críticas, editoriais, playlists e divagações sobre música pop
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ptr plays #15

Com Viagra Boys, Kraftwerk, R.A.P. Ferreira, Imogen Heap e muito mais (aqui).
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tweet reviews: Spare Ribs, Face the Darkness II e Home
Uma rubrica com um título auto-explicativo.

Spare Ribs [LP] Sleaford Mods 15 Jan / Rough Trade
Ao 11º LP, a dupla traz-nos mais um registo electropunk minimalista e cru repleto dos berros politizados (e certamente inebriados) que lhes deram fama. O problema? Fica cada vez mais difícil recomendar mais um disco de Sleaford Mods quando já temos outros dez praticamente iguais.
[4/10]
Ouvir: “Spare Ribs”, “Fishcakes”

Face the Darkness II [LP] B L A C K I E 8 Jan / edição de autor
B L A C K I E acordou e escolheu a violência. O resultado está aqui, neste LP de noise rap confrontacional e feito com destroços de industrial e free jazz. Desavergonhadamente unidmensional, FTDII deverá fazer as delícias de quem acha que os Death Grips às vezes são mansinhos.
[7/10]
Ouvir: “I Get Numb”, “Stop Them from Returning”, “My Own Reasons”

Home [LP] Rhye 22 Jan / Loma Vista
Pegando mais uma vez na fórmula de "r&b para fodas carinhosas" que tanto sucesso lhe tem dado, Mike Milosh volta à carga com um disco que entusiasma a espaços, mas que, tal como tudo o que o artista tem feito nos últimos anos, vai certamente escapar-se da nossa memória em breve.
[6/10]
Ouvir: “Come in Closer”, “Safeword”, “Black Rain”
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playlist: o Janeiro do nosso (segundo) confinamento

Aqui fica uma playlist com algumas das coisas que mais têm rodado por estes lados, em jeito de balanço de final do mês, como forma de assinalar o regresso à actividade desta chafarica.
(Só não se espantem com o regresso do silêncio no final do lay-off.)
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ptr plays #14

Com Ryo Fukui, Lil Uzi Vert, Fausto, Soccer Mommy e muito mais (aqui).
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tweet reviews: Man Alive!, Sing in a World that’s Falling Apart e 3.15.20
Uma rubrica com um título auto-explicativo.

Man Alive! [LP] King Krule 21 Fev / XL Recordings
Ao terceiro LP, chega a desgraça. Mantendo a toada post-punk com laivos de crooner de 6 Feet Beneath the Moon (2013) e The OOZ (2017), Man Alive! sucede em trazer-nos uma visão ainda mais crua e sombria de King Krule, mas falha em conseguir ser mais do que dolorosamente monótono.
[2/10]
Ouvir: “Cellular”, “Alone, Omen 3”

Sing in a World that’s Falling Apart [LP] Black Lips 24 Jan / Fire Records
É sempre penoso ver uma banda que outrora nos entusiasmou tornar-se inócua; infelizmente, o nono LP dos Black Lips só vem confirmar a doença que assolou os norte-americanos. Inclinando-se para um country-punk estéril, o disco não ofende os ouvidos, mas também não deixa marca.
[5/10]
Ouvir: “Angola Rodeo”, “Locust”

3.15.20 [LP] Childish Gambino 22 Mar / mcDJ; RCA
Se houvesse prémio para disco mais preguiçoso do ano, 3.15.20 seria um sério candidato para 2020; dividido entre a sempiterna sombra de Kanye e uma neo-soul mais acústica, Gambino traz-nos aqui algumas ideias promissoras, mas que raramente chegam ao seu destino. Uma tristeza.
[4/10]
Ouvir: “19.10”, “42.26”
João Morais
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ptr plays #13

Com Chico da Tina, Bombay Bicycle Club, Frank Ocean, José Mário Branco e muito mais (aqui).
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Crítica: The New Abnormal, The Strokes

Crónica dum regresso anunciado.
The New Abnormal [LP] The Strokes 10 Abr / RCA Records
2006 foi um lugar estranho. Foi o ano em que o Facebook arriscou sair do universo universitário para conquistar o mundo e o Twitter deu os seus primeiros passos (arrastando-nos no processo para uma vida repleta de discussões fúteis e conteúdo não poucas vezes dispensável), “You’re Beautiful” de James Blunt e “Bad Day” de Daniel Powter ocuparam de forma criminosa as tabelas de vendas e os alinhamentos radiofónicos (e a nossa espinha até gela com essas memórias) e Crash perpetrou o assalto da década, ao “roubar” a Brokeback Mountain o Óscar de Melhor Filme (a sério, Academia?!).
E porquê recordar agora esta época de aparente má memória? Simples: 2006 foi também o ano de First Impressions of Earth (se ignorarmos o lançamento alemão, a 30 de Dezembro de 2005), a última ocasião em que pudemos vislumbrar em estúdio uns The Strokes dignos do seu estatuto de gigantes do indie rock do início do século. Desde então, 14 anos se passaram e com eles vieram os registos da miséria, Angles (2011) e Comedown Machine (2013), e Future Present Past (2016), um EP que, apesar de manso, deixava antever que ainda havia alguma centelha de inspiração nos nova-iorquinos.
The New Abnormal, sexto longa-duração do grupo de Julian Casablancas e companhia, está longe de ser um disco perfeito, mas felizmente vem confirmar o cumprimento de certos mínimos olímpicos; encontramos aqui um punhado de canções dignas de serem cantadas bem alto no confinamento dos nossos quartos (se não acreditam, oiçam os refrões infecciosos de “Brooklyn Bridge to Chorus” e “Bad Decisions”) e o regresso a uma produção (a cargo de Rick Rubin) crua e com poucas pingas de polidez que, apesar dos desvarios, nunca deixou de ser a marca identitária dos The Strokes.
Alie-se a esse território familiar alguns pozinhos de amadurecimento (especialmente visíveis na amargura de certos versos), uma certa inclinação para as baladas mais introspectivas em detrimento dos malhões pop típicos do grupo e a adição de Billy Idol e outros nomes do rock mais new wave dos anos 80 ao rol de influências tradicionais da banda (nesta altura já todos reparámos nas semelhanças entre “Bad Decisions” e a seminal “Dancing with Myself”) e temos aqui a fórmula de The New Abnormal: uma viagem de carrossel de 45 minutos, repleta de meditações absurdas de Casablancas perfeitamente adocicadas pelas guitarras de Hammond Jr e Valensi, que nos vimos a repetir mais vezes do que seria de esperar para um álbum dos The Strokes em 2020.
É certo, também se encontram aqui momentos que nos fazem levantar as sobrancelhas pelos piores motivos e nos impedem de colocar este álbum no mesmo patamar que os primeiros três discos da banda; é o caso de “Selfless”, canção que por si só não envergonha em nada os The Strokes, mas cujo aparecimento tão cedo no alinhamento acaba por atrapalhar um pouco o ritmo e o ímpeto de The New Abnormal, e de “Eternal Summer”,“At the Door” ou “Why Are Sundays So Depressing”, faixas promissoras que se vêem tristemente arruinadas com linhas de sintetizador balofas e carregadas dum certo pseudo-experimentalismo meio esquizofrénico.
Ainda assim, não deixa de ser enternecedor ver uma banda com 22 anos de carreira que se recusa a acomodar-se e resiste a repetir a papel químico os bons velhos truques de “antigamente” (e é por isso mesmo que, apesar de miseráveis, Angles e Comedown Machine ainda merecem algum do nosso respeito), preferindo ao invés disso procurar uma nova pele para vestir no início desta nova década. Certo, não vai ser este o disco com que vamos apresentar aos nossos filhos uma das bandas mais importantes da nossa juventude, mas, bem feitas as contas, até somos capazes de nos habituar a este The New Abnormal.
[7/10] João Morais
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ptr plays #12

Com JPEGMAFIA, Leonard Cohen, Caribou, Fiona Apple e muito mais (aqui).
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ptr plays #11

Com The Strokes, Warpaint, Radiohead, Mura Masa e muito mais (aqui).
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ptr plays #10

Com Galgo, Gilberto Gil, Cigarettes After Sex, Kamasi Washington e muito mais (aqui).
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Reportagem: LCD Soundsystem

Coliseu dos Recreios, Lisboa 21 de Junho de 2018
Como é que se fala duma noite de paixão? Como é possível descrever a alegria, a excitação, a euforia de consumar numa noite todo o amor que sentimos a arder durante anos a fio nos nossos corações? Como é possível descrever um orgasmo sem recorrer aos bons velhos lugares comuns e sem falar de tremores, de pernas bambas, de arrepios, de suores frios e da momentânea libertação do corpo de todas as amarras com que o cérebro e a decência o prendem durante o resto do tempo? Como é que se fala sequer da beleza do sexo da reconciliação, ou até mesmo de fazer amor com alguém que, apesar de nos ter magoado tanto e de forma tão profunda, ainda continua a ser dono e senhor dos nossos corações? Em suma, como é que se fala do concerto que os LCD Soundsystem deram no Coliseu no ano da graça de 2018? Posto isto, nem vamos perder muito tempo a falar do desgosto que sentimos com o fim da banda, da hipocrisia do espectáculo de despedida (da qual só nos apercebemos a posteriori, porque os traídos são sempre os últimos a saber) e da raiva que tomou conta de nós quando soubemos da reunião, pois se há coisa que a vida e a bela arte do kintsugi nos ensinaram é que os nossos frágeis corações, mesmo depois de quebrados em milhares de pecinhas pequeninas, podem sempre ser colados e consertados para ficarem mais fortes, mais belos e mais capazes de amar; e american dream, disco que o grupo veio apresentar a Lisboa, foi sem dúvida a cola de ouro perfeita para a nossa reconciliação com Murphy. As memórias ainda estão um pouco difusas, mas temos a certeza de que chegámos ao Coliseu no início do set de abertura de Shit Robot, que durante uma hora atirou para cima dos presentes o belo do technão, recebendo da plateia respostas que com o passar do tempo se foram tornando cada vez menos educadas (e até nós, apreciadores de um bom bater do pé, temos de admitir que percebemos os apupos vindos de quem não foi ali para ver uma versão indoor do que se serve numa sessão do Brunch Electronik). Também temos a certeza de que admirámos, ainda que sem espanto, a enorme bola de espelhos (retirada directamente da capa do homónimo de estreia de 2005) que adornava o topo do palco, numa reafirmação de que, durante três noites, a mais respeitável sala de espectáculo do país não seria mais do que uma pista de dança. E temos a certeza de que uma bela suave transição fez com que a última peça do set do DJ irlandês desse lugar àquela linha de sintetizador que James Murphy, melómano como poucos, roubou à “The Robots” dos Kraftwerk para servir de esqueleto a “Get Innocuous!”. E a partir daí, como se de um sonho se tratasse, já não temos a certeza de nada. Não temos a certeza mas, paradoxalmente, sabemos do fundo do coração tudo aquilo que se passou, nem tanto porque a setlist prontamente disponibilizada por alguém aqui nos ajuda a montar as peças do puzzle (até porque o reboliço da noite tornou qualquer tentativa de tirar notas não só impossível como até mesmo indesejada), mas sobretudo porque os flashes que ainda nos vão surgindo não nos deixam mentir sobre o que se passou naquela noite. Não que fosse necessário manipular a verdade com palavras bonitas para engrandecer o espectáculo que os LCD Soundsystem deram; aliás, se há coisa de que nos apercebemos ao escrever este texto é de que as palavras, por mais belas que sejam, acabam por ser estupidamente incapazes de descrever tudo o que sentimos naquele concerto. Mas tentemos ainda assim fazer jus à noite, nem que seja para “gravar na pedra” todos os detalhes dignos de nota. Como é o caso da disposição dos equipamentos em palco, descarnada e crua, sem quaisquer ilusões ou truques de cosmética, fazendo lembrar o esqueleto duma mesa de mistura dividida pela soma das suas componentes e sobre a qual James Murphy, disc jockey de excelência, exerce um controlo absoluto; ou da apresentação cénica, assente num espectáculo de luzes do início ao fim fenomenal, que tanto pendeu para o lado mais estroboscópico, repleto de feixes coloridos dignos das melhores discotecas, como para o mais minimalista, com o realce das silhuetas que povoavam o palco do Coliseu a cobrir os momentos mais íntimos da noite com um manto de misticismo e liturgia; ou dos talentos de Murphy para “matar tempo” nos raros momentos em que os instrumentos se calaram e as canções não se sucederam umas às outras costas com costas ou com transições suaves como seda, com conversas tão díspares quanto a relação de amor-ódio pela doçaria nacional, dados estatísticos que apontam Lisboa como a cidade do mundo com mais fãs de LCD Soundsystem per capita ou o facto de o encore, esse cliché por excelência do mundo rock, se ter tornado para estes envelhecidos artistas numa desculpa para ir à casa-de-banho; ou ainda, e acima de tudo o resto, as canções que todos sabiam de cor, as canções que foram parte fundamental das bandas sonoras da vida de todos os presentes na plateia, as canções que justificaram em absoluto as três noites praticamente lotadas no Coliseu. Canções como “You Wanted a Hit”, tocada costas com costas com o tema que abriu as hostilidades da noite, e cujo cinismo caiu com estrondo no chão do recinto, desarmando-nos por completo e fazendo-nos esquecer toda e qualquer acusação de vendido que ainda pudéssemos ter vontade de atirar a Murphy (ou não fossem os versos You wanted it real / But can you tell me what’s real? / There’s lights and sounds ands stories / Music’s just a part um dedo em riste, apontado a nós e aos nossos míseros idealismos); “Tribulations”, que nos trouxe o primeiro grande coro da noite e o primeiro grande momento em que nos apercebemos que ali dentro estávamos todos no mesmo comprimento de onda, dispostos a celebrar o futuro, o presente e o passado daquela banda; “I Can Change”, cujo início, marcado em iguais partes pela inocente interpolação de “Radioactivity” dos sempiternos Kraftwerk e pelos caprichos de um sintetizador modular prontamente detectados e resolvidos pelo maestro da companhia, nada fez para suavizar nem para manchar a dureza dos chicotes electrónicos que servem de corpo à peça. Canções como “Call the Police”, primeira de quatro incursões pelo mais recente registo dos norte-americanos (com “Tonite”, “How Do You Sleep?” e, já no encore, “Oh Baby” a completar o quarteto) e o momento em que nos apercebemos do quão perfeitamente as composições de american dream se inserem no cânone dos nova-iorquinos; “Daft Punk is Playing at My House”, o momento em que nos apercebemos que o Coliseu era, àquela hora, a nossa casa e, porra!, os LCD Soundsystem estavam a tocar nela; “Someone Great”, surgida das ruínas do final de “Movement”, numa mimese perfeita da forma como Murphy criou a partir da morte do seu psicólogo, confidente e amigo uma das melhores canções de luto e celebração da vida de que há memória; “I Want Your Love”, cover de Chic que nos permitiu atestar o vozeirão de Nancy Whang em todo o seu esplendor e concedeu ao frontman um raro momento longe dos holofotes. Ou canções como “Dance Yrself Clean”, banda sonora mais que apropriada para um encore onde todos (e aqui olhámos à nossa volta, para os balcões e para os camarotes e pudemos perceber que eram mesmo todos) dançámos como se a nossa inocência, a nossa integridade e, no fundo, a nossa vida dependesse disso; e, no final de tudo, “All My Friends”, esse carrossel de emoções conduzido pela melhor linha de piano de toda a história das linhas de piano, esse rio musical que nasce plácido e simples para desembocar no clímax mais catártico das nossas vidas, esse aglomerado perfeito de notas e ritmos e letras, esse hino à noite, à vida e à amizade, cantado a plenos pulmões pelos milhares de iluminados que se viram enfiados no Coliseu naquela noite quente de Junho e que foram recompensados com fugazes epifanias sobre o sentido da vida, do mundo e do universo. Por esta altura já todos devem ter percebido que, mais do que uma reportagem de um concerto imbuída de qualquer tipo de profissionalismo, este texto não é mais do que uma ridícula carta de amor aos LCD Soundsystem, a James Murphy e a uma noite em todos os aspectos soberba. E é por ser uma carta de amor ridícula que me vejo obrigado a roubar as palavras que o Paulo usou aqui em 2012 para falar de um dos seus concertos favoritos: falar destas sensações é tentar encontrar palavras que expliquem o amor como uma equação. É impossível. Só quem lá esteve poderá compreender. No fundo, isto somos nós a tentar fazer sentido duma noite de paixão, onde vimos ao vivo a “All My Friends” e a “Someone Great” (que é a canção que irá tocar nos nossos funerais) e cumprimos o sonho de adolescente de as cantar em uníssono com os nossos semelhantes. A tentar fazer sentido duma noite onde vimos a nossa banda: a banda que nos mostrou que era possível ser um puto do rock e dançar; que nos provou que o choro também traz alegria e que alegria também se chora dançando e se dança chorando; que nos trouxe “Losing My Edge” (que nem sequer tocaram nas duas primeiras noites, os filhos da puta), cábula que levou dezenas, centenas, milhares de jovens imberbes a descarregar discografias inteiras de todas as bandas mencionadas na letra e abriu portas ao conhecimento melómano de muitos; que nos trouxe os hits (e as faixas que, não se assumindo como hits, são-no); que nos trouxe as canções que tanto servem para o puto seboso que passa horas na Wikipedia e no AllMusic a ler sobre as bandas que já só vivem numa Nova Iorque, numa Londres, numa Berlim imaginárias como para os “comuns mortais” que os descobriram graças à banda sonora dum qualquer videojogo (e não há mal nenhum nisso); que mostrou que é possível juntar Kraftwerk e The Velvet Underground, Television e Daft Punk, guitarras e technão, que os New Order não foram um mero erro de percurso (mas sim uma etapa fundamental, tanto para o rock como para a música electrónica) e que, no final de contas, o Bowie e os Talking Heads, com o seu amor pelo experimentalismo electrónico e pela disco, é que a sabiam toda; que ensinou aos miúdos borbulhentos e meio misantropos que estavam habituados a ficar em casa à noite a chorar e a ouvir Joy Division que era na boa irem com as suas t-shirts do Unknown Pleasures para as pistas de dança suar os desgostos, as depressões e as crises existenciais; que fez com que muitos putos comprassem sintetizadores, mesas de mistura e/ou guitarras e amplificadores, ou no caso daqueles que nunca tiveram o talento nem o alento para o cultivar, se metessem nesta má vida de escrever sobre música na esperança vã de mostrar aos outros as belezas que esta arte encerra e o quão apaixonantes podem ser as bandas, os artistas, as canções e os discos que fazem os nossos corações bater mais depressa. Se provas faltassem do quão profunda, quão marcante e qu��o necessária foi esta experiência para nós, aqui fica uma última confissão: à hora em que o primeiro rascunho deste texto foi acabado, a pessoa que escreveu estas letras tinha acabado de vir de um concerto de Animal Collective que, apesar de excepcional, pouco fez para apagar os desejos de estar, à mesma hora, na terceira noite com que os LCD Soundsystem abençoaram o público com a sua presença. Desejos esses que arderam intensamente nos nossos corações, apesar de estarmos fartos de saber, através do mito, que um relâmpago não cai duas vezes no mesmo lugar (quanto mais três), apesar de sabermos que ao fim de três noites a voz de Murphy haveria de quebrar, apesar de sabermos que a qualidade de som algo questionável da primeira noite dificilmente estaria melhor naquela altura, em suma, apesar de toda e qualquer razão lógica. Mas o que é a lógica depois de termos estado na presença da grandeza e termos sentido algo maior que nós?
JM
Foto de Inês Sousa Vieira
Publicado originalmente no bodyspace.net (link)
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Reportagem: The Jesus & Mary Chain

Coliseu dos Recreios, Lisboa 28 de Maio de 2018
Longe vão os tempos em que ir a um concerto dos irmãos Reid e companhia tinha o mesmo apelo que uma ida ao circo para ver um domador de leões e em que comprar um bilhete para ver os The Jesus & Mary Chain não era, por si só, garantia de que os iríamos ver a actuar, de que sairíamos de lá ilesos ou de que não veríamos os manos a chegar a vias de facto. A idade trouxe-lhes, tudo indica, alguma sensatez e permitiu uma reaproximação, e mesmo que em palco não se consigam vislumbrar grandes amizades entre Jim e Will, a verdade é que tudo aponta para a durabilidade deste pacto de não agressão entre os dois.
Pacto esse que, a julgar pelos decibéis debitados pelos amplificadores, não se estendeu aos ouvidos da plateia, que durante cerca de hora e meia se limitarem a ser alvo de um ligeiro bombardeamento de feedback, distorção e paredes de som. E dizemos “ligeiro” porque sabemos que apanhámos os J&MC já numa fase calminha (lá está, a idade não perdoa) e que nenhum fã da velha guarda (que compareceu no Coliseu em peso) nos perdoaria se não fizéssemos a ressalva de que antigamente a violência sónica teria sido muito pior.
Ainda assim, apesar da “fase calminha”, Jim e Will Reid (e restante trupe) sabem bem o que andam a fazer e souberam mostrar o porquê de ainda ser pertinente ver os The Jesus & Mary Chain ao vivo em 2018. A setlist, em pouco divergente daquilo que o grupo tem mostrado por esse mundo fora, conseguiu ser uma mistura bem conseguida do material recente (vindo de Damage and Joy, disco de 2017 que, não sendo transcendente, em nada envergonha o legado dos escoceses) com o extenso catálogo que deu ao grupo o estatuto de banda de topo do noise pop e do rock alternativo saído das ilhas britânicas nos anos 80.
Mas por mais bem conseguida que tenha sido a mistura, não nos deixemos iludir: ninguém rumou ao 96 da Rua das Portas de Santo Antão para ouvir “Amputation” (canção que, ainda assim, abriu as hostilidades de forma mais que competente) nem nenhuma das outras canções do sétimo registo da banda. A prova disso esteve na reacção algo morna da plateia (onde encontrámos mesmo um pouco de tudo, como a já referida “velha guarda”, jovens impressionáveis atraídos pelas belezas ocultas do barulhinho bom e até mesmo petizes como o que adormeceu, para espanto do vocalista, na fila da frente) às cinco passagens pelo novo disco, num enorme contraste com a efusividade com que incursões pelos clássicos foram recebidas.
E que belas incursões: “April Skies”, “Head On” e “Blues From a Gun” todas juntinhas na recta inicial só mesmo para garantir a conquista dos nossos corações logo à partida; “Far Gone and Out” e “Snakedriver” ali pelo meio para nos fazer sentir o perigo do arame farpado tornado canção made in East Kilbride; “Cherry Came Too” para nos adoçar a boca com o lado mais açucarado dos J&MC; “Some Candy Talking” a ameaçar fazer o mesmo para depois nos surpreender com uma secção final digna de um texto dedicado exclusivamente a ela (com um crescendo apoteótico de distorção e ruído que nos fez sentir como se tivessem posto os nossos ouvidos numa misturadora com a velocidade no 11); e, para rematar o corpo principal do alinhamento, o negrume depressivo de “Darklands” e o caos iconoclasta de “Reverence”.
Guardada para o encore ficou, obviamente, a jóia da coroa: “Just Like Honey”, tocada em conjunto com Bernadette Denning, trazendo consigo uma onda de arrepios que varreu o Coliseu e, pelo menos para o autor destes parágrafos, uma lágrima ao canto do olho nascida das memórias daquela que foi, é e para sempre será uma das mais belas (e trágicas) cenas da história do cinema (para os que não estão a perceber a referência, aqui fica uma hiperligação para a cena em questão; cliquem aqui por vossa própria conta e risco).
Seguiram-se “Cracking Up”, “In a Hole”, “War on Peace” e, para a despedida, “I Hate Rock ‘n’ Roll”, irónica escolha para o final de um concerto que foi, acima de tudo, uma ode aquilo que um show de rockdeve ser: curto e grosso, praticamente despojado de aparatos cénicos, sem conversas de chacha nem interacções para além das necessárias, com as canções a seguirem-se umas às outras quase sem interrupções e com uma presença de palco a trilhar de forma perfeita aquela fina linha entre a indiferença e a concentração no laborioso ofício de nos fazer vibrar os tímpanos com os temas que marcaram as nossas vidas de melómanos. Em suma, foi uma noite de rock sem merdas, daquelas que deixam a música falar mais alto. E isso, no caso dos The Jesus & Mary Chain, é coisa para gerar um barulho ensurdecedor.
JM
Foto de Inês Sousa Vieira
Publicado originalmente no bodyspace.net (link)
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ptr plays #9

Com Lykke Li, Justin Timberlake, Kanye West, Frank Ocean e muito mais (aqui).
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ptr plays #8
Com Parquet Courts, The Psychedelic Furs, Pusha T, Iguanas e muito mais (aqui).
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Crítica: Yu-Utsu, Yu-Utsu

Música para respirar.
Yu-Utsu [LP] Yu-Utsu 23 Mar / Midwest Collective
Já dizia Wilde que a vida imita a arte muito mais do que a arte imita a vida, e é difícil não pensar nessa velha máxima ao olhar para o regresso em força dos anos 80, com a recente vaga de tensões entre as grandes superpotências (numa espécie de Guerra Fria 2.0) a servir apenas de contraponto “real” para o revivalismo estético e musical a que temos assistido na última década. Mas mesmo que a tirada filosófica do sacana do irlandês nos dê algum enquadramento para a situação, dificilmente nos dará conforto; na verdade, poucas são as coisas que nos conseguem consolar perante a ameaça constante de destruição nuclear que paira sobre as nossas cabeças, ameaça essa que julgávamos ter deixado definitivamente arrumada aquando da queda do Muro e da dissolução da União Soviética.
Dizemos “poucas” porque, apesar de tudo, sempre temos a música para nos ajudar a fechar os olhos, respirar fundo e afastar por momentos a cabeça do apocalipse que nos espera. E é precisamente aqui que entra este Yu-Utsu, disco que, lá está, vai beber (e muito) aos anos 80 e se insere na perfeição na gavetinha mais ambient dessa pequena cómoda que é o chillwave. As referências, muito centradas em Com Truise, nos primórdios de Washed Out ou em HOME (antigo colega de label e autor dessa canção tornada meme tornada portento que é “Resonance”) saltam logo ao ouvido em “Sun”, tema que abre o registo de forma magistral, e mantêm-se presentes ao longo de toda a audição.
Mas até para os menos hábeis nestas lides de detectar parecenças e influências não será difícil encontrar o cheiro a nostalgia pelos anos 80 e pela sua visão de futuro que serve de matéria-prima para faixas como “Slow”, “Endurance” ou “Curius”; os sintetizadores analógicos a transbordar de grão, a percussão subtil, levemente orientada para o bater do pé mas não o suficiente para nos pôr a correr em direcção à pista de dança, as linhas de baixo bojudas e carregadas de tensão, dignas da banda sonora dum qualquer filme fortemente inspirado no Blade Runner, tudo se junta para fazer deste LP um autêntico monumento a esse estranho fenómeno que é sentir saudades duma década que não vivemos, e da melancolia que daí nasce.
“Melancolia” que é, aliás, a melhor tradução que uma rápida e preguiçosa visita aos motores de busca nos oferece para Yu-Utsu (que em kanji se escreve 憂鬱), título que o álbum pede de emprestado ao nom de guerre do seu produtor. Da pessoa que se senta por trás das teclas (e que o Discogs nos garante ser Thomas Takashi O’Malley), de resto, nem uma palavra, nem na música (completamente instrumental) nem nas redes sociais (onde a sua presença é inexistente). Mas não podemos dizer que o silêncio seja incómodo; antes pelo contrário, chega a ser reconfortante, até porque permite que a música fale por si e permite-nos a nós, mais uma vez, fechar os olhos e respirar fundo por breves instantes. E isso, nos dias que correm, acaba mesmo por valer ouro.
[8/10] JM
Publicado originalmente no bodyspace.net (link)
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ptr plays #7

Com Unknown Mortal Orchestra, Ol’ Dirty Bastard, Childish Gambino, Foals e muito mais (aqui).
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Reportagens de Abril
Escusam de estar a olhar para mim com cara de quem me quer bater, eu sei que tenho falhado. Mas também não me vou pôr aqui a desculpar-me. Em vez disso, vou só meter aqui as hiperligações para duas reportagens que fiz durante o mês passado para o bodyspace.net, para perceberem que isto não foi só laró.
MIL – Lisbon International Music Network
Arcade Fire @ Campo Pequeno
#reportagem#concertos#festivais#MIL - Lisbon International Music Network#Arcade Fire#indie#2018#bodyspace.net
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