Arquivo imagético, textual e sonoro. Dedicado à preservação do presente puro.
Don't wanna be here? Send us removal request.
Text
Há dias assim... Dedicados à ressurreição.
Rabbits, 2002. David Lynch
0 notes
Text
Três, 1995. António Ramos Rosa Tu pensas que os cardeais não se masturbam, que não vêem as telenovelas, que vêem, quando muito, os filmes de Bergman e o Evangelho segundo São Mateus de Pasolini. Não, eles nunca lêem os livros pornográficos e nunca pensaram em ter amantes. Eles não conhecem o turbilhão das visões das figuras eróticas, eles lêem os exercícios espirituais de Santo Inácio e têm o odor da santidade e irão para o céu porque nunca pecaram, nunca acariciaram um pénis, nunca o desejaram túmido e ardente na sua boca casta. Ah os cardeais como são exemplares mesmo quando os espelhos os perseguem com os membros e órgãos de mulheres na fulguração da nudez liquida e candente! Todavia eu conheço a obstinada chama do desejo, a sua glauca ondulação, os seus olhos deslumbrados pela oceânica vertigem de um corpo embriagado pela sua simetria e pela volúvel coerência dos seus astros dispersos. Não, eu não creio na inocência imaculada dos solenes cardeais. Eu sei que a sua carne é a mesma argila incandescente e turva de que o meu corpo frágil é composto. Eles conhecem o sofrimento de ser duplos, o vazio do desejo, a violência nua das imagens monstruosas, a adolescência do fogo nos labirintos negros. Mas eu sei que os cardeais não gritam, nem levantam a voz, nem atravessam a fronteira do pudor e adormecem ao rumor das orações. É esta imagem que eu quero conservar na religiosa monotonia do meu sono.
0 notes
Text
0 notes
Text
A Gaia Ciência, Livro Quarto, 1882. Friedrich Nietzsche. A propósito do ano novo. Ainda vivo, ainda penso: tenho ainda de viver, pois ainda tenho de pensar. Sum, ergo cogito; cogito, ergo sum. Hoje permite — se cada um exprimir os seus desejos e os seus mais caros pensamentos: então, de igual modo quero dizer que eu pretendo hoje de mim próprio, e que pensamento me veio primeiro ao coração este ano, o qual deve ser para mim alicerce, garantia e doçura de toda a vida que há-de vir! Eu quero aprender cada vez mais a ver como belo o que é inevitável nas coisas: assim serei um daqueles que tornam as coisas belas. Amor fati: que seja de ora em diante o meu amor! Não quero fazer guerra contra o que é feio. Não quero acusar, nem sequer acusar os acusadores. Que a minha única negação seja desviar os olhos! E, para tudo dizer numa só fórmula: eu não quero um dia ser outra coisa senão um daqueles que dizem sim à vida.
0 notes
Text
Tini Zabutykh Predkiv / Os Cavalos de Fogo, 1965. Serguei Paradjanov
0 notes
Text
0 notes
Text
Signo Sinal, 1979. Vergílio Ferreira. Detenho a imagem do vazio da aldeia. Campo de terra batida com montes de pedras. De que irão construir as casas? a pedra é lenta, o cimento é rápido. Deve ser uma questão para o Arquitecto. A pedra, o tempo, o negrume das eras — imagino-o a defender a pedra. A rapidez, a claridade, a maleabilidade fácil — imagino-o a defender o cimento. Mas lembro uma ou duas betoneiras — misturadoras do barro? Retenho a imagem do deserto da aldeia, as barracas de madeira em volta, uma ou outra ao centro.
0 notes
Text
0 notes