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Depois de ver Maddie vestindo suas roupas, James decidiu que aquela visão era o suficiente para uma vida inteira e fez um acordo mental consigo mesmo de evitar olhar para o lado quantas vezes fosse possível.
Era patético, na verdade. Quase quinze anos depois, ainda se atingia com os fragmentos do que poderia ter sido. E sabia que agora não poderiam estar mais longe do que ele tinha sonhado, mas bastou um esboço de Maddie aconchegada no calor do carro com o corpo envolvido por seu casaco e os cabelos emaranhados sob o gorro de lã para que ele se sentisse virtualmente transportado para alguma realidade alternativa onde nunca a tivesse perdido.
Seria mais fácil se ele fosse menos sentimental. Se fosse mais indiferente, ou menos atento a tudo, talvez pudesse passar impune por aquele choque de realidade. Mas não era o caso. Ele era jornalista, vivia de histórias. Não era assim tão estranho que não tivesse superado aquela em particular, aquela que não era de conhecimento de mais ninguém além de si.
Era também por isso que a ideia de Maddie recusando até mesmo uma carona completa foi o bastante para fazê-lo firmar ligeiramente as mãos no volante, um pouco irritado. Não com ela, propriamente dizendo. Com a situação? Consigo mesmo? Não sabia dizer. A dispensa certamente tinha vindo por educação, mas ver Maddie recorrendo a tais formalidades, logo com ele, apenas alargava a sensação de frustração.
── Pelo amor de Deus, Mad, não vou te largar na esquina ── disse, sério, sem perceber como a expressão facial tinha decaído em alguns tons. ── Não é nada demais. Vamos lá.
Já estava ficando escuro do lado de fora do carro. James semicerrava os olhos com os feixes de luz dos postes pela estrada que sequencialmente iam iluminando e apagando seu semblante quase na mesma velocidade de seus pensamentos.
── Travessa da Dewey ── disse por fim, enquanto se aproximavam do local. Na tentativa de melhorar o próprio aspecto, abriu um sorriso como se não estivesse fazendo um esforço anormal para não se afetar com algo tão corriqueiro quanto uma carona. E de repente lá estavam os dois: James com um noivado esquisito com uma moça legal até demais, seu amor da adolescência vestindo suas roupas no banco ao lado e o carro estacionado em um bairro onde a Madison de 18 anos jamais pensaria em viver. ── Não foi assim tão difícil, foi?
Reconhecendo as boas intenções do velho amigo, Madison riu com a frustrada tentativa e o comentário tecido sobre ela, mesmo que um novo objetivo tivesse sido alcançado. Depois de ter planejado uma tarde solitária e custosa de ressaca, ter a companhia aprazível de James na praia, com direito a um mergulho torturante, constituía uma agradável surpresa. ── Tudo bem, eu não aceitaria ser levada pra lá mesmo. ── Inspirou profundamente, retomando o fôlego, após emergir da água. ── Apesar de não ter medo, nem um tiro me convenceria a fazer uma visita ao hospital. ── Deu de ombros. Não estava sendo dramática, realmente apresentava um bloqueio diante de qualquer situação que implicasse cuidado com a própria saúde, ou os gastos exorbitantes que uma mísera visita ao médico acarretava. Assentindo, considerou-se satisfeita com a visita fulgaz ao mar, que a revitalizara como havia esperado.
A cada novo passo dado em direção à areia seca, ela sentia o vento cortante atingindo uma nova parcela da pele molhada, causando arrepios por toda a extensão da epiderme alva. Enquanto a cabeça reagia ao estímulo com novas dolorosas pulsações, o restante de seu corpo despertava diante da sensação gélida, agradecendo pela transição para algo diferente do costumeiro marasmo e todo o empenho que Madison colocava em permanecer letárgica. Em alguns momentos pontuais, a dor era bem-vinda.
Antes que pudesse obter o mínimo de conforto em suas roupas secas, deparou-se com a proposta feita por James, o que subitamente a colocou em um inesperado estado de pavor. A gentileza demonstrada por ele não era ignorada, mas receio de que tivesse acesso a uma parte tão íntima de sua vida era sobrepujante. Distante de morar em um lugar elegante e aconchegante como a antiga casa dos pais, sentia vergonha de receber alguém de seu passado no local que representava, com exatidão, o caos e a insuficiência de sua realidade atual. Desconcertada, porém, sem saber como recusar a oferta e não soar ingrata ao fazê-lo, apenas assentiu em silêncio, agora sendo acompanhada pelo impasse perturbador.
As peças secas foram colocadas sobre o colo, sem a necessidade de um pedido, e o coração de Madison se contorceu dentro do peito, comovida pelo gesto cavalheiresco, que muito condizia com o que já conhecia sobre o rapaz. Suspirou pesadamente, vestindo o gorro limpo, em seguida o corta vento que carregava consigo o aroma, que deduzia pertencer a James. O corpo se acomodou no banco do passageiro, mas a mente trabalhava arduamente para encontrar uma saída para aquela situação, desesperando-se com a inevitável pergunta proferida pelo outro. Não havia nada mais eficaz do que a mescla entre a verdade e a omissão. ── Hum... Não, agora estou numa travessa da Dewey, há algumas quadras do bar. ── Informou, com desânimo na voz. Incapaz de olhá-lo diretamente nos olhos, fixava as írises no porta-luvas do carro. ── Me pareceu cômodo eu me mudar para próximo do trabalho. ── Deu de ombros. Não compartilhava, porém, os verdadeiros motivos que a levaram até a nova residência. ── Mas, não precisa se dar ao trabalho de me deixar lá, qualquer lugar dar redondezas e que esteja no seu percurso já me ajuda bastante. ── Finalmente voltou-se para ele, oferecendo um sorriso, sem mostrar os dentes.
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── Sério? Putz. O inferno tá cheio de boa intenção mesmo, né? ── ele riu, sem dificuldades para fazer sarro de si mesmo. ── Sinto muito se isso não ajudou, porque pro hospital eu não te levo. Você sabe que eu tenho medo de médico ── concluiu, em tom dramático, achando graça da expressão dela. Não tinha como saber que provavelmente tinha aumentado a pressão em uma cabeça que já estava para explodir. ── Certo, vamos sair daqui antes que você fique doente e me dê mais um problema pra eu piorar.
Enquanto iam saindo da água, não demorou a perceber que muito pior do que pular naquele mar cortante era sair dele depois de acostumado, sentindo o vento arranhando como navalha a pele exposta. Instintivamente cruzou os braços diante do peito, já sentindo o maxilar travando com o choque térmico. Talvez estivesse mesmo ficando velho para certos absurdos.
── Vem, te dou carona pra casa.
E aquilo soou tão natural, tão descolado do espaço-tempo, que por um segundo sentiu como se estivesse em um universo paralelo onde ele podia dizer coisas como essa rotineiramente, como se fizessem tão parte da vida um do outro que talvez “casa” significasse a mesma coisa para os dois.
Já dentro do carro e ainda incrivelmente molhado, James se esticou para o banco de trás e colocou no colo de Madison um corta-vento e um gorro laranja surrado da faculdade. Em outros tempos, teria enfiado o gorro na cabeça dela sem aviso, mas os anos tinham passado e agora isso simplesmente não faria sentido. Enquanto ia ajustando a temperatura ali dentro, vendo uma nuvem de precipitação se formando no vidro, voltou a falar.
── Ainda é o mesmo endereço?
A cabeça de Madison latejava mais do que nunca, reagindo à mudança drástica de temperatura e ao atrevimento dela com aquela decisão. Mas, ainda que a dor lhe causasse desconforto, focava a atenção na gostosa pressão que a água exercia sobre seu corpo, quase como um carinhoso abraço apertado, assim como o movimento cadenciado do mar, que remetia ao ninar de um bebê. Aquelas interpretações eram afetadas por sua carência de toque e carinho, mas este era um segredo que levaria consigo até o túmulo. Seu lado mais sensível certamente havia sofrido grandes impactos após todas as perdas repentinas durante sua vida, em especial a de sua mãe e, consequentemente, de sua esperança, mas não a impedia de apreciar o que de mais belo e agradável ainda restava para si. Sendo assim, observava a linha do horizonte, trajando um pequeno sorriso nos lábios enquanto o velho amigo mergulhava na água. Permaneceu naquele estado contemplativo enquanto pôde, então voltando-se para James quando notou que havia retornado para a superfície.
Sorriu para ele, o olhar o acompanhando se aproximar. As gotículas de água que cobriam seu corpo reluziam sob a luz do sol, dando um ar resplandecente a ele. Tinha que parabenizar a jovem Madison pelo bom gosto em desenvolver uma paixonite por um garoto que se tornaria um homem tão simpático e atraente, havia sido uma verdadeira visionária. Interpretou seu gesto sem qualquer dificuldade, então soltando uma risada curta para a proposta. ── Ou pior, mas acho um verdadeiro crime entrar no mar e não mergulhar. ── Submergir e boiar eram as principais atividades a se desempenhar naquele cenário, afinal. Havia algo de revigorante na personalidade do rapaz, que parecia nunca ter perdido seu brilho especial, o que a cativava e despertava uma aprazível sensação em seu peito. ── Está preocupado que eu não vá encontrar o caminho de volta? ── Respondeu com bom humor à ideia de ser acompanhada. Alcançando a mão dele com a destra, se segurou a ela para que não se afastassem durante o mergulho. ── Vamos lá. ── Assentiu, concordando que afundassem juntos.
Um sorriso mais largo foi oferecido a ele, precedendo uma inspiração profunda na preparação para o mergulho. Apertando firme, deu um impulso para baixo e fechou os olhos, logo sentindo-se completamente submersa. Em seus ouvidos, havia apenas o som dos próprios batimentos cardíacos e do movimento da água, abafado por toda a pressão que fazia. Aquela espécie de silêncio era reconfortante e envolvente, uma sensação aquietante com a qual era fácil se habituar. Desejava permanecer naquele estado pelo restante de sua vida, inalcançável e inabalável. Sem conseguir abrir os olhos, interagiu com James através do toque, dando leves apertadinhas ritmadas em seus dedos, como se tentasse se comunicar daquela forma. Era bom saber que estava ao seu lado, um sentimento que há muito tempo não havia experienciado. Continuou ali até quando o fôlego permitiu, então retornando para a superfície. O ar invadiu seus pulmões com violência e a intensidade da dor em sua cabeça aumentou, mas isso não pareceu incomodá-la. ── É, definitivamente fiquei pior. ── Comentou com o amigo, rindo da própria infelicidade. Piscou para afastar o ardor nos olhos, então afastando os fios molhados de seu cabelo com as mãos. ── Mas valeu à pena.
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── Puta merda, Maddie, é bom essa água gelada servir pelo menos pra isso ── disse ele, rindo com o comentário dela. Ele ainda não tinha como saber ainda que estava rindo de um aspecto da vida atual de Madison cuja natureza, se descoberta, seria capaz de fazê-lo perder a cabeça.
Acostumando-se à temperatura, James submergiu completamente sob a linha d’água, sentindo o gelo abraçá-lo por completo. Soltando o ar pelo nariz, foi afundando até sentar-se na areia, apoiando a mão meio a um punhado de algas. Ali embaixo era incrivelmente denso e silencioso, como um planeta à parte. À vontade, ficou ali por alguns segundos apenas controlando as bolhas de ar que deixava escapar pelo nariz, sentindo o corpo acompanhando o balançar suave da água. De repente lhe ocorreu que poderia muito bem passar horas ali, sozinho, mas quase em sequência se pegou desejando que Maddie estivesse ali ao lado dele.
Impulsionando-se com os pés e mãos, logo voltou para cima, os cabelos castanhos agora negros como piche agarrando-se ao rosto molhado. Piscando para afastar a sensação de sal nos olhos, nadou até o ponto onde Maddie se mantinha de pé e fez um gesto sugestivo com a cabeça quando seus olhares se encontraram novamente.
── Você devia tentar. Vai se sentir melhor ── disse, apontando de forma sugestiva para o fundo abaixo deles, movimentando as pernas sob a água. Vez ou outra, seus pés esbarravam nos de Madison, e mesmo nisso parecia haver algo quase sagrado. ── Posso descer com você, se quiser.
Enquanto se despia das peças inapropriadas para o mergulho, Madison notava o olhar alheio recair sobre si, especificamente a pele que o biquíni deixava à mostra. Sem entender exatamente o motivo, apreciava ser admirada pelo antigo amigo, um sentimento que transparecia através do discreto sorriso que nascia em seus lábios. Apesar da própria reação inesperada, não enxergava o gesto inconsciente do rapaz com malícia, não o interpretando como nada além do que a curiosidade de alguém que a conhecia intimamente desde a infância e que há muito tempo não a via. Reencontrarem-se como adultos era mesmo intrigante, uma novidade com um grande potencial para descobertas, que instigavam o interesse dela. Seu receio era estragar qualquer chance de retomar aquela conexão, um hábito que havia desenvolvido junto com a maturidade e o sofrimento da vida adulta. Alternando o foco de sua atenção, comemorou a aceitação de seu convite, mesmo sem qualquer aviso prévio. ── Se eu estou disposta a mergulhar, mesmo com a minha cabeça latejando, não aceitarei que uma simples bermuda te impeça de me acompanhar. ── Brincou, agora se livrando dos shorts que guardava alguns de seus pertences, dispensando a ajuda das mãos.
Com um impulso, o ajudou a se erguer, pronta para caminhar até o mar em sua companhia. Mas distraiu-se por alguns instantes, admirando a figura de James enquanto o sol banhava seu semblante. Quando seus cabelos foram propositalmente desalinhados, pôde vislumbrar as lembranças atreladas a ele, sendo transportada para sua juventude durante um breve momento. E o sorriso encantador que nascia nos lábios de outrem, com os dentes brancos perfeitamente alinhados, causava a mesma reação nela, curvando os próprios lábios como um verdadeiro espelho. Nele enxergava jovialidade. Não estava diante apenas de um velho amigo, mas também da gostosa sensação que apenas a juventude havia lhe proporcionado. E, por Deus, como ele havia se tornado um homem atraente! Interrompendo o pensamento inapropriado, o desafio despejou urgência sobre Madison, que, em questão de segundos, viu-se ficando para trás. ── Isso não vale, eu sou sedentária! ── Protestou entre o riso, principiando sua corrida até o mar. Não foi capaz de alcançá-lo, mas sequer tinha isso como objetivo principal, sentindo o frescor da água logo tocar seus pés, despertando todo o corpo para aquele refrescante banho.
A resistência da água diminuía o ritmo de seus passos, mas acelerava a cadência de sua respiração, que encontrou uma barreira no momento em que a água gélida alcançou a base de suas costas. ── Puta merda, gelada é apelido! Essa água tá glacial. ── Comentou com o outro, voltando a rir da situação. Acreditando ter encontrado uma profundidade adequada para um mergulho, sem que nenhum dos dois precisasse lutar para manterem-se de pé, ela parou, voltou-se para James com um sorriso. ── Se isso não me despertar da ressaca, nada mais vai.
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James subitamente se esqueceu do que ia dizer. Sem preparo algum, encontrou-se aos pés de Madison, levantando os olhos para vê-la tirar a blusa, revelando o biquíni por baixo. Naquela posição, o sol delineava as linhas do corpo dela como um fio dourado, fazendo-a parecer quase sobre-humana.
Ato reflexo, James levou as mãos à própria barra da camisa e ergueu-a até tampar o próprio rosto, o que lhe conferiu dois segundos para disfarçar a própria falta de jeito. Tinha sido inevitável deslizar os olhos pela silhueta de Madison, mesmo que apenas por um lapso de tempo. Tinham ido àquela praia muitas vezes antes, quando mais jovens, e mesmo então James se via vez ou outra observando-a pelo canto dos olhos. Ainda assim, nunca tinha lhe ocorrido que viveriam aquilo novamente, ou que descobriria em Madison um novo tipo de atração, uma espécie de magnestismo já não mais de menina, mas de mulher.
── Não vim preparado como você ── disse por fim, torcendo para que ela não tivesse percebido o ato falho. ── Mas essa bermuda é uma velharia mesmo.
Logo já segurava a mão dela e estava de pé, batendo a mão livre pela barra da bermuda para tirar a areia agarrada ao tecido. Recuperando o ar de descontração, James empurrou com os pés a camisa até a toalha estendida de Madison e então voltou a atenção para ela, levando a mão que estivera junto a dela até os próprios cabelos, que ele coçou de um jeito desleixado enquanto abria um daqueles sorrisos que tinham lhe rendido algum sucesso no passado. James costumava fazer isso na adolescência, quando seus cabelos batiam quase no ombro, e só então percebeu há quanto tempo tinha perdido aquele hábito.
── O último a chegar paga o lanche?
Nem esperou Madison responder. Logo já estava correndo rumo às ondas, olhando para trás e rindo para ela como se de fato tivessem voltado no tempo.
Reconhecendo que estava sendo dura demais com o rapaz, depositando sobre ele as próprias frustrações, Madison soltou um suspiro pesado enquanto refletia sobre suas palavras, fazendo seu melhor para remediar a grosseria gratuita que oferecia a ele. Não era responsabilidade dele ser bem sucedido e resolvido, e estava na hora de ela amadurecer diante da discrepância entre suas realidades. ── Não acho que deva se criticar ou se cobrar demais por isso. Sei lá, eu não te culpo por querer revisitar o passado, pois nós realmente nos divertíamos muito nessa época. ── Dirigiu a ele um sorriso sincero em meio à melancolia, livre de qualquer repreensão ou julgamento. Era verdade o que dizia. Foram tão felizes, que havia se tornado doloroso demais perceber que jamais seria tão feliz novamente. Quem dera Everleigh pudesse revisitar sua infância e juventude com a mesma satisfação. Talvez, o dia em que todas as suas feridas estariam cicatrizadas o suficiente para isso, ainda estivesse próximo de chegar, mas não conseguia convencer a si mesma de que isso fosse possível. ── Só não se deixe se apegar demais a ele ao ponto de se esquecer do presente ou do futuro. ── Aquela era uma lição que servia perfeitamente para sua própria postura diante da vida e dos percalços que a levaram até onde estava hoje, empacada na própria existência corrompida. Contudo, era mais fácil compartilhar sua sabedoria não absorvida, do que aplicá-la na tentativa de contenção de novos erros. ── Mas, tá tudo bem querer ter um gostinho do que era sua vida antes, principalmente depois de tanto tempo longe. ── Concluiu com um novo sorriso, que se dissipou rapidamente.
Não esperava que seu questionamento, genuinamente inocente, causasse qualquer impacto negativo sobre James. Sendo assim, o fitou com certa estranheza enquanto parecia hesitar com sua resposta, questionando-se sobre o motivo daquela reação. Contudo, era consciente o suficiente para saber que estaria ultrapassando o limite da privacidade alheia ao se aprofundar no relacionamento que mantinha com sua noiva, pois já não lhe cabia mais o posto como melhor amiga. E o que ela sabia a respeito do casal para se intrometer no que tinham? Quando finalmente obteve uma resposta, apenas assentiu e forçou um sorriso discreto. ── Legal! ── Frustrou-se ao notar que não soava tão convincente como gostaria, principalmente por desconhecer a origem do desagrado que a possível presença da mulher lhe causava. Talvez quisesse ter mais tempo para aproveitar a companhia do rapaz, ainda que ativamente não demonstrasse qualquer gratidão pelo retorno dele em sua vida. Pigarreou, alternando o foco do próprio raciocínio. ── Talvez não seja o tipo de programa que ela comumente gosta, mas com a companhia certa e a chance de conhecer os lugares que fazem parte de suas memórias, ela certamente vai se interessar. ── Acreditava no ponto de vista que expunha, mas não deixava de considerar a possibilidade de ser provada como errada.
A resposta sucinta a fez arquear as sobrancelhas, mas um novo sorriso se desenhou em seus lábios, este muito mais leve e genuíno, remetendo alguns dos bons momentos que haviam vivido juntos. Não saberia explicar o porquê de se sentir tão privilegiada por vê-lo tão interessado em reatar aquela amizade, uma vez que temia as consequências de um vínculo tão atrelado às suas emoções, as mais enraizadas delas, mas também não podia evitar que uma chama de felicidade se acendesse dentro do peito. Felizmente, James foi rápido em alternar o assunto e ela mentalmente agradeceu por isso, também pela chance de colocar em prática a ideia que já rondava seus pensamentos. ── Fico feliz que tenha tocado nesse assunto… ── Introduziu o convite, colocando-se de pé e limpando a areia da roupa com as mãos, então se livrando de sua camiseta para revelar o biquíni que cobria seu corpo, uma escolha consciente de quem já cogitava um mergulho no mar. ── Pois estou louca pra descobrir na prática se a água está gelada ou não. Aceita me acompanhar? ── Estendeu a mão para ele, ofertando-a como apoio para também se levantar.
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@maddieever
Do you still- still love me?
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── Fria? Não, nunca ── respondeu James, sincero, imediatamente percebendo pela primeira vez como o tom de obviedade já não combinava nas conversas entre os dois. O que poderia ser óbvio dentro de um relacionamento esfriado e afastado por quinze anos? Pigarreando, recuperou a postura e começou de novo, como um de seus vários improvisos no jornal da manhã. ── Não diria que você é fria. Eu que vivo demais no passado. Foi uma crítica a mim, não a você ── corrigiu-se, encolhendo os ombros. Era mesmo verdade, e nessa linguagem James Langford não precisava de grandes improvisos. ── Penso demais no que passou, mesmo sabendo que há poucas coisas mais improdutivas do que isso. Mal de jornalista, talvez?
Deixou a gracinha pairar no ar, satisfeito por recuperar a linha entre os dois. Mesmo enferrujado, aos poucos conseguia sentir a temperatura de Madison e ter uma percepção melhor do que era ou não bem-vindo em uma conversa com ela.
Já estava pronto para uma emendar algum assunto qualquer quando a pergunta de Madison o atingiu em cheio. Um tema inofensivo à primeira vista, mas que por alguma razão causou um certo desconforto e imediatamente fez com que ele se achasse um grande merda pela maneira como se sentiu com a questão. Era evidente que Madison não tentava confrontá-lo; era uma pergunta inofensiva, como qualquer outra; esperada, até. Mesmo assim, fez com que James voltasse a ouvir aquele velho zumbido que volta e meia enchia seus ouvidos desde que começara a se perguntar se realmente amava a pessoa com quem estava ou se apenas amava a ideia de verdadeiramente amar alguém.
── Semana que vem ── respondeu, parecendo se recompor. Apesar de tirado do eixo, reconhecia que o balde de água fria tinha sido um mal necessário. Precisava parar de agir como um garoto cheio de ilusões quando reencontrava Madison e começar a responder de acordo com a vida que tinha e não com a que tivera. ── É, acho que vou fazer isso mesmo. Quem sabe? Ela não é muito chegada nessas coisas, mas...
James fez um gesto de descaso artificial com os ombros, como se aquelas pequenas diferenças de gostos na verdade não fizessem diferença alguma e, quando Madison voltou a confrontá-lo, a resposta natural não veio com o tom de obviedade de antes, mas saiu tão naturalmente que ele nem sequer pensou a respeito.
Conheço?
── Eu gosto de pensar que sim ── foi o que disse, simplesmente. Terreno perigoso, era inegável que já passava da hora de mudar a conversa de rumo antes que acabasse caindo no velho buraco negro de antes. Abriu um sorriso, indicando o mar distante, sem conseguir evitar o brilho juvenil que veio aos seus olhos quando tornou a falar. ── Também gosto de pensar que a água não pode estar tão gelada assim. Pode?
Concordava que um pouquinho de nostalgia era inevitável, mas a presença do rapaz, assim como outros acontecimentos recentes a sufocavam com aquele sentimento, logo tornando-o desagradável e sobrepujante. Era uma falácia presumir que Madison não se importava, que descartava qualquer momento bom que havia a agraciado no passado, mas entrar em uma discussão sobre o assunto lhe parecia ser extremamente desgastante e já se dava por satisfeita com as perturbações que enfrentava, sem que precisasse se justificar. ── Está dizendo que eu sou fria, James? ── Sua entonação era jocosamente acusatória e a questão era acompanhada pelo arquear da sobrancelha, que diluía ultraje em suas feições. Acua-lo com o falso confronto era muito mais atrativo, presumindo que se divertiria com a reação que arrancaria dele.
Inspirada pelo ensejo oferecido pelo outro, ela também voltou o olhar para as ondas que quebravam melodicamente, protegendo-se sob os óculos de sol, que possibilitaram o observar do horizonte sem desconforto. O mar gelado quase a convidava para um mergulho que a despertaria daquele marasmo causado pela ressaca. Considerou convidá-lo para aquela pequena loucura, mesmo certa de que o mesmo seria negado, mas James mostrava-se decidido a falar sobre o passado. Ficava mais difícil para ela disfarçar a inquietação causada pelo tópico.
Repelida pela ideia de acompanhá-lo naquele passeio, que certamente causaria a ela mais tristeza do que alegria, buscou por uma saída que o ajudasse com o impasse, sem precisar se comprometer a estar presente. ── Quando é que sua noiva vem pra cá? Mesmo que seja pra uma visita rápida. ── Perguntou, introduzindo a solução mais óbvia que encontrara. Agora que pensava no assunto, achava estranho ainda não tê-la visto por São Francisco. Escolheria estar na companhia de seu noivo se estivesse na posição dela. ── Tenho certeza de que vai adorar visitar esses lugares e escutar suas histórias. Seria importante para ela acessar essa parte da sua vida. ── A sugestão era honesta e bem intencionada, pois era o plano perfeito para se aprofundar na história de um parceiro para conhecê-lo ainda melhor. Franzindo o cenho, o fitou de volta, estudando-o, enquanto nos lábios surgindo um sorriso incerto. ── Conheço?
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James fez um gesto de falso descaso com os ombros, inclinando-se suavemente para Madison até que seus ombros se encontrassem.
── É, bom, eu sempre fui mais sentimental do que você mesmo. ── Não havia exagero ou ressentimento na frase, apenas a constatação do que sempre fora muito evidente para os dois. ── Mas um pouquinho de nostalgia também não faz mal pra ninguém, Madison.
James fez uma pausa, direcionando os olhos semicerrados pelo sol para as ondas quebrando à distância, acomodado no silêncio. Seria ridículo negar que a relação deles tinha esfriado, mas era um alívio ainda encontrar um certo conforto no espaço vazio da conversa, sem necessidade de falar pelos cotovelos para disfarçar qualquer falta de jeito entre si. Ainda conseguia se sentir à vontade com Madison, mesmo que parte de si sentisse que estavam separados por mais do que alguns centímetros de distância.
── Depois da papelaria, fiquei lembrando de mais alguns lugares que costumava ir, coloquei até no waze quando voltei pro carro, mas... acabei não indo. Fazer esse tipo de coisa sozinho é um pouco melancólico, até mesmo pra uma pessoa nostálgica como eu. Resumo da obra, desisti ── Deixou a observação no ar, sem saber exatamente aonde queria chegar. ── Acabei percebendo que estava procurando o tempo, não o lugar. Como se estivesse tentando voltar ao passado. Deve ser por isso que sempre tirei tantas fotos. ── Deu de ombros novamente, os lábios ainda delineados por um sorriso suave que dessa vez não chegou aos seus olhos. ── Mesmo assim... Parte de mim ainda tem essa curiosidade. Entendo que você não tenha, mas... ── James voltou os olhos para ela, observando-a por um momento. ── Bom, você ainda me conhece o bastante.
O que ele intitulava como “sem graça”, Madison enxergava como amadurecimento, o curso natural daqueles que não sucumbiam à dificuldade da vida como ela havia feito. Entre a mágoa que carregava por suas questões pessoais, existia também uma enorme satisfação por saber que alguém a quem havia amado tanto estava bem, estava florescendo. ── Existe mesmo um abismo nos separando, uh? ── Apontou sem crítica, vendo graça na observação. ── Graças ao meu trabalho, costumo dormir até um pouco mais tarde durante o dia, assim consigo me manter em pé no bar durante a noite. ── O que era exaustivo e minava ainda mais sua energia ou vontade de interagir com outras pessoas, culminando no seu isolamento no conforto de seu apartamento minúsculo. ── Manhãs definitivamente não são pra mim. ── Assumiu sem constrangimento, rindo baixo.
Enquanto acompanhava o relato do rapaz, Madison via-se completamente imersa na história, entretida com o dom que ele apresentava para a narrativa. Quase se esquecia da melancolia atrelada às histórias que remetiam aos anos que haviam passado na companhia um do outro, reagindo com diversão ao que dizia. ── E pelo visto elas são muito mais rancorosas também. Não acredito que essa senhora ainda deseja vingança pelo trabalho que você causou à sua própria mãe. ── Ria como fazia quando passavam horas a fio conversando em seu quarto, comentando sobre cada aluno que frequentava o mesmo colégio que ambos. A quebra de clima foi quase abrupta quando percebeu estar embarcando em um trajeto que a desagradava. Se perguntava quanto tempo levaria até que aquela nostalgia se desgastasse e já não precisassem mais revisitar o passado para manterem uma conversa. A companhia de James mostrava-se extremamente agradável, mas nada podia aliviar o ressentimento que a acometia ao pensar sobre a vida levada naquela cidade. ── O nome disso é nostalgia, James. Ela vai te acompanhar por um período até se readaptar. ── Sorriu sem dentes, ciente de que falava mais consigo do que com ele.
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James aquiesceu, percebendo a sutileza de Madison em deixar aquele assunto de lado e mais uma vez voltar o foco da conversa para ele, mesmo que não sentisse que tinha nada de interessante para contar. Em comparação às suas oito horas de sono bem dormidas, Madison e sua noite de bebedeira nitidamente teriam mais a acrescentar à conversa, mas talvez fosse mesmo melhor que ele não soubesse. De maneira intuitiva, conseguia pensar em uma ou outra razão egoísta e antiga para não querer saber de coisa alguma a respeito de sua noite com os rapazes, muito embora nenhuma delas chegasse perto da real motivação para Madison querer mantê-lo ignorante ao tema – o que, é claro, ele não tinha como saber.
── Ah, não. Essa é só a versão mais atualizada e sem-graça de mim, senhorita Everleigh. Acho que queimei todas as minhas fichas da loucura na época da escola e agora durmo cedo e acordo às cinco horas da manhã igual àqueles malas do clube de robótica que eu vivia zoando. Lembra disso? ── Deu uma risada, balançando a cabeça. Era impressionante o quanto alguém podia mudar em quinze anos, especialmente James, de quem ninguém tinha esperado muita coisa. ── A mudança em si até que não tem sido tão difícil. Voltar a morar em São Francisco é igual a andar de bicicleta, você simplesmente dá conta mesmo depois de anos sem praticar. ── Encolheu os ombros, abrindo um sorriso discreto. ── Esses dias passei na frente daquela papelaria na esquina da escola, entrei só pra ver se aquela velhinha do balcão ainda estava lá. Ela tava e ainda me reconheceu, acredita? Me perguntou se eu tava querendo comprar uma cartolina pra mais uma apresentação que tinha esquecido. ── James riu, balançando a cabeça. ── E depois emendou dizendo que nada seria mais justo do que meu filho me fazer passar pelo mesmo estresse que causei na minha mãe com essas cartolinas. Eu disse que não era pai ainda e ela respondeu dizendo que sabia, porque meus irmãos sempre aparecem por lá pra comprar material pros meus sobrinhos. Vou te dizer uma coisa, essa gente velha tem uma memória que dá um pau na nossa, tá? Ainda acho que fingem que esquecem das coisas só pra ninguém ir encher o saco deles.
A risada se desfez com o vento, que continuava soprando junto com o barulho sequencial das ondas quebrando à distância. Depois, olhou para ela de esguelha, mesmo sem saber o que estava procurando ali.
── Acho que ver ela ali ainda me deu uma... não sei explicar. Fiquei meio aflito, mas também meio aliviado. Como se nada tivesse mudado, you know what I mean?
Os trejeitos de James não passavam despercebidos por ela, parecendo inalterados com o tempo, assim possibilitando que ainda enxergasse um vislumbre do jovem no período do colégio. Quase chegou a torcer o nariz junto com ele, pois nesta mesma época de sua vida também estaria evitando um ambiente como aquele após uma noite de bebedeira. Mas, como nem tudo havia mudado para pior, Madison aprendera a confrontar sua ressaca de frente, não mais cedendo às suas consequências. Até mesmo porque, como uma mulher adulta, não contava mais com a comodidade de poder ignorar ou adiar suas obrigações. ── Não vou mentir, esse sol tá testando os limites da minha dor de cabeça, mas pelo menos o som do mar parece estar ajudando, assim como a brisa. ── Era mesmo revigorante e, até então, não havia nenhum sinal de que se arrependeria da decisão.
A indagação feita era mais complexa do que se esperaria, pois abrangia um assunto extremamente delicado. ── Bem, foi uma noite. ── Respondeu com uma risada nervosa, mas que não podia ser interpretada como o alerta que deveria ser. Talvez o adjetivo “interessante” descreveria melhor o curso de sua noite. ── Fui pra casa de um conhecido. Ele reuniu alguns amigos, nós bebemos e conversamos um pouco. ── O problema sempre começava quando o grupo se dispersava, mas esse era uma detalhe que não seria abordado na conversa. Ainda que pudesse enxergar o melhor amigo sentado ao seu lado, estava ciente de que não era mais o caso entre eles e certas coisas eram melhores serem mantidas em sigilo. ── Vergonha? Devia se orgulhar. Odeio admitir, mas acho que o álcool já está me vendo como uma senhora e tem me tratado mal. ── Brincou. Desviando o foco da conversa, voltou-se para ele com interesse no semblante. ── Então, como está a mudança e a adaptação? Aposto que é a correria que tem te levado a dormir cedo. ── Apesar de São Francisco não ser desconhecida a ele, a rotina de mudança era extremamente exaustiva.
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@maddieever
Jason Sudeikis and Alison Brie in Sleeping with Other People, 2015.
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── Ressaca? ── perguntou James, torcendo o nariz de um jeito brincalhão. Era um trejeito que tinha desde criança e que costumava ser rapidamente percebido pela grande maioria das pessoas que conviviam com ele. Depois de 34 anos, já era quase uma marca registrada. ── Tem certeza de que está no lugar certo? Na minha época, esse tipo de coisa se curava com muita água, um quarto escuro e maratona de Star Wars.
É claro que ele disse tudo isso já se sentando, como se nunca tivesse lhe passado pela cabeça a possibilidade de negar um convite de Madison.
── A noite foi boa, então? Para onde foi? ── James não sabia até onde seria razoável perguntar, mas por um momento quase conseguiu se sentir com dezessete anos novamente e não chegou a considerar que talvez pudesse soar enxerido. Aquela praia tinha uma energia nostálgica que a qualquer momento poderia induzi-lo ao erro de pensar que ainda eram os maiores confidentes um do outro. Também não lhe passava batido o fato de que Madison parecia infinitamente melhor do que durante seu último encontro; a luz do fim de tarde lhe caía muito bem e quase fazia parecer que seu rosto tinha permanecido imune à passagem dos anos. ── Agora tô com vergonha, fui dormir ontem às nove da noite.
Mantendo os olhos cerrados, Madison canalizar toda sua atenção no som das ondas do mar, que a invadia como uma doce melodia tranquilizante. A mesma São Francisco que representava tudo de ruim que havia acontecido com sua vida, todas as questões mal resolvidas e toda frustração que a desgastava diariamente, era aquela que oferecia momentos de tranquilidade como o que vivia naquele momento. Sua cabeça latejava mais uma vez, uma dor que sempre a acompanhava graças a seus hábitos nada saudáveis, mas com a qual nunca havia se habituado. Mesmo assim, este era ignorado enquanto inspirava profundamente o ar úmido e a brisa tocava seu rosto, o acariciando calidamente. Um sorriso discreto surgiu em seus lábios com a deliciosa sensação.
Sem perceber o que fazia, regularmente retornava a alguns pontos da cidade que remetiam a prazerosos momentos vividos no passado, assim podendo, de certa forma, revisitar os bons sentimentos atrelados a eles. A praia era um desses lugares, um cenário que presenciou diversos encontros entre Everleigh e seus familiares e amigos, um deles em especial. Diferente do bombardeiro de nostalgia que a acometera na noite de reencontro no bar onde trabalhava, essas visitas não a incomodavam ou pareciam assombrá-la com sua própria história, pois essas lembranças eram acessadas por opção própria e em situações de necessidade. Sentia-se menos violada quando era ela quem assumia a dianteira em estender a mão e alcançar suas memórias.
Perdida em devaneios, levou alguns instantes para discernir entre a realidade e a fantasia, consequentemente demorando a conceber a ideia de que James estava ali. De que realmente estava ali. Pendendo o corpo um pouco para trás, seu olhar percorreu todo o corpo alheio, ainda absorvendo a realidade, quase como que questionasse o que os próprios olhos viam. Por algum motivo, a comicidade da coincidência arrancou dela um riso baixo e anasalado.
A visita à praia, juntamente com os pensamentos despertados pelo local, pareceram invocar a figura de James, que agora se encontrava ali, parado ao seu lado. A surpresa da aparição foi parcialmente ocultada pelos óculos de sol que protegiam os olhos sensíveis, mas nos lábios nasceu um sorriso convidativo. Era melhor que se habituasse a vê-lo na cidade, já que agora as chances de que seus caminhos se cruzassem eram infinitamente maiores. ── Hey! ── No breve cumprimento, parecia muito mais receptiva do que no encontro anterior, talvez por não estar se sentindo sobrecarregada pela necessidade de distribuir tantos sorrisos para figuras que compunham seu passado. ── Acho que a resposta vai depender de você. ── Retrucou. ── Está disposto ou preparado pra lidar com alguém tentando se livrar de uma ressaca das brabas? ── Apesar da brincadeira, Madison deu dois toquinhos com a mão sobre a areia ao seu lado, o convidando para se sentar.
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James respirou o ar salgado algumas vezes antes de voltar a andar.
Às vezes chegava a ser assustador como alguns lugares simplesmente permaneciam os mesmos ao longo dos anos, mesmo que ele já tivesse mudado uma porção de vezes nesse intervalo de tempo. Nostálgico como era, não conseguia deixar de se apegar àqueles lugares que tanto tinham importado durante sua juventude. Caminhando com sua velha câmera digital, Langford ia procurando ângulos e cores para capturar como se pudesse prender o tempo nas imagens, estancar um pouco a sensação do peso dos anos que o tomava ao ver a orla daquela praia onde tinha passado tanto tempo antes de deixar São Francisco de vez.
James estava varrendo o horizonte através da visão da lente quando uma silhueta o deteve.
Definitivamente precisava parar de ver Madison em todo lugar em que pisava.
Piscando uma, duas, três vezes, precisou finalmente se afastar da câmera quando percebeu que o fantasma não desaparecia mesmo com toda a força de seu pensamento. A figura estava de costas para ele, sentada sobre a areia diante das ondas, mas James não tinha dúvidas de quem se tratava. E embora fosse mesmo uma coincidência feliz encontrá-la ali – feliz e estranhamente precisa -, Langford pensou por um momento se deveria ir até ela ou se estaria fazendo um favor a si mesmo fingindo que não a vira e simplesmente indo embora. Já tinha se passado mais de um mês desde que a vira novamente e, mesmo assim, a memória do encontro parecia fresca como o próprio vento que vinha do mar.
Com as sobrancelhas franzidas, seus olhos observaram-na por um momento. Os cabelos castanhos moviam-se com o vento, seus braços abraçavam as próprias pernas e ela mal se movia contra a paisagem. James não podia ver seu rosto, mas seria capaz de apostar tudo que tinha que ela estava de olhos fechados.
Sem pensar muito, ergueu a câmera novamente. Definiu os contornos de Madison contra o mar rosado pelo fim da tarde e então desligou a máquina sem checar o resultado, dando meia-volta e afastando-se rumo à avenida onde tinha estacionado o carro.
Mas a determinação durou apenas meio minuto. Logo ele já estava ao lado dela, mãos nos bolsos e um sorriso remediador no rosto quando se deixou ser precedido pela própria voz.
── Ei, esse lugar está vago? ── perguntou, por fim, indicando com a cabeça o espaço livre da toalha onde ela se sentava. ── A não ser que esteja meditando ou coisa do tipo.
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Os olhos dela não passaram batido a James, que não demorou a perceber quando uma sombra se depositou no rosto de Madison e pareceu não deixar seu semblante desde então. Não deixou de notar o tom de inflexão em sua voz, a amargura suave e diluída em suas palavras enquanto Madison dirigia um olhar ambíguo para os colegas distantes. Seus lábios sorriam, mas o sorriso não chegava aos seus olhos. Ela falava do tempo como quem se ressente de um velho amigo, como se enxergasse a tudo através de lentes de vidro.
James não tinha muita certeza de que ela percebia como ela também tinha sido atravessada pelos anos.
Mesmo assim, se sentiu um garoto de novo quando ela lhe levantou os olhos e o encarou por sobre a borda do copo. Madison sempre tivera esse efeito sobre ele. A diferença é que agora ele não sentia aquela gostosa onda morna lhe percorrer o corpo, mas uma discreta frieza se dispersando pelo peito. Como se tivesse de se acostumar novamente ao peso dos olhos dela sobre si, a treinar o próprio corpo a não se deixar atingir pela influência que ela exercia sobre si apenas pelo olhar.
Mas Madison era uma questão antiga, uma cicatriz. James tinha aprendido a conviver com isso. E ele merecia se manter imune a ela, merecia poder agir com a firmeza de um homem mesmo que seu coração ainda parecesse juvenil diante da companhia dela. Mesmo que uma parte de si ainda respondesse naturalmente à voz dela, como tanto tempo antes. Mesmo que, por um momento, ele tivesse fatalmente se esquecido de que não era apenas seu cachorro o acompanhando na mudança.
── É, sim, ele vem comigo ── respondeu por fim, colocando as mãos nos bolsos. ── Minha namorada também deve vir. No próximo ano ── explicou, abrindo um sorriso. Não foi radiante, mas também não foi falso. Foi simplesmente... contente. Conformado, muito embora ele soubesse que isso não era de modo algum justo. ── Ainda estamos vendo como vamos fazer. Você não a conhece ainda, não é? Acho que...
A frase morreu no meio, o que foi um alívio, já que James não sabia exatamente o que achava e estava apenas falando pelos cotovelos sem dizer coisa alguma. Logo percebeu o peso de duas mãos grandes sobre seus ombros, seus velhos amigos de turma puxando-o às risadas.
── Desculpe, Madison, precisamos roubar esse cara de você pra contar uma história direito...
Interrompido no próprio fòlego, James olhou para os dois lados e então voltou um rosto parcialmente culpado para Madison. Não sabia se sorria ou se pedia desculpas. Só sabia que parecia estar acordando de um devaneio, como se aquela conversa não tivesse sido real.
── Nos falamos mais tarde?
Mas a resposta de Madison foi um mistério, já que ele logo foi puxado meio ao mar de corpos e sua voz se perdeu sob o som da música. E ele quis realmente voltar, ignorar a conversa certamente repetitiva para a qual estava sendo arrastado, mas pensou que talvez o Universo estivesse protegendo-o de si mesmo ao levá-lo para longe de Madison.
Ele estava, afinal, com 34 anos.
Não tinha mais corpo ou coração para entregar a ilusões novamente.
── ⋅⋅⋅ ꜰɪɴᴀʟɪᴢᴀᴅᴏ
Madison não achava justo responsabilizar somente o tempo e a distância pelo estranhamento que surgira entre os dois, pois o vínculo que nutriam era forte o suficiente para superar qualquer um destes obstáculos ou qualquer outro. Era autocrítica e autoconsciente o bastante para identificar como a própria postura se encarregava de afugentá-lo, assim privando-o do convívio com alguém que havia se perdido completamente, que encontrava-se sem um norte e carecia ainda mais do ímpeto de recuperá-lo. Não apenas sentia vergonha de quem se tornara, mas também não sabia mais como se portar como a pessoa que havia sido antes de tudo sair dos eixos, a antiga pessoa merecedora da consideração e do carinho de alguém como James. E mesmo ciente de tudo isso, insistia em agir como se nada estivesse carregando consigo, como se a dor da perda daquela amizade não fosse parte da angústia que a definhava por dentro. Em um simbolismo papável e físico, o rapaz recuava um passo, o que não resultava na satisfação pessoal que ela esperava.
A resposta para o que de desagradável e irrelevante existia em São Francisco encontrava-se na ponta de sua língua, parecendo formigar a região, ansiando por libertação, mas foi mantida ali, assim evitando criar ainda mais constrangimento de ambas as partes. ── Eu… Eu não sei. ── Limitou-se a dizer com um riso fraco, sem qualquer sinal de humor genuíno. Escutou com atenção a explicação solicitada acidentalmente, sentindo-se culpada pela resistência demonstrada a uma notícia que deveria lhe causar uma felicidade imensurável. Quantas vezes havia sonhado em tê-lo de volta à cidade quando eram mais jovens? Durante os meses após a dolorosa despedida entre eles? Não havia como negar, a vida lentamente dizimava o que de mais belo na essência de Madison. ── Isso é realmente muito legal! Eu fico muito feliz por você. Tenho certeza de que essa nova fase será maravilhosa. ── Disse ao fim da justificativa, agora conseguindo recuperar uma parcela da figura que o outro um dia conhecera ao afastar a autocomiseração que a fazia soar tão egoísta, até mesmo se arriscando a oferecer um sorriso gentil a ele. Se ele estava feliz, era o que importava.
Seguindo a mudança de tópico, voltou o olhar na direção do casal citado, então reproduzindo uma risada baixa e genuína. ── Eles podem ter demorado um pouco, mas acabaram descobrindo o que todo mundo já sabia… Que sempre foram perdidamente apaixonados um pelo outro. ── Brincou com a história que havia marcado parte de sua história, certamente a mais próspera dela. Sendo bruscamente transportada para o auge da adolescência, sentiu um sabor agridoce invadir sua boca, arrastado pelo misto de sentimentos causado pelo revisitar da época onde ainda considerava-se feliz. ── Pois é, e não volta nunca mais. ── A fala pesarosa era proferida com profunda melancolia. Não podia evitar pensar no quanto se arrependia pelo tempo perdido e o quanto remoía todas as escolhas equivocadas tomadas no decorrer de sua vida. Aquele era o grande problema em se reencontrar com figuras do passado, pois o mesmo sempre encontrava uma brecha para aterrorizá-la. Recusando-se a deixar que a melancolia dominasse a conversa, uma vez que já se tornava dolorosa o suficiente, tentou abordar um assunto que certamente traria um pouco mais de felicidade para ambos. ── Mas, então… Isso significa que seu cãozinho está vindo com você? Tenho certeza de que São Francisco estará muito melhor com ele por aqui. ── Sem realmente se dar conta do que fazia, de certa forma, vocalizava o interesse em descobrir quem exatamente o acompanharia naquela mudança.
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Bem-intencionado como era, James não chegou perto de perceber que o que tinha dito havia sido um erro crasso. Embora gostasse de pensar que conhecia Madison como a palma de sua mão, o efeito dos anos a longa distância já se fazia notar naqueles pequenos detalhes. Mas era cedo demais para ele perceber isso ainda, cedo demais para admitir que já não a conhecia realmente. A verdade é que talvez nunca se sentisse particularmente disposto a reconhecer que havia perdido boa parte de sua capacidade de interpretá-la e, junto com isso, seu espaço como amigo, conselheiro, porto-seguro. Eventualmente teria de se conformar com isso, para seu próprio bem, mas hoje não.
Ainda não.
Mesmo assim, a risada que escapou dos lábios dela lhe soou estranha. Como um ruído fora do lugar, deslocado no espaço e no tempo. Não pareceu em nada com a risada dela como ele a conhecia, como tanto gostava de se lembrar, mas dessa vez decidiu pensar que aquilo não passava de mais um efeito da maturidade sobre seu tom de voz e maneira de se expressar.
──- É, bom, nisso você tem razão ── concordou, cruzando os braços, sem saber mais o que dizer sobre o tema. Não queria fazer o assunto girar em torno de si, seus 5 minutos de fama ou a maneira como sua carreira tinha decolado. Não quando via Madison tão longe de todas as promessas que tinha feito para si e para os outros. Mesmo assim, era uma novidade ficar sem palavras perto dela.
A única novidade maior do que isso foi a reação de Madison ao seu retorno. Ele poderia ter relevado a reação inicial, mas a justificativa que se emendou logo em seguida deixou evidente que havia algo de errado. Por que Madison estava se dando ao trabalho de reforçar que não tivera a intenção de expressar que não o queria por perto? Sem perceber, em um gesto mínimo e quase imperceptível, James deu um pequeno passo para trás, como se perdesse o equilíbrio, o sorriso ainda desenhado no rosto sob olhos que já não sorriam tanto assim, maculados por uma névoa de dúvida.
──- Yeah, well, I am ── assegurou. ── You talk as if San Francisco is some sort of pile of trash. What’s here not to like? ── perguntou, recuperando o bom-humor enquanto empurrava o orgulho ferido para algum canto esquecido da mente. ── Minha vida sempre esteve aqui, apesar de tudo ── continuou, encolhendo os ombros.── E a NBC tem várias sedes ao longo da costa. A principal é a só uma hora de distância daqui, então... ── Precisava dar uma justificativa? Nunca tinha pensado tanto assim no assunto. Voltar para São Francisco simplesmente tinha sido instintivo, mas o comentário de Madison fazia parecer que ele estava cometendo um erro de algum tipo. ── Bom, estou feliz. Mais perto da família. E Los Angeles é tumultuada demais. Não faz muito meu tipo ── concluiu. Tentando desviar o assunto de si mesmo, voltou seu olhar para os colegas ao redor, sem saber o que fazer com a inesperada falta de familiaridade perto dela. ── É bom ver todo mundo de novo. Lembra quando a gente dizia que Emme e Remy se pegavam escondido? Dá pra acreditar que estão casados? ── riu, observando o casal a distância. A risada morreu naturalmente, sem nenhum pretexto aparente. ── O tempo passou mesmo, Maddie.
Uma espelunca! Trabalhava em uma verdadeira espelunca! Mentalmente categorizava, sem a necessidade de amenizar a realidade da mesma forma que o rapaz fazia ali, completamente atônito com a notícia que nada se adequava às promessas vazias feitas por seu suposto futuro promissor. Tinha ciência de que o estabelecimento que se interessara por seu currículo estava longe de qualquer luxo e, exatamente por isso, se contentava com funcionários com pouco a nada para oferecer. Contudo, escutar o antigo amigo - alguém que a conhecera durante o auge de sua juventude e potencial - reforçar a precariedade do lugar, que representava perfeitamente bem a decadência de sua vida adulta, pareceu especialmente doloroso. Como a pessoa frustrada que havia se tornado, seu desejo era mandá-lo para o meio da merda após seu comentário, mas gostava de acreditar que o mesmo não havia sido proferido com más intenções e também sabia que ele não tinha responsabilidade alguma sobre sua condição amarga. Assim como estava habituada a fazer, apenas engoliu suas frustrações, forçando um sorriso nos lábios.
Fingir-se feliz e satisfeita era exaustivo, mas natural para quem preferia esconder a verdade do que aceitar a derrota assumindo a própria fragilidade e lidando com ela. ── Certo... Pode deixar, logo tenho uma conversa com o meu gerente para alertar sobre a condição do banheiro. ── Mostrava menos entusiasmo ao dizer, mas ainda assim se espantava com talento em forjar naturalidade e desapego com os seus sentimentos. ── Não queremos nenhum cheiro de calor humano por lá. Na verdade, somos contra qualquer tipo de calor humano por aqui. ── Foi até capaz de brincar, baseando-se somente na própria frieza e não num ideal compartilhado com o restante da equipe que ali trabalhava, que até se empenhava para manter o clima acolhedor do bar. Questionava a falta de novidades por parte de James, mas não insistiu em pressioná-lo para obter uma resposta diferente, assim também poupando-se de invejar alguém a quem desejava bem. ── Bom, eu não sei você, mas eu tendo a não acreditar em tudo que eu vejo na internet. Lá temos acesso apenas à parcela da vida das pessoas que elas querem que as outras vejam. ── Era o que diziam e no que ela ansiava acreditar, ainda que muitas vezes se deixasse afetar por toda a felicidade que encontrava nas redes sociais, fosse esse sentimento genuíno ou não. Aliás, quem era ela para julgar o fingimento alheio? Até chegava a admirar o talento de alguns em fazê-lo.
A informação seguinte a pegou desprevenida, contradizendo suas crenças a respeito da realidade de outrem e a colocando em uma posição de incredulidade. Certamente deveria estar feliz em ter o amigo de volta à cidade, e estava, uma vez que sua ausência nunca havia deixado de ser sentida, mas não sabia o que seria da nova dinâmica entre eles sem a segurança da distância. Odiava-se por pensar de tal forma. ── O quê? Como assim? Você tá voltando de vez pra cá? ── Indagou mecanicamente, transparecendo confusão de forma desmedida. ── Por quê? ── Continuou, ainda sem filtrar o que saía de sua boca. Soava indignada com a escolha que nem sequer a pertencia e imediatamente percebeu o erro cometido. Com uma breve pausa, fechou os olhos e riu sem graça, aproveitando para reorganizar os pensamentos. ── Quer dizer... Não estou dizendo que não te quero aqui é só que... ── Retratou-se, então, assim evitando que James se ofendesse com sua reação, que falava muito mais sobre a própria percepção e relacionamento com São Francisco do que qualquer outra coisa. ── Você parecia ter criado toda uma vida fora daqui.
#sim#eu fiz esse easter egg pra dar um final feliz pra remmeline no multiverso <3#maddie#1 ── ⋅⋅⋅ ᴛʜʀᴇᴀᴅ
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