tokitome
tokitome
tokitome
1 post
Don't wanna be here? Send us removal request.
tokitome · 2 years ago
Text
Perder para ganhar alma - uma Arte - Yê Mac
Perdi minha conta aqui e recomeço-a com o mesmo nome. Sinto muito pelos textos sumidos mas Elizabeth Bishop ensina com maestria, ironia e desapego doloroso que "a arte de perder não é nenhum mistério". E depois de cinco décadas entre tropeços, perdas, mãos vazias constato isso na alma; assim como, constato que muita coisa que achava compreender eu apenas sabia na razão. Mas, como no poema de Bishop "One Art" é preciso perder desde as coisas mais triviais até as essenciais para sentirmos na alma, essencialmente como ela diz "pois é evidente que a arte de perder não chega a ser mistério por muito que pareça (Escreve!) muito sério." Essa poesia virou um trabalho e um capítulo de um livro chamado "Perder para ganhar alma - uma Arte" e muito além do que jogos de palavras foi uma confissão após uma sequência de mortes e perdas que vivi num espaço de uns três anos. Nas primeiras perdas, ficamos emocionados, vitimizados, revoltados como se não merecessemos aquilo. Após uma, duas, dez finalmente você desinfla do estado "alecrim dourado" e fica mais bishopiano. E isso é infinitamente mais libertador do que esse vício incessante por positividade, longevidade e juventude a todo custo.
Byung Chul-Han alerta para uma sociedade positivada ao extremo levando ao apagamento, ou se preferir, burnout. Lutamos tanto para estarmos acesos, brilhantes, potentes, testorenizados que o extremo leva ao que psicologia de Jung chama enatiodromia: uma inversão radical de um pólo ao outro sem transformação alguma. Ainda em Han ele diz que estamos mortos demais para viver e vivos demais para morrer. Resta o apagamento, os zumbis funcionais, os heróis contra perdas e fracassos não percebendo que desafiar a morte e nega-la, assim como, negar nossa vulnerabilidade humana, é o maior fracasso de todos.
Perdi minha outra conta, textos, ideias. Na verdade, não perdi nada porque nada é só meu. Escrever é ofício de desapego. Quem escreve para si ainda não sacou que somos meros canais para ideias. Ou na frase do poeta w.H.Auden "Somos vividos por forças que fingimos compreender."
1 note · View note