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Siga o Sinal
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Depois do fim da Terra, restaram apenas as palavras. Em um futuro onde a humanidade se refugia em colônias espaciais após o colapso do planeta, dois irmãos separados por anos-luz mantêm viva a última forma de contato possível: mensagens e sonhos.
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sigaosinal · 2 months ago
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Gravação nº 11 – Dan T. A. / Código de Transmissão: Registro Paralelo
Alex,
Hoje, algo diferente aconteceu.
Recebemos uma transmissão. Mas... não era sua.
Quando o som chegou, não veio pelo protocolo usual. Não havia carimbo de tempo, nem fonte definida. Era como se tivesse atravessado o espaço por acidente, caindo na nossa frequência.
No início, pensei que fosse uma das suas mensagens corrompida. Mas a voz era diferente.
Era de uma mulher — mas não você.
A voz era mais rouca, e tinha um peso... como se cada palavra tivesse sido arrancada de dentro dela.
Ela dizia:
“Se alguém ouvir isso, saiba que não fomos os primeiros a desaparecer.”
A mesma frase, três vezes.
Depois disso, começou uma espécie de música.
Mas não uma música como as da Terra. Era algo estranho — harmônicos flutuando, como se o som estivesse sendo dobrado no meio do caminho. Como se o próprio universo estivesse tentando cantar alguma coisa... e chorando no processo.
Alguns ouviram vozes dentro da música. Outros disseram ter escutado sons de vento, de folhas.
Eu?
Achei ter ouvido meu nome.
Talvez tenha sido só minha mente brincando comigo.
Mas depois de tudo... depois de todas as falhas de tempo, das vozes que se repetem, dos sonhos com lugares que nunca existiram, eu não sei mais o que é certeza.
Um dos engenheiros queria apagar a transmissão. Disse que ela podia contaminar nosso sistema com “dados fantasmas”.
Eu não deixei.
Salvei a gravação num núcleo isolado, fora da rede. Renomeei como “Eco 1”.
Porque, Alex...
Não vamos deletar vozes perdidas.
Se há alguém aí fora tentando lembrar, tentando ser ouvido — então somos mais de dois nessa travessia.
E isso me assusta.
Mas também... me faz querer continuar.
Com amor, Dan
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sigaosinal · 2 months ago
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Gravação nº 10 – Dan T. A. / Código de Transmissão: Irmã
Alex,
Recebi sua última gravação hoje.
Não a mais recente, mas uma que veio... de antes.
Aqui, as coisas mudaram.
A tripulação está... silenciosa. Mas não como antes, quando o silêncio era rotina. Agora é um silêncio pesado. Como se ninguém quisesse ser o primeiro a dizer que algo está errado.
Um dos operadores, Haim, se trancou no compartimento de observação por mais de seis horas ontem. Quando conseguimos abrir, ele estava repetindo uma sequência de números. Longa, obsessiva. Disse que era “a resposta”.
Mas ninguém sabe a pergunta.
Nessa manhã, recebi um relatório da engenheira de sistemas: pequenos erros de digitação nos logs, falhas que nenhum de nós cometeria normalmente. Não é cansaço — é como se as coisas estivessem... se desfazendo nas margens.
Padrões estão se distorcendo.
Sons que não registramos nos gravadores. Relógios que não sincronizam. A mesma frase aparecendo em arquivos diferentes, gravada em vozes que não reconhecemos.
Eu tento manter todos focados, mas confesso: estou assustado.
Sinto que estamos nos aproximando de algo que não entendemos. O sinal está mais forte. Pulsante. E há momentos em que penso que ele está nos escutando também.
Às vezes, sonho com você. Mas em lugares onde nunca estivemos. Como se nossa memória estivesse sendo reescrita à distância.
Você ainda lembra de mim, Alex?
Eu me esforço para lembrar do som da sua voz. Da gente brincando de astronauta. Da sua risada.
Às vezes penso que essas gravações são a única coisa que me mantém inteiro.
Se algo acontecer, continue escrevendo.
Mesmo que eu não possa responder.
Mesmo que minha voz se perca antes da sua chegar.
Com amor — e um pouco de medo,
Dan
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sigaosinal · 2 months ago
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Gravação nº 9 – Alex R. T. / Registro de bordo: Interferência Suave
dan,
Aqui vai algo mais leve, porque você disse que minhas cartas sempre soam como testamentos cósmicos.
Hoje conheci alguém interessante.
O nome dele é Liam. Trabalha no setor de lógica e códigos — um desses que falam com as máquinas como se fossem antigas amantes.
Ele tem uma mania curiosa: toda vez que resolve um problema complexo, assovia. Um som curto, quase imperceptível, mas que ecoa pelos corredores como uma vírgula no silêncio do espaço.
Eu reclamei disso outro dia. Disse que ele parecia uma chaleira antiga prestes a ferver.
Talvez por eu nunca ter aprendido a assoviar, aquele assovio no espaço tenha me incomodado. Me lembrado que existem coisas que eu nunca consegui fazer.
Ele riu. Me ofereceu chá.
E, por algum motivo, eu aceitei.
Falamos sobre padrões quebrados em linhas de código. E sobre como, às vezes, as falhas dizem mais do que a estrutura.
Ele me perguntou o que eu escrevia. Disse que minhas mãos pareciam sempre inquietas.
Respondi que escrevo para não esquecer.
Ele disse que isso era bonito. E que talvez, se ninguém mais lembrasse, os dados ainda lembrariam.
Ontem à noite, deixei um bilhete na porta do laboratório dele. Não com palavras, mas com um desenho: duas figuras de palito flutuando no espaço, ligadas por um fio.
Ele me respondeu hoje, com um algoritmo que desenha constelações imaginárias em qualquer parede iluminada.
O nome da primeira que ele criou? "Alex-01".
Você teria achado brega. E teria me provocado até eu ficar vermelha.
Mas confesso, Dan...
Foi bom rir.
Mesmo aqui. Mesmo agora.
Eu já não me lembrava como era meu rosto ao sorrir.
Com carinho, Sua irmã, Alex
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sigaosinal · 2 months ago
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Gravação nº 8 – Alex R. T. / Registro de bordo: Fraturas
Dan,
Acho que eu também estou ouvindo as coisas fora de ordem.
Ontem reli uma das minhas gravações — uma que ainda não enviei — e percebi que escrevi sobre algo que você me contou... depois.
Ou talvez antes.
Ou talvez eu esteja ficando louca.
Aqui, algumas pessoas começaram a esquecer nomes. Primeiro, nomes de objetos. Depois, nomes de lugares. Agora, nomes de gente.
Vi uma garota hoje olhando para o próprio reflexo e perguntando quem era.
Escrevi esse momento num bilhete e escondi atrás do espelho do dormitório dela. Uma lembrança para quando ela esquecer de novo.
E se estivermos atravessando alguma fronteira invisível? Uma camada do universo onde o tempo escorre em direções diferentes para cada um?
O técnico da comunicação — Matteo — me disse que, de tempos em tempos, as gravações chegam com interferências que parecem... vozes.
Uma dessas vozes murmurou a palavra "Varda".
Eu não conhecia.
Agora sei que é pra onde você vai.
Tem noites em que sonho com o som de pássaros, mesmo sem lembrar como eles cantavam. Em uma delas, sonhei que você e eu estávamos na nossa antiga sala, crianças, desenhando estrelas com giz de cera no chão.
Mas ao redor da sala havia janelas — e do outro lado delas, só o vácuo.
Continue me contando o que vê. Mesmo que chegue fora de ordem.
Mesmo que demore.
Ainda somos dois.
Com carinho, Sua irmã, Alex
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sigaosinal · 3 months ago
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Gravação nº 7 – Dan T. A. / Código de Transmissão: Irmã
Alex,
Eu ouvi sua quarta gravação antes da terceira.
Acreditei que era um erro do sistema. Que as mensagens estavam embaralhadas pelos campos de distorção gravitacional. Mas agora não tenho mais certeza.
Na última semana, chegaram três transmissões suas — não em sequência, mas como se tivessem sido lançadas ao acaso em um oceano de estrelas e o tempo decidisse qual delas deveria boiar primeiro.
Sua saudade chegou antes da sua pergunta. Sua esperança chegou depois da sua dor.
E então eu soube: talvez o tempo esteja se partindo entre nós.
Aqui, temos vivido dias estranhos. O tempo parece repetir pedaços. Há momentos em que todos juramos já ter dito a mesma frase, dado o mesmo passo. E então o som muda — um eco que não devia estar ali.
O sinal que seguimos emite intervalos cada vez mais irregulares. Às vezes, é puro ruído. Às vezes, parece... familiar.
Eu juro que ouvi sua risada no meio dele. Aquela risada curta, nasal, quando você tentava segurar o riso e falhava miseravelmente.
Isso me deu forças.
Estamos perto de uma zona que os mapas antigos chamavam de “Limiar”. Ninguém sabe o que há além. Os dados são fragmentados. Mas o sinal nos chama para lá.
Os outros estão divididos: metade quer seguir, metade quer voltar.
Eu?
Eu só queria encontrar algo. Um lugar onde pudéssemos ter uma foto na geladeira.
Continue escrevendo.
Mesmo que nossas respostas cheguem fora de ordem, ainda assim... elas se encontram.
Com amor, Dan
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sigaosinal · 3 months ago
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Gravação nº 5 – Alex R. T. / Registro de bordo: Interlúdio
Dan,
Faz 17 ciclos desde sua última mensagem.
A cada retorno das luzes de rotina no teto da minha cabine, espero pelo som que anuncia uma transmissão. Ele nunca vem.
Tenho medo de que algo tenha acontecido.
Ou pior — que nada tenha acontecido.
As pessoas aqui seguem suas funções com exatidão quase mecânica. Os engenheiros constroem, os técnicos corrigem, os comandantes supervisionam. Todos têm algo a cumprir. Menos eu.
Disseram que minha função é escrever. Mas escrever o quê, se as pessoas começaram a perder suas memórias do passado?
Me pergunto se você ainda está seguindo o sinal. Se alguém mais do seu lado ainda acredita que há algo para encontrar.
Eu encontrei uma carta antiga. Um diário de uma mulher que viveu antes da evacuação. Ela escrevia poemas curtos em bilhetes que deixava pela cidade — nos bancos, nos ônibus, dentro dos livros das bibliotecas fechadas. Ela assinava com um símbolo de asa.
Um dos poemas dizia:
“Não morre quem se transforma em lembrança. Não some quem planta palavra.”
Quero plantar palavras, Dan. Mesmo que elas nasçam em solo estéril, mesmo que só você possa colhê-las.
Se estiver aí, me responda.
Sua irmã, Alex
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sigaosinal · 3 months ago
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Gravação nº 5 – Alex R. T. / Registro de bordo: Silêncio entre Estrelas
Dan,
Recebi sua mensagem hoje.
Ouvi sua voz e chorei pela primeira vez desde que cheguei aqui.
Chorei não pelo fim da Terra — já havia me despedido dela há muito tempo —, mas por ainda existir uma voz capaz de me lembrar que há alguém que carrega as mesmas memórias que eu.
O papel que você encontrou...
“O universo é feito de fragmentos de saudade.”
Poderia ter sido meu. Poderia ter sido seu. Ou talvez tenha sido escrito por alguém como nós — alguém que também escreve para não desaparecer.
Os corredores aqui ainda ecoam como se estivessem aprendendo a ser lar. Ninguém fala muito, todos têm um ar de suspensão, como se a vida fosse uma respiração que não ousamos completar.
O café tem gosto de desespero racionado.
Sim, eu ainda coleciono nomes de constelações. Tem um novo que descobri ontem: Cygna-Sol, uma junção de duas antigas, recriada por um dos técnicos como uma brincadeira. Ele disse que parecia o nome de uma deusa caída. Escrevi um poema sobre ela. Posso te enviar depois.
Eu imprimi seu verso. Está colado agora na parede da minha cabine:
“Tudo flutua, menos a ausência.”
Talvez não seja um poema ruim. Talvez seja uma âncora.
Hoje, um garoto do nosso setor me perguntou se eu acreditava que a Terra ainda existe. Respondi que sim — não como planeta, mas como memória. A Terra, para mim, sempre foi você. E mamãe. E a foto na geladeira.
Eu tenho escrito as histórias das pessoas daqui. Mas guardo as mais importantes para você. As vezes algumas pessoas entram na cabine de escrita apenas para contar suas memórias.
Sabia que os pássaros foram os primeiros a desaparecer? Nunca te contei isso. Quando as temperaturas começaram a subir, os pássaros não migraram. Eles apenas… sumiram. Como se tivessem compreendido algo antes de nós.
Às vezes penso que fomos tolos em permanecer.
Continue me escrevendo. Siga o sinal, mesmo que seja fraco. Eu estarei aqui, tentando tornar habitável o silêncio.
Com amor, Sua irmã. Alex
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sigaosinal · 3 months ago
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Gravação nº4 – Alex R. T. / Registro de bordo: Silêncio entre Estrelas
Alex, Ainda estamos seguindo o sinal. Há dois dias, um dos nossos sensores captou uma interferência diferente. Por um instante, parecia uma música — algo entre estática e sinfonia. Quase humana. Talvez tenha sido só minha mente querendo ouvir você de novo. A tripulação está exausta. Eles não dizem, mas vejo nos olhos: ninguém quer voltar de mãos vazias. Hoje, ao atravessarmos a borda de um campo de asteroides congelados, encontramos uma cápsula antiga. O modelo não está nos arquivos da Federação. Ela flutua, girando devagar, como se estivesse esperando ser lida. Dentro, uma única coisa: um papel. Escrito à mão. “O universo é feito de fragmentos de saudade.” Ninguém da equipe entendeu, mas eu soube na hora que era para mim. Que era de alguém como você. Às vezes, penso que estamos construindo uma nova mitologia. Não com deuses, mas com ecos. Ecos de quem fomos, de quem amamos. Se ainda escreve, Alex, me conte como são os dias aí. Como é o som dos corredores. Se o café é bom. Se você ainda coleciona nomes estranhos de constelações. Eu tento escrever também. Ontem escrevi um poema ruim. Começava assim: “Tudo flutua, menos a ausência.” Lembrei de você dizendo que não existe verso ruim, só verso sem destino. Então, envio esse pra você. Se conseguir dar sentido a ele, saberemos que ainda somos dois. Sigo o sinal. Com amor, Dan
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sigaosinal · 3 months ago
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Gravação nº 2 – Alex T. A. / Registro de bordo: Sonho
Essa noite, antes de acordar com os alarmes da nave ecoando como sinos em ruínas, eu tive um sonho. E como toda boa história, ele veio vestido de metáforas
Era um mundo tomado por água por conta de um dilúvio. Só que chovia água, choveu um tipo de minério em estado líquido. Que causou uma reação no mar, dele subir de nível absurdamente.
Quem sobreviveu começou a organizar enquanto sociedade e torres nos pontos mais altos do mundo. Como esse líquido é denso, as coisas boiam, então é um mar de ruínas.
Com o tempo cada cultura numa torre foi ficando afastada ao ponto de perderem conexão por muito tempo. Até que descobriu-se uma forma de usar a energia de líquido para criar pontes etéreas para conectar as torres de novo.
Nisso cada torre possui um grupo que tem como objetivo viajar entre as torres contando a própria história. Esse grupo era chamado de Contadores e a jornada era chamada de travessia.
A parada que a energia usada para criar as pontes atrai criaturas que vem desse mar, tornando a travessia perigosa.
Eu passei tanto tempo escrevendo nos últimos dias que por um tempo eu esqueci como falava. Houve uma reunião para repassar o andamento dos registros e eu simplesmente não conseguia falar no meio de todas aquelas pessoas vestidas com seus uniformes, insígnias, e cabelos milimetricamente cortados. 
Onde eles arrumam tempo para cortar o cabelo? Eu não sei nem mesmo se eu tenho uma tesoura. 
Sinto falta da sensação de estar em casa. De esticar minhas pernas no sofá e olhar a vista pela janela depois de um dia cansativo, era nesse momento que eu tinha as minhas melhores ideias. Hoje parece tudo tão mecânico. 
Um dos garotos que trabalha comigo - sim, ele ainda é um garoto, desses que provavelmente em outra vida seria um Jack Kerouac da sua época. Me mostrou algumas coisas que ele andou escrevendo. Não eram sobre os registros, eram poesias e eram realmente boas. 
Desde que pisei no espaço - termo estranho não? - eu nunca mais escrevi poeticamente. Senti falta da Emily Dickinson que eu achei que seria um dia, escrevendo cartas de amor à morte. 
A juventude, mesmo em um espaço perdido e gigantesco, ainda tem sua beleza em ver a vida. Uma esperança de que as palavras adiantam, podem juntar sua família e salvar o mundo. 
Hoje minhas palavras só me lembram que nós não temos um mundo para voltar. 
Por favor, siga a mensagem, encontre algo ao que eu possa ancorar minhas palavras, eu preciso de sonhos, irmão. 
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sigaosinal · 3 months ago
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Gravação nº 2 – Capitão Dan T. A. / Código de transmissão: Irmã
Eu não sei quanto tempo demorou para sua mensagem chegar até mim, mas pelos registros que chegaram, a Terra foi evacuada há mais de 480 dias terrenos. Então você já deve saber que o tempo passa diferente no espaço.
Consigo olhar a escuridão enquanto escuto sua mensagem pela vigésima vez. Gostaria de poder ver aquela nossa foto novamente. Sinto falta de como você podia fazer um haikai em poucos minutos, eu amava como isso podia se tornar uma competição de quão rápido você poderia transformar simples palavras em poesia. 
Eu nunca soube usar as palavras como você. Não soube quando parti e provavelmente não sei agora. 
Eu e minha tropa ainda seguimos um sinal fraco emitido em algum lugar no espaço muito distante daqui. Parece uma região aparentemente vazia no espaço. Isso deixou todo mundo curioso, esse era o principal motivo pelo qual fomos enviados. Encontrar um sinal. 
A porra de um sinal. 
Encontramos ele e sua mensagem. 
Caminhos opostos, mas vários dos tripulantes que comigo estão se perguntaram se suas famílias estão vivas, onde quer que a colônia tenha se instalado. Nos perguntamos por qual razão demoraram tanto para nos avisar. Existe algo além de nós nessa vasta e completa escuridão? 
 O sinal é fortemente distorcido e em grande parte indecifrável. Mas é nossa missão e estamos há tanto tempo nesse caminho que abandonar e voltar sem nada seria perder não apenas nosso lar, mas a esperança que talvez você e alguns tenham em nós. 
Vamos seguir o sinal. 
Me mande suas histórias, para que eu possa te seguir até a próxima estrela.
Seu pequeno irmão. 
Dan.
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sigaosinal · 3 months ago
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Gravação nº 1 – Alex R. T. / Registro de saída da terra: Irmão
Eu estou te gravando essa mensagem, pois isso pode ser a última coisa que eu vou dizer. O lugar que conhecíamos um dia como lar, está prestes a ser destruído, o governo deu desculpas que você provavelmente entenderia. Temperaturas muito altas, mortes e tantas outras coisas. 
Estão nos enviando para o espaço. Estações orbitando o nada, perdidas num mar de estrelas. Pra você deve ser comum. Como é olhar para fora e ver apenas a escuridão absoluta te devolvendo o olhar?
Quando você decidiu que seu trabalho seria no espaço eu fui contra. Mamãe disse que uma poeta não poderia entender a importância dos cientistas e seus estudos nas estrelas quando tudo acabasse. Irônico que ela não esteja aqui agora para ver o fim de tudo. As primeiras pessoas que estão sendo enviadas para as colônias antes de tudo explodir somos nós, aqueles com o poder das palavras. Eles precisam de alguém para contar suas histórias. 
Fiquei sabendo que depois que todos já estiverem a milhares e milhares de quilômetros eles vão dar um jeito de acabar com tudo que ainda resta. Como se estivessem escondendo os detalhes sórdidos em baixo das cinzas que bombas podem deixar para trás. 
Eles querem apenas a história que eles resolveram contar. 
Não acredito que exista alguém para ler nossas histórias quando terminarmos. Ouvi dizer que vou ter uma máquina de escrever. Uma máquina de escrever no espaço, não sei o quanto isso pode ser útil, mas como as palavras sempre fizeram parte de mim, continuarei escrevendo. 
Não sei como te mandar cartas, mas como meu pedido antes de embarcar para as colônias eles me disseram que poderiam tentar te enviar essa gravação. 
Eu sinto a sua falta. 
Sinto falta de discutir com você sobre como a mudança no governo impacta a partida da sua frota  para antes do imaginado e isso desencadeia debates contínuos sobre o futuro da humanidade e seu lugar nos cosmos durante o jantar. 
Eu gostava de ouvir, você sempre tão inteligente dissertando sobre os custos da expedição e os riscos associados em partir sem que sua equipe esteja totalmente treinada. Quando eu te perguntei se você poderia não voltar, rindo de forma irônica para te provocar. Você respondeu que sim. 
Parei de respirar naquele momento. 
Me pergunto se tenho respirado desde então. 
Sempre foi você e eu. Desde que nascemos. E aquela foto onde somos crianças vestidas de astronautas no halloween que mamãe deixava na porta da geladeira é a única coisa que levo comigo. 
Você não tem mais uma casa para voltar, mas se essa mensagem te encontrar, não esqueça que um lar é feito de histórias, e eu posso escrevê-las para você onde estivermos. 
Sua irmã. 
Alex
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