ivanswebb

[ivanswebb]

A flor densa da realidade

Foi devolvido ao dono todas as minhas falhas,

sem argumentos para desculpas,

e sim mais julgamentos em frente ao vidro que desloca a verdade.

Percebi que o mundo nada mais tem

além das coisas que eu tive capacidade de criar —

e infelizmente, todas elas me machucam.

Sou eu a desgraça da minha arte,

e também o consolo dela.

Tenho dois lados despercebidos,

que atuam sob a impulsividade.

Minha dor aperta minha mão

e espera que eu retribua com a mesma intensidade.

Por isso a escrita.

As tantas melancólicas frases que distribuo pela consciência alheia

são uma fuga na qual, muitas vezes, não consigo ficar sem.

Acordo diante dos acontecimentos

que necessitam ser descritos por mim.

Durmo embaixo do que uso para amenizar a realidade:

meu amor inventado, ardido.

Como me agoniza saber

que toda a força do meu amor dá seus passos no que não existe.

Eu deixaria de criar em troca de um amor verossímil.

Pararia de querer escrever em cima dos meus sonhos

e dormiria na realidade,

sem o que desejo,

mas abraçado no que posso —

e devo:

amar eternamente, sem medo

e tantos arrependimentos.

Eu sou um querer eterno.

A realização parece ser forçada a deixar meu ser

ou forçada a fingir que me conhece.

É engraçada — e pessimista, ao meu ver —

a espécie de solidão que tenho.

Ela pode acabar em um dia qualquer,

sumir de súbito.

Mas aparece quando penso demais.

E como deixo de pensar?

Quero deixar de ser eu —

hoje, ou amanhã.

Para sempre.

Posso sentir demais

e ver isso como um dom,

mas o que sinto acaba sendo inútil,

pois é verdadeiro demais.

Não tem como enquadrar outras pessoas no que escrevo aqui.

A participação de algumas em minha vida

foi do básico ao nada.

As palavras vazias e as promessas tortas

anularam minha existência.

Eu não estou aqui.

E ninguém me conhece.

Penso eu,

no momento em que olho nos olhos de quem se foi —

de quem participou da montagem das decepções.

Creio que estarei vivo mais alguns anos...

E pensarei sobre.

Pensarei demais.

Pensarei bastante.

[ivanswebb]

Carta a quem sente o que sinto

Não sei se há quem pense assim, mas o que irei descrever passa longe de alguns tipos de amores convencionais, aqueles que não passam de tranquilidade e pinturas felizes criadas justamente por quem ama. É lindo, sempre foi, mas venho tendo a sensação de que o amor pode ser mais que uma suavidade que eu tinha como inerente ao mesmo. O amor, a paixão, podem ser uma moldura para expressar a mais pura violência (entenda primeiro, caro leitor, que estou longe de querer expressar qualquer violência física sobre quem amamos). O que quero passar é que amar pode causar uma espécie de chama onde não só você queima, mas é deveras grande sua vontade de querer fazer o outro queimar. Dificilmente — pensei eu antes de escrever isso — eu conseguiria explicar tal sensação, e é justamente o que estou sentindo no momento.

É necessário deixar em águas claras que, quando falo sobre amor, não estou me referindo ao amor que você sente pela sua mãe ou pai, mas sim a quem nós encontramos pelos caminhos da vida.

Ao amar, nos deixamos levar porque a sensação é terna e tudo parece transbordar, mas o que eu sinto quando o amor cai sobre mim é uma vontade imensa de amar até sentir dor, até sentir agonia. Amar com força, amar rangendo os dentes e apertando com as pontas dos dedos até quem amamos começar a fazer parte de nós mesmos. É como esmagar um pêssego e observar o suco escorrer entre os dedos, é fazer tudo isso e ainda assim continuar amando e sendo amado. Vai além de uma suavidade fraca; é ser, nos dias frios, o sol para quem amamos.

No amor devemos querer ser mais que só nós mesmos. Devemos querer ser a pessoa por quem nos apaixonamos. Devemos beijar com força, abraçar com tanta fúria que nossos corações irão raspar um no outro.

Manifesto aqui as coisas que penso como uma maneira de obter uma curva em minhas diversas ansiedades. Se disse, é porque mastiguei tanto que o que eu engoli quis virar palavras, e eu evito com toda brutalidade lutar contra o que me esvazia.

[ivanswebb]

Eu não sei fingir sentido. Se não tenho pelo que viver, posso morrer até pelo que nunca vi.

[ivanswebb]

Desabo com total veemência. A intensidade não vem de mim, mas do que me causou o fato de ter te amado tanto.

O que acontece com a alma quando se passa dos limites?

Eu passei — te amei com tanta força que trinquei minha existência.

Estou vulnerável. Com vergonha.

Meu coração agora é um verme, corroendo tudo que usei para te alcançar.

Talvez eu nunca te esqueça.

Continuo inquieto, alternando entre os cômodos da casa.

Por um instante, me pergunto se você também é capaz de se sentir solitária,

porque até este momento, eu senti tudo sozinho.

Às vezes, desejo que existam curvas em seus pensamentos, algo que te traga de volta.

Talvez eu nunca te esqueça.

Parece impossível, mas imaginei seu rosto de fronte ao meu — eu juro, senti o toque,

a pele aquecida sobre a minha.

Foi sincero.

Eu quero ser calmo, quero ser totalmente destruído, não quero ter tempo de pensar em sentir dor.

Que os deuses, por misericórdia, possam destroçar meus membros e órgãos, porque com eles te amei demais.

E talvez eu nunca te esqueça.

[ivanswebb]

Oração

Creio em minha própria presença.

O silêncio está ali — e nada, e ninguém, ali está.

Que assim continue, para que o tempo me encontre.

O descanso tem que ser só.

[ivanswebb]

A normalidade é o enfeite de nosso destino.

As coisas que acontecem… apenas acontecem.

O mais vil dos homens morre.

O mais nobre também.

Eis a vida: atribuída a tanto valor que o dinheiro cobre Deus

— e tudo que Ele representa.

Eis o homem que mastiga o inferno,

recobra os sentidos e continua a viver...

ou se mata.

No fundo de um mundo, há outro.

E depois da vida... pode não haver descanso.

[ivanswebb]

"O mais desconexo dos escritores" - foi o que ele disse.

O corpo perde velocidade no frio,

mas o tempo é tão contínuo que corta a pele.

O corpo é uma maçã,

e nela há uma flecha fincada bem no meio.

O corpo é um peso sem calor —

o que nos esquenta nunca é nosso,

e isso é triste.

As mãos sobre meu rosto,

as janelas que o homem abre sem nenhum propósito.

O café sob o céu branco,

Deus — um grande véu de paz e tédio,

a cortina dos anjos.

Sinto algo quando escrevo:

uma pequena morte ou um pedaço de esperança.

Basta dizer:

“eu não te amo”

e

“eu não voltarei” —

simples como água e vento.

O oceano, em uma fonte,

tem seu reflexo preso em um mármore moderno.

Balança, sem parar, sua imagem.

Pessoas jogam moedas.

Eu desejo o desejo delas.

Eu desejo ter desejo,

mas sou um canto mal iluminado —

daqueles que, se observados por muito tempo,

desenham uma silhueta escura e pavorosa.

Desconexo, como pode ver — mas porque quero.

Pensar em linha reta é uma chatice.

O teto não desaba.

A chuva não cai.

Desse jeito, eu não tenho poder em nada.

Basta dizer o que quer dizer —

e eu escutarei.

[ivanswebb]

Caraca, curto mto seus textos, me inspiram, publica mais, mto bom!!

Olá, tudo bem? Obrigado. Postarei mais em instantes. Obrigado pelo elogio 🫂

[ivanswebb]

Nada mais além do sol

Nesse antigo presente, o amor do passado acabou de acabar, e todas as juras perderam o sentido.

O céu condenou quem amei, e a raiva vai queimar em mim antes de tudo isso.

O universo parou, e todos os carros se juntaram em uma só avenida — lembra meu peito: sem espaço, sem vida.

A cada instante que passa, tudo que é meu o tempo revela.

Por isso, não tenho nada em meus braços.

Porém, queria ter ela.

Toquei meu rosto durante a noite — é como tocar vidro.

Empoeirado estou, com veneno batendo nas paredes do coração.

Quem me garante que voltarei pra casa nesse dia estranho,

onde um sonho não parece sonho porque tomei consciência de que sofria?

Sem discurso pra alguém ouvir, sem ouvintes pra relatar o que eu sentia.

Dói dizer, e ter que afirmar: talvez viver seja isso.

Quando eu morrer, vou lembrar

que tudo que fiz neste mundo escuro foi encontrar um tanto de brilho.

Nada mais além do sol.

[ivanswebb]

[ivanswebb]

Cronofagia

Estou entre os tecidos do tempo, querendo mais horas — implorando a tudo que deixei escapar.

Um pássaro pousa diante de mim, bica o chão como se houvesse migalhas ali. Esse pássaro sou eu.

Meu corpo e suas asas carregam uma cronofagia intensa: ao bate-las, avanço no tempo; ao olhar para trás, me vejo mais miserável do que já sou.

Não costumo voar quando chove. Sempre busquei abrigo das águas que o tempo traz.

Dessa vez, não encontrei nenhum. As horas passaram tanto que já não há mais nada no mundo para mim.

Tudo é branco. A transparência que vejo ainda me engana.

Continuo seguindo, mas nunca chego a lugar algum.

Voo sem sentido até o esgotamento.

Nem chão havia para pousar.

Agora, viverei caindo para sempre — com todo o tempo do mundo.

[ivanswebb]

O lugar ao lado do seu

Existem dias em que vivo por debaixo de todas as coisas. Tudo é maior que meu ser. De longe, não consigo avistar o que vem à frente — então bato nas coisas e arruíno meu dia. Sinto uma dor no peito; quero ignorá-la, mas não consigo. Ela dura tanto tempo que se aprofunda e acaba atingindo a alma.

Era tão vazio onde estive com ela… mesmo assim, continuei lá, porque o que mais ela fazia era sorrir. Porém, me tornei invisível a cada sorriso. E depois ela se foi. E onde estão meus amigos?

Agora é mais vazio onde estou, e a imagem dela nos lugares é permanente: à beira de um lago, em um parque, nas cafeterias, bibliotecas. Onde me deixo, quero lembrar de me esquecer — mas como faço para também poder esquecê-la?

Ela é meu poema e minha luta, e toda ausência, para mim, é uma mancha na visão. Ela costumava ser meu limite e toda a origem do que escrevo. Agora, todas as frases estão molhadas e não se agarram nos papéis. Já me vejo escalando o que não deveria — e caindo de uma altura onde não sobraria nada além de tudo o que sinto. E o que mais me paralisa é saber que, para ela, isso não seria o bastante.

Minha solidão vai atingir o limite. Os objetos vão começar a se parecer comigo. Onde devo estar para te encontrar? Qual é o lugar mais próximo do lugar em que você se encontra?

É a primeira vez que tenho uma alma. Eu não sei o que fazer.

[ivanswebb]

Confesso que existe uma ansiedade pelo próximo texto que publicarás.

Olá... Não vai demorar, prometo

[ivanswebb]

Um corpo que lembra um oceano.

Algo se mexeu no fundo deste corpo.

Os horizontes mudaram.

E no espaço que fica, todo desejo é solicitado.

Amor aos homens que passam com seus guarda-chuvas,

e perdão ao mundo —

Deus tem medo de tudo que criou.

Todos os dias são iguais:

com chuva ou sol, com neblina ou sem.

Todos os dias somos algo que acaba,

que tem seu começo meio torto.

A dor terminará quando esvaziarem todo o oceano.

[ivanswebb]

O que te inspira a escrita? E a vida?

Acho que a vida mesmo, a chatice dela, a beleza. Essas coisas.

[ivanswebb]

Meu coração demoraria a esfriar

Meu ser repousa nas agulhas da existência. Posso afirmar que terei que aguentar tamanha tristeza, mas jamais conseguirei obter uma força indelével para suportar tanto tédio. O tédio esmaga o futuro, reforma o tempo com areia e solidão e, de forma profundamente humana, exila todos os sentimentos existentes.

Creio não ser eu a capa da vida, nem o miolo com todo seu conteúdo, mas sou alguém. Sou alguém que incorpora a multidão e faz de sua própria vida uma história com começo, meio e fim. Desde pequeno, absorvo as coisas e não solto — vou amá-las para sempre, sem me importar com o passar do tempo e com a distância.

Sem ensinamentos, estou crescendo enquanto existe um vão entre mim e eu, e, nesse espaço, crio peças — crio meus dramas, encaixotados em minha alma. A leveza das sombras explica a falta de sentido e, ao desaparecer na escuridão, percebo que a falta de luz é a vida que não retorna — é o fim que se explica sem motivo algum.

Para quem já perdeu algum ente querido, a vida fica chuvosa, perde mais do senso que um dia ela teve em grande quantidade. Ao andar em direção às coisas, um grande buraco se forma, extraindo a realidade palpável dos objetos. Tudo é fundo como o oceano, e você começa a dar valor para o que sabe que um dia acabará.

Começo a me arrepender do que falo, porque, com o encanto da nostalgia, eu me perco nas palavras. Quantas vezes quisera voltar, caro leitor, para um determinado momento?

Foram alguns minutos meus, tentando resgatar uma memória. Eu deveria ter morrido quando pude ser feliz — meu coração demoraria a esfriar.

Gostaria de estar pregado na felicidade como Cristo na cruz. Que ideia horrenda!

[ivanswebb]

A ruína do mundo quase foi o silêncio

Seu traje: o oceano. Sua luz, feita com meus olhos.

Quando um sonho sobrepõe o outro — isso é amor.

A sabedoria de quem criou, foi e fez, e a amargura da fala;

o silêncio, por muito pouco, foi (e não foi) a ruína do mundo.

Enquanto você chacoalha o guarda-chuva,

as estátuas em seus olhos começam a fazer sentido,

e a vida perde movimento.

Todo detalhe é exposto.

Agora, o mar poderá me engolir.