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𝑹𝑶𝑴𝑬𝑼 montéquio
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u-emo-r · 1 year ago
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Em outras circunstâncias, Romeu teria se afastado imediatamente. O tom cauteloso, baixo como o de uma serpente se enrolando em sua presa, fez com que permanecesse imóvel no lugar. Erik têm um jeito diferente de colocar as pessoas sob sua mercê. O arrepio gélido percorreu a coluna de Romeu. Ele engoliu um suspiro de susto, enquanto o homem à sua frente se divertia sussurrando uma confissão que a mente alterada dele conseguiu formular naquele momento cheio de tensão. Perverso, Romeu pensou. Se a palavra assumisse a forma humana, o olhar azul de Erik estaria encarando quem ousasse pronunciar e invocá-lo. Acontece que Montéquio era sensível; um rapaz feito de cristal e porcelana, prestes a quebrar mesmo com o beijo mais breve do vento. O coração, vulnerável e visível na garganta, partiu-se em pequenos pedaços. ⸻ Mentiroso ⸻ a acusação não passou de um murmúrio rouco, necessitado. ⸻ você ainda gosta de mim. Finge o contrário apenas para parecer que possuí a vantagem. Não tinha certeza se era este o caso, mas algo em Romeu se recusava a aceitar qualquer coisa que fosse diferente. Ele estava longe de ter o mesmo conceito de amizade que Erik. Com frequência se via incapaz de resistir à solidão — e ao mesmo passo, Erik o salvara dela. Não poderia ir embora assim; não por causa de uma infelicidade que se abateu sobre o coração de Montéquio alguns meses atrás. Amizades superam os obstáculos. As pessoas sobrevivem; por que o homem não poderia apenas seguir o óbvio? ⸻ ... Se me der as costas agora, vou me esforçar para arrancar algo seu, também. ⸻ a ameaça escapou antes que pudesse se impedir. Ele murchou, encolhendo os ombros, como uma rosa que passara tempo demais no inverno. Talvez tenha passado, mesmo. O olhar do outro, mais cortante que uma faca, trouxe uma atmosfera gélida e opressiva que não estava presente até então. Pensando melhor, as alterações no Livro das Histórias certamente resultaram em repercussões graves. Ao que aparentava, naquele momento, Romeu demonstrava tendências suicidas, e provocara Erik a lhe passar uma lâmina pelo pescoço o mais rápido possível. ⸻ é uma promessa.
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⸻ Ah é? Sou todo ouvidos. ⸻ respondeu, cético em relação à capacidade dele de se apresentar diante de um público tão exigente quanto o da Ópera, especialmente considerando seu estado de embriaguez atual. Não que fosse um cantor qualquer. Longe disso. Erik era um gênio; mas até os gênios têm um limite a ser respeitado. A verdade é que as coisas não vinham saindo como Montéquio queria havia já um bom tempo. Erik era uma rocha segura de si mesmo, resistindo com frieza ao rio desesperado que Romeu se tornara — fluindo ao seu redor, tentando sem sucesso envolvê-lo. Os olhos verdes de Romeu arderam litros de frustração, encarando a recusa do copo d'água como uma ofensa pessoal. ⸻ Perfeito, ⸻ sussurrou, pegando o copo. ⸻ não beba, então. Ele já esteve nessa mesma situação, algum tempo atrás, quando as árvores cheias do verão cediam espaço para galhos secos e cobertos com o orvalho frio do inverno. Sua mãe, Martina, apreciava e muito o vinho. Não se dirigia ao filho desde que o escândalo com Tadeu tomara os salões da alta aristocracia. Supôs que poderia reconquistá-la presenteando uma edição extremamente limitada de vinho tinto, a que ele se esforçou para trazer de um lugar distante. "Tolo" a mulher respondeu ao filho, franzindo o nariz como se a mera presença dele ofendesse seu olfato. "Pessoas não são podem ser compradas", ao que ele respondeu: "Excelente." E derrubou a garrafa no chão, espatifando cacos e bebida no carpete da sala. Infelizmente não poderia atirar o copo d'água no chão do Pub. Nem que todas as fibras do seu corpo implorassem por fazer do lugar um espetáculo extravagante. Em vez disso, sustentou o olhar com Erik por um breve momento antes de deixar um sorriso amargo despontar nos lábios. ⸻ Não acho que sou um amigo ruim. ⸻ levou o copo à boca, bebendo toda água ⸻ acho que sou o mocinho da minha história. E você, o antagonista da sua. Romeu transbordava amargura dos poros. O peito ardia sob as roupas, como se Erik tivesse lhe cravado uma faca invisível e girado a lâmina. Podia se sentir sangrando, os sentimentos escapando através do corte, vindo à superfície dos olhos como uma nuvem de umidade prestes a escorrer. Mas o orgulho ancorou as lágrimas ali mesmo; não permitiu que uma única gota rolasse um filete pelas maçãs afiadas do seu rosto. ⸻ Deveria me mostrar um pouco de gratidão. Fui indulgente. Eu estive… lhe dando o benefício da dúvida por tempo demais. A você, um vilão. E veja só como me retribui... ⸻ pausou, saboreando o gosto do veneno. Doce. ⸻ Ingrato.
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u-emo-r · 1 year ago
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"Não," diria Romeu, se ainda existisse dentro dele algum vestígio remanescente do caprichoso e carismático herdeiro Montéquio, "nenhuma paisagem pode se igualar à sua beleza." De fato, não havia espaço para comparação: Romeu nem mesmo voltou seus olhos verdes para o céu mais do que algumas espiadelas, pontuadas somente pelos comentários do seu antigo marido sobre a delicadeza da paisagem. Ora. Mas quem seria o tolo de encarar as nuvens quando se tinha ao alcance um rostinho como o de Tadeu? Sabia que antigos reis iriam à guerra por uma beleza dessas. Ao menos, ele faria isso. A morte por uma lâmina era como um pequeno preço a se pagar pelo paraíso do afeto do Capuleto. ⸻ Lindo... ⸻ murmurou, acordando como se sua própria voz pudesse romper o feitiço. Ele sugou o lábio entre os dentes, tentando com todas as forças afastar os pensamentos românticos (ou, talvez, um tanto obsessivos) que lhe consumiam a cabeça. É claro que falhou a tentativa. Várias e várias vezes. ⸻ Digo, o pôr do sol. Sim. Belíssimo.
Romeu sentiu os joelhos ceder ao trocar olhares com o herdeiro ao seu lado. A imagem do Ateliê como um dia conhecera abriu espaço entre os pensamentos; um local agradável, com cheiro de tinta fresca e do trabalho duro a que Tadeu se prestou ao longo do tempo. A menção de que o rapaz pudesse falhar em alguma coisa praticamente arrancou um sorrisinho de deboche de Montéquio. Ridículo; pensou, era ridículo juntar “falhas” e “Tadeu Capuleto” na mesma frase. ⸻ Falhou? Você? Não acredito no bicho-papão desde os meus três anos. Impossível. ⸻ deu os ombros, caindo em velhos hábitos ao compartilhar um sorriso cheio de segundas - e terceiras - intenções com Tadeu. “Como está sua mãe?” cogitou o perguntar, ponderando as palavras na língua como se mascando um chiclete. Dá última vez que abrira a boca para dizer o nome da Dona Capuleto, acabara divorciado e dormindo sozinho nas noites seguintes. É claro que seria má ideia, e ele logo a descartou, colecionando mais um punhado de silêncio, que se estabelecera de forma confortável no ar entre a caminhada dos dois rapazes. ⸻ Não. ⸻ respondeu ao outro, escolhendo guardar para si mesmo a informação de que escrevia apenas romances com conteúdo adulto. ⸻ É um pouco mais intenso. Amador. Talvez não satisfaça seu gosto literário. ⸻ porque talvez não satisfaça ninguém saber da mente pervertida pelo infortúnio do destino a que Romeu contraíra com o passar dos meses. Em alguns dias, só conseguia pensar em morte. Nos outros, só conseguia pensar se Tadeu também sentia as mesmas coisas sombrias espreitando atrás do crânio. O final dos seus livros era sempre a mesma coisa; morte, morte, morte. ⸻ Sabe. Estou curioso. O que acha do destino? O nosso, em particular.
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Romeu precisou respirar fundo, apenas para certificar à mente que não estava alucinando, como tantas vezes ele o fizera no último verão. Tadeu realmente estava ali; parado em carne e osso, não uma miragem passageira que se dispensaria na atmosfera assim que Montéquio recobrasse a sobriedade. Bebendo tanto vinho, até mesmo um médico não conseguiria distinguir entre a realidade e o sonho. ⸻ Não. Não esperei muito. ⸻ sussurrou, quando na verdade ele queria gritar: Sim. Estive à sua espera por tanto tempo que mal consigo saber como respirar sem que cada inspiração esteja imersa na doçura do seu fantasma e no gosto amargo do uísque do meu pai. ⸻ O sol se põe rápido em Red Rose. Havia um certo código de decência que ditava o quão apropriado deveriam ser os centímetros que o distanciam agora. Romeu queria nada mais que rasgar as páginas deste código e mandar tudo aos inferno. Mas ele deveria se provar melhor; novamente merecedor do paraíso que Tadeu lhe havia permitido explorar livremente um dia, antes de ser banido deste lugar — banido daqueles lábios rosados e felizes; da curva do seu pescoço pálido, dos lençóis de cetim que vestem a cama do herdeiro Capuleto... ⸻ O que tem feito para preencher... ⸻ a minha falta ⸻ os dias? ⸻ crispou a boca, erguendo uma única sobrancelha enquanto tratava de pôr alguma motivação no corpo. Romeu deu inicio à caminhada ao lado de Tadeu. De vez em quando, ele olhava por cima do ombro, avistando o contorno de alguém com quem se acostumou a ter proximidade. Uma orelha à qual se habituou a murmurar segredos durante a madrugada. ⸻ Tenho me ocupado bastante, sabe. Trabalhando em um novo romance de época. Algumas cenas dou à você o crédito pela inspiração.
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u-emo-r · 1 year ago
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Romeu, com a postura reta, desmontou do cavalo, direcionando o animal através da guia. Suas botas iam até o joelho, e a camiseta branca escondia todos os centímetros de pele do corpo. Na presença do príncipe, todos os integrantes do grupo procuravam provar que eram dignos de sua companhia. Alguns, ele percebeu, capricharam na roupa — e outros focaram na aparência das suas jóias; brilhantes à luz do sol como a intensidade de um candelabro. Romeu não fugia do código, é claro. Ele trouxe sua capa de lã vermelha, tecida em alguma parte tão, tão, distante do reino, que o custo para transportá-lo até os Montéquio poderia sustentar os netos de alguém.
Estava pensando em algo perspicaz a ser comentado, quando uma ave intrometida voou sobre Romeu e arrancou-lhe um único fio de lã perdido entre os cabelos. Ele, apavorado, quase gritou. Ou talvez tenha gritado; não que fosse admitir tão cedo. Romeu estaria ignorando o acontecido, em outras circunstâncias. O problema é que a risada do príncipe se fez ouvir no ar. Consideravelmente vermelho, o herdeiro Montéquio grunhiu, ajeitando seu cabelo enquanto o rapaz nobre ao seu lado achava cômica esta situação de quase-morte causada por uma ave selvagem.
⸻ Há. Há. Há. ⸻ disse, fulminando o príncipe com o olhar. ⸻ Fico contente que divirto Sua Alteza. ⸻ mas o que encarava o estimado Phillip não era um rostinho alegre; de forma nenhuma. Se não fosse prometido a um trono, Romeu poderia ter escolhido umas palavras interessantes para escapar dos lábios. Alguma coisa entre "vá se danar" e o "filho da peste!". ⸻ A brisa trouxe a lã do casaco. Estive ocupado admirando a... bem... o... o horizonte, em vez de perceber o fio.
where: safári
with: @u-emo-r
prompt: ❛ what are you smiling at? ❜
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Era um passeio divertido, ou pelo menos era isso que Phillip se dizia enquanto caminhava pela propriedade, observando tudo atentamente, enquanto ouvia as palavras do guia ao fundo. Tudo aconteceu tão rápido, de um instante para outro, o tucano que descansava no alto galho de uma árvore, desceu voo para onde o grupo se encontrava. Por um instante, Phillip pensou que era parte do passeio, que ele pousaria no braço do guia e algo seria explicado a respeito da criatura. O que aconteceu, no entanto, foi o sobrevoar da ave na direção dos cabelos de Romeu, removendo dali o que parecia ser um fio de lã vermelha. A risada foi inevitavelmente alta, atraíndo atenção para o príncipe, seguida da pergunta de outrem. A destra repousou sobre os lábios, tentando cobri-los ao mesmo tempo que lutava para conter o riso. A canhota balançava no ar, como um tchau, um sinal de não, qualquer coisa que os fizesse ignorá-lo e assim aconteceu, exceto Romeu. "Desculpe, é que aquele cidadão ali, acabou de tirar um fio de lã dos seus cabelos e você pareceu nem sentir.", apontou para o tucano de volta ao galho, o olhar desviando de Romeu para ele, e então o contrário. "O que fazia para ter um fio de lã nos cabelos, Romeu?"
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u-emo-r · 1 year ago
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Lorenzo Zurzolo, La Storia (2024)
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u-emo-r · 1 year ago
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⸻ Ah é? Sou todo ouvidos. ⸻ respondeu, cético em relação à capacidade dele de se apresentar diante de um público tão exigente quanto o da Ópera, especialmente considerando seu estado de embriaguez atual. Não que fosse um cantor qualquer. Longe disso. Erik era um gênio; mas até os gênios têm um limite a ser respeitado. A verdade é que as coisas não vinham saindo como Montéquio queria havia já um bom tempo. Erik era uma rocha segura de si mesmo, resistindo com frieza ao rio desesperado que Romeu se tornara — fluindo ao seu redor, tentando sem sucesso envolvê-lo. Os olhos verdes de Romeu arderam litros de frustração, encarando a recusa do copo d'água como uma ofensa pessoal. ⸻ Perfeito, ⸻ sussurrou, pegando o copo. ⸻ não beba, então. Ele já esteve nessa mesma situação, algum tempo atrás, quando as árvores cheias do verão cediam espaço para galhos secos e cobertos com o orvalho frio do inverno. Sua mãe, Martina, apreciava e muito o vinho. Não se dirigia ao filho desde que o escândalo com Tadeu tomara os salões da alta aristocracia. Supôs que poderia reconquistá-la presenteando uma edição extremamente limitada de vinho tinto, a que ele se esforçou para trazer de um lugar distante. "Tolo" a mulher respondeu ao filho, franzindo o nariz como se a mera presença dele ofendesse seu olfato. "Pessoas não são podem ser compradas", ao que ele respondeu: "Excelente." E derrubou a garrafa no chão, espatifando cacos e bebida no carpete da sala. Infelizmente não poderia atirar o copo d'água no chão do Pub. Nem que todas as fibras do seu corpo implorassem por fazer do lugar um espetáculo extravagante. Em vez disso, sustentou o olhar com Erik por um breve momento antes de deixar um sorriso amargo despontar nos lábios. ⸻ Não acho que sou um amigo ruim. ⸻ levou o copo à boca, bebendo toda água ⸻ acho que sou o mocinho da minha história. E você, o antagonista da sua. Romeu transbordava amargura dos poros. O peito ardia sob as roupas, como se Erik tivesse lhe cravado uma faca invisível e girado a lâmina. Podia se sentir sangrando, os sentimentos escapando através do corte, vindo à superfície dos olhos como uma nuvem de umidade prestes a escorrer. Mas o orgulho ancorou as lágrimas ali mesmo; não permitiu que uma única gota rolasse um filete pelas maçãs afiadas do seu rosto. ⸻ Deveria me mostrar um pouco de gratidão. Fui indulgente. Eu estive… lhe dando o benefício da dúvida por tempo demais. A você, um vilão. E veja só como me retribui... ⸻ pausou, saboreando o gosto do veneno. Doce. ⸻ Ingrato.
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"Ainda conseguiria cantar uma peça inteira, sem errar uma nota ou sair do tom.", replicava com teimosia as palavras do mais novo sobre o seu nível de embriagues. Não que a afirmação fosse crivo, Erik conseguiria cantar uma peça inteira em muitas circunstâncias desfavoráveis, apenas por parecer ter nascido para tal. No entanto, seus dias no palco tinham se findado com a última apresentação que culminou o fim trágico de sua história, desde então, evitava fazê-lo, não cantava nem mesmo em seu chuveiro. O olhou se soslaio, um breve arquear de sobrancelha destacando-se ao ouvir a afirmação de outrem. "Meio tarde, não acha?", o comportamento de Romeu não pareceu de quem se importava quando simplesmente desapareceu da vida de Erik. O que ele esperava? Que ao arrastar aquele copo d'água na direção de Erik, o homem fosse se comover, cair em lágrimas e agradecê-lo por isso? Que fosse abraçá-lo aos prantos, dizer o quanto tinha sentido sua falta e que estava tudo bem, poderiam deixar o passado no seu lugar? Então ele não conhecia Erik, pois ele era incapaz de esquecer o passado, o mesmo tanto que era orgulhoso. "Escolha interessante para descontrair. Mas não acho que seja o nosso caso, Romeu, eu...", não estou pronto para perdoa-lo, era o que teria dito se não tivesse sido interrompido pelas palavras de outrem, aquele tom de ordem atrelado ao xingamento que fez Erik voltar o rosto completamente na direção do mais novo, incrédulo, aborrecido e estranhamente surpreso. "Dispenso.", foi o máximo que replicou, empurrando o copo de volta na direção de outrem. A sobriedade viria no momento que tivesse que vir, por hora, Erik precisava da sensação de dormência em seu corpo, relaxando-o e impedindo que cometesse algum ato impensado, fosse em relação aquele ao seu lado, ou qualquer outro com quem cruzasse caminho até casa. "Se você acha que a ausência de alguém que detinha minha mais profunda estima, pode ser equiparada a dor de um soco no rosto, ou estômago, ou até mesmo um chute na canela. Então você não sabe o que é estimar alguém, Romeu, o que não me surpreende já que virou-me as costas tão rápido e sem motivos. Bom, pelo menos agora eu sei que é sobre você e não algo comigo, você que não soube e talvez ainda não saiba ser amigo.".
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u-emo-r · 1 year ago
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Mais rápido do que as flechas tinham o direito de ser, as palavras de Erik cravaram o coração de Romeu. Era um bêbado muito mal-educado, mas ainda um bêbado com razão. Poderia ter se levantado e saído pela porta a qualquer instante, mas permanecia imóvel, diante de Romeu, que absorvia internamente cada uma das faca que Erik cuspira contra sua face. Os olhos brilharam esmeralda, lembrando os vitrais de uma igreja esquecida. ⸻ Seu consumo de álcool ultrapassa, e muito, o tolerável. ⸻ respondeu, recuando o corpo como se levasse um tapa. Covarde até o fim; pensou consigo mesmo, embolando a língua para não deixar escapar mais do que deveria ⸻ e... bem... eu... me importo com você. Sério. Supôs que era necessário insistir para que ele bebesse água e, por isso, empurrou o copo alguns centímetros a mais em direção ao outro. O som do vidro deslizando pelo balcão preencheu o silêncio que Romeu poderia usar para justificar seu comportamento do passado, mas a expressão neutra de Erik, desprovida de qualquer sentimento, não motivava ninguém a assumir os erros. Se alguma coisa; fazia Romeu sentir vontade de se atirar do prédio mais alto que pudesse ver em Red Rose. ⸻ Não! Eu não quis dizer esse tipo de deplorável... foi apenas... semântica. Um modo inofensivo de descontrair... ergh. ⸻ "você conhece as regras", quis dizer. Os nobres socializam assim em bailes o tempo todo; batalhas de alfinetes aglomeram a atmosfera do salão da alta aristocracia. Romeu, nervoso, não conseguia ser outra coisa além de cortês. Educado, como o cachorro bem treinado dos Montéquios que era. ⸻ Só... beba a droga da água, Erik. Cacete. Erik (o teimoso) não parecia disposto a conceder pedidos… se o risinho irônico dele tivesse sido algum indício do seu humor. Que se dane; ele não poderia ficar pior do que o mal-humorado que Romeu vinha enfrentando nos últimos minutos… ou poderia? ⸻ Me desculpe. ⸻ confessou, finalmente, deixando-se esvair junto às palavras que lhe escapavam da boca ⸻ Me desculpe. Me desculpe. ⸻ pausou, virando outra dose ⸻ O que você gostaria de negociar em troca do seu perdão? Posso suportar algum sofrimento físico. Um soco no rosto lhe satisfaria? E que tal no meu estômago? Um chute na canela?
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Não precisava de uma confirmação da parte de Romeu, muito menos que lhe desse razão quanto a farpa jogada na direção do outro, pois Erik sabia muito bem que estava com a razão. Não era de sua personalidade correr atrás das pessoas, a primeira e última vez que fez isso, não acabou muito bem e todos conheciam a história - o fatídico fim do seu livro, com a partida de Christine. Não, ele realmente não se dava ao trabalho de perseguir os amigos que tentavam se afastar e não foi diferente com o Montéquio, ao primeiro sinal de ausência, Erik entendeu perfeitamente o recado e o deixou partir. Para muitos, isso poderia ser considerado igualmente como um desinteresse, para Erik, era como se ele já tivesse vivido anos o suficiente com a rejeição assombrando e atormentando seus pensamentos, ao ponto de qualquer distância ser considerada como um ato de rejeitá-lo. "Eu adoraria que passassem.", comentou também como uma indireta, querendo dizer que talvez fosse melhor que o mais novo tivesse deixado a moeda no chão, ou que não a tivesse devolvido para o fantasma, qualquer coisa que simplesmente não o colocassem naquela conversa com o Erik embriagado, sem filtros e que, muito provavelmente, seria extremamente grosseiro com alguém que sempre quis bem. O olhar desviou para o mais novo no instante que fez o pedido em seu nome, com o expressivo arquear de uma única sobrancelha - a outra era sempre tampada pela máscara. "Decidiu cuidar do meu consumo de álcool também, Romeu?", indagou com o tom debochado. Era só o que faltava realmente, que ele agisse como costumava fazer, controlando, cuidando e dando o máximo para que Erik não ultrapassasse dos limites. Algo no peito chegou a incomodar com a lembrança da amizade tão significativa que tinham, Erik sempre foi incapaz de se abrir para com outras pessoas, mas isso parecia não se aplicar ao homem do seu lado. Era realmente uma sensação agridoce, a de uma amizade fracassada. Ouviu com atenção as palavras do outro, o rosto voltado para a frente, a expressão intangível que servia apenas como disfarce, por dentro era atingido por cada palavra do mais novo. "Claro. Certamente ele esqueceu nossos anos de amizade, cumplicidade e compreensão. Desconsiderou que não precisava me contar seus segredos, apenas um: preciso de um tempo; e já bastava.", replicou dando de ombros, como se fosse irrelevante tratar disso agora, de nada importava as motiva��ões de outrem. "deplorável? Uau!", o risinho rompeu os lábios, "não sei, Romeu, talvez por estarmos cada vez mais condenados aos nossos destinos. Não parece motivo suficiente?"
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u-emo-r · 1 year ago
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Coração indomável? Grandes loucuras? Romeu era capaz disso tudo. Ele se desenvolveu bem, sensível nas sutilezas em que deveria ser incisivo; amável onde sua mãe acreditava que precisava de uma dose maior de dureza; corajoso, mesmo tendo sido uma criança tímida e chorona na primeira infância. O Jovem Romeu era a personificação da perfeição — o tipo de herdeiro que aparece nos romances voltados para adolescentes: mimado, gentil, persuasivo, carismático e traiçoeiro. Era uma escultura moldada no mármore mais sólido, para a qual o Romeu Adulto dirige seu olhar meses depois, lamentando ter se tornado esse homem que é hoje. ⸻ Eu só queria saber onde tudo acabou errado. Que palavras usar quando for suplicar o perdão dele… ⸻ as lagrimas vieram à superfície dos olhos, mas o orgulho mesquinho de um garoto nobre não permitira que nenhuma gota fosse derramada. Em vez de se afundar nas lamentações, decidiu seguir o conselho da Sra. Tremaine e encerrar por aqui esta sessão de bebidas. É claro que existem safras raríssimas de vinho a serem esvaziadas na privacidade do seu escritório, mas ele resolveria suas pendências com a embriaguez em outro momento. ⸻ Você sempre está correta. Droga. Às vezes me pego querendo contradizê-la, porém a expertise de uma profissional sempre se prova superior a tudo. ⸻ fungou, usando o guardanapo como disfarce para esses péssimos modos à mesa ⸻ Muito bem. Farei como sugerido: vou ameaçar tirar minha própria vida se Tadeu não quiser reatar imediatamente!
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O pub se tornou o local que ele mais visitara desde o término com Tadeu. Neste ponto do campeonato, não foi estranho que ele tenha sido visto dividindo várias vezes uma mesa com a Sra. Tremaine. Em silêncio, o herdeiro Montequio consumia diversas doses de uísque e anotava mentalmente os conselhos amorosos da viúva. Ele cansou de ficar sozinho contanto os azulejos da parede do seu escritório; preferia memorizar o passo-a-passo que esta especialista no amor tinha a dizer sobre colocar um antigo relacionamento de volta aos trilhos. ⸻ Sim. Você está certa. Acha normal eu… eu… talvez futuramente recorrer ao suicídio no final da história? ⸻ perguntou à ela, esperando ouvir algo completamente maduro e novo que abrisse seus horizontes e o ajudasse a recuperar todas as coisas — entre elas: o prestígio entre os nobres, o amor de Tadeu, o respeito como o futuro herdeiro — que ele havia perdido ao longo do tempo. ⸻ Não acho que cantar vai trazer alívio ao meu coração. Não. Me diga o quê eu devo dizer. Qual roupa devo vestir. Que poema devo declamar! ⸻ choramingou, engolindo com rapidez a bebida e deixando que a queimação enviasse ondas bem-vindas de tontura à sua cabeça. O álcool atenua as dúvidas da mente, ele descobriu, após esvaziar garrafas e mais garrafas à meia-noite. Naturalmente, os bolsos do herdeiro carregam muitas moedas, mas dificilmente Romeu encontrava troco após suas visitas ao bar. ⸻ Me ajude.
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u-emo-r · 1 year ago
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Bêbado, Romeu inclinou a cabeça para trás, esparramado nos lençóis de cetim vermelho que vestiam a cama de Carlota. A anfitriã tinha sua própria maneira de sofrer. Consistia em andar de um lado para o outro, pisoteando o chão sem se cansar da monotonia do trajeto. O retrato de dois mimados — é o quê são; duas crianças da alta nobreza que enfrentam pela primeira vez a dificuldade com a qual os camponeses conhecem no íntimo: querer muuuuito uma coisa, mas nunca conseguir reivindicá-la. ⸻ Eu sei, Lotte. É frustrante! Talvez devêssemos encontrar doadores compatíveis e substituir os dois olhos do homem… Raul nunca foi dotado de boa visão, certo? A miopia é grave. ⸻ respondeu à histeria dela, arrastando as palavras como se uma âncora puxasse sua concentração para o fundo do mar. Com um gesto elegante da mão esquerda, Romeu chamou Carlota. Chegue mais perto. ⸻ Ou… bem. Poderíamos sequestrá-lo. Os dois, Tadeu e Raul. ⸻ sussurrou baixinho, como se confidenciado à ela o segredo mais valioso do universo. O dinheiro resolveria a situação quando se trata de sequestros; ele só esperava que isso compensasse os traumas das vítimas desse esquema também. Carlota poderia ser bem persuasiva. Como terapeuta e usando do incentivo correto, talvez a mente de Raul recuperasse os eixos num único instante. ⸻ Eu o manteria bem alimentado e contente. Atenderia a todos os desejos e até permitiria que visse a luz do sol ao entardecer... não soa como um sonho?
with: @u-emo-r
A situação era cômica e deplorável de se olhar. Os lençóis de fibra caríssima, os travesseiros de pluma e as taças de cristal com vinho de boa qualidade. E, claro, um Romeu estirado sob a cama dela em uma cara de pura tristeza que já tinha nome e sobrenome. Nada daquilo era sugestivo, muito pelo contrário. Carlota andava pelo próprio quarto e bebericava o vinho como se fosse água. "— Como pode, Romeu? Como pode? Eu! Logo eu!" Exclamou, andando de um lado para o outro, algumas garrafas girando sem rumo conforme o pé dela as batia. "— Não é possível que ele não veja o que tem na frente dele, que não me escute." Jogou a taça no chão, e por sorte, essa caiu no lençol estirado e não quebrou. O que, interessantemente, estressou Carlota, que deu um gritinho frustrado. "— Romeu, se esse homem não ficar comigo, eu acho que vou enlouquecer! Nem as torturas de Erik me eram tão pesadas, santas fadas!" Exagerou, como sempre.
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u-emo-r · 1 year ago
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Romeu precisou respirar fundo, apenas para certificar à mente que não estava alucinando, como tantas vezes ele o fizera no último verão. Tadeu realmente estava ali; parado em carne e osso, não uma miragem passageira que se dispensaria na atmosfera assim que Montéquio recobrasse a sobriedade. Bebendo tanto vinho, até mesmo um médico não conseguiria distinguir entre a realidade e o sonho. ⸻ Não. Não esperei muito. ⸻ sussurrou, quando na verdade ele queria gritar: Sim. Estive à sua espera por tanto tempo que mal consigo saber como respirar sem que cada inspiração esteja imersa na doçura do seu fantasma e no gosto amargo do uísque do meu pai. ⸻ O sol se põe rápido em Red Rose. Havia um certo código de decência que ditava o quão apropriado deveriam ser os centímetros que o distanciam agora. Romeu queria nada mais que rasgar as páginas deste código e mandar tudo aos inferno. Mas ele deveria se provar melhor; novamente merecedor do paraíso que Tadeu lhe havia permitido explorar livremente um dia, antes de ser banido deste lugar — banido daqueles lábios rosados e felizes; da curva do seu pescoço pálido, dos lençóis de cetim que vestem a cama do herdeiro Capuleto... ⸻ O que tem feito para preencher... ⸻ a minha falta ⸻ os dias? ⸻ crispou a boca, erguendo uma única sobrancelha enquanto tratava de pôr alguma motivação no corpo. Romeu deu inicio à caminhada ao lado de Tadeu. De vez em quando, ele olhava por cima do ombro, avistando o contorno de alguém com quem se acostumou a ter proximidade. Uma orelha à qual se habituou a murmurar segredos durante a madrugada. ⸻ Tenho me ocupado bastante, sabe. Trabalhando em um novo romance de época. Algumas cenas dou à você o crédito pela inspiração.
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𝒐𝒏𝒅𝒆 — no píer. 𝒄𝒐𝒎 — tadeu. @tadeocapuleto
Ajustando o casaco ao corpo, Romeu parecia quase o herdeiro que sua mãe buscou todos os dias do último ano por ver nele. Quem diria que o ar fora do seu esconderijo escuro faria tanta diferença? Abandonar o conforto não foi fácil, mas ele tinha seu próprio jeitinho de contornar as dificuldades desde que estas o levassem a observar o semblante sereno de Tadeu mais uma vez. Romeu, é claro; temia a morte. Quem não a teme? A ansiedade por conta do destino trágico da sua história era um veneno que congelava o sangue em suas veias. Se isolar — igual um a sobrevivencialista com medo do apocalipse — no escritório tinha sido a saída que ele encontrara para contornar o inevitável, e convencer Tadeu a acompanhá-lo em um passeio parecia uma ação capaz de comprometer todos os seus esforços. "Encontre-me ao pôr do sol", escreveu no bilhete, junto ao endereço onde esta pequena reunião entre os herdeiros de famílias rivais ocorreria. O píer estava deserto. Não havia ninguém à vista, a não ser pelas gaivotas que planavam sobre o céu laranja de Red Rose. Romeu chutou uma pedrinha sob o sapato, encarando o horizonte além do azul oceânico, até que escutou à direita o barulho inconfundível de areia sendo pisoteada. Alguém se aproximou — mas acontece que Romeu não precisara olhar duas vezes para saber qual a identidade do recém-chegado na solidão do píer. Ao virar o pescoço alguns centímetros, Montéquio experimentara uma sensação açucarada assomando dentro do seu peito. Tadeu com certeza era uma coisa bonita de se observar. Com a sua presença, as árvores pareciam menos sôfregas, as gaivotas cantavam com mais intensidade no céu e a grama reluzia em um verde ainda mais vibrante. Ele parecia ser a decisão equivocada que a alma atormentada de Romeu estava prestes a tomar, com seus cabelos escuros e longos caindo sobre a testa. ⸻ ... Olá. ⸻ murmurou Romeu, sem nenhuma hesitação ao entregar a Tadeu a delicada oferta de uma rosa vermelha. Montéquio poderia ser bastante rude, desagradável e até cheirar mal aos domingos... mas nunca abriria mão do romantismo que dedicara por tanto tempo à sua querida (e única) paixão!
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u-emo-r · 1 year ago
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Assim que a voz rouca de Erik se fez ouvir no ambiente do Pub, Romeu soube que tinha feito merda. Mimado desde a infância, não era incomum para Montéquio conquistar a simpatia das pessoas com o mínimo de postura — ora piscando os olhos, ora simulando desculpas, e às vezes se inclinando de maneira subserviente diante do ofendido. Ele há muito tempo perdeu a conta de quantos problemas conseguia evitar com um simples sorriso encantador. Mas a questão é que Erik nunca foi do tipo que se deixava enganar por esses sorrisos encantadores. Não deu a Romeu nenhum indicativo para pensar que seria assim tão simples. Se alguma coisa, o homem parecia estar pronto para explorar as fraquezas (e as falhas) de um Romeu que ansiava por sua companhia, mesmo após tê-lo afastado sem explicação. "Considerável não chega nem a fazer justiça" ouviu o outro replicar. ⸻ Têm toda razão. É sempre tão perceptivo; tão metódico. Aposto que nenhuma moeda passa despercebida por você… ⸻ foi impossível evitar despencar o olhar para a mão do homem. O sorriso de sempre apareceu desenhando os lábios de Romeu ⸻ … exceto pela última, é claro. ⸻ com bastante resistência e autocontrole, ele engoliu toda a bebida servida no balcão, enquanto Erik aceitava a oferta da sua companhia e tomava o assento indicado a ele. "Figurinhas?" ralhou em pensamento, crispando os dentes. Que Deus desça do paraíso e interfira agora com essa péssima tentativa de colocar uma amizade perdida nos eixos. Acontece que até um cego poderia dizer pelo cheiro que Erik estava além dos limites da embriaguez. Se ainda o conhecia bem — e achava que o conhecia —, sabia que sua autodestruição sempre vinha acompanhada de um ótimo motivo. ⸻ Outro destilado para mim; água com gás para este aqui. ⸻ com suas maneiras educadas, Romeu agradeceu ao atendente encarregado pelas bebidas assim que estas deslizaram suavemente a extensão do balcão de madeira. ⸻ Às vezes, Erik, o "amigo", tinha as próprias razões. Coisas secretas, que crescem cada dia mais dentro dele sem o devido consentimento. ⸻ perambulou ao redor das palavras, espiando o fundo do copo do drinque como se o líquido fosse magicamente retornar. ⸻ Nas outras vezes, revelar um pouco de si mesmo inspira os outros a seguir o exemplo... ⸻ pausou, enxugando a boca com o guardanapo. ⸻ então, por que está parecendo tão deplorável esta noite?
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𝒔𝒕𝒂𝒓𝒕��𝒓 𝒑𝒂𝒓𝒂: Erik @erikxphantom 𝒐𝒏𝒅𝒆: o pub.
Romeu mal se passava por um pessoa, com a cabeça apoiada nas mãos e os cotovelos rígidos contra o balcão do pub. Um desesperado; ele tinha a aparência de um homem em ruínas. O tipo de homem que vai ao bar à procura da dose que atenuasse o desespero cravado aos pedaços do seu coração. Acontece que os últimos acontecimentos (a mudança da sua história de amor para uma história de suicídio duplo suuuuper romântico!) poderiam com facilidade justificar o tal estado de agonia, e assim ele se permitiu afundar ainda mais nessa... coisa. Romeu, um pouco bêbado, espreguiçou-se. Um gesto calmo, casual, que acabou despertando sua atenção para uma única moeda dourada que caia no chão há poucos centímetros dele. Girando, girando, girando. É claro: ela tinha um dono, ao qual Romeu tratou de se apresentar após tomar a moeda na palma. ⸻ Aqui. Você derrubou isso.... ⸻ mas sua mente distraída não contava que o dono tivesse dois olhos azuis muito familiares. Nem que se chamasse "Erik", e que aparecesse à sua frente semanas depois de Montéquio ter rompido um vínculo de amizade sem explicação. Estalou a língua no céu da boca. ⸻ Ah. Oi. Ele se mexeu no assento — um movimento ansioso, nunca conseguia ficar parado por muito tempo —, e convidou Erik a tomar o banco à esquerda com tapinhas sobre a madeira rígida. Tudo bem: não foi nada legal da sua parte ter começado a evitar Erik por uma razão que o próprio Romeu se recusava a admitir para o espelho. Mas, agora, Romeu sentia-se solitário. Sem marido, sem amigos, sem família — já que sua mãe se negou a olhar para o filho desde que o escândalo envolvendo Tadeu se espalhou pelos ouvidos da nobreza — e sem o seu "felizes para sempre". Ele desejava a companhia de alguém. De Erik. Sentia-se exausto de encarar as paredes do escritório, a brancura do papel sulfite, as prateleiras repletas de livros. Romeu nunca foi tão egoísta a ponto de exigir a compreensão dos outros acerca dos seus problemas, mas agora se via à procura da empatia de um homem que até então tinha desapontado — "Erik está desapontado?", ele se perguntou pela centésima vez naquele mês. ⸻ Fique, é por minha conta. Não nos falamos há um tempo considerável... ⸻ pediu ao funcionário encarregado do bar duas doses extras. Copos foram imediatamente servidos, deslizando pelo balcão. ⸻ E estou curioso sobre o quê você anda aprontando... como vai a vida?
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u-emo-r · 1 year ago
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O pub se tornou o local que ele mais visitara desde o término com Tadeu. Neste ponto do campeonato, não foi estranho que ele tenha sido visto dividindo várias vezes uma mesa com a Sra. Tremaine. Em silêncio, o herdeiro Montequio consumia diversas doses de uísque e anotava mentalmente os conselhos amorosos da viúva. Ele cansou de ficar sozinho contanto os azulejos da parede do seu escritório; preferia memorizar o passo-a-passo que esta especialista no amor tinha a dizer sobre colocar um antigo relacionamento de volta aos trilhos. ⸻ Sim. Você está certa. Acha normal eu… eu… talvez futuramente recorrer ao suicídio no final da história? ⸻ perguntou à ela, esperando ouvir algo completamente maduro e novo que abrisse seus horizontes e o ajudasse a recuperar todas as coisas — entre elas: o prestígio entre os nobres, o amor de Tadeu, o respeito como o futuro herdeiro — que ele havia perdido ao longo do tempo. ⸻ Não acho que cantar vai trazer alívio ao meu coração. Não. Me diga o quê eu devo dizer. Qual roupa devo vestir. Que poema devo declamar! ⸻ choramingou, engolindo com rapidez a bebida e deixando que a queimação enviasse ondas bem-vindas de tontura à sua cabeça. O álcool atenua as dúvidas da mente, ele descobriu, após esvaziar garrafas e mais garrafas à meia-noite. Naturalmente, os bolsos do herdeiro carregam muitas moedas, mas dificilmente Romeu encontrava troco após suas visitas ao bar. ⸻ Me ajude.
Quem: @u-emo-r Onde: Pub The Mist Música: Fallin - Alicia Keys
Não que fosse assídua no pub, afinal, ela era uma lady. Porém, por alguma razão desconhecida as pessoas gostavam de levar para lá. No caso de Romeu, sabia que era por que ele não estava muito bem por conta de Tadeu, o que não era novo e claro que era Lady Tremaine que iria o auxiliar. Chegava a ser engraçado, como depois da Elysian era normal que a vissem como a percursora do amor e dos casamentos, o que era ótimo para os negócios, mas hilário quando se colocava em perspectiva que ela era uma viúva solitária com duas filhas solteironas. ❝Ah, querido, não acho que você seja tolo... Apenas está apaixonado e não existe nada de errado com isso.❞ Consolou com um pingo de sinceridade, ela não via nada de errado em pessoas apaixonadas, não sendo ela ou as filhas não existiam riscos, então tudo estava bem. E bom, era o trabalho dela convencer ele de que deveria persistir em ficar com Tadeu, afinal, se ele desistisse da ideia ela deixaria de receber... E ela não estava ali trabalhando em pleno domingo apenas para ficar sem dinheiro depois. Ainda tinha uma grande dívida a pagar. ❝Que tal cantar um pouco no magiokê? Talvez lhe ajude a se sentir um pouco melhor, colocar toda essa emoção para fora?❞
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u-emo-r · 1 year ago
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Romeu não pode esconder a careta mal-humorada, avaliando discretamente os Perdidos assumindo seus postos de trabalho no interior da confeitaria. Não passava de um cliente ranzinza para eles. Ficou aliviado que Ariel fosse silenciosa com as palavras; sabe-se lá quais planos malignos esses alienígenas possam conceber depois de escutar uma troca entre os mocinhos sentados à mesa. ⸻ O quê?! Sua... cauda? Santa Varinha Mágica. ⸻ repetiu, boquiaberto. Assim como um peixinho encalhado na costa, a sereia Ariel não sobreviveria à transformação estando presa em terra firme. Ele precisou levar a mão à boca e roer as unhas, para evitar ir imediatamente fazer um escândalo contra os portões do castelo de Merlin. ⸻ Acho pertinente que nós tenhamos ao menos um balde com água. Por precaução. ⸻ gesticulou aos atendentes à espreita, finalizando o pedido para garçonete que veio rapidamente com "e traga o maior que conseguir encontrar!". ⸻ Estou me tornando... não sei dizer. Algo entre a obsessão e a loucura. Tadeu é tudo o que meu cérebro ecoa. No futuro, talvez, a ideia de um suicídio duplo se torne aceitável para mim, a ponto de... bem, você sabe. Está acontecendo. Tudo vêm mudando rápido. ⸻ confessou, um brilho desesperado brincando por trás dos olhos verdes do herdeiro Montéquio. Era certeza. Senão amanhã, então nos próximos meses. Ariel, condenada a repetir os eventos da sua história, se tornaria metade peixe outra vez. E Romeu, morto no túmulo, não degustaria nenhuma sobremesa na companhia da amiga. Nunca mais.
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confeitaria delícias da vovó
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"Madrugada passada aconteceu outra vez..." Começou a relatar para o amigo, assim que terminou de fazer seu pedido e notou que o atendente já estava afastado. Perdidos eram os contratados dos estabelecimentos do Mundo das Histórias e Ariel não queria correr o risco que acabassem ouvindo suas lamentações. "Estava dormindo e do nada acordei sem conseguir falar, respirar... Minha cauda apareceu juntamente com a meia noite. Se o Eric não estivesse por perto na hora, não sei o que poderia ter acontecido." Quando estava em sua forma de sereia era impossível respirar fora da água... Consequentemente, seriai impossível sobreviver. "Mas o pior de tudo isso é que se essas transformações estão frequentes quer dizer que estamos cada vez mais sem tempo, Rom. Daqui a pouco essa mudança vai estar completa, o Eric não vai mais se lembrar de mim e não quero nem pensar na minha irmã... Ou no que vai acontecer com você." Sentia o coração apertar de medo. Precisava começar a colocar seus planos de investigar os vilões em prática. "Também tem sentido alguma coisa estranha?"
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u-emo-r · 1 year ago
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Imaginando o morango com pernocas se esforçando na sua fuga pelo espaço da cozinha, Romeu ficou à beira das lágrimas. Sim, era muito delicioso o morango servido no prato, mas a dinâmica de Wonderland dava importância à coisas que ele jamais imaginou serem capazes de fazê-lo soluçar. Dando uma garfada generosa, o herdeiro dos Montéquio fungou e engoliu ao mesmo tempo. ⸻ Eu estou... ⸻ ele procurou as palavras para responder adequadamente à pergunta de Eylül. A garota representa tudo o quê o jovem mais repudiava; mas era a única entre os pedidos pela qual Romeu fazia uma exceção ao seu tratamento grosseiro ⸻ ... inconsolável. Ranzinza. Cada dia mais rabugento e sombrio. Abocanhou a sobremesa com ainda mais vontade. O porquê Eylül decidiu escutar os lamentos melancólicos de Romeu era um mistério para o rapaz. Não sabia nem o que o motivou a fazer dela uma confidente leal. Uma garota esperta e capaz de cozinhar doces tão saborosos como esses seria bem-vinda em qualquer parte do mundo dos contos — até mesmo na mente deste Montéquio condenado à tragédia da sua história de amor, ele concluiu. ⸻ Não encontrei ele. Não ainda. Mas tenho planos de fazê-lo em breve, custe o quê me custar. ⸻ se remexendo no assento à frente ao balcão de atendimento, ele gesticulou para as roupas da garota. Era simples; um conjunto que não favorecia o gosto da aristocracia a qual Romeu se acostumara desde menino. ⸻ Você deveria usar camisetas melhores. Os príncipes daqui não têm o coração capturado por damas deselegantes, sabe.
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teatime tea shop
Depois de alguns dias começou a entender que aquele horário na loja seria o separado para que pudesse ouvir os desabafos de Romeu enquanto o servia com doces. Começou como uma gentileza de Eylül — havia ficado sentida de observá-lo tão chateado e acreditava que comida costumava melhorar tudo. Agora ela sentia que usavam daquele momento como uma sessão de terapia em que ambos iriam compartilhar suas experiências sofridas de romance. A única questão era que no caso de Romeu... A culpa era dos Perdidos. Ainda bem que ele parecia que estava fazendo uma exceção com a ruiva. "Aqui, fiz o seu favorito." Sorriu gentil para Romeu e colocou o pratinho com o doce no balcão, acompanhando um chá. "Demorei um pouco, porque uma das frutas começou a correr pela cozinha e elas são difíceis de recuperar quando fogem." Ainda estava tentando se acostumar com a dinâmica de uma cozinha que era desenvolvida pela rainha de Wonderland. "Me fala, Romeu. Como você está se sentindo nessa semana? Conseguiu conversar com ele?"
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u-emo-r · 1 year ago
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De berço nobre, a lembrança mais horrenda que ele guardava da sua infância era do porco servido inteiro no jantar, com a maçã estática na boca, em vez de discreto e cortado em pedaços modestos sobre o prato. Com um grito estrangulado do herdeiro, a refeição programada àquela noite foi imediatamente alterada e o chefe de cozinha substituído. Seus pais sofriam por amá-lo demais, e Romeu sofreu para amadurecer nas pontas corretas devido a tanta pompa e proteção que foi durante muito tempo a residência dos Montéquio. Ele cresceu um garoto mimado. Pronto para reivindicar o que satisfizer o apetite, sem receber um "não" como resposta. É claro que ele vêm sofrendo com as mudanças da sua história desde a chegada dos perdidos, mas meses de sofrimento não foram suficientes para diminuir toda a arrogância e pretensão que um menino da nobreza alimentou por tanto tempo — por tantos anos. O que fazia inspecionando o empório do Lobo-mau? Simples; procurando botas de couro legítimo. O inverno se aproximaria rápido, senão nas próximas semanas; então em breve. Ele gostava da ideia de adquirir pertences novos, feitos especialmente sob a mão de um artesão competente. Apenas não contava que a atmosfera do local fosse tão… macabra. Horrenda. E que estivesse desprovido do mínimo; sem qualquer sofázinho ou divã onde um Romeu exausto da vida pudesse repousar à vontade. ⸻ Tour? ⸻ ele respondeu ao Lobo, afastando os pensamentos críticos sobre a estrutura do estabelecimento e evitando tocar nos produtos cuja origem ainda desconhecia. ⸻ Ah. É claro. Muito atencioso da sua parte. Agradeço ao convite. Seria um prazer apreciar a... a... simplicidade do seu trabalho honesto. ⸻ Romeu se despiu do casaco, usando uma das cadeiras feitas pelo Lobo como cabide. Seria uma boa ideia sugerir ao proprietário que instalasse cabideiros à entrada para que os clientes se sentissem mais confortáveis? ⸻ Na verdade, estou à caça de botas. Couro legítimo, de preferência. Ouvi dizer que você tem uma reputação impecável quando se trata de satisfazer a clientela exigente. ⸻ mentiu, servindo o melhor sorriso. Romeu era ótimo na arte da cortesia; e melhor ainda fingindo não perceber o quão afiada era a faca que o Lobo espetou no balcão de atendimento...
oh................. hm....... it's amazing what you've done with such a modest budget.
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lykos estava satisfeito com o movimento do dia e tendo vendido duas éças já foi o suficiente para manter ele bem por algumas semanas. ele amava seu trabalho e era algo extremamente complicado de se fazer, considerando as horas que ele precisava desde a caça até o produto final. e claro, sempre existiam pessoas que não gostavam de pagar o valor justo, mas as que pagavam faziam o seu dia, semana e até mês. tendo isso em mente, certos clientes o tiravam do sério. a parte boa de trabalhar para pessoas ricas era que elas mandavam empregados e normalmente esses empregados não julgavam o ambiente humilde do leather emporium. o lobo nunca viu o ponto de deixar a loja toda chique se os seus produtos eram de origem animal. o tom rústico da coisa combinava. não via sentido em colocar um lustre de cristais para iluminar os pelêgos. ele estava sentado atrás do balcão, esculpindo um apito novo para a coleção de brinquedos quando escutou alguém entrando. realeza. o comportamento era sempre o mesmo, mas ele entendia. antes que ele pudesse largar suas coisas e oferecer ajuda, o homem abriu sua boca para irritar lykos. o lupino suspirou, esperando ele se aproximar até o balcão para girar a faca e cravar ela com mais força do que o necessário na madeira. ele nem chegou a pensar que deixaria uma marca ali, a vontade de enfiar a faca na mão de romeu mais forte do que qualquer outra coisa. não posso machucar humanos. "você acha?" ele perguntou, um sorriso seco estampando seu rosto e tentando, não com muito sucesso, escondendo seu sarcasmo. "quer uma tour por aqui? tenho certeza que lhe impressionaria." com certeza esse idiota adoraria ver a parte de trás da loja, onde ele fabricava tudo.
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u-emo-r · 1 year ago
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𝒔𝒕𝒂𝒓𝒕𝒆𝒓 𝒑𝒂𝒓𝒂: Erik @erikxphantom 𝒐𝒏𝒅𝒆: o pub.
Romeu mal se passava por um pessoa, com a cabeça apoiada nas mãos e os cotovelos rígidos contra o balcão do pub. Um desesperado; ele tinha a aparência de um homem em ruínas. O tipo de homem que vai ao bar à procura da dose que atenuasse o desespero cravado aos pedaços do seu coração. Acontece que os últimos acontecimentos (a mudança da sua história de amor para uma história de suicídio duplo suuuuper romântico!) poderiam com facilidade justificar o tal estado de agonia, e assim ele se permitiu afundar ainda mais nessa... coisa. Romeu, um pouco bêbado, espreguiçou-se. Um gesto calmo, casual, que acabou despertando sua atenção para uma única moeda dourada que caia no chão há poucos centímetros dele. Girando, girando, girando. É claro: ela tinha um dono, ao qual Romeu tratou de se apresentar após tomar a moeda na palma. ⸻ Aqui. Você derrubou isso.... ⸻ mas sua mente distraída não contava que o dono tivesse dois olhos azuis muito familiares. Nem que se chamasse "Erik", e que aparecesse à sua frente semanas depois de Montéquio ter rompido um vínculo de amizade sem explicação. Estalou a língua no céu da boca. ⸻ Ah. Oi. Ele se mexeu no assento — um movimento ansioso, nunca conseguia ficar parado por muito tempo —, e convidou Erik a tomar o banco à esquerda com tapinhas sobre a madeira rígida. Tudo bem: não foi nada legal da sua parte ter começado a evitar Erik por uma razão que o próprio Romeu se recusava a admitir para o espelho. Mas, agora, Romeu sentia-se solitário. Sem marido, sem amigos, sem família — já que sua mãe se negou a olhar para o filho desde que o escândalo envolvendo Tadeu se espalhou pelos ouvidos da nobreza — e sem o seu "felizes para sempre". Ele desejava a companhia de alguém. De Erik. Sentia-se exausto de encarar as paredes do escritório, a brancura do papel sulfite, as prateleiras repletas de livros. Romeu nunca foi tão egoísta a ponto de exigir a compreensão dos outros acerca dos seus problemas, mas agora se via à procura da empatia de um homem que até então tinha desapontado — "Erik está desapontado?", ele se perguntou pela centésima vez naquele mês. ⸻ Fique, é por minha conta. Não nos falamos há um tempo considerável... ⸻ pediu ao funcionário encarregado do bar duas doses extras. Copos foram imediatamente servidos, deslizando pelo balcão. ⸻ E estou curioso sobre o quê você anda aprontando... como vai a vida?
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u-emo-r · 1 year ago
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❛ i know it's 2 a.m. but i really need someone to talk to. are you awake? ❜ @waves-and-babes
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Como se num presídio, o barulho de trancas sendo abertas ecoou por trás da porta do escritório de Romeu. Ele espiou a cabeça para fora, encontrando a figura de Eric parado em frente a propriedade. Outra pessoa que não o Príncipe teria recebido o baque da madeira se fechando sobre a cara, ou até mesmo um balde d'água suja atirado pela janela do segundo andar. Mas Eric era especial, um amigo que merecia ser apreciado com cuidado — ainda que Romeu fosse desajeitado lidando com tudo o que era valioso. Abriu a porta do escritório, puxando Eric para dentro antes que a brisa gélida da noite terminasse congelando os dois. ⸻ Vamos, homem, desembucha. O que foi desta vez? Ariel te mandou dormir na casinha do cachorro ou coisa assim?
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u-emo-r · 1 year ago
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𝒐𝒏𝒅𝒆 — no píer. 𝒄𝒐𝒎 — tadeu. @tadeocapuleto
Ajustando o casaco ao corpo, Romeu parecia quase o herdeiro que sua mãe buscou todos os dias do último ano por ver nele. Quem diria que o ar fora do seu esconderijo escuro faria tanta diferença? Abandonar o conforto não foi fácil, mas ele tinha seu próprio jeitinho de contornar as dificuldades desde que estas o levassem a observar o semblante sereno de Tadeu mais uma vez. Romeu, é claro; temia a morte. Quem não a teme? A ansiedade por conta do destino trágico da sua história era um veneno que congelava o sangue em suas veias. Se isolar — igual um a sobrevivencialista com medo do apocalipse — no escritório tinha sido a saída que ele encontrara para contornar o inevitável, e convencer Tadeu a acompanhá-lo em um passeio parecia uma ação capaz de comprometer todos os seus esforços. "Encontre-me ao pôr do sol", escreveu no bilhete, junto ao endereço onde esta pequena reunião entre os herdeiros de famílias rivais ocorreria. O píer estava deserto. Não havia ninguém à vista, a não ser pelas gaivotas que planavam sobre o céu laranja de Red Rose. Romeu chutou uma pedrinha sob o sapato, encarando o horizonte além do azul oceânico, até que escutou à direita o barulho inconfundível de areia sendo pisoteada. Alguém se aproximou — mas acontece que Romeu não precisara olhar duas vezes para saber qual a identidade do recém-chegado na solidão do píer. Ao virar o pescoço alguns centímetros, Montéquio experimentara uma sensação açucarada assomando dentro do seu peito. Tadeu com certeza era uma coisa bonita de se observar. Com a sua presença, as árvores pareciam menos sôfregas, as gaivotas cantavam com mais intensidade no céu e a grama reluzia em um verde ainda mais vibrante. Ele parecia ser a decisão equivocada que a alma atormentada de Romeu estava prestes a tomar, com seus cabelos escuros e longos caindo sobre a testa. ⸻ ... Olá. ⸻ murmurou Romeu, sem nenhuma hesitação ao entregar a Tadeu a delicada oferta de uma rosa vermelha. Montéquio poderia ser bastante rude, desagradável e até cheirar mal aos domingos... mas nunca abriria mão do romantismo que dedicara por tanto tempo à sua querida (e única) paixão!
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