pernas estão dependuradas para o nada. Tento controlar minha vontade de chorar. Não posso e não quero demostrar fraqueza ou que estou com medo – quando na realidade estou sucumbindo a ele.
Conversar com ela, eu deveria tentar conversar com Mariana, quem sabe chegar a um acordo. Qualquer um... Duvido que algum desses acordos vá me agradar, mas o que me importa? O que eu quero agora é sair daqui. Sair viva.
Fechos os olhos, suspiro lentamente para controlar minhas emoções. Costumo fazer isso antes de iniciar um show ou entrar no palco de teatro, ajuda a relaxar e centrar as energias em torno do personagem. Marjorie, isto é um personagem, trabalho minha mente ao meu favor.
Os murmúrios cessam, por um segundo obtenho paz. Mariana enfim concluiu o seu discurso. Se ela soubesse que não ouvi metade do que ela disse.
— Então você está esperando o quê para se jogar?
— Espera, você realmente acha que eu vou me jogar daqui de cima, Mariana, que eu vou tirar minha própria vida? Se você quer, faça isso com suas próprias mãos, eu não vou a lugar algum. Podemos passar horas, dias, meses aqui se você preferir. Eu sei... sei que minha companhia não deve ser das melhores, mas pensando bem, você me trouxe para cá, não foi? Espero que tenha trazido algo para beber ou comer porque vamos precisar.
— Eu vou precisar, você quer dizer. Você pode ficar sem, aliás, vai... É essa a morte que você prefere, morrer de fome?
— Agora eu tenho escolha? Você vai me deixar escolher, é sério, que alma mais bondosa a sua.
— Você não me provoca, eu não estou brincando, querida.
— Ah, não está mesmo... Isso não me parece uma brincadeira. Eu não duvido de você, da sua capacidade em fazer o mal, de me fazer mal ou me ferir. Eu não sei o que você ganha com isso, mas tudo bem. Se tirar minha vida resolve a sua, vai fazer tudo ficar bem, então faça o planejado, me mate, Mariana.
Me arrependo do que disse, assim que vejo a má intenção em seus olhos. Ela está mesmo disposta acabar com a minha vida.
Por favor, não... Mariana, por favor, não... Eu imploro... Os meus olhos lutam para transmitir o que minha voz não consegue dizer....
— Com prazer, querida! É um prazer poder acabar com a sua vida... Sabe, o Thiago pode me odiar por isso a vida toda, mas o prazer de saber que ele não será feliz ao seu lado compensa o risco.
— Mariana, chega! Já chega, para com isso agora.
Sinto uma mão me puxar para longe do ataque de Mariana, eu o desconheço, mas parece ser um grande amigo de Thiago.
Os dois trocam olhares confidentes enquanto ouço a voz alterada do Thiago. Ele olha rapidamente para mim. Nosso contato visual não dura muito, mas é o suficiente para saber o quanto ele está angustiado e com medo.
Thiago está preocupado comigo, mas tenta manter o controle da situação, focando sua atenção nas reações da Marina. Acalmá-la é prioridade para ele, e eu o entendo, entendo o porquê, mas a forma carinhosa com que ele a faz dói, machuca.
Estou sendo egoísta e agindo como uma adolescente com ciúmes do namorado, quando deveria estar grata e aliviada por Thiago ter evitado que o pior acontecesse, mas não consigo deixar de desejar que ele me abrace como faz com ela agora.
Eu tenho medo de perder as pessoas que eu ganhei.
Eu tenho medo de perdê-lo.
— Marjorie, certo? Você está bem? – assinto com meio sorriso. Ele toca o meu ombro com gentileza em apoio ao ocorrido. — Ah, a propósito, eu não me apresentei, Diego Senra, eu sou amigo do Thiago e também seu agenciador – explica ele, oferecendo-me um casaco.
— Humm – múrmuro em resposta, aceitando a oferta do casaco. Diego então o coloca em meus ombros, enquanto traspasso meus braços para dentro das magas sem desviar o olhar de Thiago e Mariana.
— Você quer sair daqui nós podemos ir a outro lugar se você quiser... Eu posso chamar um táxi – sugere ele, sem deixar de notar o meu olhar possesivo para o casal a nossa frente.
— Eu estou de carro, obrigada.
— Eu sei..., mas depois do ocorrido, achei que você fosse preferir um táxi.
— Você deveria ouvir o meu amigo aí, Diego geralmente costuma estar certo sobre as coisas, Marjorie.
— É... pode ser, mas eu...
— Você prefere ir embora com seu carro, eu sei. – Ele sorri para mim pela primeira vez na noite. E eu percebo o quanto senti falta desse sorriso protetor. — Diego, você pode cuidar da Mariana, um minuto, por gentileza, eu quero conversar com a Marjorie sem ser interrompido.
— Ah, claro... claro, meu amigo, eu estou indo, vou tomar conta de tudo com sempre, prometo. Não se preocupe, Mariana estará segura.
— Seu amigo é sempre assim.
— Assim? – Thiago arqueia as sobrancelhas, enquanto seus braços se moldam a minha cintura.
— Assim... prolixo, proativo... Tão prestativo e educado?
— É Marjorie, eu acho que é. O que importa, eu não quero falar sobre ele, por favor, eu não tenho muito tempo para abraçar você.
— Só abraçar? - pergunto honestamente. Sentindo suas mãos encontrando o caminho ao redor do meu rosto enquanto ele passeia os dedos em torno dos meus lábios.
— Não, beijar também, é claro. – Ele sorri amorosamente, depositando um pequeno beijo no meu nariz antes de alcançar os lábios. — Eu não mencionei porque achei que isso já estava implícito, sabe? – Corro os dedos pelo colarinho da sua camisa sem quebrar o contado da sua boca na minha, eu aprofundo o beijo, sentido o gosto bom que só o seu beijo tem. Tudo em mim se acalma. Ele me traz paz. Ele me acalma. Ele, só ele, me dá paz. Mas não dura muito, por mais que eu queira permanecer em seus braços, Thiago se afasta ainda mantendo a mão em minha cintura, ele sussurra. — Você está bem, eu fiquei com tanto med- - Não deixo completar a frase e o beijo em resposta.
— Estou... agora estou – Deixo minha cabeça apoiada em seu peito sentindo o seu cheiro de roupa limpa, enquanto seus dedos acariciam lentamente os meus cabelos. — Mas tive medo de perder você.
— Eu sei, Mah... Eu sei, sei que tudo o que você me disse hoje mais cedo não é verdade, não pode ser. Eu e você sabemos disso, nós sabemos o quanto o nosso amor é intenso, sincero e capaz de enfrentar o mundo se for preciso.
— Eu enfrento o mundo por você se for preciso, Thiago.
— Hey... Olha para mim. – Ele pede gentilmente erguendo meu rosto com o polegar. — Eu também, eu vou estar sempre aqui por você. Sempre que você precisar, eu estarei com você mesmo não estando, mesmo que pareça estar ausente, eu estou com você.
— Desculpe, a intromissão, mas nós precisamos ir, Thiago, a Mariana está ficando impaciente e eu...
— Achei que tinha mencionado que queria ficar a sós com a Marjorie. – Ele sorri, afastando uma mecha do meu cabelo para trás da minha orelha. — Eu mencionei isso a ele, não mencionei?
— Mencionou – eu o respondo feliz pela forma com ele ignorou o comentário do amigo e seguiu com seus olhos fixos em mim.
— Ah... ele não é tão educado quanto eu pensei.
— Não, não mesmo, ele está mais para um grande intrometido, desmancha prazeres. – Thiago concorda, passando as mãos em meus ombros ele faz um gesto inusitado. — O que você está fazendo?
— Dando a você a minha jaqueta. – diz retirando o casaco que Diego havia me dado para então pôr o seu. — Você pode ficar com ele pra sempre se quiser, eu não me importo – ele comenta orgulhoso, puxando o zíper para cima.
— Eu não me importo se você quiser busca-lo algum dia, na verdade, eu prefiro.
— Eu vou ter que ir então. – Seus dedos ajeitam a gola, trazendo parte do cabelo preso na dentro da peça para a altura dos meus ombros.
— Com certeza, você vai.
— É... – Ele esfrega meus braços em um ritmo lento de vai-e-vem. É tão boa a sensação que sinto meu corpo aquecer inteiro. — Você tem certeza que consegui ir para casa dirigindo? – Com a mão em meus ombros, Thiago me guia em direção as escadas. Finalmente estou saindo deste lugar horrível. — Eu posso pedir para o Diego te acompanhar.
— Eu acho que ele não está muito afim de fazer essa gentileza. - Eu o encaro quando eu e Thiago alcançamos o térreo. Confirmo minhas suspeitas, Diego podia ser amigo do Thiago, mas não é um grande fã da minha presença, eu posso sentir. — Eu preferiria outra companhia a dele, mas eu sei que... que não dá, não é?
— Marjorie, por favor, não dificulta, não torna as coisas ainda mais complicadas para mim. Eu quero estar com você, mas para isso acontecer eu preciso me entender com a Mariana primeiro e não vai ser fácil. Vem, não faz essa carinha, eu vou acompanhar você até o carro.
~*~
Por Thiago
— Espera. - Marjorie para, com uma das mãos na porta do carro. Vou até ela faço-a olhar para mim. Ela o faz, relutante. — Amo você. - Ela respira fundo e me abraça, e mesmo me beijando em seguida, aquilo não dura. Quando se afasta, a mão dela ainda está unida a minha.
— Amo você também - diz ela, com uma das mão na minha bochecha. É esse o problema. Marjorie abre a porta e entra no carro. Fico olhando até que ela desapareça do meu campo de visão.
— Você sabe que isso vai trazer problemas para você. Na verdade, mais para ela do que para você, não sabe? Thiago... Oh Thiago, eu estou falando com você...
— Me deixa em paz, Diego.
— Eu só estou cumprindo o meu papel de amigo e avisando, depois não diz
— Não diz que eu não avisei e blá, blá, blá, eu sei, eu já sei, me deixa em paz!
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28 de fevereiro de 2013
Por Marjorie
— Ei, dorminhoca, tá na hora de acordar.
— Humm... – murmuro com o toque dos seus lábios nos meus. Demoro para perceber onde estou. É claro que eu lembro da noite passada. Lembro minuciosamente de cada detalhe. Como poderia esquecer, meu corpo inteiro ainda pulsa só de lembrar. Suspiro, sem abrir os olhos, afundo a cabeça no travesseiro, virando de costas para ele.
— Ei, Marjorie, você vai ficar aí, é? – Sua mão está acariciando minha face, enquanto os lábios brincam em minha orelha. — Se for, me avisa, que eu fico com você.
— A gente precisa acordar? – Estico-me ao lado dele, saboreando o seu toque, e sentindo sua ereção contra minha bunda.
— Não... ele sussurra, enquanto desliza a mão pela minha barriga, provocando arrepios. — Eu acho que essa fala, aí é minha. Nós já gravamos essa cena, não?
— Thiago de Deus – Sento na cama, preocupada. —, que horas são? – Viro para encara-lo ainda sonolenta, só então reparo o seu corpo. Sua masculinidade. Sua virilidade. Deus, que homem!
— Não sei, cerca de 5h, não tenho certeza, mas nós podemos cancelar todas as gravações de hoje e...
— Por Deus, não! – Dou um pulo, puxando o lençol junto do meu corpo. — Eu não... Eu não posso... Eu... – Ele sorri, e de repente caminha em minha direção, ele agarra meus pulsos e me puxa para seus braços, para então me jogar na cama novamente.
— Ei calma, respira, meu amor, ainda temos tempo.
— Você me acordou de propósito, Sr. Fragoso?
— Não! Acordei para isso, Srta. Estiano.
— Thiago! – Ele rola para cima de mim e segura minhas mãos, para que fiquem acima da cabeça. Beija o meu pescoço. Descendo, agarra meu quadril deitando por trás de mim, segurando-me próximo ao seu corpo.
— Ah, lembra do meu sonho, Srta. Marjorie? – pergunta enquanto seus dedos descem no meu sexo e começa a explora-lo. — Vou reproduzi-lo nos mínimos detalhes, mas antes preciso que você me prometa que vai ficar quietinha. Não podemos ser descobertos, certo? – consinto. Ele está sorrindo, o seu sorriso galanteador. O que me faz perder o fôlego.
Tenho as costas gentilmente apoiadas sobre o colchão, enquanto seus dedos seguem a me provocar. Meus quadris começam a reagir conforme o ritmo imposto por ele. Thiago me observa dançar sobre o lençol, e então me beija longamente nos lábios.
Sem cessar os movimentos, ele se move para baixo, cheira o meu pescoço, lambe, belisca e beija lentamente e continua. Gemo, comprimindo os dedos dos pés, sinto uma onda de prazer percorrer o corpo de forma avassaladora.
Thiago é gentil e seu toque é suave e angelical. Seus dedos intrépidos se movem para baixo, colocando um lentamente dentro de mim, gemo baixinho surpresa. Ele me beija ao mesmo tempo que move o dedo.
Seus lábios passeiam por toda a minha clavícula e em seguida, até o meu seio. Ele atormenta primeiro um, depois o outro mamilo com os dentes e os lábios, mas oh, é tão delicadamente, e eles apertam e alongam em uma doce sensação.
Eu gemo.
Meu mundo vira.
Gira, volta, para.
— Hum – ele resmunga baixo e ergue a cabeça para me observar com os olhos lascivos. — Eu quero você agora. - Ah, eu também quero...
Ele alcança a mesa de cabeceira. Desloca-se para cima de mim, pondo o seu peso nos cotovelos, e esfregando o seu nariz junto a mim, enquanto abro as minhas pernas para ele. Ele se ajoelha e rasga o envelope.
— Eu não posso esperar... Eu não sei quando teremos outra chance – ele declara com olhos cheios de expectativas e promessas de um futuro bom.
— O meu aniversário? – gracejo.
— O seu aniversário? – Ele sorri para mim, enquanto desenrola o preservativo e o coloca.
— É... não esquece o meu presente, eu quero você.
— Uau, Marjorie, você sabe mesmo como me foder – Começo a rir, e não consigo parar. — Você está rindo, é?
— Não... Não estou, Thiago, eu...
— Está sim, eu mandei você ficar quietinha, não mandei? E você desobedeceu às minhas ordens, Srta. Estiano, sorte a sua que eu sei do que você precisa.
— Sabe é?
— Ah... Sei, eu sei. – Ele curva-se, sem nunca quebrar o contato visual, beija primeiro meus pés, depois as pernas e segue a trilha lenta e tortuosa para diante no interior das minhas coxas, tocando e brincando.
— Oh, por favor, Thiago... – Remexo-me na cama e gemo. Meus dedos agarram o lençol com força, quando me entrego a ele.
— Silêncio! – ele murmura, suavemente indo ao encontro do ápice vulnerável e expostos das minhas coxas. Eu gemo, enquanto sua língua gira em torno e ao redor do meu sexo. Thiago para subitamente os beijos e segura minha pélvis.
Eu pisco para ele, meu coração martelando, pulsando forte dentro do peito. O desejo intenso, real e desenfreado surgindo e me consumindo inteira. Então, ele entra em mim quente e tão lentamente, preenchendo-me, ocupando espaços.
Reivindicando-me pele contra pele. Eu empurro para baixo, conta ele, que geme alto. Uma vez totalmente dentro de mim, ele faz uma pausa mais uma vez, o rosto intenso.
— Você é minha, Marjorie – ele sussurra – Só minha.
— Sua. Eu sou sua. Só sua, meu amor – enfatizo. — E agora podemos deixar todo mundo saber. – Ele sorri vitorioso e se move, fazendo-me delirar loucamente. Fecho os olhos e inclino a cabeça para trás, enquanto arqueio meu corpo lutando contra seu ritmo inebriante e lento. — Thiago – chamo-o — Você ouviu isso? – Ele rapidamente se move, saindo de dentro de mim. Eu odeio isso.
— Estão nos procurando, Marjorie?
— Tem alguém vindo para cá, e agora?
— A gente corre... Vem Marjorie! – Nós vestimos em tempo recorde. Se isso fosse uma competição, pela primeira vez na vida, eu ganharia. Corro pelos corredores pensando na loucura que acabamos de cometer. A vida é uma loucura e mais loucos são aqueles que não se atrevem a vive-la intensamente. Viro o rosto para trás e não enxergo o Thiago.
— Aqui Marjorie. Por aqui... Você reparou que tinha uma câmera ligada no estúdio?
— O QUE? NÃO!
— Bom, eu não sei, eu tropecei em uma na correria, parecia estar ligada.
— É impressão sua, Thiago, foi só uma impressão, nada mais, ouviu? – Eu digo isso a mim mesma tentando acalmar ambos.
— É... você está certa – suspira ele, aliviado. —, mesmo que estivesse funcionando, agora não está mais, eu dei um jeito de quebrá-la.
— Nossa, achei que seriamos pegos de novo. – Quando me recupero do susto momentâneo, percebo a falta de algo. — Thiago, o meu celular, eu esqueci.
— Fica aqui, espera - ele pisca os olhos nervosamente. —, eu vou voltar e buscar para você.
— Eu acho melhor não, Thiago, não é uma boa opção.
— Deixar lá também não é uma boa opção, Marjorie. – Quando seus olhos recuperam o foco, ele pisca novamente e sorri buscando me tranquilizar. — Eu vou buscar e já volto.
~*~
— Ah... aí estão vocês. Eu estou tentando contato com vocês a meia hora por telefone, porque me disseram que vocês ainda não haviam chegado, mas... Por que vocês estão com um roupão? Bom, não importa, nós temos externas para gravar hoje, então eu agradeceria se os dois conseguissem cumprir o cronograma preestabelecido.
— Claro, Marcinha.
— Ok. Andem logo, eu não tenho o dia todo.
— Aqui, seu celular. Sorte sua que está no silêncio, tem pelo menos umas seis chamadas do André – o diretor, aí.
— Ciúmes, agora não, por favor, Thiago.
— Não estou com ciúmes, na verdade, devo agradecê-lo, e na primeira oportunidade que tiver eu o farei. Agora, vamos antes que a Marcinha resolva comer meu fígado pelo atraso.
— Se fosse por ela, ela comeria outra coisa, você sabe bem o que.
— Marjorie!
~*~
— Essa cena é digna de um Emmy se o júri não se emocionarem com isso eu não sei mais o que é teledramaturgia.
— Thiago.
— O que?
— Para de falar.
— Ah... já sei você precisa se concentrar. – Ele revira os olhos, como se não soubesse desse meu hábito extremamente necessário. — Desculpa é que eu estou empolgado.
— É eu sei, eu percebi – Eu zombo —, você às vezes parece um telespectador. – Ele olha para mim com falso ar de indignação.
— Eu sou um telespectador, eu assisto a novela. – diz convicto, apenas para me provocar. — Ah, esqueci que você não é. Você não assiste, te faz ficar paranoica, não é? – continua a me observar. Eu preciso estudar meu texto, mas Thiago com seu olhar prostrado, alisando o queixo como quem observa sua obra de arte favorita, não ajuda.
— É! Quer parar. – Mordo o lábio, irritada. — Obrigada. – Assinto, retomando a concentração. Meus pensamentos estão na cena que vamos gravar em instantes. Preciso focar na angustia e dor de Laura.
— Posso saber o que tem de tão difícil nessa cena? – Suspiro. Ele não vai desistir. — É só ficar parada, imóvel.
— Justamente por isso, as cenas em que você precisa ficar parada são as mais complicadas. Você não fala, mas seu corpo, sim, precisa falar, se expressar, entende? – explico o obvio, tentando não parecer aborrecida, mas falho totalmente.
— É claro que eu entendo, amor, eu só... eu sei o quanto esse tempo de preparação é importante para você, eu só estava brincan-
— Marjorie, nós estamos prontos, se estiver pronta, quando quiser podemos gravar. – Aceno com os olhos ainda fixos em Thiago. Suas mãos estão em meus cabelos úmidos e com aspecto de dias sem enxergar água pela frente.
— Vou deixar você trabalhar. Nós vemos em breve. – Ele se despede com um aperto suave de mãos, mal sinto seus dedos se fecharem contra a palma da minha mão.
— Thiago – o chamo, enquanto colocam a camisa de força, prendendo meus braços para trás. — Boa sorte – murmuro, sem poder me mexer muito.
— Boa sorte, parceira, nós vamos arrasar como sempre.
— Como sempre. – Sorrio em concordância. Os últimos ajustes são feitos, remarcamos os lugares e damos início a gravação.
Eu assisto com certo distanciamento a atuação de Thiago, esperando a deixa para adentrar em cena.
— A sua esposa está sob tratamento.
— A minha mulher não é louca. Eu não vou permitir que ela continue internada aqui nessa instituição. Eu assino o que for necessário, eu me responsabilizo pela saída dela, por favor.
— Eu acho que o Senhor não está à par da atual condição nervosa da sua esposa.
— Quem não está à par da situação aqui é o Senhor, a minha mulher foi interna aqui de forma absolutamente irregular. Se ela não for liberada imediatamente, eu processo essa instituição, eu processo o médico que recebeu dinheiro para interná-la aqui e eu processo o Senhor, o Senhor está sendo conivente com essa imundice toda.
— Eu posso lhe garantir que a sua mulher sofre de histeria.
— Eu não quero saber do seu diagnóstico. Você pode ter certeza, eu caço a sua licença se a minha mulher não aparecer por aquela porta.
Quando a porta se abre, sou arrastada até o batente da porta, caminho a passos lentos e vejo Thiago vir em minha direção, preocupado.
— Meu Deus, meu amor, o que fizeram com você. – Ele ampara o peso do meu corpo em seus braços, passando as mãos para cima e para baixo em meus baços.
— É o remédio.
— Tira isso dela, por favor...Tira isso dela, pelo amor de Deus! - Ele me encara com os olhos aterrorizados. — Meu amor, calma, calma, calma... Isso, assim, pronto, pronto. – Cedo o peso do meu corpo contra o dele de repente, sobrecarregado com alivio e cansaço. — Tá tudo bem, tá tudo bem, fica tranquila, meu amor – Ele me põe em seu colo. — Tá tudo bem agora –, sussurra, beijando minha testa.
— Parabéns pessoal, bom trabalho... – comemora Dennis. — Acho que vou sentir falta disso, dessa sintonia.
— Você está bem? – assinto sorrindo. — Ótimo, por um momento achei que não estivesse. – Ele suspira, apertando os dedos contra a minha cintura. — Precisa ser tão convincente assim...
— Como é?
— É você, Marjorie, a sua a atuação, porra! Uma hora você ficou tão mole nos meus braços que eu duvidei, eu me preocupei...
—Bobagem, olha quem fala, sua atuação também foi excelente. Digna de um Emmy, não acha?
— Ah, a senhorita resolveu concordar comigo agora?
— Sim, resolvi... Resolvi também que devemos comemorar, se você não tiver nada melhor para fazer é claro, Sr. Thiago, quero que você conheça um lugar, o meu lugar favorito no mundo.
~*~
Algumas pessoas entram no bar. Um homem na casa dos vinte anos avalia o lugar antes de se sentar no banco mais próximo a nós.
Tomo meu vinho. O gosto não é dos melhores. A mulher entusiasmada no canto nem mesmo está fingindo tomar o dela.
Ela e o companheiro estão dando uns amassos mais ousados. O lugar ainda é o mesmo, desde da última vez em que estive aqui, apenas a vista para o mar é o que compensa. É fascinante.
— Amantes - eu digo, desviando o olhar para o meu copo.
— Amantes como nós?
— Não, não como nós. Não sou sua amante. Não tenho a pretensão de ser.
— Achei que você quisesse ficar comigo.
— E-eu quero, é por isso que estamos aqui. Por que você acha que eu gosto deste lugar? Ninguém olhou pra mim tempo o suficiente para me reconhecer. Nenhuma pessoa me pediu autógrafo ou implorou para tirar uma foto comigo. Sou uma estranha aqui, uma completa estranha, como todo mundo. É o paraíso. - Ele me avalia por alguns segundos.
— É isso que você quer? - Ele dá de ombros e brinca com sua bebida. — Ser uma estranha?
— Às vezes. Na verdade, a maior parte do tempo. As coisas eram muito mais simples quando eu era uma estranha qualquer. Agora, tudo que faço é posto sob os holofotes. Cada decisão. Cada pedaço de informação pessoal é colhido pelos abutres da mídia pra encontrar algo valioso ou não para se vender nas malditas revistas ou sites, não importa o custo. Não posso me apaixonar e quebrar a cara depois, porque um milhão de pessoas vai ficar sabendo. Não é só a sua família ou amigos pra julgar você. É o mundo inteiro.
— Quem liga para o que as pessoas vão falar, Marjorie.
— Você. Você liga, Thiago. Todo mundo liga. O discurso da boca para fora é muito lindo, é tudo muito simples, mas na prática, nós julgamos uns aos outros o tempo todo. Você sabe disso melhor do que eu. O que impede você de ficar comigo? É a Mariana ou é a sua insegurança, o medo de encarar o que vão falar.
— Sinceramente, é tudo isso e um pouco mais. Se fosse apenas pelo meu medo e a minha insegurança, eu os superei lá trás, quando tive medo, quando duvidei dos meus sentimentos por você, mas essa dúvida não existe mais, eu posso dizer que te amo com todas as letras, posso gritar se você quiser. MARJORIE ESTIANO, EU TE AMO... EU TE AMO!
— Para Thiago, você enlouqueceu? Está todo mundo olhando.
— Ué, não era isso o que você queria? Que eu assumisse para o mundo o quanto eu te amo, Marjorie Estiano?
— Okay, você pode parar agora, Thiago, eu já entendi, juro. – Levanto-me da cadeira, deixando o valor da conta sobre mesa, saio pela porta lateral do bar, a qual dá acesso ao calçadão e de quebra a brisa do mar.
— Jura? – Ele para ao meu lado, não muito interessado na noite enluarada. — Não, pela sua cara, eu desconfio que não. Eu te amo porquê... Bom, eu não sei porque, não sei explicar o porquê... Isso é normal?
— O que?
— Apenas... apenas amar. – Sorrio para o jeito dele, aquilo era uma tentativa estranha de se declarar. Thiago Fragoso está se declarando para mim, é isso mesmo? — Eu amo você porquê...
— Está tudo bem, nós não somos o tipo de pessoas que dizem “eu te amo”, Thiago, e tudo bem. Está tudo bem.
— Não, não está, me deixa falar, eu preciso e você merece... merece saber que a cada dia você me faz mais e mais feliz. O meu riso é mais feliz contigo. Você é minha melhor amiga, parceira, cumplicie e amante. você é uma grande atriz, minha musa, minha maior inspiração na vida e na arte. Eu admiro o seu trabalho, o que você diz, o que você pensa, quem você é. Sua companhia é melhor que brigadeiro de colher. A vontade que eu tenho de dormir e acordar com você do meu lado todos os dias, é maior que tudo. É bom acordar e lembrar de você. É bom dormir e sonhar com você. Porque ao seu lado eu me sinto adulto e criança ao mesmo tempo. Ao seu lado eu me sinto único e posso ser quem eu sou, sem medo de parecer ridículo. Ah, o seu beijo, cada beijo seu me eleva aos céus, me faz ver estrelas. Cada dia ao seu lado é um dia mais que especial, e cada minuto é muito tempo sem você. Com você eu sou mais forte, corajoso e decidido. Só você me faz sorrir sinceramente o tempo todo. É lindo vê-la sorrir, o sorriso mais sincero. É legal te derrubar de cócegas só para ouvir o som da sua risada. Eu amo ouvir suas músicas o tempo todo. Eu amo ouvir músicas que me lembram de você. Eu conto os dias e as horas pra te ver porque eu sou apaixonado por você. Porque eu sou louco por você, Marjorie, e é um amor incondicional, inexplicável e indiscutível.
Minha respiração falha, nossos rostos estão próximos. Ele toca o meu queixo com o polegar e o acaricia, me beijando com intensidade. Um beijo apaixonado. Suplicante, pedindo algo a mais, algo que eu não consigo decifrar o que é.
Isso é loucura. Ele me deixa louca. Seu beijo me deixa sem fôlego.
— Jamais duvide do meu amor – ele implora num instante e no outro, seus lábios voltam a me beijar com urgência e sofreguidão. Sua língua entrelaçada a minha, me fazendo provar do seu gosto. Eu enterro meus dedos em seus cabelos, segurando-o a minha boca, consumindo-o. Eu estou com ele, isso é indescritível. Eu estou com ele e nada mais importa. Eu arrasto meus dedos para baixo, até a parte inferior das costas para a barra da camisa e puxo com minhas mãos gananciosas. — Você quer ir a outro lugar, vamos, vamos sair daqui – ele sussurra entre os beijos. — O que é isso? - Exasperado, ele se afasta de mim de repente, quase caindo na tentativa de alcançar o moleque. — Você enlouqueceu? Solta essa câmera agora! - berra, mostrando que não está para brincadeira. Nunca o tinha visto assim antes, estava tão assustada quanto paparazzi.
— Perdão, mas é meu trabalho - o cara retruca, recolhendo a câmera antes que ele pudesse lhe alcançar. Junta o tripé e o binóculo, mas quando ia atravessar a rua foi surpreendido por um carro em alta velocidade, o fazendo recuar.
— Amigo… olha, a gente não quer confusão. Será que poderia fazer a gentileza de apagar essas fotos e seguir em frente? - falo calmamente, como se pedisse para o cara relaxar. — Por favor…
— Se o neurótico aí me solta, quem sabe a gente pode conversar?! - cospe, morrendo de raiva.
— Thiago, solta ele.
— Ah, não solto, não sem antes ele entregar a câmera para você.
— Para quem fraturou a coluna, você tá bem forte. Será que foi a ajuda da sua mais nova... Como eu devo chama-la? Peguete, não... Amante.
— Ela é minha namorada… - Thiago muda de tom, apertando as mãos com força contra o pescoço do fotografo. Mais um pouco e ele o esganava. — Cuidado com o que fala.
— Quanta coragem em me ameaçar…
— Não estou te ameaçando… ainda.
— Thiago, por favor, solta ele.
— Ouça a sua namorada, amigo, e vamos conversar.
— Eu não vou cair nessa, meu amigo, você tá esperando o que para entregar a câmera? Eu te dar outro soco no meio desse seu nariz?
— Nem precisa. - O rapaz gargalha cinicamente, como quem não sente medo. A altura dele o ajudava na intimidação. — Nós podemos resolver isso de outra forma...
— Como?
— Money, grana, bufunfa, dinheiro.
— Eu não acredito que estou sendo extorquido por um paparazzo de merda.
— Oh cala a boquinha, senão o valor pode aumenta.
— Aumenta... Aumenta... Vou amentar o tamanho da minha mão na sua cara, imbecil. – Thiago dá um soco no rosto, fazendo seu nariz sangrar. O paparazzo cai no chão, mas trata de se levantar logo em seguida.
— Vai dar uma de macho agora? – indaga, cerrando os punhos, dando uma joelhada no saco e um soco na lateral do rosto, fazendo Thiago cambalear para trás, zonzo.
Thiago permanece no chão, atordoado, enquanto o paparazzo atravessa a rua e entra no carro, dando a partida. O calçadão estava vazio, por sorte.
— Amor… tá doendo ainda? Caramba, me desculpa por isso.
— O QUE ESTÁ ACONTECENDO COM VOCÊ?
— Tudo bem que eu exagerei, mas…
— VOCÊ PODIA TER MATADO ELE!
— Tá, me desculpa, mas…
— Desculpa? — Caminho às pressas em direção ao carro e aperto com raiva o botão do alarme. — Eu sou uma idiota por ter acreditado em você.
— EU E A MARIANA TEMOS UM FILHO, EU NÃO QUERO EXPOR A MINHA FAMÍLIA!
— Ah… “A sua família...” ESSE PAPINHO NÃO COLA COMIGO, THIAGO! - berro, abrindo a porta do carro com raiva. — Sabe o que mais me chateia? Você falar que me ama.
— Eu amo você, Marjorie.
— Ama? - baixo o tom, franzindo as sobrancelhas e sentindo uma lágrima escorrer pela lateral do meu rosto.
— Amo muito! — ele repete, acreditando que tudo se resolveria.
— Não sente vergonha, não? Em mentir olhando dentro dos meus olhos?
— Como é que é? - Ele segue meus passos, puxa o meu braço, e eu o encaro. — Marjorie… você nunca falou assim comigo, o que está havendo?
— Você precisa de mais um motivo… eu entendo. Eu te dou esse motivo com prazer, de bandeja, meu “amor”. — Faço as aspas com os dedos. — Todo aquele papo de “eu te amo”, “eu te assumo”, “não me importo mais com exposição”, “deixe que fotografem”, “que vejam”, “jamais duvide do meu amor”. Não passou de palavras ao vento. Nada do que você disse, você sentiu de verdade. Porque quando você percebeu o paparazzo, nos seus olhos, dava pra ver que seu mundo estava desmoronando. Sua família, não é? É o que mais importa pra você. Então, quer saber? Você deveria correr logo pros braços daquela magrela asquerosa.
— Isso não é verdade. Para com isso, me deixa explicar. Me deixa falar.
— E vai falar o quê? Que me ama? Não perca seu tempo.
— Não deixaria de ser verdade.
— Já deixou de ser… - afirmo. — Agora me dá licença que eu realmente preciso ir.
— Por favor… - Ele segura meu braço outra vez. — Deixa eu falar o que tenho para dizer…
— Eu deixo - falo, respirando fundo. — Que seja rápido.
— Não duvida do meu amor… Eu realmente não sei o que aconteceu comigo na hora, é que… muita coisa passou pela minha cabeça. Em um segundo vi aquele momento nosso, em todos os jornais, em todos os sites. Pensei no modo negativo que seria repercutido. Pensei nas nossas carreiras. Eu não... Não queria que fôssemos expostos daquela forma, daquele jeito. Queria que nossa relação fosse fruto de amor, e não visto como fruto de uma maldita traição. Que não existiu, e nunca vai existir, caramba. Eu te amo, sim! E te amo tanto! Tanto! Eu nunca amei ninguém assim. Com essa intensidade. Com esse fogo. Com essa paixão que a gente tem, não importa quanto tempo passe. E teremos tanto tempo pela frente, tanta coisa para viver juntos… não queria apressar as coisas. Eu jamais mentiria sobre sentimentos assim, isso você pode ter certeza. Eu estou sendo inteiramente sincero ao me abrir assim para você. Eu te amo muito, Marjorie. Eu juro — ele repete. — Eu juro…
— Eu tô precisando ficar um pouco sozinha. E… pelo que me parece, você tem questões pessoais para resolver. Saiba que de nada adiantou seu surto psicótico para cima do nosso parceiro, no meio da rua. Ele tem as fotos e vai ganhar um bom dinheiro ferrando com a sua família, como você gosta de falar. Eu vou sair como a amante e você como o traidor, acredite. Mas ao contrário de você… eu não me importo nem um pouquinho. Sabe porquê? Porque eu sempre acreditei que nós estaríamos juntos nessa. Que eu teria seu apoio e nós enfrentaríamos tudo de cabeça erguida, como duas pessoas que se amam e que lutam pelo seu amor. Mas acho que me enganei. Então… boa noite - falo, fechando a porta do carro devagar. — Boa sorte para conseguir um táxi por aqui. Passar bem.
Thiago viu a porta do carro bater e tudo ao redor sumir. Viu seu mundo de cabeça pra baixo e seu corpo se render. Viu o carro se distanciar e desaparecer em meio as luzes da cidade maravilhosa. Sentiu como se estivesse encolhendo. Sentiu sua cabeça girar e o coração doer a noite toda. Ela fazia falta. Nem meio segundo havia se passado e ela já fazia falta... e como…
Marjorie seguiu seu caminho. Dirigia sem rumo, tentando não chorar. Era quase inevitável que não o fizesse. As lágrimas já estavam ali, apenas esperando permissão para desabar, rolar em sua face. Não as conteve, quando o sinal fechou, a obrigando a parar, tombou a cabeça para frente, encostando de leve no volante e voltou a si, mas que depressa quando ouviu o alarde de várias buzinas ressoarem ao mesmo tempo em seus ouvidos.
Droga, nada mais parece fazer sentido, o mudo está virado de cabeça para baixo. É uma loucura pensar que pela manhã eles estavam juntos e agora já não estão mais.
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27 de fevereiro de 2013
Por Thiago
Meu último bloco com capítulos havia chegado e eu evitei a leitura. Ler me faz perceber que está acabando. No entanto, não me importo em passar horas dentro de um estúdio. Não me importo em virar a noite trabalhando.
Marjorie e eu gravamos às 4h da tarde e agora já são 9h30 da noite, ainda gravaríamos mais uma cena, e considerando a minha companhia, não posso reclamar.
— Vem cá, Marjorie! – Puxo-a para dançar, a abraçando pela cintura, a faço rodopiar enquanto canto. — Ouça-me bem, amor. Preste atenção, o mundo é um moinho. Vai triturar teus sonhos, tão mesquinhos. Vai reduzir as ilusões a pó.
— Ah... Para Thiago. - Ela apoia a cabeça em meu ombro, bagunça os meus cabelos e começa a rir. É contagiante. — Já chega!
— Olha – Encaro-a nos olhos — , se você continuar com má criação, eu vou chamar outra para fazer par romântico comigo.
— Oh, olha aí a Zezé para fazer par romântico com você. – Fecho a cara momentaneamente, evitando o seu distanciamento murmuro junto a sua orelha.
— Vem cá, sua boba, a gravação, Marjorie, a matéria para o Vídeo Show, esqueceu?
— Grava com a Zezé, ela vai adorar fazer a Laura, não é? – Suas mãos estão espalmadas contra o meu peito, nos afastando um pouco.
— Marjorie, depois não reclama. – Afago seus dedos e a faço olhar para mim. — Eu chamei você.
— Eu sei... - Ela ergue o rosto, seus olhos castanhos me avaliando. — Amo você por isso.
— Não foge, não... Eu quero gravar com você.
— Não me pede isso não, Thiago, por favor, você sabe que eu, nós não... – Marjorie não gosta de ser o centro das atenções. Eu entendo o seu receio. Queria que pudesse ser diferente, mas ainda não é. — Eu vou retocar a minha maquiagem e encontro você no estúdio depois, está bem? - Ela sorri gentilmente.
— Tudo bem - Concordo com um simples aceno de cabeça e a vejo se distanciar. Zezé me observa com olhar cumplice. Sou incapaz de lhe dizer algo. A câmera do programa já focava nossos rostos, então a abraço aperto e pensando ser Marjorie, recomeço a cantar. — Ouça-me bem, amor. Preste atenção, o mundo é um moinho. Vai triturar teus sonhos, tão mesquinhos. Vai reduzir as ilusões a pó.
— O Thiago faz par romântico comigo, eu gosto de fazer a Laura, me sinto leve e solta né, Thi?
— A vida é um moinho... – assinto e continuo a cantar enquanto Zezé prossegue em seu monologo particular.
— Olha gente, o Edgar...
— Teus sonhos tão mesquinhos...
— Queridíssimo!
— Vai reduzir...
— Vai falar um pouquinho da novela.
— As ilusões a pó.
— Como é que a gente tá triste finalizando a novela.
— Ah minha filha - Delicadamente, me afasto dela. —, não me fala, eu não tô pensando nisso.
— Não tá, não. – Zezé arregala os olhos para mim. Aproveito e comento algo corriqueiro do meu dia, infelizmente não posso mencionar a gravação de hoje cedo. Marjorie me mataria.
— Hoje, Lázaro chegou para mim, falou assim: você já leu o último bloco?- Junto as mãos. — Eu falei: Não. Que isso Thiago, já chegou. Eu falei: não vou lê.
— É... é porque é triste, é muito triste.
— Porque se eu ler, perceberei que está acabando.
— É muito chato, não é?
— Chato, né?
— Me fala é...
— Principalmente assim: é chato quando tem gente legal.
— É sim, não dá para negar que o nosso elenco é maravilhoso.
— E a gente só dá sorte, sempre que eu trabalho com você é uma experiência maravilhosa.
— Não falei que ele é um querido?
— Eu tô falando sério. – Relembro da nossa parceria em O Profeta. Eu era tão jovem, atuação crua, praticamente um estreante, com peso imenso nos ombros — a responsabilidade de protagonizar uma novela — ouvir seus conselhos me ajudou muito. Por isso, encaro-a surpreso quando ela elogia a evolução do meu trabalho e brinca diante da câmera:
— Ele era uma pessoa mais séria, mais profetizada.
— É... bem mais – Rio. —, hoje eu sou uma pessoa largada no mundo.
— Hoje ele é um janota!
— Agora, vocês veem, pessoal – Deslizo os dedos entre os cabelos. —, olha, olha o nível do cabelo da pessoa que já tá...
— Alisado.
— Não, agora já não tá mais alisado. – Mostro o pulso, mesmo ausente de relógio, indicando a hora. — Eu gravei quatro horas da tarde com cabelo alisado, agora já são nove e meia da noite
— Não, ele é assim... – diz Zezé com meio sorriso.
— Ainda vamos começar a gravar aqui, e vai ter que voltar e retocar tudo. – Bagunço os cabelos, os prendo para trás e soltando-os em seguida, gracejo. — Aí o pessoal do Vídeo Show pode ver como fica o Edgar no meio do caminho.
— Entre uma coisa e outra, porque o cabelo dele é enrolado, gente, assim como o meu – completa Zezé, levando a mão ao turbante branco que prende seus cachos.
— Assim... assim como dela.
— É muito...
— Mas é verdade, é verdade – concordo, com aceno de cabeça.
— É muito louco – diz por fim, rindo.
— Mas é verdade – reafirmo. —, se deixar ele solto, ele fica exatamente assim.
— É, agora que a gente já soube de toda a verdade, obrigada.
—De nada. – Olho para ela com falso ar de indignação. —, era só isso que você queria comigo?
— Era.
— Zezé, você me usa e-
— Quer cantar alguma coisa? – Não respondo. Mantendo o tom sério e chateado, resmungo:
— E me manda embora?
— Na-não, canta alguma coisa – insiste ela, abrando-me pelo ombro.
— A Zezé, ela faz isso com as pessoas...
— Canta, canta, canta a vida é um moinho? – Enquanto ela faz caras e bocas para a câmera, eu a encaro austero.
— Pessoal do Vídeo Show, gostaria que vocês soubessem disso: Essa pessoa, Zezé é uma pessoa que faz isso, ela chama, vem cá, meu amor , meu querido, fala não sei o que... Tá, já falou, vai embora.
— Para... mentira! – Não consigo conter o riso, Zezé parece um pouco chateada com a brincadeira, por isso me despeço dela com um beijo carinhoso na bochecha. — Menino, você é...
— Um querido, eu sei...
— Então, meu querido, eu vou indo porque já devem estar me esperando no estúdio.
— Não deixa, não Zezé... Não deixa o Thiago convencer você!
— Olha aí a sumida... Você não ia me esperar no estúdio? – Marjorie revira os olhos, sem me responder. Ela está pronta e linda na pele de Laura. — O que foi, encrenca, não vive sem mim? – Contendo minha vontade de beijar seus lábios, contorno sua cintura e andamos abraçados.
— Marjorie, nós acabamos de gravar uma matéria muito divertida, não é Thiago, conta para ela.
— Eu? Eu não, conta você. – As duas se entreolham, posso ver curiosidade nos olhos de Marjorie. Sorrio enigmático.
— Ele não falou do cabelo dele, falou?
— Espera... Como você sabe? – pergunto.
— Meu bem, você é tão previsível.
— Previsível?! Eu... Zezé, olha isso, agora eu sou previsível.
— Você é... – Ela pisca e dá um passo para trás, contemplando a nossa imagem. — Vocês, dois são.
~*~
Fecho os olhos, molhando o rosto com a água que escorre entre os dedos. Que demora! Onde ela está? Estou começando a ficar com os dedos dos pés enrugados de tanto esperar nessa banheira. Ah... nossas cenas na banheira.
— Nossa, Marjorie... depois eu que sou o atrasado.
— Fui buscar o seu suco ou melhor do Edgar – explica, enquanto puxo a para mais perto. Ela sorri. — Não tenho culpa se esqueceram desse detalhe e um suco ruim não seria do seu agrado.
— Você provou?
— Provei, por quê?
— Por nada.- Eu me curvo e dou um beijo demorado nela. Ela se afasta, receosa.
— Thiago!
— O que foi? – Mantenho minha mão esquerda em seu rosto e o acaricio. — Não posso dar um beijo de agradecimento?
— Não, não aqui, não antes do gravando. – Acho graça do jeito encabulado dela.
— Ok, não sabia que ainda tínhamos essas formalidades, para mim...
— Para você o que?
— Eu podia beijar você quando quisesse – falo, buscando seus lábios. Está com gosto de suco de morango. Meu corpo inteiro reage com a aproximação da sua boca na minha. .
— Para Thiago, eu já disse: agora não.
— Está bem, eu já entendi – ofego entre o seu pescoço e orelha. —, agora não, mas depois?
— Quem sabe... – Marjorie consente, levantando-se de súbito para ficar na posição inicial de cena. Obrigo-me a concentrar também e não misturar realidade com ficção. Ao sinal do diretor damos inicio a gravação.
Eu a observo entrar em cena com o copo de suco em mãos.
— Trouxe para você – oferece ela, sentando-se de frente para mim.
— Obrigado – agradeço, pegando o copo de suas mãos.
— Para você relaxar – diz tocando o meu ombro de forma cautelosa. —, achei seu dia meio complicado.
— Ah, um pouquinho. – Baixo o olhar, brincando com a água, Marjorie larga o pires na bancada a sua frente e toca minha mão.
— Mas você sabe que sempre pode piorar. – Bebo um gole do suco e olho para ela com ar desanimado.
— Pior que hoje é um pouco difícil, né? – Largo o copo sobre a bancada do lado aposto ao dela, e suspiro.
— Como assim Edgar, muito fácil ficar pior do que hoje – Ela fala animada, erguendo as mãos próximo da cintura. Massageei-o a pálpebra, irritada pela água.
— Acho que eu estou sem imaginação, porque eu não consigo imaginar.
— Tá... – Inclina-se, sorrindo, na minha direção. — Então vamos começar pelo simples: terminou tudo bem, não foi?
— Tá bom, já me convenceu. - Pego a sua mão e desenho círculos enquanto ela discursa com a outra, com o indicador em riste.
— E a gente podia ter que passar por isso, um sem o outro.
— Impressionante como você consegue provar rápido o seu argumento.
— Sou uma moça esperta! - Eu a admiro. Contemplo cada traço, linha curva do seu rosto. O sorriso mais radiante que o sol.
— Não, não você é uma mulher excepcional, incrível como você conseguiu perceber tudo. Se não fosse por você, Laura, a Melissa ia tá...
— A Melissa tá ótima. – Inclina-se na minha direção com os olhos fixos nos meus, acaricia o meu rosto e cabelos. Suspiro diante do seu toque, rápido e sutil. — E a sua ideia!? De mandar aqueles dois para longe... – enfatiza, sorridente. — Edgar, você é um homem excepcional! - Suas mãos estão postas na lateral do meu rosto, e meu ato reflexo imediato é simplesmente receber o beijo. Curto e rápido. Nã- não...Não pode ser! Como quem lê meus pensamentos, Marjorie volta a me beijar.
— Nós dois somos imbatíveis, essa que é a verdade e olha que eu já percebi isso, oh, a muito tempo, você que é meio lenta.
— Lenta?! – fala próximo da minha boca.
— É, meio lentinha, sim... um pouquinho lentinha. – Continuo-a provocá-la. Sem afastar nossos lábios, ela faz o mesmo.
— Eu vou falar para a Melissa que você me chamou de lentinha. - Seus dedos estão presos ao meu cabelo, puxando-os com força.
— Ah, vai falar é. – Gemo em apreciação, e meus lábios encontram os dela, sentindo sua pele macia na minha. — Você gosta muito dela, né?
— Vocês dois são a minha família.
— Ah é, então vem cá... – Seguro a cintura dela, puxo-a para perto do meu corpo e a beijo. Minhas mãos molhadas escorregam pelo seu corpo. Marjorie aperta os dedos ao redor do meu pescoço. Contraio os quadris, gemendo em sua boca. Ela eleva o corpo, apoiando as mãos na borda da banheira, os lábios dela se abrem, aprofundo o beijo. O desejo me consome, me absorve.
~*~
Ela sai da banheira me oferecendo ajuda para fazer o mesmo. Estendo a mão e seguro a dela. Estaria tudo bem, não fosse a malicia em seus olhos e a ereção que pulsa em mim.
— Quer uma tolha? – pergunta, jogando uma em minha direção. Sorrio. Marjorie está tentando manter a distância entre nós, e por isso mesmo me aproximo.
— Gostou do presente?
— O q-eu? Que presente, Thiago?
— Da cena... Eu estou falando da cena, que a Cláudia escreveu especialmente para a gente, Marjorie – a observo corar. — O que você achou que era? – Estou próximo dela. Posso ouvir a respiração ofegar junto dos movimentos bruscos que faço ao me secar. Ela está atenta a cada movimento meu. — Mah... Você não vai me responder?
— Eu acho melhor eu ir trocar de roupa, essa aqui está molh-
— Espera... – puxo-a pelo braço, parando em frente dela. — Porque a pressa, Mah, você não vai me responder, não? – sussurro me divertindo com os olhares curiosos a nossa volta. Câmeras e demais equipamentos eram guardados enquanto Dennis dispensava a todos.
— Ah... Você está se achando, não é Thiago, só porque pode me chamar de lentinha em cena, mas saiba que o lento aqui, continua sendo você – rebate ela com deboche, parando de secar o cabelo. — O fato de a Cláudia ter escrito uma cena para você não muda em nada o que eu falei, ouviu?
— Humm... É impressionante, Marjorie, como você fica ainda mais linda com ciúme. – Enrolo minha toalha na cintura, ciente dos seus olhos sobre mim.
— Ciúme, eu?
— Ciúme, sim... – Recebo um roupão das mãos de Marcinha, que entrega outro para Marjorie. O visto rapidamente, dando um nó na cintura, sem desviar o foco da nossa conversa. — A Claudia não escreveu a cena para mim. Escreveu para nós dois. Nós dois somos imbatíveis juntos, essa que é a verdade, entendeu o recado ou quer que eu desenhe?
— Não, não precisa... - Ela desvia o olhar, irritada. — Eu não que-ro.
— Tem certeza? – Levanto o seu queixo e dou um beijo delicado em seus lábios. — Foi tão bonitinho, meu amor, você errando o seu discurso – falo em tom de deboche, levando a mão ao peito. — E o prêmio de melhor marido vai para Thia-go, opa, Edgar Vieira.
— Hã... Você ainda quer receber o seu prêmio, Thiago? - O rosto dela está iluminado, os cabelos úmidos, o roupão entreaberto me deixa ver a roupa ainda colada ao corpo, os olhos cheios de cobiça e desejo. Ah... Thiago você está perdido, completamente perdido...
— Meu prê-mio? Que prêmio, Marjorie?
— O seu, você esqueceu? – cochicha em meu ouvido, coçando minha barba com os dedos, ela conta o que planeja. Fecho os olhos, sentindo seus lábios percorrer do meu lábio inferior ao queixo, descendo pelo pescoço e colo onde minha pele está exposta.
— Porra Marjorie, o que você está fazendo?
— Beijando você, meu bem, não lhe parece obvio? – Suas mãos brincam com o nó do roupão, até o desfazer, deixando cair no chão. Ela para de me beijar e me encara. Seus olhos brilhantes me despem.
— Isso eu sei, querida... Não sou burro... Quero saber o que você pretende com isso? - Expondo o seu desejo, ela desliza as mãos até o cós da cueca boxer, pondo a mão por dentro, ela toca gentilmente o meu membro já ereto, liberando-o.
— Quero tudo... Eu quero você. Eu quero tudo com você, Thiago, eu não vou parar até conseguir tudo. – Isso soa tão prazeroso e estimulante aos meus ouvidos. Ah, Marjorie... Uma onda de prazer percorre o meu corpo enquanto ela continua estimulando a minha ereção.
— Não desejo que você pare – gemo na sua boca. — Eu não quero que você pare por nada. – Meu sangue ferve nas veias. Estou ardendo. É impossível parar. Eu preciso dela. Beijo-a intensamente. Seus dedos se perdem no meu cabelo enquanto a devoro. Abraçada a mim, Marjorie corresponde a cada um dos meus beijos, alimentando o meu desejo. Eu a quero nua.
— Eu preciso... – Ela geme, a língua enroscada na minha.
— Precisa, o que? – ofego, girando-a de costas para mim. Afasto o seu cabelo do ombro e começo a desabotoar o vestido.
— Eu preciso ligar para o André – Ela para, de repente, de frente para mim. Estou desnorteado. Confuso demais para compreendê-la.
— André!?
— André Câmera, o diretor, eu pedi um favor a ele – explica ela, buscando o celular escondido na gaveta do mobiliário do cenário.
— Não sabia que você trazia o celular para a gravação.
— Shh... cala a boca – ordena, selando os meus lábios com um beijo casto. — André, você conseguiu... Ah, obrigada! Brigadão, eu fico devendo essa, muito obrigada.
— Hã... Brigadão, André – cerro os dentes ao falar — , eu fico devendo essa. – Sorrio irônico, sem disfarçar o meu incomodo. — Que intimidade é essa, hein?
— O que foi, Thiago, você e a Marcinha podem ter intimidade, André e eu não? - Ela suspira frustrada, e revira os olhos só para me provocar. — Vamos? Nós podemos ir.
— Ir? Ir aonde, eu posso saber? Aonde você está me levando, Marjorie? – Eu cato meu roupão do chão, chateado, e o visto novamente.
— Você já vai saber. Vamos?
~*~
— Para Marjorie, não tem graça, o que você está fazendo?
— Não olha, por favor!
— Eu já disse que não preciso dessa venda, eu não vou olhar.
—Sei... Você não me engana, eu conheço você – Ela me conhece. Eu olharia se pudesse. Não sei o porquê de tanto mistério, mas eu estava prestes a descobrir. Só preciso ser paciente. Tento dizer isso ao meu subconsciente. Ah... é impossível! — Você pode abrir os olhos agora – Ela sussurra ao tirar a venda dos meus olhos.
Pisco para me adaptar a luz do ambiente. Eu reconheço o lugar. É familiar demais para mim e para ela também. É o nosso lugar. É o nosso cenário ideal ou seria dos nossos personagens – Laura e Edgar. Não consigo deixar de pensar, ser também o nosso lugar. Quantas cenas nós gravamos aqui.
Eu a beijei pela primeira vez aqui e... Bem, agora a tenho seminua em minha frente. Estou com a nítida sensação de ter parado no tempo e no espaço. Seus olhos são como luas cheias de desejo, e eu gravito ao redor. Contornando sua face com os dedos, lentamente pouso um beijo em seus lábios.
— Achei que eu fosse despir você.
— E você vai. – Ela sorri, parando subitamente de desatar o seu roupão. Nossas testas estão unidas, a respiração falha e ofegante pelo calor do beijo e do momento.
— Você não entendeu, eu quis dizer a rou-pa - Tenho meu raciocínio interrompido por um beijo sôfrego e urgente. Minhas mãos se apressam em desfazer o nó do roupão, que cai feito nuvem de fumaça aos seus pés, revelando o seu corpo quase nu.
Aperto a contra os meus braços, a faço girar, deixando suas costas coladas em meu peito. Afasto os cabelos para o lado para tomar pose do seu ouvido e beija-lo. Livre do sutiã, ela exibe os seus seios pequenos e belos. Os mais belos que já vi e agora posso acariciar.
— Impressionante como você pensa em tudo mesmo, Marjorie.
— Ah... eu penso – Prendo seu cabelo com uma das mãos, deixando o seu pescoço exposto, para os meus beijos. Seus olhos estão fechados, a cabeça quase apoiada em meus ombros.
— Pensa, eu sei o que você pensa, sei o que você quer - Sinto a sua pele arrepiar com o meu toque. Eu a quero. Quero a levar para cama. Para nossa cama.
— Ah...eu penso, Thiago, eu quero ter você bem dentro de mim - Sinto a ereção no meio das pernas aumentar, livro-me da cueca e da peça que me impede de senti-la por inteiro. Com agilidade, transpasso os dedos nas laterais da calcinha, puxo-a para baixo lentamente, deixando a completamente nua, ergo-a nos meus braços. — Thiago! – a faço rir com um misto de preocupação no olhar. — Eu esperei tanto por esse momento.
— Eu também, meu amor. — Sequer sei de onde tirei tamanha força e habilidade para cumprir o curto trajeto que nos distanciava da cama. Talvez seja o meu desejo insano, o culpado.
Coloco-a delicadamente na cama, olho para as camisinhas postas na mesinha de cabeceira ao lado da cama e quando me viro para encarar Marjorie, ela está sorrindo com os olhos de volúpia, o que me faz agir com um único propósito.
Estico o braço e pego uma das camisinhas, envolvo meu membro com o látex, ciente de que estou sendo observado. Isso é excitante. Provocativo. Erótico.
— Você vai ficar aí só me olhando?
— Porra, Marjorie, não estraga o momento. – Eu permaneço de joelhos sobre o colchão completamente estático. Perdido. Atônito. — Eu...não
— Thiago - diz ela após um instante, me chamando a razão. — Faz amor comigo – Ela me faz inclinar sobre o seu corpo. Quando sua boca toca a minha, não consigo mais resistir, agarro seus quadris e a trago para mim. Meu tesão só aumenta. Nunca me senti assim, tão duro, tão pronto para meter com uma mulher como estou agora.
Ela segura o meu roto com as mãos e retribui o meu beijo com fervor. Seus lábios são vorazes, sua língua se enrosca com a minha, fazendo o meu sangue fluir e o coração bater mais rápido.
Minhas mãos deslizam pelo seu corpo, buscam suas curvas, desço os lábios no pescoço, deixando um beijo longo e molhado em seu ombro.
Sigo desbravando com a palma da mão cubro seu seio e o caricio com movimentos circulares, puxo o mamilo e o sinto enrijecer com a umidade dos meus lábios sobre eles.
Beijo com delicadeza, depois sugo com força. Ela geme, contorcendo os quadris, envolve meu pau duro dentro dela.
Gosto disso. Preciso disso. Preciso de mais. Quero mais.
Prendo a respiração e paro de beija-la para encarar seus olhos em êxtase. Deus, como pode ser tão linda e gostosa. Seguro suas pernas entorno dos meus quadris. Saio lentamente de dentro dela, depois meto de novo, de novo, e de novo, desta vez com mais força.
Ela agarra meus cabelos e geme as iniciais do meu nome enquanto as ondas do orgasmo percorrem o seu corpo. Movendo-se na minha direção, eu a sinto afundar em mim.
Flexiono os quadris, pressionando a ereção nela. Ela fecha os olhos e geme alto e ofegante. Repito o gesto, e dessa vez ela se esfrega em mim, falando impropérios em meu ouvido
— Porra, Marjorie! – Sem controle, flexiono os quadris, pressionando ainda mais a ereção nela enquanto a observo arfar. Sentada em mim, movendo-se rápido para frente e para trás, ela é incontrolável.
Aaaah
A sensação é indescritível.
— Eu sou seu, Marjorie. Seu. Todo seu. - Desisto de tentar controlar, afundo os lábios em seu pescoço e me deixo levar. A deixo guiar. A cama range com o ímpeto dos movimentos. Com o ritmo frenético dos nossos corpos suados.
Eu a abraço apetado, mantendo nossas tetas unidas, afasto os cabelos dos seus olhos e a faço me encarar
— Você ouviu o que eu disse?
— Humm... – ela ofega, sem desviar o olhar. — Você é meu, eu sei.
— Sabe?
— Sim... Sei, eu sei... Sempre soube.
— Sempre soube?
— Sim, sempre.
— É bom ouvir isso. Vo-cê...
— Não fala. Me beija. Só me beija, Thiago, só me beija. – Obedeço com prazer. Meus dentes arranham seu queixo quando procuro seus lábios e sua língua num beijo doce, quente e apaixonado, nós dois nos esfregando um no outro, em movimentos opostos perfeitos, gerando uma fricção que é prazerosa e torturante ao mesmo tempo.
O calor aumenta e queima entre nós, faz Marjorie cravar as unhas e deslizar sobre a minha pele, deixando um rastro avermelhado sobre as minhas costas.
Ignoro o leve desconforto, fechando com mais força meus dedos sobre a sua cintura, arremeto-me para dentro dela com mais intensidade e ela corresponde de igual medida, na mesma proporção.
— Ah... Marjorie... Fechos os olhos, inclinando a cabeça para trás sinto o ápice tomar conta de mim. — Eu vou gozar – alerto. Levando os lábios até o lóbulo da minha orelha, ela o morde. Lambe. Instiga. Provoca.
— Aaah, vai?!
— Vou! – Gemo dentro da sua boca, colocando a mão em seus cabelos, aprofundo o beijo puxando sua boca para um ângulo em que minha língua enrosque na sua.
Em um segundo, viro a de costas para o colchão, deito sobre ela com toda a virilidade e rapidez, faço a cama ranger e a ponto de sair do lugar.
— Ah, Thiago! – Ela grita. De satisfação. De entrega.
Gozo e a faço gozar de novo. Com todo o prazer, tiro o atraso de meses sem sexo. Isso é demais. É inebriante. Me sinto exausto, porém feliz. Muito feliz.
Ficamos um por cima do outro por mais alguns instantes, ambos recuperando o folego. Quando os batimentos dentro do peito voltaram ao ritmo natural, nos entreolhamos satisfeitos, completos e felizes.
— Eu amo você. - Com um beijo na sua testa, saio de dentro dela e descarto a camisinha no chão, na lateral da cama. Sei que não podemos ficar por muito tempo aqui, mas me afastar de Marjorie esta noite não está nos meus planos.
Então, puxo o lençol para nos cobrir e adormeço com Marjorie acolhida em meus braços num abraço aconchegante.
---
Nota da Autora:
Oi, meus amores!
Espero que tenham gostado do tão aguardado e esperado momento. Especialmente da forma como foi descrita e do cenário escolhido. Achei que não haveria lugar melhor do que este. Onde acompanhamos o amor Laured, nascer, crescer e se desenvolver.
Como escrever é um processo solitário, preciso contar que incialmente este momento não estava programado para acontecer agora, e sim no final da história. Mas roteiros mudam, ideias surgem em meio ao processo de escrita, e escrever para mim é sinônimo de liberdade.
É libertador. É gratificante quando os personagens parecem tomar conta de mim e da história como um todo. Por mais que planeje, todas as vezes que paro para escrever as linhas se descrevem diferente do planejado.
Então mudei, as rotas e meus planos iniciais para esta história. Contudo o que eu tinha planejado como “primeira vez Thirjorie” está mantido, com adaptações, é claro, já que não estamos mais falando de um primeiro encontro.
Ps1: A entrevista de Thiago e Zezé Barbosa ao programa Vídeo Show , pode ser vista no GloboPlay, através do link, aqui!
Ps2: Eu voltei a ler E. L. James e seus romances que me inspiram, então qualquer mera semelhança com a escrita dela, não é coincidência.
Ps3: Para aqueles que talvez esperam uma narração de Marjorie. Sim, nós teremos!
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18 de fevereiro de 2013
Por Thiago
23h58, Twitter

Ela curtiu e retuitou.
— Porque você não larga esse tablet e vem dormir, Thiago, é tarde, olha hora, amanhã você não acorda
— Já vou, Mariana
Checo meu celular pela milionésima vez, ela não respondeu minhas mensagens, muito menos retornou minhas ligações
Oi, Marjorie... Fala comigo
CHAMADA PERDIDA
CHAMADA PERDIDA
Atende minhas ligações, por favor!
Eu quero falar com você, ouvir sua voz
CHAMADA PERDIA
CHAMADA PERDIDA
Ok, você não quer falar comigo. Já saquei.
Eu também não falaria comigo depois do que aconteceu.
O que eu posso dizer, já que eu sei que um simples pedido de desculpas não vai adiantar
Vou começar a encher sua caixa de e-mails daqui a pouco se você não responder
É SÉRIO, EU NÃO ESTOU BRINCANDO!
Por favor, só me diz se está tudo bem... Estou aceitando qualquer coisa, um sinal de fumaça, quem sabe?
Obrigado 😊
Digito antes de cair no sono.
~*~
09h18, Estacionamento do Projac
Por Marjorie
Várias coisas podem ser loucura, por exemplo, um dia estressante de trabalho, o jeito como as pessoas passam umas pelas outras sem olhar ou os relacionamentos superficiais. Aliás, disso eu entendo bem, mas é melhor não entrarmos em detalhes. Não posso pensar nele agora.
Checo meu celular, ergo meu olhar em direção a minha bolsa no banco do carona e acabo vendo o que não queria. Sorte, azar ou coincidência, o carro dele estava estacionado ao lado do meu.
Um beijo caloroso de despedida e os dois saem do carro.
Péssimo dia!
Murcho por um segundo, tem tudo para ser um péssimo dia de trabalho. Ignorando as previsões, eu saio do carro a tempo de ele notar a minha presença. Se é que já não havia notado.
— Bom dia. – Ele me cumprimenta.
E o meu bom dia fica entalado na garganta. O máximo que consigo fazer é um aceno de cabeça frio e distante. Ajeito a bolsa nos ombros e caminho, ele faz o mesmo com seu tablet em mãos. Estou me controlando para não mencionar ela na conversa, mas não dá. O beijo no carro não para de me assombrar.
— Voltou a dar carona?
— Hã... a Mariana, ela tem um teste de elenco
— Hum. Será que eu devo desejar sorte? Ah não... eu esqueci, sorte, ela tem de sobra.
~*~
Por Thiago
Ela passa por mim, mas eu a sigo.
— Marjorie, espera! - Caminho mais rápido. Ela me ignora.
— Bom dia, Marjorie.
— Dia... Péssimo dia, Antônio. - Ela cumprimenta o vigia, passando o crachá no leitor magnético.
— Hey Marjorie – chamo-a — você deixou cair o crachá. – Pego-o do chão, junto deles está a chave do carro.
— É, não é um bom dia. - Antônio sorri com desânimo.
— E eu que achei que seria um bom dia. - Dou de ombros. Mulheres são estranhas. Quando você dá a elas a resposta que elas esperam, elas ficam bravas com você. Se a Marjorie não queria saber a resposta do porquê Mariana estar aqui, porque perguntou? Ah droga, o beijo!
— Eu posso guardar o crachá e a chave, aqui, comigo, se você preferir – oferece ele, gentil. Agradeço dispensando a ajuda.
~*~
Caracterização, 10h23
Por Marjorie
— Animada!? Eu estou empolgada, casamentos são sempre divertidos. - Juliana comenta, sentando-se ao meu lado com seu próprio almoço. — O que!? Uma mulher não pode sobreviver só de cafeína, certo?
— Errado. — Sorrio para ela. — Sou um exemplo notável.
— Bem... você está ficando magrela demais, se quiser um pouco - Olhando para a salada, eu percebo o quão faminta estou. — Fique com isso, por minha conta.
— Sim, senhora. - Enquanto guardo o tablet reparo em Thiago do outro lado da sala, conversando com a Camila. Como se antecipasse minha próxima pergunta, ela anuncia:
— Thiago a caracterização masculina fica para lá. – Me pergunto o que ele quer aqui e porque ele está sorrindo com uma expressão de surpresa no olhar.
Dou de ombros e continuo comendo. Desisto de tentar descobrir as motivações de Thiago. Droga, evita-lo será uma tarefa difícil. Muito difícil.
Por Thiago
As coisas estão corridas por aqui, varo o ambiente com os olhos a procura da Marjorie, a visto sentada com os bob’s nos cabelos, os olhos estão fechados, sendo maquiados – o que é bom - assim ganho um tempinho admirando-a, antes dela notar a minha presença. — Thiago a caracterização masculina fica para lá - Camila me tira do transe, puxando o meu braço, ela me arrasta porta fora.
— Eu sei... eu já tô indo, só vim entregar isso para Marjorie, ela deixou cair na-
— Entrega no final do dia – aconselha. — Ela não vai ter como ir embora mesmo. Pelo menos assim vocês têm como conversar.
— Perai você está me ajudando, Camila. – Arregalo os olhos, surpreso. — Sem solidariedade feminina.
— Só dessa vez, Thiago não acostuma, não. E cuida dela. Cuidado para não perder essas chaves.
— Ah... eu vou cuidar com a minha própria vida, obrigado, muito obrigado Camila. – Dou um beijo estalado na sua face, ela ri do meu jeito empolgado.
Obrigatoriamente, Marjorie e eu tínhamos um encontro marcado no fim do dia.
~*~
Por Marjorie
— Posso almoçar com vocês porque estou cheia de tentar aconselhar o Thiago. – Nós entreolhamos e sorrimos curiosa.
— O que o Thiago queria, Camila?
— Falar com a Marjorie, mas mandei ele embora. Não era isso o que você queria, Marjorie?
— É sim - Dou uma olhadinha para Thiago, que está em outro mundo, alheio a tudo a sua volta, até mesmo a nossa conversa.
— Eu vou ficar sabendo o que está acontecendo ou não? Sempre que pergunto como as coisas estão indo entre vocês ele se fecha. – Sol insiste. -— Vocês mal trocam uma palavra nos ensaios. Você nem olha para ele, mas ele passa o tempo todo te olhando. Quer me dizer o que está rolando?
— A Mariana está grávida - respondo, mastigando o resto da minha salada.
— Ah meu Deus. - Ela inclina a cabeça e me estuda por vários segundos. — Como você está, amiga?
— Bem... Eu já disse a Camila que o problema não é a gravidez e sim ele ter escondido o fato.
— Mas e se ele não sabia da verdade. - Tusso e rio ao mesmo tempo. Um filete de cenoura escorre pelo meu queixo e cato um maço de guardanapos para me limpar.
— É claro que ele sabia, Pri. - Ela lança um olhar para Camila antes de cochichar de volta.
— Que motivos ele teria para mentir para você, Mah?
— É a Priscila tem razão, Thiago não é o tipo de homem que mente.
— Vocês estão do lado de quem afinal?
— Do seu, amiga.
— Dos dois, na verdade - Camila e Priscila começam a rir como se fosse a coisa mais hilária que já tivéssemos dito. Suspiro e balanço a cabeça.
— Então... – Priscila começa a se acalmar. — Quer que eu passe o texto com você? Você e o Thiago costumam passar o texto.
— É. – suspiro. — Mas não precisa, amiga, sério eu já decorei. – Eu me levanto e vou até a porta. Preciso sair para tomar um ar.
— Você não entende não é a mesma coisa, Sol. – Juliana segue meu olhar enquanto um sorriso de ironia se aloja em seu rosto. — Você não tem um belo par de olhos verdes, é impossível ajudar
— Ta bom, realmente, eu não tenho, não. - Enquanto elas continuam discutindo minha vida amorosa, Isabel chega com seu vestido de noiva propositalmente mais justo na cintura e nos tira da inércia.
Andamos com o carrinho elétrico e completamos parte do trajeto a pé, durante toda a caminhada o assunto continuou sendo minha vida amorosa. Isabel ficou a par dos últimos acontecimentos e deu seus conselhos sobre como devo agir diante deste problema.
Não que eu não gostasse de ouvir os seus conselhos, mas toda aquela conversa já estava me deixando nauseada.
— Vocês quererem parar de falar no Thiago como se ele fosse o último homem na terra por quem eu me interessaria? - digo, na minha voz mais autoritária.
— Ah, há um milhão de outros por aí, iguais a ele, não é mesmo. – Rhaisa se intromete. Não gosto do seu tom de voz e, apesar disso ignoro. Prefiro animação da Sol e da Ju ao responde-la em uníssono:
— Não, não há! - E cair na gargalhada outra vez.
— Mudando o assunto em três, dois, um, que ele tá vindo aí – cochicha a Isabel.
— Luz na passarela que lá vem elas. – Rafael cantarola olhando para mim. Assim como todo mundo. Exceto Thiago. Oh, a ironia.
— Eu vou entrar. - Caminho mais rápido para evitar um encontro com ele.
— Alguém pode explicar o que deu na Marjorie? – Ouço George perguntando e uma a uma desconversar.
— Não sei, você sabe? – primeiro Rhaisa
— Eu não, você sabe? – depois Juliana e por último Isabel
— Também não sei de nada.
— Ah esquece o clube da Luluzinha se fechou em copas, meu amigo. – brinca o Emilio. — Nem que elas soubessem elas diriam o que aconteceu.
~*~
Por Thiago
14h16, Ensaio Geral
— Olha eu tô nervoso – diz o Emilio para as lentes do Vídeo Show.
— Vai desistir? – Entro na brincadeira.
— Eu tô nervoso, eu não sei o que dizer. Não sei tô nervoso. – Continua ele, em tom debochado. — Não sei nem se eu vou dizer sim.
— Ele não sabe o que dizer porque ele não decora o texto – provoco. — Por isso ele não sabe o que dizer. Se ele decorasse o texto, ele saberia.
— Decoro muito o meu texto. – O abraço pelo ombro e rimos um da cara do outro. — Eu tenho que dizer sim, só hoje.
Quando deixamos de ser o foco das filmagens do programa, Emilio me pergunta como um bom amigo preocupado. — Você e a Marjorie como vão?
— Não vamos.
— Não me diga que voltaram à estaca zero. O que foi agora?
— Mariana está grávida – digo simplesmente.
— Ué?! – estranha. — Não era apenas uma suposição?
— É. Era o que pensava, mas contra um exame
— Não há como negar. – Ele completa meu raciocínio. Ficamos em silêncio, até que Emilio questiona novamente. — E a Marjorie, ela certamente não aprovou isso.
— Eu tentei explicar, mas ela saiu sem me dar ouvidos. Fui atrás dela...
— Você foi ou não foi atrás dela? – Odeio como o Emilio é capaz de perceber quando estou mentindo.
— É não... – confesso envergonhado. — A Mariana estava lá. Eu achei melhor não insistir. Ela está gravida – repito para mim mesmo para me convencer de que é verdade. — Eu tô tão feliz. Vou ser pai de una menina, de uma menininha linda.
— Meus parabéns, meu amigo. – Aceno com a cabeça em agradecimento. — Então quer dizer que você e a Marjorie terminaram?
— Não. – Altero o tom de voz. — Fala baixo. Não diz isso nem de brincadeira. Eu tentei ligar, mandei mensagem, até tuitar, eu tuitei.
— Hã!? Tuitou o quê!?
— Vou sentir muita saudade de #Lado a lado. Quero ver tuitar quem compartilha desse sentimento. – Mostro o twitter para ele. — É não ri, não, eu estava desesperado...
— E funcionou?
— Bom, pelo menos ela retuitou.
— Cê vai tentar falar com ela hoje?
— Eu acho difícil conseguir falar com ela hoje no meio dessa multidão toda, mas eu vou tentar
— Tentar não, você vai consegui, essa é a palavra, e vai com calma. Se ela não quiser falar não insiste, afinal quem tá se sentindo perdida é ela não você.
— Ah, eu não estou perdido?
— Que eu saiba, não, você tem duas mulheres interessadas em você.
— Queria ter essa sua certeza.
Olho para Marjorie e a vejo me encarando. Não consigo descrever sua expressão. Raiva? Surpresa? Um pouco de ambos? Há um fogo em seu olhar que faz com que eu pense que ela não está totalmente infeliz em me ver, e hesito em decidir se isso é bom ou não. Se devo ir até ela ou não.
Que se dane. De um modo ou de outro, vamos conversar hoje. A adrenalina corre pelas minhas veias quando decido ir ao seu encontro.
— Oi - cumprimenta ela, enquanto me perco em sua aparência. Cada gota de saliva em minha boca seca.
— Oi - respondo com a voz vacilante. Ela parece estar com o problema oposto. — Desculpe. Oi. - Minha voz vacila de novo. Droga. Eu me sinto como um adolescente. — Você está…- Balanço a cabeça, em seguida, limpo a boca tentando não perder o foco da conversa. — Na verdade, Marjorie, você vai me ignorar até quando?
— Não estou te ignorando.
— Ah, sim, está sim.
— Não, ignorar você seria ignorar sua presença. Notei você. Só preferi não falar com você.
— Isso é melhor ou pior do que me ignorar completamente?
— Levemente melhor.
— Bem, graças a Deus. Então não vou me ofender.
— Bom para você.
— Eu estava sendo sarcástico, Marjorie, por que você é sempre tão rabugenta? Está de tpm?
— Quê?! Estou de... quê?! tpm?! Você é tão... - Ela se afasta, mas mantenho o passo junto dela.
— Por que está me seguindo?!
— Não estou te seguindo. Estou andando ao seu lado.
— O que você quer? Ela gira o calcanhar bruscamente. Fica de frente pra mim.
— Conversar sobre... Ah... deixa pra lá. - Me sinto como um cachorrinho barulhento ao lado dela. — Eu só queria saber se você quer passar o texto.
— Por que quer saber? - Ela olha para mim por mais alguns segundos antes de fechar a cara. Então, sem dizer outra palavra ela se vira e vai embora.
— Ah, tá, então terminamos aqui? — Falo com as costas dela. — Bem, valeu por se esforçar. Seu talento para conversa é realmente estimulante!
Nós separamos. Ela vai para um lado da capela e eu para outro.
— Eu sei, eu sei. - Eles levantam o olhar e cessam a conversa quando eu me aproximo. — Sinto muito - digo, soltando minha sacola no banco, sentando-me ao lado em seguida.
— Tudo bem, meu caro - Marco responde com um tapinha no ombro. — Ainda estamos cuidando dos detalhes da produção. Relaxe, tome uma água. Vamos começar daqui a pouco.
— Bacana. - Reviro a mochila atrás do meu tablet. Raissa senta-se ao meu lado e puxa um assunto qualquer. Ela está animada com o dia de hoje. Aliás, todos parecem contagiados pelo clima de final de novela. Para onde quer que eu olhe a sempre um celular com a câmera pronta para registrar uma pose ou outra.
Eu tento prestar atenção ao que ela diz, mas finjo um maior interesse, com sorrisos alegres quando flagro Marjorie algumas vezes nós observando. Raissa e eu conversamos um com o outro, e ela tem o mesmo olhar otimista que a Mariana usa sempre que tenta me converter ao veganismo.
— Ah droga... Thiago você pode me ajudar aqui, por favor – Ergo o olhar e então me apresso em ajuda-la. Seu vestido estava com o feixe emperrado. Dou meu paletó para ela se cobrir. — Não, está muito quente. - Ela recusa, posicionando minhas mãos em suas costas.
Droga, minha situação só piora.
— Não acho que provocar ciúmes na Marjorie seja uma boa opção pra mim no momento, Rhaisa
— Então por que você está se dando ao trabalho? - Ela se aproxima e olha mim. — Mesmo assim, obrigada, Marjorie tem razão quando diz que você é um homem muito gentil.
— Ela disse isso?
— Não - Ela se inclina e beija meu rosto. —, mas tenho certeza que ela está pensando nisso enquanto nos observa.
— Tá, vamos lá. — Vinícius bate palmas, chamando atenção para si. — Vamos começar falando da sequência de eventos. - Ele repassa a cena. Nós nos apresentamos aos ensaios, dizemos nossas falas, agimos como se nos amássemos.
— Tia Celinha me chamou para ser madrinha.
— Guerra também me convidou para ser padrinho.
— Não vão chorar, vocês foram convidados e desconvidados depois. Vocês são divorciados. Não podem ser padrinhos de nada, nem de casamento, nem de batizado, nem de aniversário, de nada.
— É... Eu sei, eu sei... já passei por isso antes.
— É mas, eu acho que esse problema tem solução.
Então, quando o ensaio termina e temos a oportunidade de falar: nada. Nós nos estranhamos demais para conversar. Isso está me enlouquecendo.
Não ajuda que quando ela se aproxima eu fique tão excitado que mal consiga respirar. Talvez por isso me agrade passar grande parte do tempo próximo a porta. Passei os últimos dias num estado de tesão totalmente debilitante, e hoje temos de passar a cena em Laura pede Edgar em casamento.
Não sei o porquê, mas estou nervoso, agitado e ansioso por esta cena.
~*~
16h50, Gravação
Por Marjorie
Vou para a gravação, faço meu trabalho e tento ficar o mais longe possível de Thiago no tempo em que estamos fora de cena. Ele continua tentando me pegar para uma conversa, mas antes que Thiago tivesse tempo para uma nova tentativa, Vinicius chama atenção para o nosso posicionamento em cena, dando ênfase ao estado de euforia dos personagens.
— Lembre-se Laura e Edgar estão feliz, animados pelo casamento, então o que quer que esteja acontecendo entre vocês dois esqueçam e, por favor, concentrassem-se - Ele nos chama para as posições e eu viro a cabeça, estendendo a mão com um a sombra de incerteza no rosto, mas pronta.
Vinicius grita “gravando” e, quando ele aperta a minha mão e começamos a caminhar pelo cenário percebo o quanto este “pedido de casamento” será difícil.
— Esses casamentos, esses noivos tão confiantes.
— Tão certos do que querem, do que sentem – eu o rebato sorrindo e ele questiona determinado.
— Não é estranho?
— Não pode ser normal?
— Por que com a gente não foi assim?
— Não, com a gente foi tudo ao contrário. – Paro e o encaro por alguns segundos. Ele ri, o seu “riso protocolar” Está nervoso.
— Foi do jeito que tinha que ser: dúvidas, mal-entendidos, angustias. A gente foi praticamente obrigada a se casar, mas bastou morar na mesma casa pra... pra acontecer.
— O que?
— Isso, nós dois – Seus olhos desviam dos meus ao apontar para si e em seguida para mim. Abaixo a cabeça, suspiro e volto a olha-lo. Preciso manter meu sorriso confiante e alegre enquanto ele prossegue:
— Quase que a gente não se casa.
— Quase.
— A gente ia conseguir não ser casado, Edgar?
— Eu não sei, mas você quis assim por seis anos.
— Casa comigo? - Sorrimos juntos e o mundo para. Eu flutuo, as palavras fluem e outra vez preciso lembrar que Laura quem está ali, não eu. — É isso mesmo tô te pedindo em casamento. Casa comigo?
— Mas a gente já é casado. – Ele sorri ao falar. Não o protocolar, mas o meu sorriso. Deus, que sorriso.
— Não – Tento falar, mas a voz falha. —, não nós...reatamos, mas continuamos divorciados. - Engasgo.
Sinto meus olhos lagrimejam quando Thiago se aproxima e toca de leve minha mão. Ele não deveria fazer isso, mas faz. Sem dizer nada, aperta mais seus dedos contra os meus. Seus olhos questionam-me se estou bem e eu assinto. Ele sabe tanto quando eu que não podemos parar, não queremos errar agora.
— A gente não pode se casar de novo.
— Tá recusando o meu pedido, Sr. Advogado? – Arqueio as sobrancelhas com graça.
— Nã-não, é isso... – protesta sorridente - eu tô dizendo que pela lei a gente não pode se casar mais.
— Sim, eu sei, porque eu sou uma moça bem informada, a gente não pode se casar, mas a gente...
— A gente pode revogar o divórcio – completa ele, boquiaberto.
— Você ainda não me respondeu.
— Repete o pedido. – Edgar... Edgar Vieira, repito mentalmente.
— Edgar Vieira aceita se casar comigo? – Enquanto o coração grita outro nome, o seu. Thiago... Thiago Fragoso
— Deixa eu pensar? - Graceja, mordendo o lábio. Posso ouvir meu coração bater em expectativa. — Sim!
Suspiro.
— Meu marido. – Seus lábios finalmente encontram os meus.
E eu não contenho mais as lágrimas.
Como esperei por este beijo.
~*~
20h, Camarim
Por Thiago
Eu estou ouvido atrás da porta. Eu sei... eu sei é um hábito horrível, mas não é minha culpa se eles deixam brechas para isso. Além do mais, eu não tenho escolha, não depois da Marjorie ter deixado o estúdio com lagrimas nos olhos sem deixar que eu me explicasse.
— Mas eu tirei a foto... Tudo bem não foi ao lado do Thiago, como vocês planejaram, mas eu tirei a foto.
— Do lado do Claudio, Marjorie – debocha George. — Cê podia ter se parado do meu lado, ao menos eu seria um galã a sua altura.
— Sai daqui, George, sai. – Marjorie balança a cabeça veementemente, arremessa um objeto em direção a sua cabeça, obrigando-o a sair.
— Thi-a – ele murmura surpreso. Tapo sua boca, impedindo-o de me acusar. Olho pra ele e peço silêncio com o dedo indicador em riste. George assente, continuamos a ouvir a conversa.
— O que custava tirar uma foto ao lado do Thiago, Marjorie?
— Tudo, Juliana, se você quer saber... custa a minha vida, a minha integridade física e moral. Eu não posso me dar um luxo desse mesmo que eu queira. Além do mais, porque eu alimentaria falsas expectativas?
— Mas você passou o dia se esquivando dele, sequer deixou ele se explicar... E não, não finja que não. Vocês precisam conversar, anda, Marjorie, admita! – Não consigo evitar um sorriso ao ouvir tais palavras.
— Juliana, espera aí, me ajuda com a porcaria desse vestido. Juliana, Ai droga!
— Marjorie, você precisa de ajuda aí
— Não, obrigada - agradece sem me encarar.
— Olha, eu posso ajudar adquiri certa experiência nisso hoje. – Me aproximo, mantendo uma distância segura. Não quero ser o responsável por mais um objeto jogado aos ares.
— Ah sim, eu sei, sei bem da sua experiência, eu vi. Rhaisa me contou os detalhes.
— De-talhes... Que detalhes não tem detalhes para contar, Marjorie. Eu só estava ajudando uma colega de trabalho.
— Deixe isso para lá — diz ela, enquanto tenta abrir o zíper do vestido. — Esqueça. - O corpete do vestido parece comprimir seu corpo, apertando-a até quase asfixiar. — Tire essa coisa maldita de mim. - Ela vira pra mim para que eu possa abrir o zíper, e assim que o faço, ela volta para o provador.
Silêncio. Permaneço parado até que ela abra as cortinas e saia, vestindo a mesma camisa de hoje cedo, porém a saia marcando os quadris é novidade.
— Será que nós podemos conversar agora? – peço educadamente.
— Amanhã, Thiago, eu preciso ir – Eu a vejo vasculhar a bolsa. Sei o que ela procura e hesito em dizer que as chaves do seu carro estão comigo.
— Eu sei...
— Hum
— Marjorie - Aproximo-me e tomo seu rosto. — Talvez você não tenha que ir embora agora.
— Preciso sim, de verdade. - Quase posso ouvir cada batida do seu coração acelerado. — Ou talvez você possa simplesmente ficar aí bem quieta por mais alguns minutos e me deixar fazer isso.
Paro de respirar quando, com delicadeza, cobro meus lábios com os dela.
~*~
20h32, Estacionamento Projac
Por Marjorie
— Eu acho que você está procurando por isso, não? – ele balança as chaves no ar e depois as joga em minha direção. Eu as pego, erguendo as sobrancelhas.
— Como você...
— Você deixou cair no...
— Não importa. – Ignoro-o, abrindo a porta do carro. Preciso fazer algo. Qualquer coisa apenas para não ficar parada o observando. Jogo minha bolsa no banco de trás.
— Escuta, Marjorie, nós podemos conversar? Ele põe a mão sobre a porta, me impedindo de fecha-la. Está nervoso. Suando um pouco.
— Amanhã, hoje não vai dar, eu já te disse isso, eu tô exausta. - Entre mim e ele há a porta. O que é bom, nos impede de nós aproximarmos.
— Eu sei... Nós podemos conversar amanhã então, você promete? - Ele se aproxima em minha direção sem realmente olhar para mim.
— Humm.
— Marjorie... - Inspiro. Estremeço. Expiro. Resisto ao impulso de observá-lo. — Você está bem? — pergunta ele ao se aproximar, cortando a distância mínima que ainda existia entre nós.
— Ótima. – Inspiro de novo.
— Você parece... quente. - Eu me viro para ele. Ele pisca e olha para o outro lado. — Estou falando da temperatura, está quente hoje, não... — ele balança a cabeça. — Não importa. - Ele aperta a mão contra a nuca com mais força, deslizando os dedos no cabelo. Ele não sabe como agir e eu muito menos.
Fecho os olhos para evitar olhar para suas mãos. Ou queixo. Ou lábios. Droga, eu sou um desastre completo, porque quero beijar sua boca e estou prestes a ceder a isso quando deveria estar dentro do carro sem se quer olhar para trás.
— Então... eu acho que isso é um adeus. - Ele respira com força, e suas mãos me apertam, uma a minha bochecha, a outra a minha nuca. — Até amanhã - diz soltando um leve som da garganta, e o calor me invade. Meu corpo está contra o dele, minhas mãos estão em seu cabelo. E cada motivo pelo qual eu deveria ficar longe dele perde o sentido quando nossas bocas se encontram.
O beijo é rude e desesperado e cheio de uma paixão que não quero sentir. Mas é aí... aí onde moram todas as melhores lembranças dele.
Era isso o que deveríamos ter sido. Sempre. Bocas e mãos umas nas outras, respirar o ar um do outro. Aproveitando nossa conexão de almas, não fugindo dela.
Suas mãos roçam sobre um corpo trêmulo que não se incendeia desse jeito há tempo demais.
Liberto minha boca e consigo suspirar um “Thiago” antes que ele murmure um “Deus... Marjorie” e me beije novamente Meu corpo ainda não está satisfeito, mesmo que meu cérebro saiba que isso é errado. Cada parte de mim anseia por ele.
Mãos me puxam mais para perto. Braços me envolvem em um segundo, meus pés vacilam contra a porta do carro e no outro estamos juntos no banco do carona.
— Você quer mesmo fazer isso? - Solto os lábios dos dele e me afasto. Sua boca está aberta e é macia, e eu o beijo novamente, com um pouco mais de força como resposta à sua pergunta. Ele expira contra minha pele, e não sei que diabos estou fazendo, mas sugo suavemente seus lábios. O calor me percorre. Cada centímetro de mim queima, e apesar disso não posso deixar que ele continue.
— Ai, Thiago... - Perco o ar quando ele avança para meu pescoço, sua boca aberta e sugando. Me enlouquecendo. — Eu pedi para você ser sincero comigo, Thiago, mas... você não foi. Porque você não me disse a verdade sobre a Mariana?
— Eu não sabia.
— Não sabia o que? Que ela estava grávida?
— Que ela estava falando a verdade. - Ele suspira. E quando fala outra vez, sua voz é mais suave, porém ainda firme. — Para mim era mentira, invenção, maluquice da cabeça dela.
—Como... Se ela veio até aqui te contar?
— E você deu ouvidos a ela.
— Claro... Como se eu tivesse outra escolha. Ela fez questão de vir aqui pessoalmente me contar e esfregar o exame na minha cara, e você queria que eu não ouvisse? O problema não é você ter outro filho... a ideia não me agrada, eu não vou mentir. Mas eu posso conviver com isso. O que eu não posso aceita e não consigo suporta é essa sensação.
— Sensação, que sensação, Marjorie? - Ele pega minha mão e alisa a pele. Um gesto tão doce e simples, mas que eu sinto em todo o corpo.
— A de que você ainda ama ela, que ainda nutri um sentimento, como se na verdade tudo que a gente viveu não passe um caso para você.
— Não fala isso. Eu fui sincero com você antes. E estou sendo agora - ele afirma, absolutamente sério. — Eu prometi que vou dar um jeito. Que vou conseguir conciliar a minha vida com a Mariana.
—Vida. Sua vida com a... Você não está conseguindo Thiago. Não está. Dá pra ver isso. Ah... porque eu me deixei levar. Eu sabia, no fundo eu sabia, que iria acabar assim.
— Assim como?
— Você não vê - devolvo, incapaz de suportar que ele pense que o nosso final feliz vai vir tão fácil assim. — Não percebeu que se rever a Mariana como parte da sua vida? - Seus olhos se turvam, e a conhecida atração que sinto por ele deixa o ar entre nós pesado.
— A Mariana faz parte da minha vida, sim, Marjorie, mas não é como você imagina.
— Não!? Então me esclarece como é, eu estou tentando ver a lógica desse seu raciocínio, mas não estou conseguindo.
— Ela é a mãe dos meus filhos, é por isso que ela faz parte da minha vida e só... Só por isso que ela continuará na minha vida. Porque infelizmente eu não posso mudar essa parte da história. Assim como, eu não posso obrigar que você aceite o pedido que eu tenho para te fazer.
— Pedido. - O medo ainda está nos seus olhos, à espreita, mas ele o atravessa. Suas mãos vêm para meu rosto. Ele me toca gentilmente, mas minha reação é intensa. Ele pisca quando toca minha bochecha. Há calor sob minha pele, que aumenta com cada toque suave de seus dedos. Seu medo aumenta um pouco, vacilando atrás de sua decisão. Sua atenção está fixa na minha boca e ele pigarreia antes de murmurar.
— Fica comigo- ele sussurra enquanto se inclina, tão próximo que posso sentir sua respiração ofegar. — Me dá uma chance, só uma chance de provar que o amor que eu sinto por você é intenso. Verdadeiro. Real. - Ele olha para meus lábios e é preciso cada grama do meu minguante senso de autopreservação para desviar o olhar.
— Você quer uma chance?
— Quero... – ele diz baixinho. — Quero muito. – Com os lábios próximos ao meu ouvido, Thiago escorrega os dedos até a minha bunda e me levanta, encaixando o seu quadril entre minhas pernas. Minha saia sobe enquanto ele pressiona o corpo e o volume saliente na sua calça contra mim deixando claro as suas intenções, o quanto ele quer essa chance.
— Eu te dou essa chance. – Vacilo por um segundo apenas. Seus dedos voltam na minha bochecha quando ele se inclina, tão lentamente que mal reparo que ele está se movendo.
Nós nos beijamos, nos amassamos e nos emaranhamos, desesperados por mais. Há muito tecido e pouco ar. Seu corpo enrijecido pressiona meu corpo macio.
— Mah - ele geme, deslizando uma mão no meu cabelo enquanto usa a outra para achar meu seio. — Isso é... Meu Deus, Tô muito fodido.
— Somos dois. — Agarro a cabeça dele e o faço me beijar mais, porque estou viciada no gosto desses lábios e língua.
Mas minhas mãos precisam de mais, então elas vão para baixo da camisa dele e encontram seu abdômen, quente, tremendo sob meu toque.
Ele geme na minha boca e me beija com mais intensidade. Então suas mãos estão sob minha saia e sobre meu sutiã, me acariciando e me apalpando. E me deixando tão ávida que chega a doer.
— Não podemos. — Ele arfa deixando meus lábios e me beija atrás da orelha, sua respiração é quente e fraca em minha pele. — Isso é uma loucura tremenda. Fala pra eu parar.
— Não posso. Ele suga fundo onde meu ombro e pescoço se encontram. Sei que vai ficar marcado, mas a dor não vai importar tanto quando ele me possuir dessa forma. Quero ele dentro de mim, silenciando minha ânsia. Saciando minha fome.
— Marjorie. - Ele move o quadril mais rápido enquanto agarra minha bunda. — Meu bem, se você não me disser para parar agora, juro por Deus que vou te foder nesse carro. Você é tão gostosa. Eu sabia. Sabia que seria. E olha... Isso não é nem de longe o que eu sonhei para nós dois.
Eu me contorço contra ele. Não poderia dizer para ele parar agora nem que eu tivesse uma arma apontada para minha cabeça. Ele se esfrega em mim, e só posso me segurar e rezar para que ele continue se movendo. Estou transbordando, me contraindo, me revirando com um prazer inacreditável. É diferente de qualquer coisa que eu tenha sentido antes, e não quero que termine nunca.
— Mah, não posso... não devo. Eu preciso... Eu tenho que voltar. - Ele está ofegando no mesmo ritmo dos movimentos do quadril. Ele tem que continuar. Tem que. Enfio minha cabeça em seu pescoço e chupo a pele doce, deixando a mesma marca que ele deixou em mim. A essência do seu perfume atiça minha língua enquanto nós dois grunhimos e xingamos. Seguro a respiração.
— Thiago...
— Deus, Marjorie...
— Sr. Fragoso? Srta. Estiano? - Ficamos paralisados ao ouvir a voz de Márcia. Ele para de se mover. Para de respirar. A tensão dentro de mim se libera e se esvai. Não, não, não, não, não! Escuto batidas no vidro, então sua voz. — Aí estão vocês. Eu me perguntava se havia perdido meus protagonistas, mas parece que vocês já estão trabalhando os seus personagens. Que dedicação.
Eu me solto do pescoço de Thiago e ele olha para mim, com o pânico tomando conta dos olhos. Estamos ambos pulsando, ofegantes. Nossos lábios estão inchados e vermelhos.
Marcia pigarreia e eu solto as pernas da cintura de Thiago, caindo sobre o banco do motorista para que ele possa se recompor e sair do carro. Ajeito minhas roupas e saio também.
Vejo Thiago passar a mão no cabelo antes de enfiá-las nos bolsos e suspirar. Olho para Marcia. Ela está nos avaliando calmamente.
— Então, parece que vocês dois tiveram uma interessante... discussão. Posso supor que tenha trabalhado suas questões, sr. Fragoso? - Thiago pigarreia.
— Bem, eu já estava chegando ao... cerne da questão quando você nos encontrou. -Marcia faz uma careta.
— Foi o que pensei. Uma risada nervosa escapa de mim e cubro minha boca porque acho que estou prestes a surtar feio. Meu corpo está pulsando e latejando, meu coração vai sair pela boca. — Então posso supor que você não vai abandonar a gravação? — Marcia pergunta.
— Parece que não. - Marcia assente e sorri.
— Excelente. Nesse caso temos muito trabalho a fazer. Vejo você no estúdio em cinco minutos. - Ela se vira e deixa o estacionamento. Somos apenas Thiago e eu novamente.
— Você quer que eu te espere... - Avalio o perigo por cerca de três segundos antes de colocar meus braços ao redor do pescoço dele e abraçá-lo. — Eu posso... - Ele passa os braços ao meu redor enquanto encaixa a cabeça no meu pescoço e solta um suspiro estremecido.
— Não... Eu adoraria, mas não. É melhor não. Não sei se vou me conter ou me concentrar em cena, sabendo que você está por aí, em dos corredores, me esperando.
— Thiago.
— O que foi? - Enterro meu rosto em seu pescoço e apenas respiro, e de repente cada célula do meu corpo estremece.
— Eu... queria saber
— Marjorie... sério, eu estou atrasadíssimo e você ainda bagunçou o meu cabelo para ajudar - Ele solta um gemido e me abraça mais forte. —, fala logo.
— Qual o seu sonho?
— Meu sonho?
— Humm... o seu sonho. - Passo meus dedos no seu cabelo e massageio seu couro cabeludo.
— Ah... você quer saber... – ele sussurra em meu ouvido. — Ter você toda nua dizendo que é só minha, esse é o meu sonho.
— Algum lugar em específico?
— Hã... você ainda quer detalhes? - Ele me aperta mais forte e eu me impressiono com o nosso encaixe perfeito. Ele sabe como me abraçar e eu realmente sei como atiça-lo.
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11 de fevereiro de 2013
Por Thiago
Quando ela me alcança, não diz nada. Apenas pega minha mão e me encurrala contra a parede. Estamos em um dos corredores que dá acesso aos estúdios. Várias pessoas param e nos encaram enquanto eu a envolvo em meus braços, puxando-a para perto. Sua boca está colada a minha, não sinto nada além do seu gosto doce. Acho que sou viciado nesse sabor.
— Ensaiando fora do estúdio, hein amigão, se alguém te pega
— O que quê foi, não posso, vai ficar vigiando meu trabalho agora, Carlos Guerra.
— Trabalho. Ó trabalho – Emilio passa por mim com sorrisinho cumplice, bate rolo de papeis que tem em mãos no meu ombro – provavelmente é o script da sua próxima cena - e sai. Não ligo, porque estou olhando para ela.
— Eu não falei.
— Falou o quê? – pergunto despreocupado. Marjorie passa os dedos pelo cabelo e dá um longo suspiro.
— Que era arriscado.
— Ah Marjorie, para, pra quem queria transar comigo no elevador.
— Humm - seu rosto cora. —, você não tem fetiche algum, Thiago.
— Com você, meu amor, eu tenho vários.
— Me conta um. – Levo um instante para processar o pedido.
— Eu não. – Rio baixo, só de imaginar. — Conta sem realizar é o mesmo que sonhar e acordar, bem... você sabe: não tem graça.
— Eu podia ao menos ficar sabendo, conta? - . – Sinto uma onda de calor percorrer o meu corpo. Como ela consegue transformar uma simples conversa em algo libidinoso.
— Agora? – Engasgo. — Não, talvez depois eu conte. – Contorno a lateral do seu rosto, pousando o polegar no queixo, eu a beijo. — Tenho que ir, ouviu?
— Você está me devendo, Thiago.
— Eu pago, hoje à noite, depois do cinema.
— Cinema!? Qual o filme?
— Qualquer um, não importa, vou olhar só para você mesmo.
~*~
Estudo a cena mais uma vez, como se eu não soubesse as minhas falas de cor. Sinto o telefone vibrar no bolso e o atendo assim que visualizo quem é.
— Mariana
— Você queria falar comigo? – Ela parece bem. Bem demais.
— Queria... eu quero... quero saber qual é o seu o plano
— Meu plano, eu não tenho plano. – Sua voz continua calma, e eu perco a paciência. Preciso de um minuto, antes de perguntar.
— O que você quer ligado para Marjorie, eu sei que você tem ligado para ela
— Você sabe o que eu quero
— Ahã... Eu.
— Só tem um jeito para que eu pare de importuna a família da Marjorie, você sabe qual é, nós já conversamos sobre isso, Thiago. Eu sou louca o suficiente para cumprir o que prometi a você.
— Mariana, por favor – Suspiro. No fundo, tudo não passa de um sentimento de posse.
— Implorar não vai adiantar. Você já contou a ela?
— Não. Não contei e não vou contar porque eu não vou ceder a suas chantagens. - Mariana não é má pessoa, eu sei disso. Ela apenas não sabe lidar com perdas e finais inesperados. Uma controladora nata, obcecada por aqueles que ama. Obcecada por mim.
— Bom, você quem sabe. Não esquece que foi você quem escolheu assim. - Desliga sem dar tempo para que eu a responda.
Suas últimas palavras ainda estão na minha cabeça enquanto percorro os corredores até o estúdio. Bom, é complicado explicar o que nos leva a relevar certas atitudes e comportamentos. Talvez eu relevasse suas crises de ciúme obsessivo porque a amava, porque acreditava que pudesse fazê-la confiar no nosso amor.
Eu jurei isso a ela. Jurei em nosso casamento, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte nos separe. As coisas mudam, não sei se para melhor, mas mudam.
Casamentos acabam e a vida continua. Quero acreditar nisso, pelo nosso próprio bem, eu quero acreditar que sim. Quero acreditar na minha felicidade, e sei que posso, sei que consigo quando olho para ela. Quando vejo Marjorie erguer os olhos e sorri pra mim.
— Até que enfim hein, Marcinha, você foi buscar essas malas aonde?
— Na caracterização – responde sem dar muita atenção ao Vinicius. Seus olhos estão fixos em mim. — Oi Thiago, como vai? – Aceno de leve com cabeça e sorrio involuntário com a expressão dela.
— Não me olha, eu não disse nada.
— Mas pensou. – Marjorie para ao meu lado, cruza os braços e olha ao redor impaciente. Ciúme. Resolvo provoca-la
— Eu vou bem e você? – digo de maneira gentil, esperando que ela me dê uma resposta boa o suficiente para continuar a brincadeira.
— Melhor agora, obrigada. – Ela sorri sem graça. Não acredito que causo esse efeito na mulherada. Isso seria ótimo se eu fosse do tipo mulherengo. Nunca fui, e minha tentativa de ser, no momento não é das melhores.
— Obrigada... pelo quê? – insisto e percebo que mulheres tem códigos entre si, ou é isso ou eu não sei o que é que fez a Marcinha sumir da minha frente tão de pressa.
— Eu vou bem e você? – Marjorie me encara. Sua expressão me lembra um bando de nuvens anunciando trovoadas.
— O que!? Eu só estava sendo educado, Marjorie.
— Com a Marcinha. – Ela ergue uma sobrancelha. — Você sabe que ela interpreta a sua educação de outra forma
— Hummm e daí?
— Sua tentativa de me fazer ciúmes não funcionou. Ela me lança um olhar inocente e retribuo com o meu melhor olhar penetrante.
— Ah não!? E porque você está me dizendo isso?
— Para deixar claro
— Ah entendi... – Dou de ombros, querendo rir da sua cena de ciúmes, mas me contenho. — Tá claríssimo agora, Mah, não se preocupe.
— Dá para você pegar essas malas logo e se posiciona, eu quero gravar isso de uma vez
— Tá com pressa por quê? Somos só eu e você... – Ela desvia o olhar e tosse. — Ah... o cinema.
Obrigo-me a pegar as malas e me posicionar em cena, Vinicius pede silêncio, depois diz:
— Comece quando estiver pronto.
Ando alguns passos e largo as malas no local demarcado anteriormente no ensaio. Giro os calcanhares e fico de frente para ela.
— Você não quer colocar as malas lá no quarto?
— Depois. – digo, enquanto pego as malas da sua mão, e repetindo o meu gesto, coloco-as no chão.
— Depois!? Mas eu achei que você queria subir logo. – Envolvo sua cintura, inclinando-me beijo o seu pescoço. Não me demoro muito, puxo-a pela mão, caminhando em direção ao sofá.
— Primeiro eu quero fazer uma coisa aqui embaixo.
— Aqui?
— É, aqui no sofá. – Segurando-lhe a mão, eu a levo até lá, e ela se senta, dando-me um olhar travesso.
— No sofá?
— Humm... – Marjorie e eu ficamos ali, eu ajoelhado a sua frente aos beijos. — Pronto, agora ele já sabe que você voltou. – murmuro ofegante. — Vem cá!
— Pra onde você tá me levando? - – Tomo-lhe a mão novamente e a levo para a “próxima parada” de beijos dos nossos personagens.
— Aqui ó, nessa cadeira, aqui, senta aqui. – Peço, ela então senta-se e entre sorrisos, protesta.
— Eu já fui apresentada a cadeira, Edgar.
— Ah é.… - Beijo a curva do seu pescoço. — Mas ela ainda não sabe que você voltou.
— Ah, tá sabendo agora.
— Ah é? Beijo primeiro o canto da sua boca, depois aprofundo o beijo de forma exigente e ela cede. Virando seu rosto para o meu, eu a beijo, forte, minha língua a explorar e reclamar a dela. Seu corpo se eleva em resposta quando ela me beija de volta com igual intensidade. Eu tenho que diz algo. Quase esqueço do que é, quando ela sussurra: — Não vai esquecer mais. – e eu repito.
Sem desgrudar dos meus lábios ela diz: — Tem mais alguma mesa, sofá que você queira comunicar a minha volta?
— O escritório, vem. – Corremos até lá. Paro em frente a mesa, e puxo-a para os meus braços. Beijo a novamente. Com gosto e prazer sinto sua língua acariciar a minha.
— Pronto – Respiro contra seus lábios e a beijo. —, agora a mesa já sabe que você voltou. O tinteiro já sabe, os papeis já sabem. – Beijo-a. — Nossa, tantas vezes, tantas vezes eu fiquei aqui trabalhando sozinho pensando em você.
— Quantas vezes eu fiquei pensando em você aqui trabalhando. Ai, Edgar – Ela me abraça forte, enterrando seu rosto em meu cabelo, inalo o seu perfume. E não me importa que estejamos num espaço lotado. Somos só eu e ela., — como eu senti a sua falta, não sei como eu aguentei.
— Também não sei como eu aguentei. – Encaro-a.
— Não, na verdade, a gente não aguentou. Nenhum dos dois. - Ela está sorrindo e seus olhos estão iluminados. É um prazer vê-la assim.
— Não, mas a gente tentou muito.
— Bobões
— Teimosos
— A gente... - Inclinando-me para frente para que nossas testas estejam se tocando. — É tudo tão simples agora
— Tudo é simples e vai continuar sendo simples, hum? - Seguro sua cabeça entre as mãos e a beijo, minha língua provocando os lábios separados, em seguida, mergulhando em sua boca, dominando-a. Ela passa os dedos pelo meu cabelo, retornando o meu beijo, torcendo a língua em torno da minha.
— Será que a gente já pode voltar pro quarto? Comunicar que eu voltei!
— Deve... Deve.
~*~
Estou sentado em um dos degraus da escada, batendo a sola dos sapatos em outro, enquanto Marjorie está de pé na minha frente, roendo as unhas.
— É impressão minha ou ele tá mais irritado que o Dennis hoje? – questiono estranhando a demora do Vinicius em rodar a última sequência da “parada de beijos”. Falta apenas essa cena para sermos liberados. Encaro o relógio fixado na parede do estúdio, são 18h15. Bom... se tudo der certo ainda consigo pegar a primeira sessão no Cinema.
— Quem manda você ser tão lento.
— Lento, você tá me chamando de lento – digo, olhando para as suas mãos plantadas no meu ombro. — Quem foi que errou o texto agorinha, hein? – provoco, mas isso não a intimida, pelo contrário a faz sorrir com os olhos.
— Você, que é lento. Eu não erro texto, ganho tempo.
— Ganha tempo é!?
— Você deveria fazer o mesmo. - Ela sugere, correndo as mãos pelas minhas costas, o que faz meu coração disparar e meu cérebro entrar em colapso.
— Hã... espertinha.
— Lentinho. – Fecho os meus olhos por um instante. Não deveria, mas aproveito a sensação que seu toque me causa. Seus dedos me apertam com delicadeza, é tão suave e intenso ao mesmo tempo que eu poderia ficar horas nisso. Marjorie cessa os movimentos de repente, então abro os olhos e entendo o motivo. Temos visita.
— Olhaí, Claudia, Marjorie me chamando de lentinho. – Nos entreolhamos por um momento, e então ela pergunta:
— E você, não é?
— Claro que não.
— Humm... – Claudia contém um sorriso. — Então quem sabe isso não mude em breve. – Fico pensando o que a nossa autora quis dizer com isso. Será que posso esperar por alguma cena em especial.
— Você e essa sua amizade. – Marjorie olha para mim, as sobrancelhas franzidas.
— O quê!? – Encaro-a nos olhos. — Você está com ciúme da Claudia.
— Eu com ciúme!?
— Ata... tá sim. – Tento ser discreto ao trazê-la para perto de mim, suas mãos estão espalmadas sobre o meu peito
— Quê morrer!? – sussurra ela.
— Já disse que se for de amor, eu topo. – retruco de volta, contendo minha vontade de beijá-la de novo.
— Vamos de novo. – Vinicius resolve recomeçar. — Vocês já ensaiaram essa cena mais de duas vezes. Mais paixão, menos dominância no beijo. — Ele está me deixando guiar a cena, e é exatamente assim que eu gosto de trabalhar.
— Pronta? – Ela faz que sim com a cabeça. Aperto minha mão contra a sua e saio correndo pelo cenário, rumo a escada.
— Peraí a escada, será que ela não merece saber que você voltou? - Paro em um dos degraus, com um milhão de perguntas na cabeça, a deixo prosseguir com a sua fala, sem me afastar dos seus lábios
— Merece?
— Ah, merece ela sobe e desce aqui, ela deve ficar tão chatea-
— Tá tá bom, merece - - Sou surpreendido com o beijo e retribuo ao mesmo com mais vontade do que cinco minutos antes
— E o quarto, hein? – Pauso, recuperando o folego. — O quarto merece saber que você voltou, não merece? Hein, ele vai ficar tão feliz
Ela está na minha frente, correndo em direção ao quarto. Sorrio ao alcançar o cômodo. Fecho a porta atrás de mim e sem tirar os olhos dela, giro a chave até fechadura fazer um clac
— Pronto – coloco a chave no bolso e caminho em sua direção. —, agora você não vai sair daqui nunca mais
— Tô presa, é?
— Presa pra sempre
— Olha, que eu fujo. – Ela se esquiva dos meus braços, sobe no baú a sua direita, quase se desequilibrando sobre mim, eu a abraço pela cintura.
— Não, não foge, não. Eu vou fica aqui preso com você também - Controlo minha vontade de rir. Pela primeira vez a vejo na altura dos meus olhos. O baú a deixou mais alta do que eu.
— Pra sempre?
— Pra sempre
— Promete? – concordo com um aceno de cabeça. — Então, nesse caso, eu não fujo. – Marjorie joga-se no colchão. Seus olhos cobiçam os meus e há malicia neles quando diz: — Que quê foi?
— Tô te olhando. – Permaneço de pé, enquanto desabotoo o colete. Nunca foi tão difícil desempenhar tal tarefa. — Há quanto tempo eu queria ficar olhando você assim, sem pressa, - Tiro os suspensórios, puxando a camisa para fora da calça. — sem dúvida de que amanhã...
— Ai, meu Deus – resmunga, livrando se dos sapatos. —, você vai ficar falando?
— Ah, que eu sou meio bobo – Encolho os ombros, afrouxando o nó da gravata. Respiro fundo antes de sustentar o seu olhar. Sua expressão está menos sorridente agora, a medida com que me aproximo da cama, eu a estou vendo... realmente pela primeira vez. Sinto a energia do seu beijo. É como uma onda de calor ao redor dela.
— Escuta, essa ideia de prisão é meio exagerada. - Ficamos lá por alguns segundos, apenas respirando, e, conforme trocamos olhares, o ar entre nós se solidifica. Conectando-nos como duas partes da mesma pessoa. Ela leva sua mão até o meu rosto e eu sigo, desabotoando a camisa enquanto temos milhares de câmeras nos alinhando.
— Humm
— Mas e se a gente só saísse daqui só depois do carnaval?
— É, olha que promessa é dívida. - Acompanho seus movimentos com precisão, me movendo ao mesmo tempo que ela se move, respirando ao mesmo tempo que ela respira. Mudamos de posição novamente, os corpos estão perfeitamente alinhados. Parece tão natural.
É natural.
Há muito tempo não sentia nada parecido. Talvez nunca tenha sentido. Nós nos aproximamos. Ela se inclina para a frente e eu me inclino para trás. Os movimentos ficam mais rápidos, mas cada um é perfeito e preciso. É emocionante. Estamos em êxtase. Aquele estado mágico em que os atores às vezes chegam, quando tudo está fluindo com entrega. Coração, mente, corpo.
Abrimos sorrisos. Marjorie fica bem bonita quando sorri. Nossos braços estão sobre nossas cabeças. E nós lentamente descemos com eles, nossas palmas se juntam. Nós nos encostamos um no outro com os nossos corpos pesando para a frente e nossas palmas pressionando mais firmemente. Então, estou encarando seus olhos. Estamos os dois sem respirar, e não sei por quê gosto disso cada vez mais.
~*~
— Vamos Thiago, a gente vai se atrasar, a segunda sessão começa às 20h
— Parece que o cinema vai ter que esperar. Quem sabe você cancela de uma vez, é melhor do que esperar que ele vá ao cinema com você. Ele não te contou, não foi? Eu já esperava por isso, é tão típico dele. Não tem problema eu mesmo conto. Eu estou grávida. Olha, pode conferir o exame com seus próprios olhos.
Não estou mentindo ou te enganando, se tem alguém aqui fazendo isso não sou eu. É o Thiago. Você não é a primeira colega de trabalho por quem ele se interessa, mas no fim tudo acaba e ele percebe que eu é que sou a mulher perfeita para ele. Eu dei a ele uma família, pode não ser perfeita, mas é a única que ele tem. Que sorte e a minha ele amar tanto os nossos filhos. Ah, mas o que eu estou falando, filhos. Você sequer sabe o que é isso. Você não tem filhos, não é? Não sabe do que um amor como este é capaz. Quem sabe você ainda descubra. Desejo sorte para você.
— VOCÊ ESTÁ ME DESEJANDO SORTE, É ISSO!? EU NÃO TÔ ACREDITANDO!
— O que está acontecendo aqui, Mariana? Marjorie... Alguém pode me dizer o que está acontecendo aqui?
— Nada. Sua mulher está me desejando sorte
— Sorte... sorte pra que?
— Para que ela encontre outro alguém que a faça feliz e possa dar a ela o que você me deu.
— Com-o é que é?
— Meus parabéns, Thiago, parece que você é o papai do ano
— Uma menininha, meu amor
— Uma menina?
, —Sim, a nossa menininha.
— Marjorie, espera... espera, vamos conversa, eu... Marjorie
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11 de fevereiro de 2013
Por Marjorie
Como dois adolescentes que acabam de descobrir a paixão, destravamos o cinto de segurança. Apresados, vencemos os degraus do hall de entrada e em segundo estou agarrada a ele no elevador. Nós nos beijamos primeiro suavemente, depois com força. Como uma punição, envolvo os braços no seu pescoço, as unhas se enterrando na minha pele através da blusa enquanto os dedos varrem meus ombros e ele roça a pélvis na minha.
É tudo tão diferente... diferente de tudo que fizemos em frente às câmeras, onde devemos seguir um movimento coreografado em termos de sombras e ângulos de câmera e mais uma centena de aspectos envolvidos na gravação de uma cena. Deslizo a língua pela dele e aprofundo o beijo até sentir sua hesitação se derreter. Quando o sinto se afastar, meus olhos se abrem devagar, encarando os seus.
— E-eu só preciso que você explique uma coisa: Você e o Miggio… - diz ofegante contra a minha boca.
— Você não vai entender mesmo que eu explique – respondo de olhos fechados. Sua mão aperta mais a minha coxa. Não ligo para o que ele diz ao pé do ouvido, apenas torço para que ele continue. Preciso disso: da sua voz sussurrando besteiras, do seu corpo junto ao meu, da boca colada a minha. Eu apenas preciso que nada o faça desistir dessa noite.
— Porque você não tenta explicar, eu decido se entendo ou não? - Sua voz insiste em falar e eu o calo com mais um beijo.
— Eu explico, depois… depois, eu explico. – Puxo o ar, vendo o fazer o mesmo. Seus olhos lutam contra o desejo de mirar minha boca entreaberta, mas é onde seu polegar desliza sem se preocupar com o meu estado
— Depois... Depois do quê?
— Da gente… Depois da gente… você sabe. – O elevador para, a porta se abre, e ele se afasta de mim com agilidade. Uma senhora acompanhada do marido, pergunta.
— Tá descendo, minha filha? – Troco olhares com o Thiago. — Não… subindo
— Ah, eu não falei, Gregório
— Nós devíamos ter trancando esse elevador. – Ele diz com ar divertido, enquanto a porta fecha e volta a me agarra.
— Você sabe fazer isso? - Seus lábios correm a minha nuca, beijam minha face e voltam aos lábios
— Não, mas deveria.
— Prefiro minha cama. – Saio correndo do elevador, mas ele é mais rápido e prende meu pulso, impedindo-me de prosseguir. Seu corpo está colado ao meu.
— Se você diz, Estiano – Caminho com ele guiando os meus passos até a porta. Vasculho a bolsa em busca das chaves. — Precisa de ajuda? - Sua pergunta é sussurrada enquanto estou tentando enfiar a chave na fechadura, entrar em casa e chegar ao meu quarto sem interferência.
— Não, eu estou quase conseguindo. - Viro para ele nesse momento, e seus olhos verdes estão tomados pelo desejo.
— Você está conseguindo me enlouquecer. – Eu me encosto na porta, com um rubor subindo pelo pescoço. Seus dedos passam meus cabelos para o lado, deixando um beijo sobre o ombro desnudo.
— Abriu. – Suspiro junto ao toque. Com a mão quente na minha cintura, ele passa pela porta me impedindo de quicar nas paredes ou cair. Ofego ligeiramente, com a boca entreaberta enquanto pisco, e de novo, antes de fechá-la, tem muito mais emoção revelada em meu rosto do que eu achei que fosse capaz de sentir. Agarro seu queixo, aprofundando o beijo, e sua língua toca a minha... explorando. Considerando. Sentindo. Beijando-me de volta.
— Marjorie!
— Mãe!? – Dou um pulo e saio de cima dele contra vontade.
— Ta vendo mãe, eu não falei para você que a Mah estava bem. – Ellen!! Reviro os olhos para ela.
— Acho melhor eu ir
— Não, não quero que você vá
— Eu também não quero - Minha boca se retorce de diversão. —, mas eu tenho escolha, Mah? - A voz dele está baixa e rouca, cheia de tudo que ele quer dizer e não diz.
— Elevador. – Ele me dá um rápido aceno de cabeça acompanhado de um sorriso sagaz, o suficiente para puxa-lo pela mão, porta afora.
— Eu quero matar a minha mãe – Aperto o botão, esperando os intermináveis três segundos para que a porta se abra. Elevador, aqui estamos nós novamente. Penso em nos trancarmos aqui. O que poderia ser agora, se Thiago não estivesse tão preocupado com a visita repentina da minha mãe.
— Não faz isso, Marjorie, é a sua mãe, ela veio até aqui, algum motivo importante ela teve para vir.
— Importante, Dona Marilene!? Não senhor Thiago, o importante é você aí e eu aqui. – Jogo-o contra a parede do elevador. Me inclino sobre ele enquanto viajamos até o térreo.
— Ah é? - Posso ver surpresa e a hesitação em seus olhos ao vigiar meus atos. — A senhorita tem toda a razão e vai querer subir e descer quantas vezes?
— Umas mil e duzentas para começar. - Eu me curvo e seguro com cuidado o lábio inferior entre os meus dentes. Sua respiração falha e ele retorna o gesto com os dentes e meu lábio superior. Eu o aperto em meus braços e o beijo, apreciando seu gosto e sua língua e lhe dando um adeus apropriado. Estamos sem fôlego no momento em que as portas abrem no térreo.
— Uau, que ótimo, senhorita Estiano…. - diz ele, se libertando devagar do meu abraço. — É bom saber para poder cumprir uma outra hora. - Se inclina sobre mim, beijando a minha testa, ele sai do elevador.
— O QUÊ!? Eu acho que mudei de ideia e vou matar você, Thiago!
— Você pode, pode fazer isso quando quiser, eu deixo.
~*~
— Pelo seu sorriso, você estava pensando em mim? – graceja ao sentar-se ao meu lado. Tinha esquecido deste seu gênio nada modesto.
— Humm, convencido você, eu estava aqui lembrando que você me deu autorização para te matar. Tô cogitando a hipótese. Você está pronto para morrer? - Thiago inclina a cabeça, olhando momentaneamente surpreso
— Olha, se você for me matar de amor, eu até topo.
— Morrer, só se for de amor, vou pensar no seu caso - Inclino-me para lhe dar um beijo suave. Seus lábios são persistentes, então respondo, beijando-o de volta. Sinto seus braços em volta do meu pescoço e seus dedos emaranham no meu cabelo, e seu corpo pressionado o meu.
— O QUÊ É ISSO!? QUE DESCARAMENTO É ESSE
— É ensaio, Camila, já ouviu falar?
—Ensaio!? Vocês estão ensaiando? - Seu tom é acusatório, mas vislumbro seu sorriso em seguida. — Ensaiando, o que? - questiona ela, de propósito.
— Como se beija, acho que isso, para o jogo, é fundamental.
— Ah é?
— É! – Rio em voz alta, principalmente porque Thiago está boquiaberto com a minha resposta.
— Eu fico tão feliz de ver vocês assim... juntos.
— Você contou para ela?
— Não, eu não falei nada
— E precisa, gente, eu estou vendo. – Camila se antecipa. — Só tá faltando assumir isso pra ficar perfeito. – Antes que eu consiga responder, somos interrompidos. O dever nos chama.
O diálogo da próxima cena é próximo demais da realidade, se já estava difícil disfarçar para Camila agora o meu constrangimento é maior. Estão todos com os olhares voltados para mim, esperando que eu inicie a cena com o beijo.
Ficamos em silêncio por cinco minutos, em quanto a câmera é posicionada. Dou uma olhada de lado para o Thiago. Ele está respirando fundo e constante. Se aquecendo ou acalmando os nervos. Sigo sua deixa. Meu coração está batendo rápido demais. Uma das coisas que devo me lembrar, mas esqueço no instante que sua a mão toca o meu rosto, e seu corpo ondula sobre o meu; estou em cena, não devo me envolver. Tente manter essa regra, jovem atriz, e me ensine se possível, porque eu a esqueci.
— Humm... - Camila entra em cena, e com a sua tosse exagerada, diz. — Que vergonha! Ela é uma moça de família.
— Hã, me perdoe...- Thiago olha para mim hesitante, antes de responde-la — E-eu realmente não tive a intenção.
— Não, mas agora é tarde, agora é tarde, a senhorita pode pedir uma reparação. Tá no seu direito.
— Uhmm – Olho para ele, determinada a manter a expressão de dúvida no rosto. —, deixa eu pensar: É, até que o moço não é de todo mau. – Direciono o olhar para Camila. — Acho que eu vou querer, sim. – Sorrio para o Thiago. — Se for solteiro, claro.
— Sinto muito – lamenta com uma cara decepcionada. —, divorciado.
— Ah, então não presta - alerta a Camila, enquanto Thiago força uma risada e eu me obrigo a não fazer o mesmo.
— Ah, eu acho que eu quero assim mesmo – Sinto meu rosto queimar quando agarro seu roto entre as mãos para beijá-lo. Estou tentando me manter na personagem. O beijo é rápido. Apenas um estalo e eu me afasto
— Você é testemunha, ela me atacou, humm. – Thiago se diverte. Ele está adorando o fato da iniciativa da cena ser toda minha. E eu também,
— Ain, eu fico tão feliz de ver vocês juntos de novo. – Camila nos envolve em um abraço caloroso. Feliz pela união dos nossos personagens.
— Eu também – Thiago concorda no mesmo instante em que retruco:
— Ah, eu tô achando maçante – Levando minha mão ao seu rosto, escondendo minha face entre a curva do seu pescoço
— Ah, tá achando maçante, tá vendo? – Dou-lhe um beijo rápido, enquanto Camila concorda com entusiasmo.
— Claro... Claro. – É minha deixa para seguir com a segunda parte da cena. Curvo os lábios em um tímido sorriso, antes de tocar a mão da Camila e pedir.
— Você tá um minutinho pra gente?
— De jeito nenhum – descorda ele com uma cara tristonha. Puxo Camila pela mão até a metade do corredor que dá para uma antessala. Thiago continua sentado e pode ouvir a nossa conversa. O foco da câmera está em mim quando digo:
— Eu sei que você tá passando por um momento difícil, mas eu acho que você pode entender a minha decisão.
— Eu sei tô que você tá falando. Claro que eu entendo, Laura, você tá certa, você tem que fazer isso, sim.
— Obrigada, você é a melhor amiga do mundo. – De repente sinto os olhos lacrimejam. Odeio como fico emocionada quando ela diz com um abraço apertado.
— Não... você que é, minha amiga.
— Tá... Tá tudo bem? – De pé, Thiago pergunta voltando sua atenção para nós.
— Nãoo – engasgo
— Tá, tá ótimo. Tá tudo ótimo. – Camila completa e por uma fração de segundos deixamos de ser Laura e Isabel
— Ta... tá sim. – Me desvencilho do abraço. Thiago nos observa, e com ar de desentendido, debocha
— Agora eu entendi tudo.
— Quer que eu chame a Matilde? – Balanço a cabeça e acrescento
— Já tá tudo pronto.
— Matilde, porquê? A gente vai tomar um chá?
— Nã-o – respondo e ele continua bem-humorado
— Um café?
— Não.
— Você não vai me contar o que tá acontecendo?
— Você tá com fome? – Camila volta a sala acompanhada da Luísa, ambas trazem consigo as malas de Laura.
— E- essas malas!?
— As malas são minhas
— São, são suas malas? - O olhar de surpresa é perfeito. Sorrio.
— Tá pesado, você me ajuda carregar? – Os lábios curvam-se em um sorriso, antes de se aproximar e acariciar minha face duas vezes com o polegar para me beijar mais uma vez de um jeito que só ele sabe.
~*~
— Hey, com licença. - Camila abre a porta e me avalia com o olhar. —, tá sozinha, amiga, posso entrar?
— Tô, entra, pode entrar.
— Tem certeza, não quero atrapalhar. – Acho graça. Ela está checando a sala para ter certeza de que estou realmente sozinha.
— Atrapalhar, o que? Se eu estou sozinha - confirmo para poupa-la do trabalho.
— Ótimo – comemora, puxando-me pela mão. —, me conta, me conta, me conta tudo.
— Tudo?
— Tudo, não me esconda nada, você e o Thiago...
— Humm... o que tem? – Nós nos sentamos no sofá. Franzo a testa ao olhar para ela.
— Marjorie... Eu não acredito que vou ter que perguntar.
— Eu não sei o que é que você quer saber.
— O Beijo. – Camila me lança um olhar impaciente. — Não, não me olha com essa cara de desentendida, Marjorie, você e o Thiago rolou, tá rolando?
— Quaseee, Camila.
— Quase?! – Balanço a cabeça. Ela sabe, mas espera que eu confirme. Não consigo falar. Por um instante desejei que nada tivesse acontecido. — Marjorie?
— Rolou... quase rolou, não fosse minha mãe chegar ontem, e aparecer de surpresa
— Sua mãe aqui! - Ela se aproxima e me envolve com seus braços. — Como? - Suspira quando eu a abraço como se ela fosse a única coisa me ancorando à realidade.
— Sabe, até agora eu não entendi o porquê. Ela estava muito esquisita. Nervosa. Veio com uma conversa de que eu preciso me dedicar menos ao trabalho. Passar mais tempo com a família e os amigos. Que eu devo esquecer meus compromissos, os colegas. Que talvez fosse melhor pra mim, me afastar um pouco de certas pessoas.
— Certas pessoas, o Thiago?
— Você acha?
— Marjorie, você continua recebendo aquelas ligações?
— Hummm, eu tenho recebido mensagens também. – Solto o ar e paro. Não sei precisar ao certo quando as mensagens e os telefonemas começaram, mas depois da visita da minha mãe posso ter ideia de quem planejou. — Você acha que pode ter sido a ...
— Acho, acho também que você deve contar isso ao Thiago, ele precisa saber.
— Eu sei, eu só não queria preocupa-lo. – Esfrego o rosto. — Não sei o que fazer.
— Marjorie, ele precisa saber, ele tem que saber a mulher que ele tem, se é que ele já não sabe. Eu duvido que o Thiago vai deixar isso barato quando souber. Mas você precisa contar.
— São apenas suspeitas, Camila.
— Que podem se tornar verdade se você não conta, amiga. Se ela foi capaz de envolver sua mãe nisso, vai saber qual será o próximo passo dela?
— Eu não sei, eu não consigo acreditar que a Mariana seja capaz de uma atrocidade dessas. - Não consigo admitir o fato da Mariana ter envolvido minha mãe no seu jogo sujo. Como ela conseguiu meu endereço. O que ela tem feito esse tempo todo, sem que eu sabia. Há quanto tempo ela conhece a rotina da minha família.
— Tá, mas e se ela for. Você já pensou o que fazer? Eu quero dizer, você está disposta a encarar esse jogo? Será que vale a pena. - Penso no Thiago e o quanto nós não conhecemos as pessoas que nos cercam. A dor pode vir de onde menos se espera. Somos hábeis em machucar aqueles que mais amamos. Somos frágeis e imbecis na grande maioria das vezes. Thiago é frágil e imbecil. Eu o odeio por isso. Também o amo por isso.
— Eu o amo, a única coisa que vai me fazer desistir é saber que há sentimentos dele por ela. Se ainda existir amor. Sabe... uma única chance, ainda que mínima, de ver amor nos olhos dele, eu desisto. Não vou competir com isso, não.
— Então é isso, vale a pena tentar.
— No amor sempre vale a pena tentar.
— E o Thiago vale a pena, hein amiga?! - A porta se abre. — Ih, falando nele. - Em segundos, Camila levanta, e eu faço o mesmo para encará-lo.
— A fofoca era sobre mim? – pergunta ainda parado no batente da porta. A mão esquerda grudada a maçaneta fazia a porta cobrir metade do seu corpo, me impedido de vê-lo por inteiro.
— Humm – murmuro em um sorriso, indo de encontro a ele.
— Ah, então eu volto outra hora…- Thiago olha ao redor da sala antes de voltar a me encarar. — Não quero atrapalhar, sabe... mulheres conversando.
— Não, senhor, você fica, quem não quer atrapalhar aqui sou eu
— Camila, espera – peço, enquanto ela ainda saia.
— Camila é uma moça esperta – comemora, antes de entrar na sala e fechar a porta atrás de si.
— E você é um desmancha prazer - Ficamos parados por alguns segundos num silêncio desconfortável.
— O quê – ele diz, olhando em meus olhos. —, a conversa sobre mim estava tão boa assim?
— Conversa sobre você?
— Você não vai me dizer nada, é isso? – Seus braços envolvem minha cintura enquanto minhas mãos espalmam seu ombro. — Nem sobre o beijo? – Ah o beijo!
— Você vai ficar regulando os meus beijos, Thiago, olha que eu posso beija outro.
— Quem o Miggiorin? – Ele se afasta, estreitando os olhos. — Não, André Aquino?
— Thiago.
— Foi você quem começou, nem vem... – Ele dá um passo à frente, limpa a garganta. — já que você tocou no assunto, sabe do que eu lembrei, você acabou não me explicando sobre o seu caso lá, você e o...
— Você não vai desistir mesmo disso?
— Não, eu tenho um defeito terrível, sou um homem muito ciumento, você já devia saber disso.
— Olha, Thiago Fragoso reconhecendo seus defeitos, acho que eu devo ser honesta e reconhecer os meus também, eu… - Minhas pernas fraquejam, preciso sentar.
— Você… fala, Marjorie
— Eu quis, não vou negar, e ele…
— E ele também quis, obvio, só sendo um louco para não te querer. - Thiago se aproxima, me encara por longos segundos, depois senta descansando os cotovelos sobre os joelhos
— Ou ser um homem fiel como você
— Ah… eu sou um homem muito fiel aos meus princípios
— É, você é – concordo —, você nunca traiu ninguém?
— Não, imagina – Ele suspira e me olha de cima a baixo —, pensar em você dia e noite, desde quando acordo até quando vou dormir, não é trair, é?
— É trair em pensamento – observo, vendo a expressão do seu rosto se retrair um pouco.
— Então é trair, eu traio a mim mesmo, todos os dias, pensando em uma forma de ter você só pra mim, só pra mim. – Eu queria retribuir o gesto, mas não posso. — O que foi?
— Uhumm... - Congelo, meu celular vibra sobre a mesa. Não quero atender. — É aquele número de novo.
— É mesmo… então você não vai se importar se eu atender?
— Por que, você acha que é o Leo?
— Não, você quer saber, mesmo morrendo de ciúme, eu adoraria que fosse – assente. — É melhor do que confirmar as minhas suspeitas. – Suas suspeitas
— Como assim?
— Marjorie, a Mariana não procurou você, não tem ameaçado você. – Então... ele sabe?
— Ah, não… Thiago, até você. Não basta a minha mãe cisma com isso, agora até você acha que a Mariana está me perseguindo?
— Se a sua mãe acha isso, é mais um motivo para mim atender, me dá. Marjorie, me dá o celular.
— Não, eu atento.... – Aperto o botão de chamar e deixo na viva voz. — Tá vendo não é quem você pensou.
— Pode ser, mas eu quero ter certeza, me dá o seu celular. – Entrego o celular e pergunto preocupada.
— O que você está procurando? - Ele engole em seco e faz uma pausa antes de responder.
— Um número, olha aqui, está vendo, é o mesmo da Marina. Ele puxa o seu celular do bolso e mostra o mesmo número salvo na sua agenda. — Ela não se deu o trabalho nem de trocar. Você sabe o porquê - Tento encontrar uma maneira agradável de dizer o que deve ser dito, mas não existe uma.
— Porque ela queria que você descobrisse
— Exato, e você não tem nada, nada mesmo pra me dizer, Marjorie?
— Não, eu já disse que quando esse número, quando ela liga, ela não fala nada.
— Nada mesmo? – Suspiro. Me lembro de uma conversa que tivemos aqui, nessa mesma sala, onde ele me fez prometer que contaria caso a Mariana voltasse a me perturbar. Nunca acreditei que as ameaças pudessem se repetir, mas eu estava enganada. Camila está certa. E se ela for capaz de cumprir o que prometeu?
— A Mariana não seria louca a esse ponto, seria?
— Ah, seria... - Espero que termine a frase, mas ele parece estar lutando para se expressar. — Você não conhece ela
— E você conhece?
— Talvez nem eu a conheça mais, e é isso o que me preocupa. – Eu tenho que contar a ele. Tenho que contar. Considero seriamente a possibilidade de que ele não acredite em mim e desisto.
— Thiago, o que você está fazendo?
— Tô ligando para Mariana...
— Com meu número? – Ele não responde, mas seu rosto se fechou mais profundamente. Não escapa à minha atenção que ele está com o meu celular enquanto anda de um lado a outro da sala.
— Droga, ela não atende. – Repedindo a ligação, ele olha para mim. — O que você quer que faça? Que eu ignore a situação?
— Sim, é o mais sensato a se fazer
— Desculpa, Marjorie, não posso fazer isso. – A ligação cai na caixa postal, ele então fala a mensagem em tom autoritário. — Mariana, me liga quando ouvir esse recado. Eu preciso falar com você. É urgente.
— Nós podemos falar de outro assunto agora, ou essa pessoa vai ser a pauta do dia? – Quando Thiago deliga, apresso-me em tirar o meu celular do seu alcance.
— Essa pessoa!? – Ele ri.
— É.… para, Thiago, eu tô me esforçando
— Tá bom... - Ele me puxa para um abraço apertado. — Essa pessoa, não vai ser mais assunto, vamos falar sobre você e o...
— De novo?
— Marjorie, eu quero a verdade.
— Tá bom... Apesar dele querer e da minha insistência, não rolou nada porque eu falei seu nome na hora
— Você falou meu nome.... na hora, bem na... Isso é demais!
— Você ri porque não foi com você
— Desculpa Mah, mas é hilário, queria ter visto a cara dele – Thiago sorri triunfante. Homens!
— Sério que você queria? - Pisco e faço uma cara séria. — Ele fodeu legal depois disso
— Marjorie, vo-cê falou que não rolou nada
— Ah, falei, a eu não me lembro direito
— Ah, você não lembra? Agora você não lembra?
— Não, não lembro. - retruco, experimentando a honestidade. — Você queria a verdade, a verdade é essa, Thiago, eu não lembro e mesmo que lembrasse, que importância teria? Não significou nada pra mim, nada. Quem eu quero de verdade é você. Você, Thiago Fragoso. — Você entendeu?
— Uhumm – Balança a cabeça —, não entendi, preciso de mais beijos.
— Será que em cena, você me entende melhor? Porque tem uma cena com muitos beijos.... – inclino-me com a intenção de beija-lo. O toque do celular freia o meu movimento, e o seu olhar fixo para a tela, me faz questionar. — Quem é?
— Mariana, me dá um minuto – pede ele. Gostaria de saber o teor da conversa. Seria muito indelicado perguntar? Estou com coração na mão. Sua expressão é séria. Ele está calado agora, ouvindo o que ela diz. Não parece confortável, vira-se rapidamente para mim e volta a atenção para o telefonema. O que ela tanto fala? E o porque ele não a reponde de volta? Estou com medo e preocupada. Levanto, estou inquieta para ficar sentada. Obrigo-me a manter distância. Não quero ser invasiva, mas a curiosidade só aumenta. Ele desliga.
— O que ela queria? – pergunto de imediato.
— Alguma coisa sobre um teste que ela tem para fazer – isso é vago demais, insisto.
— Aqui?
— É, eu acho que é. – titubeia. — Não sei, não entendi direito... onde a gente estava mesmo? - Ele não quer responder. Está na cara. — Ah lembrei, nós temos uma cena com muitos beijos para gravar.
— E isso não é bom?
— É ótimo, eu inclusive estou contando as horas para essa gravação acontecer.
— Como se você precisasse de uma para me beijar.
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Para uma Laured/Thirjorie muito especial, Thalia Soares, que descobriu a fanfic com 8 capítulos já escritos e os devorou. Não por acaso este capítulo é dedicado a você. Não, não foi planejado, mas costumo dizer que está é uma das coincidências incríveis. Saiba que pensei em você ao escrever cada linha, e como não posso estar aí presente, lado a lado com você nesse dia tão importante, eu caprichei no cartão-presente.
Espero que você goste de mais este capítulo e deixe sua imaginação viajar enfim ;)
04 de fevereiro de 2013
Por Thiago
Abro o notebook. Checo os meus e-mails, o penúltimo bloco de capítulos já havia sido envido e apesar da obrigação de ter que lê-los, adio a tarefa, evitando assim a sensação de que Meu Deus, está acabando. Daqui um mês e um pouquinho as gravações terminam e tudo acaba.
Será? A quantidade de e-mails que recebo das fãs Laureds, me faz crer que não. A caixa de entrada novamente está cheia deles. Me espanto, a matéria que Marjorie e eu concedemos ao site da novela, bombou. Não há um e-mail delas que não comente sobre o assunto.
— O que você está lendo?
— Ah, tem as Laureds… Recebo vários e-mail delas. É muito engraçado. Descobri que com a Marjorie é a mesma coisa, o pessoal cai em cima dela. - Mordo a língua, arrependido. É tarde para voltar a traz e evitar os olhares repreensivos da Mariana.
— Eu quero ver é como você vai lidar com a pressão de quererem você junto com ela e não comigo. Não vai demorar muito para que você se dê conta do status que você pode receber.
— Mas isso já está acontecendo, Mariana, só não vê quem não quer – digo, desejando: —, boa noite.
— Boa noite, aonde você vai?
— Vou ler meus e-mails no quarto de hóspedes. - Com o notebook junto ao corpo, ponho-me de pé e arrasto os chinelos rumo ao quarto.
— Ah… você continua com essa brincadeira? - O divórcio? Arqueio as sobrancelhas.
— Eu falei sério quando disse que queria o divórcio, Mariana, se você achou que era uma brincadeira, lamento. - Interrompo o meu andar. — Ah, eu vou sair dessa casa o quanto antes, não se preocupe.
— Você não vai sair dessa casa, não se eu puder evitar. - ameça. — Você não sabe do que eu…
— Ah… eu sei, sim, você deixou claro isso, hoje. - Mariana me olha sem entender. Melhor assim.
Eu tinha motivos para me preocupar, claro. Se ela soubesse o que aconteceu hoje, mais cedo, então…
É um absurdo como ela consegue fazer esse jogo. A grua se move enquanto eu abraço e ela sorri com o olhar radiante, o mesmo que há quinze minutos mal olhava para mim. Eu consigo fazer o mesmo, se ela consegue porque eu também não conseguiria.
A lente da câmera foca o nosso rosto. Estou deitado de frente pra ela, minha mão esquerda desliza carinhosamente em suas costas. Sou eu ou está quente, mais quente que o normal?
— A gente precisa acorda? – murmuro, trazendo o seu corpo mais perto, continuo a acariciar suas costas num vai e vem suave, não resisto, desço um pouco mais, escorrego no quadril e volto rapidamente pousando a mão sobre a sua cintura.
— Precisa. – Ouço-a concordar, roçando os lábios em um beijo curto.
— Precisa levantar? - pergunto novamente com os olhos semicerrados.
— Nã-o… Não, levanta a gente não precisa, não. - Sorri com graça. — A gente pode passar o resto da vida aqui.
— Pra sempre, nessa cama.
— Nessa… cama – devolve pausadamente. É só o jogo cênico, eu sei
— Repete – peço, roubando outro beijo.
— Nessa cama, o resto da vida. – Com os lábios próximos aos meus, Marjorie completa a fala com um selinho, que se eu pudesse prolongaria.
— Peraí que vou pega um papel pra você assinar. - Giro o corpo sobre ela, apoiando o peso sobre os cotovelos.
— Nã-o… - Agarrando-me pelo braço, ela gira o corpo, apoiando as costas no colchão. — Não, senhor advogado, não precisa. Não precisa de nada – protesta, com as mãos no colarinho da minha camisa. —, só precisa de você aí e eu aqui. - Como queria que estivéssemos assim de verdade.
— Quando? - suspiro, sustentando o seu o olhar.
— Ah…– Vira o rosto, evitando-me. — Ai… Ai já é outra história.
— Humm – Admiro-a. —, não brinca comigo.
— É sério – diz, erguendo as mãos, bem-humorada.
— Não faz isso
— O quê? Eu já jurei pra você, pra nossa cama.
— Olha, nossa cama!? - Sorrio abertamente.
— Sempre foi nossa. – Seus dedos tocam a minha barba com carinho. Que privilegio o meu. Sou um homem sortudo só por tê-la assim sob o meu domínio.
— Cuidado – alerto. —, jurar sobre essa cama nessa casa é que nem jurar num tribunal.
— Sim, senhor.
— Se o juramento for falso as consequências serão gravíssimas
— Como assim, senhor?
— Haverá retalhações terríveis, ouviu?
—Ouvi, ouvi muito bem… – diz com aceno de cabeça. — Não, e diante de ameaças tão assustadoras, hã
—Hum
— Não me resta outra alternativa. – Posso beijá-la agora e isso é o melhor de tudo. Junto os nossos lábios em um beijo não muito demorado, mas o suficiente para saber que outra vez tínhamos ultrapassado a barreira em comum entre dois simples atores, que amam acima de tudo o que fazem.
Eu a sinto no beijo, no curto beijo que demos, no curto espaço de tempo em que minha boca ficou colada a sua. Assim mesmo eu a sinto. Marjorie, ela pode negar, fingir, evitar, usar das artimanhas do seu profissionalismo chato, sair sem trocar uma mísera palavra no fim de cada gravação, eu não ligo.
É pouco o que eu tenho, ainda assim é muito. É o pouco que eu posso ter dela diariamente. O que me preocupa é pensar: E quando eu não puder mais ter?
— E aí como foi, Thiago, encarou a ferra? - Emílio me para no meio do corredor. — Conversou com a Marjorie?
— E adianta? Mais do que eu já tentei – aperto o passo. —.Ela parece não se importar com o fato. - Ele franze a testa, aumentando o ritmo da caminhada.
— Vai ver ela não acredita que você tenha pedido o divórcio.
— Não acredita… - Paro subitamente. — Quem deveria estar furioso com ela sou eu, sabia?
— Porquê? Não vai me dizer que você ainda não esqueceu aquela história lá com o Le – Não queria admitir, mas, sim, eu não havia esquecido.
— Quer saber esquece…. Eu vou…Droga, esqueci a minha consulta com o fisioterapeuta.
— É agora?
— É, eu vou ver se consigo pegar um táxi a tempo.
~*~
— Mãe.. Mãe, eu te ligo. Mãe me ouve… Para de falar um pouco e me ouve, mãe, eu não tô em casa, te ligo quando chegar. MÃE, EU TE LIGO DEPOIS, AGORA NÃO DÁ.
— Problemas? - Eu não resisto e pergunto.
— Com a minha mãe, não, nenhum. - Dá de ombros. — Ela fala o tempo inteiro no telefone, a gente precisa gritar para ser ouvida, é natural. E você?
— Eu o quê? - Ela não quis dizer, mas estou feliz com a súbita preocupação. — Ah… perdi a hora no fisioterapeuta. - digo com ar despreocupado. — Acho melhor remarcar noutro dia.
— Que horas era a sua consulta?
— 17h45
— Ah… dá tempo, eu te levo! - Caminhando em direção ao estacionamento, ela faz sinal para que o acompanhe. — Só estamos 20 minutos atrasados. – Constata ela olhando para o celular, tirando a chave do carro da bolsa ao mesmo tempo.
— Oi? - pergunto surpreso, ainda estou parado no mesmo lugar, vendo-a se afastar. O que ela está querendo?
— Eu te levo! - Ela sorri gentil. — Chego lá mais rápido que uma tartaruga, mais veloz que uma lesma, vamos?
— Ah claro, Marjorie – Abafo o meu sorriso e acompanho-a até o carro, pela primeira vez em semanas ela estava falando comigo. Seria esse o seu jeito de estender bandeira branca. Desde que mencionei ter pedido o divórcio, nós não conversamos mais, não por falta de oportunidade ou de tempo, mas sim por simples teimosia.
No incio, eu não liguei, não queria falar e discutir o mesmo assunto de novo. Julguei que precisávamos de um tempo e eu dei. Dei tempo e espaço a ela, o que acabou comigo.
Nossas cenas, mera formalidade. Profissionalismo impecável, para não dizer, irritante. Foram poucas as vezes em que consegui quebrar a barreira imposta pela personagem, mas entre um beijo e outro, como o de hoje, ela cedia, eu podia sentir o gosto amargo do seu beijo.
Não são mais os mesmos beijos… E que falta faz.
Desvio o olhar para ela. Calada e tão concentrada na sua tarefa. Os ombros rígidos, as mãos firmes sobre o volante. Nenhum sussurro, nenhuma palavra de lá até aqui, não aguento mais o silêncio. Decido falar, dane-se a sua reação. Discutir é melhor do que nada.
— Marjorie, eu queria falar sobre a Mariana
— Ai…- Os dedos batucam impacientes o volante. — Esqueci de mencionar as regras dessa carona: Nada de falar sobre a Mariana ou Leonardo. - Ah…. Leonardo. Meu estômago embrulha só de ouvir falar esse nome.
— E se eu quiser falar?
— Você não quer que empurre você porta afora, quer? – Ela desvia rapidamente o olhar para mim.
— N-ão, não quero, obrigado por perguntar. – Um único e breve desvio de olhares foi o que consegui com a conversa. Meus parabéns, Thiago!
Volto a encarar a paisagem. O som do rádio faz companhia. Nada de músicas. Nada da sua voz cantarolando nos meus ouvidos, ao invés disso, a voz chata do locutor informa a hora e a previsão do tempo pro fim de tarde e o resto da semana. Na falta do que fazer, somo o número das placas dos carros que passam à nossa frente.
— Não falei? Chegamos mais rápido que uma tartaruga, mais veloz que uma lesma. - Ah… o bom humor, ainda estava presente ao menos.
Esperando que a Marjorie faça o mesmo, destravo o cinto e desço.
— Você não vem? - Espio pela janela. Ela não mexe um músculo, continua sentada.
— Não, eu não vou entrar, eu espero você aqui. - Não acredito… Vou ter que dar meia volta e arrancá-la de dentro do carro.
— Vem comigo. - Ainda olho para ela com as sobrancelhas erguidas, na esperança que ela se mova. Bom… a senhorita quem manda. Dou meia volta, alcançando a porta e abro-a.
— Porque você tá fazendo isso, Thiago?
— Eu quero a sua companhia, vem. – Estendo minha mão, sem saída ela levanta lentamente, pega a bolsa no banco traseiro, tranca o carro e me acompanha até a clínica.
~*~
— Eu podia ter esperado no carro, Thiago – resmunga, sentando se em uma das cadeiras da sala de espera. Olho pra ela, sem responder pego uma revista e lhe entrego. — Você quer que eu leia?
— Foleia – sugiro. —, vê se você encontra uma matéria sobre você. - Dando as costas a ela, me dirijo ao balcão de recepção.
— Sobre mim, por quê? Não dou entrevista para esse tipo de revista. - Ah… Duvido, com a revista de maior circulação do país sobre o mundo da fama em mãos, duvido que ela não tenha dado uma única entrevista a mesma. — É mais fácil eu encontrar uma sua. - insinua, enquanto a moça de cabelos negros e lisos me devolve o cartão de crédito.
— Ah… entendi, você não é notícia, não dá motivos pra ser. - Ela ri.
— Quem disse? Tudo para eles é motivo de manchete. - Sento-me ao seu lado, gostando do fato da sala estar vazia e estamos conversando normalmente. — Se eu estiver só de passagem pelo aeroporto, tá lá uma notinha. Eu bêbada, saindo de uma festa então, quer notícia melhor?
— Eu sei… - Tento parecer sério, mas as imagens que me veem a cabeça não permitem. Evidências, nunca mais seria a mesma canção, pra mim, não depois da sua interpretação. — Dá para imaginar eu juro, com perfeição, com riqueza de detalhes você bêbada, Marjorie.
— Se eu ganhasse dinheiro para tudo o que publicam ao meu respeito, já estaria milionária – debocha, caindo na risada. Na verdade, já estávamos rindo muito antes.
— Thiago, tô vendo que você trouxe uma assistente. - Levanto-me depressa.
— É cansei de você me apalpando, sabe como é. - O cumprimento, Clóvis sorri amigavelmente para Marjorie e concorda.
— É justa a troca.
— Não olha pra mim, não. Continua o seu trabalho. O profissional aqui é você. - Seguimos em direção ao consultório. Para minha surpresa, Marjorie me acompanha sem que eu tenha que pedir desta vez.
— Tem certeza, Thiago me disse que você tem mãos de fada. - Clóvis fecha a porta atrás de si, contorna a mesa e em poucos segundos toma o seu assento, enquanto Marjorie me encara sem entender.
— Quê!? - Ciente de que está sendo observada, engole em seco. — Eu o ajudei algumas vezes, nada demais. - Entrelaça os dedos rapidamente levando-os até a nuca. Seu constrangimento é lindo.
— Não liga, ela é modesta. – Pisco o olho, despindo-me dos calçados e da camiseta em seguida. Descanso os óculos de grau sobre a mesa, olhando direto em seus olhos posso vê-los brilhar de desejo. Não penso em mais nada depois de ver seu olhar correr sobre o meu dorso nu. Deito na maca e os alongamentos que eu estou cansado de fazer se repetem.
Clóvis segue a rotina dos exercícios, os quais eu tenho feito diariamente desde que comecei a fisioterapia. Os resultados são satisfatórios e eu me sinto plenamente recuperado, graças a Deus e a Marjorie também. Sim, porque que se ela não me cobrasse o tempo todo para que eu tomasse a medicação e seguisse com a fisioterapia, eu, com certeza, levaria o dobro tempo para me livrar do colete ortopédico que usei.
Respiro fundo, Clóvis incia os exercícios localizados, específicos para a minha lesão na coluna. A terceira e última parte são as mais cansativas e difíceis de se realizar Tento focar ao máximo, a presença da Marjorie é perturbadora e ao mesmo tempo instigante. Serve de estímulo para prosseguir. Quem sabe ela não traz sorte e hoje é a última vez que o prático.
— Tem certeza mesmo que não quer tentar? - Tombo o corpo para trás, esperando desesperadamente a sua resposta, e nada. Marjorie deve estar insegura. — Eu oriento. - Isso… Boa!
— Não, eu vou ficar só assistindo mesmo.- Balanço a cabeça frustrado, sorte ter um buraco na maca para enfiar a cabeça. Anda logo, termina com essa sessão de uma vez. Porque ele não continua? — Você deveria fazer uma tatuagem para cobrir essa cicatriz, Thiago.
— Deus me livre – Estranho sua observação e estremeço com o toque em seguida. Há algo errado, muito errado. Suas mãos passeiam pelo meu corpo, tateiam-me com cuidado e delicadeza. É ela. São delas, as mãos que massageiam minha coluna, próximo a região fraturada. Por isso a pergunta.
Como controlar o que eu estou sentido? Calada, Marjorie continua a massagem. A sensação dos seus dedos percorrendo o meu corpo, arrepia e sem que eu possa conter sinto a pele queimar. Controle-se, imploro a mim mesmo.
Aguçando os sentidos, tento ouvir o que eles conversam. Ele orienta, ela pressiona com mais força. Gemo baixo. Odiaria se precisasse me virar agora. Seria no mínimo constrangedor.
— Thiago… - ignoro. — Thiago, acho que ele está suficientemente relaxado agora, Marjorie, você pode parar. - Ah… não!
— Não, não… - Viro-me. — Agora que estava ficando bom, você manda parar – protesto. — Continua, Mah, essa fisioterapia nunca valeu tão a pena como hoje. - Seu rosto cora com o meu elogio, e mesmo querendo que ela continue, não a obrigo. Desço da maca, buscando pela minha camiseta.
— Ah… muito obrigado, Thiago… - Enquanto calço os meus sapatos, Clóvis se lamenta. — É essa a paga que eu mereço por aturá-lo durante quase um ano inteiro viu, Marjorie.
— É um ingrato ele, você não sabe? - Ingrato, eu?
— É realmente, eu vou ter que concordar com você, Thiago é um ingrato. Não devo contar que essa é a sua uma sessão, devo?
— Ah é!? - Coloco os óculos, revirando os olhos para ambos. — Cê tem certeza que vai mesmo concorda com ela, Clóvis?
— Vou. - diz com uma troca de olhares com a Marjorie. — Só mais uma coisa, antes que eu me esqueça, você está liberado para dirigir.
— Finalmente, última consulta, achei que você não fosse me liberar nunca. Obrigado por hoje, te devo essa, cara.
~*~
— Toma. - Quando saímos da clínica, Marjorie para em frente a porta do carona e arremessa a chave na minha direção. Pego-a no ar. — Pronto pra voltar a dirigir?
— O quê!? - exclamo atônito. — Hã… você tá…
— Vai nessa – Seus olhos fitam os meus em expectativa. —, quero ver se você ainda sabe dirigir, não desaprendeu, não?
— E-eu não – Balanço a cabeça negativamente ao abrir a porta —, mas não… - Volto minha atenção para ela, percebendo o sorriso no canto da boca. É um desafio. — Você tá me desafiando? - Ela tenta disfarçar ocupando o lugar que antes era meu, mas o sorriso ainda brinca em seus lábios.
— Tô e aí? Você consegue chegar em casa. - Confortavelmente acomoda, ela liga o som.
— Consigo – soo o mais convicto possível. Não nego que estar nessa posição depois de tanto tempo não me cause arrepios. Eu já fiz isso antes então… — O que foi? Você tá se amarando assim porque, não confia em mim?
— Confio. - diz ajustando o cinto ao corpo. — Tô só me precavendo - Diverte-se. —, vai que… você dá uma rateada.
— Eu te amo. – Num impulso, seguro o seu rosto entre as mãos, não consigo evitar, beijo-a no topo do nariz. —, você acaba de me dar uma ideia. - Eufórico, puxo o cinto e dou a partida. Sem olhar sua expressão, acelero ao máximo.
— Thiaaaago.
— Que foi!? - Sorrio. — Você não confia em mim!?
— Não… não, nenhum pouco, para com isso.
— Curte o vento no rosto, Marjorie – peço, abrindo as janelas. O vento sacode os cabelos para frente, a impedindo de enxergar. No mesmo instante, ela prende-os com a mão, implorando.
— Eu curto, mas diminui a velocidade, por favor. – Por sorte, a sinaleira me obriga a parar. Marjorie respira aliviada. — Não sabia desse seu gosto por alta velocidade.
— Arrependida de ter dado o carro pra mim, Marjorie? - Toco sua mão antes do sinal abrir. Seus olhos fecham com o contato.
— Não, imagina – ela suspira, apertando seus dedos contra os meus. Lamento ter que soltá-los para voltar a dirigir.
— Que bom, porque a adrenalina só está começando, aonde nós vamos têm mais, muito mais adrenalina.
— Aonde nós vamos, espera aí, a sua casa não é para este lado. – Enfim, ela se dá conta.
— Eu sei… - Mantenho o foco na estrada. Marjorie estava tão atordoada que mal percebeu a mudança de rota. — Eu não estou indo para minha casa.
— Thiago Fragoso, aonde você está me levando, anda, fala.
— Espera pra ver, você vai gostar.
~*~
— Um cartódromo, Thiago, jura que você vai andar nisso? - Não sei porque o espanto na voz. Acompanhando seu olhar, vislumbro a pista de curvas acentuadas com pouco movimento no momento e afirmo
— Eu, só não, você também.
— Eu não sei andar nisso.
— Tem aula, em dez minutos você pega a manha. É mais fácil do que dirigir carro, você sabe dirigir carro, não sabe?
— Sei, é claro, que eu sei.
Depois da breve aula com o instrutor e de receber as dicas e os equipamentos de segurança, estávamos pronto para adentrar a pista. Devidamente uniformizados com macacão e capacete, esperávamos apenas a volta de dois outros visitantes terminar para enfim iniciarmos a nossa.
Arrumo o seu capacete, mostrando a ela onde fica o freio. — Esse é o freio. – Preciso me certificar de que ela saiba exatamente onde é. Não quero correr riscos. — Você usa quando eu fizer sinal para você me deixar passar.
— Você não deveria me mostrar onde fica o acelerador, porque é isso o que eu tô a fim de fazer. Acelerar.
— Quem te viu, quem te vê, hein? - Arregalo os olhos, surpreso. — Tô achando que você já saiu perdendo nessa – Ela ri autoconfiante. Autoconfiante, o bastante para apontar o dedo na minha cara.
— Você, meu amigo, é que já perdeu.
— Não canta vitória antes do tempo, não. - Aproximo o meu rosto do seu, juntando nariz com nariz. — Vamos decidir isso na pista, pronta?
— Eu nasci pronta.
Damos a partida juntos.
Acelero. Não costumo pensar quando estou correndo, é um hábito corriqueiro. Esvazio a mente e relaxo os músculos. Mente e corpo trabalham juntos, é a melhor sensação que se pode ter, além é claro da brisa do vento batendo no rosto enquanto se realiza a curva.
A primeira regra de uma corrida é: nunca encoste para deixar alguém passar; obrigue-a a passar você. Marjorie sem saber cumpria esta regra. Precisaria mais do que a velocidade de 65 km/h, em que estou agora, para ultrapassá-la. Quem mandou dar colher de chá e deixá-la sair com vantagem?
Completo a curva para esquerda, sigo em linha reta, outra curva para esquerda, mais uma para direita e enfim a oportunidade que esperava: Uma longa linha reta, perfeita para se ultrapassar, Acelero, terminando a curva em primeiro lugar.
— Que fique claro, que você só ganhou porque eu tive medo de completar a curva – protesta ela, livrando-se do capacete, aos risos.
— Medo de completar a curva – dou risada. —, é essa a sua desculpa, ah conta outra, Mah.
— Você podia ter deixado eu ganhar, idiota. - Gira o corpo na minha direção, esbarrando a mão no meu peito. Fito seus olhos. O que ela quer? Me afastar ou me manter por perto?
— Porque, o que eu ganho com isso? - Me aproximo. Sua respiração está tão ofegante quanto a minha. Por um segundo penso que ela vai recuar, mas então diz.
— Um beijo
— Um beijo… – Minha boca trava, entreaberta, não escondo a frustração. — Ah, Thiago como você é burro… Perai, Mah – Negocio-o comigo mesmo uma alternativa, uma chance de reverter a jogada. —, vamos ali rapidinho, só mais uma volta?
— Não precisa… - Ela segura minha mão. — Você quer um beijo – Se inclina para a frente. Está perto, perto demais. —, eu te dou. - Fecho os olhos. Posso sentir seu cheiro, posso sentir seus lábios… O beijo.
— No rosto!?
— Amigos se beijam no rosto. – Estou tentando parecer indiferente ao seu sorriso brincalhão. Quero fazer tanta coisa. Gritar. Puxar ela de volta e retroceder ao beijo, mas tudo o que faço é ficar parado ali, odiando o fato de sermos simplesmente amigos.
— Amigos, agora nos somos amigos?
—Sempre fomos
— Ah… Amigos, amigos aceitam conversar, certo? - Pouso as mãos nos ombros, viro, conduzindo-a até a porta da lanchonete. Marjorie não diria não a um bom lanche. Bom, é o que eu espero.
~*~
— Uma água sem gás para mim, por favor. Cê vai querer o quê? - Olho para ela e me distraio por alguns segundos. — Aproveita que hoje eu estou pagando o lanche, o almoço, a janta… Sei lá eu, o que mais eu estou devendo.
— Você me deve tanta coisa, Thiago – Ah… droga, eu não esperava por essa. Mesmo com o rosto coberto pelo cardápio, sua expressão é tão cheia de sinceridade, que evito encará-la. Sua indecisão ao fazer o pedido me incomoda e acabo escolhendo por ela.
— Pra ela só um suco de uva está bom. - peço, vendo-a revirar os olhos, mudo rapidamente. — É qualquer um, menos esse, amigo. - Ainda lembro do incidente com o suco o que ele causou depois. — Marjorie, sobre a Mariana, eu…
— Qual era o nosso acordo? - Ela esfrega os olhos e expira resignada.
— Nada de falar sobre os nossos problemas, eu sei, mas eu quero que você entenda, a Mariana e eu, nós não temos mais nada a um tempo, a um bom tempo já. – Eu busco pela memória a data exata em que de fato as coisas degringolaram de fez e estremeço.
— E a gravidez?
— A Mariana não está grávida, ela falou aquilo para te provocar, Marjorie.
— Como você pode ter tanta certeza?
— Eu tenho, Marjorie, tenho porque… Você não vai atender, pode ser
— Não, e antes que você pergunte, não é o Leonardo. - Nossa, para quem não queria tocar no assunto, ela está bem interessada em esclarecer.
— Eu não disse nada. - Sorrio meio torto, tentando parecer casual. Ela retruca:
— Mas pensou. - Obvio que pensei.
— Não, eu só ia dizer que podia ser importante, só isso. - nego controlando a minha apreensão.
— Não é. - explica, tomando um gole do suco de laranja, que veio junto com o pedido de hambúrguer e batata frita. — É só um número chato que fica me ligando o tempo todo, e toda vez que eu atendo não diz nada.
— Mariana. – Engasgo, levando água goela a baixo.
— O quê? - Arregala os olhos, limpando os lábios com o guardanapo. — O que você disse? - interroga, vasculhando a bolsa.
— Não, nada, eu só pensei alto… - Baixo o olhar. — Eu só queria dizer que… Por que os óculos?
— Vai dizer que você não sabe? - diz como se fosse a coisa mais obvia do mundo. Não é um dia ensolarado para ela querer usá-lo, então não, eu não sei.
— Não, não sei, explica.
— Deixa eu ver se eu consigo explicar – para com os cotovelos sobre a mesa. —, olha em volta, Thiago – inclina o corpo para frente e sussurra —, nós estamos em público, reparou na quantidade de pessoas circulando. - Me inclino para frente, aproximando nosso rosto.
— E daí? -– Dou uma batidinha no lábio com o dedo indicador, olhando para ela.
— E daí – suspira, jogando o corpo para atrás. —, que eu não quero ser vista com você.
— Ah, e os óculos vão ajudar? - suponho controlando animação para apenas provocá-la — Achei que você não ligasse para mídia sensacionalista.
— E não ligo, não quando apenas o meu nome está envolvido.
— Você não acha que eu deveria estar mais preocupado com isso do que você e, no entanto, eu estou aqui com você
— É mais fácil para você.
— Por que?
— Porque você é um homem tecnicamente casado.
— E você uma mulher tecnicamente solteira.
— O motivo da sua separação – Com os olhos entristecidos e a voz seria, ela reconhece, — Marjorie Estiano, a destruidora de um lar, de uma família linda e feliz, é assim que vão tratar o caso
— Os idiotas vão – eu me apresso em dizer. — Eu não posso simplesmente está conversando com uma amiga?
— Há quilômetros de distância do Projac? - Ela arqueia as sobrancelhas, indecisa. — Pode, você pode… mas não é o que eles vão pensar.
— E o que eles vão pensar, me diz?
— Provavelmente que eu sou a culpada, eu o envolvi, se não fosse ela, estaria tudo bem, ele estaria feliz com a mulher e os filhos. - Seu pensamento não me agrada.
— Ata, eu não tenho opinião própria. - reviro os olhos, frustrado. — Eu fui simplesmente seduzido por você? - Alcanço sua mão sobre a mesa, toco-a com carinho. — Não é um pouco de mais não, Marjorie
— Eu não estou dizendo isso, Thiago, mas é o que a maioria das pessoas pensa ou vai pensar. - remenda. — Que outro motivo você tem para se separar, pensa?
— Muitos, eu tenho muitos, mas você continua sendo o principal. - Eu admito, olhando fixamente para ela. Sua mão ainda está unida a minha e isso é um bom sinal. Tenho certeza que ela sustenta o meu olhar, eu gostaria apenas de poder enxergar a tonalidade que seus olhos adquirirem por trás das lentes escuras.
— Entendeu agora porque os óculos? - É… Eu acho que entendi. É perturbador.
— Eu acho que você devia tirar.
— De jeito nenhum, vou perder toda a graça. - Marjorie ri, levando a mão até o meio da testa, o ajeitando com delicadeza a altura dos olhos.
— Que graça, doida, não tem graça nenhuma, tira. - Avanço em direção ao seu rosto. Ela é rápida ao se esquivar, mas estou determinado em tirá-lo dela.
— Thiago, tira uma foto comigo – Hã? O quê!? —, sou sua fã.- Paro subitamente antes de dizer algo, olho para a Marjorie. Talvez os seus receios estivessem certos e nós deveríamos evitar lugares como esse.
— Claro – Sorrio gentil ao me levantar.
— Eu tô amando o Edgar. - diz a moça acompanhada de uma amiga. Seu sorriso é meigo, eu sorrio também em retribuição. — Você e a Laura formam um casal incrível. É o melhor da novela.
— Obrigado. - Abraço-a. A amiga dispara o flash uma, duas ou três vezes na nossa direção. — Eu também acho, viu? - concordo autografando uma folha de papel.
— Eu tô cho-ca-da – Ela me encara por uns segundos como se não acreditasse no que acabou de acontecer —, elas não me viram aqui!? - Sim, é possível Marjorie Estiano ser ignorada.
— Chateada? - pergunto abafando uma risada.
— Muito… Ofendidíssima. - Ela sorri e balança a cabeça. — Deve ser meu óculos com poder de invisibilidade, só pode – Conclui sarcástica.
— Falei para você tirar – eu emendo
— Toma cuidado, vão achar que você é um louco falando sozinho.
— Eu sou um louco por gostar de você.
—Thiago. - Seu rosto está fascinante de uma forma irritantemente bonita. Tenho que me controlar, não posso deixar a conversa morrer.
— Humm, e com você – começo. —, como são suas fãs… Tão loucas quanto as minhas?
— Ah são, loucas talvez não, mas menos cegas com certeza – opina ela — Se me vissem com você não deixariam passar. - Uma informação relevante. Gosto de saber.
— Tem toda razão. - assinto. — Vai vê ela não era uma Laured shipper tão fanática assim.
— Com certeza, não.
— Até porque se fosse iria encher a gente com perguntas:
— Dá uma chance pro Edgar, perdoa ele, vai, volta logo para casa.
— Eu concordo com as fãs, a Laura tem que voltar logo para casa, você também, vamos? - digo, empurrando a cadeira ao me levantar. Marjorie faz o mesmo não sem antes perguntar
— Onde? - Com canudo entre os dentes ela bebe o restante do suco sabor puro gelo sem laranja de forma barulhenta
— Pra casa – respondo, me distanciando da mesa. Estou de costas para Marjorie, mas consigo prever seus passos:
— Humm – Ela para enfim de fazer o barulho irritante com canudo, larga o copo, pega a bolsa pendurada na cadeira, aperta o passo e pronto está ao meu lado mandando. — Me devolve a chave, eu vou voltar dirigindo.
— Nem pensar - Aperto a chave no meu bolso e continuo andando —, nada feito.
— O quê? - Vira o rosto e me encara. — É sequestro agora? -
— É, - Dou um sorrisinho. —, só devolvo quando chegarmos em casa.
— Se é assim, eu não tem escolha, bora.
~*~
— Você não vai me convidar para entrar? – eu pergunto depois de um tempo estacionado em frente ao seu prédio.
— Você quer entrar? – Engole em seco. Se ela soubesse o quanto é linda e o quanto eu a desejo nesse exato momento.
— Quero, você não quer?
— Eu quero, quero muito. – Seu corpo inteiro reage. Ela me beija fundo, o beijo mais doce que já recebi, seus lábios adulam os meus e eu mal posso esperar para tê-la em meus braços.
#Capítulo48#FanficThirjorie#UmaAmizadePodeMudarTudo?#ThiagoFragoso#MarjorieEstiano#Laured#LadoaLado#LauraeEdgar
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As Laureds mandam e-mails curiosos para os autores, não entendem por que os dois não estão juntos. E, nas ruas, as pessoas me abordam e falam: "Mas por que eles não estão juntos? Isso é um absurdo, por que você não fica logo com a Laura?"
Thiago Fragoso sobre as fãs Laureds
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Feliz dia internacional da mulher para, nós, mulher. Em especial, a minha amiga Fernanda Schmitt, a quem eu dedico, finalmente, um capítulo. Seu aniversário é dia de 19, ainda faltam alguns dias, é verdade, mas como presente bom, é presente adiantado. Eu me antecipei afinal não é preciso esperar datas para presentar uma amiga querida.
Essa moça de sorriso fácil, olhar encantador e bochechas rosadas. Que sempre me incentiva a escrever. Mais do que comentar em cada capítulo, ela vai além e me faz sentir a melhor pessoa do mundo com seus elogios sempre tão carinhos.
Fiz um versinho para você, aqui, simples mas de coração ♥
21 de janeiro de 2013
Por Thiago
Ligar para Marjorie não foi uma boa opção e apesar dos meus pensamentos conturbados a noite passada, eu levantei cedo – pra ser honesto, eu mal dormi – depois de mais uma discussão com a Mariana.
Estava no Projac mais cedo do que o de costume. Com os fones no ouvido, ouço So Easy, torcendo para encontrá-la antes de iniciarmos as gravações – precisava vê-la, apenas assim acalmaria meu coração –, entretanto quem eu encontro correndo pelos corredores é a pequena Eliz.
— Vamos tira uma foto, minha prima quer tirar uma foto com você.
— Vamos… - Sorrindo, pego-a no colo. - E eu não ganho nenhum abraço? - resmungo a abraçando apertado, antes mesmo dela dizer que sim.
— Ai, meu pai, a foto.
— A foto – Faço uma cara tristonha e a coloco no chão. —, aonde vocês querem tirar a foto, aqui, pode ser? - pergunto, jogando o fone de ouvido sobre o ombro.
— Não, tem que ser lá no estúdio. - Eliz adianta, puxando-me pela mão, ela corre até o estúdio e o invade sem a menor cerimonia.
— Eliz, estão gravando, aqui.
— Não estão, não, eu já verifiquei.
— Verificou? - Olho para ela impressionado. Bia Seidl, Isabela Garcia, Rhaisa Batista e Anna Sophia Folch terminavam o ensaio no momento em que tiramos a foto.
Enquanto Eliz se diverte pelo cenário, mostrando cada mínimo detalhe a prima Francielle. Anna e eu conversamos sobre a repercussão da sua personagem, a Heloísa.
— Vamos liberar o estúdio… Chega de foto, Eliz… - berra o Dennis. — Vamos gravar, acabou a farra.
Claro que a nossa festa não durou muito, saímos do estúdio correndo, Eliz ainda me olha amedrontada, mas eu estou rindo. Dennis é do tipo que faz brincadeira em tom sério, não há com que se preocupar, explico e em segundos ela e a prima estão rindo novamente. Quem também está dando risada por um motivo que eu desconheço é a Marjorie.
— Marjorie… Marjorie… - Eliz corre ao encontro dela. — Vamos tirar uma foto? - pede a abraçando pela cintura.
— Mais uma… - Marjorie sorri, afagando os cabelos da pequena. — Gostei do óculos – diz de repente, sustentando o meu olhar.
— E eu do lenço no pescoço. - retribuo, vendo-a corar — Ficou lindo. - Estranhamente lindo, Marjorie nunca usou o lenço desta forma, que até ela parece estranhá-lo.
— Marjorie, a foto.
— Ih, Eliz, você já tá com figurino e eu assim? - brinca, se referindo a própria roupa. — Essa foto vai ficar maneira. – Com um sorriso no rosto, elas fazem diversas poses para a foto. Me distraio com a cena, é difícil saber quem ganha no quesito caretas. Dando uma de fotografa particular Francielle registra as poses uma a uma.
— Vai lá, deixa que eu tiro a foto – digo com o meu celular em punho. Não perderia esse momento por nada.
— Obrigada. - Francielle ainda me entrega o seu celular antes de sair correndo e abraçar a Marjorie. Alguma dúvida se não é fã? — Ah, Thiago, eu adorei a entrevista que você fez com a Eliz no Vídeo Show.
— Vocês deram uma entrevista pro Vídeo Show? - Marjorie olha para mim depois para Eliz. — Você deu uma entrevista e não me conta nada é, dona Eliz?
— Ué, meu pai, precisa?
— Precisa ué… Me diz, você falou de mim?
— É… - Balança a cabeça. — Falei…O Thia- - Forço um pigarro antes que a Eliz me entregasse. Nós tínhamos combinado de não contar nada a Marjorie. Não sem que nós, dois, estivéssemos juntos. No fundo, eu não queria que ela soubesse da matéria, essa é a verdade.
— Humm… - Ah… se eu não conhecesse aqueles olhos curiosos. — Então, eu quero ver – pede animada. —, cadê?
— Aqui… eu tenho, olha. - Francielle mostra o vídeo salvo no seu celular. As vezes, só as vezes, eu me questiono se fãs existem mais para atrapalhar do que ajudar. Nesse caso, em específico, devo considerar ajuda? Sim, pelo modo como ela sorri ao ver o vídeo, eu devo considerar.
— Ah, quer dizer que eu sou… muito fofa, legal e gente boa?
— É o que a Eliz acha. - Faço graça e disfarço. Nós estávamos acompanhados da prima da Eliz. Se não fosse por ela, diria o que penso, mais do que isso lhe daria um beijo porque esta é a minha vontade desde que a vi chegar.
— Ãrrã – sussurra perto dos meus lábios. Estou me segurando para não pôr a mão em volta da sua cintura e trazê-la de uma vez para mim.
— Você é bem mais do que isso, você sabe…
— Sou? - Fecho os olhos quando sinto sua testa colada a minha, estou brincando com fogo… E vou me queimar.
— É - Aproximo nossos lábios, delicadamente peço passagem para beijá-la da forma como quero. Com os lábios cerados, ela me diz não. Alguém enfim tem juízo, e não sou eu. Quero quebrar sua resistência, vencer sua teimosia e no exato momento em que estou quase lá, Eliz pergunta:
— Vocês estão namorando?
— Não. Estamos. - respondemos em uníssono, cada um, uma resposta. — Estamos – afirmo sorrindo. —, não conta para…
— Estamos?
— Estamos.
— Desde quando? - Gosto do misto de alegria e confusão que vejo no olhar dela. — Que novidade é essa?
— Desde sempre, desde que eu te beijei pela primeira vez. - Toco o queixo com o polegar, mirando os lábios. É impossível não querer beijá-los. — Não vejo nenhuma novidade nisso.
— Thiago, você… – Agarra o meu pescoço e me beija, as mãos no meu cabelo, fazendo voltas iguais ao que a língua dá enquanto desliza suave sobre a minha. Porque quando ela resolve me beijar é sempre melhor? Onde estão a sua resistência e preocupação agora?
— Marjorie – Mordo o lábio. —, a Eliz.
— Ela não tá vendo – murmura, os lábios ainda próximos aos meus. Eu odeio decepcioná-la, mas estava sim.
— Estou sim. – Marjorie revira os olhos para mim, suspira e volta-se para Eliz, sorrindo.
— Acho que você grava agora, mocinha. - Ela pisca discretamente para a Francielle, que subitamente entende o recado, nós deixando a sós.
— Como foi o seu jantar? - pergunto a abraçando pelo ombro.
— Bom.
— Bom… - Encaro-a. — Só isso?
— É, e o seu como foi? - Paramos em frente ao seu camarim.
— O meu… O meu, é… Será que nós podemos voltar para a parte em que eu namoro você?
— Acho bom…
— Bom, só não, é… - Abro a porta e a empurro, levando-a comigo, beijo-a.
— A porta – murmura entre dentes. — Ta… Aberta.
— A porta – Voltamos para fechá-la. Dou um empurrão com o pé, sem me desvencilhar do seu abraço dou um beijo delicado no lóbulo da sua orelha. Corro o nariz pelo pescoço até o ombro, e volto sentindo o seu cheiro. Desato o fino nó do lenço, sinto-a tensa, olho para ela e com a boca aberta provo da pele livida, que com beijos ganha vida, tons e mais tons do que a simples palidez ou vermelhidão. — Que marca é essa no seu pescoço?
— Marca, que marca?
— Essa aqui, Marjorie.
— Ah, é torcicolo.
— E torcicolo deixa marca desde quando, Estiano Marjorie? - Meu sangue ferve, olho para ela furioso. — Isso ai tá parecendo um … e dos bons. Jantarzinho animado esse o seu, hein?
— Thiago, por favor.
Não dou ouvidos aos seus apelos, bato a porta atrás de mim e saio dali o mais rápido que os meus pés conseguem andar. Precisava ficar a sós. Coloco o fone de ouvido e rumo para o meu carmim.
Você não espera relaxar com uma música dela, né imbecil? Não adianta por mais que tente desviar o foco e lute para não pensar nela… Nela e naquele amigo idiota …. Amigo, ele tudo menos o que se pode chamar de amigo. Amigo da onça, é o que ele, para dar aquele chupão de deixar marcar. Ah… tudo me persegue: da sua imagem até a maldita música no celular. Troco de faixa para não ouvir mais o som da sua voz.
Droga, Marjorie, porque você fez isso? Não quero pensar, mas, ao mesmo tempo, estou pensando, ninguém faz nada sem o consentimento do outro. Se ela está com aquela marca grotesca no pescoço é porque permitiu, quis ou até desejou.
Marjorie se divertindo… E-eu… acabando o meu casamento por causa dela. Talvez eu não tenha feito a escolha certa. Mariana, será que ela está realmente grávida? Será que a Marjorie ouviu parte da conversa e…
Flashback
— Nós precisamos conversar. – Existe forma mais calhorda e cretina para começar uma conversa do que esta. Não, provavelmente não, mas é a única que eu consigo usar no momento.
— Que bom que você lembrou… Fico feliz que você tenha conseguido lembrar o caminho de casa, que tem uma ao menos. Ah… não, sua casa agora é outra, esqueci. Como foi a sua noite? Cuidou bem da sua Marjorie. - Ela está usando do seu tom irônico, eu sei bem o porquê.
— Mariana… - Olho para ela, o rosto inchado, os olhos vermelhos de tanto chorar. Não consigo falar. Nunca me imaginei nessa situação. Nunca imaginei que esse dia um dia chegaria, mas chegou. Sentado no sofá da sala eu a observo foliar o livro. Um gracioso divórcio é o que está escrito na capa, logo acima de uma fotografia propositadamente embaçada de duas mãos que se separam uma da outra.
— Escuta isso - diz ela e começa a ler:
O propósito do ritual de separação é substituir animosidade por harmonia. É uma mensagem que mostra que fechar a porta do casamento não significa fechar a porta do amor que sentem um pelo outro. Mostra que não importa para onde suas vidas levarão cada um de vocês dois a partir daqui, vocês sempre permanecerão conectados em seus corações…
— Irônico, não é? Ler isso justo hoje… - suspira, fechando o livro. — Eu só não sei se eu acredito realmente nisso, você acredita? - Estou me sentindo o pior dos homens. Culpado por amar demais alguém e por conta disso fazer outra sofrer.
— Mariana, quanto a nós, eu não sei, mas pelo Benjamin, nós podemos manter o amor. - Engulo em seco, não digo mais nada. Sempre foi assim na nossa relação. Ela fala, eu escuto.
— É… é o que eu imaginava que você fosse me dizer, mas eu não concordo, não aceito. Não vou me separar de você, Thiago, eu te amo. - Desvio o olhar incomodado, e no mesmo instante ela diz, cortando a distância entre nós. — Olha pra mim: Isso que você sente por ela é passageiro, vai passa, é amor de novela… - Dou um sorriso meio torto, suas mãos estão carinhosamente no meu rosto enquanto prossegue. — No máximo, é excesso de amor e dedicação ao seu trabalho, ao que você faz. Você vai ver quando tudo isso acabar, eu estou certa – suplica. — Olha para mim, Thiago, e diz que eu posso ficar tranquilha, que isso é só mais uma das suas aventuras malucas. - Aventura maluca?
— Não, não é uma aventura maluca, Mariana – Tiro suas mãos do meu rosto. —, eu adoraria que fosse, que fosse simples assim, mas não é. Não pensa que está sendo fácil admitir isso a você porque não é. Foi difícil para mim também. - Inspiro o ar e respiro fundo. — Eu tentei lutar contra esse sentimento, pensei em você, no nosso casamento, no nosso filho, na nossa vida e em tudo o que nós vivemos. Eu fracassei…. É mais forte do que eu….
— É assim que termina? - Para na minha frente. — É mais forte do que eu, é essa a sua justificativa para me convencer a pôr um fim ao nosso casamento - esbraveja. — Ah… Thiago seja homem e assume pra você mesmo, pelo menos uma vez, que você ama outra, cretino.
— Eu amo a Marjorie… - As palavras saem subitamente da minha boca. É um alívio poder dizê-las. — Se é isso que você precisa ouvir para me dar o divórcio eu digo e repito quantas vezes forem necessárias: Eu amo a Marjorie e nada nem ninguém vai me impedir de ficar com ela. - Acho que exagerei. Mariana está perplexa, não diz nada, apenas me olha furiosa.
— Uhru, agora sim, eu estou vendo um homem de verdade na minha frente. - Aplaude de repente. — O que mais, vai continua… Cê vai dizer que eu não presto, que ela, sim, é maravilhosa. Que o nosso amor acabou não sei, quando… mas nós podemos continuar sendo bons amigos pelo bem do nosso filho. - Ah… voltamos ao tom irônico de antes.
— Ah… Mariana, por favor.
— O que foi, não é isso, eu falei alguma coisa errada? - Reviro os olhos para ela, puxando o celular do bolso. Marjorie não retornou as minhas ligações. — Não é isso o que você quer, Thiago, um divórcio amigável. Pois saiba que eu não vou facilitar em nada a sua vida, ouviu?
— Humm… - murmuro antes de atender o telefone. — Oi, Mah, só um minuto. Não posso falar agora. - Saio da sala ouvindo os protestos da Mariana.
— Você acha que eu estou brincando? - Vou até a cozinha. Não estou muito longe da Mariana, ainda ouço sua voz exaltada da sala.
— Agora posso, fala. - Diante do seu receio, insisto. — Marjorie, amor, fala… - Faço questão de pronunciar seu nome. Não tenho mais porque fingir. — Quê? - Ela é o meu amor, mesmo assim não consigo dizer que a amo. — Mah, eu… - Ela então começa a cantar. — Você bebeu de novo, Marjorie? - sussurro preocupado. — Que aposta? - sussurro de novo. Mariana está ao meu encalço. — Eu…
— É ela? - questiona abruptamente, arrancando o celular da minha mão. — Eu tenho uma ótima notícia para contar… - Ótima notícia…
— Mariana, me dá o celular – grito exasperado.
— Calma, meu amor, deixa eu contar a novidade. - Ah, o que ela vai inventar agora? — Acho que você vai gostar de ouvir: Eu estou grávida. - Antes que ela invente mais uma loucura, recupero o celular.
— Mariana, meu… Deus, você enlouqueceu... Você não pode estar grávida!? É brincadeira…
— Eu estou com cara de quem está brincando, Thiago!? Claro que eu estou grávida. - Mentira… Mentirosa, como pode ser tão sínica. Meu pulso acelera, meu sangue corre mais rápido, estou me controlando para não explodir de raiva.
— Ah, jura… - Reviro os olhos, impaciente. — É o quê? Milagre do Divino Espirito Santo, porque eu não fui… Eu não toco em voc-
— Thiago, você está me ofendendo. - Sua cara de choro, não me convence. Quem está ofendido e revoltado aqui, sou eu.
— Ah, desculpa… Você é a nova Maria, Cristo veio nos salvar, aleluia. - Uso do puco cinismo que me resta. — Ah, me poupe, Mariana, você não está grávida coisa nenhuma. O Benjamim tem só um ano, mal vai completar dois. Que eu saiba seus planos não são esses.
— Os planos mudam, sabia? Especialmente quando o marido está claramente interessado em outra mulher. Você acha que eu sou cega, que eu não percebi o seu interesse pela Marjorie desde o incio. Eu vi esse amor antes mesmo de você. O que eu podia fazer, senão usar de outros métodos para alcançar o meu objetivo.
— Não, você não usou… Sem a minha autorização, Mariana, você não pode usar o material da clínica de fertilização sem o meu consentimento.
— Quem disse que não, Thiago, quer pagar para ver – provoca. — Eu não acredito que um pai tão dedicado e amoroso como você vai abandonar seus filhos, vai?
— Abandonar, nunca. Eu nunca vou abandonar o Benjamin, nunca. - Me desespero. Não gosto do tom de ameça na voz dela.
— Ah é… Tem certeza, porque é isso o que você vai fazer se escolher ficar com aquelazinha que você diz que ama.
— Você não faria isso.
— Você não me conhece, meu amor, não sabe do que eu sou capaz por amor a você. Você quer ficar com Marjorie, não quer? Fica e vamos ver o que acontece com as pessoas que você mais ama.
~*~
— Bora trabalhar, Thiago. – Desperto dos meus devaneios com os gritos do Lázaro. — Você ainda tá assim – repreende. — Bora, o Dennis…
— O Dennis espera! - resmungo, esfregando os olhos, com ânimo zero para terminar de me arrumar.
— O Dennis nunca espera! – grita de novo, já no corredor. Visto o paletó, pego o roteiro e bato a porta ainda a tempo de alcançá-lo no fim do corredor.
— Já te disse que você é o pior colega de cena, hein seu filho de uma…
— Olha os modos, loirinho, isso é racismo e eu posso te processar.
— É racismo, eu te chamar de…. – Caio na gargalhada. — Ata.
Olho o roteiro, tenho seis cenas hoje. Uma com Lázaro, outra com a Bia, duas com Emílio e outras duas com a Marjorie. Dia cheio, ótimo. As cenas com a Marjorie estão programadas, uma para o período da tarde e outra a noite. Melhor assim, até lá eu ganho tempo para por minhas ideias em ordem.
O dia correu normalmente, como tinha que ser, gravei minhas cenas com Lázaro e Bia na parte da manhã. Almocei com Emílio e contei a ele sobre o ocorrido mais cedo. Ele me disse que eu estava sendo infantil por sequer ouvir o que a Marjorie tem a me dizer. Dizer o que? Que não tem culpa do amigo que tem? Não acho que seja infantilidade da minha parte. Se ele visse o que eu vi entenderia a minha indignação.
As três da tarde começamos os ensaios novamente. Leio o script enquanto o Vinícius passava as marcações da cena para Marjorie. Nós, dois, não conversamos muito, mas a julgar pelos nossos ânimos alterados não seria difícil gravar a cena.
INT. RUA DO OUVIDOR – TARDE
EDGAR e LAURA se encontram no meio da rua e trocam acusações.
— Oi, Laura. – Comprimento a, com as mãos enfiadas no bolso da calça.
— Oi, Edgar.
— Quanto tempo?
— É… É desde que você… - Baixa a cabeça, passa a língua entre os lábios, levando as mãos a altura das sobrancelhas. — Acabei de encontrar com a sua mãe. - Encara-me, impaciente.
— É… Ela tá bem? - Tento não olhá-la diretamente nos olhos, afinal é só um ensaio.
— Ela tá, me diz que voc-
— Você tá bem? Não, não precisa responder, não, deve tá muito bem. - Os gestos com as mãos são automáticos, antes que Vinícius instrua, executo.
— Tô, tô bem, sim – ela diz enfática. Seu jeito de falar me impressiona. E outra vez misturo realidade e ficção.
— Ótimo! - finjo desinteresse.
— Cada vez melhor. - salienta. E como… A maquiaram bem, o hematoma no seu pescoço é impercebível.
— Maravilha, não esperava outra coisa. - Olho para ela, irritado e me cobro por isso.
— Quer saber o porquê? - ela pergunta e faz uma pausa. Olha para o Vinícius pedindo socorro. Arregalo os olhos. Ela esqueceu o texto? Vinícius então diz a fala completa de Laura, pedindo para repetirmos as três últimas falas e assim o fazemos até chegar ao ponto em que paramos. — Porque você não esperava outra coisa? - Sua voz é mais calma, mas nem por isso menos ressentida. — Queria que eu estive mal?
— Não, claro que nã- - gaguejo aflito.
— Que eu estive péssima? - retruca. — Ao contrário de você, Thiago, eu quero que você fique bem. - E paramos de novo. Vinícius olha para ela e pergunta se é preciso interrompermos o ensaio.
— Precisa de dez minutos, Marjorie? - ela nega. — Então concentra, por favor – pede ele antes de retomarmos a cena.
— Ao contrário de você, Edgar, eu quero que você fique bem. E pelo que diz a sua mãe, você já tá. - Boquiaberto, exclamo:
— E-eu tô bem!? - Aponto o indicador para mim mesmo e depois para ela.
— Que bom… Então eu posso ficar… - Nós já não esperávamos um ao outro para falar. Essa é a proposta da cena, o que deixa tudo mais divertido. Não que eu esteja me divertindo.
— Quê foi que minha mãe disse? - Cruzo as mão em frente ao corpo. — Minha mãe disse o quê?
— Também porquê eu ia me preocupar? - fala consigo mesma, as mãos imitando uma pinça. —Cheguei achar que você tivesse aborrecido.
— Eu achei que você tava aborrecida comigo – acuso. — Você que nem tava pensando. - interponho a sua fala.
— Você nem ao menos tava pensando. Você tava mesmo aborreci- - falamos juntos, quase ao mesmo tempo.
— Você tá aborrecida comigo? - Iguais, eu me via na sua atuação. É impressionante a nossa sintonia. Somos o reflexo um do outro.
— Por que?
— Você ainda pergunta? - Ergo as sobrancelhas. — Você devia saber.
— Dev- - Com o indicador em riste, ela me acusa. — Você.. Você…
— Eu não fiz nada. Não fiz absolutamente nada. - Fecho os olhos, respirando fundo, mudo de tom. —Quer dizer eu fiz sim. Eu… Ma-Laura, eu… - Obrigo-me a concentrar, não era hora nem lugar para falar sobre nós. — Agora eu reconheço, eu cheguei a falar com a minha mãe.
— Dona Margarida. - pronuncia, balançando a cabeça. — É, eu imaginava isso.
— Eu ia falar, eu tinha que falar com voc-
— Não, não precisa falar, não precisa fala comigo, Edgar – Sorri com desdém —, aliás eu já sei o suficiente.
— Sabe!? - Estranho o seu tom de voz. — Mas como, a gente não se fala desde daquele dia lá na…
— Edgar, eu não quero saber, nã-não fala, não – Cruza a minha frente e caminha a passos largo. —, não precisa me falar nada, você não precisa se justificar.
— Não, não é isso, eu quero que você entenda, Laura.
— Eu entendi. Eu entendi, Edgar, e você não tá errado não, você tá certo. - A mão espalmada, os cinco dedos estendidos na minha direção. — Você seguiu a sua vida, você conseguiu fazer isso, eu vou conseguir também.- A fala podia ser da personagem, mas sei que ela fala com intenção de me atingir.
— Mas.
— Ótimo! – diz Vinícius. — Vamos dar uma pausa, e voltamos para gravar. - Aproveito do curto tempo para ler e evito conversar, mas a Marjorie não parece disposta a fazer o mesmo.
— Thiago sobre o jan…
— Marjorie, eu não quero saber, tem coisas que eu prefiro não saber. É melhor assim… - Tiro os olhos do roteiro e olho para ela. — Eu já estou com raiva, não me faz ficar ainda mais irritado com você, por favor.
— Ah… Irritado. Cê tá irritado!? Eu também deveria estar…
— O QUÊ? - Exalto-me. Será que é tão difícil, para ela, entender que eu não quero conversar.
— IRRITADA – diz no mesmo tom exaltado. — Eu quem deveria estar irritada com você. Como vai a Mariana e o bebê? Não, não precisa responder, não, deve tá muito bem, obrigada. - Droga, ela ouviu minha conversa e entendeu tudo errado. — Agora me diz: em qual Thiago eu devo acreditar, no que me beija e diz que estamos namorando ou…
— E nós estamos, Marjorie… Quer dizer, me diz você se nós estamos.
— Com a Mariana grávida?
— Marjorie…
— Não fala, não precisa explicar, Thiago, agora sou eu quem prefere não saber. - Ótimo… Maravilha… Ela me dá as costas e sai pisando firme. Agora tenho certeza: gravaríamos esta cena de primeira.
~*~
— Terra chamando, Thiago.
— Hã… – Ainda perdido em pensamentos, olho para o Emílio. — O que foi?
— Eu que pergunto, o que houve para você estar tão aéreo?
— Nada – desconverso, mesmo sabendo que não adiantaria muito.
— Esse nada aí tá com cara de Marjorie, porquê será? - Encolho os ombros, Emílio é o único amigo com quem eu posso contar.
— Tô pesando se eu fiz a escolha certa – desabafo. Eu não podia estar pior. Meu coração me dizia uma coisa e a razão outra. Quero acreditar em Marjorie, preciso acreditar para seguir em frente, mas o que eu vi, não me deixa em paz… E se…
— E?
— Não sei.
— Você já conversou com a Marjorie? - interroga ele, muito gentilmente para o meu gosto. — Ouviu o que ela tem pra dizer?
— Mais ou menos.
— Mais pra mais ou mais pra menos?
— Mais pra menos, Emílio, não enche – suspiro. — Ela até tentou falar comigo sobre o jantarzinho romântico, e eu a cortei na hora. Não consigo olhar para ela, muito menos falar que o que ela ouviu sobre a gravidez é mentira.
— Ah… - Ele sorri e desvia o olhar com tom debochado. — Então desculpa, meu amigo, mas não dá para te defender, não.
— Cala boca, Emílio… - Ando de um lado a outro no estúdio, mais um pouco e eu crio um buraco de tanto andar. Não aguento mais esperar. — Cadê a Marjorie que não chega para porcar- da cena.
— Não consegue olhar para cara dela, mas taí todo preocupado… - Eu lhe dou um sorriso irônico e volto a andar. Henrique, assistente de direção entra no estúdio pouco tempo depois. Sua expressão é séria.
— A cena da Marjorie e da Eliz vai atrasar um pouco…
— Ah… é, e a gente faz o quê, senta e espera? - pergunto, de repente, irritado.
— É… Eu sugeriria exatamente isso, agora se você não quiser espera, resolve com Dennis. - diz ele. — Já aviso que dificilmente ele vai te ouvir, a gravação atrasou por conta de um incidente com…
— Pra onde é que você tá indo? Ô Thiago! Ô Thiago! Eu falo o que pro Vinícius?
~*~
— Camila, mas pânico na voz, é um incêndio, lembra, a Isabel está desesperada. - orienta o Dennis. — Lázaro, não esquece de chamar o César, entrega um cobertor para ele. – Vira-se para orientadora de filmagem. — Marjorie e Eliz – pergunta sério —, tudo bem? - Ela confirma que sim com aceno de cabeça e eles continuam conversando. Há uma movimentação maior em torno da Eliz, mas Marjorie também recebe cuidados da equipe apesar de recusá-los.
— Você encenou direitinho a Melissa, bem demais até - Preocupada, Marjorie está agachada na frente da menina enquanto conversa. —, mas você não pode inalar um monte de fumaça e seguir com a cena, combinado? - Reparo no figuro sujo, então entendo o motivo da bronca. — Tem que avisar… Primeiro a sua vida, depois a da personagem, mocinha. - Eliz encara o copo d’ água em mãos e sorri envergonhada. — Se eu não tivesse me machucado, nós não teríamos parado a gravação, e aí você desmaia de verdade e eu faço o que?
— Me salva, ué? - exclama Eliz, com o seu jeito brincalhão. Bebe um gole d’ água, se esquivando do olhar repreensivo da Marjorie
— Você vai ver, te salvo.
— Marjorie, tudo bem com a Eliz, podemos voltar a gravar? - questiona o Dennis. É nessa hora que eu sou notado, e ela fica sem fala.
— É… podemos – gagueja. — A Eliz… Thiago, você fica com ela?
— Fico. - Seus olhos fitam os meus, sem ressentimento. O que me dá coragem para perguntar. — Você se machucou?
— Ta tudo bem, esquece.
— Marjorie. - Revirando os olhos, ela estende o braço. Toco o ferimento, a pele arrepia com o contato. O corte não era profundo, forma uma risco pequeno no punho – o qual eu cubro com o polegar - a palma da mão estava queimada superficialmente. — Você tem que cuidar disso. - Olho para ela, preocupado.
— Depois… – Ela se esquiva, encolhendo o braço de repente. — Agora não dá. - justifica e sai apresada. — Tenho que gravar. - Ótimo, voltamos a estaca zero. — E você, ô herói, vê se me tira logo lá dentro, não quero morrer asfixiada. - Marjorie brinca ao falar com Lázaro, mas não sei porque há um fundo de verdade na sua voz.
Dennis dá as últimas orientações ao grupo antes de autorizar a gravação. Pede aos responsáveis técnicos que aumentem a intensidade das chamas e aquilo me aterroriza por dentro.
— Dennis, você não acha que tem fogo de mais?
— Relaxa, tá tudo sob controle – Ele dá um sorrisinho. —, o pessoal da técnica está cuidando de tudo.
— Dennis, você tem certeza?
— Thiago, você veio aqui pra quê? - Arqueia as sobrancelhas, irritado. — Ta querendo me ensina a reza a missa?
— Essa cena está toda errada mesmo. Quem devia está salvando a Laura sou eu, o Edgar. - Dennis dá risada.
— Ah… Entendi… Ta querendo dá uma de dramaturgo também e rescrever a novela?
— E-eu não… não. - Coro. — Só acho que…
— É, eu sei… Sinto muito, mas não vai dar, o herói do morro tem que ser um negro. - Vira-se de frente para o monitor. — Senta, lá e espera, daqui a pouquinho sua amada estará salva. - Deveria sair dali com a Eliz, mas não consigo. Fico e acompanho atento a gravação. Mal pisco quando o Lázaro sai de dentro da escola em chamas, carregando a Marjorie no colo. Sinto um alívio no peito, que só não é completo porque não sou eu a segurá-la. Não posso chegar perto, muito menos tocá-la. — Perfeito! Vamos manter o foco e gravar por outro ângulo. – Outro ângulo?! Ah, Deus, vou ter um infarto.
— Thiago – Levo um susto. Aline, assistente de direção me avisa que a Eliz tinha ido embora com a prima e que podia fazer o mesmo. — Você pode ir, cancelamos sua última cena.
— Ah, não… Vou ficar por aqui mesmo, obrigado. - A cena está quase no final, Marjorie está sendo amparada por Lázaro e Camila para se reerguer. As câmeras focam seus passos e a expressão de dificuldade para caminhar.
E então finamente, Dennis encera. — Valeu cena! - comemora. — Bom trabalho, pessoal, enceramos por hoje. - Estão todos vibrando por mais uma cena concluída, especialmente a Marjorie. Fico feliz por ela, por ver o seu sorriso de vitória estampado no rosto.
— Marjorie – chamo-a. —, ótima cena, parabéns. - Ela não diz nada, apenas caminha ao meu lado em direção aos estúdios. Me pergunto se devo tocar no assunto Mariana para ao menos esclarecê-lo. Enchendo-me de coragem, decido falar — Marjorie, a Mariana, ela não tá grav-
— Ah, não!? - diz, sem interromper a caminhada. — Eu ouvi da própria.
— Ouviu… Ouviu…
— Ouvi, ouvi você chamando ela de meu amor. - Ela olha para mim com os olhos triste, a voz furiosa. — A comemoração foi boa?
— E você, a sua comemoração foi boa? - Aperto o passo para acompanhá-la. — O jantarzinho foi gostoso? - indago no mesmo tom.
— Foi ótimo… - Vira o rosto, me encarando. — Foi muito gostoso.
— Não imaginava outra coisa, da mesa foram para cama. - Ah… droga, o que eu estou dizendo? Fazendo uma careta, ela para abruptamente. É agora que eu levo um muro na cara.
— E se eu tiver ido e gostado, qual o problema? - Preferia o muro na cara do que ouvi-la confessar tamanho absurdo. Não… Não é possível!
— Você tá me dizendo que foi pra… e gostou, Marjorie? - Só não a puxo pelo braço porque seria desrespeitoso da minha parte, mas era essa a minha vontade.
— Gostei – diz secamente. Pisco diversas vezes tentando entender o que se passa.
—Marjorie, você e o Miggiorin… - engasgo. — estão namorando?
— E se eu estiver namorando, qual o problema, você ama a sua mulher, Mariana.
— NÃO, NÃO AMO… EU PEDI O DIVÓRCIO.
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19 de Janeiro de 2013
Por Marjorie
— Humm… É você, Tadeu, que droga! - resmungo tapando a cara com a coberta, jogo-me no colchão novamente. — Meu sonho estava tão bom, sabia? - Afago o monte de pelos, sorrindo só de lembrar. — Que horas são? - Devia passar das 11hrs da manhã.
*10h45mim*
Erro por 15mim, constato no celular.
*4 sms*
*7 chamadas perdidas*
*1 mensagem de voz*
Todas do Leonardo Miggiorin.
Pulo da cama, sentando em seguida. Minha cabeça doí. Olho em volta forçando o cérebro a lembrar de algo e nada. Não lembro de muita coisa, a não ser é claro, de ter bebido, e muito.
— Hey, o que é isso? O que é que você tem aí, Tadeu… Tadeu, aqui! Dá aqui, deixa eu ver. - Consigo apanhar o papel da boca dele sem rasgar. Mal posso crer no que os meus olhos leem:
Que amor… É muito amor!
Beijo o papel, olhando sua caligrafia com carinho. Leio-o novamente.
— E você, hein, danadinho, cumpriu direitinho o que o Thia… Quem é que é “seu dono” mesmo? Sou eu ou o senhor já se vendeu, rápido demais, para o Thiago?
Café, é tudo o que eu quero no momento. Não qualquer café, mas sim o dele. O que Thiago Fragoso preparou especialmente para mim. Pego o celular e rumo para cozinha como uma perfeita idiota. Penso em retornar as ligações do Léo, mas desisto assim que avisto a térmica de café junto a duas xícaras postas na mesa.
Duas, porque duas xícaras!?
Sento-me e ao me servir noto o semicírculo borrado no fundo de uma das xícaras, só então me dou conta de que ele provou o seu café antes de sair. Não acredito que perdi essa cena. Se tivesse acordado mais cedo o teria visto preparar o café, melhor, podíamos ter tomado o café da manhã juntos.
. Estranhamente minha dor de cabeça havia passado sem sequer sorver um gole daquele café, que fumegava um aroma delicioso. Provo, depois de permanecer alguns minutos com a xícara apenas colada aos meus lábios, e não só o aroma é delicioso como o sabor também.
Vejo o comprimido em cima da mesa e sou obrigada a rir da sua preocupação exagerada. Do seu excesso de zelo. Tomo o comprimido com um gole de café e quando dou por mim estou ouvindo meu coração bater junto com o toque de chamando.
— Quer dizer que o Tadeu, agora, é o responsável por mim? - questiono sem ao menos deixá-lo dizer “oi”.
— Sim, na minha ausência, ele é, sim. - Ouço o barulho que ele faz quando prende a risada. Não preciso vê-lo para saber que ele está sorrindo, porque o seu sorriso é o mesmo que o meu.
— Desde de quando você e ele são amigos íntimos? - pergunto curiosa
— Desde de que eu e ele passamos a amar a mesma pessoa. - Amar? — Tomou o remédio? - emenda ele, enquanto eu ainda conjugava o verbo amar. — Marjorie, tomou ou não tomou?
— Hã…Não – minto apenas para deixá-lo bravo e ouvir sua voz se alterar do outro da linha.
— Marjorie! - Péssima ideia, minha cabeça parece que vai explodir com a voz ríspida do Thiago ecoando nos meus ouvidos. — Quer fazer o favor de…
— Eu já tomei… - digo tentando parecer melhor do que realmente estava. Porque, meu Deus, remédios não tem efeito imediato? Levo a mão à cabeça, como se segurá-la fosse ajudar. — Quer falar com seu amigo, Tadeu, para ter certeza?
— Não – ele é rápido em dizer. — Confio em você. – Quase deixo a xícara cair ao levantar. Sua voz é intensa e segura, fazendo-me estremecer. Isso é um jogo comigo, o qual o Tadeu parece disposto a participar, latindo.
— Ouviu?
— Humm… Viu só, não precisei nem perguntar, ele já respondeu. - Quase engasgo com o tamanho do seu convencimento. Chegou ontem e acha que pode tudo, até mesmo ganhar a confiança do meu filho?
— Tadeu, meu filho – o encaro chateada. —, você não era dado assim, não.
— Ah, não? - Thiago ri alto com o gurnido que recebo em troca. São dois contra mim, desisto. — E o nome não significa nada? Ta-deu. Deu, é dado – debocha sem controlar o riso.
— Ha, ha – murmuro mal-humorada. — Péssimo trocadilho, alias como o seu café.
— Meu café é ruim? - indaga ofendido e eu o qualifico como:
— Péssimo, horroroso e intragável. – Mesmo não sendo.
— Mas é uma ingrata mesmo – diz sério. — Devia ter largado você com o porteiro e ido embora em vez de passar a madrugada inteira cuidando de você e como se não bastasse, acordo atrasado e ainda assim eu fiz café para você.
— Você dormiu aqui? - pergunto o obvio. É claro que ele dormiu.
— Sim, como você acha que o café estaria quente até a hora da senhorita acordar? - Largo as xícaras na pia, despejando um pouco da água dentro e acabo não compreendo-o. Não importa. Ele dormiu aqui…
— Co-migo? - gaguejo nervosa. — Na minha cama? - Ah, Marjorie, para de fazer perguntas idiotas.
— Claro, Marjorie, a onde mais você queria que eu dormisse? Na varanda com o Tadeu - fala com a maior naturalidade. — A propósito, porque você tranca o coitado na varanda?
— Eu não tranco ele na varanda, ele que gosta de ficar lá.
— Ele não me pareceu muito contente hoje de manhã, não. – Tadeu, porque ele quer conversar sobre o Tadeu, agora? Me arrasto até a sala e me jogo no sofá.
— Thiago, você… - A ligação fica muda até que eu decido enfim perguntar. — Minha…Que blusa velha é essa que eu… - Surpreendo-me. — Eu tô usando calci-?
— Ah, não me pede para explicar isso, Marjorie – Fica um instante calado. —, foi você quem pediu para colocar. - Seu constrangimento é palpável.
— Meu Deus, o que quê eu fiz me fala?
— Você não se lembra de nada mesmo, nadinha!? Faz um esforço aí na sua cachola.
— Cachola? - Thiago merecia um tapa por se referir a minha cabeça nesse termo. — Aí, tá doendo – resmungo — Não ri. - Porque eu nunca lembro que manhãs como a de hoje são a consequência previsível de noites como a de ontem?
— Mah?
— Ta, o que eu me lembro: - concentro-me em respondê-lo. — Lembro de você chegando na festa com a… - me recuso a pronunciar o nome dela e na falta de adjetivo melhor, digo: — Você sabe quem e… E depois eu bebi.
— Bebeu, chamou a Mariana de múmia, vazdia e Morticia Addams.
— Eu a chamei de?
— Chamou.- Custo a acreditar que eu realmente tenha dito isso, mas o Thiago não tem porque mentir.
— Me desculpa, e-eu não vou pedir desculpa por isso. - – Comemoro. Beber, de repente, valeu a pena e a dor de cabeça? A dor de cabeça era só recompensa por ter dito o que penso. Talvez eu deve reavaliar os meus conceitos e beber mais vezes, especialmente, na companhia dos dois.
— Dizem que a gente fala a verdade quando bebe. - Ah é sério, Thiago? O que ele está querendo, afinal, me provocar?
— Eu falo a verdade sempre, palhaço!
— Ui, essa doeu, Mah, tudo bem eu vou… - Ah, merda! Não quero que ele desligue, não agora, não desta forma.
— Espera, o que mais eu fiz? - Ouço sua respiração se alterar. Ufa, evito que ele desligue.
— Marjorie, você tem certeza que quer mesmo saber? - Sua voz é meiga e cautelosa. Estou ansiosa, nervosa e confusa ao mesmo tempo, não sei se quero realmente saber o que mais eu fiz nessa festa, mas mesmo insegura o encorajo a prosseguir. — Bom, você cantou e dançou em cima da mesa fez da garrafa de cerveja o seu microfone e cantou, cantou muito. Juro, Marjorie, não sei quantas músicas você cantarolou durante a festa. Foi do samba ao pop rock sem o maior problema. Depois no carro e depo…
— Depois, depois o quê, fala? Thiago, a gente…- Tenho medo da sua resposta, mas preciso saber. — É - Respiro fundo. —, eu e você…
— Ah, Marjorie, foi tão bom, você não lembra. - Ele está brincando comigo, só pode. Mas e se… Como queria lembrar desta noite nos mínimos detalhes. — Você dormiu nos meus braços e… só dormiu mesmo.
— Jura? - suspiro aliviada. — Ainda bem.
— Ainda bem? Achei que você queria. – Queria, não. Eu quero e muito.
— Sou só eu quem queria, Thiago? – Aperto os dedos contra o celular como se o ato fosse amenizar a minha expectativa.
— Não. - ofega. — Você sabe que eu te quero. – Ele está mesmo me dizendo isso por telefone? Sua voz é tão próxima que quase posso ouvir a sua pulsação ao falar.
— Quer? – sussurro ainda sem acreditar que estamos mesmo conversando sobre o bem-quer. Sobre um quer o outro sem esconder o desejo.
— Quero – ele volta a afirmar enfático. — Só não aconteceu, ontem, porque… – Eu apaguei alcoolizada. Posso apostar que fiz bem mais do que a gentileza e generosidade do Thiago permitem contar.
— Ai, eu estou morrendo de vergonha, Thiago, não quero te ver nunca mais. Não quero olhar para sua cara tão cedo.
— Não brica com uma coisa dessa, Marjorie. Eu quero te ver. Quero te ver sempre. - Está todo sério, agora. Sei que ele está sendo sincero e por isso não penso duas vezes, quero encontrá-lo.
— A onde você está?
— Trabalhando.
— No Projac?
— Onde mais, Marjorie? Eu cumpro os meus compromissos – responde ele com entusiamo.
— Ai, meus Deus, esqueci, eu tenho gravação hoje? – Caço minha bolsa com olhar e antes que eu a encontre, Thiago responde.
— Não tem – Como ele sabe? —, olha só que sorte a sua, não vai precisar me ver. – Sorte? Se isso for a minha sorte, Deus me ajude!
— Eu quero te ver – murmuro de repente
— Ué, que mudança repentina é essa, Mah? – estranha, ele — Há um minuto atrás…
— Eu quero te ver, posso? – pergunto como uma adolescente que vai a um encontro pela primeira vez.
— Eu vou adorar – diz simplesmente. — Preciso desligar agora, amor, estão me chamando aqui. Vou gravar.
Amor…. Ah, ele precisa urgentemente parar de brincar com o que diz, pois cada vez que ouço é como uma chama que se acende e me enche de esperanças. Não suportaria pensar ser este apenas um descuido seu.
Paro enfim de encarar o celular feito uma tola apaixonada. Se eu quiser o encontrar a tempo para o almoço, tenho que correr e me arrumar. Afinal, ele me deve um. Nossa última tentativa de almoçarmos juntos tinha sido arruinado pela visita surpresa da Mariana.
~*~
*Cadê vc? A festa já começou!?*
*Sério, vc desaparece e depois não responde? Tô preocupado, me liga*
*Ta. Entendi. Vc não vem ;( *
*Acho bom vc ter uma explicação muito boa para dar*
Leio as mensagens do Leo enquanto espero Thiago concluir a gravação.
*Oi, aniversariante*
Penso rapidamente no Leo ao apertar “enviar” e, apesar do meu cansaço recordo da sua mensagem de áudio pouco agradável aos ouvidos. Meu celular vibra: Leonardo Miggiorin
*Vc lembrou*
Penso no que responder:
*Claro, vai fazer alguma coisa especial para comemorar os 31?*
*Já fiz. Vc está atrasada*
*Ta. rsrs. Jantar hoje? Passo na sua casa às 7*
Sem resposta, encaro o celular por mais uns segundos e desisto. A porta se abre no mesmo instante em que levanto.
— Marjorie! - Fito o seu olhar, nossos olhares se cruzam íntimos. Sorrimos um para o outro.
— Ei, já vi que eu tô sobrando aqui – Emílio apressa-se em despedir —, até depois, Thiago. - Ignorando a saída do amigo, ele passa os dedos na lateral do meu rosto, da têmpora até a nuca.
— Você veio – diz fazendo uma trilha, então da nuca até a cintura. Sua mão se une a minha enquanto ele abaixa a cabeça e, em seguida, seus lábios estão colados aos meus com suavidade e cuidado. Aperto a mão livre no seu pescoço e me aproximo dele, aprofundando o nosso beijo. Ele solta a minha mão, deixando-a livre para percorrer meu quadril. Sua mão é quente sobre a minha pele, e se move palma a palma sobre a perna nua até a extremidade sensível atrás do joelho. Ah, saia e o poder que ela exerce sobre os homens. Minhas pernas bambeiam, mas não o deixo se afastar. Solto um gemido, abrindo a boca, seus lábios e sua língua adulando os meus. Agarro o terno que ele usa entreaberto, que alias é do seu personagem, e me aperto contra ele. Sua língua traça a minha devagar. Seu beijo é obstinado, gemo de novo e rápido demais ele se afasta. — Você está linda. – Beija a minha testa ainda ofegante.
— Você também está – retribuo timidamente. Olhar para ele depois da noite de ontem. Depois do que provavelmente eu fiz e que só ele sabe, não é tarefa fácil. — Thiago.
— Humm – Os olhos verdes me encaram como quem busca decifrar os meus pensamentos. — O que foi? - Passando os dedos de um jeito carinhoso no meu cabelo, ele ajeita uma mecha atrás da minha orelha. Ah, esse gesto.
— Me desculpa.
— Pelo quê? - Dou de ombros, ele não vai me fazer falar, vai? — Pela bebedeira de ontem? - Fecho os olhos enquanto ele envolve meu rosto com a mão, o dedão acariciando minha bochecha e meu maxilar. — Ta tudo bem, Mah… É, tirando o fato de ter que limpar o seu vomito o resto tá de boa. Não se preocupa mais com isso. Já foi, passou, combinado.
— Humm… - Busco um ponto fixo, que não seus olhos para encarar. — Ta quase na hora do almoço, você já almoçou?
— Já. Almocei mais cedo.
— Ah, que pena. - lamento, pegando minha bolsa em cima do sofá. — Você perdeu uma ótima oportunidade de almoçar comigo.
— Como é? Perdi, perdi nada. - Para na minha frente me impedido de sair. — Se eu soubesse que você vinha perto do meio-dia teria esperado. - Me olha ressentido. — Vai, onde você quer almoçar, te faço companhia – propõe ele. — Tem o que nós fomos a última vez.
— Qual, o que você foi com a Mariana e o Benjamin?
— É esse mesmo. – estreita os olhos, provocativo. — O mesmo que você encontrou o Miggiorin.
— Ah, não. - Porque estamos falando nesse assunto. — Perdi até a fome agora – suspiro —, qualquer lugar menos este, combinado?
— Combinado. - Ele sorri. — Você espera eu trocar de roupa, que nós já vamos. - diz, de costas para mim, se livrando do palito. Meu Deus, strip-tease essa hora, não
— Trocar de roupa, por quê? - Thiago me olha de canto de olho, desabotoando o punho da camisa com sorriso sacana.
— Marjorie, você não quer que eu sai na rua, nesse calor, com esse terno, quer? - Droga, ele me ouviu.
— Não, não quero. - Para ser sincera, não quero que ele saia desse camarim. Quanto menos exposição nós tivéssemos melhor.
— Ei, Marjorie – Paro. Achei que ele não fosse notar minha saída. —, Marjorie aonde você vai?
— Comprar o meu almoço. - Viro-me na sua direção. Ele está parado no batente da porta com a camisa desalinhada. Seus olhos brilham em expectativa.
— Não me diz que…
~*~
— Não vou te beijar, você está com gosto de atum na boca. - Thiago se estica para colocar a garrafa d’ água na mesa de centro e me lança um olhar insinuante.
— Grande coisa - insinuo como se nós não tivéssemos nos beijado há cinco minutos e o gosto de atuam não estivesse também na sua garganta. —, você não tem nenhuma cena de beijo para gravar depois.
— Quem disse? - provoca ele, uma das mão está na minha cintura enquanto a outra prende uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.
— Eu tô dizendo. - Meus braços estão em volta do seu pescoço, prontos para beijá-lo novamente, — Achei que você gostasse de sanduíche de atum, lembra, foi você quem comprou um pra mim?
— Eu, eu fiz isso? - franze a testa, desentendido. — Não lembro, não. Quando foi?
— Peraí que eu vou refrescar a sua memória. - Contraio os lábios, parando na sua frente. Thiago estranha meu gesto. O que é bom. Tenho toda a sua atenção voltada para mim quando decido sentar na sua perna esquerda, o abraçando pelo ombro. Sem nenhum movimento brusco, deixo meus lábios apenas em contar nos seus.
— Ah, Marjorie. - Ele se mexe como se estivesse desconfortável com a situação, toma meus lábios para si e me beija profundamente. Seus lábios queimam uma trilha desde do meu queixo até retornar a base da minha garganta. Nossas línguas se enroscam, consumindo-se mutuamente. Suas mãos alisam a pele nua dos meus ombros, puxando as alças do sutiã para o lado enquanto me coloca delicadamente de costas para o sofá, novamente. Nós nos beijamos por mais uma eternidade de segundos. Não sei precisar por quanto tempo, meus lábios se mantiveram unidos, colados aos dele sem necessitar o mínimo de oxigênio. Quando me afasto tão sem folego, sua boca corre o meu pescoço formando uma linha de beijos até a orelha. — Você quer me enlouquecer, não é? - Suspira, os olhos se prendem aos meus, observador sei que ele consegue perceber em mim a vontade insana de sucumbir, no entanto ele não o faz. Porquê?
Passando as mãos pelos cabelos, Thiago respira fundo e me beija mais uma vez de forma rápida e doce, depois me abraça, deslizando os dedos pelo braço, puxa a minha mão sobre o seu peito. — Ainda não entendi porque você preferiu ficar aqui. - Sinto sua pulsação acelerar sob a palma da mão. Estou confusa com a pergunta, não lhe parece obvio?
— Queria passar mais tempo, assim, com você e evitar problemas, você sabe.... - admito, deitando a cabeça no seu ombro.
— E-eu, Mah, eu sei, eu e a Mariana – Ele fica tenso de repente. — Eu tenho evitado o assunto, mas chega eu tô cansado de fingir, de disfarçar e esconder o que eu sinto por você. Eu já adiei essa conversa tempo demais, mais do que deveria.
— Thiago!? - suspiro exasperada. — Você vai conversar sobre o… - Não consigo raciocinar direito. Divorcio, a palavra está girando na minha cabeça.
— É, o que foi, você não gostou da ideia? - - Massageia minhas costas com uma das mãos enquanto a outra segura minha nuca.
— É claro que eu gostei – Beijo-o empolgada. — Eu amei, amei.- Seguro o seu rosto com entusiamo e o beijo de novo, do queixo, as maças do rosto, do nariz aos lábios. Meus dedos estão no cabelo dele, prendendo-o a mim. — Eu, amei, amei – repito, retribuindo da melhor forma que conheço. Com beijos.
— Eu tô vendo. – Ele está rindo para mim, quando saca o celular do bolso da calça e dispara a câmera na minha direção, mirando o meu rosto.
— Thiago, não. – Olho para ele, ofendida, depois caio na gargalhada, cobrindo meu rosto com a palma da mão.
— Tira mão do rosto ou eu vou publicar a foto assim mesmo, Marjorie. – Duvido que ele faça isso, mas resolvo cooperar dando a ele o meu melhor sorriso. — Foto minha, só não vale – resmusgo, apanhando o meu celular da mesa de centro, miro a câmera no melhor ângulo e tiro a foto. Nossa primeira foto juntos.
— O que tanto você olha, aí. - pergunta curioso, inclinando-se para frente na hora exata em que recebo uma mensagem.
— É o Leo confirmando o nosso jantar as sete. - Percebo-o avaliando a minha resposta, os olhos grudados no meu celular. Ele lê as mensagens.
— Mentira, que ele te mandou essas mensagens, Marjorie? - questiona irritado. — E você vai jantar com ele? - Olho para ele, piscando. Qual o problema?
— Não esquece que eu faltei ao aniversário dele por sua causa. - Thiago me olha boquiaberto.
— Minha causa, agora a culpa é minha, é isso? - Inclina a cabeça de lado me dando um sorriso artificial. Thiago estava agindo como uma criança insegura. Eu amava a sua preocupação e até mesmo o jeito possessivo, mas ele não controlaria meus passos, me impedindo de fazer o que quero.
— Não. A escolha é minha, e eu vou a esse jantar porque devo isso ao meu amigo, Thiago, você querendo ou não, eu vou.
— Ta bom, você pode ir – murmura ele —, eu deixo você ir.
— Ah, você deixa? - Tenho vontade de rir da sua careta, mas me contenho. Thiago ainda está sério quando contrai os ombros e diz seco.
— Deixo, mas com uma condição, duas na verdade, você vai se comportar, nada de bebida, ouviu? - ressalta, me fazendo sentir uma adolescente de novo.
— Ouvi – balanço a cabeça concordando —, e outra condição?
— Fica, vai - levanta-se, buscando pelo blazer jogado na extremidade do sofá. Veste-o, colocando o palito em seguida. — são duas horas, agora – verifica ele, no relógio de bolso. —, até o seu jantar faltam…
— E esse relógio aí funciona, Thiago, não é cenográfico, não é? - Faço graça, esquecendo-me do seu humor do cão.
— Cenográfico é o caram-, Marjorie, você não me irrita, que eu mudo de ideia e faço você ficar aqui, e adeus o seu jantarzinho.
~*~
— Ah, chegou a margarida! E esse bolinho com essas velinhas, aí, não vão te redimir. - ele diz assim que abre a porta e me vê com um cupcake em mãos. — Você perdeu um bem melhor, ontem.
— Desculpa. Você me entende, não? - Faço cara de choro e entrego-o o abraçando antes de entrar no seu apartamento bagunçado. O que não é nenhuma novidade, ele sempre esteve desorganizado, mas talvez hoje, eu não sei, tenha batido seu recorde. Ele fecha a porta e me encara sério.
— O que? Que você prefere o Thiago a mim?
— Co-mo… Como você sabe? - Busco um lugar no sofá pra me sentar.
— Falei com ele ontem. - Dá de ombros, sentando-se ao meu lado.
— Como assim! - o encaro perplexa. — Espera, ele atendeu o meu celular? - Só pode ter sido isso, de que outra maneira o Leonardo saberia sobre o Thiago. — O que ele falou, conta?
— Pode tirando esse sorrisinho da cara. - Aponta para os meus lábios, dizendo, — ele não falou nada demais. Eu é que mandei ele cuidar bem de você, aproveitei e falei o quanto você o ama.
— Quê? - grito. — Você, o que?
— Mentira… Mentira, é mentira, Marjorie. - Ele ri do meu desespero e se apressa ao explicar. — Eu não falei essa última parte, mas devia. Ele precisa saber o quanto você o ama.
— Ele sabe
— Sabe? - Leo está realmente surpreso com a minha afirmação, também pudera, ele sabe o quanto sua amiga, aqui, evita este tipo relacionamento. Bem, evitava. Thiago era a minha exceção.
— De alguma forma ele sabe. - Atiro-me no sofá, deitando a cabeça no lado oposto ao dele. —Você sabe que eu…
— Tomou um porre daqueles, encheu a cara, agora me conta uma novidade? - Jogo uma almofada na cara dele. Tinha esquecido da sua capacidade irritante de ser tão perspicaz.
— A novidade, você quer saber a novidade? - Fecho os olhos e sorrio.
— Que agonia, anda, fala, Marjorie, vocês passaram a noite juntos, rolou é por isso essa sua carinha de…
— Feliz e apaixonada. - Alargo o meu sorriso, vendo os olhos do Leo se estreitarem. — Dá pra ficar feliz por mim? - Peço, erguendo a coluna para encará-lo nos olhos.
— Tô tentando - diz sem disfarçar o desanimo na voz. Se ele está tentando como diz, definitivamente não está funcionando. Dobro as pernas sobre o sofá, ficando de frente para ele.
— Leonardo – suspiro preocupada
— Mah, nem começa, eu já sei – desconversa ele. — Vai me fala: você e o Thiago estão namorando?
— Não – reconheço, Leo já está de pé antes que eu termine a fala. — Eu adoraria, mas não.
— Eu não acredito, o cara fica com você e não. - Agitado, ele anda de um lado para outro. — Acho que vou ter que mudar de ideia e ligar para esse Thiago e explicar como as coisas funcionam.
— Quem disse que a gente ficou?
— Você
— Eu não falei isso.. Disse que estou feliz.
— E apaixonada – diz enfaticamente, os dedos imitando o sinal de aspas.
— Mas não que tinha rolado.
— Não?
— Quer dizer, eu não sei ao certo, eu bebi… Duvido muito que eu não tenha tentado, mas o Thiago me garantiu que não rolou nada ainda
— Ainda!? - fala entre dentes. — Nunca te vi assim tão…
— Apaixonada.
— Nem na época que a gente namorava. - Ele bufa, analisando-me novamente, o olhar consternado.
— O quê? - Estou surpresa. — Nós nunca namoramos!?
— Porque você não quis. – Isso é novidade. Não lembro de alguma vez o Leonardo deixar claro sua intenção. Exceto… A noite que… Ah, meu Deus
— Qual foi a parte da história que eu perdi, Leonardo Miggiorin, porque nós sempre fomos grandes amigos. Você é como um irmão para mim. Um irmão de alma.
— Para! Pode parar por aí, Marjorie. - Fecha os olhos, vejo um turbilhão de emoções passando pelo seu rosto. Quando os abre sua expressão é de desalento. — Quer saber, acho que foi esse o meu erro, deixei você entender que o que eu sentia por você era apenas amizade. - Ah, não…
— Mas você namorava a Carla, vocês formavam um casal tão bonito, eu acho. - Leonardo revira os olhos para mim, chateado. Xingo-me mentalmente. Precisava ser tão direta?
— Tudo para te fazer ciúmes – confessa. O interfone toca antes que possa dizer algo. — Encomendei comida japonesa daquele restaurante que você gosta – avisa, colando o interfone no ganço, indo até a porta em seguida. — Espero que eu tenha acertado na escolha – diz colocando as sacolas sobre a mesa de centro.
— Sushi… Jura? - Arregalo os olhos, e enquanto ele continua a falar lembro-me da primeira vez em que comemos um. Meu primeiro dia no Rio, apartamento novo, vida nova e o Leo. Ele estava lá ajudando com a mudança, arruma os móveis para lá, arrastada para cá, coloca ali, no fim da noite estávamos exaustos só queríamos uma coisa, além de dormir, comer. Como não percebi seus gestos durante o jantar, a forma de me olhar, o jeito de falar tudo tão claro. Quando volto à tona ele está falando alguma coisa sobre o seu relacionamento com a Carla e o meu comportamento.
— Mas não funcionou, também do jeito que você estava envolvida e empolgada com aquele concurso lá, o…
— O Popstar?
— Esse mesmo. - acena com a cabeça, me alçando minha porção de sushi. — Era demais olhar para o seu amigo apaixonado, aqui? - Aponta para si mesmo, voltando a ocupar seu lugar no sofá. — Depois eu consegui um papel de destaque.
— Numa novela das nove – o interrompo, fazendo graça. — Como nós comemoramos quando você soube, lembra? - falo de boca cheia. — Nossa, eu fiquei tão feliz por você. Era a realização de um sonho seu, afinal.
— Nosso sonho – corrigi ele, com o hashi vazio no ar. —, porque você também sonhava com uma megaoportunidade dessa e conseguiu logo depois.
— Humm – engulo apressada. — Não foi tão logo assim, vai. - digo sem encará-lo. Ele ri do meu estado afobado para comer.
— Ah, não? - Pousa o talher do lado do prato e me olha bem-humorado. — Depois de Malhação, você não parou mais, minha amiga, continua aí, até hoje fazendo sucesso, a danada.
— Ai, como você é exagerado. – Caio na gargalha, e ele continua sério.
— Sua carreira só deslancha, já a minha. – Que mania de se comparar a mim e a minha carreira.
— Ai, é exagerado e reclamão ainda por cima – debocho, limpando os lábios no guardanapo. Penso no Thiago. A essa hora ele deve estar discutindo sobre o divórcio. Meu coração se aperta só de pensar nessa conversa e instantaneamente busco pelo meu celular na bolsa. Droga, esqueci de tirar do “silencioso”.
— O que foi? - Nada, só a minha vida que está em jogo.
— Thiago me ligou. - Não é nada. — Tem três chamadas perdidas dele. - E eu não atendi nenhuma.
— Ué, liga para ele. - Leonardo diz com um sorrisinho. Ah, como se fosse fácil fazer isso. — Você não vai ligar?
— Será? Não sei, essa hora ele deve estar em casa e, a você sabe… - O telefone toca. É ele, eu sei.
— Ah, não é sério isso, Marjorie? É esse o toque do seu celular quando o… - Dá risada, pegando o celular da minha mão.
— Para, quer parar! - imploro, avançando sobre ele. Tento em vão recuperar o celular. — Me dá o celular, aqui, me deixa atender. - É ele. Não conferi e não precisava, a música denunciava.
— Não. - Balança a cabeça. — Nada disso, deixa eu curti esse momento. - Olho para ele incrédula. Não acredito que ele está rindo da minha cara.
— Você quer é curti com a minha cara, isso sim. - Faço uma cara de zangada.
— Também… - admite com um sorrisinho insolente. — Marjorie você não existe. - suspira, todo alegre, os olhos brilhando. Ah… não… — Ele sabe? - Quem… O quê. — Eu quero dizer ele sabe… sabe dessa música? - pergunta, devolvendo-me o celular quando ele para de tocar. — Sabe que você, não me diz que ele… - Faz uma pausa, buscando meu olhar. — Espera, ele tem uma música também, é isso.
— Não, não tem, você tá doido. Porque ele teria?
— Eu sei lá – Encolhe os ombros. —, você não tem uma, então ele deve ter outra ou a mesma, vai saber – sugere ele com toda a calma.
— Você não pode estar falando sério. - pisco para ele. Aonde ele quer chegar com isso?
— É seríssimo, liga para ele e pergunta. - Ele se mexe, como se estivesse desconfortável. — Não melhor, aproveita e conta para ele sobre a música – diz levantando-se, indo em direção a cozinha.
— Eu não vou fazer isso – o acompanho.
— Claro que não, - gira os calcanhares e me encara. — Como eu imaginava, você não tem coragem. Cerveja? - oferece, abrindo a geladeira. O ignoro.
— Você tá me chamando de covarde, é isso mesmo, Miggiorin?
— E se eu estiver, você vai fazer algo para mudar isso, vai? - provoca ele. Não penso duas vezes. Vou até a sala e pego o celular. Ligo para o Thiago.
— Oi, Mah, só um minuto. Não posso falar, agora. - Imediatamente me arrependo de ter ligado.
— Humm. - murmuro. Sou capaz de ouvir minha própria pulsação. Esforço-me para perceber alguma movimentação a mais, e nada. Estou quase interrogando-o novamente quando ouço sua voz.
— Agora posso, fala. - sua voz é mais calma do que antes, me pergunto se isso tem a ver com a ausência da Mariana. Será que eles… Calma, Marjorie, agora não… não é hora.
— Thiago, eu liguei para… - suspiro. — Ah, não interessa porque eu liguei, não é nada, esquece. - Desisto, não ia fazer a besteira de cantar para ele, não mesmo.
— Marjorie, amor, fala.
— Thiago
— Quê?
— Repete
— Mah, eu…
— Eu gosto de você e gosto de ficar com você. Meu riso é tão feliz contigo. O meu melhor amigo é o meu amor. - Antes que eu mude de ideia e perca a coragem, canto timidamente.
— Você bebeu de novo, Marjorie? - Nossa… Que mal juízo ele faz de mim.
— Não. Só tô pagando uma aposta – digo simplesmente. — Você tá surrando por quê?
— Que aposta? - sussurra outra vez.
— Uma aí, mas agora é sério, Thiago, eu te amo
— Eu…
— Thiago, alô… Alô, Thiago. - Ele fica mudo, aumentando em mim a minha angustia.
— É ela? - Ah… Merda! — Eu tenho uma ótima notícia para contar…
— Mariana, me dá o celular – o ouço gritar exasperado.
— Calma, meu amor, deixa eu contar a novidade. - Sínica, ela enfatiza as suas palavras porque sabe que eu estou do outro lado da linha ouvindo tudo, mesmo que parte de mim insista para que eu não o faça. — Acho que você vai gostar de ouvir: Eu estou grávida.
— Mariana, meu… - Desligo antes de ouvi-lo chamá-la de meu amor. Acho que sou capaz de vomitar o que comi. Tudo gira na minha frente enquanto a voz dela ainda ecoa lentamente nos meus ouvidos: ES-TOU GRA-VI-DA.
— Marjorie, o que houve? - Leo corre ao meu encontro como um bote salva vidas, ao qual eu me apoio para não cair ao me sentar. Sua mão ergue o meu rosto, o dedão seca uma lágrima. Estou chorando antes mesmo de começar a falar.
— O Thiago, ele… ele tá com ela e eles, adivinha? Estão comemorando a chegada de outro filho, enquanto eu… eu canto música e me declaro feito uma idiota.
— Não pode ser.
— Eu ouvi da própria, toda empolgada… - Por mais que eu tente não consigo achar explicação para o que acabo de ouvir. Thiago não pode tá fazendo isso comigo, pode? Planejando um segundo filho com a mulher e ao mesmo tempo me iludindo com a promessa do divórcio. Dói ainda mais quando lembro do jeito com que ele prometeu, hoje, à tarde.
— Ele disse isso, calma aí Marjorie, deve haver algum engano.
— Ah… a muitos enganos. - Sorrio, o Leo estava tentando me animar, apesar de todo o seu esforço ser em vão, agradeço. Havia tanta segurança nas palavras do Thiago, que em nenhum momento eu cogitei serem um equívoco. Um engano.
— Ta vendo – Ele faz uma pausa, me olha docemente. —, vocês vão conversar e…
— Um deles sou eu nessa história – digo sarcasticamente. — Acabou a bebida dessa casa? - Esfrego as mãos no joelho, ali foram parar o resquício das minhas lágrimas. — Cadê a cerveja que você acabou de me oferecer, eu quero.
— Marjorie, para - a mão dele prende o meu pulso, antes que eu prossiga. —, você não vai beber. – “Nada de bebida, ouviu?”. Fecho os olhos com a imagem do Thiago na cabeça. — Você não vai resolver nada desse jeito – observa cauteloso. O seu olhar é para que eu me sente, mas não o faço. Ao invés disso, busco a cerveja. Prometi ao Thiago não beber, mas quer saber, dane-se.
— Ou eu bebo ou eu choro, o que você prefere, escolhe? - o encaro rapidamente, baixando o olhar em seguida. — Não precisa já tô fazendo os dois. - Mal tomo um gole e o Leonardo está ao meu encalço, tirando o copo da minha mão.
— Hey, vem cá, para com isso. - Ele me puxa para o seu colo e eu não faço nada para impedi-lo. Sei que deveria, mas não o faço. Tudo o que queria no momento é alguém mais forte do que eu para me amparar. Me sinto bem com o seu abraço apertado. É como um balsamo com efeito calmante. Por um instante parece sufocar, abafar e dissolver todos os meus medos.
— Eu não mereço amar e ser amada? - pergunto mais calma, apoiando minha cabeça no seu ombro.
— Merece, é claro que merece, Mah – diz sem me encarar. —, só que as coisas não são tão fáceis assim no amor.
— Porquê? Todo mundo tem um amor. - Leo ainda está segurando a minha mão, fazendo carinho, a aperta com mais intensidade quando diz.
— Nem todo mundo, eu por exemplo. - Engole em seco, continuamos sem olhar um para outro. Olhar o nada ou contemplar o silêncio dos móveis na sala é melhor e menos constrangedor. Leonardo Miggiorin é bem mais do que um amigo. Se eu soubesse ler nas entrelinhas que a vida escreve talvez estaríamos juntos, talvez teríamos uma linda história de amor para contar… Talvez não estaria aqui sofrendo por um amor quase impossível… Talvez, talvez… Ah, coração! O amor pode ser tudo, menos simples.
— Porque você não insistiu, porque não me fez enxergar esse amor que você sentia por mim, por quê? - Ergo a cabeça, seus olhos fitam os meus intensamente.
— Quem disse que eu não sinto mais? - Pela primeira vez na noite, vejo além da amizade sincera de dois amigos irmãos, brilhar. Vejo amor, muito amor. — Eu sinto…. Ainda sinto amor por você. Ainda amo você, Marjorie.
Ele me puxa de encontro a seu corpo, sinto sua ereção pressiona a minha barriga antes mesmos dos lábios estarem colados aos meus. Ele me beija… bem, na verdade, ele quer mais do que apenas um beijo… como lido com isso? Eu deveria fugir, mas não consigo. Sou atraída por ele em um nível primitivo que mal consigo compreender, apenas sinto… Sinto amor, muito amor em cada um dos seus beijos.
Seu corpo inclina-se sobre o meu, as mãos na minha coxa, tento não pensar no Thiago, mas é em vão. Ele está comigo, luto para afastá-lo da minha mente. Desliso as mãos pela barra da sua camiseta, trazendo-o para mim, envolvo seus lábios, e quando ele pensa em para o impeço com as pernas presas no seu quadril. A respiração dele ofega junto com a minha. Seu beijo é intenso e profundo, tão bom que não consigo parar de pensar e se… e se eu der uma chance a esse amor? Não posso lutar contra o inevitável… Um filho. Ele não vai largar a mulher e mais um filho. Ah… Thiago…. Por quê?
— Ah… Thiago….
— Ah, Marjorie se você vai continuar me chamando de Thiago, é melhor parar por aqui, eu não…
— Por favor, não
— Marjorie, eu não quero isso que você está me propondo.
— Por favor, faz amor comigo.
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