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Lembrar-se

As pessoas falam sobre muitas coisas por aqui. Eu as compreendo, mas os meus pensamentos afogam suas vozes. Onde eu estou? Para onde estou indo?
Aventureira. Eu escolhi traçar esse exato caminho e, ainda assim, me parece confuso. Queria poder prever o futuro, mas não tão longe, talvez apenas até semana que vem. Aí saberia o que devo sentir.
Uma vez em Dulce LLeno, as duas semanas foram arrastadas, todos preocupados com preparativos para o evento que aconteceria. Eu sabia de sua importância, mas custava muito a entender seus métodos. Ajudei como pude nos preparativos, mas soube admitir que alguém como eu não era a pessoa certa para aquele trabalho.
Apertando entre minhas palmas o pequeno enfeite de ursinho, eu fecho os olhos e tento reviver aquele dia, antes de tudo.
Madelien acordara, não sei o motivo de ter dormido tanto. Os outros parecem muito felizes com isso. Aliviados. Me sinto confusa, como se tivesse perdido coisas e não dado falta. Me aproximo dela e dou bom dia, digo a ela que não me lembro como chegamos ali, mas cá estamos. “Você está bem?” “Sim, Lilya, eu estou bem agora.” e então estava tudo bem. Eu tinha Madelien para falar sobre isso eventualmente, quando ela tivesse tempo.
Eu sentia que algo que deveria estar lá não estava. Mas minha mente não se atrevia a tentar completar as lacunas com fantasias. Era uma lacuna vazia, uma memória impossível de acessar.
Todos me olhavam com algum estranhamento. Como se faltasse algo no meu exterior também. Não me atrevi a perguntar. Não era a primeira vez que eu apagava memórias daquela maneira. O que me restava era torcer para que as lacunas não fizessem tanta falta.
Acho que ela me deu esse presente, não sei precisar quando. Parece ter alguma significância. Tenho medo de perguntar agora, com Madelien ocupada. Perguntar o que aconteceu naquele dia, naquela caverna. Admitir que eu não consigo me lembrar, mesmo tentando todas as noites.
O que eu faria sem ela? Minha parceira de viagens. Minha grande amiga. A única pessoa que se dispôs a me entender a fundo. Minha pessoa favorita no mundo.
“Durante momentos estressantes demais, você simplesmente desliga, Lilya”, ela disse uma vez, em tom de zombaria, após um contrato especialmente desagradável contra criaturas que eu nunca vira antes. Tentei explicar que acontecia sem querer porque eu sou um pouco sensível e sua expressão mudou.
“Essa é você; é o jeito como lida com as coisas. Se um dia você encontrar um jeito melhor, você faz assim. Você não é sensível demais. Ser sensível é bom.”
Eu acreditei nela.
Às vezes me olham como se eu não soubesse de algo importante. Não sei se me acham muito esquisita ou se compadecem da minha condição. Sei que esqueci de algo e preferia que me dissessem logo. Madelien não parece se importar com isso, ela tem me tratado como sempre. É a mesma de sempre, com quem decidi viajar.
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Respostas | Capítulo 7

Você nunca esteve aqui.
Algo está faltando, Lilya, mas você não sabe o que é. Você está perdida como sempre, mas agora não tem o benefício de não se importar.
Você se tornou sua pior versão, Lilya, alguém que se apaixonou demais pela máscara. Quer se livrar das máscaras? A única coisa útil sobre você;.
Sem as máscaras você é nada. Com respostas, só haverá confusão.
Eu tenho a sensação de que os últimos dias me fugiram da memória, mas ninguém parece ver problema nisso. Talvez nada notável tenha ocorrido e eles não vejam motivo para me explicar coisas sem importância de uma semana de viagem., talvez eles achem que eu estou fingindo. Será que confiam em mim?
Muitas coisas me fogem da memória ultimamente, não sei como chegamos à fortaleza, mas as coisas por aqui foram tão caóticas que não tive tempo de tentar me recordar de nada. Não seria a primeira vez que tenho borrões na memória, mas agora isso me incomoda. Sinto que deveria me lembrar de tudo com clareza agora que estou fazendo coisas tão importantes. Tento não pensar nisso, tem coisas demais acontecendo a minha volta, mas o incômodo sempre volta quando tento dormir.
Falei sobre mim algumas vezes nesse meio tempo, me esforçando ao máximo para dizer sempre a verdade, mas não consigo me convencer das coisas que digo. Há muitos borrões ao longo da minha curta existência, borrões que eu não sei como preencher com uma história boba. Eu posso mentir para todos, o tempo todo, mas para mim, é difícil mentir.
Me olho no espelho e vejo todas as pessoas que eu já fui antes, todas máscaras, mas todas tinham uma história, um passado.
Para todas as minhas máscaras, criei histórias e completei quebra-cabeças, mas não podia fazer aquilo para Lilya.
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É a segunda vez que um Doppelganger causa problemas. Tenho medo de que isso eventualmente me afete e as pessoas parem de confiar em mim. Todos estão ocupados com seus problemas e questões, então não tive a chance de falar com alguém sobre isso. Acho que não notaram meu receio e eu não sei se quero revelar qualquer coisa por enquanto.
Há alguns dias, tenho notado escamas prateadas surgindo por todo o meu corpo. São geladas ao toque e, embora sejam facilmente removíveis, sempre voltam. Fazem parte do corpo original.
Não mostrei para ninguém, sequer as olhei no espelho, por medo de criar ainda mais pontas soltas para resolver. Me sinto cansada de fazer perguntas e não obter respostas e minha criatividade não tem funcionado para lidar com isso.
Tento me lembrar o que costumava fazer quando as coisas se tornavam difíceis assim.
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Lie sorria como nunca. A peça fora um sucesso e a noite não poderia ter sido melhor. O pagamento seria bom e a agenda de exibições seria certamente estendida. Era bom ter a certeza de que eu havia feito um bom trabalho e que, mesmo após uma estreia tão grande, eu acordaria amanhã como Lilya e teria uma folga pacífica, sem olhos sobre mim. A vida era boa.
“Você já está indo embora?”, uma das atrizes questionou; “nós estamos indo para o Crepusculaire depois daqui para comemorar!”
“Sim… Estou muito cansada, desculpe. Na próxima semana prometo que vou acompanhar vocês.”
Na verdade, eu não podia sequer entrar naquele lugar. Lie era um pouco mais velha do que eu, A julgar pelo quadro, tinha por volta de vinte e cinco anos, já era casada. Eu tinha dezessete. Apesar de considerar que ela fosse minha identidade mais próxima do original, eu ainda era inexperiente demais para agir como alguém mais velho fora do trabalho.
Havia uma estranha satisfação em caminhar por aí com todo o controle nas mãos, nada havia sobre Lie que eu não sabia (ou que não pudesse criar). Éramos distantes o suficiente para que eu não me importasse demais e próximas o suficiente para que eu pudesse viver aquela vida plenamente.
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Estou feliz por Brasa e Kiran terem descoberto mais sobre seus passados. É incrível ver como suas histórias se desdobraram de forma tão justa. Eles merecem a satisfação de descobrir seus próprios segredos.
Escrevo hoje me lembrando dos olhos de todos e o agradável calor no peito que senti ao ver alguém conseguir algo que eu sempre quis viver, ao mesmo tempo, sinto medo. Não acho que eu esteja pronta para receber respostas, pois não sou madura como eles.
Eles são mais maduros e estáveis do que eu e vão usar suas respostas para se tornar versões melhores de si, mais fortes e mais preparados para seja lá o que vier em nossas direções de agora em diante. Confio neles.
Eu? Não sei o que faria com respostas, talvez nada. Enquanto busco por preencher os borrões, tenho mais e mais medo de finalmente vê-los.
Não conheci figuras muito boas que se relacionavam ao meu passado. Dragões negligentes, doppelgangers envolvidos em seitas malignas e várias pessoas que eu decidi abandonar sem muito cuidado. Talvez haja certas perguntas que não devem ser respondidas.
Mas você não se sente curiosa?
Não acha que isso pode ser útil? Não deseja mais poder? Não deseja melhorar?
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Fuga

Você esteve aqui antes.
A caverna é úmida e fria, mas eu não quero me cobrir. Eu sigo Madelien, faço o que ela faz. Ataco.
Eu pareço não fazer cócegas na criatura, mas persisto. Atrás, covardemente atirando feitiços que eu não li em direção a uma criatura que eu desconheço. As orquídeas dobram sob meus pés, exalando o aroma de flores que se mistura gradualmente com o de sangue.
A cabeça do dragão que outrora me causara tanta angústia rola pelo chão e eu não consigo sentir nada além da pressão do ar em meu peito. Nenhum dos tomos que li me prepararia para isso.
Todos parecem confusos, mas certos de que precisam sobreviver. Eles planejam seus ataques e eu, em vão, tento acompanhar suas estratégias. Eu não tenho uma estratégia, mas estou fazendo o que posso para atingir o silêncio.
As orquídeas balançam com o vento enquanto cada um de nós experimenta sua própria ilusão, mas se recusa a mergulhar nela. Existe um senso de equipe que sobrepõe a necessidade de perseguir aquela fantasia, que nos mantém sãos.
Perco a conta de quantas vezes fechei os olhos e senti o gosto do ódio na boca, como quem questiona por que aquilo está acontecendo comigo de novo.
Você se lembra de como sair?
A caverna é úmida e fria, e eu quero me cobrir porque o ar é muito pesado. Eu sigo Madelien, mas ela falha.
Eu pareço arrancar alguma reação da criatura, mas ela persiste. Atrás, em pânico, atirando feitiços que eu não li em direção a uma criatura que me conhece. As orquídeas se rompem sob meus pés, exalando o aroma de grama morta que se mistura ao de carne fresca.
A cabeça do dragão não mais me chama a atenção e eu não consigo sentir nada além da pressão de minha respiração progressivamente mais rápida e o pulso em meus ouvidos. O corpo não deveria agir assim frente ao perigo.
Todos parecem assustados, mas certos de que precisam matar aquilo antes que aquilo nos mate. Eles planejam seus ataques? Não sei. Eu nunca tive uma estratégia e estou fazendo o que não posso. Estou perdendo o controle.
As orquídeas balançam com o vento enquanto cada um de nós assiste o inevitável acontecer. Existe um senso de equipe que nos revira o estômago quando, com um corte sutil, Madelien sucumbe. A ideia de que ela ainda poderá acordar do desmaio nos mantém sãos. Perco a conta de quantas vezes tentei me concentrar no gosto do ódio na boca, questionando por que tudo está se tornando um borrão de novo.
Por favor me deixe voltar.
Minha cabeça dói. Eu estou cansada.
A caverna é fria, eu sei que é fria, mas eu sinto calor. Muito calor. Eu sigo Madelien, mas não a vejo.
A criatura falha. Eu assisto o fogo que saiu das minhas mãos envolvê-la por completo. Atrás, não sinto nada, mas atiro feitiços que não li em direção a um alvo que não mais enxergo. As orquídeas dão lugar a sensação de estar flutuando sobre mim mesma, controlando os poucos movimentos que ainda me lembro como fazer. Não sinto cheiro de nada, acho que não em concentrei o suficiente em meus sentidos.
Eu quero fazer parar.
Não reconheço ninguém, mas sei que o corpo que controlo reconhece. Faço como deve ser feito; suas estratégias funcionam e a criatura cai, desfalecida e ainda envolta nas chamas que eu produzi. É quente, depois frio. Existe um senso de equipe que faz a respiração falhar quando o corpo de Madelien cai, sem vida. Revirado como memórias de dias que já se foram.
Eu quero voltar para o nada.
Eu não sei o que está acontecendo, tudo é um borrão. Conheço essa sensação.
A fuga. A insistência em guardar um resquício de sanidade após ver o que eu não deveria ter visto. Minhas pernas me guiam, mas meus olhos não focam no caminho.
Eu sigo Madelien, mas não a conheço.
Está fora do seu controle.
Eu sigo.
Eu tenho um problema.
Não consigo me lembrar.
Eu sigo alguém.
Madelien?
Quem são eles?
Você se esqueceu de novo? Cometeu o mesmo erro outra vez.
Eu só queria me proteger, mesmo que isso significasse transformar tudo em um borrão.
Não há nada que eu possa fazer para ajudar.
Você precisa se lembrar. Precisa aprender.
Vazio. Um borrão.
Há perguntas sem resposta.
Vai estar tudo bem amanhã.
A voz de Nashwa me alcança, mas eu ainda sinto que estou longe. O corpo anda, se agarra a seu braço como se buscasse pela memória do que me liga a ele.
Preciso me lembrar.
Preciso desesperadamente me lembrar do que aconteceu. Preciso me lembrar para contar tudo a ela quando ela acordar.
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Orchidaceae | Capítulo 6


É difícil prover a uma pequena flor as mesmas coisas que ela retiraria de uma árvore.
Eu nunca quis lidar com os negócios da família, mas tenho de admitir que orquídeas são seres fascinantes.
Há algumas lojas, a maior delas é Orquidaceae, nome da família de flores que conferiu aos Gairdieu a imprtância que temos até hoje. Jardin de Mécènes, com seus festivais chamativos e natureza opulenta, nunca dispensou o uso de flores em toda e qualquer ocasião, e as flores exóticas que meus bisavós aprenderam a cultivar conquistaram a todos rapidamente. Não havia quem não conhecesse as majestosas flores que decoravam todos os cantos daquela cidade que, por vezes, parecia maior do que era por conta de suas construções espalhafatosas.
Crescer ali era desafiador. Se em outros lugares crianças eram vistas como pequenos trabalhadores ou futuros guerreiros, aqui éramos troféus. Pequenas vitrines de um lugar que, por escolha própria, queria espalhar beleza por toda a Della’hym. Tenho histórias do meu passado, não memórias, mas pequenos fragmentos que sei serem meus, mas custo a me ver neles, e todas elas podem ser resumidas à peculiar crueldade enfeitada de folhas douradas que reina naquele pedaço de terra.
Orquídeas não são flores raras, na verdade, elas estão presentes em todos os continentes; o que lhes confere sua aura chamativa é como são cultivadas. Na natureza elas se espalham, agarrando-se a qualquer árvore que as abrigue e forneça o que elas precisam, são oportunistas, mas jamais parasitas. São variadas e chamativas, mas não tanto quanto em cativeiro.
Em cativeiro orquídeas são flores difíceis de se cultivar. É difícil prover a uma pequena flor as mesmas coisas que ela retiraria de uma árvore. São adaptáveis, mas não há como replicar uma grande floresta tão fielmente nem mesma com magia; mantê-las é muito caro. Há, no entanto, um atrativo: há orquídeas que só nascem em cativeiro.
Eu nunca soube dizer se valia a pena. Talvez rosas fossem mais simples e tão bonitas quanto, mas todos insistiam que Jardin exigia algo grandioso, nunca antes visto. Nas grandes estufas em nossa propriedade.
Tudo que sei sobre elas veio dos livros que eu lia enquanto ficava na loja esperando a hora de ir embora. Não havia muitos amigos para brincar, sobretudo entre as comunidades élficas. Conforme crescia e minhas habilidades se tornavam mais descontroladas, as outras crianças pareciam ainda menos dispostas a estar comigo. Gostava de vender, era divertido, mesmo que repetitivo, ainda era uma distração dos eventos conturbados em minha mente. As belas orquídeas vermelhas, expostas por toda a loja, me encaravam de volta.
Orquídeas não têm muitos usos, que não como plantas ornamentais.
Vi um dragão pela primeira vez fora de meus sonhos. Grande, pavoroso, ainda assim familiar. Disse que me conhecia, que era amigo de changelings. Disse que mandara alguém anos atrás para me ajudar. Disse muitas coisas e ainda assim não disse nada, como se eu pudesse resolver enigmas. Desde então tenho estado errática, confusa, como se minha trivial habilidade de tecer minhas próprias narrativas tivesse sido abalada por alguém que me informou, sem cuidado, que a fundação de minhas histórias estivera errada o tempo todo.
A voz ainda fala, mas eu já não a entendo em meio ao barulho. Há risadas, gritos e pedidos para que eu apenas seja menos que isso e retorne a minha insignificância e às orquídeas que, caladas, me encaravam por trás de suas cores e padrões me lembrando de tempos mais simples. Não as via há algum tempo.
São plantas pequenas, que geralmente se abrigam no topo de árvores. Não gostam de luz direta ou água em excesso, mas se adaptam facilmente ao ambiente. Na natureza, são resistentes, perenes
Não gosto do palácio, nem dos nobres ou das festas. Se pudesse, escolheria a futilidade de Jardin sempre, longe das nuances políticas e pessoas com explicações demais para os problemas que causam. Do alto de um palco, eu as observava como se estivessem fora de minha redoma de vidro, agora eu estava junto delas olhando desesperadamente para dentro de minha redoma esperando que me convidassem de volta. O convite nunca veio.
“Não quero que você use isso perto de mim mais.”
Era a progressão natural das coisas. Nunca servi para isso; e não há motivos para buscar utilidade em flores, elas são o que são e eu deveria ser o que sou também. Talvez eu tivesse finalmente exaurido a hospitalidade de todos e devesse voltar para o ambiente menos complicado de onde vim, com as perguntas enterradas na mente e a necessidade por respostas agora um pensamento distante. Não preciso de respostas se elas forem tão difíceis de conseguir.
O segredo para criar belas orquídeas é saber emular seu habitat e seguir à risca as instruções de cultivo. É uma ciência, mas também uma arte que exige paciência e estudo. Como atuar e cantar, exige prática, mas dá eventualmente resultados. Sempre que uma muda vingava, meus pais iam atrás de outra e mais outra, nunca estavam satisfeitos com a coleção e os clientes sempre clamavam por mais. Novas cores, aromas e formatos para decorar tudo que fosse possível.
Mais do que isso, exigem persistência; eu jamais seria uma boa orquidicultora. Não sou persistente.
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Cartas | Capítulo 5.2


Querida Madelien,
Talvez eu tenha me sentido culpada por ser tão apelativa ao te convencer a ficar. Tem sido complicado lidar com os intemperismos da vida ultimamente. O mundo parece se fechar sobre nós em um túnel que só nos leva a caminhos que não queremos. Eu nunca quis seguir o caminho mais perigoso, mas hoje não enxergo caminhos seguros. Heróis são alvos. Eu nunca quis ser um alvo, na verdade, minha vida inteira foi baseada em evitar qualquer proximidade a alvos que eu pudesse, mesmo que os problemas me seguissem. Quando lhe conheci, percebi haver maneiras melhores de lidar com os problemas do que a fuga, mesmo que você não tenha me ensinado diretamente.
Não sei se você se imaginou chegando até com um título tão importante agarrado a si, mas eu certamente não. Quando saímos de Jardín de Mécenes e você explicou a natureza do trabalho, nada foi mencionado sobre gloriosos rituais e a possibilidade de “salvar o mundo”; imagino que esteja tão confusa quanto eu. Eu gostaria de saber dizer exatamente o que você quer ouvir, mas não posso; me resta torcer para que a viagem até lá seja útil para você de alguma forma também. Minhas estratégias de convencimento não são exatamente as mais honestas. Sei que não deveria ter falado tanto de mim e pensado em sua jornada também, mas ambas sabemos que é impossível lidar com certas coisas sozinha, e, se aquele doppelganger ainda estiver envolvido em tudo, eu não me sentirei bem em permitir que você vá contra algo tão parecido comigo sem que eu pelo menos tente ajudar. Não sigo o mesmo código de honra que você, mas não me soa bem permitir que meu semelhante lute contra alguém que eu amo sem que eu ao menos tente interferir.
Coisas assim não me vieram à memória quando nos falamos hoje cedo. São poucos os meus lapsos de sanidade, você bem sabe, mas eu realmente preciso descobrir o que eu sou, nem que isso signifique encarar o abismo.Espero que meus motivos não lhe pareçam egoístas e nem movidos pela minha curiosidade infantil.
Por vezes pensei em como seria simples fugir, eliminar o alvo que carrego comigo e esquecer de tudo como sempre fiz, tomando a rota mais covarde e simples, como sempre fiz. Nunca me foi um problema seguir pelo caminho que menos me afetasse, vestindo a máscara e fingindo que nada poderia me afetar Lilya se ela não fosse a mesma pessoa por tempo demais, mas dessa vez a ideia de esquecer de tudo me incomoda porque eu gosto de me lembrar de todos vocês.
Você me ensinou que Lilya não é apenas a casca e a prisão que eu abandono de tempos em tempos, mas também alguém que merece cultivar laços com os outros. Agora eu preciso saber o que mais eu não sei sobre mim mesma, e não vou conseguir sem você.
Que um dia eu possa lhe presentear com algo tão importante quanto isso, e até lá sigo tentando mostrar o melhor de mim para todos que me rodeiam, porque sei que você e nosso grupo merecem boas companhias. Obrigada por nos acompanhar e me ensinar, novamente, que não é necessário fugir.
Obrigada por gostar de Lilya a ponto de me fazer gostar dela também. Para sempre,
Lilya Gairdieu.
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Vozes | Capítulo 5.1
"False face must hide what the false heart doth know."
Me peguei encarando Nashwa e seu foco em pedaços enquanto passávamos pela loja de roupas, tentando imaginar qual a sucessão de fatos que o levou àquele momento.
Não sei se eu mesma era diferente dele, ou se ainda mantinha a paciência para fingir que minhas intenções eram sempre boas. Os deuses provavelmente reprovariam minhas ações se soubessem que eu, por vezes, reduzi todos a minha volta a meros papeis como fazia comigo.
Ele era mais corajoso do que eu, certamente, por encarar o próprio problema sem vestir uma máscara e fugir como se construir uma nova vida fosse simples.
Nunca foi.
O preço de construir uma nova vida é abandonar a anterior. Vez ou outra, questionei se tinha a frieza necessária para fazê-lo, fiz de mim um ser volúvel que nunca passava pelo mesmo lugar por muito tempo, evitando assim se prender a qualquer coisa que pudesse dificultar minha inevitável partida.
Controlei o impulso de agarrar o Tiefling pelo rosto e gritar que ele estava fazendo muito e não merecia sentir a culpa quando pelo menos havia tentado. Em seu belo rosto, podia ler resquícios de preocupação, mas ele seguia sorrindo como se pronto para encarar os desafios seguintes. Admirava sua coragem.
Em meio a figurinos brilhantes, roteiros meticulosamente escritos e as luzes do palco, ninguém sabe que você sente medo.
Por trás de máscaras, ninguém sabe que você é fraco.
S̸̰̻̖̠̞̿͊̍͝é̸̢͖̝͔̟̟͙̟̖͔̈́͗̽ŕ̵̡̢͎̘̞̲̭̤̘̥͔̭̣ ̸̭͓͜͝��̢̢̥̟̦̫͍f̷̢͙̯͈͚͖̠̰͎̮͉̤̆̇̂̈́̈́͝o̵̧̼̟̳̗͕̺͐͆͋̾̊͆̑̚͜r̵̛̦̾̔͗͆̎͠ṭ̸̨̢̬̗̯͖͇͚̪̣͎̭̾̍̀̏̈́̅͊͋̿̓͘̕͘͜e̷̮̩̝̺̙̖̮͍͓̝͉̳͖̓̓̿̐ͅ ̷͓̝̖̬͍̩̹̩͍̻̞͛̈͆̄̈́̉̑̅̄̍̕͝͝ṇ̶̨̛̳̥͖̙̠͚́̓̆̍́̎̓̉̌̑̏͑̋͒ͅã̶̛̙̫̥́̔̄̔̆̐̽͌̉͒́̚o̴̧̜̲̮̩͉̹͓̓ ̶̬͔̟̌̎́͛̋͠é̷̗̞͉̓̔͛̔̿̽̒͋̑̀͆͘ͅ ̵̦̞̜̌̅̽̃̈̓̒͆̄̈́̀̚n̶̢̻̍́̓́̌̇̅̊̚̚͝e̷͇͋̇̈́͑̆́̆c̶̢̛̲̣̬̣̲̦̝̞̞͉͎͌̐̽̈͒͋͛̎̆͛͗͝ͅe̵̡̨̹͓͔̥̠̩̬̅̽͆͋̅̔̂́̚͜͜͝s̶̛̲̣͉̻̞̲̫̭̫͚̽̀͊̐̒̌̌̅̌͝͝͠ͅͅs̸̡̧̮̭̤̙̻̪̰̘̗͆̏̾̈́̿͌̈́̑͗́̿́̈́͋͘á̶̧̡̢̳͙̻̰̱̘̦̤͎̐̑̾̂͌̓́̑͘̚͝r̶̗̰͈̼͙̟̋̒̑̓̌͘i̸̗̻̤̫̝͔̹͉̹̻̟̜̽̓̐͝͝o̵͉̓̽̒̈́̏̿̋̓.̷̨̨̺̙̞̳̭̞̮̲̤̬̓͂̎̒̂͒̕͜ ̸̧̢̩͓̗͖͎̪̖͈̥͒̒̀̉̋̊́̊͋͗̚
Era a maior quantidade de tempo que passava com um grupo de pessoas. À noite, quando sentia o impulso de fugir, pensava em Mad e em como ela havia se esforçado para tolerar minha excentricidade, então decidia ter que permanecer ali para devolver o favor, mesmo sabendo ser questão de tempo até que algo ocorresse e eu inevitavelmente precisasse ir embora, esculpir um novo rosto e desenvolver novos traços de personalidade perfeitos para arrebatar um novo grupo de pessoas.
Brasa disse preferir a Lilya de verdade. Eu gostaria de ter a coragem necessária dentro de mim para dizer que não a conheço e que, para mim, essa Lilya é tão estranha quanto para eles.
Me sentia hipócrita. Brasa enxergava em mim algo que eu mesma não conseguia ver, e ainda assim eu agradecia as palavras como se as conhecesse. Pensei em pedir desculpas por não conseguir devolver elogios, mas decidi que isso só pioraria a minha epifania. O homem já tinha problemas demais para lidar com uma criatura incapaz de dizer quem era.
Ele sofria com o esquecimento acidental enquanto eu me forçava, de tempos em tempos, a esquecer de tudo. Me sentia terrível ao pensar que era capaz de induzir em mim algo que podia causar tanta angústia em outras pessoas.
Mentalmente, me desculpava com todos por estar escondendo tantas camadas de “eu”, quando todos me mostravam personalidades consolidadas e fáceis de lidar. Eram amigos de verdade enquanto eu agia como um fardo que vez ou outra se fazia útil, mas seria melhor guardado em algum lugar onde não pudesse causar problemas a ninguém.
Você não preferia que fosse de fato uma enorme criatura ameaçadora?
Talvez eles estejam apenas fingindo que você não é uma aberração.
Não sou.
Não sou.
Madelien preferia que fosse uma enorme criatura ameaçadora. Uma caçadora daquele calibre levando alguém, como você a tiracolo.
Um clérigo que vai realizar um casamento real.
Um guerreiro extremamente habilidoso.
Uma dupla de bons amigos que já tem um ao outro.
Ninguém ali precisa de você.
Não me importo.
Mas você precisa deles.
Não é assim que as coisas funcionam.
Você deveria fugir antes de precisar demais deles.
Pare.
N̸̺̣͉͇̣̙̠̿̒̃ã̴̬̹̪̟̞͔͙͇͇̏̇͗̈̏͗̾̕͝ō̵̡͓͙̇͊̀͋̏̚ ̴̞̑́͌͋͘q̷̮͔͇͉̣͖͜͝ų̷̬̻̪̥̂͜e̴̬͓͇̙̍͆́͑̉͊̀͂͘ṛ̸̡͕͓̩̻̠̈́̏̏̾̆͆͂̕͠o̶̡̤̭̓̅̈́̋̅͋͝ͅ ̸̦̦̤̺̿̐͆̽̓̑̃̓̚m̸̖͇̤̲͛͑̃ȃ̵̧̪̯̻͚̐͠i̴̺͚̻̦̹̟̋̋̍͐̚s̶͕̃ ̷̡̱̘̞̜̦́̕̕͠͝o̴̪͓̟͎̭̝̥̯̻͗͆́͝͝ǔ̵̧̲̝̺̤͈̓̍̊͝v̸̡̘̭̬̓͋͗̽̋i̸̢͇͎͚͓̥̋͆̑͂̊͋̊ͅr̷̢̦̱͖̠͑͘ͅ.
Pare.
Alcancei a escama que carregava num dos bolsos.
É isso que eu sou?
Com a angustiada pressão de meus dedos no material relativamente duro, a pele se rompeu, permitindo que o objeto prateado reluzisse como se vivo. Inalei o ar gélido que eu mesma havia colocado naquele provador pequeno e me vesti. Sentia raiva de quão confusas as coisas eram enquanto encarava meu próprio sangue escorrer do corte, quase torcendo para que ele revelasse novas escamas.
No espelho, por alguns segundos, pude me ver no mesmo cenário de meu sonho, cercada de enormes pedaços de gelo afiados que apontavam para mim. Ainda assim não era capaz de sentir medo porque aquilo parecia ser o mais próximo que eu tinha do que eu era realmente.
“Lilya?”, ouvi a voz de Mad chamar por mim. O espelho voltou ao normal e eu me recompus, saindo do cubículo para mostrar o vestido que usaria no casamento. Torci para que não percebessem como o ar do local havia ficado mais frio, porque não teria uma boa explicação para tal.
Há muito o que fazer hoje. Não posso me dar ao luxo de ter problemas pessoais.
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𝓠𝓾𝓮 𝓸𝓼 𝓭𝓾𝓵𝓬𝓮𝓷𝓸𝓼 𝓯𝓮𝓼𝓽𝓮𝓳𝓮𝓶 𝓽ã𝓸 𝓫𝓮𝓶 𝓺𝓾𝓪𝓷𝓽𝓸 𝓷ó𝓼.
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Inocência | Capítulo 4
“There are times where excessive innocence seems so monstrous that it becomes hateful.” ― Gaston Leroux
Eu me considero uma boa atriz, mesmo que não tenha atuado tantas vezes. Ao atuar, eu conseguia mergulhar em realidades mais simples do que a minha e saborear a segurança de uma história com início, meio e fim.
Era agradável poder viver, ainda que por poucas horas, sem tropeçar nos emaranhados da vida; pairar sobre um momento pontual de uma vida e sentir apenas aquilo que me fora orientado, sem pensar demais sobre nada.
Lilya.
L i l y a. L I L Y A
Ļ̸̡̛̱͙̩̫̓̔̓̃̉͆̎͊̈̇̆̄̌Ḯ̴͓̣̗̳̞̐̋͂͘Ľ̸̬Y̴̭̤͎̞̜̰̹̞͈͑̍̐͗̅̊͛̅̓́͗̀̌͘̕A̴̜̩̺̘̬̥̥̘͖̽͒̾͌͂̌̊͋̓̾͂̚̕
L̴̨̨̳̻͍̞̜̙͚̤̬̻̭̯̜̜̘̮͕̭̪̓͗͜͠͝Į̴̢̧̡̛̮̬̺͕̤̪̤͕̫̭͉̲̇̄́̈́͒̇͛̀̀̽̎̈͆̾̓͑̈́͌͗̔́̑̅͛͑̿̍̅̾̾̾͋̓̿͊͒͂̀̓̕͘͘̕̚͘͝͠͠Ĺ̵̨̧̢̛͇̟͔̝̻̬͇͚̭͍̞̞͎̗͙͔̦̤̗̰̪̯̟̠͍̥̜̘͔̜͍̼͕̹̞̙̓̎̊̓̀̈̾̈́͋̂̃͑͌̃̉͂͐̍̈̎̂̐͗̍͑͂̈́̒̑̽̊̄̃̏́͑̈́͘͠͝͠͝ͅͅY̵̨̧̢̧͎͖̫̪͍͉̼͈͚̙̙̗̼̮̲͍͔̺̳̜̩̞̬̩̼̫͖̤͉̰̅̂̆͛̂̀̽̄̽̿̾̏̌̾̇̈̅́̊̿̃͑̚͘̚͜͝͝͝͠͝͝͝Ḁ̵̡̡̧̙̬̞͓͓̮̰̜̞̹̩͇̙̜̲̜͖̫͔̘͔͔͋͋̈́̓́̎̅̔̍̈́͛͐͆̽̌̈́̇̾͊̈͂͂̚͜ͅ
Tenho fugido de mim mesma desde que nasci, tecendo realidades que me servem apenas como uma armadura que pode amortecer minha inevitável queda de volta ao mundo real, onde olhos me observam e questionam meus medos e motivos, e o medo pulsa em meu peito como se algo desejasse sair.
Quando vesti novamente a pele de Lie, eu me lembrei de tudo que me levara até o teatro e senti, pela primeira vez, a tensão de estar vulnerável. Hoje eu poderia ter morrido, poderia ter estragado tudo e causado problemas muito maiores do que eu. Pela primeira vez, questionei minhas movimentações anteriores e desejei não ansiar por tanto e me contentar com a tensão dos palcos.
Hoje, enquanto encarava os orbes azuis de um príncipe e fingia não estar em pânico eu desejei voltar para a segurança do campo de orquídeas onde meu maior problema era não saber usar meus próprios poderes mágicos.
Senti falta da voz que me desafiava a fugir porque dessa vez eu teria concordado; teria corrido até cair exausta pela estrada e chorado como uma criança por não suportar a tensão que me acometera. Hoje eu teria gritado com todas as minhas forças que todos estavam certos e eu não podia viver com minhas máscaras para sempre.
Quando eu resolvi ser Lilya, aquela que não vestia disfarces, eu nunca imaginei que a realidade seria tão complexa quando você não é um personagem criado.
Eu não podia arrancar Lilya de mim, nem extirpar as escamas que de alguma forma estavam presas a mim.
Porque Lylia não era Lie, nem Amara, nem Étienne . Lilya era eu e eu era Lilya.
Lilya era tudo que eu decidi aprender sozinha, descobrir, ouvir e buscar por mais. Ela era a coragem e o medo, mas dessa vez sem máscaras.
E agora começo a perceber que com ou sem máscaras, eu ainda sinto a mesma angústia de sempre, independente da máscara, eu ainda estou ali, carregando os mesmos problemas mundanos. Desde sempre, fantasiando minhas crises com novas máscaras que não saberiam lidar com nada porque eu mesma não sabia lidar com nada.
Quem sou eu, senão uma amálgama de minhas próprias máscaras e experiências?
Lilya é todas as máscaras e seria Lilya mesmo sem nenhuma máscara.
q̸̢̝̝̖͚̪̖͚͙̩̱̥̱͂͐ͅư̴͉̪͉͉̜͖̗̾̈́̏͗̈́̈́̾̚ͅȇ̶̢̞̠̠͓̲̟͙̫̓͛͒̆̕͘͜ͅm̵̧͇͓̭̜̜̘̒͐ ̷̨̟̗̮͙̳͇̙̰̳̮͍̖̪̪͐̈́̔͆͘s̷̢̢̼͇͎̱̯̩̰͕̤̝̼͋͗̔͜͝͠ͅơ̷̢̺̻̍͊̀̓̂̕͝ư̸̤͎̼̑̈́̒̎̀̊̉͘̚ ̶͉͖͓͈̫̯̍̄̓͜͝͝e̴̤͖͕̬̭̮̺͐̉͘ͅǔ̶̢͙͎͈̭̥̺̥̼̞̞̤̝̗̀̚?̶̖̯̱͔̘̮̞̇̀̄̒̊̾̑̋̈́͘̚͝
Eu me conheço? Ou eu tenho construído realidades a ponto de não saber dizer quem eu sou?
Sinto-me confusa, fria, como se minhas lágrimas caíssem geladas pelo rosto e, pouco a pouco, pingam em minha mesa e no tinteiro enquanto eu chorava em desespero com realização: eu não tenho ideia de quem sou eu.
M̸̯̹͂e̴̡̯̍͑̅̈́͐ ̷̧̺̹̻̽̈̅̽̕͠s̷͎̩͈̊̀̎͌́͛ͅi̶̜̞̼̜̰͐̑ñ̸̬̾̄̄̓͝͝ţ̴̨̪̘̇̍͋̊͝ó̷̢͕̘̯̘ ̷̛̣̠͉͚̉̋̽̎̚͝a̷̛̛͚͕̼̭̱͑̈́́̋b̶̧̤̗̱͝s̷̯͘o̶̗̅̓̚̕̕͝ḽ̴̡͓͈͔̿̄̈́͛ų̶̯̖͈͋͌͝t̵̛͚̪̞̻̍͆a̵͖̠̞͒m̴̡̖̼̫͉̔̇e̴̗͕͔̠͆͒̓ͅņ̵͔̫͉͚̦͕͊t̴̛͍͚̺̼͇͂͑̀͗͊͂ḙ̸̢͉̦͍̫̥͌͒̃͐ ̸̙͓̪̟̈́̒͛̾̆̕ṕ̴̮͚͚͇̹̏̈́͂͑̚ḙ̵̡̡̳̤̥̈̋̕͝ṟ̸̨͎̩̖͕͉̈́̏̌̀̋͊͝ḓ̶̺̗̤̟͌i̶̮̙̱̱̱̠͊͊̕d̸̛̫͎͇̯̝̓̀ͅầ̷̧͔͍̦̏.̵̫̙̹̝̰̘͍͆͂͛̑̒
̸̛̻̓́̿̎̃̌O̶̡̧̥͚̜̲͊̓͑ͅ ̷̯̜̞̘̝̒̏̄q̷̢̻̘͗̎̉ṵ̴̦͋̾̆̅̋̋ȇ̷̘̻̻͚̦͑̆͝ ̴̗̫̺̦̼͂̆̽̐̊̑̑ͅě̸̤̟̜̼̖̹̩̏́̔ư̶̟̦̌͆͑ ̸̧͓̯̺̝͚͖̊̈́̊̕͠s̸͓͈͉͂̂̆̕͝ô̵̖͖͈͑ù̶͖͍͙̬͍̫?̵̨̲̥̿͠ ̸̛͕͎͕͐͊
̵̖̰̫͓͖͊ͅĔ̵̪̍̉̎͘̚u̴͉̤͐̽͌̂̍͘ ̵̭͛̔̊͒̍͗̎ͅn̵̮̳̙̣͐̉̕ã̶̺̻̳͐́̽̽̑͗̿ͅȯ̷̖͚̝̝̥̅ ̷̮͙͔̭̳͛̊q̵̢͈̺̗̤̈́̂̑̒̐̌͠ų̷̛͓̙͕̈́́̑̈́̈́̚ḙ̴̢͇̩̳̩̬̑̐͋r̶̦̱̫̮̙̿̀ǫ̶̖͔̜̆̄̈́̔͝ ̵͚̳̥͙̼̓̇̀̐̈́s̵̘̲͕̝̰͔̩̑̌͐̿͋̅e̶̢̅̔̈́̚͜͝͝͝ͅŗ̴͓͚̜͍̤̮̐ ̵̨̧͙̃̋̈́̌n̷̤̭̩͍̰̳͗̿̑̂̌a̶̡̝̖͎̅̒̃͜͝d̷͙͒̒â̷̠̭̭̩͍̗.̴̩̫̒̈́̃̀ͅ ̴̳̤̜͌̄
̵̤̼̭̜͎̋̀͐ͅẺ̸͔̳̟̭̫̯̉́̿̆̂̚ṳ̵̡͉̗̝̮̓́ ̴̘͚͇͇̘͕͒͌̕q̷͎̺̫̓̓̑͜u̸̲̒̿̔͂͜ͅè̵̯̖̖͕͚̑̽͝͝ṙ̴̼̞͉̰͑́̈́̚͜ǒ̴͉̙̦͒͂ ̸̡̻̫̥̞̓̈s̸͙̹̈͊̍̕͝è̴͚̼̗̺͔͙r̴̻̪̱͙̠̪̿̿͗̊̓ ̷͚̈́͂̏́̐̾͝ͅā̶͓̙͙̉͜l̷̬̣̜̝̼͐g̵̻͓͕͚̼͆̓̅̊̉̌̅ư̶̢̳̬̟̱͓͆̄̾͂̔̚͜é̵͖͍̺͕̭͎͂m̸͙͖̘̲͖̱̅͛.̸̡̙̭̫͇̏̆̍͆͌̚͘ ̶̣̀̀̔̓͝͝
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Medo | Capítulo 3
Recentemente tive pesadelos. Ando me esforçando para esquecê-los sem muito sucesso, o que vem piorando minha memória e atenção. Não sei bem como falar sobre isso para meus companheiros porque não sei explicar exatamente o que está acontecendo comigo, então decidi buscar alguns livros sobre feiticeiros e dragões assim que possível, torcendo para que pelo menos um deles tenha alguma informação sobre como resolver problemas desse tipo. Conheci poucos feiticeiros como eu, nenhum deles insano, mas sinto que minha mente gradualmente definha por não suportar todos os sentimentos que a habitam. Sinto-me exausta pensando em como interpretar meus sonhos e meu papel.
Às vezes tenho vontade de me desculpar com meu grupo, não tenho sido muito útil e não posso dizer que isso está próximo de melhorar. Eu gostaria de ser forte como eles ou partilhar da mesma resiliência, mas a mim só resta o medo e a incerteza. Nos últimos dias, tive que fazer um grande esforço para não assumir outra identidade e simplesmente fugir para fazer outra coisa. Não sei se minha personalidade animada e errática engana a todos, mas nunca me senti tão confusa; eu não saberia dizer se essa sou eu ou se eu apenas fabriquei uma forma de lidar com todos os problemas que me cercam como se eu fosse incapaz de entendê-los.
Não quero que sintam pena de mim ou que Madelien precise se esforçar ainda mais para me proteger. Quando nos encontramos eu prometi que aprenderia habilidades que pudessem ajudar em nossos contratos, mas não tive tempo ou foco para isso desde então. Dulce Lleno provavelmente tem bibliotecas e locais para estudo, porém não sei por onde começar. Perguntar para Kiran, talvez? Ele conhece a cidade e poderia me guiar até alguém que tivesse alguma experiência.
Desde minha última entrada, tivemos muito a fazer. A princesa — e noiva — nos visitou e apontou que o broche que encontramos semanas atrás pertencia ao príncipe e desde então nossos esforços giram em torno de devolver o item e evitar crises diplomáticas, o que parece estar funcionando.
Decidimos chamar o príncipe para uma comemoração na esperança de que ele ficasse mais dócil e recebesse o broche sem perguntas demais. Se possível, perguntaremos também as circunstâncias nas quais ele perdeu a joia. Aparentemente o pequeno broche é, na verdade, um dispositivo muito sofisticado que pode criar uma armadura para o usuário, então eu consigo entender o motivo pelo qual alguém tentaria roubar aquilo.
Estou um pouco nervosa sobre trazer Lie a vida mais uma vez. Não gosto de lidar com a nostalgia ou com o fato de ela ser minha versão melhorada. De certa forma, ela nasceu para lidar com todas as coisas com as quais eu não me considerava capaz de lidar, no entanto, isso resultou em uma Lilya completamente incapaz de suportar os intemperismos da vida.
A história de como dei vida a Lie era, em partes iguais, vergonhosa e fascinante.
Havia uma brisa irritante de início de inverno soprando pelas janelas do salão enquanto o diretor explicava para nós, estagiários, como veríamos pintar um cenário. Ele dizia que se fizéssemos o serviço rápido o suficiente, todos seríamos autorizados a participar da festa de abertura da peça sem precisar trabalhar, o que nos motivou ainda mais.
Durante o evento, enquanto eu com meus recém-completos dezoito anos desfrutava dos primeiros goles de vinho da minha vida, um par de olhos chamar minha atenção. Pertenciam a um jovem que usava roupas incomuns e seguia todas as garotas que cruzavam seu campo de visão com olhos famintos.
“É esse tipo de pessoa que minhas primas me diziam para evitar.” sorri comigo mesma, caminhando até onde meus conhecidos estavam. Foi aí que percebi que meus colegas conheciam aquele rapaz.
“Émile! Você conseguiu um papel na peça?” ele balançou a cabeça em aprovação.
“Claro que sim!”
Me aproximei de ambos, cumprimentando-os. Um deles me abraçou enquanto o outro se limitou a me medir com os olhos. Mal pude perguntar seu nome antes que nossos conhecidos saíssem de perto, atrás de mais taças de vinho. Fui deixada sozinha com o desconhecido, que apontou para mim preguiçosamente. Beijamo-nos, sem que eu pudesse dizer por quê, como se nunca tivéssemos beijado alguém na vida.
Não o vi mais naquela noite.
“Que horror, Lilya! Você precisa ter mais critérios.” eu pensei, prometendo a mim mesma que nunca mais tocaria desconhecidos como ele.
Foi naquela mesma semana que eu o encontrei novamente, enquanto ajudava a transportar alguns tecidos para o camarim. De maneira cortês ele me ajudou a carregar os rolos pesados e me contou um pouco sobre si. Émile estava na casa a dois anos e havia recentemente conseguido seu primeiro papel principal.
Desde então, passamos a conversar diariamente pelos corredores. Ele me ensinou a costurar e a consertar pequenos defeitos no tecido, além de me contar um pouco mais sobre os roteiros que ele estava escrevendo. Gradualmente, me vi fascinada por sua personalidade despreocupada e desafiadora, que sempre me tirava da zona de conforto e me ensinava um pouco mais sobre pessoas e abria meus horizontes.
လ
“Tome cuidado com ele, Lilya.”, me diziam, “ele não se importa com ninguém.”
“Émile é irritante e pretensioso. Você não deveria andar com ele.”
“O que é que uma pessoa como você iria querer com ele, afinal?”
“Você merece mais do que isso, Lilya.”
Eu ouvia aqueles comentários e não conseguia compreender como aquelas pessoas poderiam estar falando do mesmo Émile. Eu conseguia ver por trás de sua máscara, onde habitava sua gentileza, e tomei como minha missão de vida resgatar suas virtudes e transformá-lo em alguém com quem eu poderia contar. Em retrospecto, me sinto tola, porque deveria ter percebido que essa não era minha obrigação.
Pouco a pouco, me vi cada vez mais apaixonada por Émile. Ele habitava meus sonhos e era o alvo de toda a minha atenção. Por ele eu fiz tudo e senti todo o amor debilitante que machucava por dentro. Eu me curvei a todas as suas vontades e me recusei a enxergar o óbvio: ele não partilhava do mesmo sentimento, apenas me achava útil.
Exauri todas as minhas forças por ele e seus caprichos, levando em troca pequenos momentos de afeto que eu sabia que não eram reais.
Eu soube que tudo daria errado desde o dia em que notei que estava apaixonada, mas, ingenuamente, resolvi levar aquele pesadelo até o fim para ver o que aconteceria no final.
Passaram-se meses de um ciclo de raiva, tristeza, saudade e reencontro, até que ele resolveu derrubar sobre mim a grande bomba.
“Eu estou comprometido, Li. Não podemos mais nos encontrar assim.”
Foi repentino. Dias antes, ele havia feito promessas de me levar até a cidade vizinha para conhecer as lojas. Estava sem chão. Enganada, não por falta de avisos, e sentia que todos a minha volta estavam a rir de mim porque haviam avisado sobre o que aconteceria.
Naquele dia eu fugi, corri como se não sentisse minhas próprias pernas, enquanto soluçava em um misto de ódio e tristeza.
Um monstro. Um terrível monstro que havia tomado todo o meu afeto até se cansar, e eu, tola, agora estava sem nada.
Foram dias acinzentados em que eu não consegui levantar de minha cama. O primeiro coração partido, intensificado por minha avidez. Talvez eu tivesse amado demais, amado mais outra pessoa do que amei minha segurança. Talvez eu não devesse ter tirado de mim para dar para os outros porque no fim terminei incompleta.
Semanas depois, saí de casa para ajudar meu pai com uma entrega de flores para um velório. Papai tentava, a todo custo, me animar um pouco, em vão. No fim daquele serviço, a contratante me deu um belo relicário que pertenceu à família por algumas gerações.
“Olhar para ele só me causa tristeza, mas ele combina com você, mocinha. Basta tirar as fotos dele e substituir por fotos suas.” ela disse, com os olhos marejados enquanto segurava minha mão fechada com o relicário dourado dentro. Aceitei, prometendo que cuidaria bem daquele pequeno tesouro.
Ali, extremamente bem conservada, estava o rosto de Lie. A imagem, bastante antiga, revelava uma jovem elegante e com expressão confiante, datada de quase cento e vinte anos antes.
Foi ao desejar, com todas as minhas forças, que a dor sumisse e eu pudesse finalmente esquecer Émile de uma vez por todas, que eu tive a ideia de dar vida àquela imagem e a toda a força que a acompanhava.
Dei-lhe o nome de Lie, e com ela voltei ao teatro e assisti aquele que havia roubado de mim a habilidade de amar sucumbir gradualmente aos próprios pecados. Eu o assisti perder tudo e ir embora, mas, ainda que tentasse, não consegui eliminar todos os machucados causados.
Lie representava minha força. Ela não era fraca e não amava sozinha. Seu coração não se quebraria nunca.
O diário termina abruptamente, sugerindo que Lilya fora interrompida enquanto escrevia
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Estou aprendendo muitas coisas.
Gostaria de me tornar uma grande feiticeira um dia, assim como os que vi andando por Dulce Lleno, com suas capas e belos colares.
Quero ser elegante também, assim como Mad e Kiran, que empunham suas armas com confiança e não sentem medo de lutar.
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Por que dói tanto?
Dor.
Dor nas pontas dos dedos e no estômago, como se as borboletas fossem, na verdade, vespas e as garras de Omera estivessem cravadas em meu peito, prontas para me arrancarem as costelas.
O amor é sangrento, maldito; o amor arranca-lhe a sanidade envenena sua visão.
Mas é bom. Bom e perturbador, do tipo que te faz sorrir e chorar em um misto indecifrável que causa exaustão.
Não sinto falta de gostar de alguém, mas sinto falta da adrenalina.
Meus dias estão vazios e eu sinto falto de sentir medo. Sinto falta da incerteza e da dor. Quando não sofro, me sinto vazia.
Quando não estou em meio a uma tempestade, não sou Lilya.
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Meus olhos têm piorado e eu estou enxergando tudo errado de novo. Não há poções para isso e eu tenho medo de que os outros percebam que tem algo errado comigo...
Não consigo fazer meu olho voltar a cor original, por mais que tente. Não fui questionada, mas aposto que todos já perceberam. Será que pensam que é de propósito?
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Eu tenho algo que eles não têm.
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Eu | Capítulo 2
CW: Bullying, sangue e agressão física.
Eu fui adotada muito nova, aos oito meses, por um casal de elfos: Amara e Kolvar Gairdieu, empresários locais.
Os da minha raça amadurecem mais rápido e eu tenho vívidas memórias da época em que vivia em um orfanato, cuidada por duas sacerdotisas de Omera que penteavam meus cabelos e cochichavam entre si sobre como seria necessário proteger minha pele do sol.
Por lá, éramos chamados Alvos, tanto por conta de nossa ausência de cor como pelo fato de constantemente sermos alvo de represálias por parte de pessoas especialmente supersticiosas que acreditavam que pedaços de nossos corpos trariam boa sorte.
Cheguei sem nome, deixada por um homem que alegava ser o responsável pelo parto; disse que minha mãe morrera e ele não tinha condições de cuidar de uma criança tão pequena e que eu logo seria adotada por ser recém-nascida. Minhas cuidadoras sempre contavam que o homem não trajava roupas comuns e que não as olhava nos olhos, parecia pouco confiável também. Não sei quem ele poderia ser, talvez meu pai? Talvez houvesse matado a minha mãe?
Meu nome foi dado por uma tia, que disse que sonhara sempre em nomear alguém inspirada em flores, especificamente lírios, mas nunca pôde porque meu tio não gostava de nenhum nome.
Eu cresci em um lar excepcionalmente amoroso. Por ser a mais nova entre os primos, sempre fui mimada por todos. Sinto que em partes por medo de que eu sofresse algum preconceito por conta de minha aparência, já que demorei muito para aprender como mudar qualquer coisa em meu corpo e, quando o fiz, resolvi não adotar uma identidade diferente, como seria comum para outros changelings.
Embora tivesse algumas identidades paralelas, Lilya não utilizava nenhum disfarce; a única exceção era os olhos, que eu preferi alterar para algo que tivesse pupilas e assustasse menos as pessoas.
Foi no colégio que eu ouvi ofensas pela primeira vez. As crianças puxavam meus cabelos e tentavam arrancar de mim alguma reação que causasse alguma mudança, sem sucesso.
“Mostre a eles do que você é capaz.” disse a voz pela primeira vez, quando eu tinha dez anos de idade, “Você possui algo que eles não possuem.”
E levei semanas para entender a que a voz se referia, lidando com o gosto amargo e o nó no estômago que eu sentia cada vez que uma criança tentava tocar em meus braços ou cuspia em minha direção.
Não tenho muitas memórias da época, suprimi a maioria, mas uma em específico me marca até hoje:
“Quem é que vai beijar a esquisita?”, ouvi as crianças rirem a alguns metros de mim. Eram mais velhas do que eu e jogavam dados. “Você?!”
Eu pude ouvir alguns protestos, o garoto negava veementemente e as outras nove ou dez crianças riam com escárnio, dizendo que ‘aposta era aposta’.
Foi um borrão, num minuto eu estava sentada em um canto do grande pátio e no outro estava nos braços de quatro ou cinco crianças que riam e gritavam meu nome enquanto tentavam me arrastar até o garoto, que também era seguro firmemente por quatro pessoas.
Eu gritei. Soquei em todas as direções e chutei todos que pude, mas eram simplesmente mais fortes do que eu. Entre minhas lágrimas e voz rouca, ouvi mais uma vez.
“Você possui algo que eles não possuem.”
Sentia meu rosto queimar como se cada toque das mãos de meus agressores queimasse. Havia pressão em meus olhos, que pareciam querer saltar das órbitas, e repentinamente eu sentia uma torrente de adrenalina que ia diretamente para meus dedos.
“Parem.” Sussurrei, sacudindo a cabeça para espantar o ardor nas bochechas, sem sucesso. “PAREM!”.
Com um grito, senti o chão abaixo de meus pés aquecer e apertei os olhos instintivamente. Ouvi meus colegas de classes berrarem em puro terror enquanto se afastavam de mim.
Quando abri os olhos, estava rodeada por espinhos de gelo que circundavam o raio em volta e haviam atingido algumas pessoas, que choravam.
Eu mesma chorava, horrorizada pela ideia de ter causado aquilo. Havia sangue em minhas pernas, que também haviam sido atingidas pelos projéteis pontiagudos, embora as outras crianças estivessem muito mais feridas. Entrei em pânico, incapaz de me mover ou reagir à situação.
Lembro-me de cair de joelhos e voltar a si apenas em casa, na minha cama.
Nunca mais fui a escola depois daquilo. Meus pais chamaram alguns tutores incumbidos da tarefa de me orientar melhor sobre minhas habilidades mágicas, mas eu não conseguia fazer nada sem me lembrar de quando quase matara meus colegas de classe. Foram anos até que eu fosse capaz de fazer de novo e, por pura de vergonha de fazê-lo na frente de alguém, me tornei autodidata e aprendi todas os meus feitiços por conta própria.
Às vezes me sentia um fardo para meus pais, porque além de atrair olhares pela rua, eu havia lhes trazido mais problemas com a minha incapacidade de interagir com outras crianças. Eles nunca reclamaram, mas eu sempre imaginei que eles preferissem uma filha normal como eles.
No teatro encontrei minha força. Nas infinitas histórias e roteiros eu vivi as mais belas mentiras e assumi realidades que eram melhores que a minha. Renasci nos palcos, sendo Lilya, Lie ou qualquer outra pessoa. Criei, com cuidado, minha persona e experimentei pela primeira vez a reverência de todos.
Ninguém consegue se irritar com Lilya!
Ninguém além da própria Lilya.
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Madelien foi a primeira pessoa em anos a me ver usar uma de minhas habilidades. Quando a vi usar magia, imaginei que ela não veria problema caso eu cometesse algum erro e que era experiente o suficiente para não se machucar comigo.
Como alguém tão megalomaníaco pode se sentir tão tímido ao fazer algo que lhe é natural? Levei longos minutos para me lembrar as palavras certas e executar um truque simples.
“As coisas são bagunçadas aqui dentro.” Eu explicava, apontando para a minha cabeça, enquanto ela fuçava as próprias anotações.
“Você acertou. É o que importa.”
Desde então, me forcei a usar minhas habilidades quando necessário para ajudá-la, já que ela decidira me levar com ela e era o mínimo que eu poderia fazer em troca. Desde então, observando Brasa e Nashwa usarem os próprios feitiços havia me ensinado muito.
De quem eles são amigos afinal? Seus? Quem é você? Eles não conhecem você. Eles não confiam em você.
Sussurrava a voz sempre que eu estava em silêncio, mas eu ignorava suas demandas; eu estava com Mad e ela confiava em mim. Logo os demais também confiariam.
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Sempre que me olhava no espelho, via minha imagem distorcida, com chifres que adornavam minha cabeça e exerciam peso para baixo. Sei que não estavam ali, mas eu os sentia.
Meu olho esquerdo tinha coloração avermelhada e eu me pergunto se meus colegas haviam notado que ficava mais escuro com o passar do tempo. Se sim, não comentaram nada comigo.
“Deixada por um homem com olhos estranhos. Não eram naturais.” Dizia a sacerdotisa para minha mãe. “Um pecado.”
Homem com olhos estranhos.
Lilya com olhos estranhos?
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Rostos | Capítulo 1
Madelien e eu gostávamos de frequentar restaurantes e tavernas locais em busca de pequenos contratos. Naquele dia, no entanto, estávamos apenas descansando.
Ela falava pouco, limitando-se apenas ao necessário, enquanto eu podia falar de horas a fio sem me cansar. Foi durante um de meus monólogos que uma figura mascarada se aproximou da mesa, caminhando em direção a cadeira vaga de forma cortês, como se não quisesse estar fazendo o que viria em seguida. Não ser capaz de ver o seu rosto me incomodava, já que minha ideia de segurança sempre fora a capacidade de ler qualquer pela face; eu podia ler os olhos de qualquer como um livro clichê e notar o menor dos sorrisos porque o artista sempre deve estudar sua arte a fundo.
O homem, um tanto mais alto do que eu, buscava por Mad, mas me cumprimentou da mesma forma. Explicou sobre o contrato e sobre seus motivos, finalmente chamando minha atenção para a gravidade do problema. Seu nome era Kiran e ele vinha de uma cidade distante, que estava passando por problemas relacionados a mortes e sequestros de civis. Eu, por saber pouco sobre a situação política fora de minha cidade natal, não era capaz de compreender todos os desdobramentos da situação, mas a voz do rapaz soava tensa, carregada de um tom quase que suplicante.
Ele trajava roupas que cobriam todo o corpo, mas revelavam armas embainhadas na cintura. Pelo estado de conservação, eu diria que ele esteve viajando por alguns dias de forma relativamente confortável. Ele viera atrás dela, especificamente. A reputação de Madelien era impressionante, mais ainda a forma como ela era capaz de lidar com isso.
Não houve um mísero sorriso vindo dela, mesmo quando ele a elogiou por contratos passados, seu semblante permaneceu o mesmo durante toda a conversa, sobretudo quando ela estabeleceu suas condições.
Ao contrário de mim, a Rosa de Vineff tinha valores muito bem definidos. Não levava prisioneiros em hipótese alguma, mesmo se isso rendesse baixas desnecessárias, ela dizia que simplesmente não tinha jeito para capturar ninguém e que podia resolver tudo de outra maneira. Eu sempre vi valor em ser capaz de evitar o combate e conseguir chegar a meus fins sem sujar as mãos, minha companheira preferia o oposto. A outra condição era compreensível: sua ordem não lidava com assuntos políticos, então se fosse o caso, ela estaria fora.
Kiran explicou que, mesmo que estivéssemos indo até à cidade que sediaria um casamento real importante, o contrato não estava associado ao evento. Balela. Tudo que ocorresse naquela cidade estaria relacionado com um evento daquele porte, mas eu preferi não dizer nada. Nunca havia ido a um casamento tão grande, então torci para ela aceitar e pudéssemos ficar durante a comemoração também. Ainda que meus motivos não fossem tão nobres quanto os deles.
Às vezes me perguntava como deveria ser ter inimigos e enfrentar conflitos. Minha vida fora sempre tão pouco linear que eu não seria capaz de identificar situações que não fossem ambíguas e tortuosas, mas talvez as coisas simplesmente fossem assim. Alguns de nós estão destinados a viver histórias emocionantes e compreensíveis, que podem ser passadas adiante em canções e poemas. Outros de nós estão destinados a melodias caóticas e obras labirínticas que não levam ninguém a lugar algum. Reconfortante.
Aceitamos o trabalho, Mad pelo dinheiro e eu pela adrenalina, como deveria ser. Aquele foi o início de minha estranha história.
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A Costa de Salarez era muito bonita, como eu bem disse repetidas vezes para Mad durante a viagem. Havia muito para a ver: muitas pessoas, construções e organizações que eu nunca havia visto. Eu podia dizer que ela se divertia com a minha curiosidade quase que infantil, embora soubesse serem raros os momentos em que eu me sentia tão dócil; para uma caçadora, ela era incrivelmente paciente com meus intemperismos.
“Você não quer ser uma daquelas pessoas?” uma voz provocava, vinda de algum canto de minha mente, levando meu olhar até um transeunte qualquer. “Você ainda não se cansou de ser apenas você?”. Não! Claro que não!
Eu repetia várias e várias vezes como se pudesse potencializar minha indignação.
“Está tudo bem?”, Madelien questionou. Ela sabia muito sobre mim, mas não sabia sobre o crucial detalhe de que eu questionava minha sanidade com frequência.
Não era como se eu pudesse simplesmente admitir para ela que ouvia vozes, nem que era capaz de ler idiomas que nunca havia aprendido, muito menos o meu quase incontrolável impulso de largar tudo e começar uma vida nova semanalmente, porque eu não queria que ela me visse como pouco confiável em combate (ou na vida em geral).
“Sim!”, disse com um sorriso. “Eu apenas não gosto de sol. Não é fácil quando você tem essa cor.”
“Nunca pensou em mudar?”
“Gosto desse jeito.”
Fomos levadas a uma taverna que dava direto para a praia. Como ficava no alto, era possível ver uma grande extensão do mar e a cidade abaixo, que era muito bonita. Kiran disse que nós nos encontraríamos com o contratante para discutir sobre o trabalho. Eu havia me esquecido que esse era o real motivo para estarmos ali.
Estaria mentindo se dissesse que prestei alguma atenção no que havia acontecido ali, mas fui capaz de entender que pessoas estavam morrendo e que isso estava deixando todos um pouco irritados. Houve mais informações, mas eu me distraí encarando o contratante, um Leão gigantesco que tinha traços dourados no rosto.
Enquanto Kiran conversava com ele, eu me levantei para pegar uma bebida, já que nossa conta seria coberta por eles. Enquanto esperava, uma figura fazia o mesmo, escorada no bar emanando uma luz que não correspondia a sua silhueta.
Foi ele quem se aproximou, revelando uma criatura pomposa que usava roupas parecidas com as minhas: extravagantes demais para a ocasião. Os trajes mal cobriam seu corpo, mas eram feitos de metal. Ele me ofereceu um sorriso torto, como se analisasse analisando-me da mesma forma como eu o analisava. Sorri de volta.
Não o conhecia, mas conhecia seu olhar. Jardin estava repleto de olhares como aquele, prontos para devorar corações inocentes e deixar para trás um rastro de amores não correspondidos.
Costumava invejar muito pessoas como ele, que eram capazes de deixar amores para trás sem perderem um pedaço de si no processo.
Nashwa. Sua voz era aveludada e ele era incrivelmente fácil de ler, o que não parecia o incomodar. Algo me dizia que ele inclusive gostava de saber que alguém estava prestando atenção em suas expressões dessa forma.
Honestamente, não consigo me recordar bem como cheguei até a mesa, já que estava concentrada em identificar os ingredientes da bebida que pedira. Quando me dei conta, estava sentada junto de Mad, Kiran, Nashwa, o contratante e dois outros homens que eu não conhecia. O grande leão parecia aprovar o grupo de forasteiros.
Eles não demoraram a se apresentar, no entanto. Eram Brasa, um genasi de cabelos compridos que parecia muito deslocado em lugar como aquele, e Tião, um Firbolg que parecia ter muitas vezes a minha idade e era muito bem articulado. A dupla viajava em conjunto e eles haviam parado para saber mais detalhes sobre o contrato. Em alguns minutos de conversa uma dupla virou um grupo de seis, o que me fazia sentir mais segura sobre não saber bem o que estava fazendo. Madelien provavelmente preferia a morte.
Durante os breves momentos em que realmente prestei atenção no que o contratante dizia, soube que a missão tinha algo a ver com cadáveres que haviam sido encontrados naquela mesma manhã. Ele marcara no mapa o local onde deveríamos investigar.
Apesar de termos nos juntados em circunstâncias nada ideais, eu estava feliz em conhecer mais aventureiros porque queria aprender mais com eles.
-
A investigação no local foi um borrão. Me distraí em meus próprios pensamentos enquanto meus companheiros faziam algo realmente útil.
“Essa situação é assustadora.”, dizia a voz. “Que acha de fugir daqui? Esconda-se, fuja e esqueça isso tudo.”
Ignorei.
Não quero esquecer. Gosto do que estou fazendo, estou apenas com medo, aliás, essa voz sou eu mesma, certo? Talvez.
Tinha algo a ver com licantropos, pelo que pude ouvir, e Madelien sabia muito sobre eles como de costume. Ela era muito inteligente e conhecia perfeitamente seus inimigos, o que rendia conversas interessantes. Sempre admirei sua habilidade de deduzir coisas baseando-se apenas em pistas do ambiente. Seguindo seu comando, resolvemos voltar para nos preparamos para uma batalha mais complicada do que o esperado, visto que ela havia contado bem mais do que um inimigo.
Eu os seguia, mas minha mente estava longe porque eu ainda me sentia assustada. Agora que eu havia conhecido aquelas pessoas, o que faria se elas fossem embora? Por que isso me preocupava tão repentinamente?
“Você gosta de todos rápido demais.”
Não quero ficar sozinha nunca mais, meu monólogo interno é extramente chato e eu não sei fazer nada direito.
Eu não gosto de gostar das pessoas, é estressante. Sinto-me preocupada e ansiosa porque não quero que se afastem. Quero ter amigos, mas não sei se sou exatamente amigável.
“Você está atuando, Lilya. Você? Sequer existe você? Quem é você, afinal?”
Não sei. Não me importo.
“Se importa sim.”
Não me importo não. Só preciso de uma noite de sono e estarei revigorada e plenamente certa de minha própria identidade.
Há um borrão de tinta no final da entrada do diário. O que quer que fora escrito ali está ilegível.
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Sobre Lilya Gairdieu | Prólogo
A luz que vinha do grande lustre do teatro provocava uma sombra bem definida no cenário. Embora eu estivesse sozinha, dois focos de luz projetavam duas sombras nas paredes que me faziam parecer acompanhada de um par de cópias de mim mesma. Suspirei, retirando parte do figurino que trajava e puxando para trás os cabelos, antes perfeitamente alinhados. Já fazia mais de duas horas desde que a peça havia terminado e, a essa altura, todos já haviam ido embora. O lustre sequia aceso porque eu havia prometido apagar quando saísse, alegando precisar procurar alguns itens pessoais que deixara no camarim.
Levei ambas as mãos até o rosto, sentindo minha estrutura facial afiada e firme. Pressionando com mais força, a pele se rompeu; senti o sangue escorrer quente pelo rosto e peito, tentando fazer aquilo tudo sem sujar demais o chão. Arrastando firmemente os dedos pelo rosto, eu era capaz de remover todo o líquido, levando consigo meu antigo rosto, deixando para trás meus traços, bem mais suaves e menos marcantes. Conforme o fazia, o resto do disfarce colapsava como uma camada de pele a dissolver-se, empoçando o chão abaixo de mim com sangue.
Era provavelmente possível fazer todo aquele processo de forma menos grotesca, mas eu nunca havia sido ensinada sobre. Meu contato com outros como eu era limitado a algumas conversas com viajantes que passavam pela loja de minha família.
Removendo finalmente o resto do figurino, agora tingido de escarlate, eu então caminhei até o camarim, tomando cuidado para limpar os pés antes. Verifiquei no espelho se já havia removido todo o disfarce, depositei o vestido em um balde com água fria e peguei materiais para limpar o palco. Embora imprudente, eu sempre quis fazer aquilo no palco, como se risse de mim mesma, mas nunca houve a oportunidade.
Abandonando minha forma de atriz, eu podia sair tranquilamente pelas ruas de Jardin de Mécènes como um livro em branco, pronta para escrever um novo capítulo que apagaria amanhã. Nunca me fez diferença se eu lembraria ou seria lembrada do passado, desde que eu pudesse mudar o presente como bem escolhesse. Não havia no mundo sensação mais reconfortante que aquela de que eu poderia simplesmente deixar tudo para trás quando os desdobramentos da vida se provassem muito desordenados para que eu pudesse acompanhar.
ᔕ
Alguns dias depois, quando fui até o teatro para entregar alguns pedaços de figurino que havia buscado da alfaiataria, havia uma grande comoção na entrada de um dos camarins. Sob olhares curiosos e burburinhos, eu podia identificar que o assunto era algum tipo de aparição sobrenatural que já vinha causando problemas há meses, e agora fizera outra vítima.
Falavam de sangue pelo chão e nos figurinos e, embora isso provavelmente fosse culpa minha, quando passaram a relatar outros acontecimentos, eu me interessei pela estranha história de fantasma que me era contada pelos atores em pânico.
O velho Magne.
Diziam ter duas cabeças e cinco braços longos que enlaçavam sua vítima e a sufocavam até que os olhos saltassem para fora. Diziam que o velho Magne podia andar por entre as paredes e derrubar estátuas inteiras se estivesse irritado o suficiente. Diziam ter mais de sete metros de altura e olhos vermelhos como brasas, que podiam ler seus pensamentos.
Eram tantos dizeres que eu mesma não soube sequer filtrar o que ocorrera naquele dia, mas desde então passei a comentar sobre o velho Magne que havia interrompido minha semana de ensaios. “Maldito seja”, eu dizia em tom jocoso sempre que explicava o motivo de minha semana estar tão livre. Magne podia não ser real, mas fechara um teatro inteiro por vários dias até que a situação fosse resolvida.
Foi em um dessas conversas, enquanto eu repassava para alguém minhas memórias do incidente, apropriadamente exageradas para tornar a conversa mais interessantes, também porque meu autocontrole era bastante falho, que uma mulher caminhou até mim e questionou.
“Você pode me contar mais sobre isso?” perguntou, a expressão séria criando um nó em minha garganta como se eu estivesse sendo confrontada sobre um crime. “Sobre o velho Magne.”
Concordei, explicando a tortuosa jornada de um passado remoto até o presente, onde eu e outros tantos artistas aguardávamos por um desfecho para que voltássemos ao trabalho. Ela agradeceu pela ajuda em sua investigação, afirmando mais de uma vez que o problema seria resolvido assim que possível. Eu agradeci pelas palavras de apoio, sem entender bem o que ela queria dizer.
Não saberia explicar o motivo, mas quando a vi novamente no entorno do teatro, não pude evitar me aproximar a questionar o motivo de tanto interesse. Em poucas palavras, ela me explicou ser uma caçadora e fora contratada especialmente para aquele serviço, e que estava investigando sobre para encontrar uma versão mais próxima da realidade, sem muito sucesso.
Seu nome era Madelien, uma estranha criatura aos olhos de uma criatura estranha como eu. Pequena, imponente, com um rosto que não guardava tantos segredos quanto o meu. Me olhava como se eu fosse uma parte daquela construção, e soubesse tudo sobre seus cantos, ecos e rachaduras. A segui por estar curiosa, mas fiquei porque ela também estava.
Admito que exagerei em meus relatos, já que quando finalmente chegamos até o tal fantasma, ele sucumbiu com apenas um golpe de sua espada. Esperei decepção por parte dela, mas recebi um sorriso triunfante como quem queria dizer que o trabalho estava finalmente terminado.
“Você não preferia que fosse de fato uma enorme criatura ameaçadora?”, eu questionei enquanto caminhávamos de volta para a entrada.
“Eu me importo em completar o contrato, seja lá como for.”
Era fascinante conhecer alguém que levasse uma vida daquele jeito. Um turbilhão de emoções sempre que desembainhava a espada, um milhão de histórias para contar. Como deveria ser a sensação de se sentir forte? Importante? Como deveria ser assistir tantos últimos suspiros e banhar-se no sangue de seus inimigos?
Madelien era tudo aquilo que eu não seria capaz de ser e, ainda assim, compreendia cada pensamento confuso e exagerado a qual eu ousava dar voz. Sua vida era repleta de acontecimentos grandiosos e emocionantes, mas ela insistia em perguntar sobre minhas histórias.
Contei ser capaz de usar magia, embora fosse tímida demais para demonstrar qualquer uma de minhas habilidades, na prática. Mostrei-lhe livros sobre minha raça, a história da cidade e até mesmo livros sobre feitiçaria. Nunca havia encontrado alguém com tanta paciência.
Em troca, ela me ensinou sobre seu país de origem, sobre caçadores e até mesmo sobre a classificação de fantasmas.
Era como se eu a conhecesse desde que nasci, e, ao mesmo tempo, a conhecesse de novo cada vez que aprendia mais sobre ela. Há tempos não tinha a sensação de ser verdadeiramente amiga de alguém.
Não foi necessário insistir muito para ela aceitar me levar consigo para seu próximo contrato, ainda em aberto, e eu senti ser novamente hora de arrancar as páginas de meu livro da vida e iniciar uma nova história.
ᔕ
Havia dentro de mim uma inquietude. Meu monólogo interno vez ou outra dava gritos, exigindo que eu fizesse algo para cessar sua avidez por emoção.
Às vezes, implorava por amores que iam e vinham, deixando-me confusa e desamparada quando eu terminava com o coração despedaçado nas mãos.
Noutras, implorava por emoções diferentes: a tensão de me envolver em um conflito, a ansiedade de aprender algo novo ou a satisfação de ser a melhor em algo.
Por algum tempo, Lie foi a personificação de tudo isso, uma atriz cujo rosto eu havia copiado de uma pintura antiga e adotado como meu alter-ego para os palcos. Com ela, vivi cenas e escrevi um pedaço de minha história que era repleto de noites glamorosas e corações partidos, mas agora sentia ser hora de abandonar minha estimada atriz e seguir para o novo capítulo do romance sinuoso que eu escrevia para mim, agora como Lilya, aventureira.
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