Don't wanna be here? Send us removal request.
Text
A escolinha
Lembro de peças Coloridas como A mochila de rodinhas Mais robusta Mais brilhante Mais complexa. Do instante Do valor Para mim, não custa. Como areia Do parque Do zelador Do professor.
Lembro de Aniversários ruidosos Abraços sinceros Pêssego em calda Faber castell Birra insistente Doce inocência Apelidos diminutivos: “Gui” pra lá,” “gui pra cá”, mas indo A malícia, calada, esperava na sala, de pernas de índio.
- Guilherme Fujishima
1 note
·
View note
Text
As caravelas em nossas costas
E chegaram as naus No horizonte de nossa meninge Feitas de plástico que encobre Datado papel machê de jornal E um motor ruidoso Movido a cobre E alguma desconhecida efígie Ao atracarem nas córneas, reagiram os Andrades e os Amarais De corpos disformes, mastigaram, engoliram e explodiram Logo, os ácidos estomacais Escorrem pelos nossos floemas, para a língua contorcida, malabarismo de “t’ “h” Pelos sabores e fonemas Pelos quais não conseguimos pagar. Nas embarcações, alma alguma Apenas ratos enluvados, oitavo pecado capital, chapéus, laços, areia roubada, transformada em vidro, espelho torto dos lados E levaram nossas pimentas E uma foto do Carnaval Arapuca de gente, ritmos indigentes Mas deixaram nossas estrelas, pois já tinham mais de cinquenta.
- Guilherme Fujishima
1 note
·
View note
Text
O irreverente destino das estrelas cadentes
Hoje vi uma estrela cadente Ao pôr do sol, um risco esbranquiçado, linha rebelde em manto lilás Que emerge rente ao tecido macio E some de repente.
Não atravessa o céu de lado a lado Não é projétil, não é rio, não é magnífica, não é audaz. É casual, simples, concisa, um gesto de direção, queda de uma caneta sem tampa, as gotas de água no para-brisa.
É um estranho no celular Com quem se cruza no aeroporto Não o engomado piloto de uniforme Mas alguém de preocupado olhar De passos velozes, totalmente absorto Nos painéis e seus ponteiros, e talvez em uma placa de banheiro Em excêntrico Dia das Mães Em que o atraso lhe consome
Os astros não armam espetáculos Não constituem divino presente Não especulam sobre nossos anseios, nossas paixões, fotos, teorias Trafegam nesse cosmos senil Despreocupados, humildes, alheios Envoltos em mais anônima entropia Pois hoje vi uma estrela cadente E sei que ela não me viu. -Guilherme Fujishima
1 note
·
View note
Text
Quando o vento sopra
Telhado - e Ilhado - Guilherme Fujishima
0 notes
Text
Mar brasileiro
Ó mar do Brasil, quanto do que viu Pertence a quem não existiu? - Guilherme Fujishima
0 notes
Text
O que habita o lixo da cozinha
4 de abril de 2020 Hoje, altíssima maré Hoje, um pai tirou a tampa De uma bic azul E coloriu os céus de um quadrinho Pois é assim que o céu é Na ciência que lhe encanta Nos livros de estantes De porões escolares empoeirados De capitães carrancudos De chapéu, uniforme passado Mas sem sextante
Bruscamente enrolou o gibi Em ódio e irresponsabilidade Pobre gibi que nunca leu Agora um mundo em espartilho. E corta o ar sobre o filho Aterriza em rosto que arde. E o pai grita, exaltado, Que o filho não é seu. Não, não este, mas sim os outros Vêem tudo de perto Recostados no batente do quarto A porta, desnuda, escancarada E dão risada os três Os três reconhecidos Os três caricatos Um riso tão leve e ligeiro Quanto um vírus estrangeiro E planejam comprar uma revista Pela primeira vez.
Depois da agressão, O pai também sorri Em passos lentos e arrastados Não de quem esconde alguma pista mas de quem está na fila do mercado Ou dentro de elevador, em aranzel. Ele arremessa o gibi com descaso No lixo da cozinha, Junto às sobras de hoje E de amanhã também: Carne avermelhada e molho agridoce E embalagens de papel.
- Guilherme Fujishima
1 note
·
View note
Text
A lacuna entre os títulos pode formar (ou deformar) mais que uma dupla
Com o tempo descrente Com o tempo, decompôs Nas areias da praia À areia da praia Esparramou-se pelo continente, por outros até Mas também se foi pelo ar Na saliva das vaias, na curva das interrogações, na árvore de Natal. Não ao pé, mas sim, sobre os enfeites A outras crianças Plástico banal, que porém colore Colore os sorrisos de amarelo Mas você não alcança
- Guilherme Fujishima
0 notes
Text
O primeiro dia, o triplo título
Choro, Confusão, e Sangue E planos E nomes
O primeiro, o pranto Caprichos suseranos Maiúscula veemente De rei, de ator, de parente, de santo, de anjo De charme aos ouvidos Leve, mas não estridente Elegante, fino, curto, mas que facilmente se vê, simples, forte, masculino Não com “A” Não com “Z”
O segundo, o alvoroço Este faltou. Fora endereçado Empacotado, mas não. Apenas esboço Que os pais, no caminho, deixaram de lado.
O último, o sangue. Nascimento alheio, sem uso Que expande Engole em vermelho O bebê confuso Mastiga na frente dos pais E cospe com cuidado Uma criança nova. Se é você, não importa mais Este não se esconde, não some. É o rosto amassado, o cabelo liso, Não tem memória Mas é banhado nela E tem sobrenome.
- Guilherme Fujishima
0 notes
Text
Os acidentes, as esculturas e as mil bocas
Ingênuo tropeço afunda rosto no barro impacto no peito braços abertos levanta-se. Fica gravada moldura oriunda de susto perfeito Lâmina que falha e golems apaixonados recortam o bloco em reclusa fornalha esbarro ex-barro, Reflexo de argila que o fogo pariu à semelhança de um, Pela perseverança de mil. Deixei-o no jardim da frente, Pendurei-lhe uma flor nos cabelos, Atrás da orelha fria. Cem poucos dias depois, a escultura indigente virou assunto, Manchete de jornal, Tema poético, Fotografia, Mistério. Até que certa vez, subo ao calçamento, Lotado, eu, cheio. A revelar autor, A desvendar alheio amor e então, dúvida. Na magenta dos olhos que se dirigem à conversão estúpida do sonho em realidade do sonho da realidade sonho por realidade, Alarde. Projeção de vaidade, Ontem choveu. Decepção integra a escama, Quimera de mil bocas que deixa o ídolo, Enquanto o “eu” Cai por Terra, Aquela que tanto esmera. Rosto nas mãos, Impacto no peito, Afunda, Afunda, Finda em raso poço de lama. - Guilherme Fujishima
1 note
·
View note
Text
O sol que não vimos
Sentados, esperamos
Esperamos nosso salvador
Ele prometera que estaria aqui
Em horas de silencioso louvor,
entraram apenas humanos, mas por mero engano
Espero que percebam o erro por si
Que pense quem erra
Sentados, esperamos
E ninguém viu
Vil espera
Até que um cachecol marrom se levanta
Como quem esqueceu as chaves
Ou de regar as plantas,
De quadro de natureza morta
Nas mãos, a cadeira em que sentava
E uma folha de caderno
Aviso na entrada
E em gesto mais terno, deixa a sala
E a cadeira,
na porta.
Disseram-me uma vez,
que algumas pessoas são solares
De brilho próprio
E espera breve
Que desbravam os mares
E elaboram teses
E são o anti-ópio
E não há quem dilua
Pois o sol pesa
Em todos os lugares
Desse universo em que
me transformo em lua.
1 note
·
View note
Quote
O Acendedor de Farol e a Tempestade Chuva fina, quase espectral Os olhos perdidos Em oceano de concreto Distantes Voluntário acendedor de fanal De pé direito inquieto Flâmula alaranjada Da cor dos dentes Do filtro à mente Sobre montanha angulosa Que não estava lá antes Cansada No penhasco dos gigantes Gigantes perdidos Busca por sentido Em fazer modesto sol Impotente quanto ao clima, Ao ascender infausto farol, Ascende apenas fumaça Às nuvens acima.
Guilherme Fujishima
1 note
·
View note
Quote
Catarse a Tália Oh Tália! Por que chora? Nessa coxia empoeirada... É por que ouve o silêncio Dos fantasmas que aplaudem, Lá de fora? Oh Tália! Por que chora? Pois trouxera o fogo à alma? Seu destino é suicida? É de cegueira por trauma? É a condenação eterna Ao copo de veneno Da catarse moderna? Vem cá, vamos embora! Trocaram-te por fúnebre melodia, expressionismo objetivo, prestígio da amargura, da enfermidade que já tem cura da recusa de que se ama Fantasia de ciclorama Sobre mártir que não se revelaria Incêndio compreendido em vela O prazer no que o outro não vê. Mas garanto, Tália, Que por trás da máscara dela, Secretamente buscam você.
Guilherme Fujishima
0 notes
Quote
Globo fosco Vira a ampulheta A areia já lhe corta o rosto Sentada em hangar de cedro Perfume de papel e poeira A ex-mensageira Que já esqueceu seu posto Intercala entre capa e contracapa Futurismo em globo inflável Azul e verde fosco De onde a luz mal escapa Voltas eventuais de horizonte Encoberto de rabiscos E mapas A areia que sobra Em dunas, em árido monte Soterra caso inverta Árvore do mundo Que já virou mesa no canto Restam apenas janelas, vitrais em preto e branco E assimétrica ampulheta.
Guilherme Fujishima
0 notes
Quote
Primeira Viajante de Marte A noite cai na câmara Uma parede de espelho cristalino Uma chama pálida que rebate Fragmentos de vidro ferino Projetam na sombra da sombra Primeira viajante de Marte Tripulante de instalação de arte Entoando silêncio como mais nobre hino Meu reflexo não me encara de volta Olha para o canto, fixo, distante Pede privacidade e se retira Foi procurar virtude onde ela existe. Imploro à sala que cante Ouço cada caco que gira Provoca efeito de água abstrata Do tipo que aparece ao amanhecer E logo some De ausência nata Efeito cascata. A beleza amedrontadora Hipercúbica Artesanalmente montada Para outro alguém Não à forma lúdica Da cor da alvorada Aos olhos daquele que se abstém Ao que não enxerga À chuva, à barraca, à fada Do sumiço da réplica Da luz, guerreira nua Que vai hoje E volta agora Da lua Que, no fim de nossa mera Tragédia épica Apenas Continua.
Guilherme Fujishima
0 notes
Quote
Escrevi um poema pra você… Pra você que grita Que levanta e bate na mesa Que olha para a direita e imita Que olha para a esquerda de relance E fala de beleza Você que tem certeza Do que é vulgar, como se isso existisse Como se o fizessem Família, tradição, lar. Pra você cujo deus é um homem E diabo é espectro rubro Que busca estupidez no Nordeste, Na arte, no subúrbio, no arco-íris Das cores que veste. Pra você cujo filho apanha Por conseguir amar mais Que tem medo de ter dois pais Só porque o amor te estranha. Cuja Eva ainda peca Chorando no banco de trás Procurando costela de porco Porque lhe contaram Que útero é pouco. Que só tem olhos para o que repudia Que busca verdade Em metafísica tardia Em título vazio Pra você cujo privilégio é fantasia, Por que não usa os punhos, Que procuram gatilho frio, Pra escrever uma poesia?
Guilherme Fujishima
2 notes
·
View notes
Text
Arco Completo
Fui procurar
O fim do arco-íris
Mas não era como se dizia
Havia só
Mais um arco-íris
E um pote de música
E poesia.
0 notes
Quote
Sintomas universais (?) Charlie era um bilionário Um dia perdeu sua bola de golfe favorita Atingiu-lhe tristeza E em seguida, tristeza pela anterior. Caiu em vórtice de dor e avaliação Foi parar no fundo de uma garrafa de uísque Afogou-se Depois de tocar o vidro seco, Tentou se salvar: Puxou-se para fora com uma corda Mas a corda era só uma gravata amarrada no teto.
Guilherme Fujishima
1 note
·
View note