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inarixd · 2 months ago
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Noites Brancas - Fiódor Dostoiévski
Relendo algumas obras para refrescar a memória.
Vagueando pelas ruas de São Petersburgo durante as "noites brancas". Na primeira vez que o li quase pude me sentir ali, como se já me sentisse na pele dele, mas pela segunda leitura entendi mais sobre esse sentimento. Há algo de profundamente comovente em um homem que ama mais a ideia de amar do que a pessoa em si. Dostoiévski não nos entrega um romance, mas um delírio compartilhado, uma coreografia de duas almas que se agarram uma à outra não por amor, mas pelo medo do vazio.
Gosto da escolha de cenário e da "indigência" do nosso protagonista. Nem noite, nem dia, muito menos uma história de posse, nomeado alguém, apenas é um flâneur do inconsciente, um colecionador de momentos que nunca se solidificam.
Perambula tanto que se vê espelhado, acha alguém que não tem nada mais que medo a entregar, alguém que também espera, que também projeta em outro a salvação de sua solidão. Nastienka. O amor entre eles não é mentira, mas é um amor de empréstimo, uma ficção temporária que ambos sabem ser insustentável.
Fiódor esmiúça aqui uma verdade cruel sobre a felicidade humana, ela muitas vezes reside no ainda não. O sonhador é feliz não quando está com Nastienka, mas quando imagina que poderia tê-la. Ela, por sua vez, não ama o hóspede que partiu, ama o retorno que nunca chega. Ambos são prisioneiros de uma metafísica da espera, onde o desejo só existe porque não se realiza.
A genialidade de Dostoiévski está em como ele transforma a dor em algo quase belo. O protagonista não amaldiçoa Nastienka no final, ele agradece. Agradece por, mesmo que por quatro noites, ter tido algo real para sonhar. Há uma resignação trágica nisso, ele sabe que a verdadeira felicidade não está no que se vive, mas no que se podia ter vivido.
Em tempos atuais, ou pelo menos nos meus tempos, onde vivo e sinto, pelo menos em mim, mora uma grande e infinita vontade de ter, viver, e ser. Me pego pensando em mil coisas que amaria viver, ter a quem fazer falta, ter a quem receber mas também entregar. Entregar... Entregar aquilo que nem mesmo sei se possuo, porque minha beleza esta em um talvez, talvez esse que espero para me fazer real todo esse devaneio, assim como O Sonhador. Mas também sou Nastienka, espero o talvez concreto que justifique minha espera (Talvez em mim ainda haja um bocado de fé). Amo a ideia de viver, mas não vivo a ideia, amo a hipótese de amar, mas não o parceiro a quem me declaro, amo meus sonhos que irreais me fazem viva, e vivo neles mesmo que em delírio.
E assim, as noites brancas seguem, eternas e indiferentes. São Petersburgo não guarda luto por sonhadores. O rio Neva continua fluindo, as pontes permanecem firmes, e o sol da meia-noite ainda banha a cidade num dourado melancólico. A vida segue, mas o sonhador? Ele volta para suas fantasias. Porque, no fim, sonhar é o único lugar onde ele existe de verdade.
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inarixd · 2 months ago
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Tentando
Hoje, depois de muito tempo, resolvi que irei voltar a documentar minhas muitas coisas favoritas(filmes, livros, músicas, artes em geral e todas as muitas mais áreas por onde minha mente anda...). Talvez eu abandone isso novamente, mas até lá estarei alimentando isso aqui =)
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