trinitybloodbr
trinitybloodbr
Trinity Blood - Arquivo BR
106 posts
Projeto dedicado a tradução da Novel de Trinity Blood 🇧🇷 Soberania é inegociável!
Last active 3 hours ago
Don't wanna be here? Send us removal request.
trinitybloodbr · 7 days ago
Text
Tumblr media
Trinity Blood - Rage Against the Moons Volume II - Silent Noise ----------------- ⚠️ ESSA OBRA EM HIPÓTESE ALGUMA É DE MINHA AUTORIA. TRADUÇÃO REALIZADA DE FÃ PARA FÃS. NÃO REPUBLIQUE OU POSTE EM OUTRAS PLATAFORMAS SEM AUTORIZAÇÃO. SE CASO POSSÍVEL, DÊ SUPORTE AOS AUTORES E ARTISTAS COMPRANDO AS OBRAS ORIGINAIS. ⚠️ -----------------
Não sabe por onde começar? Confira o Roteiro de Leitura (。•̀ᴗ-)✧!!!
Capítulo 1: A Terra do Nunca (NEVER LAND)
— É por isso que eu disse que não gosto de casos envolvendo pirralhos... Porque são um saco por vários motivos.
Sentado de pernas cruzadas sobre a areia, o padre de cabelos negros acendeu um charuto. Soltando junto o tom desinteressado e a fumaça pelas narinas, virou-se com um ar aborrecido.
— Então, e aí, esse pirralho? Morreu?
— Está tudo bem... só desmaiou.
Enquanto verificava o pulso do inconsciente Peter, Abel soltou um suspiro. Ao redor dele, as várias fadas, estavam caídas desmaiadas.
Mas então, o que deveria ser feito com eles? Esperar pelo amanhecer desta forma? Ou entregá-las ao Vaticano, ou às autoridades de Albion? O homem que impôs tal destino às crianças já não estava mais ali. Afinal, quem é que deveria assumir a responsabilidade?
Leon lançou um olhar de soslaio para o perfil do colega que parecia cansado, mas apenas se levantou, batendo a poeira do traseiro, e apenas o instigou em um tom mal-humorado:
— Vamos, já está na hora de irmos... Mas antes disso, tem uma coisa que precisamos resolver.
— Uma coisa? Ainda tem algo pra fazer?
— Tem sim... Ei, sai daí. É perigoso.
— O quê!?
Diante do cano gigantesco voltado para ele, o rosto de Abel se contraiu. Mantendo a mira da pistola antitanque (Sturm Pistole) fixa aos pés de Abel — no rosto ensanguentado de Wendy —, Leon lançou um novo aviso.
— Saia da frente... vou eliminar essa aí.
— O-O que você está dizendo?! Essa garota é...
— Essa garota é uma criminosa—já matou várias pessoas e afundou inúmeros navios.
O semblante alegre havia desaparecido por completo do rosto do gigante. Mantendo os olhos fixos no rosto de Abel, que tentava desviar o olhar com ar angustiado, ele pronunciou cada palavra como se as estivesse cravando-as profundamente.
— Esqueceu? A ordem que recebemos foi exterminar os vampiros desta ilha, ou então capturá-los e levá-los de volta.
— Si–sim! Por isso, devemos capturá-los...
— Levá-los a Roma? Em nove de cada dez casos, isso acabará sendo ainda mais cruel. Afinal, eles são amostras preciosas de conversão artificial. Incapazes até mesmo de morrer, acabarão servindo de material para experimentos humanos por centenas de anos.
— .......!
Os lábios fortemente cerrados de Abel empalideceram — de fato, era algo possível. E isso, com certeza, destinaria a essa garota um destino mais atroz do que a própria morte.
— En-então, deixe-a fugir para algum lugar distante...
— Uma criminosa que já matou dezenas de pessoas? Eu também sinto compaixão pela desgraça dessa garota. Mas, e os outros? Vai convenientemente esquecer todos aqueles que foram arruinados por ela?
— Ma-mas, ela ainda é uma criança!
— Mesmo sendo criança há coisas que não podem ser perdoadas — O que ela fez foi exatamente isso. Se a deixarmos escapar agora, vai repetir a mesma coisa em outro lugar. Quando isso acontecer, você vai assumir a responsabilidade?
— Uh....
Abel ficou sem palavras.
De fato, o que Leon dizia estava certo. E aquilo era, à sua maneira, uma forma de misericórdia para com essa jovem de pouca sorte. Mas, ainda assim...
— Se acha cruel, então reze por ela. Reze em nome dela. Até para nós, agentes executores enviados, a oração é permitida. Mas ── a piedade não é.
Seu dedo engatilhou no gatilho. Afastando com força Abel, que ainda tentava proteger a garota, a bala foi direcionada à cabeça do alvo──
— Não... faça isso...
Ao ouvir aquela voz frágil, o gigante interrompeu seus movimentos.
— Não faça isso, não mate a Wendy...
O garoto, caído sobre a menina, levantou o rosto com fraqueza. Mesmo nesse ponto crítico... ele ainda tentava protegê-la?
— Saia da frente, pirralho. Quer ser morto a tiros junto?
— Pare, não mate a Wendy... Ela é gentil. Ela nunca zombou de uma 'falha'... Uma 'falha' como eu...
— Pirralho... Essa garota atacou inúmeros navios e matou pessoas. Não podemos simplesmente perdoá-la.
— Foi um experimento... disseram que era um teste de poder de combate, mas foi tudo por ordem do 'Professor'... Desde que expulsamos o 'Professor', a Wendy não matou mais ninguém!
Será que era mesmo verdade? Considerando suas ações de tentar eliminar Abel e os outros sem qualquer explicação, aquilo parecia duvidoso. Ainda assim, a defesa de Peter era desesperada.
— Mesmo assim, vai matar a Wendy? Só porque ela matou pessoas por ter recebido ordens? Padre, a Wendy nunca quis de verdade matar ninguém...
— ...Não diga coisas desnecessárias, Peter.
Uma voz tão frágil quanto o zumbido de um mosquito interrompeu a defesa.
— Não diga coisas desnecessárias... Ele tem razão. Eu não deveria estar viva.
— Wendy!
A fada que perdera suas asas abriu os olhos, levemente. Ainda não parecia ter se recuperado o suficiente para se levantar, mas ao que parecia, mesmo assim sua consciência já havia retornado. Com uma voz fraca, mas clara, ela continuou a falar.
— Padre, você também não é grande coisa, não é? Depois de falar tanto, não conseguiu terminar de uma vez só... Vamos, dê logo o golpe final.
— O-O que você está dizendo, Wendy?!
Peter, surpreso, se agarrou à garota.
— Por que a Wendy tem que ser morta?! Foram eles, os ‘doutores’, que a transformaram nesse estado, que mandaram atacar o navio — foi tudo obra deles! Então por que...?
— Peter... já não adianta mais...
Os olhos de Wendy, que fitavam o garoto, eram gentis como os de uma mãe. E então, com uma voz na qual transparecia a resignação e o cansaço como de um ancião, ela disse:
— Já não dá mais. Never Land — o tempo em que podíamos ser crianças acabou. Os adultos jamais nos deixariam escapar. Se nos pegarem, vão nos fazer passar por coisas piores que a morte... Entenda: aquele padre só está me concedendo misericórdia.
— Is-isso não é verdade!
Como se estivesse se agarrando desesperadamente, Peter ergueu os olhos para os “adultos” como se fossem um deus ou algo semelhante.
— V-vocês, tios não fariam algo assim, fariam? Não fariam nada de terrível com a Wendy e as outros... certo?
— ......
A expressão de Leon permanecia imóvel como a de uma estátua. Até mesmo Abel, sem conseguir encontrar palavras, permanecia em silêncio.
— Eu sei, padre... nós não temos escolha. Mas, ao menos o Peter... salve este menino...
— Não, Wendy... pare, tio! Não mate a Wendy!
De onde vinha tamanha força em um corpo tão ferido? ── agarrado ao enorme braço de Leon, Peter gritou com uma voz ensanguentada:
— Tio, você é um adulto, não é?! Um adulto, forte, não é?! Então salve a Wendy! Não a mate!
— Eu não sou nenhum ‘tio’... Saia da frente, pirralho!
Com uma voz que soava como um estrondo subterrâneo, o braço robusto se moveu. Empurrando com violência para longe Peter que nele se agarrava, ele apertou o gatilho sem qualquer piedade.
— Eu já disse antes... eu sou o irmãozão! Não vou admitir ser chamado de ‘velho’ antes mesmo dos trinta, maldição!
Um estrondo ensurdecedor—
Alguns fios do cabelo cor de palha de trigo sarraceno da garota voaram ao vento. Ela fechou os olhos instintivamente: uma bala gigantesca havia acabado de roçá-la. O projétil, prosseguiu em frente e despedaçou a superfície do mar, erguendo uma imensa cortina de água.
— Che! O que é isso? O que é isso? Eu sou sempre o vilão, é?! Ahhh, isso me deixa completamente puto!
E em vez de uma explosão, o que ressoou foi um brado de fúria, como o rugido de um vulcão em erupção. O gigante, feito uma criança, batia os pés no chão e gritava descontroladamente.
— ...Ah, eh, Leon-san?
— Ahhh, droga! Foi por isso que eu disse que odeio assuntos que envolvam pirralhos... Caramba, entendi! Essa cambada de pirralhos de merda, precisamos dar um jeito neles, não é? Algum jeito! Maldição!
Ignorando Abel e os demais que trocavam olhares de espanto, Leon continuava a praguejar contra o céu e o inferno. Depois de insultar demônios e anjos cerca de trezentas vezes cada, parecia enfim ter se acalmado. Então, com um rosto de extremo mau humor, ele se voltou para trás.
— Mas enfim, o que vamos fazer de fato? Se voltarmos, não tem como evitar fazer o relatório. E se fizermos o relatório, polícia e exército vão aparecer em peso... Você tem algum lugar para esconder essas pirralhos, Abel?
— Huuum...
Abel parecia está refletindo sobre algo, mas logo estalou os dedos — ou para ser preciso, olhou para os dedos que falharam ao tentar estalar, e então estalou a língua.
— Apenas um. Não é que não exista algum contato. É um lugar onde nem a Cúria do Vaticano nem Albion podem interferir. Só que fica um pouco longe, então gostaria de contar com sua ajuda, Leon-san.
— Minha ajuda?
— ‘De aviões até caixões, desde que se pague’──
O padre lançou um sorriso malicioso para o colega, que o olhava com desconfiança.
— Não era assim? Pois bem, gostaria que usasse essa conexão para conseguir algo para mim...
Tumblr media
— Tive a oportunidade de ler o relatório.
A mais bela cardeal do mundo ─ Caterina Sforza, Secretária de Estado do Vaticano ─ demonstrou apreço a seus subordinados diante da mesa de trabalho.
— Parece que a missão foi concluída sem contratempos. Parabéns pelo trabalho árduo, vocês dois.
— É uma honra receber seus elogios!
Raramente penteado, Leon respondeu em posição de sentido. A barba estava bem aparada, e a gola bem ajustada lhe faziam parecer um sacerdote. Ao lado dele, Abel assentia vigorosamente, acrescentando detalhes ao relatório.
— Invadimos a base de James Barrie, nobre de Albion, que praticava atos de pirataria tendo a Ilha de Never Land como seu reduto. Embora o Senhor Barrie tenha conseguido escapar, todos os vampiros da ilha foram exterminados. A base foi completamente destruída.
— Então, os vampiros foram todos aniquilados?
— Sim, senhora!
Os dois responderam em uníssono.
— Muito bem. Como esperado de vocês... Ah, sim, lembrei-me de uma coisinha que gostaria de confirmar, se não for incômodo.
— Hã?
Os dois padres estavam tão tensos quanto se estivessem sentados em cadeiras elétricas nos subterrâneos do Castelo Sant'Angelo. Pela janela, a luz suave da primavera entrava, e na Praça de São Pedro, que se via lá embaixo, peregrinos vindos de longe e clérigos estavam em uma tranquila agitação. Ainda assim, a expressão deles era a de alpinistas prestes a sucumbir em meio a uma nevasca nas montanhas de inverno.
— Quando diz 'confirmar'...?
— O que seria?
— Não precisam ficar tão nervosos. É algo bem trivial... Irmã Kate, está aí?
〈Sim, Vossa Santidade〉
No centro da sala de trabalho, diante do holograma da freira que ali surgira, Caterina perguntou casualmente:
— Um recibo estranho apareceu no relatório de despesas, não foi? Parece que foi fretada um cargueiro inteiro para a região do Império ── o que foi aquilo mesmo?
— Ah, é-é... o que era aquilo, Abel-kun?
— Eu, bem... não sou muito bom com dinheiro, sabe. Quando vejo valores acima de três dígitos, acabo tendo febre mental...
Enquanto escutava em silêncio a conversa de seus subordinados, que cada vez mais se entregavam em suas próprias palavras, Caterina apenas inclinou a cabeça, serena.
— Está bem. De fato, conhecendo a natureza de Ax, pode ser que surjam pontos obscuros nas despesas.
— Exatamente! Como era de se esperar de Vossa Eminência, compreende perfeitamente.
— Isso mesmo, exatamente... sim, é preciso ter uma superiora tão sábia como a senhora, sim, sim.
Os dois que balançavam as cabeças para cima e para baixo de maneira nervosa e leviana, eram observados com um olhar gentil por trás do monóculo. A cardeal, com total naturalidade, pressionou o interruptor da cadeira elétrica.
— Contudo, já que não há nenhum relatório capaz de me convencer após o ocorrido, não posso reconhecer esta despesa como um gasto oficial... Tratarei isso como uma despesa pessoal de vocês dois. Irmã Kate, por favor, emita depois a fatura em nome deles.
— O quêêê!? — O quêêê!?
Os dois executores destacados ─ os homens mais fortes do Vaticano, orgulho da AX ─ soltaram gritos de puro terror.
— O-o-o que vamos fazer, Leon-san!? Eu... eu provavelmente sou o padre mais pobre do mundo! Nem de cabeça pra baixo conseguiria arranjar uma quantia dessas...
— Esquece isso! O problema é que sua mentira esfarrapada já foi desmascarada! Não tinha preparado nenhuma desculpa decente, não?!
— Dar uma desculpa pra Caterina-san!? Eu nunca faria algo tão sem amor à vida assim...
〈...H-hum, Eminência?〉
A imagem holográfica da Irmã Kate olhou com preocupação para o rosto imóvel de sua superiora.
〈Parece que não está se sentindo bem... gostaria que eu preparasse um chá? 〉
— Um bem quente, por favor... Mas ainda assim...
Com expressão de quem estava a suportar uma dor de cabeça, pressionou os dedos contra a testa. A 'Dama de Ferro' soltou um suspiro profundo — coisa rara de acontecer.
— São umas crianças... os dois.
Tumblr media
CURIOSIDADE:
Tanto Caterina quanto Kate "compartilham" o mesmo modo de serem nomeadas de "Dama de Ferro".
Enquanto Kate tem o codinome de agente executora "アイアンメイデン", que é a transliteração do inglês Iron Maiden, que em tradução para o português é Dama de Ferro, o de Caterina, é o que chamamos de "epíteto", ou para ser mais direto: a forma como ela ficou conhecida por sua fama de durona.
Ele é escrito como: "鉄の女" (tetsu no on'na) que em sua tradução literal seria Mulher de Ferro ou Dama de Ferro.
Então, por contextualização na novel, Kate segue sendo chamada de Iron Maiden e Caterina de Dama de Ferro.
<< Anterior - Índice R.A.M. II - Próximo>>
Roteiro de Leitura (。•̀ᴗ-)✧!
Créditos da tradução:
Lutie (◕‿◕✿)*pensando se a explicação da curiosidade ficou clara, pois faz algum tempo que não faço explicações de algo para alguém*
4 notes · View notes
trinitybloodbr · 9 days ago
Text
Tumblr media
Trinity Blood - Rage Against the Moons Volume II - Silent Noise ----------------- ⚠️ ESSA OBRA EM HIPÓTESE ALGUMA É DE MINHA AUTORIA. TRADUÇÃO REALIZADA DE FÃ PARA FÃS. NÃO REPUBLIQUE OU POSTE EM OUTRAS PLATAFORMAS SEM AUTORIZAÇÃO. SE CASO POSSÍVEL, DÊ SUPORTE AOS AUTORES E ARTISTAS COMPRANDO AS OBRAS ORIGINAIS. ⚠️ -----------------
Não sabe por onde começar? Confira o Roteiro de Leitura (。•̀ᴗ-)✧!!!
Capítulo 1: A Terra do Nunca (NEVER LAND)
— Ah... Onde estou?
Quando Abel despertou, o cheiro de hospital ─ a mistura de álcool e éter ─ impregnava o ar. O quarto era inteiramente branco. Tentou se erguer, sacudindo a cabeça ainda confusa, mas falhou miseravelmente. Suas mãos e pés estavam firmemente presos à cama.
— Que estranho... Por que estou em um lugar como este?
Suas lembranças se interrompiam na cena do refeitório, onde havia tomado chá. Mas aqui, sob a luz fraca da lâmpada noturna, o que se alinhava pela sala eram estantes de remédios, um foco cirúrgico, bisturis e pinças cobertos de ferrugem, e então...
— Ah, você aí! Onde eu... hiih!
Ao dirigir-se à silhueta que permanecia imóvel na penumbra, a voz do padre deixou escapar um grito estranho, como se suas cordas vocais tivessem se invertido.
Silhuetas humanas ── conservadas em formol dentro de um enorme frasco de vidro eram dezenas de crianças. E nenhuma delas tinha uma aparência normal. Além das grandes cicatrizes cirúrgicas no abdômen e nas costas, havia aquelas com pequenas asas começando a brotar das costas; outras, com chifres grotescamente retorcidos rasgando a parte de trás da cabeça; e outras em que um terceiro olho espreitava de um calombo projetado na testa...
— Q-que... o que é isso afinal!? Não, espera... onde é que estou...? Ah, droga!?
Ao ouvir o rangido das dobradiças, Abel abaixou a cabeça às pressas. Passos soaram dentro da sala, aproximando-se em silêncio em direção à mesa de operações. A luz da lâmpada de vigília noturna refletiu no bisturi afiado que aquela mão segurava — isso não era nada bom.
— Tio, está acordado?
A voz sussurrada era a de um garoto pequeno.
— Tio, não é hora de dormir, acorde logo!
— Eh...? A-ah, quem é você?
— Ah, então estava acordado...
Deixando de fingir que dormia como um guaxinim, Abel abriu levemente os olhos. Ao ver seu rosto, o garoto suspirou aliviado.
— Eu sou Peter. Não temos tempo. Tio, venha comigo.
— Hã?
A voz de Peter, enquanto cortava a alça, era firme. Ou será que tudo aquilo não passava de mais uma armadilha?
— Vamos, levante-se rápido! Se não, todos vão acabar nos encontrando!
— Ah, e-espere... quem é você afinal...?
— Explico depois. Primeiro, precisamos chegar até aquela máquina voadora... Ah, isso é seu, não é? Estava caído lá na frente.
Enfiando o revólver no peito do padre, Peter agarrou à força a mão de Abel. Impacientemente, mesmo enquanto ele ainda se levantava, puxou-o para fora do quarto, rumo ao corredor escuro.
— Por aqui! Há um caminho que leva até a costa.
— Um caminho... uau, que incrível. Isso é um túnel? Parece uma base militar — não, algo ainda maior.
Abel ergueu os olhos para o alto teto do subterrâneo e suspirou. Não sabia a que profundidade estavam, mas aquilo não era algo que pudesse ser construído com um dinheiro e trabalho comuns.
— Quem poderia ter feito algo assim...?
— Foi o Professor. A 'Escola' de cima e este lugar também — tudo foi criado por ele.
— Professor? Está falando do Professor Barrie?! Então, aquelas crianças na sala de cirurgia eram...
— ‘Experimentos falhos’... meus companheiros, que assim como eu não conseguiram passar pela ‘conversão’.
As costas de Peter, que caminhava à frente, cuspiram palavras amargas. Sua voz, transbordando um ressentimento profundo, hostilidade e medo misturados, tremia levemente.
— São crianças que sofreram coisas horríveis nas mãos do ‘Professor’ e dos outros adultos. Foram submetidas a transfusões de sangue, tiveram coisas estranhas implantadas no abdômen e nas costas... Se a Wendy não tivesse expulsado aqueles sujeitos da ilha, talvez eu também tivesse acabado dentro de um daqueles frascos.
— Expulsado...? Está falando do Professor Barrie?
— Sim. Acho que faz umas duas semanas... Foi durante o experimento do ‘Tinker Bell’.
— ‘Tinker Bell’? Um experimento?
A explicação do garoto não foi muito clara, mas ainda assim Abel conseguiu deduzir que algo grave havia acontecido na ilha.
Muito provavelmente, uma rebelião dos envolvidos nos testes ── razão pela qual não havia adultos ali.
“Falando em duas semanas atrás, foi logo depois que o esconderijo daquela organização foi destruído. Então, quem está controlando a ilha agora é..."
O ponto final do túnel subterrâneo era uma pesada porta de ferro. Felizmente, parecia não estar trancada. Além da porta, que se abriu com um rangido, o bosque noturno repousava em silêncio sob a luz da lua. Peter observou cuidadosamente ao redor, mas não parecia haver sinal de ninguém.
— Por aqui, tio! Depressa!
— E-estou indo... hum, então, Peter, diga-me: para onde foi o Professor expulso?
— Não sei. Acabamos com quase todos os assistentes, mas ele fugiu numa máquina voadora...
— Hum... espere um instante, por favor. Afinal, você não é amigo da Wendy-san? Então, por que está me ajudando a escapar?
— ...Eu quero ir para o ‘mundo exterior’.
O garoto, que caminhava apressado, de repente parou os pés. Virando-se, ergueu o olhar para o padre com olhos suplicantes.
— Eu quero ir para o mundo lá fora... por isso, decidi pedir para me levar, tio. Naquela máquina voadora, dá para sair, não é?
— Eh... sim... mas, por quê? Por que você quer ir para fora?
— Para me tornar adulto.
— ...Hã?
Diante da resposta inesperada, Abel se surpreendeu. Fitando o rosto do garoto, que o olhava com intensa preocupação, ele fez outra pergunta:
— Se tornar adulto... por quê?
— Claro, para me tornar mais forte.
Não era óbvio? — no rosto de Peter não havia o menor traço de hesitação.
— O 'Professor' só fazia coisas horríveis e nojentas com todo mundo. Principalmente com a Wendy, que chorava todos os dias por ser maltratada... Por isso, todo mundo odeia os adultos. Têm medo de que sejam maltratados de novo. Mas eu quero me tornar adulto... Porque eu gosto muito da Wendy, e mesmo quando virar adulto, jamais vou maltratar a Wendy. Mesmo sendo uma 'falha', se eu me tornar adulto, vou ficar forte e poderei proteger a Wendy para sempre... não é?
— Não, ah, bem, isso é que...
Quando Abel ficou sem palavras para responder diante do olhar sincero, que acreditava em tudo aquilo sem a menor dúvida──
— ...O que você está fazendo, Peter?
— We-Wendy!
A jovem com esvoaçantes cabelos cor de casca de trigo, fitava com olhos azuis, olhando-os de cima. Não, não era apenas ela. Atrás dela, mais de dez pequenas sombras se afundavam na escuridão.
” Isso é ruim...”
Suor frio escorreu pela têmpora de Abel.
Será que todos eles são fadas? Entre os vampiros, seu poder de combate não estava entre os mais altos, mas, de todo modo, o problema era que eram numerosos demais.
— Você... não imaginava que se importava tanto assim comigo...
Até então rígida como uma escultura de gelo, a expressão de Wendy de súbito se suavizou. Quando sorriu, como um botão de rosa de inverno que desabrocha, começou a caminhar na direção de Peter. Abel não teve sequer tempo de impedi-la. A menina envolveu com os braços o corpo vacilante do garoto que dera um passo à frente.
— Obrigada, Peter. Estou muito feliz. Eu gosto de você. Gosto muito de você... mas...
— N-não faça isso!
Abel estendeu a mão. Porém, quando tentou se colocar entre os dois, já era tarde demais—do abraço deles, ouviu-se um som surdo.
— Mas, Peter... você me decepcionou.
— Ah....
Um som embargado escapou da boca de Peter. Com uma expressão de incredulidade, seus joelhos cederam como os de uma boneca quebrada. E, quando desabou nos braços do padre que correra até ele, o corpo do garoto já começava a convulsionar repetidamente.
— Pe-Peter-kun!
— Adeus, Peter. Se você não tivesse tido essa ideia de querer crescer, poderíamos ter continuado juntos para sempre.
Wendy abaixou o rosto tristemente.
Aqui era Never Land (A Terra do Nunca), a ilha eterna. Enquanto se permanecesse nela, não haveria necessidade de se preocupar com nada. Nem com a fome, nem com a sede... e tampouco em se tornar um adulto feio.
— Por que motivo pensou que queria se tornar adulto? Se tivesse continuado para sempre como uma criança, eu...
— Criança? Não, ele já era sim, um verdadeiro adulto.
Foi nesse momento que uma voz, trêmula e quase vacilante, interrompeu o monólogo da jovem.
— Ele, ao contrário de você, não fugiu do seu destino... É um adulto digno. Não permitirei que o menospreze.
— ...Ah, falando nisso, ainda temos por aqui um padre que gosta de belas palavras, não é?
Wendy lançou um sorriso frio e zombeteiro às costas do padre que se levantou. Exibindo, talvez mais do que o necessário, uma expressão sinistra demais, ela disse:
— Já faz tempo que não bebo sangue humano. Ultimamente tem sido apenas sangue de bois e galinhas...
O som de algo macio se roçando ecoou. As asas delicadas que se estendiam das costas da garota se abriram no ar noturno. E então, as sombras das crianças atrás dela começaram, uma após a outra, a se transformar nas das espécies da noite.
De seus pequenos lábios, deixando escapar presas afiadas, a rainha das “fadas” sorriu.
— Perdoe-me, Padre... é uma pena, mas não podemos deixar que um adulto que descobriu o segredo desta Never Land volte para o mundo de fora!
O zumbido de asas, semelhante ao de insetos, elevou-se de repente em uníssono. Os jovens assassinos — enfants terribles transformados em furacões — avançaram em massa contra a alta silhueta. Diante daquela velocidade, o corpo de Abel desapareceu facilmente──
— ....Eh!?
De fato, no instante do choque, a figura do padre havia se desvanecido. Porém, aquilo não fora causado pelas presas das fadas. Era como se o próprio fato de ele ter estado ali tivesse sido uma mentira — a figura de Abel simplesmente desaparecera.
— Desapareceu... i-isso é impossível!?
E então, no mesmo instante em que Wendy instintivamente desviou o olhar, em busca do alvo que havia desaparecido de repente, seis estampidos de pólvora explodiram quase ao mesmo tempo. Três sombras, cujas frágeis asas prateadas haviam sido arrancadas pelas balas de prata, mergulharam em meio à nuvem de poeira e gritos, chocando-se contra o chão apenas meio instante depois.
— Qu—...!?
— ...O tempo do conto de fadas cruel chegou ao fim, Wendy-san.
Sobre o galho que se projetava para a areia da praia, uma sombra iluminada pelo luar declarou calmamente.
Olhos azuis, como um lago invernal, fitavam de cima com um olhar pesaroso, as crianças que se contorciam em agonia após receberem a toxina fatal para as espécies da noite ─ as balas de prata. E do cano do antigo revólver de percussão em sua mão direita, erguia-se a fumaça branca, semelhante às presas de uma besta cruel.
Mas quando foi que ele saltou? Além disso, não apenas evitou os ataques das fadas, que se orgulhavam de sua alta velocidade, como também, em um instante que provavelmente não chegou nem a um décimo de segundo, conseguiu disparar com precisão seis balas!
— Q-quem é você afinal!?
— Eu sou o padre itinerante Abel Nightroad.
Quando a mão do padre, que respondera com tristeza, girou de forma cortante, o cartucho vazio do revólver caiu. Ao rolar pela areia, deixando atrás de si um fio de fumaça branca, já havia um novo cartucho recarregado com novas balas.
— E como Executor enviado pela AX, meu nome é Crusnik — 'Aquele que carrega a cruz' — ... Wendy-san, declaro-a presa sob acusação de assassinato e atos de pirataria. Por favor, largue suas armas e renda-se.
Tumblr media
— Que prisão o quê? Seu 'adulto' maldito!
Com um grito estridente, duas sombras se moveram, espalhando a areia ao redor. Um garoto de grande porte e uma criança magra saltaram ao mesmo tempo. Wendy não teve sequer tempo de detê-los. Num ataque coordenado, cercaram o padre pela frente e por trás, com uma diferença de tempo quase perfeita.
—Não vai funcionar, isso não é suficiente.
O padre moveu a mão direita como se fosse um ser diferente do resto de seu corpo, levando-a às costas. Então disparou duas balas contra o ombro da criança que se aproximava por trás. Pelo recuo, o cano da arma girou, agora apontado para frente, e assim transformou as frágeis asas do jovem que avançava em um trágico favo de mel.
— Car... Carly, vamos usar aquilo! Reúna todos!
Antes que os dois abatidos caíssem no chão, Wendy já havia dado sua próxima ordem. Era inacreditável terem que usar aquele trunfo contra apenas uma única pessoa... Mas se hesitassem, esta Never Land seria destruída!
Por outro lado, o destruidor do Paraíso ergueu a voz sincera e angustiada em direção à garota que rangia os dentes.
— Wendy-san, eu imploro! Por favor, renda-se! Eu não quero feri-la.
— Não quer me ferir? Que bondoso da sua parte, Padre... Mas suas preocupações são desnecessárias!
Enquanto enviava comandos para ‘aquilo’ através das asas amplamente abertas, Wendy curvou os lábios em um sorriso. Em frações de segundo, o sinal de espera ‘daquela coisa’ retornou na forma de vibrações do ar, inaudíveis aos ouvidos humanos. Mas, nesse instante, o cano da arma do padre, que girara como uma víbora venenosa, já estava apontado para Carly, que voava mais próxima.
Wendy não hesitou.
— Sistema Tinker Bell... ativar!
— ......O quê!?
No mesmo instante, da garganta do padre escapou um grito de espanto.
De fato, a bala que mirava as asas da garota desviou-se por um triz, partindo ao meio os galhos de pinheiro atrás dela... não, estava errado!
— Ela se desviou!? Impossível... tsc!
O padre mal conseguiu esquivar-se do golpe cortante das garras, e com o mínimo de movimento alinhou a mira do revólver. Seu próximo alvo era a própria Wendy. Mas, no instante em que tentou puxar o gatilho──
— Guh!
Apertando o ombro rasgado pela lâmina do punhal, o padre cambaleou. Em seguida, uma pedra foi arremessada contra ele. Conseguiu evitá-la com um movimento de esquiva lateral (Sway), mas, como se estivessem apenas aguardando aquela reação, outra fada investiu pela frente. No instante em que tentou erguer o cano da arma, uma dor lancinante percorreu-lhe a perna — era a garra de outra fada que havia rasgado sua carne. Ao deixar escapar a pistola, um violento impacto vindo pela frente o desequilibrou, e o corpo de Abel despencou de cabeça para a areia da praia.
— Huhuhu... O que houve, Padre?
Apesar da forte pancada nas costas, Abel conseguiu, ainda que com dificuldade, se erguer. Diante dele, Wendy lhe dirigiu um sorriso doce. Ao redor dela, as fadas pairavam em meio ao voo, protegendo sua rainha como abelhas — não, aquilo era uma única máquina. E das mais incrivelmente precisas.
— Impossível... um ataque coordenado como este...!
— Isso é possível — para nós.
No alto da colina, Wendy ergueu os olhos, orgulhosa, para o campanário da “Escola”, cuja sineta ressoava. Ela semicerrava os olhos com deleite. Através de suas asas, transmitia-se um timbre em um comprimento de onda inaudível para os humanos.
O Sistema Tinker Bell — uma tecnologia perdida (Lost Tecnology) de antes do Grande Cataclismo (Armageddon) — era um sistema de comando tático em modo Mestre & Escravo. O chip mestre, implantado em Wendy, transmitia seus pensamentos para a 'Escola'; o computador da 'Escola' convertia essa informação em uma frequência especial de baixa intensidade, que então era enviada aos chips escravos das fadas. Cada chip escravo controlava até mesmo o pensamento e a percepção das fadas, fazendo com que o grupo inteiro se tornasse uma única colônia, perfeitamente regido pela vontade de Wendy.
— Ou seja, agora, todos são eu, e eu sou todos... olha, assim mesmo!
As 'fadas' aumentaram todas de uma só vez a velocidade de rotação de suas asas ── no bater de asas sincronizado até a precisão de microssegundos, começou a gerar-se uma frequência extremamente elevada. As moléculas de água no ar se distorceram, transformando-se em um turbilhão branco que golpeou o padre, que permanecia imóvel e indefeso.
— ....Kuh!
— Não se preocupe, Padre. Vai acabar logo...
A Abel que protegia o rosto, sem meios de reagir, contra as lâminas de ar, Wendy declarou a morte com suavidade.
— Agora, vou fazê-lo explodir sem deixar vestígios!
— Explodir? Essa fala é a minha.
No instante seguinte, o que golpeou os tímpanos da garota triunfante foi uma voz rouca e sarcástica — e, logo após, um estrondo ensurdecedor.
— O quê!?
De súbito, Wendy virou-se para a colina, e seu rosto foi iluminado em vermelho pelo dourado das chamas. No meio daquele fogo, a sombra de um edifício desmoronava de forma impiedosa──
— A-a ‘Escola’......!
— Tinkerbell ou seja lá quem for, não zombem dos adultos, seus fedelhos miseráveis!
Tendo como fundo a explosão em chamas, uma sombra colossal ergueu-se com uma postura como de uma estátua de Nio. Sua figura, como se fosse a de um demônio infernal refletido pelas chamas, fez os olhos da garota se arregalarem a ponto de quase saltarem.
— I-isso não pode ser! Você não estava morto...!?
— Como se algo daquele nível pudesse derrubar este grande eu... Só perdi um tempinho porque tive que trazer este carinha comigo.
Leon — o padre de cabelos negros, sorriu com audácia — e apontou a extremidade afilada em forma de fuso daquilo que empunhava em direção ao topo da colina. Assemelhava-se a um sinalizador usado para lançar foguetes de resgate, mas era muito mais robusto. Parecia uma engenhoca desajeitada e malfeita, como se tivessem grudado um gatilho e uma mira simples em um cano grosso de ferro.
— Essa coisa aqui foi feito originalmente para brigar contra tanques, mas dependendo de como usar, dá até pra mandar um bunker pelos ares... Olha só, desse jeito!
— Pa-pare...!
Não houve sequer tempo para detê-lo. Um som estranho e abafado e uma fumaça intensa se ergueram da boca do cano. O projétil de carga moldada, lançado a velocidade subsônica, riscou uma faixa dourada em direção ao campanário sobre a colina.
— ……!
O que aconteceu em seguida foi como se fragmentos da noite, despedaçados por um estrondo ensurdecedor, tivessem atravessado aqueles pequenos corpos. Logo após a explosão ter destruído a torre do sino, as fadas que protegiam Wendy caíram todas ao chão de uma só vez.
— Ti–Tinker Bell... todos eles!
— Ei! Já me livrei desse problema! Vai ficar caído aí até quando, ‘Crusnik’?!
Ao perceber que o olhar feroz de Leon estava fixo em algo atrás de si, Wendy se virou apressada — não, na verdade, tentou se virar.
— ...É realmente lamentável, Wendy-san.
A voz, que se sobrepôs ao disparo, estava carregada de tristeza.
<< Anterior - Índice R.A.M. II - Próximo>>
Roteiro de Leitura (。•̀ᴗ-)✧!
Créditos da tradução:
Lutie (◕‿◕✿)
5 notes · View notes
trinitybloodbr · 10 days ago
Text
Tumblr media
Trinity Blood - Rage Against the Moons Volume II - Silent Noise ----------------- ⚠️ ESSA OBRA EM HIPÓTESE ALGUMA É DE MINHA AUTORIA. TRADUÇÃO REALIZADA DE FÃ PARA FÃS. NÃO REPUBLIQUE OU POSTE EM OUTRAS PLATAFORMAS SEM AUTORIZAÇÃO. SE CASO POSSÍVEL, DÊ SUPORTE AOS AUTORES E ARTISTAS COMPRANDO AS OBRAS ORIGINAIS. ⚠️ -----------------
Não sabe por onde começar? Confira o Roteiro de Leitura (。•̀ᴗ-)✧!!!
Capítulo 1: A Terra do Nunca (NEVER LAND)
— Chá preto ou café. Qual dos dois prefere?
— Já que é uma ocasião especial, vou de chá... ah, e por favor, com treze colheres de açúcar. ♥
Diante do pedido irreverente, a jovem de uniforme de empregada pareceu um pouco surpresa, mas logo, como se tivesse tomado uma decisão, começou a mover a colher diligentemente. Pouco depois, uma xícara de chá, exalando um aroma refinado, foi colocada sobre a mesa.
— Aqui está. Desculpe a espera.
— Ah, muito obrigado... Huum~, que cheiro bom. Isso é o que mais espero em minhas viagens a trabalho para Albion. Como esperado, nada supera o chá de Albion, hum, hum.
Sorvendo o chá preto — ou melhor, algo em consistência gelatinosa —, o padre de óculos parecia satisfeito. Talvez porque a dor na parte de trás da cabeça já tivesse passado, ele ria despreocupadamente, mantendo-se com o cotovelo apoiado na mesa de maneira desajeitada.
Da janela do refeitório, podia-se ver a floresta que cercava a mansão no topo desta colina. Se fosse de dia, também seria possível avistar a praia e o hidroavião pousado na água, mas agora, devido à escuridão densa da noite, nada se via. Apenas o som ocasional de um martelo, manejado pelo outro padre que reparava a aeronave, chegava carregado pela brisa marítima.
— Desculpe, Wendy-san. Além de aparecer de repente, sem sermos convidados, ainda fomos recebidos com chá.
— Eu é que peço desculpas... Apesar de ter tido o trabalho de vir até aqui. Sinto muito que o rádio esteja com defeito. Provavelmente, quando meu senhor voltar, ele conseguirá consertá-lo para nós. Infelizmente, eu mesma não consigo...
— Ah, depois vamos pedir para o Padre Leon dar uma olhada. Aquele velhote, apesar das aparências, é bem habilidoso... Mas é uma pena que o senhor esteja fora. Sempre quis conhecer o renomado professor James Barrie. Parece que ele gosta bastante de crianças, como dizem os rumores.
Depois de colocar a xícara de chá vazia sobre o pires, Abel lançou um olhar curioso ao redor.
Dito isso, a mansão em si era um tradicional chalé de campo aristocrático de Albion (country house), nada particularmente fora do comum. No entanto, os bichos de pelúcia, os brinquedos, os tacos de críquete... e por toda parte, espalhados, pequenos objetos que claramente agradariam a crianças pequenas, junto com desenhos de giz de cera, toscos mas provavelmente feitos por elas — tudo isso era, de fato, uma visão e tanto. Era como se toda a mansão fosse um enorme quarto infantil.
De acordo com a explicação de Wendy, a ilha de Neverland era originalmente desabitada, até que Barrie a comprou inteira. Dizem que por ocasião da sua aposentadoria, adotou várias crianças sem família quando se mudou para lá. Esses brinquedos também pertenciam a essas crianças.
— Uma vez li no jornal que recebeu uma condecoração de Sua Majestade, a Rainha, por pesquisas sobre envelhecimento. Médico formado e escritor de contos de fadas, além de uma pessoa de caráter que adora crianças... Olha só, existem mesmo pessoas que parecem com um deus, não é?
— Uma pessoa... como um deus?
A expressão da jovem empregada que servia a segunda xícara de chá enrijeceu levemente. Porém, ao que parecia, Abel não percebeu. Continuou, como sempre, despreocupado:
— Mas não é verdade? Existem até pais que vendem seus próprios filhos, e mesmo assim, alguém acolher e criar pessoas completamente estranhas...
— É verdade. De certo modo, ele pode ser como um deus. Não, pelo menos para mim, ele foi um deus──
— Hã?
Abel, que levava à boca o segunda xícara, estreitou os olhos — não exatamente porque tivesse se surpreendido com o tom sombrio da garota, mas simplesmente por estar com sono. Talvez fosse cansaço do voo, mas estava estranhamente sonolento.
— ‘Para mim’? O que quer dizer com isso?
— Exatamente o que eu disse. Eu também fui uma criança recolhida pelo 'Professor' — pelo mestre.
— Entendo... então, por assim dizer, seria como uma filha?
— Filha? Não... se for para dizer algo, acho que sou mais um porquinho-da-índia. Certamente não uma filha. 
“Porquinho-da-índia” ... mais uma expressão nada agradável — Abel tentou repreender a garota, mas, por causa do sono, não conseguiu pensar em palavras adequadas. Para clarear a mente, tomou um gole de chá.
— Wendy-san, eu penso que...
— Mais do que falar sobre mim, Padre... eu gostaria de saber sobre o senhor.
Sem sequer tocar com os dedos na xícara de chá colocada à sua frente, Wendy abriu a boca para falar. No seu modo de usar as palavras, já não havia vestígio da submissa criada de instantes atrás. Dirigiu-se a Abel com um tom de voz como de uma rainha.
— Padre, de onde o senhor veio?
— De Roma. Da Divisão de Operações Especiais da Secretária de Estado — um departamento chamado AX...
“Ué... o que é que eu estou falando?”
A cabeça estava pesada, mas a língua, estranhamente leve. Abel sacudiu a cabeça, tentando clarear a mente. Bebeu mais um gole do chá, mas aquela doçura, sedimentou-se, afundando por completo em seu campo de consciência.
— Isso mesmo, pode beber à vontade... Meu chá está delicioso, não é?
— .........!?
Um pensamento que já começava a se turvar lançou um alerta com extrema dificuldade.
“Droga, tem algo no chá...”
Instintivamente, ele fechou a mão com força, tentando usar a dor para manter a consciência desperta. Mas dedos finos o impediram.
— Não pense em nada desnecessário, Padre.
Segurando suavemente a mão do sacerdote, a envolvendo, Wendy aproximou os lábios do ouvido dele.
— Concentre-se apenas na minha pergunta... O que é a Ax?
— We-Wendy-san, fazer isso é inútil...
— Responda à pergunta. O que é a Ax?
— Co– Coordenação Especial da Secretaria de Estado... casos de vampiros... investigação... medidas ilegais...
Olhando de cima para o rosto do padre, que murmurava com aflição, com olhos que guardavam um brilho frio, a garota assentiu.
— Aquele acidente de avião agora há pouco também não foi coincidência, não é? Por que vieram a esta ilha?
— Michael Darling... organização de sequestro de crianças... lista... Professor Barrie... Professor Barrie está? Onde está o Professor Barrie...?
— Heh! Ainda está consciente? Isso é impressionante. A dose foi suficiente para fazer até um elefante cantar.
Wendy suspirou como se estivesse impressionada. Ela limpou com delicadeza o suor que se formara em gotas no rosto de Abel.
— Veio procurar o meu senhor, padre? Nesse caso, que pena. Como acabei de dizer, ele não está aqui. E isso é verdade— não, não é só ele. Aqui não há um único “adulto” sequer.
— O que... quer dizer com isso...?
Ouviu-se um clique, e a porta que levava à cozinha se abriu. Do outro lado, espiavam rostos — uma multidão de crianças. Havia crianças grandes, magras, meninos, meninas... seus rostos e constituições variavam, mas todas, sem exceção, fitavam Abel com olhos inexpressivos.
— Os desaparecidos... então... esta ilha é mesmo...
— Aqui é Never Land.
Olhando para o rosto do padre, cujas pálpebras começavam aos poucos a se fechar, Wendy sussurrou gentilmente:
— Esta é uma ilha só de crianças.
-------------------------------------------------
— Então... conectando o carburador ali, apertando este parafuso aqui... pronto, que tal agora?
Com um estrondo mecânico seco, a hélice começou a girar. A rotação foi aumentando gradualmente, e o vento levantado espalhou ondas na superfície. Leon ergueu o olhar para a máquina que voltara à vida, com uma expressão de satisfação.
— Ha! Isso não é nada. Agora, vamos para o rádio... Ei, pirralho. Até quando vai ficar aí emburrado?
O gigante virou-se sem a menor piedade para o garoto, que estava na areia, abraçando os joelhos e choramingando.
— Se for chorar, vai fazer isso em outro lugar. Isso é irritante.
— ...Eu... não consegui proteger a Wendy.
O rosto de Peter estava oculto pela escuridão, mas o som dele fungando e puxando o nariz chegava até ali.
— Eu prometi... Prometi que protegeria a Wendy... mas eu perdi para esse tiozão...
— Ah, pare de chorar por tudo! E outra: quem é que você tá chamando de tiozão?!
Enquanto retirava o rádio da cabine, Leon gritou irritado.
— Apesar da minha aparência, ainda não cheguei aos trinta! Não tem motivo para me chamar de 'tiozão'... Então, o quê? Está frustrado por ter perdido? É idiota ou o quê? Achou mesmo que, sendo só um pirralho, poderia vencer um adulto?
— Não dá pra vencer?
— Não dá pra vencer. Criança não vence adulto — é assim que as coisas são.
— E-É mesmo assim que é?
— É, é assim que é... Droga. Realmente não vai dar certo, isso aqui.
Olhando com desesperança para o rádio queimado, Leon soltou um suspiro. Se fosse para tentar consertá-lo, seria melhor acender uma fogueira de sinal.
— Ei, moleque. Meu parceiro... aquele, de óculos, com cara de idiota, lembra? Vai lá chamar ele pra mim.
— O padre de óculos? Entendi. Espere um pouco.
— Ah, espera aí.
Quando o garoto estava prestes a sair correndo, Leon o chamou. Mostrando-lhe a palma grossa da mão, fez uma careta como se fosse algo muito sério.
— Aquilo de antes... doeu bastante. Para um pirralho, você tem potencial.
— Sério? Posso ficar tão forte quanto o senhor?
— Bom... talvez chegue a ser quase tão forte quanto eu.
O rosto de Peter se iluminou. Sorrindo mais do que nunca, disse:
— Consegui... eu, por ser uma 'falha', achei que talvez nunca pudesse ficar mais forte. Mas é isso! Quando eu 'crescer', até eu vou conseguir superar os 'bem-sucedidos'! Valeu, tio!
— 'Falha'? 'Bem-sucedidos'?
No momento em que Leon percebeu aquelas palavras estranhas, o garoto já disparava em direção à colina.
— Ei, espera aí! Essa “falha” que você falou é... ah, já foi embora.
Depois de acompanhar por um momento com o olhar as costas que desapareciam ao longe, por entre o arvoredo, Leon coçou a cabeça com desleixo.
— Caramba, é por isso que eu não gosto de pirralhos, só dão trabalho... Mas aquele fracote, o que diabos ele foi fazer? Se eu descobrir que tá tomando chá de graça, vou quebrar ele tanto que não vai mais servir nem pra virar marido de ninguém... Hum?
〈Achei ele!〉〈Está aqui!〉〈Aqui está!〉
Carregando os destroços do rádio, Leon caminhava pela parte rasa, espirrando água a cada passo, até que seus pés pararam de repente. Seus olhos, que brilhavam em profundo, percorreram os arredores com cautela.
— ...Pirralhos?
〈Não, não...〉〈Nós não somos ‘pirralhos’ coisa nenhuma〉
O som de risadas baixas vinha de várias crianças. Mas... de onde exatamente? Parecia que sussurravam bem junto ao ouvido, mas no instante seguinte davam a impressão que ecoavam do outro lado da floresta...
〈Pra onde você está olhando? É aqui!〉
— ...Uoh!?
Ao virar-se para trás, Leon recuou bruscamente.
O ronco do motor aumentou de repente e, no instante seguinte, o hidroavião começou a deslizar pela superfície da água.
—Wa, wawah!
Não havia tempo para escapar. Muito menos para se perguntar quando a corda de amarração havia se soltado. O enorme flutuador esmagou o padre, e junto a um som surdo de algo se partindo, bolhas de um negro denso emergiram da superfície do mar.
— Acabou com ele?
— Acabei, acabei sim!
— Poxa, eu também queria ter pilotadooo~
Do assento do hidroavião, que havia parado em cima do padre, o esmagando, três crianças espiavam com curiosidade. Cada uma delas empunhava um cutelo marinho ou uma pequena lança, trajando uniformes listrados de marinheiro, com barbas postiças e tapa-olhos.
— Olha só! Foi moleza.
— É claro, afinal é um adulto. Coisa simples. Da outra vez, tipo...
— Tá, vamos puxar o corpo para cima. Se os tubarões se aproximarem, vai ser um incômodo espantá-los.
Enquanto trocavam uma conversa hedionda num tom infantil e inocente, os três piratas saltaram com leveza da cabine de comando. Assobiando uma melodia despreocupada, atravessaram os baixios e espiaram a área onde o cadáver estava submerso.
— E então? Morto, Carly?
— Espere, tem algo estranho... não sinto cheiro de sangue.
A jovem líder — Carly — fungou de modo desconfiado. Seu olfato, comparável ao de um tubarão-branco, só captava o cheiro de maresia e algo metálico.
— Ei, olha isso!
Submerso no mar, repousava um rádio partido em dois. O fato de ele estar ali significava que...
— E aí, Senhores. Estão jogando pega-pega?
A voz soava como se a própria ousadia tivesse se tornado som.
Desde quando ele se moveu até ali? O padre, com seus longos cabelos negros brincando ao sabor da brisa marítima, sorria de forma maliciosa no alto das rochas.
— Parece divertido. Será que esse irmãozão aqui também pode entrar na brincadeira? Sou bom em Jogos de arremessar argolas.
Com um tom de escárnio, Leon passou os dedos pelo bracelete em seu pulso, que tilintava suavemente. Um pequeno som metálico ecoou, e de dentro deslizou uma lâmina prateada extremamente fina — feita de cerâmica monocristalina revestida por deposição com moléculas de prata.
Mas naquele instante, também começou a ocorrer uma transformação violenta nos corpos das crianças.
Um rosnado baixo escapou e, dos lábios repuxados, surgiram longas presas. Nas costas, onde o tecido rasgara com um estalo, asas transparentes começaram a bater.
— Heh, isso é ótimo...me pouparam o trabalho de caçar vocês, fadinhas!
À voz do padre que girava o chakram com a ponta dos dedos, somou-se o farfalhar agudo de asas. Num piscar de olhos, a figura da fada em forma de menina desapareceu, e de repente uma sombra surgiu bem acima de Leon, empunhando uma curta lança invertida.
— Peguei você...!
Um som surdo ecoou — era a rocha sendo despedaçada pela lança curta que a havia rasgado. Mas a figura do padre, que até meio instante antes estava ali, já não se encontrava mais. Quando os fragmentos da pedra espalhada respingaram na água, ele já havia se encolhido como um gato e pousado, a dez metros de distância, em um banco raso.
— Tsc! Errei!
A garota fitava, com olhar feroz, a presa que havia escapado. Porém, naquele instante, um dos garotos gritou em voz aguda:
— Carly, cuidado!
— Eh... kyaaaa!
O aviso chegou por pouco ── o chakram, que subia girando ao redor da lança curta como se fosse um anel de arremesso, roçou o queixo de Carly, que se inclinou para trás por instinto, e ergueu-se na noite. Em seguida, descrevendo um arco gracioso, voltou direto para os dedos de seu mestre.
— Você está bem, Carly!?
Tumblr media
— Es-estou bem...! Mas cuidado! Esse aí não é um ‘adulto’ qualquer!
Que destreza demoníaca. No instante do choque, não apenas evitou a lança que lhe fora arremessada para baixo, como ainda conseguiu inserir o chakram na trajetória da arma!
— Como ousa fazer isso?! Não vou te perdoar, seu adulto miserável!
— Hã? E se vocês não me perdoarem, o que diabos pretendem fazer, seus pirralhos insolentes?
Enquanto fazia girar o chakram entre os dedos, Leon sorria com a expressão mais arrogante quanto podia — embora fosse segredo que suas costas estavam ensopadas de suor frio.
“Essas coisas, são rápidos demais!”
Mesmo com os reflexos de Leon, que ultrapassavam em muito os de um humano comum, ele só conseguiu desviar por pouco. Menos mal, que havia sido apenas uma, mas se por acaso as três criaturas contra-atacassem em conjunto, não haveria como se defender.
— Isso é ruim... ainda não quero ter que fazer aquilo e... hã?
As fadas pairavam imóveis no ar, fitando-o com hostilidade. Mas o que realmente chamou a atenção de Leon foi a fumaça branca que cruzou seu campo de visão.
— O que é essa névoa?
Logo abaixo das fadas que pairavam imóveis no ar, uma névoa começou a jorrar da superfície do mar com uma violência avassaladora. Não havia calor. Apesar disso, a água do mar fervia intensamente.
— Será que isso é... f-ferrou!
O fenômeno de nebulização — onde a água do mar, com suas ligações moleculares desfeitas por altas frequências, começava a se vaporizar mesmo estando em temperatura ambiente. E isso era característico das fadas, que produziam ultrassom a partir das suas finas asas vibrando em alta velocidade──
— Morraaa! — Morraaa! — Morraaa!
Quando se virou às pressas, já era tarde demais. No mesmo instante em que vozes agudas se harmonizaram em um único som, uma lâmina invisível (Sonic Blade) rasgou o mar ao meio e avançou contra o padre Leon.
CURIOSIDADES
Wendy refere-se a si mesma como 'porquinho-da-índia' em alusão a 'cobaias', pois esses animais também são utilizados em testes laboratoriais;
O chakram (Devanāgarī: चक्रं, panjabi: chakkar), é uma arma de arremesso originada do Sul da Ásia e partes do Oriente Médio. Fonte: Wikipedia
<< Anterior - Índice R.A.M. II - Próximo>>
Roteiro de Leitura (。•̀ᴗ-)✧!
Créditos da tradução:
Lutie (◕‿◕✿)
3 notes · View notes
trinitybloodbr · 13 days ago
Text
Tumblr media
Trinity Blood - Rage Against the Moons Volume II - Silent Noise ----------------- ⚠️ ESSA OBRA EM HIPÓTESE ALGUMA É DE MINHA AUTORIA. TRADUÇÃO REALIZADA DE FÃ PARA FÃS. NÃO REPUBLIQUE OU POSTE EM OUTRAS PLATAFORMAS SEM AUTORIZAÇÃO. SE CASO POSSÍVEL, DÊ SUPORTE AOS AUTORES E ARTISTAS COMPRANDO AS OBRAS ORIGINAIS. ⚠️ -----------------
Não sabe por onde começar? Confira o Roteiro de Leitura (。•̀ᴗ-)✧!!!
Capítulo 1: A Terra do Nunca (NEVER LAND)
— Você se lembra do "mundo exterior", Wendy?
Peter perguntou, fitando o rosto pálido oculto sob o capuz.
Coincidentemente naquele momento, sob o brilho remanescente do sol que estava prestes a se pôr no horizonte, o mar tingia-se da cor do sangue. Hoje, mais uma vez, um novo "dia" estava para começar.
— Wendy, quando era pequena, você vivia do lado de ‘fora’, não é? Mesmo lá fora, dava para ver essa paisagem?
— Sim. Mas... não era tão bonita assim... Não, não era só o pôr do sol.
Do outro lado das ondas, a última gota de luz do sol se derreteu e escorreu. Confirmando isso com cautela, a garota finalmente retirou o capuz e soltou um suspiro.
— O mar e a floresta... esta ilha é o lugar mais bonito de todos. O “lado de fora” já foi sujo pelos adultos.
— Então é culpa dos “adultos”, afinal. Por que será que os “adultos” só fazem coisas ruins? Até a Wendy e os outros──
— Pare!
A garota gritou. O que era tão aterrorizante assim? Seu rosto estava pálido, e ela tremia, abraçando os próprios ombros.
— Por favor, pare com essa conversa sobre adultos... Eu não quero ouvir!
— De-desculpa! Me desculpe, Wendy!
Assustado, Peter passou a mão pelas costas de Wendy. Com suas pequenas mãos, esfregava-as vigorosamente, tentando acalmar a garota.
— Está tudo bem. Vai ficar tudo bem, Wendy. Eu vou acabar com eles! Quem tentar machucar a Wendy, eu vou derrotar... então, não chore!
— ...Hum.
Sob os cabelos pardo-acastanhados, cor de casca de trigo-sarraceno, a garota conseguiu, com esforço, esboçar um sorriso. Sim — naquela ilha, ela era a mais velha. Em um lugar como aquele, ela não podia deixar se permitir fazer com que o irmão mais novo se preocupasse.
— Isso mesmo. Com você aqui, Peter... não há por que ter medo dos ‘adultos’, certo?
— Uhum! Eu vou derrotar todos eles!
— Obrigada, Peter... estou contando com você.
Ao pousar a mão sobre a cabeça do menino, a garota se levantou com leveza. As estrelas já começavam a aparecer no céu. Logo seria hora das outras crianças acordarem.
— Vamos, preciso preparar a comida. Peter, por favor, vá buscar leite no estábulo...
No meio da conversa, Wendy percebeu que ele não estava ouvindo sua voz. Na direção para onde se dirigia o olhar do garoto, que fitava o céu com a cabeças nas nuvens──
— ...Ei, que pássaro é aquele?
— Peter, reúna todos na ‘Escola’!
A sombra que se aproximava, expelindo fumaça, crescia visivelmente a olhos vistos. Wendy apontou para um edifício branco, situado no centro da ilha, no topo de uma colina, que possuía uma alta torre de sino. Ela não conseguiu evitar que sua voz soasse mais aguda devido ao nervosismo.
— Rápido! Eu vou lá ver aquilo!
— Eu também vou!
— É perigoso! Você devia ficar junto com todos os outros...
— Não quero! Se a Wendy for, eu também vou!
— ...Francamente, não tem jeito mesmo, né?
Teimosamente insistindo — apesar disso, a garota tocou a bochecha do garoto rígida de tensão e sorriu levemente com um toque de amargura.
— Está bem. Então, vamos juntos.
------------------------------------------------
— Obu!
No instante em que tocou a água, um instrumento voador atingiu-o em cheio no rosto. Com um jato vermelho descrevendo uma parábola, ele se arqueou para trás. Como se fosse um liquidificador, chacoalhando para cima, para baixo, para a esquerda e para a direita — até que, por fim, o flutuador subiu na areia com força brutal, e o hidroavião finalmente parou.
— ....Yo, chegamos, senhor passageiro.
— A-achei que ia morrer... Não dava para descer um pouco mais suavemente, Padre Leon? Assim, nem sei dizer se isso foi um pouso na água ou se caímos em queda livre.
Enfiando papel no nariz, Abel lançou um olhar fulminante ao colega no cockpit. Ao descer se arrastando para a areia da praia, percebeu que por toda parte da velha aeronave se espalhavam rachaduras, e o motor soltava uma leve fumaça.
— Fazer o quê, né? Caramba, do nada começou a cuspir fogo, essa lata velha.
— Como assim lata velha? Esse não é justamente o avião que o Leon-san providenciou de algum lugar? E por que, entre todas as opções, tinha que ser logo essa sucata antiga...
— Infelizmente, era o único disponível que tinha no lugar de um conhecido meu,... e estava barato.
‘Se tiver dinheiro, consigo providenciar desde um avião até um caixão’ — era algo que ele costumava se gabar com frequência, mas, ao que parece, não imaginava que o avião e o caixão viriam como um pacote combinado.
— Ah~ Isso tá feio. Provavelmente vão arrancar uma boa grana da gente pra indenizar isso. Quando voltarmos, nem quero imaginar o que o pessoal da contabilidade vai dizer...
— Não se preocupe. O rádio está quebrado. Mesmo querendo, não vamos conseguir voltar tão cedo.
— Ah, se é assim, fico tranquilo... O q-quê você disse!?
Do nariz de Abel, um lenço de papel foi expelido com força. Com uma expressão de quem estava prestes a desmaiar, ele se aproximou de seu colega, que aparava preguiçosamente alguns pelos da barba por fazer com ar de elegância.
— O-o rádio está quebrado!? Então, nós... será que estamos perdidos?!
— Bem, também dá pra ver por esse lado.
— Como pode responder assim tão calmamente?! Ó Senhor, se for pra passar o resto da vida num lugar desses, sobrevivendo com um velhote desses, é melhor morrer── ahbuaá!?
A voz do padre, que gritava descontroladamente como se fosse o fim do mundo, cessou de repente. Tudo bem até ter estatelado sobre a areia numa pose idêntica à de um sapo esmagado, mas o que era aquele galo enorme na parte de trás de sua cabeça — e a pedra redonda, ao lado dele, do tamanho de um punho?
— ...Ei, tá vivo aí?
Leon olhou com um aparente desinteresse para o colega de trabalho que ficara estranhamente silencioso, e não recebeu resposta. Pior ainda, ele começara até a ter convulsões e pequenos e repetidos espasmos.
— Será que morreu? Era um sujeito irritante, folgado e sem um tostão, mas... não era má pessoa. Fique bem e descanse em paz... opa!
O braço do gigante se ergueu com agilidade. No instante em que sua mão larga estalou, a pedra arredondada que havia voado até ali já estava firmemente presa nela.
— Ora, ora... pensei que fosse esconde-esconde, mas era pega-pega com bola?
A mão do padre, que murmurara com ironia, girou rapidamente. Com apenas um movimento de pulso, a pedra lançada voou com um zumbido, sendo engolida pela floresta noturna e silenciosa do outro lado da praia.
— ......!
No instante em que um breve grito ecoou entre as árvores sombrias, a figura de Leon já não estava mais na praia. Seu corpo enorme, impulsionado pela areia que chutara para trás, avançava em disparada com movimentos de fera predadora, saltando sobre a pequena silhueta que tentava fugir pela mata.
— Droga! M-me solta!
— ...Ora, é só um pirralho.
Como um gato de rua agarrado pela nuca, a figura se debatia — e, enquanto tomava o estilingue de suas mãos com a destreza de um batedor de carteiras, Leon murmurou com um ar de desânimo.
Era um garoto que não passava muito dos dez anos. Seria uma criança desta ilha? Suas calças suspensas, largas demais, e o casaco remendado eram simples, mas estavam devidamente cuidados e lavados.
— Droga! Me solta, eu disse pra soltar!
— Ei, você é daqui da ilha? Onde estão seus pais? Quero falar com algum adulto.
— Pais? Não tenho nenhum! Aqui, não existe nem um único ‘adulto’ como você...
— Peter!
Quem gritou foi outra silhueta que surgiu rolando de entre as árvores. Uma garota de vestido de empregada azul — com o cabelo cor de casca de trigo sarraceno (straw-blonde) preso para trás —, com cerca de quinze ou dezesseis anos, com rosto pálido de medo sob a luz da lua.
— Peter, fique quieto... Ah, er, você é... um pirata? E-Esta ilha não tem nada. Se for comida que quer, eu lhe darei. Então, por favor, solte essa criança...
— Mas veja só... tomando um cavalheiro como eu e chamando de pirata?
Segurando o garoto que se debatia no ar, Leon apresentou-se com o máximo de cordialidade possível — embora seu sorriso fosse o de um chacal que acabara de encontrar um cordeirinho desgarrado do rebanho — e, em sua própria opinião, num tom que ele acreditava ser de cortesia impecável.
— Mucho gusto, señorita (Prazer em conhecê-la, senhorita). Eu sou o padre Leon — um padre itinerante do Vaticano. E aquele ali, com os olhos revirados, é meu parceiro, o padre Abel. Estávamos a caminho de Londinium em uma missão, mas acabamos pegando uma tempestade... me desculpe, mas poderia nos emprestar o rádio?
<< Anterior - Índice R.A.M. II - Próximo>>
Roteiro de Leitura (。•̀ᴗ-)✧!
Créditos da tradução:
Lutie (◕‿◕✿)
6 notes · View notes
trinitybloodbr · 15 days ago
Text
PRÓLOGO
Tumblr media
Trinity Blood - Rage Against the Moons Volume II - Silent Noise ----------------- ⚠️ ESSA OBRA EM HIPÓTESE ALGUMA É DE MINHA AUTORIA. TRADUÇÃO REALIZADA DE FÃ PARA FÃS. NÃO REPUBLIQUE OU POSTE EM OUTRAS PLATAFORMAS SEM AUTORIZAÇÃO. SE CASO POSSÍVEL, DÊ SUPORTE AOS AUTORES E ARTISTAS COMPRANDO AS OBRAS ORIGINAIS. ⚠️ -----------------
Não sabe por onde começar? Confira o Roteiro de Leitura (。•̀ᴗ-)✧!!!
Capítulo 1: A Terra do Nunca (NEVER LAND)
Prólogo
"──Nem mesmo um só destes pequeninos deve ser desprezado." (Mateus 18:10 – Versão Japonesa)
〈Quantos anos desta vez, Abel? 〉
Assim que se sentou do outro lado do vidro à prova de balas, o homem perguntou. O guarda já havia sido dispensado. Abel Nightroad respondeu com o número que lhe fora informado por seu superior.
— Sete mil e trezentos dias — vinte anos, ao que parece.
〈Isso é muito... Vamos ouvir o que tem a dizer. 〉
Era um homem que, de alguma forma, fazia lembrar uma grande fera carnívora.
O rosto de tonalidade escura, típico das etnias do sul, combinava com o grande físico elegante e bem definido... O cabelo desgrenhado e selvagem lembrava a juba de um leão. Nem mesmo o uniforme encardido de prisioneiro era capaz de apagar sua imponência.
— Antes de tudo, por favor, observe esta foto. No mês passado, nas águas do norte de Albion, um navio cargueiro em rota foi atacado por um grupo de vampiros. Oito mortos — este é o corpo de um dos agressores naquela ocasião.
Os olhos do homem reclinado à mesa se estreitaram suavemente.
Na fotografia, o cadáver de uma criança que mal teria completado dez anos jazia caído. Por todo o corpo ensanguentado, buracos de bala enegrecidos estavam cravados. Mesmo aqueles que não gostam de crianças, desviariam o olhar diante daquele cenário doloroso.
No entanto, o longo apêndice transparente que se estendia das costas dele — um órgão que lembrava fortemente as asas finas de um inseto — indicava que aquilo não poderia ser humano. Assim como as presas ferozes que se projetavam de sua boca escancarada.
〈“Fairy” — até entre os vampiros, é uma subespécie rara. Como foi abatido?〉
— Por acaso, havia um caçador civil a bordo. Além disso, nesta região marítima, já havia relatos contínuos de embarcações desaparecendo...
〈Basta de explicações inúteis. Se a Ax se moveu, então não é só mais um caso de vampiros, certo? 〉
Abel assentiu, e puxou outra fotografia. Nela, algumas crianças em trapos olhavam assustadas para a câmera, em algum parque qualquer. E o garoto que estava bem no centro da imagem — era aquela mesma ‘fada’ de antes.
— Michael Darling, natural da cidade de Londinium, Reino de Albion. Foi sequestrado de uma instituição de acolhimento há seis meses. A propósito, a investigação genealógica não revelou nada. Não havia qualquer ligação genética com vampiros.
〈Em outras palavras, você quer dizer que ele “caiu” durante os seis meses em que esteve desaparecido?〉
— Sim. Ele é um “convertido”... um vampiro adquirido.
“Vampiros”. O nome dado a essas formas de inteligência não humana que surgiram subitamente no mundo após o 'Grande Cataclismo' (Armagedom) vem, como se pode imaginar, das antigas lendas. O ato de sugar sangue, sua vitalidade anormal, a vulnerabilidade letal à luz do sol e à prata... seu comportamento biológico quase coincidem com a desses seres das lendas. Mas havia um aspecto que divergia drasticamente das tradições.
Ou seja, é algo que quase nunca se transmitia.
Segundo as lendas, a vítima de um vampiro também se transformava em vampiro, fazendo com que seu número cresçesse como ratos se multiplicando (referência ao crescimento exponencial). No entanto, na realidade, a chance de uma vítima da mordida se tornar um deles é inferior a 0,1%. Esse fenômeno de transformação adquirida, conhecido como "conversão", é um caso clínico extremamente raro.
— Dizem que o 'processo de conversão' envolve tanto a constituição física da vítima quanto a natureza do vampiro agressor, mas sua verdadeira natureza ainda não foi esclarecida. É um fenômeno raro a esse ponto.
〈Mas não é inexistente. O ex-bispo de Londinium, Alexander Scott — aquele que assassinou sete freiras... Foi você quem ficou encarregado daquele caso, não foi?〉
Seus lábios, grossos mas bem delineados, se curvaram num arco invertido. Com os braços algemados cruzados diante do peito, o homem encarava em silêncio.
〈‘Rara’ coincidência, hein? Mas pode ser só coincidência... Espera aí, quem é esse tiozão? 〉
Na terceira fotografia colocada sobre a mesa, aparecia a imagem de um homem. Um cavalheiro de meia-idade, com bochechas cheias e uma expressão visivelmente tomada por compaixão.
— Professor James Barrie, ex-diretor da Faculdade de Medicina da antiga Universidade Central de Londinium. Um nobre de Albion e também é conhecido como autor de contos infantis. Dizem que hoje está aposentado, desfrutando a velhice em suas propriedades.
〈Pois é, é de dar inveja mesmo. E o que tem esse “velhinho” feliz?〉
— Quem sequestrou Darling foi uma quadrilha especializada em rapto de crianças. A AX e as autoridades de Albion tentaram desmantelá-la, mas...
〈Falharam, não é?〉
— Três minutos antes da invasão, o esconderijo explodiu.
As ruínas na quarta fotografia pareciam brinquedos de papelão esmagado por um gigante. Os escombros espalhados haviam sido literalmente pulverizados até virarem pó.
〈Hunf. Isso aí não foi obra de explosivos. 〉
— Segundo a Agente Executora 'Gypsy Queen', responsável pela investigação, há indícios do uso de uma arma de alta frequência. Felizmente, no entanto, a lista de clientes que restou nos permitiu identificar a pessoa que comprou dezenas de crianças — incluindo Darling. E essa pessoa é...
〈James Barrie〉
— Isso mesmo. Aliás, segundo consta as terras dele ficam numa ilhota a menos de trinta quilômetros da zona marítima em questão.
O homem esboçou uma expressão sarcástica, como se já esperasse aquela resposta.
〈Huhun, entendi... Mas e aquele pistoleiro agourento? Se quer saber, isso aqui é o tipo de trabalho apropriado para aquele sujeito, não é? 〉
— O Padre Tres ficou ferido na última missão, e no momento está em tratamento em Milão... Então, Leon-san, vai aceitar o trabalho?
〈Eu não curto casos que envolva pirralhos. São complicados demais, por várias razões.〉
— Então, vai recusar?
〈Não foi isso que eu disse. Se a pena diminuir vinte anos, derrubaria até a Basílica de São Pedro.〉
Quando o homem arreganhou os bem desenvolvidos caninos, ouviu-se um tinido metálico em sua mão. Estranhamente, as algemas que claramente estavam ali até um momento antes haviam desaparecido.
〈Posso sair agora? Se o processo for muito burocrático, posso simplesmente sair por conta própria.〉
— Já conversei com o diretor da prisão.
Abel tocou o sino ao seu lado. Do outro lado da pesada porta de ferro, um carcereiro entrou na sala de visitas trazendo nos braços uma batina clerical cuidadosamente passada.
— Então, por favor, vista-se com isso, “Dandelion”... Padre León Garsía de Asturias, agente executor designado da Ax.
〈Sí, señor. (Entendido)〉
Tumblr media
<< Anterior - Índice R.A.M. II - Próximo>>
Roteiro de Leitura (。•̀ᴗ-)✧!
Créditos da tradução:
Lutie (◕‿◕✿)
9 notes · View notes
trinitybloodbr · 18 days ago
Text
R.A.M. II
Tumblr media
Trinity Blood - Rage Against the Moons Volume II - Silent Noise ----------------- ⚠️ ESSA OBRA EM HIPÓTESE ALGUMA É DE MINHA AUTORIA. TRADUÇÃO REALIZADA DE FÃ PARA FÃS. NÃO REPUBLIQUE OU POSTE EM OUTRAS PLATAFORMAS SEM AUTORIZAÇÃO. SE CASO POSSÍVEL, DÊ SUPORTE AOS AUTORES E ARTISTAS COMPRANDO AS OBRAS ORIGINAIS. ⚠️ -----------------
Não sabe por onde começar? Confira o Roteiro de Leitura (。•̀ᴗ-)✧!!!
Os Personagens em Trinity Blood R.A.M. II
Tumblr media Tumblr media
Tumblr media
Capítulos de R.A.M. Volume II:
Capítulo um: NEVER LAND (A Terra do Nunca)
Capítulo dois: SILENT NOISE (Ruído Silencioso)
Capítulo três: OVERCOUNT (Contagem Excedente)
Capítulo quatro: Trinity Blood Gaiden ー SLING BLADE
Posfácio
<< Anterior - Índice R.A.M. II - Próximo>>
Roteiro de Leitura (。•̀ᴗ-)✧!
NOTAS DA TRADUÇÂO:
Olá, pessoal! Lutie, aqui!!
Em um surto consegui editar as imagens, tanto de R.O.M. II, que fiquei devendo, quantos a do volume atual. Então, em vez de férias, vou postar o volume normalmente.
Sempre penso em colocar algumas coisas a mais aqui, mas sempre acabo me esquecendo... minha memória nunca foi lá essas coisas, mas agora está um pouco pior >.<
Conto com vocês para me acompanharem!!
4 notes · View notes
trinitybloodbr · 1 month ago
Text
POSFÁCIO R.O.M. II
Tumblr media
Essas são as notas finais do Volume II de R.O.M. escritas pelo autor Sunao Yoshida na época da publicação da novel.
POSFÁCIO
Após três meses, permitam-me cumprimentá-los novamente. Yoshida aqui.
O ‘projeto sudden death da vida’, Trinity Blood, chegou aqui à publicação segura de R.O.M. II.
‘Se a enquete da série não ficar entre os três primeiros, será cancelada’;
‘Se R.O.M. I não vender, será cancelado’;
‘Se R.A.M. não vender, será cancelado também~’ — apesar dessas notificações do editor responsável, que parecem quase um hobby, desta vez também conseguimos sobreviver de alguma forma.
Isso é unicamente graças ao apoio de todos vocês. Muito obrigado.
Originalmente, aqui eu queria escrever interminavelmente, por cerca de dez páginas, palavras ardentes de gratidão, mas, por causa da limitação de páginas, é um pouco impossível.
Quanto às nove páginas omitidas, ficarei feliz se puderem suprir com a imaginação de vocês (risos).
Além disso, desta vez também ultrapassei o prazo em dez dias, e como resultado, dentro de um cronograma que se tornou bastante rigoroso, para manter a qualidade, que se esforçaram ao máximo: meu parceiro, Sr. Shibamoto, o editor responsável, e todos da equipe de impressão e design — minha profunda gratidão a vocês também. Sempre me desculpem.
Então, na próxima vez, nos encontramos em R.A.M. II... se possível, ficarei feliz (risos).
Com respeito,
Yoshida Sunao
<< Anterior - Índice R.O.M. II- Próximo>>
Roteiro de Leitura (。•̀ᴗ-)✧!
Olá, pessoal! Lutie, novamente aqui.
E chegamos ao fim de mais um volume. Quem diria, não?
O próximo volume será R.A.M. II e estou pensando seriamente em fazer uma pequena pausa nesse mês de agosto, mas qualquer coisa aviso com antencedência.
Gostaria de trazer mais algumas coisas sobre TB aqui, mas estou com dificuldades (como sempre) de manter a programação em dia.
Obrigado quem acompanhou até aqui e até a próxima!
10 notes · View notes
trinitybloodbr · 1 month ago
Text
Tumblr media
Trinity Blood - Reborn on the Mars Volume II - Anjo das Areias Escaldantes ----------------- ⚠️ ESSA OBRA EM HIPÓTESE ALGUMA É DE MINHA AUTORIA. TRADUÇÃO REALIZADA DE FÃ PARA FÃS. NÃO REPUBLIQUE OU POSTE EM OUTRAS PLATAFORMAS SEM AUTORIZAÇÃO. SE CASO POSSÍVEL, DÊ SUPORTE AOS AUTORES E ARTISTAS COMPRANDO AS OBRAS ORIGINAIS. ⚠️ -----------------
Não sabe por onde começar? Confira o Roteiro de Leitura (。•̀ᴗ-)✧!!!
Epílogo: A Emissária ao Império
──Ó portas, gritai em agonia.
Ó cidade, clama por socorro.
Que o povo inteiro trema.
Pois há alguém vindo do norte, levantando nuvens de poeira.
(Isaías, capítulo 14, versículo 31 – Versão Japonesa)
Quando terminaram de acertar os detalhes da rota de entrada do emissário na capital imperial Bizâncio, o sol já havia se posto além do deserto.
Caterina deu uma leve tosse e, então, abriu a janela para o garoto deitado na cama. O ar do lado de fora ainda trazia consigo um pouco da poeira do deserto, mas mesmo assim, a brisa carregava o cheiro refrescante do Mediterrâneo.
— Mas, de acordo com o relatório dos meus subordinados, fico aliviada em ver que o estado de saúde do Conde está melhor do que eu imaginava.
— Graças aos primeiros socorros do Padre Tres.
Com a mão enfaixada, Ion apontou para o homem de óculos espelhados que permanecia de pé num canto do quarto, e sorriu.
— A luz solar direta é fatal para nós. Sem a intervenção dele, essas queimaduras não teriam sido tão leves... A propósito, Cardeal Sforza...
Sob as bandagens que lhe cobriam o rosto, percebeu-se uma mudança de expressão.
— E depois disso... Radu? Encontraram o corpo dele?
— Continuamos a busca, mas até agora... talvez tenha sido levado pela corrente.
Franzindo as finas sobrancelhas, Caterina balançou a cabeça.
Não, não era por compaixão a Ion. O Barão de Luxor, Radu Barvon, era considerado o responsável direto pelo descontrole da arma de Lost Technology em Cartago — a ativação de “Iblis”. E não somente isso. Apesar de ser um nobre do Império, havia suspeitas de que ele fosse membro de um grupo terrorista. Um grupo internacional que, há anos, vinha sendo perseguido por Caterina e a Seção Especial de Operações — embora, até hoje, nunca tivessem sido detectados atuando dentro do Império. E se, além da sociedade humana, eles também tivessem fincado raízes na dos vampiros──
— Continuaremos com a busca pelo corpo através das autoridades de Cartago. Pode ficar tranquilo.
— Agradeço a cooperação... Assim que voltar ao meu país, também pretendo investigar essa tal 'Ordem dos Cavaleiros' de que você falou.
— Quanto aos preparativos para o retorno do Conde ao seu país devem estar concluídos dentro de uma semana. Quanto à viagem até o território principal do imperial, com certeza, nós mesmos iremos escoltá-lo com segurança, portanto, não se preocupe.
Enquanto apertava de volta a pequena mão estendida a ela, Caterina compôs um sorriso tranquilizador. Mas, ao soltá-la, seu rosto assumiu por um instante uma expressão de quem acabara de se lembrar de algo.
— A propósito, quanto à emissária que enviaremos ao Império... tem certeza de que está tudo bem? Que seja ela?
— .........
Ion respondeu à pergunta com um sorriso satisfeito. Seus olhos estavam voltados para o pátio interno, já tomado pela escuridão.
O pátio estava repleto de gente. Aos cidadãos que haviam perdido suas casas na tempestade de areia, Caterina havia aberto a embaixada como abrigo. Em meio as pessoas que se movimentavam entre as tendas, Ion lançou um olhar caloroso à freira ruiva que carregava cobertores de distribuição ao lado de um padre alto.
— Se não for ela, não terá serventia.
------------------------------------------------
— Essas pessoas vão ficar bem... daqui pra frente?
Ao ver os refugiados que lotavam o pátio interno, o padre de óculos redondos soltou um suspiro. Seu olhar, voltado para uma idosa encolhida sem forças sobre o chão de pedra, refletia uma preocupação profunda, como se fosse algo a respeito dele mesmo.
— Imagino que seja difícil. Mas eu acredito que vai ficar tudo bem.
Quem respondeu com firmeza foi a freira ruiva que caminhava ao lado dele. Mesmo carregando uma manta nos braços, seus passos mantinham um ritmo firme, e seus olhos azul-dourados lançavam às pessoas um olhar gentil, mas com um intenso brilho.
— Acredito que perder a casa e os bens deve ter sido muito doloroso. Mas essas pessoas conseguiram não perder o que há de mais importante. Enquanto tiverem isso, poderão recomeçar quantas vezes forem necessárias.
À frente do olhar de Esther, a senhora idosa, encolhida no chão, acabava de receber uma tigela de mingau ralo trazida com passos cautelosos por um menino e uma menina ainda muito novos. Provavelmente seriam seus netos. A velhinha, ao receber a tigela, agradeceu com alegria e começou a sorver o mingau com sua boca desdentada.
— Família, amigos, companheiros... Se alguém estiver ao seu lado, de alguma maneira, conseguimos suportar até os momentos mais difíceis. E ainda mais, se essa pessoa se preocupa verdadeiramente conosco.
Esther observava com um brilho nos olhos a senhora idosa que levava à boca com gosto sua refeição simples junto de seus netos.
— Quando há alguém ao seu lado que se preocupa com você, as pessoas conseguem se tornar surpreendentemente fortes... De fato, foi assim comigo.
— ...Me sinto envergonhado.
Com um ar fingido, o padre passou os dedos pela franja enquanto fungava com o nariz. Esther o fitou de baixo para cima, com uma expressão curiosa.
— Por que o senhor Padre está envergonhado?
— Bem, você também tem alguém assim por perto, não é, Esther-san? Alguém que se preocupa com você.
Diante de tamanha tolice presunçosa, Esther escolheu não retrucar.
— De fato, tem alguém assim perto de mim também... Sim, como Sua Eminência Sforza, por exemplo.
— Quero dizer, não tem mais alguém? Veja bem, alguém ainda mais próximo.
Diante dos olhos do padre, que pareciam querer dizer algo, a freira apenas respondeu com uma expressão confusa.
— Irmã Kate? Ah, sim, estou sempre recebendo a ajuda dela, de verdade.
— Não, pense bem, por favor? Alguém mais próximo, mais confiável... olha, não está esquecendo?
Enquanto Abel contraia os lábios, inquieto, a freira juntou as mãos com uma seriedade fingida.
— Ah! O Padre Tres é realmente uma pessoa maravilhosa, não é...? O que está fazendo, Padre?
O padre, encolhido sobre o chão de pedra, começou a desenhar círculos (em forma de の(no)) enquanto murmurava com uma voz sombria:
— Ó Senhor, minha vida não teve nada de bom. Minha superior me explora, minha carteira está sempre vazia, e meus colegas vivem me maltratando...
Esther lançou um suspiro exageradamente dramático enquanto observava de cima para baixo aquelas costas, envolta em melancolia. Contudo, seus lábios tremiam levemente, enquanto lutava com todas as forças para não explodir em risos.
Sim, por mais abatido que esteja, por mais que desespere diante de seus pecados, o ser humano ainda pode recomeçar a caminhar. Enquanto houver alguém que o observe, com certeza ele poderá seguir em frente ──
 — Vamos lá, vamos lá, não fique aí emburrado como uma criança. Se o senhor Padre me mostrar que está mesmo trabalhando direitinho, talvez... só talvez, eu até mude de ideia.
Esther colocou um cobertor sobre a cabeça do padre, que murmurava enquanto ainda rabiscava círculos no chão, e deu uma risada travessa.
-------------------------------------------------
Assim que o manto da noite caiu, luzes cálidas começaram a surgir pela antiga cidade (Medina).
As marcas do pânico de três dias atrás ainda permaneciam — tanto nas construções quanto nas pessoas. Mas os seres humanos são criaturas surpreendentemente resilientes. Mesmo esse desastre terrível, ainda tão vívido, não levará muitos meses para afundar no fundo das memórias e histórias antigas.
— Capitão, o carregamento especial já foi embarcado?
Como uma criança que se cansou de um brinquedo e o abandonou, o jovem afastou os olhos dos binóculos, que mantinha voltados para as luzes cintilantes da cidade ao longe, do outro lado do cais. Seu rosto pálido e belo, que fazia lembrar um anjo, voltou-se para o homem de meia-idade ao seu lado.
— O cronograma está apertado. Se pudermos zarpar antes do previsto, melhor ainda, não acha?
— Terminamos há exatos cento e trinta segundos, Comandante.
Batendo os calcanhares das botas militares com uma precisão tipicamente marcial, o homem de meia-idade prestou uma reverência cerimoniosa.
— Assim que recebermos a ordem, esta embarcação poderá zarpar a qualquer momento.
— Muito bem. Então, acho que já está na hora de nos retirarmos.
— Jawohl! (Às ordens!)
O homem de meia-idade, que voltou a prestar continência, pegou o microfone à sua frente e, com um gesto habitual, acionou o interruptor.
— Aqui é o Capitão. A partir deste momento, esta nave partirá. Todos aos seus postos!
De repente, o ambiente ao redor se tornou agitado.
O casco estreito da embarcação, que fazia lembrar um tubarão devorador de homens afundado no mar noturno ── de sua torre de comando, que se erguia como uma barbatana dorsal, partiu o som agudo e incômodo de um sino. Os canhões antiaéreos foram recolhidos sob o convés, enquanto as válvulas de exaustão e as entradas de ar se fechavam com um estalido. Assim que o som grave do motor a diesel cessou, o motor elétrico de duplo fluxo começou a zumbir, como o bater de asas de um inseto.
Enquanto inúmeros comandos e relatórios se cruzavam, o segundo oficial gritou do centro de comando da nave, olhando para a torre de comando.
— Todos os instrumentos operando normalmente. Despressurização finalizada — Capitão, Sea-Wolf, pronto para zarpar!
— Entendido... Tenente-coronel, Comandante Lohengrin, por favor, embarque. Esta embarcação mergulhará agora até a profundidade trinta. Em seguida, deixaremos as águas territoriais de Cartago em segunda velocidade de combate.
— Entendi... Ah, é verdade. A propósito, Capitão — trate aquela carga especial com todo o cuidado, sim?
Enquanto o jovem atravessava a escotilha do posto de comando, um brilho travesso reluziu em seus olhos marrom avermelhados cor de cobre.
— Precisamos que ele tenha uma atuação de destaque na próxima operação também, não é?
Como que a fim de abafar a voz que soltava uma risada contida, o som das ondas batendo contra o casco do navio aumentou repentinamente. O casco de aço havia começado a expelir o ar comprimido que servia como sua força de flutuação.
O " Sea-Wolf " (Lobo do Mar) — o veloz submarino (U-Boot), orgulho da Marinha do Reino Germânico — fez ecoar o agudo som de sua turbina e, com ele, começou a traçar sua trilha sinistra rumo às profundezas sombrias do oceano.
Tumblr media
<< Anterior- Índice R.O.M. II - Próximo>>
Roteiro de Leitura (。•̀ᴗ-)✧!
Créditos da tradução:
Lutie (◕‿◕✿)
6 notes · View notes
trinitybloodbr · 1 month ago
Text
Tumblr media
Trinity Blood - Reborn on the Mars Volume II - Anjo das Areias Escaldantes ----------------- ⚠️ ESSA OBRA EM HIPÓTESE ALGUMA É DE MINHA AUTORIA. TRADUÇÃO REALIZADA DE FÃ PARA FÃS. NÃO REPUBLIQUE OU POSTE EM OUTRAS PLATAFORMAS SEM AUTORIZAÇÃO. SE CASO POSSÍVEL, DÊ SUPORTE AOS AUTORES E ARTISTAS COMPRANDO AS OBRAS ORIGINAIS. ⚠️ -----------------
Não sabe por onde começar? Confira o Roteiro de Leitura (。•̀ᴗ-)✧!!!
Capítulo 4: Anjo das Areias Escaldantes
O objeto em forma de cone lançado pelo invasor atingiu em cheio o peito do autômato de caça que se agarrava ao flanco de Abel. Sem diminuir a velocidade, seguiu em linha reta como se o estivesse erguendo, e colidiu contra a parede. No instante seguinte, explodiu com um estrondo ensurdecedor.
Mesmo sendo vampiros, ainda possuem pontos fracos. O tronco encefálico, as vértebras cervicais, o coração — todos igualmente. E se todos fossem destruídos de uma só vez, não haveria chance alguma de ressurreição.
As duas criaturas restantes também já haviam saltado para longe do padre naquele instante. Mesmo não possuindo inteligência, pareciam entender que o companheiro havia sido abatido num instante. Mantendo a distância, avaliavam o alcance, em alerta.
No entanto, Abel não estava em condições de prestar atenção àquelas sujeitos.
— Esther... san?
Sem sequer limpar o sangue que escorria de sua batina, o padre moveu os lábios, atônito.
Diante dele estava uma pequena freira que ele conhecia muito bem. As vestes branca e azul pareciam estranhamente belas em uma escuridão como aquela. Contudo, o que ela segurava nas mãos era um Panzerfaust — um tubo lançador de foguetes antitanque descartável — que ainda soltava fumaça.
— O senhor está bem, Padre?
Ao jogar fora o Panzerfaust usado, Esther correu até o padre que ainda estava caído. Em seu rosto, ao se inclinar sobre Abel, havia uma expressão de preocupação.
— Está ferido? Consegue se levantar?
— A-ah, sim, acho que sim...
— Que bom...
Ao ver Abel se levantar cambaleando, Esther relaxou a expressão, como se aliviada. Mas foi apenas por um instante. Forçando os lábios que haviam começado a relaxar a se fecharem com firmeza, a garota encarou o rosto dele, que estava quase duas cabeças acima do seu.
— Mais importante, Padre, o que exatamente está fazendo?!
— Si... Sim?!
— Não me venha com “Sim?!”!
Esther, com as mãos na cintura, olhava para Abel, que, por reflexo, assumira uma postura rígida e imóvel.
— Já terminou o seu trabalho? Pelo que percebi parece que tem bastante tempo livre, já que estava se divertindo com aqueles caras.
— N-não, na verdade... ainda não...
— Sabia... Francamente. Se tirar os olhos por um instante, imediatamente olha só no que dá.
— M-me desculpe.
— Dispenso. Não precisa se desculpar toda hora.
Esther ergueu o dedo diante dos olhos de Abel e, com uma expressão como se estivesse irritada, ordenou:
— Antes de mais nada, vamos acabar logo com o trabalho. Eu também vou ajudar, então.
— S-sim. Ah, mas...
— “Mas...”? O que é esse “mas”?
Será que isso estava certo?
Alguém como ele poderia mesmo aceitar a ajuda dessa garota?
Ele próprio era um monstro. Um pecador. Um amaldiçoado. Ainda antes, bem diante dos olhos dela...
— Ah, sim, tem algo que esqueci de dizer.
Desviando o olhar de Abel, que permanecia calado com uma expressão sombria, Esther abriu a boca como se, de repente, tivesse se lembrado de algo.
— Eu vim correndo atrás do senhor porque há algo que preciso muito dizer, Padre.
— ...Hã?
Algo que precisa dizer?
O que será?
Sem dar atenção nem mesmo a existência do contador no monitor que marcava o tempo, nem aos caçadores que espreitavam ao redor, Esther declarou em voz alta, com as costas ainda voltadas para o padre, que permanecia ali parado sem reação, boquiaberto.
— Falando claramente: eu não tenho medo, nem um pouco que seja, de uma pessoa lamentável como você!
— ...Hã?
Com as palavras inesperadas, Abel fez uma cara parecendo estar surpreso. Virando-se para ele com um expressão emburrada, Esther afirmou com firmeza, como se fosse até mesmo uma declaração de guerra.
— Isso mesmo. Eu não tenho nem um pouquinho, absolutamente nenhum medo de alguém como você... Foi só pra dizer isso que eu vim. Haa... que alívio!
— ...........
Enquanto observava a garota, que suspirava parecendo aliviada após dizer tudo o que queria, no rosto do padre se formou uma expressão que misturava riso e choro.
— Hum... Esther-san...
— Sim?
A jovem retribuiu o olhar com estranheza ao padre que lhe dirigia a palavra com tanta seriedade. Em resposta, Abel inclinou profundamente a cabeça em direção a ela.
— Obrigado... de verdade.
— Se tem tempo pra ficar dizendo esse tipo de coisa...!
A menina fez um beicinho como se estivesse zangada. Apontando para as sombras de casacos que se aproximavam lentamente ao redor, ela disse:
— Por favor, acabe logo com esses sujeitos e termine seu trabalho... Eu também irei ajudá-lo.
— Si-sim! Entendido...
O padre assentiu vigorosamente, e com agilidade girou a mão.
— Feito!
No instante seguinte, o autômato de caça, que estava prestes a saltar sobre Esther, foi atingido no abdômen e lançado para longe.
— ...Esther-san, deixe esses caras comigo!
Abel gritou, lançando um olhar fulminante à silhueta de sobretudo negro que mesmo tendo sido arremessado contra a parede, se levantava novamente como se nada tivesse acontecido.
— Em troca, vou pedir que você desligue essa inteligência artificial elétrica!
— Isso aqui? Mas, uma amadora como eu pode fazer algo a respeito disso?
— Se não for você, não poderá ser feito! Não temos tempo para explicações detalhadas! De qualquer forma, sente-se aí!
Embora estivessem atentos ao cano da arma, os autômatos de caça tentavam encurtar a distância lentamente, porém firmes. Sentindo pelas costas que a garota havia se sentado diante do console de controle, Abel continuou a dar instruções.
— Primeiro, por favor, coloque a mão naquele ponto levemente brilhante à direita!
— Hum... seria esse aqui?
No momento em que Esther tocou o local indicado, nos monitores, que até então pareciam congelados, começaram a dançar novos caracteres.
— Padre! Meio que, apareceram um monte de números esquisitos, era isso mesmo?
— É isso mesmo! Digite eles no teclado agora!
Abel lançou um olhar rápido por cima do ombro e confirmou o amontoado de números. Aquilo era mesmo o código de desligamento.
— Tudo! Sem deixar escapar nem um único caractere! Mantenha a calma para não errar! Mas seja rápida!
— En-entendido!
Já eram quatro e cinquenta e oito. E os números apresentados como códigos de parada pareciam ser em demasia... Será que conseguiriam a tempo?
— Eu vou conseguir a tempo!
— Por favor, faça isso!
Virando as costas para a garota que havia começado a lutar ferozmente com o teclado, Abel voltou seu olhar para os inimigos. A essa altura, tudo o que podia fazer era deixar o resto com ela. Sua missão era garantir a segurança dela.
Os olhos das figuras de casaco preto que se aproximavam lentamente não estavam voltados para o padre, mas sim para Esther, atrás dele. Eles também haviam percebido o que estava acontecendo ali — que esperança e desespero estavam se enfrentando, bem diante de seus olhos. E que a chave capaz de inclinar a balança para um dos lados não estava nas mãos do padre, mas sim nas da jovem.
— Não permitirei que toquem nela ── seu oponente sou eu!
Com essa declaração firme, Abel largou a arma.
No instante seguinte, seus olhos se tingiram de um vermelho vívido.
— Nanomachine “Crusnik 02” – ativação limitada a 40%: aprovada!
No instante seguinte, o ar escuro ao redor ferveu.
Um raio negro soltou um rugido enquanto disparava para o alto — O braço direito do autômato de caça saltou em direção ao teto, traçando um fio vermelho consigo, ao ser lançado contra ele com força.
〈..........!?〉
Nos olhos cobertos por uma membrana como os de um peixe morto, surgiu, ainda que levemente, uma matiz semelhante a confusão — se falássemos em termos humanos. E ao recuar mantendo a distância, com certeza foi por estar em alerta com a súbita elevação no poder de combate do oponente.
— Me compadeço de vocês, que mesmo após a morte, ainda assim não foi lhes concedido o descanso. Mas ainda assim...
Na mão do padre, que declarou friamente, surgiu sabe-se lá de onde uma grande foice de duas lâminas. Sem sequer olhar para trás, Abel a fez girar no ar.
— Não posso me permitir pegar leve!
Naquele instante, um dos autômatos de caça que havia saltado pelas costas, teve o tronco cortado ao meio e foi lançado contra o chão. Com o coração completamente destruído, mesmo esse soldado morto-vivo, cessou suas atividades para sempre. Nesse mesmo instante, a lâmina oposta à que o havia cortado, golpeava de lado outra sombra que caía do teto. Contudo, desta vez, com um som metálico agudo — foi repelido pela adaga na mão dele.
Como polos iguais de dois ímãs, os dois vultos repeliram violentamente um ao outro, afastando-se. No instante seguinte, como se um dos polos tivesse se invertido — ou como se um elástico esticado entre eles tivesse encolhido de repente — em direção um ao outro, colidiram de frente com violência.
〈......................!!〉
Foi o vampiro morto que abriu a cavidade bucal tingida de sangue e soltou um rugido selvagem. Em sua direção, um vento cor de trevas sussurrou suavemente.
— Senhor, perdoa os meus pecados (Deus, concede mihi culpam in nomine).... Concede-me a oportunidade da redenção (Dona mihi permissum satisfacere)...
Este poder, amaldiçoado por toda a eternidade. A existência abominável e repugnante que se alojou em seu corpo ── e ainda assim, essa "maldição" lançada sobre ele era a única força que, agora, o tornava capaz de proteger o que lhe era precioso e expiar seus pecados.
— Pó ao pó, cinzas às cinzas, terra à terra (Pulvis pulverim fieri, cinis cinem fieri, terra terram fieri.) — Amém!
No instante do choque, o sangue em jato tingiu o teto de vermelho vivo. A carcaça do autômato de caça, partido ao meio desde o alto da cabeça, foi lançada ao chão com um baque úmido.
Bem nesse momento, atrás dele, Esther — que travava um combate contra o teclado — soltou um grito.
— Padre, terminei de digitar! O horário é... quatro e cinquenta e nove!
— Deixe-me ver.
Ainda empunhando a enorme foice, Abel correu até o console. Espreitou o monitor por cima do ombro da garota. Ali, uma quantidade imensa de números brilhava como luz.
— Certo... agora, só falta inserir isto...
Abel estendeu a mão em direção à tecla ‘Enter’ do teclado. Bastava inserir aquele código de parada, e o sistema seria imediatamente desativado. O fornecimento de energia para Iblis também seria cortado, e aquela tempestade de areia deveria desaparecer no mesmo instante.
Mas foi então que Abel percebeu algo: alguém o observava fixamente. Esther estava ali, olhando para ele em silêncio.
— Ah...
Os lábios do padre estremeceram ligeiramente. Ele se deu conta de que ainda não havia desativado a atividade do Crusnik. Com os olhos vermelhos, as presas longas — e o corpo inteiro banhado pelo sangue do inimigo, aquela forma monstruosa estava sendo mostrada a ela...
— Está tudo bem, Padre.
Mas Esther abriu a boca com serenidade. Seus olhos estavam fixos em Abel, que abaixava o rosto como se envergonhado de si mesmo. Sobre a mão do padre, que permanecia imóvel como se congelada sobre a tecla Enter, repousou suavemente uma palma delicada.
— Eu disse, não foi? Que eu não tenho medo de alguém como você. Nem um pouco.
Ao declarar com orgulho, a garota pressionou suavemente suas mãos sobrepostas sobre a tecla.
Tumblr media
<< Anterior- Índice R.O.M. II - Próximo>>
Roteiro de Leitura (。•̀ᴗ-)✧!
Créditos da tradução:
Lutie (◕‿◕✿)
11 notes · View notes
trinitybloodbr · 2 months ago
Text
Tumblr media
Trinity Blood - Reborn on the Mars Volume II - Anjo das Areias Escaldantes ----------------- ⚠️ ESSA OBRA EM HIPÓTESE ALGUMA É DE MINHA AUTORIA. TRADUÇÃO REALIZADA DE FÃ PARA FÃS. NÃO REPUBLIQUE OU POSTE EM OUTRAS PLATAFORMAS SEM AUTORIZAÇÃO. SE CASO POSSÍVEL, DÊ SUPORTE AOS AUTORES E ARTISTAS COMPRANDO AS OBRAS ORIGINAIS. ⚠️ -----------------
Não sabe por onde começar? Confira o Roteiro de Leitura (。•̀ᴗ-)✧!!!
Capítulo 4: Anjo das Areias Escaldantes
— O que diabos são essas criaturas?!
Mesmo gritando, ele flexionou o pulso com agilidade contra ao ataque do inimigo que avançava. O fato de ter contra-atacado era como esperado. O título de 'Cavaleiro da Ruína — Il Ruinante’ — não era apenas mera ostentação.
Porém, nesse caso, o adversário era formidável. O homem de sobretudo desviou o corpo com um mínimo de movimento, esquivando-se com uma margem de erro de apenas alguns milímetros do golpe da maça de guerra que rugia. A arma, que seria mortal caso acertasse o alvo, mesmo assim, mal arranhou a máscara de gás. E então, a maça de guerra que foi desferida para baixo, acertou o piso em vão. Se fosse no solo, teria absorvido o impacto com firmeza. No entanto, mesmo com dureza equivalente à do metal, o balão de gás do dirigível — feito de fibra à prova de balas — rebateu a maça de guerra que foi lançada com uma resistência estranha. O corpo do "Cavaleiro da Ruína — Il Ruinante" cambaleou à frente por um instante.
— Às quatro horas, Irmão Petros.
Em resposta à voz monótona, Petros desferiu sua arma diagonalmente para trás à direita. Sua maça de guerra se entrelaçou com o machado que o autômato de caça havia brandido por trás, soltando um ruído estridente.
— Sou grato, Padre Tres! Agradeço por isso!
— Negative ── consegue me ouvir, Iron Maiden?
O padre cego recuou um passo, levemente. A lâmina de um machado de batalha passou de raspão por sua batina. Sem nem olhar naquela direção, Tres apertou o gatilho naturalmente. O homem de sobretudo, com a cabeça estourada, traçou um rastro vermelho ao despencar rumo à cidade muito abaixo.
— Responda, Iron Maiden. Ainda não terminou o “hacking” no Raguel?
〈Só mais um pouco... Só mais um pouco, Gunslinger.〉
A interferência de sinal era extremamente forte. O corpo da Iron Maiden II pairava a apenas cinco metros sobre o balão de gás do Raguel, onde esse confronto estava sendo travado. Uma distância em que parecia ser possível alcançar com as mãos, e ainda assim, a voz de Kate que saía pelos auriculares vinha misturada a um ruído intenso.
〈Não sei quem foi que projetou o vírus, mas parece ser alguém muito habilidoso... Só mais um momentinho, por favor.〉
— Apresse-se. Deixe a mim e o Irmão Petros de lado, entretanto...
O cavaleiro, soltando um grito de guerra, acabara de esmagar o terceiro dos autômatos de caça — restavam agora cinco. Enquanto cravava uma bala bem no centro da testa do quarto, que havia saltado sobre sua cabeça, Tres voltou seu olhar invisível na direção da proa da nave.
— O combate daquele lado, dadas as circunstâncias, está em uma situação desfavorável.
Na ponta do balão, uma pequena silhueta brandia um florete, enquanto rugia.
— ...Radu!
No instante em que os pés esguios chutaram o balão de ar, a sombra já havia se aproximava perigosamente do inimigo à sua frente como em um salto de quadro em câmera truncada. Um único golpe relampejante cortou de lado, e fios de cabelos azuis dançaram ao vento da noite.
Mas, naquele mesmo momento, o jovem com olheiras e um sorriso irônico já havia contornado para o ponto cego de Ion. Em ambas as mãos dele, acendia-se o brilho pálido-azulado do napalm.
— Tsc!
Guiando-se apenas pelo instinto, a espada de Ion foi brandida e derrubou as bolas de fogo uma após outra. Mas aquilo não passava de uma distração. A figura do Ifrit, o demônio flamejante, que havia desaparecido como uma ilusão, ressurgiu atrás do garoto. Instintivamente, Ion tentou se lançar para o lado, mas...
— Parece que ainda não está em plena forma.
Uma mão se estendeu com um sorriso de escárnio e agarrou o ombros delicado. O cheiro de carne queimada se espalhou pela escuridão. Dos lábios do orgulhoso nobre imperial (Boyere), escapou um grito de dor tão alto que fazia qualquer um querer tapar os ouvidos.
— Hum...! Isso não é bom!
O grito de dor de Ion fez com que o Irmão Petros se virasse — e, por um instante, sua concentração foi rompida.
— Negative — concentre-se, Irmão Petros! Às seis horas!
No momento em que Tres emitiu seu alerta após destroçar o sétimo coração com um golpe de mão perfurante, a lâmina de um machado de batalha foi projetada por trás, acertando as costas de Petros. Até mesmo o “Cavaleiro da Ruína — o Il Ruinante —”, soltando um breve grunhido de dor, tropeçou desajeitadamente. Desequilibrado, seu corpo caiu, rolando pela borda inclinada do balão de ar.
Seguindo Petros, Tres também escorregou. Enquanto deslizava em perseguição sobre a superfície do balão, atirou no autômato de combate que havia atacado as costas de Petros — e aquele era o último deles. No momento em que o corpo decapitado despencava sobre a cidade, Tres agarrou por pouco o pescoço de Petros, que quase caía junto. A outra mão, que havia largado a pistola, segurava com dificuldade a borda do balão.
No entanto...
— Parece que seus companheiros não têm como te ajudar.
Enquanto aumentava a força da mão que agarrava o ombro de Ion, Radu riu sombriamente. O garoto se debatia com desespero, lutando contra a morte, mas os dedos como um torno de ferro, afundavam até os ossos e não se soltavam.
— P-Por quê, Radu...?
Uma voz fraca escapou por entre os dentes cerrados.
— Por que... tu me traíste...?
— Eu te disse, não disse? Você me incomodava, Ion Fortuna.
Por alguma razão, o sorriso do homem que respondia parecia que estava chorando.
— Favorito de Sua Majestade, um grande nobre de linhagem ilustre... Sua existência era ofuscante demais para mim. Por isso, em meio ao desespero, eu quis te matar da forma mais miserável possível. Só isso.
— Isso não é verdade... Radu, não minta para mim.
Mesmo com a carne sendo queimada, Ion não se calava.
— Há quantas décadas você acha que estamos juntos? Acha mesmo que eu cairia numa mentira tão tola? Você está mentindo. Quanto aos outros, tudo bem... mas não ache que pode enganar a mim.
— Mentira...? Eu não estou mentindo.
Que emoção foi aquela que oscilou por trás do sorriso que mais parecia uma máscara? Com arrogância, Radu intencionalmente disse com desdém:
— Eu não gosto de você. Por isso quis humilhá-lo. Apenas isso.
— Não, isso não é verdade! Se queria me humilhar, então por que tentou fazer com que aquela terran me matasse naquela mansão?! Por que não tentou me matar com suas próprias mãos?! Se ao menos não tivesse armado uma encenação tão elaborada, você poderia ter me matado com facilidade!
— .........
Pela primeira vez, o sorriso desapareceu do rosto do demônio flamejante Ifrit. Os lábios, que antes exibiam um sorriso cínico, se fecharam firmemente, enquanto a tensão percorria suas bochechas encovadas — mesmo com o rosto distorcido pela dor lancinante, Ion ainda assim implorou.
— Reconsidere, Radu! Ainda dá tempo — por ora, eu posso guardar todo este incidente apenas dentro do meu peito! Reconsidere e interrompa o 'Iblis'! Por favor, meu amigo, Tovarăș! Eu não quero mais lutar contra você!
No instante em que a palavra ‘meu amigo’ escapou dos lábios de Ion, um suspiro áspero escapou da boca de Radu.
— ...Isso eu não posso fazer, Ion.
No momento em que seu rosto se contorceu como se fosse o de outra pessoa, o que surgiu ali foi uma fúria intensa — e, ao mesmo tempo, uma profunda tristeza insondável.
— Como se fosse possível voltar agora... Não tem como! Ion, você vai morrer aqui. E a cidade desses desprezíveis terrans também logo vai afundar sob a areia! É isso mesmo — eu já passei do ponto de retorno!
— Radu! Seu cabeça-dura!
No instante seguinte, uma nuvem de sangue se ergueu entre os dois Methuselahs.
Na mão de Radu, havia um pedaço de carne ensanguentado. Contudo, ele permaneceu parado, com os olhos escancarados de espanto. Em um golpe perfurante, a mão de Ion — que arrancara a própria carne do ombro ao girar o corpo — havia transpassado o peito de Radu.
Tumblr media
— Kuh... hah!
— Teu coração está em minhas mãos...!
Ao se contorcer, parece que acabou ferindo parte da artéria carótida. Lutando desesperadamente para não perder a consciência que estava começando a se esvair por causa da hemorragia intensa, Ion sussurrou. Pelo fato da carne ter sido queimada, o sangramento estava sendo contido mais do que o esperado, e também, era um alívio em meio ao infortúnio, a dor lancinante está, pelo contrário, ajudando a manter sua consciência.
— Radu, detenha o Iblis!
Ion gritou, com voz fraca.
— Faça-o parar — ainda dá tempo!
— Infelizmente...
Com sangue escorrendo pelo canto dos lábios, o Ifrit ferido soltou uma risada.
— Aquilo não é da minha alçada, Ion.
— O quê?!
— Aquele que pôs aquilo em movimento é outro. E eu... não posso detê-lo. Apesar de mesmo ter se esforçado e arriscado a vida... me desculpe por não corresponder às suas expectativas. Ao menos... vamos cair no inferno juntos, meu amigo?
O demônio das chamas, o Ifrit, estendeu a mão mais uma vez em direção ao garoto. Suas mãos queimando intensamente se abriram, como se fosse abraçar o pequeno corpo...
Foi naquele momento...
O encouraçado aéreo cinzento Raguel, que até então permanecia imóvel como se estivesse morto, soltou um rugido feroz que fez estremecer todo o seu corpo.
— Humph! Reconfiguraram a inteligência elétrica... Mas já é tarde demais. Agora não importa mais o que façam, é inútil.
Radu sorriu sarcástico do alto da bolsa de gás do encouraçado aéreo, que começara a avançar em disparada.
Sim — não importava mais o que fizessem agora, tudo já está perdido. Lançando o olhar para baixo novamente, com um sorriso sombrio nos lábios, fitou o garoto que arfava com dificuldade dentro de sua própria sombra.
...Uma sombra!?
Somente então, que Radu finalmente percebeu que sua própria sombra estava nitidamente cravada em negro sobre o balão de ar.
— Maldição... esta nave está...
Radu virou o pescoço rapidamente, como se tivesse levado um choque. Olhou por sobre o ombro, na direção para onde Raguel avançava.
O que se estendia imerso naquela penumbra azulada, estava o mar do leste.
E então, surgindo além da linha do horizonte...
— Está amanhecendo......!
No instante seguinte, a radiação direta de luz ultravioleta, sem nada que o bloqueasse, caiu sobre o Methuselah ferido. A primeira luz solar do dia, que chegou um pouco antes à superfície, fez com que todos os seus bacilos entrassem em ebulição, soltando um grito silencioso de dor.
— ........!!
Com um grito que não chegou a se tornar voz, Radu arranhou o próprio pescoço com força. Suas mãos já estavam cobertas por bolhas horrendas. Os bacilos, cuja atividade fora anormalmente acelerada, pelo efeito dos raios ultravioleta, começaram a devorar, indiscriminadamente, as células do corpo do hospedeiro. As bolhas, surgindo primeiro nas partes expostas da pele, começaram a se espalhar por todo o corpo do demônio flamejante — o Ifrit.
— Ion...!
No meio da visão avermelhada e turva, Radu avistou outro Methuselah. O garoto também estava caído sobre o balão de ar, tendo seu corpo queimado vivo.
— Kuh...!
Cambaleando, o Methuselah de cabelos azuis estendeu a mão em direção ao garoto.
Com os braços cobertos por queloides, tomou uma postura como se fosse envolver o corpo de Ion em um abraço protetor.
Naquele exato instante, o corpo do Ifrit foi lançado para trás, como se tivesse sido atingido por um punho invisível.
No instante em que percebeu que havia sido atingido em cheio por uma maça com o tamanho de proporções humanas, Radu já estava cambaleando para trás em grandes passos. Logo em seguida, o que chegou voando até ele, foi uma chuva de balas, que foi descarregada sem piedade por todo o corpo ferido de Radu.
— ...........
Ao som de um tiro ecoando ao longe, Radu começou a cair lentamente em direção à superfície do mar. A última imagem que se refletiu em suas retinas que começavam a se dissolver foi a do inquisidor de heresias ainda na postura de quem acabara de lançar sua maça, gritando algo — e, ao lado dele, a figura de um pequeno padre correndo até seu Tovarăș, com a arma ainda erguida, soltando fumaça.
Quando viu a figura de cabelos azuis despencar no mar que começava a brilhar com uma luz branca, o soldado mecanizado já havia iniciado sua corrida feroz. O corpo do garoto ainda era sacudido por espasmos violentos.
— Iron Maiden, abaixe os cabos de aço!
Correndo, o padre pressionou o fone auricular. Ele deu uma ordem clara ao Iron Maiden II, que voava em paralelo no céu acima do Raguel.
— O dano sofrido pelo Conde de Memphis já está se aproximando de um nível letal. Iremos resgatá-lo agora. Preparem-se imediatamente para o tratamento!
Naquele instante, algo passou correndo ao lado de Tres. Quando os sensores auditivos do soldado mecanizado captaram o som, Irmão Petros, em estado de "Aceleração Haste", já havia surgido ao lado do vampiro ferido.
— Abra a escotilha, Irmã Kate!
Segurando nos braços o corpo já inconsciente de Ion, o inquisidor gritou. Com o sol às costas, protegeu o garoto da luz direta e gritou novamente:
— Se não nos apressarmos, o fedelho não vai resistir! Por que está aí parada?!
〈S-sim!〉
Uma voz feminina, como se estivesse sob pressão, soou no momento em que a escotilha de embarque começou a se abrir. Antes que ela pudesse se abrir completamente, os pés vigorosos de Petros já haviam se impulsionado contra o balão de ar. Em um piscar de olhos, seu corpo alto percorreu os cinco metros de distância, arremessando-se para dentro da escotilha.
〈E o Conde de Memphis!?〉
— Ele ainda está vivo. Se receber cuidados imediatamente, provavelmente sua vida poderá ser salva.
Em resposta à voz que ressoou pelos alto-falantes do compartimento de carga, Petros deitou suavemente o corpo do garoto no chão. Seu rosto estava pálido por causa do uso excessivo de estimulantes (boosters), mas sua voz não demonstrava o menor traço de cansaço.
Levantando-se mais uma vez, Petros murmurou como se falasse consigo mesmo:
— ...Muito bem. O inimigo dos meus subordinados, aquele demônio flamejante — Ifrit — foi finalmente derrotado. Em outras palavras, já não há mais razão para que eu continue cooperando com vocês... Estou certo?
— .... Positive.
Quem respondeu ao inquisidor, que havia se virado lentamente, foi uma pequena silhueta que acabava de passar pela escotilha. Sua mão estava pousada no coldre na altura da cintura. Com os ombros ligeiramente abaixados, pronto para sacar a M13 a qualquer momento, Tres declarou com uma voz monótona.
— Agradeço por sua cooperação, Irmão Petros.
— Então, a trégua termina aqui.
Com o rosto manchado de sangue e a expressão endurecida, Petros apontou a ponta do Screamer para o garoto caído no chão. Em sua expressão, não havia sequer um traço de compaixão ou piedade O inquisidor, com semblante severo, proclamou diante de Deus e dos pecadores:
— Eu, agora, exterminarei este vampiro. E logo depois, acusarei você e os demais hereges, incluindo Caterina Sforza, submetendo-os à Inquisição... Estão preparados para isso?
— ...........
Tres não respondeu nada em voz alta. Em vez disso, apenas apertou levemente a mão que segurava a empunhadura da arma.
No espaço de carga, que nem era assim tão amplo, uma eletrizante aura assassina começou a se espalhar...
— ...Pelo visto, o Padre Nightroad não chegou a tempo.
Quem quebrou o silêncio primeiro foi o inquisidor. Como se tivesse esquecido completamente tanto da presença do vampiro quanto do padre armado, virou-se para trás e estreitou os olhos com irritação na direção da escotilha, que permanecia aberta.
Além do mar, que estava na fronteira da noite e manhã, o que se via bem ao longe era o traçado urbano de Cartago, ainda envolto na penumbra que precede o amanhecer. E além disso, a tempestade amarela que se aproximava não dava sinais de enfraquecimento. Diante da tempestade de areia que ainda soprava com fúria, uma névoa amarelada já começava a se espalhar sobre a área da cidade.
— Esse tal de 'Iblis', ainda se aproxima... É uma pena, mas agora não é hora de lidar com hereges.
Quando disse isso, o Cavaleiro da Ruína — o ‘Il Ruinante’ — bufou com desagrado e se virou de costas. Ignorando tanto Ion quanto Tres, aproximou-se da escotilha.
— Irmão Petros?
O garoto que jazia no chão soltou um gemido fraco. Com os olhos enevoados, levantou o olhar, frágil, para a sombra do inquisidor. Observando-o de cima, Petros resfolegou com amargura.
— Em circunstâncias normais, eu deveria prender você e denunciar a Cardeal Sforza... Mas agora, o dever mais urgente de um apóstolos de Deus é o resgate dos cidadãos — O julgamento de vocês, malditos hereges, fica adiado para outra ocasião. Mais cedo ou mais tarde, eu mesmo, com minhas próprias mãos, lançarei todos vocês à fogueira.
Depois de cuspir tudo aquilo de uma vez, o Cavaleiro da Ruína — o (Il Ruinante — saltou pela escotilha rumo ao Raguel, que se estendia abaixo de seus pés.
<< Anterior- Índice R.O.M. II - Próximo>>
Roteiro de Leitura (。•̀ᴗ-)✧!
Créditos da tradução:
Lutie (◕‿◕✿)
6 notes · View notes
trinitybloodbr · 2 months ago
Text
Tumblr media
Trinity Blood - Reborn on the Mars Volume II - Anjo das Areias Escaldantes ----------------- ⚠️ ESSA OBRA EM HIPÓTESE ALGUMA É DE MINHA AUTORIA. TRADUÇÃO REALIZADA DE FÃ PARA FÃS. NÃO REPUBLIQUE OU POSTE EM OUTRAS PLATAFORMAS SEM AUTORIZAÇÃO. SE CASO POSSÍVEL, DÊ SUPORTE AOS AUTORES E ARTISTAS COMPRANDO AS OBRAS ORIGINAIS. ⚠️ -----------------
Não sabe por onde começar? Confira o Roteiro de Leitura (。•̀ᴗ-)✧!!!
Capítulo 4: Anjo das Areias Escaldantes
Bem no momento em que terminou de usar o décimo carregador, ele conseguiu destruir o último módulo de ataque antipessoal.
Ofegante, Abel olhou para o caminho por onde havia passado. À luz do reagente químico fluorescente que cobria as paredes, módulos de ferro semelhantes a cogumelos liberavam incontáveis colunas de fumaça. Espalhadas aqui e ali, centopeias mecânicas movidas por engrenagens eram, na verdade, droides de manutenção. Pelo visto, essa ruína estava funcional até bem pouco tempo atrás.
— Não... ou talvez alguém a tenha ressuscitado.
A etiqueta da garrafa de vinho vazia, jogada em um canto da parede, era As Lágrimas da Rainha (Damear el-Elyssa) — o mais refinado vinho de Cartago (Sadesa'ad).
Empurrando com um leve chute os destroços do módulo assassino, que ainda estendia na sua direção garras afiadas (manipuladores), Abel apoiou o pé no altar (zigurate) à sua frente. De sua lateral, dilacerada momentos antes, algo vermelho continuava a escorrer lentamente. Era como se, junto com o sangue, sua força também estivesse se esvaindo. Suas pernas, ao subir os degraus, pareciam excessivamente pesadas.
— Francamente... Por um ferimento tão pequeno, que lastimável... Mesmo eu sendo um monstro...
Se alguém ali o conhecesse, dificilmente acreditaria que aquele jovem de sorriso torto e expressão autodepreciativa fosse a mesma pessoa. Com passos cambaleantes como de um bêbado, quando terminou de subir até o topo da pirâmide escalonada — zigurate —, o rosto de Abel já estava completamente pálido.
— Consegue me ouvir, Sistema?
Ao alcançar o topo do altar (Zigurate), Abel sussurrou baixinho. Abriu a tampa do relógio de bolso e o colocou ao lado do console — 4h40. Ainda havia uma folga de vinte minutos. Talvez tenha se apressado demais.
— Sistema, qual é o modo de entrada atual? Solicito mudança para o modo de voz.
《Sistema de controle compreendido》
Uma voz suave, porém fria e inorgânica, respondeu à chamada.
《Usuário do sistema, por favor insira o comando. Adicionalmente, as tarefas em andamento continuarão sendo executadas em paralelo.》
A partir daqui, era apenas uma repetição do que ele já havia feito inúmeras vezes no passado. Abel recitou um encantamento.
— Solicito a transferência para o modo administrador do sistema. Meu código é...
《Nenhuma entrada de código necessária. Será realizada uma verificação de impressão palmar. Solicitamos ao administrador do sistema que coloque a mão direita sobre o console à sua frente.》
No canto do console, acendeu-se uma luz do tamanho de um caderno de anotações. Abel retirou as luvas e deslizou suavemente a mão direita até ela.
《Iniciando verificação... Concluída. Administrador identificado como: Tenente-Coronel, Comandante Abel Nightroad, Seção de Segurança do Departamento de Administração da Missão Red Mars, Força Aeroespacial das Nações Unidas. Registro confirmado: UNASF-94-8-RMOC-666-02ak》
Uma luz tênue começou a decorar o altar como se fosse uma árvore de natal. Ao afastar a mão do console, Abel retomou sua conversa com alguém invisível.
— Então, sistema, solicito a transição para o modo de administrador. Suspenda à força as tarefas atualmente em andamento. Após isso, o sistema deve se autodestruir.
《Aqui é o sistema. A transição para o modo administrador foi recusada. As credenciais inseridas não atendem os requisitos de autorização de administrador.》
— ...O quê?
Pela primeira vez, algo diferente do cansaço passou pelo rosto do padre de cabelos prateados. Até então recostado, como se estivesse exausto, ele se endireitou e encarou o console.
— Sistema, reconfirme a senha. Este deveria ser um passe de mais alto nível.
《Sistema, iniciando reconfirmação ── concluída. Aqui é o sistema: a transição para o modo administrador foi recusada. A senha inserida não atende os requisitos de administrador.》
— Impossível!
Uma expressão de inquietação surgiu no rosto de Abel. Seus dedos se moviam agilmente para cima e para baixo sobre o teclado. No entanto, o monitor à sua frente não exibia qualquer reação.
— Sistema, minha senha deveria ter acesso livre em todos os portais do RMP-net! Isso é impossível! Verifique novamente! E me informe cada passo da sequência de verificação!
《Sistema entendido. Iniciando sequência de verificação...》
— ...?
Por trás dos óculos redondos, os olhos azuis se estreitaram com desconfiança. De repente, a voz sintética havia silenciado.
— O que houve, sistema?
Será que travou?
No entanto, as demais funções continuavam operando normalmente. A contagem regressiva do sistema Iblis também seguia em andamento.
— Sistema, responda! Cancele a transição para o modo administrador...
《...existe.》
Era como se um rádio com mau contato de fiação tivesse sido, de repente, esbofeteado por uma mão invisível. A voz sintética, que voltou a falar com um tom monótono, teceu suas palavras com uma fluidez que fazia parecer mentira o problema anterior.
《Executando reprodução forçada do arquivo de vídeo》
— Reprodução forçada? Um vírus?
Abel soltou um estalo com a língua e estendeu a mão para o teclado...
< ...Bom dia, Abel.>
Uma voz gentil soou bem ao lado de seu ouvido.
Uma voz clara — que fazia lembrar a luz do sol refletida em branco na superfície de um riacho qualquer — Num claro dia de primavera, quando o céu parecia ao alto.
〈...Quatro e quarenta e oito. Para um dorminhoco como você, isso é bem cedo.〉
— .........
Como poderia se descrever a expressão que surgiu no rosto do jovem naquele momento? Como se estivesse prestes a chorar, e ao mesmo tempo como se estivesse prestes a gritar de raiva a qualquer momento. Não, talvez como uma criança esperando para ser repreendida. Um rosto enigmático, sendo todos esses ao mesmo tempo — e ainda assim, nenhum deles. Ele começou a estender a mão, mas de repente, como se tivesse desistido, a abaixou. Então, quando ergueu o rosto lentamente, havia ali uma mulher em pé.
Tumblr media
Em termos de idade, ela era talvez da mesma idade de Abel, ou um pouco mais velha. Seus cabelos presos lembravam o tom refinado de um chá preto avermelhado, e no rosto moreno, marcado por um ponto vermelho na testa — um bindi —, os olhos de uma cor misteriosa, brilhando em dourado sorriam timidamente com nostalgia. Por cima da camisa colada ao corpo, ela vestia uma peça de pano solto e fluido — um traje tradicional chamado sári, que há muito se perdera no tempo.
〈Ou será possível que você vai me dizer que passou a noite em claro? Agora que voltou para este planeta, é melhor ajustar de novo seu ritmo de vida para um ciclo de vinte e quatro horas.〉
— ...Estou cuidando disso direitinho. Não sou mais uma criança, sabe.
Com um leve constrangimento no rosto, Abel coçou o queixo. No entanto, seus olhos estavam pousados sobre o rosto dela, com uma certa nostalgia.
— Quantos anos você acha que já se passaram desde então, Lilith?
A mulher chamada Lilith — ou, mais precisamente, o holograma em forma de mulher — não respondeu nada.
Exceto por um programa primitivo de inteligência artificial que apenas mudava a saudação conforme o horário de ativação, aparentemente não havia nenhuma interface de interação humana instalada, como os simuladores de personalidade. O olhar da mulher, que sorria suavemente, nem mesmo se fixava no rosto de Abel.
〈Mas que pena. Se você está vendo este arquivo, então Túnis caiu, não é? Será que a tenente Elissa Dal Schreit conseguiu se retirar em segurança? Ela, apesar de tudo, é meio teimosa, então fico preocupada. Além disso, ela odiava vocês profundamente... Por isso mesmo preparamos aquela coisa chamada ‘Demônio do Deserto Iblis’.〉
A bela mulher soltou um suspiro profundo. A projeção tão minuciosamente detalhada que era como se até mesmo sua temperatura corporal pudesse ser sentida, balançou a cabeça com tristeza.
〈Na verdade, eu não queria ter que instalar algo assim. Mas se Túnis e os campos petrolíferos caírem nas mãos de vocês, então a Europa Ocidental estará logo ali, ao alcance dos olhos. Essa cidade, que a tenente Schreit e eu reconstruímos com sangrentos esforços... se é para ela se tornar de vocês, então eu escolhi enterrá-la com minhas próprias mãos. Naturalmente, a tenente também concordou. Mas, Abel...〉
Ouviu-se um som leve de respiração. Os olhos dela não estavam voltados para Abel. O que estava à frente daquele olhar era apenas a escuridão. Ainda assim, era inegável que ela estava falando com o jovem de cabelos prateados.
〈Eu e Elissa fizemos uma aposta. Que talvez, mesmo entre vocês, ainda houvesse esperança no que diz respeito a você — que só você ainda tivesse preservado um coração humano. Por isso, apenas no caso de ser você quem viesse liderar o ataque a Túnis, deixamos o código de desativação do 'Iblis' sob condições.〉
— Condições?
Esquecendo-se por um momento de que a outra pessoa era apenas uma projeção tridimensional, Abel se inclinou para a frente. Por trás das lentes redondas dos óculos, em seus olhos havia um cansaço tão profundo que chegava a ser doloroso. Aquilo surpreendentemente se parecia muito com a expressão facial estampada no rosto da mulher à sua frente.
〈Sim, condições. Isso é, que você tenha ajudado ao menos um dos remanescentes daquela cidade — vocês os chamam de terrans, não é? Se caso, você já tiver exterminado todos os remanescentes até o último deles, então a aposta é da Elissa. Você, e os “retornados” — os Methuselahs — que atacaram aquela cidade com você, serão enterrados sob as areias. Mas se ao menos uma única pessoa. Se você tiver poupado um remanescente — um terran, que você tanto odeia — senão tiver o matado, então a vitória é minha.〉
A bela mulher sorriu como se estivesse envergonhada.
〈Nessa hora, tragam esse terran remanescente até aqui. Ele — ou ela — permita que faça a verificação de impressões palmares. Depois de confirmar as informações genéticas, o comando de desligamento para o 'Iblis' será exibido. Deixei configurado para que isso aconteça. Mas, por outro lado, para vocês, Crusniks ou Methuselahs, o código de desativação jamais será ativado. Somente os remanescentes, os terrans — somente aqueles que você tanto odeia — poderão deter Iblis e salvar você... Abel.〉
Por quê..? Como é possível lançar um olhar dessa maneira, que tudo vê a alguém que se encontra muito distante, além do tempo e espaço? ── O holograma estendeu os braços suavemente, como se fosse acolher alguém em um abraço.
〈Eu sei que você ama o mundo. Você fez do mundo seu inimigo mas, isso é o reverso do fato de amá-lo. Foi porque você amou, confiou e esperou, que, ao se sentir traído, não conseguiu suportar. Por isso você se tornou um inimigo do mundo — mas ainda assim, você ainda continua amando este mundo. Em algum lugar dentro de você, ainda não consegue odiá-lo por completo.〉
A imagem tremeu violentamente. A projeção tridimensional perfeita, agora era misturada com um ruído de luz branca. As partículas de luz que compunham a imagem começaram a se desintegrar gradualmente a partir das bordas.
Retornando à luz, no último instante, os olhos da bela mulher pareceram, mais uma vez, capturar o rosto de Abel.
〈Abel, este mundo não é seu inimigo... Você sempre pode recomeçar. Nunca se esqueça disso〉
— ..Já é tarde demais, Lilith.
Abel murmurou com uma voz vazia, voltado para a escuridão onde já não havia mais ninguém.
Quando a luz explodiu e a escuridão e o silêncio voltaram mais uma vez, o contador já marcava quatro e cinquenta — faltavam apenas dez minutos para a chegada da tempestade de areia.
— Tudo... já é tarde demais. Você também... e eu, igualmente!
No momento seguinte, como por mágica, a mão de Abel já havia sacado o revólver preso à cintura. Sem sequer olhar para trás, ele puxou o gatilho por cima do ombro — um estrondo. Mais um disparo — estrondo. E outro — estrondo. Mais três tiros consecutivos — estrondo.
Antes que percebessem, as sombras que haviam se esgueirado por trás deles já estavam caídas sob o altar — os três corpos haviam sido atingidos nos ombros, cotovelos e bochechas.
— Infelizmente... não há terrans remanescentes aqui. Os que estão aqui são apenas, eu... e eles.
Com uma expressão que parecia rir e chorar ao mesmo tempo, Abel olhou para baixo. Em meio ao ressoar do eco ruidoso dos tiros, três sombras se levantavam como se nada tivesse acontecido. Vestiam casacos militares, máscaras de gás e capacetes — mas por baixo das máscaras estilhaçadas, o que se via eram presas longas e afiadas.
— Que coisa horrível... Vocês profanaram os cadáveres de Methuselahs.
Enquanto murmurava essas palavras, Abel acenou levemente com a mão. O cilindro vazio e cheio de fuligem caiu ao chão com um estalo e uma leve fumaça, e no mesmo instante, um novo carregador já havia sido encaixado.
No entanto, ao mesmo tempo, os Auto Jägers também já estavam em movimento.
Saltaram, faiscando suas longas e curvas garras — tão longas quantos adagas —e no instante seguinte, como se tivessem sido apagadas, essas sombras desapareceram.
— Aceleração Haste...!
A voz murmurada em tom baixo foi abafada por estrondos de tiros. As seis balas disparadas em rápida sucessão (fanning) afundaram-se todas com um som úmido no lado esquerdo do casaco. O sangue espirrado maculou o altar da santa.
— Guh!
Com um gemido baixo, o antigo revólver de percussão escapou da mão de seu dono e caiu no chão manchado de sangue, fazendo ecoar um forte ruído metálico. Apenas a fumaça que ainda subia do cano, branca e inútil como presas que não conseguiram cravar-se.
Sobre o padre derrubado no altar, três sombras se agrupavam. Cada uma cravava firmemente os dentes no pescoço, no ombro e na lateral do corpo, enquanto braços bestiais imobilizavam os membros da presa, sem deixá-la escapar...
— Urgh!
Naquele instante, os olhos de Abel se tingiram de um vermelho vívido.
— Nanomachine 'Crusnik 02’ - Ativação limitada a 40%...
Seus lábios pararam de se mover de repente.
Em vez disso, o que escapou dali foi um suspiro exausto, como o de um ancião que já viveu mil anos. Seus olhos, em algum momento, haviam recuperado o tom azulado. No rosto que fitava os restos decadentes dos vampiros que bebiam seu sangue, surgiu um sorriso estranhamente vazio.
— Bem... talvez, de vez em quando, algo assim também seja bom...
Um suspiro como de um ancião escapou dos lábios pálidos.
Já não adiantava fazer mais nada.
Se o que ela disse estiver correto, então Iblis não poderia ser detido, a menos que fosse por um terran. Mas como trazer um terran até aqui com menos de dez minutos restantes? A não ser que fosse um deus, isso seria impossível.
Sim... a catástrofe já não podia mais ser evitada.
A começar por Caterina, duzentas mil vidas serão perdidas, e a cidade afundará no fundo do mar de areia. Ion, provavelmente, já deverá ter sido morto também. E em breve, a guerra entre a sociedade humana e o "Império" começará... No fim das contas, o que ele havia feito até agora, foi tudo em vão?
Estava cansado. Extremamente cansado.
Sem perceber, teve a impressão de ter caminhado por muito tempo. Estava esgotado.
“Talvez... terminar tudo por aqui não seja algo tão ruim assim...”
Já não precisaria se preocupar com mais nada. Tão pouco temer as pessoas, nem ser temido por elas — além disso, mais do que tudo, também não precisaria temer a si mesmo.
Na verdade, o fato de estar escurecendo lentamente diante de seus olhos assim... de algum modo, acalmava em muito o seu coração.
— O que está fazendo aí, enrolando de novo, Padre?!
Foi naquele instante que uma repreensão cheia de energia e um clarão feroz cortaram as trevas da morte, que estavam prestes a envolver gentilmente o padre.
<< Anterior- Índice R.O.M. II - Próximo>>
Roteiro de Leitura (。•̀ᴗ-)✧!
Créditos da tradução:
Lutie (◕‿◕✿)
7 notes · View notes
trinitybloodbr · 2 months ago
Text
Tumblr media
Trinity Blood - Reborn on the Mars Volume II - Anjo das Areias Escaldantes ----------------- ⚠️ ESSA OBRA EM HIPÓTESE ALGUMA É DE MINHA AUTORIA. TRADUÇÃO REALIZADA DE FÃ PARA FÃS. NÃO REPUBLIQUE OU POSTE EM OUTRAS PLATAFORMAS SEM AUTORIZAÇÃO. SE CASO POSSÍVEL, DÊ SUPORTE AOS AUTORES E ARTISTAS COMPRANDO AS OBRAS ORIGINAIS. ⚠️ -----------------
Não sabe por onde começar? Confira o Roteiro de Leitura (。•̀ᴗ-)✧!!!
Capítulo 4: Anjo das Areias Escaldantes
Desde que a muralha amarelada surgiu além do deserto, a cidade tinha se tornado um alvoroço — como se tivessem cutucado um ninho de vespas — apesar de já ser alta madrugada.
Pelo relato dos beduínos, que haviam escapado do deserto por um triz, ao saberem que aquilo era uma tempestade de areia —, os habitantes da cidade, a princípio, pensaram em evacuar. No entanto, pela terra, seria necessário atravessar o coração da tempestade. O porto marítimo estava inutilizado por conta do combate entre encouraçados aéreos ocorrido poucas horas antes. A pequena rota aérea que restava só estava disponível para os poucos ricos que conseguiram garantir dirigíveis ou aviões — mas, com as vias de acesso ao aeroporto bloqueadas por uma multidão em pânico, tudo o que lhes restava era ficarem presos, impotentes.
Entre os locais, a área ao redor da Embaixada do Vaticano estava apinhada de moradores da Cidade Antiga (Medina). Isso porque, ao avistarem o encouraçado aéreo flutuando sobre a embaixada, muitos correram para lá na esperança de conseguir participar da fuga.
A multidão que se aglomerava ali estava em pânico. Provavelmente, quando descobrissem que o porto estava inutilizado, aqueles que haviam fugido em direção ao mar voltariam para lá. Com o passar do tempo, era de se esperar que o tumulto só piorasse.
 — Mas, por favor, tranquilize-se, Vossa Santidade.
Disse o Bispo Mario Cortona, núncio papal, enquanto torcia seu bigode curvado para baixo em ambos os lados, relatando com um tom orgulhoso.
— Em preparação para qualquer emergência, providenciamos uma rota de fuga deste consulado até os arredores da cidade. Eu também irei acompanhá-los, então, por favor, depressa, evacuem para o aeroporto...
— Servir de zombaria dessa forma é, no mínimo, inaceitável, Embaixador.
Caterina lançou um brilho cortante que lembrava o de navalhas por trás de seu monóculo, enfiou um marcador no livro de poesias que lia e fechou-o com elegância. Tossiu levemente e lançou um olhar fulminante para o rosto do bispo.
— Se nós, servos de Deus, abandonássemos o povo que clama por salvação e fugíssemos, quem acreditaria no Vaticano daqui em diante? Quem quer que mesmo tente fugir daqui, ao menos eu e você devemos permanecer até o fim.
— V-Vossa Eminência, eu, bem...  a-ainda não quero morrer!
— Oh, que coincidência. Aposto que todas aquelas pessoas espremidas ali também estão pensando o mesmo — alguém, acompanhe o bispo de volta para o quarto. E certifiquem-se de trancar bem a porta pelo lado de fora, para que não haja interrupções durante suas orações.
Enquanto os gritos do embaixador, sendo arrastado para longe, se perdiam a distância, Caterina os ignorava com uma expressão amarga — e ainda, com a mesma expressão, ergueu os olhos e lançou um olhar fulminante para o alto.
Nos céus, o encouraçado aéreo "Raguel" — que recebeu o nome do anjo incumbido de investigar e julgar os desvios dos próprios anjos — pairava em silêncio, imóvel. Na parte inferior de seu casco acinzentado, uma luz vermelha piscava suavemente, indicando o destravamento do compartimento de bombas.
— Esse tal Radu ou seja lá quem, que nos contactou há pouco...
Fitando severamente a torre lateral que estava apontada diretamente para eles, Caterina murmurou amargamente.
— Disse que, enquanto não tentássemos fugir, não nos causariam danos... Mas, do jeito que está, mais cedo ou mais tarde seremos engolidos pela tempestade de areia e será o nosso fim.
Se ao menos conseguissem fazer contato com a Iron Maiden II, talvez ainda houvesse uma chance...
Porém, Raguel parecia estar emitindo um forte bloqueio de sinal (Jamming), e todas as comunicações por rádio foram neutralizadas. Por outro lado, com a Inquisição e a polícia especial — os Carabinieris — dizimados no porto, as forças militares restante na embaixada não eram capazes de oferecer resistência.
— ...Irmã Loretta.
— Sim, Vossa Eminência.
Caterina indicou a multidão do lado de fora do portão à jovem freira que havia dado um passo à frente.
— Deixe-os entrar na embaixada. Do jeito que está, haverá feridos... Vamos ver, primeiro mulheres, crianças e idosos, em ordem de prioridade.
— Tem certeza? Vai mesmo permitir a entrada de pessoas como aquelas no prédio?
— Não me importo. Justamente em momentos como este é que se apresenta uma oportunidade perfeita para vender a fé, não acha?
Lançando mais um olhar em direção ao portão, Caterina soltou uma leve tosse.
— Se é o fim de qualquer forma, então ao menos devolver um pouco de paz de espírito a eles também é parte do nosso dever... Aconteceu alguma coisa?
Caterina olhou de volta para o rosto de Loretta. Foi então que percebeu que a jovem freira, alheia até mesmo à voz da cardeal, olhava o céu noturno visível por entre os corredores, logo atrás dela.
Não, não era apenas Loretta. As outras freiras, e até mesmo a multidão que se aglomerava diante dos portões, haviam parado de gritar sem que se percebesse — todos agora fitavam o céu do sul.
— Mas o que vocês estão... aquilo é...?!
Caterina também se virou na direção para onde todos olhavam, deixando cair o livro de poesias enquanto se levantava.
Além do mais escuro céu noturno antes do amanhecer, uma luz de branco puro se movia. Aquele brilho, que se aproximava em alta velocidade, aumentava diante dos olhos de todos que o observavam, até formar, por fim, a silhueta graciosa de um branco alabastro.
— Aquilo é... Iron Maiden II!?
<< Anterior- Índice R.O.M. II - Próximo>>
Roteiro de Leitura (。•̀ᴗ-)✧!
Créditos da tradução:
Lutie (◕‿◕✿)
6 notes · View notes
trinitybloodbr · 2 months ago
Text
Tumblr media
Trinity Blood - Reborn on the Mars Volume II - Anjo das Areias Escaldantes ----------------- ⚠️ ESSA OBRA EM HIPÓTESE ALGUMA É DE MINHA AUTORIA. TRADUÇÃO REALIZADA DE FÃ PARA FÃS. NÃO REPUBLIQUE OU POSTE EM OUTRAS PLATAFORMAS SEM AUTORIZAÇÃO. SE CASO POSSÍVEL, DÊ SUPORTE AOS AUTORES E ARTISTAS COMPRANDO AS OBRAS ORIGINAIS. ⚠️ -----------------
Não sabe por onde começar? Confira o Roteiro de Leitura (。•̀ᴗ-)✧!!!
Capítulo 4: Anjo das Areias Escaldantes
— Por que o Senhor fez tal coisa com esta nação?
Por que acendeu Sua ira com tamanha fúria?
(Deuteronômio, capítulo 29, versículo 23 – Versão Japonesa)
Era uma terra viva, que se contorcia.
Era um amontoado de ar com vontade própria.
Era uma vontade de destruição... que respirava.
Era...
Ainda com o maça de guerra erguido sobre a cabeça, Petros perguntou com uma expressão atônita:
— Ei, alguém me explique — afinal, o que diabos é aquilo?
— Uma tempestade de areia...? Mas... daquele tamanho!?
Como Ion deixou escapar, atônito, aquilo parecia uma imensa tempestade de areia. Ou então, como se o próprio deserto tivesse se erguido.
Mas... seria mesmo possível a existência de uma tempestade de areia tão colossal?
No centro, como se fosse um olho negro, abria-se um buraco. Em torno dele, por um raio de mais de cinquenta quilômetros, redemoinhos de areia se espalhavam como incontáveis tentáculos. Aqui e ali, relâmpagos azulados cortavam os redemoinhos — provavelmente causados pela eletricidade gerada no atrito entre os grãos de areia. Os próprios redemoinhos pulsavam como se fossem organismos vivos, e as absurdas correntes de ar ascendente que deles emanavam chegavam a perturbar até o mais moderno encouraçado aéreo, pairando muito acima, como se fosse mera folha ao vento.
〈Impossível... Fisicamente, algo assim não poderia existir! De onde, afinal, está sendo fornecida tanta energia?!〉
Normalmente, as tempestades que se formam no deserto são redemoinhos causados pela diferença de pressão entre o ar frio nas camadas superiores e o solo aquecido, e sua escala não é muito grande. Elas são fundamentalmente diferentes dos ciclones tropicais (tufões), que acumulam quantidades imensas de energia sobre o mar.
Mas aquilo que cobria o deserto abaixo dos seus olhos era, claramente, de um tamanho comparável ao de um tufão.
— Isso é... Iblis?! Ainda está vivo, Anjo do Deserto!?
O padre de óculos, olhando para aquilo do alto, deixou escapar um gemido baixo. Sua voz, trêmula de forma quase violenta, não alcançou os ouvidos de ninguém, mas seus olhos estavam escancarados, como se houvesse testemunhado um fantasma erguendo-se do túmulo. A tempestade de areia avançava lenta, porém inexoravelmente, rumo ao nordeste. E naquela direção, estava...
— Calcule a hora de chegada! O tempo até aquela tempestade de areia atingir Cartago!
Abel se virou como se tivesse sido repelido por um choque e gritou bruscamente para o holograma da freira.
〈Já estou fazendo isso! Daqui a duzentos e quatorze minutos, às cinco em ponto — exatamente ao amanhecer!〉
Enquanto manobrava suavemente o rumo da aeronave, Kate respondeu apressadamente. Se voassem a toda velocidade, levariam menos de cinquenta minutos até o centro de Cartago — mas o que fariam depois disso? A Iron Maiden II era uma nave de guerra aérea de última geração, mas sua capacidade habitacional mal passava de trinta pessoas. Não era possível salvar nem mesmo os funcionários da embaixada ou os clérigos, muito menos os cidadãos de Cartago.
— ...O resgate da Duquesa de Milão é a prioridade máxima.
Como se estivesse lendo os pensamentos de Kate, uma voz monótona apontou o curso de ação dali em diante — era Tres.
— No momento atual, a destruição de Cartago já está confirmada. Iron Maiden, não há necessidade de alertar a cidade de Cartago. Se os cidadãos entrarem em pânico e começarem a evacuar, existe o risco do resgate da Duquesa de Milão se tornar difícil.
— Espere, Padre! Acaso ainda és um terran?!
Foi Ion quem reagiu de forma aguda àquelas palavras impiedosas — até então, ele parecia hipnotizado, encarando a tempestade. Demonstrando raiva, ele confrontou o padre de expressão impassível.
— Teus compatriotas estão morrendo e ainda pretende abandoná-los e assistir em silêncio!? Envergonhe-se!
— Isso mesmo! Padre Tres, e você ainda é um sacerdote!? Onde foi parar o orgulho de alguém que serve a Deus?
O apoio efusivo veio de uma fonte inesperada. Petros, que até então permanecia em silêncio com ar mal-humorado, assentiu com força, expressando seu acordo com Ion. Embora, logo após falar, pareceu se dar conta de que, por mais incrível que parecesse, havia acabado de apoiar a opinião de um vampiro.
— Ah, não, claro, isso foi apenas uma opinião pessoal minha...
Mesmo sem ter sido questionado, começou a se justificar às pressas — uma desculpa que nem chegava a ser uma desculpa. Ignorando-o completamente, Tres apontou de forma fria:
— Mesmo que comecemos a evacuação agora, a probabilidade de sobrevivência deles é zero. Ninguém será salvo de qualquer forma. E deixe-me acrescentar mais um ponto, Conde de Memphis.
A voz do Gunslinger era fria e implacável.
— Eu não sou humano ── sou uma máquina. Vergonha ou orgulho não dizem respeito a mim.
— M-Mas, tu...!
〈Por favor, vocês três, parem com isso! Se quiserem brigar, que seja lá fora ── oh?〉
Provavelmente foi porque, há pouco, a ponte de comando quase foi transformada em um ninho de abelhas. Enquanto tentava se interpor entre os homens, que ainda estavam à beira de um confronto explosivo, a Irmã Kate de repente ergueu o rosto, como se tivesse notado algo.
〈Uma transmissão de vídeo endereçada ao Conde de Memphis está entrando. Huum... a origem é... do-do encouraçado aéreo Raguel, do Departamento de Inquisição do Ministério da Doutrina da Fé!?〉
— Transfira para o monitor principal.
Em resposta à voz de Tres, uma luz surgiu no monitor à frente. Talvez por causa das condições atmosféricas ruins, havia bastante ruído misturado. Ainda assim, não havia como confundir aquele belo rosto sob os cabelos azuis.
— Radu! Então você estava vivo, afinal!
〈...Ah, essa voz é você, Ion?〉
O vampiro de cabelos azuis que apareceu no monitor estava profundamente definhado e abatido que custava se acreditar que aquele fosse o mesmo jovem de antes. Os lábios, curvados num sorriso de vazio existencial, estavam de uma palidez quase doentia.
〈Desculpe, mas esta nave aqui não consegue receber imagens. É uma pena não poder ver seu rosto, mas estou aliviado em saber que está bem.〉
— Como ousa ser tão descarado!
Com a boca escancarada de raiva, o garoto berrou em fúria.
— Com que cara ousa aparecer diante de mim!?
〈Pelo visto, sou mesmo odiado, hein〉
Radu soltou um sorriso amargo, mas não tentou se justificar. Pelo contrário, mantinha o peito erguido.
〈Indo direto ao ponto. Vamos ao assunto principal. Já não temos mais tempo para mutuamente reaquecer nossa amizade... Imagino que você também já tenha visto meu trunfo, certo?〉
— Aquela tempestade de areia... O que é aquilo?
〈Iblis ── uma antiga arma climática de batalha final, criada pelos terrans numa era antiga, quando ainda travavam feroz guerra contra nossos ancestrais, os methuselahs. Ou melhor, talvez devêssemos chamá-la de arma de autodestruição? 〉
Nos olhos de Radu, brilhava uma luz que mesclava sutilmente o desprezo e o temor.
〈Naquela época, os terrans que viviam em Cartago prepararam uma armadilha para destruir toda a cidade — junto com seus invasores — caso fossem derrotados e a cidade tomada. E isso é aquela tempestade de areia. E fui eu quem ativou a unidade-mestra. Em breve, aquela tempestade será atraída até esta cidade pelo sinal dessa unidade-mestra. Quando isso vai acontecer... você já sabe, não é?〉
Ao contrair a bochecha encovada, Radu alterou a expressão com firmeza. O cansaço pareceu desaparecer de seus olhos cor de bronze, como se fosse apagado. No lugar dele, surgiu uma penetrante intenção assassina.
〈Ion, entregue seu pescoço docilmente. Se o fizer, pouparei a cidade de Cartago e a vida da Duquesa de Milão.〉
— Foi até esse ponto? Tu... Só para matar a um só, a mim... usaste de truques tão vis, Radu?!
〈Ora, mas é claro. Eu sou um traidor desprezível, não é? Apesar de ter sido traído tão duramente, ainda assim confiavas em mim, meu caro amigo, não...? Ah, sim, é verdade...〉
Na verdade, aquele vídeo não poderia ser transmitido para o outro lado, mas, diante dos olhos do garoto que o fitavam diretamente, Radu desviou o olhar. Enquanto desviava, estalou os dedos de forma teatral.
De repente, o monitor escureceu e seu rosto desapareceu. Em seu lugar, o que apareceu na tela foi...
〈Deixe-me deixar uma coisa bem clara. Por mais que me odeiem, não recomendo ações extremas como abater esta nave... Esta é a imagem logo abaixo dela.〉
〈A-aquele prédio...!〉
Kate ergueu os olhos para a imagem que acabara de mudar no monitor — e prendeu a respiração. Era uma transmissão da Cidade Antiga de Cartago. E bem no centro da tela, surgia uma construção imponente e complexa, composta por diversos edifícios interligados por inúmeros corredores.
〈A Embaixada do Vaticano — Ca-Caterina-sama!〉
〈É isso mesmo... Agora que entendeu, Ion, venha aqui calmamente. Já não temos muito tempo〉
A figura do methuselah, que sorria com malícia, foi subitamente envolta pela escuridão. Por fim, um ruído intenso ecoou, seguido por um som que lembrava algo sendo abruptamente cortado — e a tela escureceu.
—  .........
Diante do monitor agora em silêncio, ninguém se moveu por um tempo.
Durante todo esse tempo, a tempestade de areia não dava sinais de cessar. Na verdade, parecia crescer a cada instante.
〈”Iblis” — Anjo do Deserto...〉
Por fim, a imagem tridimensional holográfica da freira murmurou.
〈O Barão de Luxor falou algo sobre ser uma arma de autodestruição, mas o que isso quer dizer? Que significado isso pode ter, afinal?〉
— É no sentido mais literal possível, Kate-san.
Quem respondeu à dúvida de Kate, que mais parecia um monólogo, foi o padre de cabelos prateados, que observava a janela com uma expressão amarga.
— Você conhece a lenda de Santa Elissa, reconhecida oficialmente pelo Vaticano, não conhece?
〈A rainha que protegeu a cidade de Cartago dos vampiros? Sim, estou ciente.〉
Após a catástrofe conhecida como o 'Grande Cataclismo' (Armagedom), a humanidade, agarrando-se desesperadamente às poucas zonas habitáveis que restaram neste planeta, acabou por encontrar um novo inimigo — o surgimento dos vampiros.
Esses seres de inteligência distinta, dotados literalmente de força monstruosa e hábitos vampíricos, também possuíam, ao mesmo tempo, tecnologias científicas altamente avançadas — consideradas perdidas (Lost Technology) — e uma organização sólida. Diante de seu avanço, a derrota da humanidade, isolada em pequenas comunidades e munida apenas de tecnologia limitada, parecia inevitável... ou, ao menos, assim deveria ter sido.
Contudo, foi nesse momento que uma mudança subitamente ocorreu.
Mesmo entre a humanidade — dentro do Vaticano — que ainda detinha uma força organizacional relativamente grande —, milagres começaram a acontecer em sucessão a partir de certo ponto no tempo.
À beira da derrota, as forças da Igreja viram-se, de súbito, diante de um grupo de anjos que afugentava os vampiros.
Diante dos cavaleiros que partiam para a batalha, armas de tecnologia perdida altamente avançada — como que ilusões — surgiam do nada.
Entre os milagres mais conhecidos, estão os relatos de indivíduos dotados de poderes misteriosos que surgiram em diversas regiões ── como a “Santa Negra” (Naia Sancta), que teria concedido ao então Papa Gregório XX uma série de revelações e profecias; São István, que restaurou uma imensa rede de energia elétrica em aldeias remotas do Oriente; e São Nevşehir, que, segundo dizem, exterminou em uma única noite as hostes vampíricas que assolavam o Reino Franco. Esses portadores de poderes extraordinários foram reconhecidos pela Igreja como “Santos” e, até hoje, são reverenciados com fé profunda, tidos como enviados de Deus ou encarnações de anjos.
Santa Elissa também foi uma das santas daquela era.
Durante o período médio da Era das Trevas, a cidade de Cartago foi atacada por um exército de vampiros. Naquela ocasião, quem liderou a resistência em nome da cidade foi Elissa, a rainha de Cartago. A batalha feroz durou três dias e três noites, e a humanidade, sob o comando da rainha, lutou corajosamente contra os vampiros. Na última noite, Elissa sacrificou a própria vida para destruir os vampiros — e assim, Cartago foi salva por um triz.
— ...Contudo, há uma parte dessa história que não consta nos registros oficiais. Segundo as tradições dos beduínos...
Ajustando os óculos, Abel ergueu os olhos para as luas, como se estivesse lembrando de algo.
— Na verdade, Elissa não acreditava que venceria. Por isso, antes da batalha, prevendo o momento que fosse derrotada, preparou um mecanismo para destruir toda a cidade junto com os vampiros — ou pelo menos é o que dizem. Provavelmente, aquele tal de 'Iblis' de que o Barão de Luxor falou se referia a isso.
— Mas que estranho...
Foi Ion quem inclinou levemente a cabeça, enquanto ouvia atentamente a fala do padre.
— Nunca ouvi falar de tal história. Em nossa história, nem a cidade de Cartago nem essa tal de Elissa aparecem. Padre Nightroad, essa lenda é realmente confiável?
— Isso é...
Abel tentou responder algo, mas uma voz monótona o interrompeu.
— Neste momento, a avaliação de dados passados é inútil — recomendo adiar qualquer investigação para depois do término da missão.
Foi então que Tres, que até então observava minuciosamente o mapa topográfico projetado na tela, se virou.
— Não temos tempo. O que se exige agora é conter o avanço da tempestade de areia e, ao mesmo tempo, salvar a Duquesa de Milão e a embaixada — precisamos elaborar esse plano o quanto antes.
〈Isso é verdade, mas... como, exatamente, vamos fazer isso?〉
— Primeiro, desativamos a unidade-mestra.
Radu havia dito: “Aquela tempestade de areia vem até esta cidade atraída pelo sinal do unidade-mestra.” Ou seja, se encontrassem e destruíssem esse tal de unidade-mestra...
〈Mas como? Como encontraremos algo como essa tal unidade-mestra?〉
— O que há na direção de avanço da tempestade de areia?
〈A cidade de Cartago... Ah! Então isso está dentro da cidade?〉
— Positive. Além disso, entre toda a área urbana, há apenas um local onde ruínas da Idade das Trevas permanecem preservadas em sua forma original.
Tres apontou o laser de sua arma para a vista aérea de Cartago exibido na tela. Um ponto de luz vermelha brilhou solitário sobre a catedral, logo ao lado da embaixada do Vaticano, na cidade antiga.
〈É a Cripta da Rainha — Qabr El-Elyssa—, sob a catedral, não é?! Oh? Mas... aquele lugar não deveria estar completamente selado...〉
— É possível entrar pelos karez, os canais subterrâneos.
Abel retirou de dentro de seu casaco um pedaço de papel todo surrado.
— Este é o mapa que o Dr. Borromini possuía. Quando o encontramos, pensei que fosse algo ligado a escavações ilegais ou algo assim... Mas acredito que ele tenha sido contratado por Radu-san para restaurar as ruínas. E foi por isso que, quando nós o prendemos, temendo a possibilidade de vazamento de informações, Radu-san acabou matando-o.
〈Então, com isso poderemos neutralizar o Iblis, não é?!〉
— No entanto, nesse caso, agora quem estará em risco será a Duquesa de Milão.
Como Tres apontou com expressão inalterada, caso o Iblis fosse desativado, Radu certamente não ficaria calado. Bastaria um dos explosivos instalados no Raguel para transformar a embaixada do Vaticano em um monte de escombros.
— Vamos nos dividir em dois grupos.
Disse o padre de cabelos prateados, enquanto conferia o mapa.
— Eu vou deter o ‘Iblis’. Enquanto isso, Ion-san, Kate-san, por favor, tentem conter o Barão de Luxor e ganhar tempo.
〈Mesmo que diga para tentarmos ganhar tempo...〉
Kate franziu as sobrancelhas, com uma expressão preocupada.
〈O Barão de Luxor está tentando matar o Conde de Memphis, certo? Mas eu, por minha vez, preciso dar um jeito no Raguel. Além disso, o Conde de Memphis e o Padre Tres estão, como pode ver, feridos... Nossa força de combate é insuficiente para enfrentar o Ifrit, não é?〉
— ...Não, temos poder de combate suficiente.
Ion balançou a cabeça e, em seguida, virou-se para olhar para trás.
Ele ergueu o rosto como se estivesse se esticando para olhar o homem, que desde algum tempo permanecia em um silêncio inquietante, de braços cruzados e expressão impenetrável.
— Irmão Petros...
O jovem vampiro dirigiu-se ao inquisidor.
— Desejo que me emprestes a tua força.
〈...O quê!?〉
Todos ali voltaram os olhos para o rosto de Ion.
Será que esse garoto tinha enlouquecido?
No entanto, o rosto erguido de Ion, que olhava para Petros, embora pálido, mostrava um semblante calmo, e até mesmo, seus olhos refletiam um brilho límpido e sereno.
— A força com a qual lutaste de igual para igual contra Radu... Eu a estimo muito. Não a emprestarias a mim?
— ...Estás em teu juízo perfeito, criatura?
A voz do inquisidor soou como o rosnado de um urso-pardo despertado à força de sua hibernação.
— Sou um inquisidor — o inimigo natural de vocês, sabia? E ainda assim... quer que eu, logo eu, empreste meu poder a um vampiro?
— Isso mesmo. Obviamente, não estou dizendo que será de graça.
O garoto assentiu. Em seu rosto, não havia qualquer exaltação, muito menos, hesitação. Colocando a mão sobre o próprio peito, disse:
— Quando esse assunto estiver acabado, oferecerei minha cabeça a ti. Que tal isso?
〈E-Excelência! Não deve! Uma promessa dessas...〉
Foi Kate que tentou intervir às pressas, mas antes que pudesse, Abel estendeu o braço à sua frente. Com o olhar, conteve os olhos da freira e, em silêncio, balançou a cabeça.
Enquanto isso acontecia, Ion continuava, como se não notasse a interação que se passava atrás dele.
— Peço-te. Só desta vez, não poderias emprestar tua força a mim? Para que eu possa resolver as contas com Radu, esse poder é necessário.
—  Posso perguntar uma coisa, Ion, ou seja lá como se chama?
Com a mesma expressão mal-humorada de sempre, Petros disse:.
— Qual é o motivo pelo qual tu queres enfrentar aquele vampiro, a ponto de usar a minha força? É por rancor?
— Não creio que seja rancor...
Inclinando levemente a cabeça, Ion respondeu. Falava pausadamente, como se conversasse com alguém dentro de si e transmitisse de boca a boca aquilo que esse alguém dizia.
— Aquele homem foi meu melhor amigo. Não... Ainda o considero assim. Eu... não quero deixar que ele continue a cometer erros além disso.
— ............
Com uma expressão carrancuda no rosto, o Cavaleiro da Ruína, o Il Ruinante cruzou os braços. Seu semblante, a perfeita personificação da seriedade, encarava Ion com a expressão de quem acabara de mastigar um inseto amargo.
A qualquer momento, a maça ainda segura em suas mãos poderia cortar o ar e descer com força sobre a cabeça do garoto.
Mesmo que ninguém dissesse em voz alta, uma atmosfera como se estivesse eletricamente carregada pairava na ponte de comando...
— ...Ei, você, a tal Irmã Kate.
〈S-sim?! O que deseja?〉
A freira endireitou apressadamente a postura pela súbita convocação, e o inquisidor lançou-lhe um olhar irritado com um ar mal-humorado.
— Esta nave tem um arsenal?
〈Hã? S-sim, temos, tecnicamente... mas, hum, por quê? Não vai me dizer que é um sequestro?!〉
— Pare de falar besteira e trate de me levar até lá imediatamente!
Com um golpe pesado da maça de guerra no chão, Petros resmungou, irritado.
— Para enfrentar aquele demônio de fogo Ifrit, também teremos que nos equipar adequadamente.
〈Hã?〉
Os olhos de Kate se arregalaram. Naquele instante, o rosto de Ion, que se mantinha em uma postura respeitosa ao lado dela, se iluminou.
— E-Então!
— Não se engane, vampiro!
Em contraste com o garoto que sorria levemente, erguendo os lábios num esgar de ódio, Petros ergueu a voz em um brado furioso. Com um simples movimento de pulso, apontou com precisão sua maça de guerra bem diante do rosto de Ion.
— Saibas que não estou te ajudando! Estou lutando única e exclusivamente pela Igreja, pelos duzentos mil cidadãos de Cartago, e pelos meus subordinados que foram assassinados! Assim que me livrar desse tal Radu, serás o próximo, junto com esses traidores! Lidarei com todos vocês! Lembra-te bem disso!
O inquisidor, lançando as palavras como uma ameaça, virou o rosto fazendo um beiço ── Ainda assim, não se sabia por que estava envergonhado, seu rosto estava estranhamente corado. Com essa mesma expressão, Petros murmurou de modo emburrado, quase inaudível.
— Bom... até lá, vou deixar isso como uma trégua.
------------------------------
O que será que foi aquele tremor de agora há pouco? Ao que parece, havia acabado adormecendo de novo.
Vindo das profundezas da sonolência, Esther emergiu lentamente para a margem da realidade, erguendo suavemente suas pálpebras delicadas.
Talvez por ter dormido profundamente depois de tanto tempo, sua mente estava mais clara do que nunca. Mas ainda não tinha dormido o suficiente. Queria continuar dormindo. Se possível, para sempre — porque, se ficasse aqui, poderia esquecer de tudo.
“De tudo?”
Enquanto tentava afastar a consciência do cheiro de sangue e fogo que ameaçava ressurgir no fundo de suas narinas, Esther se questionava. Com esforço, fazia sua mente flutuar, tentando evitar encostar no círculo de pensamentos ligados àquilo.
Ela não queria lembrar. Aquilo... aquelas asas imensas...
“Não pense nisso!”
No limiar entre o sono e o despertar, Esther tentou afundar sua consciência no fundo do mar dos sonhos. Não queria pensar. Não devia pensar. Só queria dormir. Se conseguisse dormir...
— ...Esther-san?
A voz hesitante que veio junto com a batida na porta a trouxe de volta à realidade.
— Ah... Esther-san. Está acordada?
— !?
A consciência, despertando rapidamente, trouxe de volta — junto a um grito — lembranças de sangue e chamas, relâmpagos e escuridão... e daquilo.
“Não venha!”
Agora, ela já havia despertado completamente. Ainda assim, Esther não se mexeu, permanecendo com o cobertor por cima da cabeça — não, na verdade, ela não podia se mover. Do outro lado da porta... estava aquilo.
— Vejo que ainda está dormindo, não é?
Do outro lado da porta, aquilo pareceu suspirar. A silhueta alta refletida no vidro fosco inclinou levemente a cabeça — parecia extremamente solitária.
Mas Esther não se deixou enganar. Com os olhos firmemente fechados, ela conteve a respiração.
” Rápido, vá embora... rápido...”
— Então... seria indelicado atrapalhar ── não vou mais te acordar, está bem?
“Isso, assim mesmo, vá embora. Vá embora...”
— Mas, como não sei se vamos nos ver de novo, vou falar tudo o que tenho para dizer agora. Caso contrário, posso acabar me arrependendo... Então, por favor, escute mesmo que esteja dormindo.
Mesmo o grito do coração de Esther foi em vão — o padre postado do outro lado da porta não demonstrava a menor intenção de ir embora. Mais ainda, ele começou a murmurar algo como para si mesmo. Esther só podia fazer uma coisa: cobrir-se com o cobertor e apertar os olhos com força.
— Antes de mais nada, me desculpe por ter feito você passar por algo tão terrível hoje... Estou realmente arrependido. Deve ter sido assustador, não é?
Com uma voz calma, o padre se desculpou. Sua voz não era de forma alguma alta, mas ressoava com clareza.
— Você deve ter sentido medo, não é mesmo...? Afinal, até eu tenho medo de mim mesmo. Imagino que você tenha ficado ainda mais assustada.
“Hã?”
O que será que ele quis dizer com “Tenho medo de mim mesmo”?
Naquele momento, ele parecia a própria encarnação da destruição — como se estivesse embriagado pela própria destruição. Era isso o... “Tenho medo de mim mesmo”?
Esther nem percebeu que, em algum ponto, seu corpo inteiro havia se tornado como ouvidos, que estava completamente absorta no monólogo do padre.
— Sim... Você me disse, outro dia, não foi? ‘Por que está sempre brincando? Por que nunca leva nada a sério comigo?!’ — Então... Aquilo foi a resposta. Sim... Aquilo foi...
Na voz de Abel — como se estivesse desesperadamente tentando engolir algo amargo — não havia mais nenhum vestígio da presença daquele anjo caído de antes. Era a mesma voz do padre de sempre: aquela insegura, mas que adorava os humanos. Ainda assim, algo incontrolável rodopiava dentro dela.
Tristeza? Desespero? A sensação de perda? Não... era uma ressonância que parecia misturar tudo isso...
Era uma voz como se estivesse cuspindo sangue.
— Aquilo... não é algo como você está pensando. Aquilo definitivamente não é o tipo de poder que você imagina. Não posso explicar em detalhes, mas... é algo diferente. Sim, se fosse para colocar em palavras — é como se fosse o estigma do meu pecado...
Não exatamente para Esther, mas como se estivesse se confessando a alguém dentro de si, Abel silenciou por um momento.
— ...Quando eu me transformo naquilo... não consigo me conter... não consigo conter a eles.
Ao abrir a boca novamente, sua voz carregava um profundo arrependimento.
— Por isso... se possível, eu não queria ter usado isso na sua frente. Porque, se o fizesse, acabaria te assustando... É, se possível, realmente não queria ter usado.
Dessa vez, de fato, continuando em silêncio — a presença do lado de fora da porta não voltou a se mover.
Esther também permaneceu imóvel.
Com apenas uma fina porta entre eles, o padre e a freira mantinham-se em silêncio. O som do motor da aeronave reverberava baixo, enquanto aquela desajeitada quietude já se prolongava por bastante tempo...
— ...Ah, é verdade. Estamos sem tempo.
Quem quebrou o silêncio primeiro foi o padre do outro lado da porta.
Havia naquela voz um eco de quem desperta de algum sonho. A silhueta alta ainda espiava com certa relutância em partir através do vidro fosco.
— Mas, por favor, peço que acredite ao menos nisto... Eu queria estar do seu lado. Eu queria proteger você... e o Ion-san, a qualquer custo. Isso, pelo menos, é verdade. Pode ser que você não consiga acreditar, mas...
A presença do lado de fora da porta permaneceu imóvel, como se tivesse algo a dizer, mas no fim, aparentemente temeu perturbar ainda mais a paz da paciente. Ouviu-se um leve suspiro, e então, suavemente, afastou-se da porta, voltando-se em silêncio. Os passos arrastados se distanciaram pelo corredor, pouco a pouco.
— ........
Esther continuava imóvel, ainda coberta pelo cobertor.
"Você está sempre poupando forças!"
Naquela estalagem, quando ela o insultou, ele apenas abaixou a cabeça com um ar solitário — exatamente como agora.
Ficando furiosamente irritada por ele não responder nada, Esther o insultou.
E no fim, — sobre Abel — a pessoa que tentou salvá-la...
“Monstro!”
A expressão que surgiu no rosto dele naquele momento... Esther provavelmente jamais conseguiria esquecer.
Sim... foi ela quem o chamou de monstro. “Eu estou do seu lado” — foi isso o que ele a disse gentilmente. E mesmo assim... foi ela quem o chamou de monstro.
“Eu tenho medo de mim mesmo” — é o que ele pensa sobre si mesmo.
— ...Padre!
Naquele instante, o corpo de Esther se ergueu da cama com uma naturalidade exageradamente natural.
— Espere! Padre, não vá!
Será que ele já teria ido tão longe que sua voz não o alcançava mais? Não houve resposta de Abel. Quando estendeu a mão apressada até a maçaneta, Esther se deu conta de que estava vestida apenas com sua roupa de baixo nada atraente.
— A-algo para vestir!
Ela encontrou seu hábito de freira, perfeitamente limpo, ao lado do travesseiro, e rapidamente o vestiu.
Sem nem mesmo terminar de abotoar, lançou-se apressadamente para o corredor...
— Ai!?
No exato momento em que passava por ali, Esther esbarrou em um homem de batina e caiu sentada no chão. A ponta de seu nariz gradualmente começou a latejar de dor.
— Ai, ai, ai... v-você está bem, Padre Abel?
— Negative. Não sou o padre Nightroad.
Aquele que olhava de cima a irmã, que esfregava os olhos marejados, exibia um rosto inexpressivo, como uma máscara.
— Relatório de avaliação de danos (Damage Report), Irmã Esther Blanchett.
— Pa-Padre Tres... é você...
O padre, de cabelos castanhos cortados bem curtos, levantou a garota nos braços sem dizer uma palavra. Só então Esther percebeu que a aparência dele estava longe do comum.
— V-vai... vai para a guerra ou algo assim, Padre Ix?
— Positive.
Respondendo brevemente, Tres tinha pendurados em ambos os ombros dois objetos que pareciam blocos de ferro em forma de cones enroscados na ponta de tubos de ferro mal-acabados. Eram lança-foguetes descartáveis — Panzerfausts — capazes de destruir completamente um tanque a trinta metros de distância.. Além disso, nas costas, carregava uma metralhadora pesada equipada com tripé. Em volta da cintura, um cinturão de munição estava enrolado em espiral. Pendurados também na cintura, havia minas magnéticas adesivas, específicas para combates contra tanques. E, preso ao cinto do tornozelo, uma faca robusta que parecia capaz decapitar até mesmo um búfalo.
— Vamos agora nos deslocar para a cidade de Cartago, onde travaremos combate com o encouraçado aéreo Raguel, que paira sobre a cidade, bem como com o vampiro, o Barão de Luxor, Radu Barvon. Após isso, libertaremos a embaixada.
— E-Embaixada!?
Nesse caso, será que Abel veio se despedir agora há pouco porque ele também vai participar dessa batalha?
— O-o Padre... O Padre Nightroad, onde está? Ele também está com você, Padre IX?
— Negative — ele está ali.
O local indicado por Tres era uma pequena janela aberta no corredor.
O que se via abaixo era um mar de areia. Provavelmente, algum tipo de ponto de descanso dos beduínos, ou algo assim. Podiam-se ver cabanas improvisadas rudimentares e um pequeno poço. E ali, ao lado do poço, estava de pé, sozinho, uma figura alta de cabelos prateados.
— Há vinte e cinco segundos, o padre Nightroad desembarcou. A partir de então, ele passou a agir separadamente de nós.
Bem naquele momento, Abel soltou o fio de aço que segurava. O fio foi imediatamente recolhido de volta pela Iron Maiden II, deslizando suavemente. Mas apenas Abel permaneceu ali, parado, encarando fixamente na direção deles.
— P-por que... o Padre Abel está ali?!
Enquanto isso, a nave de combate aérea retomava seu curso. A sombra do padre, que os observava lá de baixo, afastava-se rapidamente até se tornar do tamanho de um grão de feijão.
— P-por quê?! Por que só o Padre Abel ficou lá?!
〈O Padre Abel está numa unidade separada〉
Uma voz suave de mulher respondeu à dúvida da garota. A câmera de vigilância no teto se moveu levemente, voltando-se para o rosto de Esther.
〈A partir deste momento, esta nave fará contato com o encouraçado aéreo Raguel e o Barão de  Luxor sobre a cidade de Cartago. Durante esse tempo, o Padre Abel estará encarregado de uma missão separada no subsolo da cidade.〉
— No entanto, se pousarmos muito próximo da área urbana, corremos o risco de sermos descobertos pelo inimigo.
Lá fora, pela janela, já estava completamente escuro, e a silhueta de Abel já havia desaparecido há muito tempo. Mantendo os óculos espelhados voltados naquela direção, o padre cego complementou a explicação de Kate.
— O padre Nightroad pretende entrar pelo canal subterrâneo através daquele poço e seguir a pé pelo subsolo até o centro da cidade.
〈...Ah, irmã Esther, onde pensa que está indo?!〉
No meio da explicação de Tres, Esther tentou sair correndo para algum lugar, e foi então que Kate a deteve.
〈Na verdade, eu gostaria de deixá-la em um lugar seguro, mas não temos tempo para isso. Por favor, permaneça na cabine enquanto durar o combate.〉
— Eu vou acompanhar o Padre Nightroad!
Enquanto batia os pés no mesmo lugar, Esther balançava a cabeça.
— Por favor, volte até o Padre Nightroad, Irmã Kate! E-eu também vou junto!
— Não posso permitir isso, Irmã Esther Blanchett.
A voz de Tres ecoou friamente.
— O lugar para onde o Padre Nightroad seguiu foi o centro de controle do ‘Iblis’ — os canais subterrâneos que levam ao Túmulo de Santa Elissa  — Qabr El-Elyssa—, sob o subterrâneo de Cartago. Mesmo que o acompanhe você apenas se tornaria um peso.
Aqui também... de novo, um “peso”!
Sim, de fato, talvez fosse mesmo um peso. Mas...!
— Por favor, Padre Tres! Eu...  para aquela pessoa...
Agarrando a batina do padre, que parecia como uma coluna de gelo, Esther gritou:
— Tenho algo que preciso dizer àquela pessoa! Por favor!
— ......
Tres fitava os olhos marejados da freira com suas lentes espelhadas, desprovido de qualquer emoção. Seus lábios, firmemente cerrados, eram instrumentos que só teciam pensamentos compostos de zero (negative) e um (positive).
Sim, ele não era humano — era uma máquina.
— Não é permitida a sua escolta ao Padre Nightroad, Irmã Esther Blanchett. Sua presença não representa poder de combate. Além disso, não há mais tempo para retornar.
A máquina de combate, desprovida de emoções, rejeitou friamente o apelo da garota.
Tumblr media
— Irmã Kate, pare a nave e deixe-a em algum lugar apropriado. Mesmo que a levemos junto com o ‘Raguel’, não seria nada mais que um peso.
As palavras cruéis esmagaram ainda mais a garota.
〈P-Padre Tres! Isso já não seria demais...?〉
Em meio à aproximação de uma tempestade de areia, será que esse autômato está mesmo sugerindo lançar uma garota sozinha no deserto?
〈Tudo bem que ela não sirva como força de combate, mas isso...〉
— Deixá-la aqui é, na verdade, mais perigoso. Deve haver uma cópia do mapa que o padre Nightroad tinha. Dê a ela, junto com uma arma para defesa pessoal, e mande-a para a superfície — se se esconder nos canais subterrâneos, provavelmente conseguirá resistir a tempestade de areia.
— ....Hã?
Se se esconder nos canais subterrâneos!?
O rosto de Esther se iluminou de repente.
— En-então, Padre Tres...!
— Naturalmente, depois de adentrar os canais subterrâneos, não importa para onde vá — isso está além da nossa jurisdição. Cuide da sua própria segurança.
A máquina de matar, desprovida de sangue e lágrimas, disse apenas isso, e se virou friamente.
<< Anterior- Índice R.O.M. II - Próximo>>
Roteiro de Leitura (。•̀ᴗ-)✧!
Créditos da tradução:
Lutie (◕‿◕✿) Desafio: encontre o 'furo' de roteiro desse capítulo hehe!
6 notes · View notes
trinitybloodbr · 2 months ago
Text
[ ᴀɴɪᴍᴇ ɪᴄᴏɴᴏ ]
𝑪𝒂𝒕𝒆𝒓𝒊𝒏𝒂 𝑺𝒇𝒐𝒓𝒛𝒂 | 𝑻𝒓𝒊𝒏𝒊𝒕𝒚 𝑩𝒍𝒐𝒐𝒅 ♡︎
Tumblr media Tumblr media Tumblr media Tumblr media Tumblr media Tumblr media
23 notes · View notes
trinitybloodbr · 2 months ago
Text
Tumblr media
Trinity Blood
Abel Nightroad
250605
50 notes · View notes
trinitybloodbr · 2 months ago
Text
Tumblr media
Trinity Blood - Reborn on the Mars Volume II - Anjo das Areias Escaldantes ----------------- ⚠️ ESSA OBRA EM HIPÓTESE ALGUMA É DE MINHA AUTORIA. TRADUÇÃO REALIZADA DE FÃ PARA FÃS. NÃO REPUBLIQUE OU POSTE EM OUTRAS PLATAFORMAS SEM AUTORIZAÇÃO. SE CASO POSSÍVEL, DÊ SUPORTE AOS AUTORES E ARTISTAS COMPRANDO AS OBRAS ORIGINAIS. ⚠️ -----------------
Não sabe por onde começar? Confira o Roteiro de Leitura (。•̀ᴗ-)✧!!!
Capítulo 3: O Estigma do Pecador
Quando a Iron Maiden II finalmente deixou o porto, após concluir o resgate dos feridos, já havia passado da meia noite.
〈Todos os agentes especiais presentes na cena foram mortos — com isso, o poder militar da Inquisição dentro da cidade de Cartago está praticamente aniquilado, não é?〉
A voz da irmã Kate soava amarga. O holograma da freira flutuando na ponte oscilava levemente enquanto inclinava a cabeça de lado.
〈...Então, Abel-san, e quanto aquele que os atacou — o Barão de Luxor?〉
— Sobre isso... não sei ao certo.
Estaria ferido em algum lugar? Com uma expressão incomumente sombria — para ele — Abel balançou a cabeça. Embora o seu rosto estivesse pálido, não se via sequer um arranhão em seu corpo.
— Acho que provavelmente, ele foi pego no meio do bombardeio... Mas, Ion-san, você viu alguma coisa?
— Não... Eu estava desmaiado! Que vergonha...!
Quem soltou um gemido de frustração foi o garoto sentado ao lado de Abel. Talvez a prata estivesse sendo eliminada, ou talvez fosse o efeito da transfusão sanguínea — mas, sua recuperação estava sendo consideravelmente mais rápida que a de um humano comum.
Após virar o copo de um hemoderivado, Ion estalou o pescoço como se estivesse descontando sua raiva.
— Não encontraram o corpo dele?
— Positive. Não foi possível localizar o indivíduo presumivelmente identificado como o Barão de Luxor, Radu Barvon. Supõe-se que tenha fugido.
Quem fez o relato de forma neutra foi Tres, que estava em um dos cantos da ponte de comando. Na base de seu pescoço ainda estava conectado o terminal de cabo que o ligava ao sistema de controle de armamentos da Iron Maiden II. Aquela rajada de tiros de artilharia quase divina disparada momentos atrás, que atingiram apenas as naves inimigas com precisão certeira — Rufaël e Acrasiel — sem causar qualquer dano à área urbana, foi obra deste ciborgue de infantaria mecanizada.
Com os braços cruzados e em silêncio, o Gunslinger complementou com mais detalhes ao seu relatório.
— Acrescentando mais um ponto: a outra nave de guerra aérea do Departamento de Inquisição — Raguel — continua desaparecida. Aparentemente, ela deveria ter deixado o aeroporto junto com a Acrasiel e a Rufaël, mas sua rota subsequente não foi possível rastrear.
— Entendo... E então, o que pretende fazer agora, Irmã Kate?
Com aquela voz sombria de sempre — e ainda assim estranhamente calma — Abel perguntou à projeção holográfica da freira. Restavam quatro horas até o amanhecer. Se fossem agir, o melhor era fazer logo.
〈Esta embarcação está atualmente navegando em direção ao Oásis de Douz, ao sul da cidade de Cartago. Na verdade, há ruínas de uma antiga igreja naquele oásis, e elas estão incluídas na agenda de inspeção de Caterina-sama.〉
— Entendi. Ion-san poderá se esconder nesse oásis, e durante a inspeção oficial, teríamos a audiência com ela... uma boa estratégia.
〈Após a audiência, levaremos novamente o Conde de Memphis a bordo e partiremos. Se conseguirmos sair até a zona segura, poderemos alugar um navio e solicitaremos o retorno ao seu país.〉
Com a força da Polícia Especial (Carabinieri) completamente aniquilada, não existiam mais fatores que poderiam impedir os movimentos de Caterina. Fariam uma coletiva durante o dia e, assim esperariam que a noite caísse, e então, eles deixariam o país em segurança.
〈Bem, até lá, Conde de Memphis, por favor, aproveite para descansar. Ah, e que tal um chá até chegarmos ao esconderijo? Desenvolvi uma nova receita recentemente〉
A freira sorriu alegremente e, ao levantar levemente o dedo, a mesa diante de Ion se abriu, e de lá subiu uma xícara de chá que exalava um vapor aromático.
〈Rosa-pink com malva e capim-limão... O segredo é usar mel, e não açúcar... Ah, Abel-san, também não gostaria de experimentar?〉
— Não... eu...
O padre, que observava o deserto noturno com um olhar silencioso e ao mesmo tempo melancólico, balançou a cabeça. Seu rosto estava mais pálido que a luz das duas luas.
Com um olhar um tanto vago voltado para o holograma de sua colega, Abel perguntou com uma voz rouca:
— Ah, Kate-san... antes de mais nada, sobre a Esther-san... como está o estado dela?
〈Sim, então... sobre isso...〉
Com um ar um tanto quanto de preocupação, a freira inclinou a cabeça. Levou os dedos ao canto dos olhos, onde havia uma pinta de lágrima.
〈Ainda não saiu da cama. Pelos meus exames, não encontrei nenhuma anormalidade física, porém...〉
— Entendo...
Mais uma vez, Abel lançou o olhar pela janela.
Talvez por estar em terras do sul, a luz distorcida da “segunda lua”, que continuava a brilhar no céu meridional, parecia incrivelmente próxima. Chegava a parecer que, se estendesse a mão, poderia tocá-la.
Durante aquele breve silêncio, que pensamentos teriam passado pela mente do padre?
Quando finalmente assentiu, como se tivesse tomado uma decisão diante daquele brilho, Abel já havia se levantado.
— Esther-san está na enfermaria, certo?
〈Sim. Preparamos uma cama no quarto ao lado do outro ferido... Oh, vai fazer uma visita a ela?〉
— Se for visitá-la, então eu vou junto.
Esvaziando rapidamente o que restava na xícara ainda pela metade, Ion também se levantou.
— Não sei o que aconteceu, mas estou preocupado. Quero ao menos ver seu rosto.
— Se é para se preocuparem com alguma coisa, preocupem-se com si mesmos, seus hereges!
Naquele momento, um rugido feroz, como o de um javali ferido, se sobrepôs à voz do garoto, ressoando no ar.
Todos os quatro presentes, sem exceção, se viraram ao mesmo tempo, como se tivessem sido repelidos por um impulso repentino. Uma figura alta estava de pé, bloqueando a entrada da ponte de comando. Em sua mão envolta por bandagens e compressas, segurava uma enorme maça de guerra. No rosto magro, desproporcional ao corpo robusto, os lábios estavam firmemente cerrados em uma linha tensa.
— I-irmão Petros!
— Finalmente conseguimos as evidências, seus hereges malditos!
Irmão Petros — o Inquisidor — lançou um olhar carregado de ódio para o grupo que se virara para ele.
Este homem havia sido atingido diretamente por um disparo de canhão de guerra e estava tão ferido que era um mistério ainda estar vivo.
Mesmo levando em conta a força defensiva da Armadura Sagrada do Sagrado Cavaleiro (Garb of Lord) e a resistência sobre-humana de um corpo modificado, ele não deveria conseguir sequer ficar de pé por vários meses — que tipo de nervos essa pessoa tem, afinal?
Diante dos olhares atônitos de todos, o inquisidor herege soltou uma gargalhada estrondosa, enquanto exalava de todo o corpo uma energia vital tão intensa que beirava o sufocante.
— Humf, como Francesco-sama disse, afinal aquela Sforza estava mesmo de conluio com esses vampiros! Que mulher ímpia! Mesmo sendo alguém encarregada de governar a Santa Igreja! Mas com isso, chegou a hora dessa raposa pagar pelos seus tributos. Agora, rendam-se e aceitem suas amarras com humildade!
— T-Tres-kun, pare com isso, por favor!
Se Abel não tivesse contido seu colega instintivamente naquele instante, a cabeça de Petros talvez tivesse se transformado em uma massa de carne moída, enquanto ele ainda gargalhava.
— Solte-me, Padre Nightroad.
Enquanto tentava se desvencilhar de Abel, que se agarrava aos seus braços, as mãos do Gunslinger já empunhavam duas M13 que cintilavam com um brilho metálico opaco. Com os dedos ainda sobre os gatilhos, Tres o mirou friamente.
— Agora que viu o Conde de Memphis, não podemos permitir que esse homem volte vivo... Iremos deletá-lo aqui mesmo.
— Ha! Me deletar? Interessante! Se bem me lembro, chamam-te Padre Tres Iqus, não? Muito bem — se achas que podes, tente fazer isso!
Como se tivesse reagido ao espírito de combate de seu dono, a maça soltou um grito estridente. O “Cavaleiro da Ruína” — Il Ruinante — girava com facilidade a arma, tão grande quanto seu próprio corpo, bem à sua frente — e em seu rosto, não havia qualquer sinal de medo.
— Este Petros, se for pela guerra sagrada, não fugirá nem se esconderá! Venha! Lutemos de forma honrada...
No meio de sua pose dramática, direcionado ao inquisidor de heresias, um disparo subitamente reluziu.
A bala disparada passou de raspão pelo rosto fino, desproporcional ao seu porte, e abriu um buraco enorme na parede atrás dele. Por um instante, o cavaleiro ficou boquiaberto, em choque, mas logo pareceu compreender o que havia acontecido. Segurando a bochecha, agora inchada como uma vergôntea, gritou:
— Co... covarde! Você ainda assim é um humano?! Enquanto um cavaleiro honrado está anunciando seu nome...
— Correção de ângulo de tiro: 0,02. Segundo disparo.
Palavras curtas foram abafadas pelos tiros e não puderam ser ouvidas claramente. Mesmo com Abel agarrado desesperadamente nele como um acessório desengonçado, Tres puxou o gatilho. Alguns fios do cabelo do “Cavaleiro da Ruína” (Il Ruinante) flutuaram ao vento.
— U-uooh! Atirou outra vez! Miserável, maldito, como se atreve a atirar sem nem ouvir o que os outros tem a dizer? Que blasfêmia!
— Tr-Tres-kun, por favor, pare! Primeiro, vamos falar com ele...
— Negative. Mais importante, Padre Nightroad, se continuar a interferir, você também será eliminado. Solte essas mãos.
Enquanto Petros gritava furioso, Abel permanecia agarrado e Tres puxava o gatilho — o diálogo entre os três seguia completamente desencontrado. Nesse meio-tempo, as balas de revólver eram espalhadas impiedosamente, e a maça de guerra brandida com tal violência, como se escavassem argila, iam abrindo buracos pela parede sem parar.
〈V-vocês dois, parem, por favor! Não briguem na ponte de comando! Se forem brigar, que seja fora da nave!〉
A projeção tridimensional da freira, completamente pálida, gritava com uma voz desesperada — mas ninguém a escutava.
E então, finalmente, o cano da arma de Tres, que havia lançado Abel para longe, se voltou para o inquisidor de heresias, enquanto a maça de guerra de Petros — aparentemente decidido a pular as apresentações — mirava a máquina assassina — o Killing Doll.
— Castigo divino!
— 0,04 segundos atrasado.
No exato instante em que as duas armas estavam prestes a demonstrar sua razão de existir, uma vibração violenta sacudiu a ponte de comando.
— O-o que foi isso!?
— U-um terremoto!?
Com a vibração violenta, a mesa foi virada. O vidro à prova de balas tremeu com um som desagradável, e todas as luzes do painel de controle ficaram vermelhas ao mesmo tempo. Abel, ainda jogado no chão, murmurou alguma coisa tola — mas, dadas as circunstâncias, não seria estranho se realmente fosse assim que parecesse.
Sobre o chão que se curvava como um trampolim, o padre de óculos espelhados que permanecia sozinho imóvel, perguntou:
— O que está acontecendo, Irmã Kate? Que tremor é esse?
〈U-uma turbulência!〉
A imagem holográfica, oscilando com piscadas intensas, parecia prestes a desaparecer a qualquer momento. Cerrando ainda mais os olhos estreitos, Kate relatou em tom de desespero:
〈U-uma turbulência surgiu de repente... Isso é impossível. O que é isso, afinal?! 〉
— E-ei...o que é aquilo?!
Enquanto ainda estava com a maça de guerra erguida, o Irmão Petros levantou a voz em aparente desespero. O grupo inteiro ao se virar, viu aquilo pela primeira vez.
No fundo da noite, o deserto estava se erguendo.
<< Anterior- Índice R.O.M. II - Próximo>>
Roteiro de Leitura (。•̀ᴗ-)✧!
Créditos da tradução:
Lutie (◕‿◕✿)
7 notes · View notes
trinitybloodbr · 2 months ago
Text
Tumblr media
Trinity Blood - Reborn on the Mars Volume II - Anjo das Areias Escaldantes ----------------- ⚠️ ESSA OBRA EM HIPÓTESE ALGUMA É DE MINHA AUTORIA. TRADUÇÃO REALIZADA DE FÃ PARA FÃS. NÃO REPUBLIQUE OU POSTE EM OUTRAS PLATAFORMAS SEM AUTORIZAÇÃO. SE CASO POSSÍVEL, DÊ SUPORTE AOS AUTORES E ARTISTAS COMPRANDO AS OBRAS ORIGINAIS. ⚠️ -----------------
Não sabe por onde começar? Confira o Roteiro de Leitura (。•̀ᴗ-)✧!!!
Capítulo 3: O Estigma do Pecador
Uma luz branca em ebulição rasgou o ar noturno como se fossem as garras de um deus, explodindo-se. Logo em seguida, aquilo que escorreu pelas costas do hábito rasgado... foram enormes asas de um negro profundo.
— O-o que... o que é aquilo...!?
Como uma borboleta sinistra emergindo lentamente de seu casulo, aquilo se ergueu — e a garganta do demônio de fogo — Ifrit — se moveu num engolir seco.
Os cabelos prateados, como uma coroa, brilhavam de maneira estranhamente bela sob o reflexo das chamas. Na sua mão direita, empunhava uma imensa foice de lâmina dupla, mais escura que a própria escuridão. Mas, mais do que qualquer coisa, o mais perturbador de tudo eram seus olhos, que reluziam da cor do sangue — e as enormes asas duplas que se estendiam nas costas de sua batina sacerdotal.
— U-um anjo... não, um demônio?
Aquilo lançou um breve olhar indiferente para as chamas, mas logo o desviou, com aparente desinteresse, sobre o calçamento de pedra. Ali, o sangue de Ion, que se contorcia como uma ameba, formava um redemoinho ao redor dele.
Aquilo sorriu.
O que aconteceu a seguir foi uma cena extremamente horrenda. As asas de um negror profundo caíram, como se estivessem murchas, sobre o chão de pedra. Ou melhor, para ser exato, suas penas mergulharam na poça de sangue ali formada. E então, no momento seguinte, o sangue de Ion foi sugado pelas asas negras, como tinta sendo absorvida por um papel mata-borrão.
O sangue sugado ramificou-se como capilares espalhados pelas asas negras, sendo então absorvido pelas costas daquilo.
— Você está... sugando o nosso sangue — dos Methuselahs?! Ma-maldito, quem é você?!
Desespero e temor — não, uma emoção ainda mais primordial — o medo — era o que impelia o corpo de Radu. Após jogar de lado a jovem terran, que arfava sem conseguir respirar, ele abriu por completo as glândulas secretoras em suas mãos. Ao mesmo tempo, excitou anormalmente todo o sistema nervoso — entrando no estado de “Aceleração Haste” — e começou a gerar o máximo de bolas de fogo que conseguia em suas mãos.
No instante seguinte, inúmeras chamas que saíram das mãos de Radu, investiram contra aquilo, enquanto se dividiam repetidamente em incontáveis chamas. Devido ao estado de "Aceleração Haste", era fisicamente impossível desviar da tempestade de chamas lançada de todas as direções. Não importa qual monstro fosse, com isso ele deveria ficar completamente carbonizado.
— ......
Talvez tenha percebido que não havia como evitar, aquilo não se moveu. Apenas suas asas bateram violentamente em direção ao céu.
Num instante, os relâmpagos que surgiram pareciam uma horda de cobras venenosas avançando sobre um bando indefeso de ratos. As esferas de fogo que chegavam a mais de cem, foram todas atingidas por relâmpagos, espalhando-se em todas as direções.
— !
Nem mesmo o tempo para se surpreender foi concedido a Radu.
Ao se dar conta de repente, a criatura disforme que estava diante de seus olhos havia subitamente desaparecido.
Mas como isso seria possível? Ele estava sob o efeito de Aceleração Haste. E mesmo assim, ele não conseguia perceber os movimentos do inimigo?!
No instante em que os pelos finos de sua nuca se eriçaram, o instinto de sobrevivência de Radu já o havia feito torcer o corpo para o lado. No mesmo momento, dezenas de fios de cabelo azul dançaram no ar noturno.
— O quê... o que está acontecendo!?
Ainda caído no chão, Radu recuou. Uma sombra escura ondulava entre as sombras do luar e das chamas.
E então aquilo o fitava de cima abaixo, em silêncio.
No meio daquela escuridão mais negra que a noite, apenas os olhos vermelhos brilhavam sinistramente.
Permanecendo em completo silêncio. Ainda assim, o que queria dizer foi transmitido a Radu com mais clareza do que com palavras.
VOCÊ / NOSSO / ALIMENTO...
No instante em que a enorme foice — que por pouco não decepara o pescoço de Radu — foi erguida novamente no meio do silêncio, por algum motivo, o pronome pessoal daquilo que soou na mente do jovem nobre imperial (boier) veio conjugado no plural.
NÓS / A PARTIR DE AGORA / VAMOS DEVORAR VOCÊ.
Após declarar isso de forma clara para o Methuselah — o ser mais poderoso da Terra —, a criatura brandiu sua arma grotesca.
Um estrondo capaz de despedaçar a própria noite ecoou pelo ar. Num piscar de olhos, um objeto de massa e velocidade absurdas passou raspando por cima da cabeça de Radu.
— P-padre!
Pareceu ouvir, ao longe, um grito de desespero, mas Radu não tinha o menor espaço de pensamento para se virar e olhar. Nem percebeu o tanque não tripulado Goliath, que, após disparar seu canhão, vinha em disparada na sua direção, com as esteiras rugindo. Tudo o que seus olhos enxergavam era...
— .......
A parte superior esquerda do corpo daquela coisa havia sido completamente obliterada. Mais precisamente, desde o peito esquerdo até o ombro, tudo havia desaparecido sem deixar vestígios. Um disparo direto de um canhão de tanque arrancara aquilo por completo.
— ........
Os olhos vermelhos se voltaram lentamente para o próprio ferimento. A parte superior esquerda de seu corpo, atingida diretamente pelo disparo de canhão de tanque, havia se transformando-se em pedaços de carne encharcados de sangue, espalhados por todos os lados.
Por mais monstruoso que seja, com isso ao menos...
No entanto, a esperança de Radu desmoronou com um estalo — no tempo de um único batimento cardíaco.
O sangue que se espalhara pelo chão começou a espumar com um som inquietante.
Não, aquilo não era espuma. Eram bocas. Inúmeras pequenas bocas, do tamanho de garras, brotando do sangue — cada uma delas com presas minúsculas como grãos de areia. Essas bocas cravaram os dentes aos pedaços de carne espalhados, devorando-os vorazmente como se fossem um manjar celestial. Depois de saciadas, as bocas dissolviam-se de volta no poço de sangue, como se nada tivesse acontecido. E o sangue, por sua vez, fluía de novo pelas asas ensanguentadas, retornando ao seu mestre.
Era uma visão horrenda. Em menos de alguns segundos, os pedaços de carne espalhados pelo chão foram completamente devorados. E o mais horrendo de tudo era que, naquele momento, aquilo estava de pé no mesmo lugar de antes — com a aparência absolutamente idêntica à original... exceto pelo hábito, que permanecia rasgado.
— Mas que tipo de piada é essa...?
Com os dentes rangendo, alguém gritava ao longe — mas Radu não percebeu que era a sua própria voz.
— Que tipo de piada é essa coisa?! Quem diabos é você...?!
Um som mais escuro que a própria noite ecoou. As asas de um negrume profundo bateram com força em direção ao céu. Relâmpagos azulados correram entre cada uma das penas negras, convergindo para a gigantesca foice erguida pela criatura.
No instante seguinte, o mundo inteiro se desbotou em azul.
A descarga elétrica lançada pela enorme foice brandida pelo monstro atravessou de frente o Goliath que avançava. A massa de aço, com mais de cinquenta toneladas, foi rasgada como se fosse de papel e espalhou-se em pedaços — Radu apenas observava, como se seus nervos tivessem sido entorpecidos.
“A seguir... será a minha vez de ser morto.”
O porto, iluminado intensamente pelas chamas que irromperam em uma explosão, era um inferno coberto de sangue, carne e aço. Não havia nenhum ser vivo de pé ou em movimento. Em meio àquela paisagem de morte e destruição, olhando para cima, para a única coisa que se erguia como o senhor dos pesadelos — Radu teve a certeza.
“Essa coisa vai me matar...”
Diante daqueles olhos vermelhos que fixamente o fitavam de cima, quando ele estava prestes a aceitar esse destino com uma serenidade quase insana...
— Mo-monstro...
Era uma voz pequena, mas ressoou naquele cenário como um trovão.
A voz vinha de uma garota pequena que segurava nos braços um menino desacordado. A freira, que fitava o anjo caído como se até mesmo tivesse esquecido de piscar, murmurou com a voz trêmula.
— Quem é você, afinal?
E então, isso provocou uma mudança que, deveria ser possível apenas para Deus, neste mundo dominado pela escuridão e pelo sangue.
— Ah...
Pela primeira vez, aquilo abriu a boca.
Pela primeira vez, algo que não era fome surgiu em seus olhos vermelhos.
Lentamente, aquilo virou-se para trás e, mais uma vez, proferiu palavras como se implorasse por algo.
— N-não... não... eu sou....
— Hi...!
No entanto, ao ver que aquilo deu um passo à frente, afastando-se do Ifrit, a freira recuou, aterrorizada. Segurando o corpo do menino nos braços, ela balançava a cabeça em negação, tremendo violentamente.
— Pa-pare... Não venha! Não venha, por favor!
— A... o...
Mesmo assim, aquilo estendeu a mão como se suplicasse. Em seus olhos, algo oscilava, como se lutasse ferozmente contra alguma coisa, e as asas em suas costas murchavam rapidamente, como pétalas secas de uma rosa negra.
— E... Esther-san, eu... eu... eu...
— Hii!
Esther soltou um grito como se o coração tivesse sido esmagado e encolheu-se. As mãos com garras daquela coisa, estendiam-se em sua direção. Diante de seus olhos, escancarados como se fossem explodir, algo tocou levemente sua bochecha manchada de lágrimas — um toque afiado mais duro que ferro.
Tumblr media
— .......
No momento seguinte, as forças abandonaram completamente o corpo da freira. Como um tronco podre que desaba, seu corpo se dobrou sem resistência — devido ao terror extremo, parece que seu coração não conseguiu suportar. Quando caiu no chão ainda abraçada ao garoto, sua consciência já havia escapado para algum lugar longe dali.
— Ah... Esther...
Aquilo se ajoelhou ao lado da jovem e do garoto desmaiados. Como se estivesse tentando pedir por perdão, balançou suavemente o ombro inconsciente de Esther.
— E-Esther-san... Esther-san... E-eu...
Como uma criança que se agarra à mãe, aquilo ainda assim sacudia a garota quando...
O ar foi rasgado.
Seria aquele o punho divino, que desceu voando do alto dos céus, para abater o anjo caído? O som do disparo veio alguns segundos depois do impacto.
— ...!
Esther e Ion — enquanto ainda protegia os dois, aquilo deixou escapar um gemido de dor. Mas se não tivesse estendido novamente suas asas para protegê-los, certamente o garoto e a garota teriam sido reduzidos a uma massa sangrenta de carne. Afinal, o projétil de trinta milímetros do Vulcan, que rasgou o chão bem diante deles, tinha poder mais do que suficiente para transformar até mesmo um veículo blindado em sucata.
— ‘A-Acrasiel’! ‘Rufaël’!
Um dos policiais especiais, milagrosamente ainda vivo, ergueu os olhos para o céu e soltou um grito de desespero.
Sob o céu noturno onde duas luas flutuavam, o ruído sinistro de motor era emitido por gigantescas sombras cinzentas, com mais de duzentos metros de comprimento. Acrasiel e Rufaël — encouraçados aéreos de última geração, controlados por inteligência elétrica (computadorizada), que carregavam o nome de “anjos que julgam os anjos”.
—N-não pode ser... até esses caras também?!
A voz trêmula de medo logo se transformou em um grito de horror. As metralhadoras automáticas dos dois encouraçados de combate giraram com uma fluidez quase intencional. No instante seguinte, assim como o Goliath as duas aeronaves — agora com suas inteligências eletrônicas tomadas — abriram fogo sem o menor vestígio de hesitação.
— ..........!
Era como se uma coluna de fogo tivesse despencado dos céus. A saraivada de projéteis de 30mm, disparados à razão de cinquenta por segundo, despedaçava impiedosamente tudo o que tocava no solo. O ar gritava como se o fim do mundo tivesse chegado, e o chumbo incandescente dilacerava a terra. A doca de concreto foi rasgada como papel, e as embarcações ancoradas explodiram em cadeia antes de desaparecerem entre as ondas. Gritos desesperados dos membros sobreviventes da força especial ecoaram por todos os lados — mas logo se calavam.
— Isso é ruim...
Naquela situação, aquilo que segurava Esther e Ion apertava os lábios e lançava um olhar ao céu. Ao lado do Rufaël, que continuava disparando rajadas com sua metralhadora, o canhão lateral do outro dirigível, o Acrasiel, estava girando lentamente. E sua mira — estava se ajustando diretamente para ele. Mesmo que conseguisse resistir aos tiros de metralhadora, se fosse atingido por um canhão de calibre tão grande...
Houve um estrondo ensurdecedor...
As chamas da explosão transformaram a noite em dia. A atmosfera em convulsão reverberava em ondas, golpeando o solo.
Porém, mesmo em meio à tempestade de luz e som que explodia ao redor, os projéteis que deveriam atingir o solo jamais chegaram.
— Aquilo é...
Mesmo apertando os olhos, aquela coisa ergueu o rosto — não, o que apareceu no campo de visão de Abel foi um redemoinho de luz em ebulição.
Enquanto lançava chamas rubro-negras e fumaça negra como breu a partir de seus balões de sustentação, a silhueta angular do Acrasiel, que até o momento estava assumindo a postura de bombardeio, caía em direção ao mar. Ao seu lado, o Rufaël rugia agudamente com seus motores a gás-turbina, tentando estabilizar o casco, que fora atingido pelo impacto da explosão. A silhueta colossal semelhante a uma criatura monstruosa era suficientemente imponente para inspirar verdadeiro temor em qualquer um que a contemplasse de baixo.
Porém, acima disso tudo, havia uma sombra colossal, que superava ainda mais as duas naves. Um encouraçado aéreo de branco puro dominava os céus noturnos, sob as duas luas, como se fosse seu legítimo soberano
— Iron Maiden II — Kate-san!
No exato instante em que Abel gritou, um raio disparado do dirigível branco empalou sem piedade Rufaël, que girava sua torre de artilharia lateral.
A colossal nave cinzenta caiu no mar logo após sua nave-irmã, emitindo um rugido ensurdecedor. Um segundo depois, o mar se ergueu como uma pequena colina. E o som da explosão ecoou mais um batimento de tempo depois.
<< Anterior- Índice R.O.M. II - Próximo>>
Roteiro de Leitura (。•̀ᴗ-)✧!
Créditos da tradução:
Lutie (◕‿◕✿)
4 notes · View notes