Don't wanna be here? Send us removal request.
Text
a resposta para a pergunta de victor era simples. sim. lydia tinha nascido doente, fraca demais e pequena demais, e tinha compartilhado a fraqueza com sua mãe. uma menina sem mãe e depois sem pai, com pulmões mais delicados que vidro. ela gostaria de dizer que isso era uma figura do passado, uma versão de si mesma abandonada junto com seu quarto de infância em thornhil... mas talvez uma parte de lydia sempre seria aquela garotinha de porcelana, quebrada e remendada um milhão de vezes. "a minha família começou a se preparar para minha morte no dia em que eu nasci." ela deu de ombros. pensar naqueles anos miseráveis durante a infância era como se lembrar de algo que aconteceu com seu personagem favorito em um livro. distante e ainda assim dolorido. "todos se preocupam com algo. algumas pessoas só conseguem disfarçar e mentir sobre isso melhor do que as outras." lydia era boa em mentiras, mas ultimamente ela estava cansada delas. talvez ela tivesse se importado tanto, com tudo, por tanto tempo que agora tudo que a preocupava era o cansaço. a incerteza. e aquela maldita casa. "victor...?" sua voz ganhou um leve tremor, um flash de preocupação passando por sua feições. "tudo bem aí em cima?" apontou para a cabeça do outro vagamente.
ele pensa na pergunta. o ser humano é um mero produto do meio onde vive; caso a mãe não tivesse morrido, talvez fosse um homem diferente do que é atualmente. se fosse criado com carinho, amor e calor de um abraço, talvez fosse capaz de igualmente amar, demonstrar as próprias aflições, talvez não precisasse usar drogas e se distanciar da realidade, de tudo e todos. porém, não passava de um ‘se’ e de inúmeras hipóteses irreais e que, se existissem universos paralelos, estariam acontecendo. mas, para aquele victor, o qual provavelmente morria de câncer de pulmão por tanto fumar, não havia outra maneira de ser. ‘ você sempre esteve doente? ’ o rosto dele formiga. os olhos não olham mais a figura ao lado, prendem-se na xícara em sua frente e é capaz de ver a própria expressão refletida no líquido escuro. o vazio não o surpreende, pois bem, a vida o consumiu por completo. agora, ele é apenas um carcaça que não vive, mas sobrevive. ‘ com o que preciso me preocupar, lydia? ’ o sarcasmo na risada curta e seca é palpável. ‘ sequer tenho a necessidade de fingir algo. viajei para cá unicamente pela curiosidade. ’ poderia atear fogo naquele jardim e reduzir tudo à cinzas, mas não se importa o bastante para tamanho esforço. porém, caso outrem o fizesse, não impediria. o victor no chá se distorce em uma expressão perturbadora, o sorriso tão largo a ponto de rasgar os cantos da boca. é rápido em acabar com o chá, engolindo-o de uma única vez. ‘ porra… ’ leva a mão até os olhos e os aperta; não devia ter usado nada.
11 notes
·
View notes
Text
lydia sabia que as palavras de cassandra não eram verdadeiras. talvez pelo seu tom de voz, suas expressões... ou talvez uma parte do entendimento quase mágico que elas tinham quando crianças ainda sobrevivesse, enterrado e desnutrido, mas presente como uma pequena faísca. talvez ela soubesse que cass não era boa em esquecer porque lydia não era boa em esquecer. não importa quanto ela tentasse. "de vez em quando eu tenho um sonho que eu estou no rio lete." ela confessou. "eu encontro ele escondido em alguma parte esquecida do hyde park, e quanto eu tomo o primeiro gole... tudo vai embora. as memórias, a pessoa que eu era, a pessoa que eu sou... e então eu acordo." deu de ombros, quase revirando os olhos com as próprias palavras. entretanto, ela sabia que cass não iria rir de seu sonho ou sua confissão dramática. cassandra sempre entendia, e lydia de vez em quando a odiava por isso. "eu também venho me lembrando de coisas. mas as memórias que eu mais queria ainda parecem estar há mil anos luz." seu pai, sua voz, seus abraços... uma pessoa que lydia de vez em quando pensava que tinha imaginado.
Deu um riso fraco com o comentário de Lydia sobre o earl grey, mas assim como o sorriso da outra, seu riso também não era o mais sincero. Cassandra não conseguia entender por que as coisas eram tão difíceis quando o assunto é Lydia. Quando as duas eram meninas, havia um entendimento quase telepático entre elas. Agora, separadas uma da outra por quinze longos anos, pareciam estrangeiras que nem falavam a mesma língua. "É, acho que você está certa. Algumas coisas ficam melhores quando entregues ao esquecimento." As palavras eram vazias de significado, porém; Cassandra sabia esconder, mas nunca havia aprendido a esquecer. "De qualquer forma, é incômodo. Saber que há coisas que eu deveria saber e elas estão fora de alcance. Mesmo assim, há coisas que estou começando a lembrar." Seus primeiros momentos em Thornhill, os chás de domingo da sra. Banks. As lembranças retornavam aos poucos, mas vinham de forma certeira. Cass não sabia se isso era bom ou ruim.
5 notes
·
View notes
Text
lydia franziu as sobrancelhas, inclinando a cabeça enquanto encarava leo. "perder o programa não te incomodaria?" não é como se ela tivesse o direito de julgar o desinteresse de alguém - sua própria exposição de fotografias tinha sido adiada e então cancelada sem alardes, sem que ela tentasse ao menos lutar pelo que uma vez parecera tão importante. mas a verdade é que poucas coisas pareciam ser realmente importantes em sua vida. "eu não gosto de histórias de fantasmas. elas são tão bobas quanto contos de fadas. quando as pessoas morrem, elas não ficam aqui. elas só estão mortas."
a tosse, o lenço, tudo era muito familiar. lydia sorriu, esperando que leo conseguisse sentir a simpatia que ela sentia. "eu estou viva. isso já é mais do que todos esperavam quando eu era criança, não é?" havia uma ponta de humor na sua voz, mas lydia deu de ombros e seu sorriso virou algo um pouco mais triste. "você está bem?
O cumprimento o fez sorrir, se virando com um genuíno brilho no olhar ao reconhecer Lydia. Mesmo assim, não era o suficiente para deixar seu rosto pálido e agora até mais magro com vida. Ainda era evidentemente alguém doente.
"É mesmo? As histórias de terror que são as mais genuínas. Muitas verdades se escondem em relatos fantasmagóricos... Mas não é uma crítica incomum. Talvez eu perca o programa, afinal." Admitiu ,estranhamente tranquilo.
Cobriu a boca com um lenço e tossiu algumas vezes. "... Uma pena que não goste das histórias. Sempre achei Thornhill um cenário interessante para contos assim. Mas não me atrevo a escrever, só a atuar as histórias."
Uma pausa e um sorriso. "Você parece bem. Fico feliz."
5 notes
·
View notes
Text
BEETLEJUICE BEETLEJUICE dir. Tim Burton
1K notes
·
View notes
Text
COM: @vincentgore ONDE: jardins QUANDO: por volta das 11:30
lydia sempre foi boa em observar as pessoas de longe, quieta como um ratinho, igualmente curiosa e invejosa sobre as vidas dos outros. com o tempo, a universidade, os trabalhos, as festas, ela tinha se tornado uma pessoa menos passiva, sempre feliz em expor sua opinião. mas ela era, antes de tudo, uma fotógrafa. um par de olhos impassíveis. e naquela tarde, sentada sob a sombra generosa de um salgueiro, seu olhar vagava pela festa de chá com um interesse quase clínico. ela observava tudo pelo visor da câmera, esperando algum momento que pudesse ser capturado. a chance veio quando uma figura se aproximou. vincent. clique. flash. um sorriso enquanto ela abaixava a câmera. “oi vincent. você dormiu bem? nenhum percevejo?"
2 notes
·
View notes
Text
COM: @curiouslikeacat ONDE: jardins QUANDO: por volta das 13:30
lydia tinha passado a maior parte da vida doente. sua infância foi desperdiçada entre lençóis, médicos, medicamentos e diagnósticos. mesmo agora, com pulmões um pouco mais resistentes e crises de asma no passado, a doença (e doentes) ainda lhe eram uma companhia familiar. talvez por isso, no instante em que seus olhos pousaram em Leo, um arrepio subiu por sua espinha. ela reconhecia aquele olhar. era o mesmo que ainda a assombrava no espelho. por um momento, ela considerou apenas observar de longe. mas havia algo em leo que a instigava — uma curiosidade que a fez ignorar o instinto de se manter à margem. "uau, uma grande estrela do rádio entre nós," disse, se aproximando com um sorriso despretensioso. "mas eu gostava mais do seu show antes das histórias de terror."
5 notes
·
View notes
Text
não pela primeira vez, lydia desejou ter pulmões fortes o suficiente para que cigarros não fossem um hábito fora de questão. gostaria de ter algo para ocupar as mãos e os lábios. algo mais forte do que uma simples xícara de chá. seria cedo demais para misturar bourbon em um dos potes de earl grey? duvidava que alguém ali se incomodasse com um chá irlandês. "sim, sim, uma nação quebrada, luto coletivo, reconstrução do país..." lydia deu de ombros. a verdade era que, apesar de tudo, os anos pós-guerra foram os menos conturbados de sua vida. na época, sair de thornhill para morar com os tios parecera um castigo terrível, mas, com o tempo, lydia passou a enxergar aqueles anos de quase normalidade com gratidão. "minha cabeça está ótima." uma mentira descarada, dita com um sorriso. "e você? está morando em londres?"

Estar de volta à mansão depois de tantos anos havia trazido para a superfície uma miríade de sentimentos aos quais Briar não tinha desejo de explorar. Os rostos desconhecidos, as sombras que acompanhavam feições mais distantes da sua lembrança, as memórias de habitar entre aquelas paredes com um grupo de crianças que não existia mais — ainda que algumas vozes familiares a trouxessem de volta àqueles dias. Estar em Thorhill novamente havia exaurido seus nervos, e a jovem Mortimer fizera questão de passar seu primeiro dia na casa distante de todos, tentando retornar a algum semblante de tranquilidade. Foi com algum receio que ela seguiu aqueles que compareceram ao chá oferecido naquela manhã, com alguma culpa de deixar os esforços da Sra. Banks serem desperdiçados pelo seu humor volátil após os estranhos sonhos da noite passado. Ela havia acabado de aceitar uma xícara de chá, mais para ocupar suas mãos enquanto devaneava sobre as estranhas circunstâncias que a traziam de volta para esse jardim, quando foi distraída pela voz de... seu nome era Lydia, não era? A mais jovem dos irmãos, a quem conhecia mais por pinturas do que memórias. "...eu não usaria essas mesmas palavras, mas os anos após a guerra foram duros com todos nós. Esse é o seu jeito de me dizer que eles mexeram com a sua cabeça?"
4 notes
·
View notes
Text
COM: @dethrcned ONDE: cozinha QUANDO: 10:30
lydia passara o dia anterior cuidadosamente evitando richard. ela sabia que estava sendo infantil, fugindo do irmão mais velho como uma criança com medo de levar uma bronca, mas o impulso fora forte demais para resistir. no fundo, ela sabia que sua raiva não tinha fundamento. não era como se richard tivesse sido o motorista que tirara a vida de frederick, nem como se suas objeções a um casamento inegavelmente impulsivo tivessem, por si só, magicamente colocado lydia no buraco em que se encontrava. mas lydia nunca fora uma pessoa lógica.
ainda assim, o domingo nasceu como um novo dia, o sol estranhamente brilhante, e ela sabia que não poderia evitar o reencontro por muito mais tempo. depois do café da manhã (e do anúncio da senhora banks), quando todos já tinham saído, lydia segurou levemente o braço de richard, um traço de diversão moldando suas feições. "acho que a senhora banks enlouqueceu de vez." ela disse, esperando que a leveza por trás das palavras fosse o suficiente para que dick entendesse o que realmente queria dizer. trégua?
0 notes
Text
levantou as sobrancelhas de maneira irônica, pegando a xícara limpa sem muito entusiasmo. o aroma do chá era familiar, diferente da marca que vinha em saquinhos que ela tomava em londres, pertencente a uma memória infantil há muito esquecida. “que cavalheiro.” ela murmurou, levando a porcelana aos lábios. o tom seco não escondia a exaustão que pesava sobre ela. a verdade é que em qualquer outra situação lydia não se deixaria incomodar por algo tão supérfluo — deus sabe que ela nunca fora um exemplo de etiqueta — mas estar em thornhill, cercada de pessoas que ao longo dos anos tinham virados na melhor da hipótese estranhos (e na pior fantasmas que habitavam seus sonhos e memórias) não trazia o melhor de lydia à superfície. “você sempre foi assim? tão... indiferente?” não era uma pergunta acusatória, mas uma verdadeira curiosidade. "fingindo não se importar com nada?"
ele não se importa muito com a indignação alheia, então, apenas dá de ombros. ‘ não foi de propósito. ’ uma meia verdade, queria descartar a guimba e, obviamente, o cinzeiro era o local ideal, só que não tinha nenhum ali e a xícara de chá acolheu perfeitamente o resto de cigarro. a velha banks odiaria vê-los fumando e definitivamente fingia não sentir o cheiro característico nas roupas deles. ‘ mas não seja por isso. ’ a saúde delicada de lydia sempre foi uma questão para todos, além do mais, a diferença de idade entre eles nunca permitiu que fossem sequer amigos. ela era algo como uma desconhecida com quem dividiu alguns cômodos e vivência, nada mais que isso. mas, mesmo assim, victor faz questão de levantar-se da cadeira e servir o chá diretamente do bule para uma xícara tão limpa que chegava a ser incômodo. dispôs o recipiente na frente dela, logo retornando o corpo para o assento, dando uma única fungada.
11 notes
·
View notes
Text
a situação era dolorosamente familiar — andar de braços dados com milo, fugindo dos outros e adentrando a floresta, um dos únicos lugares na mansão que parecia ser livres de olhares, sussurrose preocupação. ainda assim, lydia não se sentiu aliviada. ela sabia que o peso em seu estômago não desapareceria tão cedo, pelo menos não antes de ela entrar no carro e dirigir para bem longe de thornhill, dos campos de urzais e de yorkshire. good fucking riddance. "acredite, meus motivos são 100% egoístas. eu estava prestes a enfiar um garfo na mão de alguém. talvez na minha." ela brincou, embora o sentimento fosse verdadeiro.
a floresta de thornhill sempre foi um pou co desnorteante, e lydia, mesmo que distraída, mechendo nas configurações de sua máquina, tomou cuidado para não adentrá-la. milo talvez ainda conhecê-se o lugar bem o suficiente para guiá-los, mas lydia não tinha confiança em sua própria memória. "diga xis." ela disse, não esperando muito tempo antes de tirar uma foto de milo.
Milo sentia-se aprisionado, sufocado pela presença de tantas pessoas ao seu redor. O pior era que já não sabia se o que lhe fazia tão mal eram as companhias ou o próprio lugar — o que, ironicamente, lhe arrancava um sorriso amargo. Quando criança, Thornhill parecia um paraíso repleto de segredos esperando para serem desvendados. Agora, era apenas um labirinto claustrofóbico de lembranças e desconforto. Já havia tomado chá, fingido comer, mas tudo lhe causava apenas azia e um peso incômodo no estômago.
O movimento repentino de Lydia o fez sobressaltar, mas ele agradeceu silenciosamente por não ter sido o primeiro a tomar aquela iniciativa. Assentindo à pergunta dela, limpou os lábios com o guardanapo, levantou-se e se despediu com a mesma cordialidade ensaiada de sempre — para, em seguida, segurar o braço da amiga e praticamente arrastá-la para fora dali.
Afastados da mesa, Milo finalmente inspirou fundo, sentindo um alívio quase palpável ao trocar o ambiente sufocante pela atmosfera aberta da floresta. Ele soltou um suspiro pesado, ainda segurando Lydia como se ela tivesse acabado de salvá-lo de um naufrágio.
— Obrigado! Se eu tivesse ficado ali por mais um minuto, acho que teria um passamento.
3 notes
·
View notes
Text
lydia deu de ombros, seus braços retorcidos ao redor do corpo. ela olhou para o céu cada vez mais cinzento, se perguntando se o dia terminaria em chuva. era quase engraçado que há apenas algumas horas o sol parecia tão estável, uma força poderosa e brilhante. mas como tudo em thornhill, ele não tinha durado muito. "eu tomei tanto earl grey que é um milagre eu não ter explodido." ela disse de maneira bem humorada, embora seu sorriso fosse forçado. "talvez a melhor coisa a fazer seja não tentar lembrar. eu particularmente gostaria de deixar o que está no passado bem enterrado." uma fala claramente hipócrita, mas lydia nunca tinha alegado ser um bom exemplo.
Havia algo de estranho naquela tarde. Todas as tardes em Thornhill haviam um dia sido assim? Deus, ela não conseguia se lembrar. De qualquer forma, olhava para o céu tempestuoso enquanto deixava seus passos levarem-na para onde quisessem, até que seu caminho encontrou o de Lydia. Não lhe surpreendia que isso acontecesse; de uma forma ou de outra, todos os caminhos de Thornhill eventualmente levavam a ela. Deu um sorriso fraco com a pergunta da outra e fez que não com a cabeça. "É difícil se cansar dos bolinhos da sra. Banks", foi sua resposta enquanto alcançava Lydia para andar ao lado dela. "Eu só... não estou com muita fome. Toda vez que olho para um lugar, parece haver algo coçando no fundo da minha mente, exigindo que eu me lembre... mas os detalhes me fogem. Isso me deixa ansiosa. Quando estou ansiosa, não tenho tanta fome." Talvez aquilo não fosse fruto da ansiedade, mas da lembrança que ela trazia; de volta ao sanatório, quando se recusava a comer, as enfermeiras tinham métodos dolorosos de forçá-la. Quando lembrava disso, perdia a fome. "E você, já comeu o bastante por hoje?"
5 notes
·
View notes
Text
o rosto de lydia se franziu antes mesmo dela poder controlá-lo. como tantos outros, ela não gostava de pensar na guerra, a nuvem sombria que tinha lhe tomado o pai. e mesmo assim, ela não tinha sido uma das fortunadas? com uma casa e criados, longe de qualquer problema como bombardeamentos, fome, violência. claro, a guerra tinha levado sombras da morte até thornhill, mas a morte não precisa de uma guerra. talvez seu pai sempre estivesse fadado à ela, assim como sua mãe. "edimburgo é uma cidade bonita." disse, forçando a mente a se agarrar a outro assunto. "eu li sobre isso. ele apareçeu no aeroporto não é? tenho certeza que a vida de alguma adolescente foi profundamente abalada... talvez eu devesse pensar em trocar a triste londres pela triste edimburgo."
lydia inclinou a cabeça, a memória daquelas primeiros dias ao mesmo tempo distante e fresca. "eu estava tão animada." uma risada fria, sardônica, saiu de seus lábios. "acho que não entendia a guerra. mas o meu pai disse que outras crianças iam viver conosco, e eu era tão solitária... não que isso tenha mudado muito." ela deu de ombros. e então, voltou o olhar para vincent, tentando adivinhar se ele acreditava verdadeiramente naquelas palavras. uma história para contar... lydia sentia que tinha dezenas, e ainda assim todas fugiam de sua mente no momento em que ela abria os lábios. "eu me lembro de noites inteiras sem conseguir dormir porque jurava ouvir passos no corredor. do vento assobiando. de portas que pareciam emperrar sem motivo algum, só para se abrirem sozinhas na manhã seguinte... ou pelo menos acho que lembro." uma casa velha fazendo os barulhos de qualquer casa velha. um grupo de crianças impressionáveis e solitárias. só isso e nada mais.
"memórias não são confiáveis." lydia disse, levantando-se do chão sem cair novamente. um feito impressionante, considerando como seus músculos pareciam pesados depois dos copos de uísque. "eu vou descobrir se ainda me lembro do caminho para o meu quarto. não deixe que os percevejos te mordam vincent." ela adicionou com uma pequena risada antes de deixar seus pés a levarem por um caminho escuro mas, apesar de tudo, conhecido.
– 5 de novembro.
Dez anos, ele pensou. Ele tinha doze. A sensação, no entanto, era a de que Lydia parecia mais nova, e de que suas idades não eram tão próximas assim. Ele não se lembrava de muita coisa com clareza, no entanto, algo que seu tutor em Edimburgo dizia ser culpa da guerra. Os americanos chamavam de gross stress reaction, e ele ainda tinha a cópia do DSM-I de 52 com os sintomas. É claro que ele não se encaixava neles de fato, considerando que seus sintomas duraram muito mais do que os seis meses estabelecidos. "De certa forma, acho que foi outra vida. A guerra, as evacuações... O país não é o mesmo desde a guerra." Nunca falava tanto sobre a guerra, não como o resto das pessoas pareciam falar, mas pareceu adequado que se lembrassem que nada foi o mesmo depois do fim da guerra. Queria acreditar que ver Thornhill como outro mundo era apenas isso: outra consequência da guerra.
Sorriu com a forma que Lydia via Londres, apesar de não pode compartilhar o sentimento. Sua cidade natal era para ele um sinônimo de tempos mais violentos, de uma sensação de não pertencimento. A sensação de insignificância que para ela parecia ser algo desejável, para ele vinha como uma ferida. "Edimburgo." Assentiu. "Não é tão badalada quanto Londres, é claro, mas a Escócia não é tão ruim. Elvis esteve em Prestwick em março, sabia?" Brincou. Gostava de Edimburgo, mas não saberia descrever a cidade de uma forma expressiva como ela havia descrito Londres.
"Esta casa é tão grande assim ou eles estão se escondendo dos hóspedes?" Brincou. "Não sei como eu reagiria se recebesse tantas crianças em casa. Acho que nunca consideramos como foi pra vocês naquela época." E nem deveriam, é claro, eram apenas crianças, mas se a chegada inesperada das irmãs foi estressante para Vincent quando era uma criança, não imaginava como seria ter crianças desconhecidas em sua própria casa de um dia para o outro. Crianças entediadas não lhe parecia uma desculpa muito convincente, mas insistir que havia algo de estranho poderia o fazer parecer como um medroso buscando problemas, então ele não disse nada. O sussurro de Lydia, no entanto, fez um calafrio subir por sua espinha, e ele franziu o cenho de leve. "Bem, se fosse realmente mal assombrada, todos nós teríamos presenciado algo, não acha?" Tentou racionalizar, sem saber se estava tentando convencer Lydia ou a si mesmo. "Passamos bons anos aqui, e você mais ainda. Teria, ao menos, uma história para contar."

57 notes
·
View notes
Text
COM: @holymad ONDE: limites do jardim com a floresta QUANDO: por volta das 16:00
lydia tinha abandonado seu tecido de lã no começo da tarde, perto da fonte, quando o sol estava brilhante o suficiente para espantar o vento gélido do outono. agora, ela estava se arrependendo de não ter pego o casaco novamente, mãos dentro das mangas de seu suéter, andando de um lado para o outro como se isso fosse o suficiente para esquentá-la. ainda assim, lydia não saiu do lugar, não foi buscar o casaco ou até mesmo para dentro da mansão onde uma lareira com certeza estaria acesa. honestamente, ela não sabia porque. seus olhos estavam na floresta, aquela parte de terra grande e misteriosa, mas assim que ela virou a cabeça, lydia avistou algo tão misterioso quanto. cassandra. sua conversa com a garota no dia anterior ainda ressoava em seus ouvidos, e enchia sua boca com um certo amargor. "não me diga que você já cansou dos bolinhos da senhora banks?" ela disse no lugar de uma saudação.
5 notes
·
View notes
Text
lydia franziu o nariz, o desgosto evidente moldando suas feições enquanto seus olhos pousavam no interior da xícara. não era apenas chá — o resto de um cigarro flutuava ali. o compartamento parecia típico do que ela sempre pensara como garotos de oxford, e ela não pode deixar de revirar os olhos. "deve haver centenas de cinzeiros nessa casa. qual é o propósito de arruinar uma xícara perfeitamente boa de chá?" seu tom carregava o peso da irritação, não necessariamente por causa de victor, mas sim o simples fato de que os dois estavam ali, naquela casa. a caminhada até o jardim tinha sido um alívio momentâneo, mas agora, sentada na cadeira que parecia mais confortável do que o esperado, lydia sentia o peso do dia anterior puxá-la para baixo, como se estivesse lentamente derretendo. com um gesto automático, quase mecânico, ela buscou a bombinha de asma no bolso do cardigan e inalou uma dose.
starter aberto, no jardim de thornhill às onze horas da manhã.
aviso de conteúdo: uso de substância ilícita.
ele se vê no espelho e a cena é deplorável; não foi a luz do abajur que o manteve acordado, foram aquelas formas contorcidas e as vozes que, pelo sibilar umbroso, não soavam convidativas. os benzodiazepínicos não serviram de nada, quase como se tivesse tomado um placebo. nunca conseguia prever quando os pesadelos iriam atacar o subconsciente, já havia tentado encontrar um padrão, dias e dias sem dormir, mas eles pareciam ter vida própria. não ligou para as manchas abaixo dos olhos que começavam a enfeitar a feição nada amistosa. encheu o copo com a água da pia, imediatamente o levando até a boca após engolir os três comprimidos analgésicos — queria exterminar a dor de cabeça cuja a latência parecia piorar com o passar dos minutos. victor seca o corpo e larga a toalha sobre a cabeceira da cama e não demora para colocar a roupa. contrariando a moda vigente, preferia usar cores sóbrias e optou pela calça marrom escuro e blusa de gola alta preta. perfeitamente vestido, já deveria ter descido para o café da manhã. entre quatro paredes, victor separa uma única fileira do pó branco e inspira com vontade, jogando a cabeça para trás e ardência corre por sua pele, enquanto o cômodo parece ser consumido pelo cheiro desagradável. o mau humor proveniente da noite mal dormida desaparece, a falsa sensação de bem-estar apoderando-se de seu corpo.
a lembrança vem como um leve sopro. ele nunca gostou dos domingos em thornhill, mesmo que adorasse tomar o chá preto com leite após o culto insuportável. lembrou-se das vezes em que recebeu sermão da senhora banks após profanar a igreja com seus comentários ácidos e cheios de rancor. porém, na memória, a velha não parecia tão insana como agora. quase podia se ver cochichar no ouvido de daphne enquanto dividiam um pedaço de bolo de chocolate, a língua quase sentiu o gosto doce; que havia se tornado amargo, quase podre. victor cruza as pernas e deixa a fumaça de cigarro ir com o vento antes de afundar o que restou dentro de uma xícara de chá perfeitamente cheia. da sua xícara com café preto e leite, a mesma escolha de quando era criança, mas sem guimba de cigarro, ele dá um pequeno gole. ‘ se eu fosse você não beberia isso. ’ aconselha quando muse se senta na cadeira ao lado e tenta beber do líquido agora estragado.
11 notes
·
View notes
Text
COM: @thdamned ONDE: jardins da pérgola QUANDO: por volta das 12:30
ver daphne depois de tanto tempo ainda era estranho. seu casamento tinha sido a última vez em que ela vira a loira — a última vez em que ela vira muitas das pessoas que uma vez eram amigos e agora meros desconhecidos — e aquilo parecia ter sido em outra vida. daphne ainda era a mesma, e ao mesmo tempo, completamente diferente. lydia não gostava disso, não gostava de ter que reviver memórias de infância apenas para destruí-las de novo. nada continua do jeito que é. com a exceção de thornhill. ainda assim, ela sentiu alívio ao ver que a pessoa se aproximando das pérgolas era daphne. "veio se juntar ao meu banho de sol?" perguntou, jogando a cabeça para trás e se esticando dramáticamente. “eu aposto que deve estar chovendo em londres.”
0 notes
Text
COM: @solivaganthorn ONDE: jardins QUANDO: por volta das 12:30
lydia não se lembrava muito bem de briar mas, para ser honesta, ela não se lembrava bem de qualquer um, com exceção de seus irmãos e milo. catalina era a prova viva disso. ainda assim, havia um senso de familiaridade em seus olhos castanhos, o mesmo sentimento ao mesmo tempo aconchegante e desconfortável que lydia sentia perto de todos que uma vez moraram em thornhill. talvez tenha sido isso, ou apenas um senso de intuição, que a fez se aproximar da garota, um pedaço de bolo de limão em mãos. “oi.” ela disse, se sentando ao lado da garota e agarrando uma xícara limpa para se servir. “como você está? tão fudida da cabeça quanto todos nós?”
4 notes
·
View notes
Text
COM: @meowsinger ONDE: fonte QUANDO: por volta das 14:00
apesar das temperaturas outonais, o sol da tarde era forte o suficiente para que lydia tivesse se livrado do pesado casaco de lã, o deixando na mesa preparada pela senhora banks, antes de começar a perambular pelos jardins. apesar de não ter um destino em mente, seus pés acabaram lhe levando para a fonte. nas suas memórias de infância, a fonte era um monumento imponente de mármore branco, em que a deusa diana olhava diretamente para qualquer um que se aproximasse. agora, ela estava coberta de lodo, com o rosto de diana começando a desaparecer, seja pela erosão ou sujeira. será que as marcas do tempo sempre estiveram ali, mas seus olhos infantis não eram aguçados, ou pessimistas, o suficiente para percebê-los? ela estava prestes a se levantar da beirada da fonte quando percebeu alguém se aproximando. catalina. "meu avô morreu aqui." lydia, honestamente, não tinha certeza do porque as palavras saíram de sua boca. uma explicação de porque ela estava lá, ou talvez uma maneira de afugentar catalina, ou então de fazê-la se aproximar mais, fazer perguntas.
3 notes
·
View notes