Vincent Cheung é um pregador e escritor cristão. Ele e sua esposa moram nos Estados Unidos. CONTA NÃO OFICIAL. “Tudo é possível ao que crê.” (Marcos 9:23)
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Ethan Griggs
Apresentado por Vincent Cheung
No vasto e incessante zumbido do ciberespaço, onde os pensamentos do mundo convergiam e colidiam em fios, fóruns e feeds intermináveis, vivia um homem chamado Ethan Griggs. Ele não era um homem notável, embora acreditasse ser. Sua mente zumbia com convicções emprestadas, teologia de segunda mão que ele regurgitava com o fervor dos autoconfiantes. Ele rondava fóruns cristãos como um predador, caçando oportunidades para corrigir, repreender e condenar, disfarçando suas palavras sob o manto da ortodoxia.
A tela do notebook de Ethan brilhava na sala sem luz, um retângulo branco-azulado de julgamento. Seus dedos pairavam sobre o teclado, prontos para atacar enquanto ele rolava por uma discussão sobre milagres. O tópico estava em chamas com testemunhos—relatos de curas, libertação, batismo no Espírito Santo, falar em línguas, profecias e visões. Ethan fez um sorriso de desdém. Tolos, pensava ele. Os sinais e maravilhas cessaram com os apóstolos. Essas pessoas estavam enganadas por suas próprias emoções, confundindo sentimentos humanos com atos divinos.
Ele começou a digitar. Suas palavras, como flechas envenenadas de desprezo, voaram rápidas e implacáveis:
“Os milagres cessaram com os apóstolos. Essa tal ‘cura’ não passa de manipulação emocional e delusão espiritual. Chamam isso de Espírito Santo? Não passa de um produto de fervor mal orientado.”
Ele pressionou “Postar” com a certeza de um martelo batendo na madeira. O comentário apareceu, implacável e venenoso, entre os outros. Ethan se recostou na cadeira, satisfeito. A verdade, ele acreditava, precisava de defensores, e ele era um dos poucos ousados o suficiente para defendê-la.
Mas algo estranho aconteceu enquanto suas palavras se fixavam no tópico. O cursor piscava na tela, implacavelmente constante. O brilho do notebook parecia intensificar-se, derramando uma luz fria que pintava suas paredes em nítido relevo. Uma notificação apareceu—uma resposta ao seu comentário. Ele sorriu, pronto para destruir mais uma alma equivocada.
A resposta era de um usuário desconhecido: Paraclete_117.
“Você falou com descuido. Retrate suas palavras, embora talvez já seja tarde demais.”
Ethan riu. “Tarde demais para quê?” ele murmurou enquanto começava a digitar:
“Outro enganado pelos chamados ‘milagres’. Você nem consegue discernir o Espírito da verdade do espírito do erro. Patético.”
Ele clicou em “Postar” novamente, mas, em vez de seu comentário aparecer, a tela congelou. O cursor piscou mais uma vez, e então a resposta mudou.
“Blasfêmia contra o Espírito não será perdoada.”
Um arrepio percorreu o quarto. O ventilador do notebook zumbiu alto, depois parou completamente, deixando um silêncio tão absoluto que parecia opressivo. Ethan franziu a testa e pressionou as teclas, mas nada respondeu. A tela começou a piscar, as palavras reescrevendo-se sozinhas no tela pausada:
“Pelas suas palavras, você está condenado.”
Seu coração disparou enquanto a tela se enchia de texto — suas próprias palavras, cada zombaria e negação que ele já tinha escrito. Cada comentário rolava em um desfile de arrogância: acusações de fraude, desconsiderações das testemunhas e zombarias contra sua validade. Eles rolavam cada vez mais rápido, um espelho digital refletindo sua alma.
“Pare com isso”, ele sussurrou, sua voz trêmula. Mas a tela obedeceu a outro mestre.
Uma nova linha apareceu, em negrito e ardente na pálida luz:
“Você insultou a obra do Espírito. Você chamou o Espírito Santo de enganador. Salve-se, Ethan Griggs, se puder.”
Ele bateu a tela do notebook, mas a luz vazava pelas fendas. O dispositivo chiou como se fosse algo vivo, e ele o arremessou ao chão. Seu celular vibrou na mesa, chamando sua atenção. Uma notificação apareceu na tela: Paraclete_117 respondeu ao seu post.
Com mãos trêmulas, Ethan pegou o celular. Desbloqueou-o e abriu o aplicativo. As mesmas palavras o saudaram:
“Blasfêmia contra o Espírito não será perdoada.”
“Quem é você?”, ele gritou para a tela, com a voz embargada.
O celular vibrou violentamente, e uma resposta apareceu. “Paracleto.”
Ethan largou o celular como se ele o queimasse. As palavras na tela se queimaram em sua mente, cada letra marcada em seus pensamentos. Ele tropeçou para trás, mas os dispositivos começaram a ganhar vida — notebook, celular, até o alto-falante inteligente na estante. Eles entoavam em uníssono, suas vozes sintéticas ecoando pela sala:
“Cada palavra descuidada… Cada palavra descuidada… Cada palavra descuidada…”
As telas mostraram visões agora: rostos daqueles que haviam testemunhado a cura, sua alegria zombada pelos comentários de Ethan; pregadores expulsando demônios, sua fé escarnecida pelas suas negações. Então, apareceu outra imagem: um tribunal, com Ethan em pé como acusado. O acusador falava com uma voz como trovão, lendo em voz alta as palavras que Ethan tinha digitado. Suas acusações contra o Espírito de Deus eram evidências contra ele, cada sentença uma corrente se enrolando cada vez mais apertado ao redor de sua alma.
“Não!” Ethan gritou. “Eu não quis dizer isso! Eu estava defendendo a fé!”
A voz respondeu, calma e inflexível:
“Você falou. Pelas suas palavras, você é justificado, e pelas suas palavras, você é condenado.”
A tela do notebook se apagou, e o quarto caiu em silêncio. Ethan caiu no chão, ofegante, seu coração batendo como um tambor de guerra. Os dispositivos estavam inertes agora, mas as palavras ainda pairavam no ar, gravadas no silêncio: Blasfêmia contra o Espírito não será perdoada.
Dias depois, a conta de Ethan no fórum desapareceu, apagada sem deixar vestígios. Seu nome desapareceu entre os tópicos, sua voz silenciada no meio da cacofonia dos debates online. Mas aqueles que viram as palavras de Ethan não esqueceriam. Sussurravam sobre o desaparecimento de Ethan, e as mensagens enigmáticas que haviam aparecido nos tópicos — mensagens que pareciam ecoar um julgamento vindo de uma fonte além da tela.
E, nos cantos do ciberespaço, onde luz e sombra se entrelaçavam, o nome Paraclete_117 aparecia novamente, uma sentinela contra aqueles que ousassem zombar do Espírito e desafiar suas obras.
— Vincent Cheung. Ethan Griggs.
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Uma Conspiração Imperdoável
Por esse motivo, eu lhes digo que todo pecado e blasfêmia serão perdoados aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada. Todo aquele que DISSER uma palavra contra o Filho do homem será perdoado, mas quem FALAR contra o Espírito Santo não será perdoado, nem nesta era nem na que há de vir. [...] Mas eu digo que, no dia do juízo, os homens darão conta de toda palavra INÚTIL que tiverem FALADO. Pois, por suas PALAVRAS, vocês serão absolvidos e, POR ELAS, serão condenados. (Mateus 12:31-32, 36-37)
A definição ortodoxa padrão do pecado imperdoável é que se refere a uma rejeição consciente, deliberada e persistente de Jesus Cristo. Isso é obviamente uma mentira, pois Jesus o definiu como um pecado cometido ao falar palavras, e essas palavras sendo contra o Espírito Santo, não contra Jesus.
Além disso, como o contexto indica, a aplicação imediata da doutrina refere-se ao que uma pessoa diz sobre as obras do Espírito em coisas sobrenaturais e miraculosas, como curar os doentes e expulsar demônios. Inegavelmente, também se aplica a profecias, visões e falar em línguas, uma vez que a Escritura especifica essas como demonstrações do Espírito também. O contexto também indica que o pecado pode ser cometido até mesmo ao falar contra o Espírito Santo em relação a essas coisas de maneira indireta e imprudente.
A blasfêmia contra o Espírito Santo recebe uma ênfase maior e uma cobertura mais ampla nos Evangelhos, em uma linguagem mais vívida, do que as doutrinas da eleição, batismo e comunhão. No entanto, é a doutrina mais distorcida, rejeitada e negligenciada da história da igreja. Todos os que se chamam cristãos, mesmo quando discordam em outras questões a ponto de violência, de algum modo se unem contra Jesus nessa doutrina.
Quando esse pecado é mencionado, é para assegurar as pessoas de que não o cometeram. No entanto, Jesus nunca ofereceu qualquer garantia em relação a esse pecado. Ele o apresentou apenas como uma ameaça e um perigo, e como um pecado que é possível, até fácil de cometer. Ele nunca disse para não se preocupar com isso. Ele nunca disse que não era para ter medo. Ele nunca disse que era difícil de cometer ou improvável de acontecer. Ele o mencionou para que as pessoas ficassem alarmadas e evitassem cometer essa ofensa imperdoável. Em vez de descartá-lo, devemos aumentar a preocupação com ele.
A ortodoxia histórica insiste em uma definição antibíblica desse pecado, uma definição que contradiz e renuncia claramente o que Jesus disse, como se desonrasse o próprio Jesus. A falsa definição é uma blasfêmia em si mesma, fraudando a reverência que Jesus insistiu que devemos oferecer ao Espírito de Deus.
A definição comum desse pecado é uma evasão. É uma tentativa de substituir a doutrina em vez de explicá-la. É desonesta e pouco inteligente. Retrata séculos de teólogos e crentes como praticamente iletrados por terem sustentado uma definição tão absurda que é obviamente falsa e contradiz diretamente o que o texto ensina. Oferece uma esperança equivocada e uma falsa garantia. Além disso, porque conspira contra a doutrina e advertência de Jesus, desviando a atenção de seu verdadeiro significado, a ortodoxia histórica torna mais provável que as pessoas cometam esse pecado. Quem afirma a falsa definição se torna cúmplice da condenação eterna de muitos.
De fato, parece inegável que alguns dos pregadores, teólogos e religiosos que assumem a falsa visão da doutrina cometeram o pecado eles mesmos. Eles falaram contra o Espírito Santo de maneiras ainda mais explícitas e viciosas do que aqueles que provocaram a advertência original de Jesus. Fizeram isso com pleno acesso e conhecimento do que Jesus disse sobre isso, tornando-os ainda piores do que os ofensores originais. Eles se propõem a ensinar o povo de Deus e a se opor aos hereges, mas nunca foram cristãos, e nunca poderão ser. Eles nunca serão perdoados, e nunca serão salvos. Eles queimarão no inferno.
Vincent Cheung. Fonte: https://www.vincentcheung.com/2025/01/01/an-unforgivable-conspiracy/
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Graça para os Seus
A pecaminosidade do homem e a soberania de Deus
Há duas ideias fundamentais que determinam como devemos pensar sobre a questão da graça divina.
A primeira é a pecaminosidade do homem, ou a doutrina da depravação total. Quando Adão pecou, ele agiu como o chefe federal ou representante da humanidade, de modo que toda a humanidade caiu com ele. Agora, um veredito de culpa é imposto a todos os seus descendentes, e uma natureza de impiedade é passada adiante, não por geração natural, mas por poder divino, a cada pessoa humana nascida depois dele, exceto Cristo. O resultado é que o homem é incapaz de salvar a si mesmo, de se redimir diante de Deus, ou de atingir a justiça com Deus. Na verdade, porque ele é mau, ele também não está disposto a fazê-lo. Ele prefere queimar no inferno a se curvar diante do Altíssimo.
A segunda é a soberania de Deus, especialmente quando aplicada à salvação do homem pecador. A Bíblia ensina que Deus cria e escolhe alguns homens para a salvação, isto é, para mostrar-lhes graça e bondade, para mudar sua natureza do mal para o bem, e para produzir fé e amor neles para com o Senhor Jesus Cristo. Esses são chamados de eleitos, ou os escolhidos. Eles são cristãos, e persistirão em sua fé pelo poder divino. E a Bíblia ensina que Deus cria e escolhe todos os outros homens para a condenação, para serem vasos de ira, e para serem torturados no inferno para sempre. Esses são chamados de não eleitos, ou os réprobos. Eles são não cristãos, ou não cristãos que fingem ser cristãos, e permanecerão em incredulidade por toda a vida.
Dizem que esta doutrina da predestinação é um “elevado mistério” e “deve ser tratada com especial prudência e cuidado”. Este conselho estranho é injustificado. A própria Bíblia não chama esta doutrina de mistério, muito menos de mistério “elevado”. Em vez disso, é um dos ensinamentos menos complexos, menos difíceis e mais completamente explicados na Escritura. Jesus não hesitou em jogá-lo por aí como um ensinamento em si ou como uma explicação para outra coisa. E Paulo ofereceu exposições explícitas que abordavam todas as questões gerais sobre o tópico. Não há uma única questão ampla sobre predestinação para a qual não tenhamos a resposta. A doutrina é completa e obviamente consistente, então não há nada para harmonizar. Não há paradoxo, nenhuma antinomia, nenhuma contradição, nenhum mistério. Há apenas uma verdade clara e gloriosa brilhando em nosso rosto como o sol do meio-dia.
Portanto, insistir em “especial prudência e cuidado” é prejudicial. Por que não dizer o mesmo sobre a Trindade, a natureza de Cristo, a expiação e a justificação pela fé sem obras? Muitas doutrinas podem se tornar perigosas se distorcidas, mas não são as doutrinas em si que são perigosas, mas a maldade e a incompetência do homem que são prejudiciais às almas. A menos que haja uma razão bíblica para isso, destacar essa doutrina para “cuidado especial” é insultar a clareza da revelação divina. A predestinação não é uma doutrina tóxica. Não é perigosa. A doutrina nada mais é do que um “sim, realmente” à ideia de que Deus é Deus. Até mesmo uma criança do reino deve lidar com ela com liberdade e naturalidade. É uma doutrina de poder, cura e segurança. Deve ser bem aprendida como outras doutrinas, e então ser pregada e vivida corajosamente, e comparada ao que é exigido pela tradição, de forma totalmente imprudente.
Então, todos os homens nascem completamente maus, e somente o poder divino pode mudá-los, mas Deus seleciona apenas alguns deles para receber esse privilégio. Duas questões surgem disso. Primeiro, se os não cristãos são completamente maus, por que às vezes parecem realizar boas obras? Segundo, se Deus direciona sua graça somente aos seus escolhidos, por que os réprobos parecem receber algumas de suas bênçãos, como comida e água, amizade, educação, ordem na sociedade e vários talentos e habilidades? Como de costume, as respostas são claramente inerentes à doutrina original, e essas questões não deveriam ter surgido em primeiro lugar. E como de costume, os teólogos forneceram respostas que são derivadas de ou que visam satisfazer suposições não bíblicas, que complicam o que é de fato uma questão direta, e que acabam tornando a situação cada vez pior. Os cristãos são rápidos em inventar invenções teológicas fantásticas para resolver problemas tão simples que eles nem deveriam existir para começar. É divertido para eles. Neste caso, uma aplicação direta das duas ideias fundamentais seria suficiente, e as aplicaremos a vários itens.
As boas obras atribuídas aos ímpios
A depravação total do homem é uma doutrina fundamental. Isso significa que questões subsidiárias são explicadas por ela, e não o contrário. Ou seja, não consideramos certas obras não cristãs como boas, sustentamos essa ideia como constante e inegociável, e então desafiamos a depravação total por ela. Em vez disso, sustentamos a depravação total do homem como constante e inegociável, e então interpretamos ações não cristãs por meio dela. Portanto, uma vez que os não cristãos são completamente maus, todas as suas obras são más, quer pareçam assim ao julgamento do homem.
É isso. Esta é uma resposta suficiente, e nenhum cristão que crê na Bíblia sobre a depravação total do homem deveria exigir mais. Na verdade, exigir mais seria em si uma manifestação do mal e da rebelião. No entanto, podemos de fato oferecer uma explicação mais completa.
Lembramos que é a palavra de Deus que define o bem e o mal, e sua definição nunca se refere apenas à ação externa. Embora a ação externa seja significativa, maior ênfase é dada à intenção interna. Uma analogia humana é possível. Suponha que um homem, sem saber, se senta em uma aranha venenosa que estava prestes a picar uma criança. O ato é bom no sentido de que salva a criança, mas não chamaríamos o homem de a própria imagem da coragem, o protetor de crianças, o matador de monstros!
Da mesma forma, para determinar se uma ação é moralmente boa ou má, a intenção que está associada a uma ação deve ser considerada, e até mesmo dada a maior ênfase. Jesus disse que a ira que é o primeiro passo para o assassinato já constitui pecado, e a luxúria que deseja adultério já é adultério. Então, uma pessoa que deseja assassinar, mas por algum motivo não realiza fisicamente o ato, ainda não é uma boa pessoa. Uma pessoa que deseja estuprar uma mulher, mas não estupra, não é virtuosa por causa disso.
Dito isso, Jesus declarou que o primeiro e maior mandamento é amar a Deus com todo o nosso ser. O não cristão, por definição, odeia a Deus com todo o seu ser. Se ele conhece e ama a Deus, ele creria em Jesus e seria um cristão: “Se Deus fosse o Pai de vocês, vocês me amariam [...]. Vocês são do Diabo, o pai de vocês [...]” (João 8:42, 44). Aquele que tem uma relação salvadora e filial com Deus manifesta esse amor consciente e explícito para com Cristo. Se não há amor para com Cristo, se ele é um não cristão, então Deus não é seu Pai, e essa relação de amor não existe entre eles. Isso significa que a pessoa está em constante violação do mandamento supremo, porque é isso que ela é o tempo todo, e isso está por trás de tudo o que ela faz, quer uma ação específica esteja ou não superficialmente em conformidade com a bondade e a retidão.
Um não cristão cria um filho, não porque deseja produzir um herdeiro para a fé para a honra de Deus, mas porque deseja perpetuar a raça humana ou seu próprio legado, ou satisfazer algum outro desejo ou ideal. Novamente, se seu desejo é honrar a Deus, ele já seria um cristão, e nossa pergunta não se aplicaria mais. A ação de um cristão nunca é perfeitamente boa, mas é santificada e tornada aceitável por Jesus Cristo. Por outro lado, se alguém é um não cristão, de modo que por definição seu desejo não é honrar a Deus, então o que quer que digamos sobre sua ação, não é boa, mas é uma violação do mandamento supremo. É uma ação maligna.
Quando um não cristão resgata um homem que está se afogando, parece que ele faz uma boa obra. E quando um não cristão poderia roubar um banco, mas não rouba, ele parece obedecer à lei e contribui para a ordem na sociedade. Assim, é dito que Deus estende um tipo de “graça” que é comum a todos, que restringe o pecado nos não cristãos e os capacita a realizar a retidão natural, embora não o bem espiritual. Esta é uma conclusão ingênua. Oh, teólogos, vocês são todos crianças estúpidas?
Paulo escreveu que quando aqueles que não reconhecem a lei de Deus, no entanto, tentam viver por um padrão moral, eles revelam uma consciência do bem e do mal, embora seu padrão não seja preciso. E quando eles falham em viver de acordo com seu próprio padrão de bem e mal, eles se mostram pecadores e dignos de morte. O que estamos falando é uma manifestação do ensinamento de Paulo. É um exercício que aumenta exponencialmente a ira de Deus contra os não cristãos. Eles mostram que estão cientes de algo como o bem e algo como o mal, mas ao mesmo tempo se recusam a aceitar a definição de Deus do que é bom e do que é mau, e eles falham em viver de acordo com seu próprio padrão moral falso.
Deus é certamente aquele que decreta e causa obras não cristãs, ordem na sociedade e a restrição do pecado, mas ele também certamente sabe que isso resulta em um aumento da condenação, e projetou dessa forma. Então, como isso é “graça” para os não cristãos em qualquer sentido? Se eu der a um homem um milhão de dólares, sabendo e pretendendo que ele jogue com ele, perca tudo, fique viciado e peça emprestado a um agiota, e acabe devendo dez milhões de dólares, isso é “graça”? E eu sou o agiota que o mataria por não pagar os dez milhões de dólares! Isso é “graça” agora?
O que aconteceu? Os teólogos praticam a humildade preguiçosa chamando a atenção para suas mentes finitas. Neste caso, e esta é uma interpretação caridosa (falaremos mais sobre isso daqui a pouco), suas mentes são tão finitas que eles se concentram apenas na perspectiva do homem em receber um milhão de dólares. Então eles dizem que parece muito bom. Mas a coisa toda, incluindo a doação inicial, é projetada para levar o homem à ruína total. E se eu der a um homem faminto um frango assado venenoso? O frango cuida da fome dele, mas depois o mata, e eu sei que isso aconteceria e pretendo que aconteça. Isso é graça? Poderia ser chamado de caridade apenas da perspectiva ignorante do homem faminto, e apenas por alguns minutos antes que o frango derreta seu estômago e o mate. Não é mais apropriado incluir meu conhecimento e intenção ao decidir como chamar o cenário?
Quando se trata de teologia, os teólogos assumem a perspectiva do homem ímpio e ignoram todo o restante. Ele salva um homem que está se afogando! Ele trabalha em um restaurante popular! Ele tem talentos musicais! Mas Deus exige que ele se veja como esse homem que está se afogando, mesmo um homem morto, que precisa de Cristo para resgatá-lo. Ao salvar o homem que está se afogando, ele mostra que tem uma ideia de resgate, mas não pede a Cristo pela salvação. Ao trabalhar em um restaurante popular, ele mostra que compreende, pelo menos em um sentido natural, as ideias de pobreza, fome e compaixão. Por que ele não reconhece sua pobreza espiritual, para que Cristo possa torná-lo rico? Por que ele não tem fome da justiça de Deus e de seu reino? Por que ele não pede a compaixão de Cristo? Se ele tem talentos musicais, por que ele não louva a Deus com canções e melodias? Assim, todas essas coisas se tornam testemunhos contra o homem. Mas Deus decreta e causa todas as coisas, e é ele quem o faz salvar o homem que está se afogando, quem o faz trabalhar no restaurante popular, quem o torna um talento musical, ao mesmo tempo em que conhece e pretende os efeitos finais em uma pessoa que faz essas coisas, mas que não crê em Cristo.
Se estamos perguntando se algo é a graça de Deus, então devemos responder da perspectiva de Deus — o que ele pretende? Claro, como consideraremos em breve, Deus pode pretender mais de uma coisa quando faz algo. A mesma coisa pode ser boa para um e ruim para outro. Agora mesmo estamos perguntando o que ele pretende em relação aos não cristãos. E devemos responder que não é graça, mas uma demonstração de ira mais deliberada, prolongada e assustadora, apenas em preparação para uma punição ainda mais intensa e permanente.
As boas dádivas fornecidas aos ímpios
Agora o restante deve se tornar ainda mais direto. Deus dá comida e água, prosperidade e vida longa aos ímpios. Comida e água devem lembrar a todos os homens do Deus da criação e providência, e estimular louvor e ação de graças. Mas os não cristãos buscam explicações alternativas e tomam essas coisas como garantidas. Eles se recusam a agradecer ou oferecem louvor a deuses falsos. Comida e água são benéficas em um sentido superficial. Elas de fato permitem que corpos físicos sobrevivam, e para que a sociedade possa continuar. Mas não é graça se Deus deliberadamente as envia a não cristãos, sabendo e pretendendo que cada gota de água que eles bebem se tornaria outro prego em seus caixões espirituais.
Quanto à prosperidade e longa vida, o Salmo 73 afirma que Deus envia essas coisas aos ímpios para fazê-los escorregar, e para que sejam destruídos. Pode ser chamado de “graça” apenas da perspectiva falsa e ignorante do homem ímpio, que por enquanto desfruta de todas essas coisas e não sabe por que elas vêm a ele. Para uma pessoa réproba, longa vida não significa mais tempo para se arrepender, já que Deus determinou que ela nunca se arrependerá; ao contrário, significa mais tempo para pecar, e para aumentar a medida do julgamento divino contra ela. Deus sabe que é isso que acontece com cada momento adicional de vida que ele dá a uma pessoa réproba, e não há disparidade entre o que Deus sabe e o que Deus pretende. Portanto, porque ele sabe que cada benefício natural aumenta a condenação do réprobo, ele também pretende isso, e se ele pretende isso, não é graça em nenhum sentido do termo. Se Deus faz algo com a intenção de condenar, então, por definição, não é feito por graça.
Uma doutrina importante deve ser inventada, definida e formulada principalmente, se não exclusivamente, da perspectiva dos homens ímpios, em vez da perspectiva de Deus e da eternidade? Essa reclamação, de que os teólogos construíram sua doutrina da perspectiva do homem ímpio, é uma interpretação caridosa, e que parece exagerada, dadas suas exposições. Ela se baseia na esperança de que eles tenham entendido mal sua própria doutrina, ou o que desejavam realizar ao inventá-la. A doutrina deles, de fato, alega que Deus mostra uma disposição verdadeiramente favorável para com os réprobos, embora não em um sentido que produza salvação ou qualquer bem espiritual neles. No entanto, a Bíblia ensina que Deus conhece todas as coisas e deseja todas as coisas. Isso significa que ele sempre conhece e pretende os efeitos finais dessa benevolência natural, que estimularia a ação de graças nos eleitos, mas aumentaria a condenação nos réprobos.
Então os teólogos devem negar que Deus sabe e deseja todas as coisas, ou devem assumir que Deus é esquizofrênico. Qualquer opção os tornaria não cristãos. Assim, a falsa doutrina nos pressiona a considerar esses teólogos como descrentes, e a única maneira de salvá-los da condenação é, com apenas uma ligeira plausibilidade, já que esses teólogos não parecem ter essa intenção, distorcê-la de sua perspectiva teológica para uma perspectiva antropológica. Mesmo assim, eles ainda estão presos em um dilema: da perspectiva teológica, a doutrina deles é blasfêmia, e tomar a perspectiva antropológica para interpretar o que é teológico — ou seja, a intenção ou disposição de Deus — é claramente errado. Mas é melhor estar errado do que queimar. Ou seja, eles não querem blasfemar, mas são estúpidos demais para saber a perspectiva correta da qual formular uma doutrina e para saber as implicações do que dizem. Mas isso é uma defesa confiável? É melhor apenas renunciar à falsa doutrina.
As boas novas declaradas aos ímpios
Outra coisa estranha que os teólogos tentam fazer é explicar como a mensagem de Jesus Cristo pode ser “boas novas” para os réprobos. Se os réprobos não crerem, e de fato não podem crer, então ser confrontado com a mensagem traz apenas uma condenação maior. Como isso é uma boa nova? Várias respostas são oferecidas, do absurdo ao sublime. Agora é dito que a mensagem é uma oferta sincera, embora Deus já tenha determinado que eles não podem crer. É sinceridade no sentido mais estranho da palavra. E então é dito que, embora não possam crer, os réprobos, no entanto, recebem alguns benefícios naturais dela. Mas já respondemos isso.
A resposta verdadeira é que as boas novas são consideradas assim somente da perspectiva de Deus e de seu povo. Certamente não são boas novas para Satanás. E são notícias muito ruins para os réprobos. Paulo escreveu que o evangelho é um fedor de morte para algumas pessoas (2 Coríntios 2:16). Um fedor de morte, caso alguém se pergunte, não é uma boa notícia. Mas para aqueles que creriam, é uma fragrância de vida. A tentativa de tornar a mensagem uma boa notícia tanto para os eleitos quanto para os não eleitos é talvez motivada pela necessidade de harmonizar o termo com a perspectiva dos homens ímpios, para que o evangelho possa ser uma boa notícia mesmo para aqueles que nunca podem crer, ou mais terrível, mas também mais provável, pelo desejo de afirmar uma visão blasfema de Deus.
A graça de Deus somente para o seu povo
Considere a parábola que Jesus contou sobre o trigo e o joio. O campo de um homem tem trigo e joio. Quando seus servos perguntam se ele quer que arranquem o joio, ele responde: “Não, porque, ao arrancar o joio, vocês poderiam arrancar com ele o trigo”. O homem permite que o joio cresça, receba chuva, luz solar e nutrientes, não por gentileza para com o joio, mas por preocupação com o trigo. O joio está lá apenas para ser queimado. Ele diz: “Deixem que cresçam juntos até a colheita. Então, direi aos encarregados da colheita: ‘Juntem primeiro o joio e amarrem‑no em feixes para ser queimado; depois, juntem o trigo e guardem‑no no meu celeiro’”.
Da mesma forma, a Bíblia ensina que Deus criou alguns para honra e alguns para desonra. Ele criou os primeiros para serem recipientes de sua misericórdia e riquezas. E ele criou os últimos para serem recipientes de sua ira, a fim de exibir seu poder e justiça. Ela também ensina que Deus opera todas as coisas para o bem daqueles que o amam, isto é, até mesmo a criação, prosperidade e então a condenação dos ímpios. Como cristãos, somos os recipientes da graça de Deus, e nunca experimentaríamos sua ira, mas ele criou os ímpios para que, enquanto os atormenta, ele possa mostrar até mesmo seu aspecto de sua glória para nós. Isso é o quanto ele nos ama.
E quanto às provisões naturais, à ordem na sociedade e à contenção do pecado? Você acha que ele faz todas essas coisas, mesmo que em parte, pelos réprobos? Que teologia ingrata e irreverente. Ele faz todas essas coisas por seu próprio povo e, se você é um cristão, por você. Ele faz essas coisas para que você tenha um mundo para viver, para interagir, onde você pode ser convertido e onde você pode estudar, orar, adorar e crescer em Cristo. Ele fornece esse ambiente para que você possa enfrentar problemas, tomar decisões, alcançar vitórias, declarar e defender a fé de Cristo e ser perseguido pelo evangelho.
Um fabricante de fraldas faz seu produto forte e higiênico, e o coloca em uma embalagem atraente. Quando chega às mãos de uma mãe, ela o armazena em um lugar seco e limpo, e o leva consigo como se fosse um item muito importante. É a fralda que ela se importa? Não, ela a prende em seu bebê para que ele possa usá-la como um banheiro portátil. A fralda, tão bem feita e comprada com entusiasmo, é para a conveniência da mãe e o benefício da criança. Então, ela é suja e descartada.
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O Doador e Seus Dons
Você já ouviu dizer: "Deseje o Doador, não os dons". Eu nunca fui capaz de dizer isso, e me pergunto onde estão todos esses semideuses que podem se dar ao luxo de viver sem os dons de Deus, e que pensam que têm a opção de fazer essa declaração. Este slogan popular implica o ponto legítimo de que devemos desejar Deus por ele mesmo, e não apenas ou principalmente pelo que ele pode fazer por nós. Esta é uma lição valiosa, pois Deus é de fato um fim em si mesmo. Ele não é uma ferramenta para usarmos, ou um trampolim para alcançarmos algo maior, pois não há nada maior. No entanto, este slogan falha em afirmar diretamente este ponto, e depois disso, ultrapassa-o para afirmar algo que é perigoso e sacrílego.
Se não levarmos as palavras a sério, então qualquer declaração pode ser considerada aceitável ou inaceitável, já que não teria sentido. Mas se levarmos as palavras a sério, então o “não” no slogan deve significar alguma coisa, e não deve significar outras coisas. Ele não diz “Deseje o Doador e os dons”, ou “Deseje o Doador mais do que os dons”, ou um mais elaborado: “Deseje o Doador, e faça da sua comunhão com ele o contexto dentro do qual você deseja os seus dons, para o seu próprio bem, e para o bem do seu reino” (esta última seria a minha posição). Em vez disso, o slogan diz “Deseje o Doador, não os dons”. Às vezes as pessoas percebem que isso não é certo e usam uma das outras formas, mas agora nosso interesse está nesta forma, onde um “não” é aplicado aos dons.
Há duas considerações que revelam os problemas. Primeiro, dadas as alternativas, usar “não” na declaração deve sugerir uma rejeição dos dons de Deus ou uma indiferença em relação a eles. Se houver algum desejo por eles, então o termo correto seria “mais do que” em vez de “não”. Segundo, embora cristãos de diferentes tradições possam querer dizer coisas diferentes com palavra “dons”, na realidade eles não são apenas as coisas que precisamos para nos destacar na vida e no ministério são dons, mas também as coisas que precisamos para sobreviver, até mesmo o ar e a chuva, são dons de Deus. Isso é especialmente verdadeiro para os cristãos, que supostamente possuem a percepção de que todas as coisas boas vêm de Deus, e que supostamente são encorajados na fé até mesmo por coisas naturalmente benevolentes como comida e água, quando os réprobos são endurecidos por elas.
Dito isto, há pelo menos quatro problemas com o slogan.
Primeiro, é completamente desagradável. Imagine dar um presente para seu filho, e ele diz: "Eu quero você, não seu presente!" E você pensaria: "Sim, e eu estou aqui, dando o presente a você. Pegue, seu pirralho!"
Segundo, reflete uma atitude orgulhosa e altiva. Às vezes, quando você sai para comer com um amigo, você paga sua própria refeição, e ele paga a dele. Você deseja a comunhão dele, não uma refeição grátis. Mas você acha que pode pagar sua própria conta com Deus? A declaração fala como se pudéssemos ter comunhão com ele em pé de igualdade. Novamente, eu admito que essa provavelmente não é a intenção da declaração, mas a palavra “não” torna essa implicação difícil de evitar.
Terceiro, isso revela uma falta de amor a Deus ou uma percepção tragicamente falsa em relação aos seus dons.
Quando minha esposa e eu nos conhecemos e decidimos nos casar, estávamos cursando escolas secundárias em diferentes países. (Foi só quando nos formamos na faculdade, também em locais diferentes, que nos casamos.) Naquela época, o e-mail não era tão popular e as ligações telefônicas eram muito caras. Então, escrevemos muitas cartas um para o outro. Levava até dez dias para uma carta viajar de um local para o outro. Era pura agonia. Eu esperava por cada carta com o coração em chamas e a abria com as mãos trêmulas. Então, eu a dobrava cuidadosamente e escrevia uma resposta. Ah, como eu desejava a próxima carta! Até hoje, ainda temos as cartas que enviamos um para o outro, junto com os envelopes originais. Começamos a usar e-mail quando estávamos na faculdade, e eu sempre, até hoje, guardei todas as que ela me enviou, não importa o quão triviais fossem.
Por que você acha que eu faço isso? Você acha que eu faço isso porque sou apaixonado por cartas e e-mails? Se sim, isso me diz que você não sabe nada sobre amor. Não, eu me comporto dessa maneira porque sou encantado por ela! Eu sou apaixonado por ela. E eu valorizo as coisas que ela me dá porque vêm dela. Eu certamente não penso mais nas cartas do que nela. E em um incêndio, eu certamente não resgataria as cartas e a deixaria perecer. Isso seria absurdo. Sem dúvida eu a resgataria e deixaria as cartas queimarem. Há uma prioridade, mas não há dicotomia.
Se o amor entre um homem e uma mulher é um reflexo do amor entre Cristo e a Igreja, se Deus é meu Pai e Cristo é meu primeiro amor, e o Espírito Santo é a fonte e a causa até mesmo do amor que tenho por minha esposa, então quanto mais eu deveria agonizar para receber dele! Assim como seria antinatural impor uma dicotomia entre minha esposa e seus dons, seria antinatural impor uma entre Deus e todas as coisas da vida, quer nos refiramos a comida e água, a amigos, à saúde ou ao poder do Espírito para o ministério. A razão pela qual você pensa que pode "não" desejar comida e água é porque você não vê Deus em seu acesso a comida e água. A razão pela qual você pensa que pode "não" desejar dons espirituais, mesmo que sinta o fardo do ministério, é porque você pensa que eles são opcionais. Você pensa que é forte e rico. Você não está desesperado.
Eu era um mendigo, e Deus me fez um príncipe em Cristo. Mas meu status depende da minha associação contínua com ele; isto é, em mim mesmo eu sempre permaneço um mendigo. Como ele disse: “Permaneçam em mim, e eu permanecerei em vocês. Como um ramo não pode dar fruto por si mesmo se não permanecer na videira, assim vocês também não podem dar fruto se não permanecerem em mim. Eu sou a videira, e vocês, os ramos. Se alguém permanecer em mim, e eu permanecer nele, esse dará muito fruto, pois sem mim vocês não podem fazer nada. Se alguém não permanecer em mim, será como o ramo que é jogado fora e seca. Tais ramos são apanhados, lançados ao fogo e queimados. Se vocês permanecerem em mim, e as minhas palavras permanecerem em vocês, pedirão o que quiserem, e será concedido” (João 15:4-7). Ele não disse: “Permaneçam em mim e não peçam nada”, mas “Permaneçam em mim e peçam o que quiserem”.
Quarto, e isso decorre do que foi dito acima, o slogan popular introduz culpa não bíblica, limitações desnecessárias e autoexame desordenado na vida espiritual de um cristão, paralisando sua fé na oração e poder no ministério. Ele o persuade a suspeitar de seus próprios motivos por um princípio que é contrário à Escritura. Ele amarra sua consciência com uma mentira.
Louvado seja Deus, sua palavra nos liberta para desejá-lo e seus dons, e ser gratos por eles. Eu desejo Deus e todos os seus dons. Eu quero tudo, e mais de tudo. E quanto mais eu o amo e o conheço, mais eu testemunho sua majestade e grandeza, mais eu me torno consciente da minha necessidade por seus dons, e mais eu aumento meu desejo por eles. Mas quando isso acontece dessa forma, esse desejo é desenvolvido dentro do contexto de comunhão com ele. Não há "não", nenhuma dicotomia.
Assim, eu me recuso a deixar que as pessoas me enganem para rejeitar o que Deus está tão ansioso para dar e o que eu estou tão desesperado para receber. Jesus disse: “Busquem, pois, em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas serão acrescentadas a vocês”. Ali ele falou contra a preocupação, que é contrária a Deus e contrária à fé, e a prioridade correta deve ser estabelecida. Mas quando ele ensinou seus discípulos a orar — isto é, no contexto da fé e da comunhão com Deus — ele disse para pedirem o pão de cada dia.
Precisamos dos dons de Deus para viver neste mundo, e especialmente para ter sucesso na obra do evangelho. Se nos importamos apenas com os dons, então não somos cristãos, e seria estranho até mesmo percebê-los como “dons”. Mas se temos comunhão com Deus, então também devemos ter a percepção correta a respeito de seus dons, e desejá-los com toda fé e entusiasmo, sem falsa piedade, e sem culpa e vergonha. O Senhor nos disse para pedir, e receber, para que nossa alegria seja completa.
— Vincent Cheung. The Giver and His Gifts. Disponível em Sermonettes — Volume 2 (2010), p. 93-95. Traduzido por Luan Tavares (25/07/2024).
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Criacionismo vs. Traducianismo
A visão bíblica da metafísica requer o criacionismo, que Deus cria direta e imediatamente cada nova alma.
Entre outras, há duas objeções a isso. Primeiro, algumas pessoas pensam que isso contradiz a visão de que Deus descansou após a criação de Gênesis 1. Mas o descanso ali é relativo aos seis dias da criação, e não como se Gênesis 2:1-3 tivesse transformado o teísmo em deísmo. Jesus disse que o Pai nunca parou de trabalhar, e disse isso quando foi acusado de trabalhar no sábado (João 5:16-17). Segundo, a visão de que Deus deve criar cada alma individual significaria necessariamente que Deus cria cada alma como pecadora (depois de Adão e Eva). Isso então implicaria que Deus é o autor do pecado. Eu zelosamente reconheço isso, até insisto, e demonstrei em outro lugar que não há problema com isso.
A Bíblia ensina que “da mesma massa” de barro — não barro eleito, não barro réprobo, mas apenas barro — Deus cria os eleitos e os réprobos. Isto é, Deus não tira os eleitos de um grupo maior de pecadores, como muitos teólogos afirmam. Ele não resgata alguns e “deixa” o restante para sua própria destruição, como se os réprobos tivessem se criado. Um oleiro não pega uma grande pilha de vasos comuns, transforma alguns em vasos de honra e deixa o restante permanecer como vasos comuns. Se fosse assim, quem criou a grande pilha de vasos comuns? Existe outro oleiro? Isso seria dualismo ou alguma outra heresia. Os vasos comuns se criaram do barro? Isso seria ainda mais inconcebível e não se encaixa na imagem bíblica. Em vez disso, Deus cria os homens diretamente como pecadores eleitos (que depois se converteriam a Cristo e seriam salvos), ou como pecadores réprobos (que nunca creriam).
Deus é o autor metafísico do pecado, mas não o aprovador moral do pecado. Os dois são completamente diferentes, assim como seu decreto e seu preceito são diferentes. Seu decreto é uma determinação do que aconteceria ou do que ele faria acontecer. Seu preceito é uma definição do que é bom para o homem crer, fazer ou não fazer. Novamente, um é uma determinação e o outro é uma definição. Assim, ele poderia decretar que uma pessoa transgrediria seu preceito. Só há problema se dissermos que ele poderia decretar que uma pessoa transgrediria seu decreto, ou que ele emite um preceito para uma pessoa transgredir o mesmo preceito. Em qualquer caso, ele deve ser o autor metafísico e a causa de tudo, já que nenhuma criatura é Deus (o que seria uma contradição), nenhuma criatura tem o poder de Deus, portanto nenhuma criatura tem “vida em si mesma” — para se sustentar , para se procriar, ou para criar novas almas.
Quando nos referimos à metafísica, o criacionismo deve estar certo e o traducianismo deve estar errado. Podemos abrir espaço para o traducianismo apenas se não falarmos neste nível. Ou seja, ele pode ser usado como uma descrição da relação entre os pais e seus filhos em um nível não metafísico. Na linguagem comum, se eu empurrar Tommy no peito, seria correto dizer que “Vincent empurrou Tommy”. Mas se estamos falando sobre metafísica, sobre causalidade e tal, então devo dizer que “Deus fez com que Vincent levantasse sua mão (isto é, Deus levantou a mão de Vincent) e a fez com que se estendesse em direção a Tommy e tocasse seu peito. Então Deus fez com que Tommy sentisse um impacto em seu peito e fez com que seu corpo caísse para trás”. Ou seja, não há uma relação direta e necessária entre meu empurrão de Tommy e a queda de Tommy, visto que não tenho o poder metafísico de criar (como se fosse Deus) ou de mudar qualquer coisa na criação (como se fosse “criar” uma nova configuração do universo). Assim, o traducianismo poderia ser aceitável apenas no sentido relativo e quando não se fala no nível de criação. Mas por que abrir espaço para ele se ele é realmente inútil? E parece que quase todo o tempo, a questão é de fato colocada no nível metafísico, de modo que o criacionismo deve ser a resposta. O homem não pode criar almas.
Como a doutrina do compatibilismo, a doutrina do traducianismo faz a pergunta em um nível e depois responde em outro nível, e acaba perdendo todo o ponto. Aqueles que afirmam o traducianismo ou esquecem a metafísica ou afirmam algum princípio como a causação secundária. Os calvinistas costumam dizer que Deus é a causa última do pecado, talvez por um decreto “permissivo” ou alguma outra bobagem, mas ele usa o homem como uma causa “secundária” — o homem é aquele com contato direto com o mal. Isso nunca responde à questão metafísica. O homem exerce um poder metafísico para causar algo ou não? Se ele pode exercer esse poder sem Deus, então o homem é Deus. Se ele o exerce “com” Deus, então Deus é pelo menos um coautor do pecado. E quem detém o poder de mover o homem, senão Deus? Então Deus é de fato o único autor. Se o pecado é um efeito que tentamos explicar, a ação do homem não é também um efeito? Se o homem não tem tal poder metafísico, então a “causa secundária” não é uma “causa” que não faz absolutamente nada. É apenas uma descrição da relação aparente (mas não real) entre os objetos, e não uma causa real de nada. A palavra “causa” no termo é enganosa e, por ser enganosa, a palavra “secundária” torna-se inútil e também enganosa. Se um “algo” é realmente nada, então um nada “secundário” ainda é nada.
Isso se aplica exatamente ao criacionismo vs. traducianismo. Aqueles que afirmam o traducianismo não pensam exatamente sobre isso. O resultado é que, se eles afirmam que Deus é o único autor metafísico, eles simplesmente perdem seu traducianismo. Se eles afirmam que Deus não é o único autor metafísico (que o homem é o único ou algum tipo de coautor, como se isso fosse possível), então eles simplesmente perderam seu Deus.
— Vincent Cheung. Creationism vs. Traducianism. Disponível em Sermonettes — Volume 2 (2010), p. 83–84. Traduzido por Luan Tavares (31/10/2020; revisão 25/07/2024).
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Mãe Bem-aventurada, Antes Bem-aventurados
A mãe e os irmãos de Jesus foram vê‑lo, mas não conseguiam aproximar‑se dele, por causa da multidão. Alguém lhe disse:
― A tua mãe e os teus irmãos estão lá fora e querem ver‑te.
Ele lhe respondeu:
― A minha mãe e os meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a praticam. (Lucas 8:19-21)
Até mesmo alguns evangélicos acham que os cristãos negligenciaram a mãe natural de Jesus, e sugerem que deveríamos restabelecê-la a uma posição de significância. Jesus, porém, quer que, em vez disso, restabelecêssemos Lucas 8:21.
Sua mãe e seus irmãos foram vê-lo. Que atencioso. Espere, por que eles não o estavam seguindo em primeiro lugar? Por que eles nem faziam parte da multidão e só agora vieram para uma visita? Marcos oferece detalhes adicionais: “Então, Jesus entrou em uma casa, e a multidão reuniu‑se novamente, de modo que ele e os seus discípulos não conseguiam nem comer. Quando os seus familiares ouviram falar disso, saíram para trazê‑lo à força, pois diziam: ― Ele está fora de si” (Marcos 3:20-21). Sua família, incluindo sua mãe (Marcos 3:31), achava que Jesus estava louco. Seria um erro supor que Maria era uma super-santa ultra-espiritual. Mais tarde, ela aprendeu a adorar Jesus e, como qualquer cristão, a confiar nele para salvar sua alma miserável do fogo do inferno (Atos 1:14). Mas, até esta altura, ela nem sequer era crente.
Então, uma mulher gritou: “Bem-aventurada é a mulher que te deu à luz e te amamentou” (Lucas 11:27). Ou seja, ela disse: “Bem-aventurada é Maria”. Mas Jesus respondeu: “Antes, bem-aventurados aqueles que ouvem a palavra de Deus e lhe obedecem” (v. 28). Ele nem mesmo disse: “Bem-aventurados também”, mas disse: “Antes, bem-aventurados”. Era de fato um privilégio e uma bênção ser o recipiente para o corpo humano do Messias (Lucas 1:30, 48), mas seu papel era limitado ao reino natural. Ela não contribuiu em nada espiritualmente, e evidentemente não fez nenhum progresso espiritual em trinta anos (Lucas 3:23).
Há um defeito alarmante em uma pessoa ou teologia que exalta alguém por causa de sua relação natural com Cristo. Sua própria mãe pensou que ele estava louco, e “nem mesmo os seus irmãos criam nele” (João 7:5, ARA). Eles não tinham privilégio espiritual. Alguns invejam a proximidade que deve ter existido entre Jesus e sua mãe e irmãos. Mas não havia tal proximidade. Eles estavam fora da multidão. Em vez disso, vamos nos esforçar para ser o grupo “antes, bem-aventurados”, para sermos pessoas que ouvem a palavra de Deus e a obedecem.
― Vincent Cheung. Blessed Mother, Blessed Rather. Disponível em Sermonettes ― Volume 2 (2010), p. 92.
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Quando um Líder Cai
De vez em quando, ou mais de uma vez, ouvimos sobre alegações alarmantes contra líderes da igreja. Algumas delas acatamos, ou costumávamos acatar, e outras não nos importamos muito em primeiro lugar. Quer as alegações envolvam abuso espiritual, má conduta financeira, abuso sexual ou outras coisas, geralmente há várias questões a serem consideradas.
Apostasia. Sempre que um escândalo irrompe contra um ministro, várias pessoas ficam desiludidas e afrouxam seu comprometimento com sua religião ou a abandonam completamente. De alguma forma, o pecado de um líder é tomado como evidência de que a fé cristã em si é falsa. Essas devem ser algumas das pessoas mais estúpidas do mundo. É provável que sua fé nunca tenha sido associada ao objeto apropriado, Jesus Cristo. Em vez disso, elas depositaram sua esperança no líder, na igreja, em outros crentes ou no sentimento de segurança e conforto que derivam de ser um membro da comunidade. Afirmamos que nossa fé está em Deus e não nos homens. Escândalos testam essa profissão para revelar a verdadeira natureza e objeto de nossa adoração.
Hipocrisia. Dizem que os cristãos são hipócritas. Um hipócrita é uma pessoa que afirma ser alguém que não é, ou que diz que fará uma coisa, mas faz outra diferente. Mesmo um psicopata assassino não é um hipócrita se ele continua massacrando pessoas. Hipocrisia é uma acusação específica e não se aplica a todas as pessoas que fazem algo errado. Refere-se a uma inconsistência entre a alegação e a verdade. Dito isso, os cristãos não apenas admitem que são imperfeitos, mas insistem que continuam a pecar, e pecam frequentemente. Eles não estão felizes com isso, e pela graça e poder de Deus, eles se esforçam para despir do velho homem e vestir do novo homem, para se revestir de Jesus Cristo. Mas a base para essa admissão e essa atitude é o próprio padrão moral que os cristãos proclamam aos não cristãos. Então, onde está a hipocrisia, se quando os cristãos pecam, eles fazem exatamente o que dizem ao mundo que aconteceria?
Identidade. Um ponto importante sobre escândalos da igreja é que muitos dos líderes caídos são de fato não cristãos. Qualquer um pode dizer que é cristão, mas ele se encaixa na definição de cristão? Posso dizer que sou um astronauta russo, mas para isso ser verdade preciso ser russo e preciso ser um astronauta. Caso contrário, se eu insultar um chef americano, não se pode dizer que os astronautas russos odeiam chefs americanos. No entanto, é isso que geralmente acontece em escândalos da igreja. Devemos primeiro examinar as doutrinas. Se uma pessoa nega o que a Bíblia ensina sobre a natureza de Deus, a criação do homem e do mundo, a realidade do pecado, a divindade e a humanidade de Cristo, a expiação e a justificação pela fé, então ela não é cristã. Ela não se encaixa na definição. Não tenho que defender mórmons, testemunhas de Jeová e cientistas cristãos. E não tenho que responder por padres católicos que molestam centenas de meninos. Essas pessoas não se encaixam na definição do que significa ser cristão, mesmo em suas doutrinas – as indicações mais públicas e objetivas de sua identidade. Eu nem preciso verificar se são pessoas que professam a fé, que repetem as doutrinas certas, mas que não acreditam sinceramente – elas se declaram não cristãs pelas doutrinas que professam publicamente. Elas mantêm o nome ou rótulo, mas não os ensinamentos reais da religião. Portanto, os tais são não cristãos que cometem essas atrocidades enquanto fingem ser cristãos. Se são hipócritas, são hipócritas não cristãos e demonstram a hipocrisia dos não cristãos.
Calúnia. Pregadores são alvos de falsas acusações. O próprio Senhor foi atacado por falsos testemunhos, e os apóstolos eram regularmente caluniados. É claro que, quando se trata de escândalos na igreja, presumimos que algumas acusações são verdadeiras, e não concederíamos àqueles que fizeram algo errado imunidade de disciplina ou mesmo de acusação. Mas não seria certo acreditar em uma acusação só porque ela foi feita. Se não temos informações sobre a verdade do assunto, é melhor reter o julgamento. Além disso, se houver uma tentação de se gabar ou se sentir justificado quando um cristão de uma convicção diferente é humilhado, resista a essa tentação. Não se alegre com o mal. No entanto, se foi demonstrado que o acusado é de fato culpado, então podemos nos alegrar com a justiça que foi feita contra ele.
Compaixão. Se as acusações forem verdadeiras, e houver vítimas verdadeiras envolvidas, devemos mostrar-lhes a devida compaixão e assistência, e orar por elas, para que possam receber o conforto que só vem de Deus. Ao mesmo tempo, não devemos permitir que se tornem amarguradas contra o Senhor, ou chafurdem na incredulidade e na autopiedade. Se necessário, devemos repreendê-las com toda a severidade e autoridade, e ordenar que se arrependam de sua atitude ímpia, e saiam do poço da depressão pela força do Senhor.
Temor. Paulo escreve: “Por isso, aquele que pensa estar em pé veja que não caia” (1 Coríntios 10:12, NAA). Devemos ficar atentos, visto que, de fato, Deus os têm por advertências, quando os problemas caem sobre outros. Certamente, isso nos lembra de nos mantermos puros e retos, para que não criemos ocasião para escândalos. Mas também devemos nos proteger contra falsas acusações, ou mesmo simples mal-entendidos. Não há razão para um ministro se trancar em um quarto com uma mulher para “aconselhá-la”. Tenha uma testemunha presente e não passe tempo com ela em particular. Não use a compaixão como desculpa. Se ela insistir em aconselhamento particular, encaminhe-a para uma mulher ou simplesmente a expulse. E não há razão para trabalhar com uma criança em particular, ou mesmo com um grupo de crianças. Insista para que um dos pais de uma das crianças esteja presente ou expulse todos eles. Quanto às finanças, pode ser uma boa ideia que os membros da igreja selecionem um indivíduo competente, com conhecimento em contabilidade e cheio do Espírito Santo, para ser o tesoureiro ou para realizar auditorias, para que a liderança não consista em um círculo totalmente fechado.
Fé. Devemos temer, porque vemos que em nós mesmos, não podemos viver vidas santas. Ficaremos aquém do padrão justo de Deus e nos tornaremos vulneráveis a críticas e acusações. Mas não confiamos em nós mesmos para manter nossa devoção e santidade. Temos fé em Deus. Olhamos para o trono da graça. Ele nos chamou para amadurecer à imagem de seu Filho, Jesus Cristo. E Paulo escreve: “Fiel é aquele que os chama, o qual também o fará” (1 Tessalonicenses 5:24, NAA).
— Vincent Cheung. When a Leader Falls. Disponível em Sermonettes — Volume 2 (2010), p. 90-91. Traduzido por Luan Tavares (24/07/2024).
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Uma Ênfase no Espírito Santo
Uma vez ouvi que a razão pela qual não ouvimos mais sobre o Espírito Santo é porque Ele deveria testificar sobre Cristo. Os escritos carismáticos enfatizam o Espírito Santo. Você acha que os carismáticos falam muito sobre o Espírito e não o suficiente sobre Cristo?
A ênfase deles está errada. Primeiro, a ideia de que o Espírito Santo evita a atenção porque ele deve testemunhar sobre Cristo, ou dizer que ele é deliberadamente modesto, é especulativa e uma petição de princípio. Segundo, a regularidade e a proeminência com que ele aparece na Escritura tornariam tal explicação muito simplista. O Espírito se coloca no topo de Gênesis, proeminentemente em Juízes, Reis e Crônicas, nos Profetas, no nascimento de Cristo, no batismo de Cristo, no dia de Pentecostes, em todas as cartas, e assim por diante. No entanto, a atenção principal ainda pertence a Cristo e ao Pai. Acredito que devemos aproximar a proporção bíblica em nossa ênfase.
Há momentos para enfatizar mais o Espírito Santo, como quando ele é especialmente mal compreendido. Muitos anos atrás, quando preguei em uma reunião, uma senhora me disse: "Seu espírito santo está fazendo algo ao meu espírito santo?" Isso me mostrou que era hora de ensinar sobre o Espírito Santo.
Há também a questão da oração e adoração oferecidas ao Espírito Santo. Dizem que, porque o Espírito é Deus, devemos dirigir a oração e a adoração a ele, e que realmente negligenciamos fazer isso. Concordo que a premissa de que o Espírito é Deus garante a conclusão de que ele poderia receber oração e adoração, e não seria idolatria direcioná-las a ele. No entanto, a proporção, ênfase e exemplos na Bíblia certamente não podem produzir a conclusão de que devemos dirigir a oração e a adoração ao Espírito tanto quanto fazemos ao Pai ou a Cristo.
— Vincent Cheung. An Emphasis on the Holy Spirit. Disponível em Sermonettes — Volume 2 (2010), p. 96. Traduzido por Luan Tavares (23/07/2024).
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O Empirismo e 1 João 1:1-3
O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e as nossas mãos apalparam, isto proclamamos a respeito da Palavra da vida. A vida se manifestou; nós a vimos, dela testemunhamos e proclamamos a vocês a vida eterna, que estava com o Pai e nos foi manifesta. Proclamamos o que vimos e ouvimos para que vocês também tenham comunhão conosco. A nossa comunhão é com o Pai e com o seu Filho, Jesus Cristo. (1 João 1:1-3)
Em debates sobre epistemologia, ou como o conhecimento é obtido, nosso texto é frequentemente citado para apoiar o empirismo, ou a visão de que as sensações são basicamente confiáveis, e que o conhecimento é obtido ou derivado de nossas sensações. Se a substância e a veracidade do evangelho são dependentes do testemunho ocular dos apóstolos, então a negação da confiabilidade das sensações também é uma negação da confiabilidade da pregação apostólica, e assim uma negação da confiabilidade da Escritura.
O argumento sai pela culatra. A Bíblia contém muitos exemplos demonstrando que os sentidos são falíveis e não confiáveis. Eliseu, pelo poder de Deus, explorou isso e venceu uma batalha contra os moabitas (2 Reis 3:22-23). Então, naquela ocasião em que Deus falou do céu em resposta à oração de Jesus, alguns na multidão pensaram que era um trovão, e outros pensaram que era um anjo (João 12:28-29). A própria alegação da Bíblia é que é verdade porque o próprio Deus soprou as palavras — é um produto da inspiração divina. Quando um testemunho ocular registrado na Bíblia é dito ser verdadeiro, ele é conhecido como verdadeiro não porque é um testemunho ocular, mas porque o Espírito Santo testifica que essa sensação ou testemunho em particular é verdadeiro.
Assim, a alegação de que a própria Bíblia depende da confiabilidade das sensações porque se refere ao testemunho ocular vira a inspiração de cabeça para baixo e é, de fato, uma negação da inspiração. O assunto é sério. Aqueles que avançam ou apoiam tal argumento pecaram contra o Espírito Santo. Que parem de debater epistemologia, mas ofereçam arrependimento com grande temor e pranto sincero.
Esta é uma resposta ampla a qualquer argumento que apela a relatos de sensações na Bíblia como suporte para a confiabilidade das sensações. Mas quando alguém apela ao nosso texto para afirmar tal argumento, a implicação é ainda mais alarmante.
Considere a interpretação que o empirista deve dar a esta passagem para que um apelo a ela seja relevante para sua posição. Com base neste texto, seria irrelevante para ele afirmar meramente que sensações acontecem, ou que João viu algo, tocou algo, sentiu algo. Em vez disso, para que um apelo a este texto seja relevante para sua posição, o empirista deve afirmar, com base neste texto, que a visão de João tem algo a ver com saber o que ele viu, e que o toque de João tem algo a ver com saber o que ele tocou. O que João viu? O que João tocou? A Palavra da Vida, que a Bíblia e todos os cristãos afirmam ser Deus, ser divina.
O problema é que Deus sempre insistiu que ele é invisível e sem forma (Deuteronômio 4:12, 15; 1 Timóteo 1:16-17). Portanto, afirmar que uma pessoa pode ver o corpo de Jesus, e por meio dessa visão detectar ou inferir que Jesus é a própria Palavra da Vida, até mesmo “o que era desde o princípio” (v. 1), equivale a uma negação da espiritualidade e transcendência de Deus. E negar a espiritualidade e transcendência de Deus não é apenas uma rejeição de toda a religião da Bíblia, mas também faz da própria encarnação um absurdo (se a Palavra já era não espiritual e não transcendente, como ela poderia ser uma encarnação para possuir um corpo?), que é exatamente o que João tenta defender em sua carta.
Portanto, um apelo à passagem para apoiar o empirismo é ao mesmo tempo uma rejeição da religião cristã e da confissão de alguém em Deus e no Senhor Jesus Cristo. Isso sugere algo muito sinistro na pessoa. É blasfêmia e suicídio espiritual. Se o argumento for levado a sério, devemos concluir que a pessoa não é cristã. Exercitando a paciência de Cristo, devemos aceitar que alguém assim pode ser apenas estúpido e descuidado, e não tem consciência de sua blasfêmia. Afinal, se ele fosse um pensador competente, não apoiaria o empirismo.
Ao empirista, àquele que afirma que as sensações são confiáveis e que o conhecimento pode vir das sensações, nós imploramos: “Por favor, se você deve manter essa filosofia falsa e absurda, se você deve enganar a si mesmo e aos outros, pelo menos não blasfeme a essência divina, e não negue a natureza de Deus e a divindade de Cristo, para que você não pereça no fogo do inferno com os réprobos”. Se ele insistir que o texto endossa a confiabilidade das sensações mesmo depois que as implicações tenham sido explicadas a ele, ele deve ser julgado perante a igreja e excomungado.
A verdadeira interpretação da passagem é simples e óbvia por sua linguagem. Se ao ver e tocar, você não consegue nem dizer se eu sou um encanador ou um pregador, como você pode dizer pelos seus sentidos que um homem é a Palavra da Vida encarnada, o Eterno? João não diz que ele aprendeu que Jesus era a Palavra ao vê-lo e tocá-lo, mas ele diz que o que ele viu e o que ele tocou era a Palavra. Ele está dizendo ao seu leitor o que foi que ele viu e tocou, e não que ele aprendeu o que foi que ele viu e tocou ao ver e tocar.
Suponha que eu diga: “Aquele homem com quem acabei de apertar a mão na igreja era o governador”. Eu não pretendo sugerir que eu poderia dizer que ele era o governador apertando a mão dele. Eu estaria apenas dizendo a você com quem eu apertei a mão, que o governador estava na igreja, que eu estava bem próximo dele e tive um encontro direto com ele. Da mesma forma, João não diz que ele inferiu que Jesus era a Palavra ao ver e tocar o corpo de sua encarnação, mas ele diz que o que ele viu e tocou aconteceu de ser a Palavra, de ser o próprio Deus. A razão pela qual ele faz questão disso é defender a encarnação, que ela realmente aconteceu: “Todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne procede de Deus, mas todo espírito que não confessa Jesus não procede de Deus” (1 João 4:2-3). Ele faz isso sem negar a natureza de Deus e sem fazer papel de bobo.
A Palavra, Jesus Cristo, que é Deus, veio em carne para salvar seu povo, para que, crendo nele, tenhamos comunhão com ele e com o Pai. Ter fé nele é mais do que reconhecer seu nome como um mero som ou símbolo, mas compreender e afirmar a natureza de sua pessoa e sua obra. É necessário confessar sua divindade, sua essência espiritual e transcendente. Ele era Deus em carne e, por ser Deus, não se poderia dizer que ele era Deus pelas sensações associadas à sua carne. Por essa razão, o apelo do empirista ao nosso texto implica uma rejeição completa da fé cristã. Em vez de vencer o debate sobre epistemologia, ele perdeu a confissão de fé necessária para a salvação.
— Vincent Cheung. Empiricism and 1 John 1:1-3. Disponível em Sermonettes — Volume 2 (2010), p. 97-99. Traduzido por Luan Tavares (23/07/2024).
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Mas e a Rebimboca da Parafuseta?
Suponha que eu queira que você faça algum trabalho pesado para mim. Você pergunta: "Qual é o pagamento?" E eu respondo: "O verdadeiro pagamento consiste em amigos, felicidade e uma vida longa. Se você trabalhar para mim, eu me tornarei seu amigo. Você ficará feliz por me ajudar. E o trabalho envolve muito levantamento de peso, então será um bom exercício e contribuirá para uma vida longa". Você está convencido? Ou acha que estou evitando sua pergunta? Minha resposta pode ter algum valor em outro contexto, mas não é relevante para sua preocupação. Pelo contrário, estou impondo outro significado a um termo-chave e estou abordando em vez disso. Você pensaria que sou estúpido ou desonesto.
Quando você pergunta sobre o pagamento, você está se referindo ao dinheiro, à quantia de dólares americanos que será transferida da minha conta para a sua. Sua preocupação não tem nada a ver com riquezas verdadeiras ou com o significado mais profundo da vida. O significado do termo é fixo na sua pergunta, e mesmo que o dicionário liste várias outras definições, apenas uma importa neste contexto, e é a que você está usando. Agora minha resposta parece ridícula: "Os verdadeiros dólares americanos consistem em amigos, felicidade e uma vida longa". É obviamente irrelevante. A resposta verdadeira é: "Não, eu não vou te pagar".
Quando a mesma palavra é usada com dois significados diferentes, uma ou ambas as palavras podem ser substituídas, seja por palavras diferentes, seja por expressões que representam os significados que essas palavras pretendem transmitir. Podemos reproduzir o diálogo desta forma: “Qual é a quantia de dólares americanos que você me dará?” “Eu lhe darei $ 0. No entanto, você receberá um tipo diferente de recompensa que consiste em amigos, felicidade e uma vida longa”. Em outras palavras, quando X é usado de duas maneiras, é sempre possível declarar o assunto em termos de Y e Z. Isso é muito mais claro, mas colocar o assunto dessa forma me obriga a admitir o fato de que eu lhe darei $ 0, embora eu possa tentar convencê-lo a trabalhar para mim de qualquer maneira, oferecendo outro tipo de motivação. Isso torna minha posição mais honesta.
Agora considere algo que lemos da Teologia Sistemática de Louis Berkhof. Ele escreve: “Dizem que a doutrina da perseverança é inconsistente com a liberdade humana. Mas essa objeção procede da falsa suposição de que a liberdade real consiste na liberdade da indiferença, ou no poder de escolha contrária em questões morais e espirituais. Contudo, isso é errôneo. A verdadeira liberdade consiste exatamente na autodeterminação na direção da santidade. O homem nunca é mais livre do que quando se move conscientemente na direção de Deus. E o cristão permanece nessa liberdade pela graça de Deus”.
Você consegue ver que ele parece dizer algo valioso, mas evita a objeção? Essa é uma maneira típica reformada de pensar. Escolhi esse exemplo porque ele está na minha mesa, mas há milhares como esse em escritos reformados, e seria fácil encontrar seu próprio exemplo e fazer sua própria análise. Em todo caso, a resposta de Berkhof é: "O que você chama de X, não quero dizer Y, mas quero dizer Z". Tudo bem, mas e Y? A objeção é que X é inconsistente com Y, e Berkhof ignora isso. E se o oponente alega que Y é essencial, sem o qual um sistema de teologia não pode se sustentar, então a defesa de Berkhof é um fracasso completo. O oponente diz: "Se Deus é soberano, então o homem não tem rebimboca da parafuseta". A resposta reformada é: "A verdadeira liberdade é autodeterminação". Mas a objeção se refere à rebimboca da parafuseta. Assim como tentei enganá-lo para trabalhar para mim sem remuneração, a resposta reformada é uma farsa.
Isso nos prepara para examinar o conteúdo real da objeção. Liberdade é um termo relativo — uma pessoa é livre de algo. O significado pretendido pela palavra em um determinado contexto, então, é determinado por aquilo do qual se diz que alguém é livre. Quando o tópico é soberania divina, eleição, regeneração, preservação ou algo parecido — isto é, quando o tópico é o controle de Deus — o contraste relevante, ou a coisa com a qual parece inconsistente, é necessariamente uma liberdade de Deus. Então a questão é: “Eu tenho liberdade para pensar, escolher e agir, no sentido de que minha decisão é sempre arbitrária ou que a razão para minha decisão está sempre inteiramente dentro de mim, à parte da determinação externa, incluindo o decreto e o poder de Deus?” É improdutivo e compreensivelmente frustrante para os oponentes dizer: “Mas não é isso que a Bíblia quer dizer com liberdade”. Você pode chamar do que quiser, mas é isso que nossos oponentes estão perguntando. Retire a palavra liberdade, mas você ainda precisa responder à pergunta.
Isto é importante porque liberdade, neste sentido bastante forte, é o que nossos oponentes se referem quando usam o termo, e eles consideram isto o fundamento necessário para a responsabilidade moral. Redefinir liberdade para eles não responde à pergunta. A resposta típica é compatibilismo, ou que o homem tem o poder de autodeterminação. Ele sempre decide de acordo com seu próprio desejo sem coerção. Os reformados negam a ideia de liberdade de seus oponentes, dizendo que ela é mal definida e impossível, e oferecem a eles esta versão como a base para a responsabilidade moral.
No entanto, até mesmo um computador tem esse tipo de liberdade — ele sempre funciona de acordo com seu programa, e nunca é coagido. Mas o homem é quem escreve o programa, e quem projeta o hardware para que o computador funcione de acordo com um programa. Nossos oponentes estão perguntando se o computador pode funcionar sem nenhuma programação, ou se ele pode criar sua própria programação, ou operar além ou mesmo contra sua programação. Para eles, a resposta reformada equivale a dizer que se um computador executa um vírus, então podemos acusá-lo de um crime cibernético. O pensamento deles é que se um homem escreve o vírus, e o computador apenas o executa, então é o homem que deve ser acusado do crime. O computador pode ser responsabilizado somente se ele escreve o vírus sozinho ou se ele realiza o mesmo mal sem um vírus. Se estamos falando sobre soberania divina, então a liberdade deve ser definida dessa forma — uma liberdade relativa ao controle divino. E se essa liberdade é o fundamento necessário para a responsabilidade moral, então nossos oponentes estão corretos. Ou Deus não pode ser soberano, ou o homem não pode ser responsável. A resposta reformada é um fracasso total e uma vergonha.
Se você replica que um homem não é como um computador em muitos aspectos, eu concordo. Mas tenha cuidado com isso, pois pode não ir na direção que você espera. Um homem pode programar o computador, mas ele não controla muitas coisas sobre ele. Ele não criou os próprios materiais que fizeram o computador, e ele não controla a eletricidade e muitas outras coisas necessárias para sua operação. Se um homem é maior que um computador, então Deus é infinitamente maior que um programador. Então essa réplica apenas enfatiza o controle de Deus sobre o homem. A analogia de fato falha, mas não em favor dos reformados ou seus oponentes.
A mesma coisa se aplica quando se pergunta se Adão tinha liberdade antes de sua queda no pecado. Não faz sentido responder com a doutrina do compatibilismo ou o esquema dos “quatro estados do homem”. Se Adão era livre do pecado para se abster do pecado é secundário. Os oponentes estão perguntando se Adão era livre de Deus para se abster do pecado. Se ele era livre de Deus, então como Deus é soberano? Se Adão não era livre de Deus, então por que ele era responsável? Se Deus criou Adão justo, e Adão agiu de acordo com sua própria natureza, então como a queda foi possível? Quanto a isso, os oponentes estão completamente certos, e os reformados estão completamente errados.
A resposta correta é simples: 1. Afirme a soberania divina, e que ela é exaustiva, estendendo-se a todas as coisas, até mesmo aos pensamentos, motivos, desejos e ações dos homens; 2. Negue a liberdade humana, e admita que ela é de fato inconsistente e excluída pela soberania divina; 3. Negue que a liberdade humana seja o fundamento necessário para a responsabilidade moral; 4. Afirme que a soberania divina é o verdadeiro fundamento para a responsabilidade moral; isto é, os homens são responsáveis porque Deus os considera responsáveis, e ele não requer nenhuma garantia para isso além de sua natureza e sua vontade; e 5. Afirme que a própria definição de justiça é dada pela natureza, decreto e ação de Deus, de modo que tudo o que ele decide e causa está por definição de acordo com a justiça; isto é, ele está sempre de acordo consigo mesmo.
Isso confronta diretamente a ideia de liberdade conforme definida pelos oponentes da soberania divina e, em vez de trocar essa liberdade por outra coisa, nega-a categoricamente. E então confronta sua preocupação mais profunda, que é a responsabilidade moral, e aponta que sua suposição — de que a responsabilidade pressupõe liberdade, liberdade diante de Deus em qualquer sentido e por qualquer definição — é arbitrária e injustificada, e contrária tanto à Escritura quanto à razão.
Precisamos mesmo de milhares de páginas escritas ao longo de centenas de anos para resolver isso? A relação do meu computador com sua programação é moralmente irrelevante. Ele é minha propriedade. Posso usar meu notebook como um frisbee se quiser. Como dono, está dentro dos meus direitos fazer o que eu quiser com ele. Assim, Deus é o oleiro que, da mesma massa, faz alguns vasos para uso honroso e alguns vasos para uso desonroso. E ninguém pode dizer a ele: "Por que você me fez assim?" Esse é o resumo da teologia e o fim do assunto.
— Vincent Cheung. But What About the Thingamajig? Disponível em Sermonettes — Volume 2 (2010), p. 80-82. Traduzido por: Luan Tavares (23/07/2024).
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Duas Coisas Bobas
Uma doutrina de compatibilismo é frequentemente afirmada. Dizem que a soberania de Deus é compatível com a liberdade do homem porque as decisões do homem não são coagidas, mas que o homem sempre age de acordo com seu desejo mais forte. Então, essa suposta liberdade é frequentemente usada como base para a responsabilidade moral do homem.
No entanto, se a soberania de Deus é exaustiva, então tudo é explicado por ela, incluindo os desejos do homem e o fato de que ele age de acordo com seus desejos. Então, o fato de não haver coerção não é uma indicação de liberdade, mas um reflexo de que Deus controla todas as coisas. E mesmo que haja resistência, isso não indica liberdade, mas que, para seu próprio propósito, Deus está fazendo com que uma coisa reaja contra outra.
Em outras palavras, a doutrina da soberania divina é um princípio tão abrangente que todo o restante é explicado e interpretado por ela. Sob esse princípio, o compatibilismo torna-se irrelevante. Como existe apenas uma causa verdadeira, a compatibilidade não pode ser usada para demonstrar nada a não ser dizer que essa causa é compatível consigo mesma. Dizer que qualquer coisa sob esse sistema é compatível com outra coisa é não dizer nada além de que Deus é compatível consigo mesmo.
Se eu afirmo que tenho poder sobre a minha porta, você pode pensar que é muito esperto e salientar que fechar a porta é compatível com o fechamento da porta. Claro! E a porta não é coagida! Mas isso não garante liberdade à porta — ela não se fecha por sua vontade própria e poder. A declaração falha em demonstrar qualquer outra coisa além de reafirmar que tenho poder sobre a porta.
Da mesma forma, dizer que Deus é soberano e que o homem decide de acordo com seu próprio desejo é dizer que Deus fazer com que um homem tenha um desejo e decida de acordo com esse desejo é compatível com Deus sendo soberano. Mas isso só me diz como Deus usa sua soberania, ou o que ele faz com ela. Se o objetivo é esculpir um lugar para a liberdade humana, ou demonstrar algo que não seja para reafirmar a soberania de Deus, é totalmente mal sucedido. É uma das coisas mais bobas da teologia.
Alguns tentaram resgatar a doutrina alegando que eu a deturpei. Eles dizem que os teólogos não chamam isso de um tipo de liberdade, ou se chamam ou não, eles não a tornam uma base para a responsabilidade moral. Eu tenho duas respostas para isso. Primeiro, essas pessoas evidentemente não sabem o que o compatibilismo ensina. Os teólogos de fato o chamam de um tipo de liberdade, e muitos, se não a maioria deles, fazem disso uma base para a responsabilidade moral. Eu documentei isso com alguns dos mesmos teólogos em quem eles alegam confiar para definir a doutrina. Segundo, se a doutrina nunca é chamada de um tipo de liberdade, e nunca é usada como base para a responsabilidade moral, isso pode torná-la menos absurda, mas também a torna ainda menos relevante. Torna-se uma observação enganosa que não faz sentido. E se o único ponto é que as decisões humanas não são coagidas, eu já respondi isso acima.
Às vezes é dito que minha posição bíblica se assemelha ao panteísmo, uma vez que sustenta que Deus é a única causa real. Mas isso não é tanto uma objeção a ser respondida, mas uma suposição a ser exposta e admirada com horror. A pessoa que faz essa objeção assume que Deus é identificado com tudo o que ele controla ou causa, de modo que se Deus controla e causa todas as coisas, então ele é identificado com todo o universo, resultando em panteísmo. A Escritura e eu rejeitamos essa suposição, e não há nada inerente à ideia de que Deus ser a única causa compele uma identificação com o panteísmo. Não é impossível ou contraditório afirmar que Deus controla e causa todas as coisas, mas que ele não é identificado com essas coisas. Ele pode controlar completamente uma rocha e não ser a rocha. A menos que haja um argumento para forçar essa identificação, não há mais nada a dizer como resposta.
Ainda assim, os cristãos, incluindo alguns calvinistas e teólogos reformados, usam essa suposição contra uma visão forte da soberania divina, como quando Dabney se opôs a Edwards na questão da criação contínua, e isso foi usado contra mim também. Mas se eles usam essa suposição para se opor à soberania divina total, eles devem continuar a usá-la quando se referem a qualquer grau de controle ou causalidade por Deus. Agora eles estão presos a essa falsa suposição que eles usam em outras pessoas. Se eles afirmam que Deus é totalmente soberano, então, de acordo com sua própria suposição, eles são os panteístas. Se eles afirmam que Deus não é identificado com todo o universo, ou se eles rejeitam o panteísmo, então eles não podem afirmar que Deus é totalmente soberano. Eles terão que se contentar com uma estranha mistura de divindade finita e panteísmo parcial. Assim, eles devem aceitar essa conclusão e renunciar à fé cristã, ou devem abandonar a suposição e admitir que a doutrina que diz que Deus é a única causa verdadeira não é o mesmo que o panteísmo. Esta também é uma das coisas mais bobas da teologia.
A doutrina bíblica é muito mais simples: Deus é soberano, e o homem não é livre. A soberania divina é incompatível com a liberdade do homem. Isso não tem nada a ver com responsabilidade moral, já que responsabilidade moral se refere à prestação de contas, e Deus presta contras do homem; portanto, o homem é responsável. A liberdade humana não tem entrada lógica na discussão.
— Vincent Cheung. Two Silly Things. Disponívem em Sermonettes — Volume 2 (2010), p. 78–79. Traduzido por Luan Tavares em 15/08/2019.
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Granadas Emocionais e Soberania Divina
Desde o início, faço conhecido o fim; desde tempos remotos, o que ainda virá. Eu digo: "O meu propósito permanecerá em pé, e farei tudo o que me agrada". (Isaías 46:10)
Eu formo a luz e crio as trevas, promovo a paz e causo a desgraça; eu, o SENHOR, faço todas essas coisas. (Isaías 45:7)
Quando a trombeta toca na cidade, o povo não treme? Ocorre alguma desgraça na cidade sem que o SENHOR a tenha mandado? (Amós 3:6)
A Bíblia ensina que Deus decreta, causa e controla todas as coisas. A soberania de Deus é exaustiva e eficaz. Ele não apenas organiza todas as coisas para que aconteçam, mas ele faz com que todas as coisas aconteçam. Isso significa que ele é o autor do pecado, no sentido de que ele é a causa metafísica de pensamentos, decisões, ações e eventos que ele mesmo definiu como pecaminosos.
Embora a distinção deva ser óbvia, é importante apontar uma confusão comum. Dizer que Deus é o autor ou a causa do pecado não é dizer que Deus comete ou aprova moralmente o pecado, isto é, aprovar o pecado no sentido preceptivo. A Bíblia define o pecado como a transgressão da lei de Deus. Deus revelou sua definição de certo e errado para o pensamento e comportamento humano, e fazer o que ele proíbe, ou deixar de fazer o que ele ordena, é pecar. Não há lei que diga que Deus não deve causar pecado; portanto, quando Deus causa o pecado, ele não comete ou aprova moralmente o pecado. Se nossa doutrina não chega a afirmar que Deus ordena e causa o pecado, então devemos admitir que rejeitamos a doutrina bíblica, que ele exerce poder total sobre todas as coisas.
Como esperado, há muitas tentativas de refutação. Mas o ensinamento é o que Deus revelou sobre si mesmo. Ele exige que acreditemos e, mais do que isso, que gostemos. Recusar-se a acreditar ou recusar-se a gostar é insultar sua natureza e caráter. É sugerir que há algo errado com ele. Insistir que ele não é assim é recusar-se a aceitá-lo como ele é. Muitos cristãos acham difícil aceitar Deus como ele é. Esta é apenas outra maneira de dizer que não gostam dele. E mesmo aqueles que exaltam sua soberania colocam um limite nele e o repreendem para que ele não afirme sua soberania direta longe demais, até mesmo ao reino do pecado e do mal. Mas somos de uma raça diferente. Afirmamos que a soberania de Deus é exaustiva e eficaz e se estende a todas as coisas, até mesmo ao pecado e ao mal. Ele nos ensina isso. Acreditamos e gostamos disso.
Uma das tentativas contra a doutrina assume esta forma: “Se Deus ordena e causa todas as coisas, então isso também se aplica ao estupro de uma criança”. Seja isso declarado como uma observação ou uma pergunta retórica, não há argumento aqui que obrigue uma resposta que seja mais do que um simples “Sim”. Se Deus ordena e causa todas as coisas, então é claro que isso se aplica ao estupro de uma criança, ou a cinco bilhões de crianças. Não há refutação.
Esta é uma granada emocional. Seu poder está no sentimento popular de que o bem-estar das crianças é um dos princípios supremos sob os quais todas as outras coisas são subservientes. Neste caso, a granada é lançada contra a honra e o poder de Deus. Mesmo assim, é uma granada que tem uma chance considerável de sucesso, porque mesmo aqueles que se dizem cristãos colocariam ansiosamente o bem-estar das crianças muito acima de sua reverência a Deus. Esses são, é claro, maus cristãos. Mas há muitos maus cristãos. Na verdade, muitas pessoas colocariam seus animais de estimação acima de sua religião. Assim, poder-se-ia esperar sucesso com: "Se Deus ordena e causa todas as coisas, então isso também se aplica à indigestão do seu cachorro". Com isso, não me surpreenderia nem um pouco se alguém abandonasse a doutrina da soberania divina e recuasse para um teísmo finito, ou se voltasse contra Deus por machucar seu cachorrinho inocente.
Não devemos recuar da doutrina bíblica, mas devemos avançar e atacar aqueles que buscam minar a glória de Deus, e fazê-los se arrepender de sua insolência. Em vez de absorver o golpe do oponente, devemos pegar a granada e jogá-la de volta na cara dele.
A Bíblia diz que até mesmo a crucificação de Cristo foi preordenada por Deus (Atos 2:23, 4:28), e que “foi da vontade do SENHOR esmagá-lo e fazê-lo sofrer” (Isaías 53:10). O estupro de uma criança é realmente terrível. Qualquer um que cometa tal crime deve ser executado. Mas mesmo o estupro de uma criança, ou quinze trilhões de crianças, ainda é insignificante comparado à vergonha e ao sofrimento que o Cristo divino teve de suportar. Você não consegue ver que, se você se ofende com isso, ou mesmo um pouco desconfortável, isso diz algo sobre você? Isso me diz que você valoriza as crianças mais do que Deus, e mais do que Jesus Cristo. Seus valores são centrados no homem.
Somos apenas pó, e devemos continuamente agradecer por termos permissão para viver. Mas o Altíssimo ordenou e fez com que seu próprio Filho, uma pessoa de infinita glória e valor, visitasse pecadores e recebesse deles insultos, perseguição e até mesmo a morte. Se o oponente ignora isso, isso o expõe como incompetente. Se ele assume que nos importaríamos mais com a criança, então ele assume que somos maus cristãos. Em muitos casos, ele estaria no alvo, mas não desta vez. E mesmo que alguns tropecem nisso, isso ainda não refuta a doutrina, mas significa apenas que o oponente descobriu alguns maus cristãos. E se o oponente afirma ser um cristão, então ele se expôs como um mau cristão. Ele se importa mais com uma criança do que com o Senhor Jesus.
— Vincent Cheung. Emotional Grenades and Divine Sovereignty. Disponível em Sermonettes — Volume 2 (2010), p. 76-77. Traduzido por Luan Tavares (23/07/2024).
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O Pior Pesadelo do Legalista
(Adaptado de correspondência por e-mail.)
Meus sogros decidiram adotar o estilo de vida judaico e seguir as leis levíticas. Eles discutem continuamente conosco, dizendo que deveríamos fazer o mesmo. Eu os direcionei para Gálatas e Atos, mas sem sucesso. Espero que você possa me guiar na direção certa.
Como me faltam muitos detalhes — se eles afirmam ser cristãos, se consideram necessário para a salvação seguir a Lei, etc. — posso oferecer apenas uma resposta ampla. Mas mostrarei a você uma estratégia que é bíblica, poderosa, mas que muitos não terão a coragem cristã de recomendar.
Isso nos ajudaria a definir sua condição:
A Bíblia ensina que se eles dependem da Lei para alcançar uma posição correta diante de Deus ou para manter sua aprovação — isto é, se eles dependem de si mesmos — então, por definição, eles caíram da graça, e estão separados de Cristo. Em outras palavras, eles não são cristãos, e a menos que se arrependam — a menos que renunciem a seus próprios esforços, olhem para fora de si mesmos e confiem em Jesus Cristo para salvá-los — Deus os enviará para o inferno e os torturará para sempre.
Supondo que eles tenham ouvido falar de Jesus Cristo como o cumprimento da Lei, como o único sacrifício expiatório, então a insistência deles em seguir a Lei, incluindo seus aspectos cerimoniais, equivale a uma negação da natureza e da obra de Cristo. Eles não aceitam Jesus Cristo por quem ele é, e sua obra pelo que ela é, que ele é e realizou o sacrifício de uma vez por todas pelos pecados de seu povo. Caso contrário, eles não insistiriam na Lei no sentido em que insistem. Assim, eles são como os judeus que Cristo condenou, que disseram que não acreditavam realmente em Moisés, e que sua religião é de fato baseada nas tradições dos homens, e não nos mandamentos de Deus.
Então, sabemos que não devemos considerá-los cristãos, e sabemos que eles se recusam a confiar em Jesus Cristo para salvação. Mesmo que eles aleguem confiar em Cristo, por sua doutrina e prática em relação à Lei, eles mostraram que não confiam nele no sentido ensinado pela Bíblia, e, portanto, isso significa que eles não confiam nele de forma alguma, e certamente não em um sentido que esteja associado à salvação.
No entanto, o Novo Testamento ensina que a Lei deve levar os homens a Cristo. O que isso indica para mim é que eles não estão levando a Lei a sério, assim como os judeus, ao contrário do que eles próprios alegam, não levaram a Lei a sério. Sua abordagem, então, deve ser forçá-los a levar a Lei a sério, e forçá-los a sentir todo o poder e fardo da Lei. Para fazer isso, você deve ter um bom conhecimento de três coisas: 1. A Lei do Antigo Testamento que eles alegam seguir (ou o que é realmente exigido pela Lei), 2. Sua interpretação do que é exigido pela Lei (você deve corrigir sua interpretação frouxa, ou fazê-los viver de acordo com suas próprias tradições também), e 3. Todos os argumentos do Novo Testamento contra a dependência da Lei. À medida que seu conhecimento dessas três coisas continua a crescer, você será capaz de implementar o seguinte com poder e eficácia crescentes.
Agora, estamos prontos para discutir o método:
Eles já ouviram sobre Cristo, e já o rejeitaram. E eles o rejeitam por causa de seu pensamento errado, não apenas sobre Cristo (eles não o reconhecem como um sacrifício suficiente, exclusivo e definitivo), mas sobre a Lei (eles acham que podem guardá-la). Portanto, no futuro próximo, remova a ênfase na defesa da liberdade que os cristãos têm em Cristo. Novamente, isso não é para recuar de declarar o evangelho, uma vez que eles já o ouviram e o rejeitaram. Em vez disso, antes de tentar afirmar o evangelho novamente, talvez possamos remover alguns dos obstáculos.
Então, e este é o principal impulso da estratégia, deste momento em diante, exija que eles executem perfeitamente tudo o que a Lei exige. Por enquanto, não fale com eles sobre o que você acredita, e não os deixe falar com você sobre o que eles querem que você acredite ou pratique. Fale com eles sobre o que eles acreditam e se eles vivem de acordo com a Lei que eles afirmam viver. Seja justo, seja preciso, mas seja completamente implacável e implacável em sua aplicação da Lei em suas vidas. Derrote-os com a Lei que eles insistem em manter. Critique-os pelas menores infrações. Lide com eles exclusivamente com base no fato de que eles querem ser tratados.
Examine o que comem. Examine o que dizem. Examine o que fazem e em que horas o fazem. Examine como lavam as mãos. Examine o que vestem. Critique até o que parecem pensar — a Lei diz: "Não cobice". Critique tudo sobre eles, com base na Lei. Cite a Lei contra eles a todo momento. Se tiverem filhos, critique os filhos abertamente quando violarem qualquer detalhe da Lei. Ligue para eles no sábado. Pergunte o que estão fazendo e se a Lei permite que façam isso. Eles devem atender sua ligação? Por quê?
Torne-se a Lei personificada. Torne-se o pior pesadelo deles. Se eles correrem, persiga-os. Faça-os cair do penhasco com a Lei. Obviamente, eles não entendem ou acreditam na Lei o suficiente para experimentar o desespero. Então produza o desespero neles. A verdade é que eles silenciam a Lei quando querem ignorá-la. Então torne-se a voz da Lei e atormente-os dia e noite. Com base na Lei, eles podem viver onde vivem? Eles podem se associar com quem eles se associam? Eles podem permanecer em suas vocações atuais?
Se eles falham em qualquer ponto, não importa quão insignificante pareça, então eles são infratores da lei. É por isso que eu digo que você deve se familiarizar com os argumentos do Novo Testamento. Se eles quebram uma lei, eles transgrediram contra o Legislador. Como seus pecados serão expiados? Eles realizam sacrifícios de animais? Se não o fazem, como eles estão seguindo a Lei? Onde fica seu templo? Onde está seu sacerdote? E seus sacrifícios de animais, se eles os têm, podem expiar seus pecados? Então como eles precisam fazê-lo repetidamente? (Este é outro dos argumentos do Novo Testamento. Aprenda-os.) E se eles pecarem e morrerem sem um sacrifício animal final? Se eles fizeram modificações na Lei por suas tradições, exija uma justificativa para elas ou acuse-os de subverter a mesma Lei que eles alegam seguir.
Você consegue entender o que deve fazer? Você tem que conhecer a Lei, saber no que eles acreditam e como vivem, conhecer os argumentos do Novo Testamento e então, metaforicamente falando, levá-los direto para o inferno com isso. Não mostre misericórdia nenhuma e faça com que sintam a rigidez da Lei. Torne suas vidas miseráveis. Não os deixe importuná-lo sobre viver pela Lei. Você já defendeu sua fé em Cristo. Agora vá para a ofensiva e fique exclusivamente na ofensiva. Introduza um nível anteriormente inconcebível de medo, dor e aborrecimento em suas vidas. Pedro disse que os judeus não deveriam impor aos gentios um fardo que eles próprios não pudessem suportar. Certifique-se de que eles sintam esse fardo em toda a sua plenitude. Eles não sentem isso, porque seu respeito pela Lei é uma mentira. Eles estão apenas fingindo porque isso os faz se sentir bem, ou porque faz sua religião parecer concreta (eles precisam disso porque não são espirituais). Então você torna isso real para eles.
Este é o caminho. É assim que você vence. Se você se importa o suficiente com a honra de Deus e sua salvação para fazer isso e persistir, depende de você. Se você estiver disposto, eu digo que você deve continuar por pelo menos um ano inteiro. Depois disso, se eles se considerarem indignos da vida eterna, então retire o pó dos seus pés e se volte para os outros. Não lance suas pérolas aos porcos.
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Não Me Julgue por Julgar
Agora, se você se diz judeu, apoia‑se na lei e orgulha‑se de Deus; se você conhece a vontade dele e aprova o que é superior, porque é instruído pela lei; se você está convencido de que é um guia de cegos, luz para os que estão em trevas, instrutor de insensatos, mestre de crianças, tendo na lei a forma do conhecimento e da verdade —, então, você, que ensina os outros, não ensina a você mesmo? Você, que prega contra o roubo, rouba? Você, que diz para não adulterar, adultera? Você, que abomina ídolos, rouba os templos? Você, que se orgulha da lei, desonra a Deus ao transgredir a lei? Pois, como está escrito: “O nome de Deus é blasfemado entre os gentios por causa de vocês”. (Romanos 2:17-24)
Embora seja obscura em comparação, esta é uma daquelas passagens que as pessoas interpretam para dizer que é errado fazer julgamentos morais sobre os outros. Parece que os cristãos têm uma opinião sobre tudo, e isso irrita profundamente os não cristãos. Por isso, até alguns de nós dizem: “Será que devemos ser mais sensíveis aos sentimentos das pessoas? Devemos partilhar a nossa fé sem sermos tão ofensivos?” Claro que não. Jesus que ensinou isto a você, ou foi outra pessoa? Talvez alguém com chifres e uma forquilha?
Às vezes, a maneira como os não cristãos descrevem o que fazemos soa mais bíblica do que o que os líderes da igreja sugerem que deveríamos fazer. Os descrentes reclamam que nós “damos sermões” e “pregamos para” eles, mas muitos ministros acham que não deveríamos. Se formos demasiado pregadores — eles avisam — afastaremos as pessoas. No entanto, este é o método escolhido por Deus para revelar os eleitos e os não eleitos. Aqueles que amam a Deus gostam de ter a verdade pregada a eles, enquanto aqueles que estão destinados ao inferno espumam pela boca.
Não é por sugestões sutis, discussões distantes ou cutucadas nebulosas que a fé de Jesus Cristo é declarada diante do mundo; em vez disso, é pela pregação — uma declaração explícita e autoritária do que Deus revela, do que Deus ordena e do que Deus fez por meio de Jesus Cristo. E quando um cristão prega, ele soará como um pregador, assim como quando um não cristão choraminga, ele soará chorão. Paulo disse aos atenienses: "O que vocês não sabem, estou aqui para lhes dizer". O próprio ato de pregar, especialmente para os descrentes, pressupõe uma superioridade espiritual, moral e intelectual, se não naquele que prega, então certamente naquele que é pregado.
Em uma passagem mais popular, Jesus disse “Não julguem” (Mateus 7:1), e isso é frequentemente considerado um ensinamento contra a formação e expressão de qualquer avaliação moral das crenças e ações de qualquer pessoa. Mesmo antes de considerarmos a passagem mais a fundo, essa interpretação é impossível à primeira vista, e se for verdade, seria impossível de implementar. Isso porque a ideia de que é errado julgar é em si um julgamento e uma avaliação. Se é errado julgar em qualquer sentido, então nunca se pode dizer isso sem condenar a si mesmo.
Jesus não cometeu esse erro, porque ele queria dizer algo diferente. Ele continuou: “Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão, mas não se dá conta da viga que está no seu próprio olho? Como você pode dizer ao seu irmão: 'Deixe‑me tirar o cisco do seu olho', quando há uma viga no seu? Hipócrita, tire primeiro a viga do seu olho e, então, você verá claramente para tirar o cisco do olho do seu irmão” (vv. 3-5).
Ele estava ensinando contra o julgamento hipócrita, e não o julgamento como tal. Os versículos 3-4 descrevem alguém que percebe uma falha em seu irmão, quando ele próprio está sobrecarregado com uma falha maior. O versículo 5 indica que o ponto disso é desencorajar a hipocrisia, e também afirma que depois que essa falha maior foi removida, então a pessoa se torna capaz de remover correta e efetivamente a falha em seu irmão. Este ponto final é altamente significativo, pois quando Jesus terminou o ensinamento sobre o julgamento hipócrita, ele afirmou que essa pessoa poderia de fato apontar essa falha em seu irmão.
O objetivo de Paulo nos capítulos iniciais de sua carta aos Romanos é mostrar que o pecado é universal e garantir o veredito de que “todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus” (Romanos 3:23), para que ele possa prosseguir expondo uma justiça que vem de Deus por meio de Jesus Cristo, fornecida como uma dotação à parte das obras e méritos dos homens, que ele imputa a todos aqueles que ele escolheu salvar, concedendo-lhes fé no evangelho.
No processo, Paulo mostra que, embora os homens soubessem sobre Deus, até mesmo seu poder e sua natureza, eles suprimiram esse conhecimento e se voltaram para adorar ídolos. E embora soubessem sobre seus mandamentos e a punição que ele havia decretado contra aqueles que transgrediam, eles não apenas faziam aquelas coisas que Deus declarava detestáveis, mas também aprovavam outros que as faziam. Ele também mostra que, embora os gentios não tivessem o Antigo Testamento, eles, no entanto, tinham algum senso de padrões morais em seus corações. E suas consciências às vezes os defendiam e às vezes os acusavam. Assim, até mesmo seus corações testemunhavam contra eles, que eram transgressores. Até mesmo as leis que os gentios inventaram para si mesmos, eles frequentemente deixavam de cumprir. Portanto, a culpa deles é clara e a condenação deles é certa.
Este mesmo argumento se aplica aos não cristãos ao nosso redor hoje. Eles rejeitam os mandamentos morais de Deus conforme revelados na Bíblia e adotam seus próprios padrões de certo e errado. No entanto, não importa quão errados, quão arbitrários e quão acomodados sejam seus padrões, eles ainda não os vivem constante e perfeitamente. Isso mostra que eles são transgressores.
Quanto aos judeus que tinham a Escritura, eles tinham acesso a uma revelação precisa dos mandamentos de Deus. O objetivo de Paulo não é proibir o julgamento, mas provar a culpa deles. Assim, ele aponta que, embora eles os conhecessem e até os ensinassem a outros, eles próprios transgrediram esses mandamentos. Ele escreve: “Você, que prega contra o roubo, rouba?” Ele não diz que roubar não é errado, pois a Escritura de fato condena o roubo. Em vez disso, aqueles que pregaram contra o roubo, contra o adultério e assim por diante, fizeram essas mesmas coisas que disseram aos outros para não fazerem.
Novamente, a questão não é que eles não deveriam ter pregado a lei, ou avaliado pessoas e ações com base nela, mas que, porque eles fizeram as mesmas coisas que sabiam ser erradas, eles são mostrados como pecadores, assim como aqueles que suprimiram seu conhecimento inato de Deus para adorar ídolos, e como aqueles que estavam cientes das leis de Deus, mas que ainda pecaram, de modo que suas consciências os acusaram. O resultado é que, longe de dizer às pessoas para suspender o julgamento contra o pecado, Paulo tornou nossa consciência da natureza e extensão do pecado ainda mais pronunciada.
Nos versículos 21-24, Paulo expõe a hipocrisia dos judeus e, portanto, sua pecaminosidade e sua necessidade de uma justiça que vem à parte de seus próprios méritos e esforços. Mas ele não nega o que diz nos versículos 17-20. Por terem a lei, a personificação do conhecimento e da verdade, os judeus se consideravam superiores, um guia de cegos, luz para os que estão em trevas, instrutor de insensatos e mestre de crianças. Embora Paulo fale como ele fala nos versículos 21-24, ele não discorda de como os judeus se viam nos versículos 17-20. Isso é confirmado em 3:1-2, onde ele reconhece que ter acesso à Escritura era de fato uma vantagem “em todos os sentidos”: “Que vantagem há, então, em ser judeu, ou que valor há na circuncisão? Muita, em todos os sentidos! Em primeiro lugar, porque aos judeus foram confiadas as palavras de Deus”.
Quem tem a Escritura agora? Os profetas e os apóstolos provaram que os judeus não acreditavam de fato na Escritura que eles tinham. O próprio Jesus disse que se os judeus tivessem acreditado em Moisés, eles teriam acreditado nele também, porque o Antigo Testamento testificou sobre ele e previu sua aparição. E é claro que eles rejeitaram os escritos apostólicos que completaram a Escritura. Por outro lado, como cristãos, acreditamos em toda a Escritura e a herdamos, e também as vantagens que vêm com ela. Temos a Bíblia, de modo que 2:17-20 e 3:1-2 agora se aplicam a nós. Somos superiores. Somos um guia de cegos, uma luz para os que estão em trevas, um instrutor de insensatos e um mestre de crianças. Esta é a comissão da igreja, declarada no Novo Testamento quase com estas mesmas palavras.
Agora estamos em vantagem “em todos os sentidos”. Não há necessidade de negar isso. O que precisamos é apreciar completamente o ponto de Paulo, para que não façamos julgamentos hipócritas, para que admitamos que, no entanto, falhamos em obedecer, e admitamos nossas transgressões, e renunciando às nossas próprias obras e méritos, confiamos na justiça de Jesus Cristo. Romanos 1—3 demonstra que os homens nunca vivem de acordo com o que sabem. Eles são transgressores, pecadores ímpios. Como o pecado é universal, a condenação divina também é universal. Somente Jesus Cristo pode nos salvar da ira de Deus. Esta é a lição mais importante. Em vez de minar o julgamento, esta compreensão básica da mensagem da salvação requer a avaliação moral mais extensa e condenatória de todos os homens.
É aqui que voltamos esta passagem contra aqueles que se opõem a julgamentos morais. O mesmo raciocínio se aplica: aqueles de vocês que chamam outras pessoas de julgadoras, vocês são julgadores contra pessoas julgadoras? Ou seja, vocês que dizem que as pessoas são moralmente erradas porque são julgadoras, vocês fazem a mesma coisa ao serem julgadores contra essas pessoas julgadoras? Seu hipócrita! Você faz a mesma coisa que condena. Você transgride o próprio padrão que você inventou.
Jesus disse: “Não julguem segundo a aparência, mas julguem pela reta justiça” (João 7:24, NAA). Não é errado fazer um julgamento; este versículo nos diz para fazê-lo. O problema é que alguns julgamentos são equivocados, alguns são prematuros ou baseados em informações insuficientes, e alguns julgamentos são feitos com hipocrisia. Se estudarmos reverente e inteligentemente o julgamento de Deus e o declararmos ao mundo, e professarmos que também estamos sob o mesmo padrão, e que mesmo agora continuamos a falhar, de modo que confiamos somente em Cristo para nos salvar, então não podemos ser culpados.
Somente a pessoa que é julgadora, no sentido pretendido aqui, pode defender o que é certo. Ela tem conhecimento do que é certo, e pode defendê-lo e promovê-lo. Ela tem uma ideia do que é errado, e pode percebê-lo e se opor a ele. Vamos, portanto, resistir às críticas julgadoras dos não cristãos, e nos tornarmos cada vez mais julgadores de acordo com o padrão de Deus, para que todos possam se tornar conscientes de seus pecados, da ira de Deus, e da salvação que é dada somente pela fé no nome de nosso Senhor Jesus Cristo.
— Vincent Cheung. Don’t Judge Me for Judging. Disponível em Sermonettes — Volume 2 (2010), p. 60-63. Traduzido por Luan Tavares (22/07/2024).
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Sobre o Amor e a Repreensão
Melhor é a repreensão feita abertamente do que o amor oculto. (Provérbios 27:5)
A Palavra de Deus informa e satisfaz o intelecto cristão. Ela contém verdade com substância, e não fogos de artifício para fazer cócegas na mente especulativa. Deus é diferente de autores humanos inseguros, que esperam fingir grandeza por meio da ambiguidade. A revelação divina é, no geral, tão clara e direta que o homem não tem desculpa para negar sua inspiração, ou para evitar a demanda por adoração verdadeira escondendo-se atrás de uma doutrina de finitude humana ou incompreensibilidade divina. O cristão honesto e humilde diz: “Sim, eu o conheço. Sim, eu o entendo. Sim, eu acreditarei nele e o seguirei”.
Jesus disse: “Se vocês me amam, guardarão os meus mandamentos” (João 14:15, NAA). Esta é uma teologia muito profunda e excelente. O amor não é uma emoção, mas uma disposição para guardar os mandamentos divinos em nossos relacionamentos com Deus, com os homens e mulheres, e com a criação. Isto significa que você adorará somente a Deus, e confiará em Jesus Cristo para salvar sua alma. Significa que você não roubará de alguém, ou caluniará alguém; em vez disso, você possuirá uma disposição que se importa com o bem-estar dos outros, e expressará essa preocupação nas palavras e ações correspondentes. Você se comportará desta maneira não porque sinta vontade, e não em proporção à intensidade de suas emoções, mas porque Deus ordena, e você o fará em proporção à medida de sua crescente fé e obediência.
O bem-estar de uma pessoa inclui o seu conforto físico e psicológico. Os cristãos ajudam os seu próximo nestas necessidades, mas também o fazem os animais e os pecadores, embora movidos por impulsos inferiores e até sinistros. Quando se trata da questão mais importante da instrução sobre Deus e o caminho da salvação, os animais e os pecadores são inúteis. Os animais lambem-se a si próprios ou adormecem, e os não cristãos apontam para todo o lado, para todas as direções menos para a correta. Por isso, cabe aos cristãos admoestarem-se uns aos outros e corrigirem os não cristãos.
No entanto, é frequente os cristãos não falarem. Há uma série de razões para isso. Talvez eles tenham medo de rejeição, ou de perder o afeto de amigos e parentes. Esta é uma possibilidade, mas também é uma razão egoísta. Talvez eles temam ferir os sentimentos de outras pessoas. Esta também é uma possibilidade, mas é irrelevante. A necessidade de repreender uma pessoa sugere que ela está errada, que ela está acreditando ou fazendo algo que desonra a Deus e que prejudica a si mesma e aos outros. Portanto, o assunto é mais importante do que seus sentimentos. E se o problema fundamental for corrigido, é provável que seus sentimentos se conformem com seu novo entendimento e disposição. Amar alguém, então, é repreendê-lo quando ele está em falta. É declarar o padrão de Deus e endireitar o que está torto.
Visto que o amor envolve repreensão aberta, reter a repreensão revela falta de amor. Algumas pessoas não amam a Deus ou aos homens, mas amam a imagem de si mesmas como gentis e bondosas. Elas preferem permitir que a honra de Deus seja manchada e que seus amigos pereçam a sacrificar sua imagem. A relutância em repreender, portanto, não é amor, mas medo e egoísmo. De fato, se você repreender uma transgressão, outros o criticarão por sua ousadia e o chamarão de severo e julgador, e as críticas virão principalmente daqueles que se dizem cristãos, mas isso ocorre porque seu comportamento expõe seu próprio amor a si mesmo, e que sua maior motivação não é o amor a Deus, mas a autopreservação. Assim, aqueles que se recusam a repreender, mas que repreendem aqueles que repreendem, devem ser repreendidos. No entanto, se eles consideram sua imagem amigável mais preciosa do que Jesus Cristo, então essa é sua recompensa. Quanto a você, siga o exemplo dos santos profetas e proclame o alto padrão do Senhor, para que por meio dele alguns possam ser levados ao arrependimento e à salvação, ou a uma maior obediência.
A Bíblia nos ensina a “falar a verdade em amor” (Efésios 4:15, NIV: “speak the truth in love”), e isso foi interpretado como “falar a verdade em tons suaves e com palavras gentis”. Isso sugere um terrível mal-entendido sobre o que significa amor. O amor é muito mais profundo do que maneirismos efeminados. Na verdade, o texto não se refere à maneira como devemos falar a verdade, mas à motivação por trás dela. Quando Romanos 1:18 diz que os pecadores suprimem a verdade sobre Deus “em injustiça” (KJV, “in unrighteousness”), isso não significa que eles a suprimem de maneira injusta (como se alguém pudesse suprimi-la de maneira justa!), mas que, por serem injustos, eles suprimem a verdade. Da mesma forma, quando Paulo diz para falar a verdade em amor, ele quer dizer que falamos a verdade porque amamos uns aos outros. Lembre-se de que, na Bíblia, o amor se refere a uma disposição que resulta nas palavras e ações correspondentes. Assim, porque uma pessoa ama, ela falará a verdade para instruir e repreender os outros. As palavras e os tons geralmente serão suaves e gentis, mas às vezes serão duros e mordazes, como os profetas e apóstolos exemplificaram e ordenaram.
Reservamos uma repreensão muito importante para os não cristãos. Não podemos afirmar que nos preocupamos com eles e não os repreendermos pela sua descrença e rejeição de Jesus Cristo. Não permitamos que nossos relacionamentos e os sentimentos de outras pessoas se tornem ídolos em nossos corações, para que nos tornemos como os não cristãos em suprimir a verdade sobre Deus em injustiça, por causa de nossa idolatria, medo e egoísmo. E também repreendamos aqueles que afirmam ser cristãos, mas que se opõem ao amor que a Palavra de Deus ordena. Eles impedem o progresso do evangelho, da verdade e da santidade.
A Bíblia diz: “Quem fere por amor mostra lealdade, mas o inimigo multiplica beijos” (Provérbios 27:6). Quando eu falo a verdade sem rodeios para uma pessoa, sou o melhor amigo que ela já teve, porque mostro a ela o caminho da vida, quando até mesmo seus companheiros mais próximos o escondem ou o distraem dele. Jesus Cristo é nosso melhor amigo não porque ele nunca fere nossos sentimentos ou porque ele nunca nos repreende, mas porque ele sempre fala a verdade, a verdade que leva à adoração genuína e à vida eterna.
— Vincent Cheung. On Love and Rebuke. Disponível em Sermonettes — Volume 2 (2010), p. 58-59. Traduzido por Luan Tavares (22/07/2024).
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O Que é o Amor?
O amor é popularmente considerado uma emoção. O principal problema com isso é que a Bíblia não o define dessa forma. De fato, se essa definição anticristã for usada como princípio operacional, ela aniquilaria a realidade e a estabilidade inerentes à ideia bíblica.
“Ame ao seu próximo como a você mesmo” significa “tenha esse sentimento afetuoso para com o seu próximo, assim como você tem esse sentimento sobre si mesmo”? Feito! Mas isso não significa necessariamente que eu levantaria um dedo para ajudá-lo, mesmo que ele esteja morrendo de fome ou se afogando. A definição pode implicar que eu ajudaria, mas não obriga essa ação – não é inerente à ideia de uma emoção. “Fale a verdade em amor” significa “fale a verdade com um sentimento afetuoso ou com palavras suaves em um tom gentil”? Se sim, então o que me motiva, o que me obriga a falar a verdade com esse sentimento ou dessa maneira? “Ame a Deus com todo o seu coração, com toda a sua mente e com todo a sua força” significa “tenha esse sentimento afetuoso para com Deus com todo o seu ser?” Feito! Mas isso significa que eu tenho que crer nele, obedecê-lo ou confiar em Jesus Cristo?
Se for dito que, embora a emoção possa não ser o elemento definitivo no amor, ela é, no entanto, um que está incluída na definição de amor, então o que acontece quando não tenho esse sentimento em relação a alguém? Eu ainda ajo de uma maneira que Deus ordena? Eu ainda falo a verdade? Suponha que eu “ame” muito um amigo — tenho uma afeição tão forte por ele — que eu sacrificaria minha vida por ele. Mas e se ele cair em um rio minutos depois de termos brigado, e eu ainda estiver bravo com ele? Eu o salvo? Há algo em mim naquele momento que eu possa chamar de amor, que me compeliria a salvá-lo? A Bíblia diz: “O amor nunca falha” (1 Coríntios 13:8, ARC), mas se é assim tão pouco confiável, então é algo que falha constantemente. Estaríamos melhor com a lei.
Se for admitido que a emoção não é necessária para amar, mas que é apenas uma parte da definição, o mesmo problema permanece. Quando não é necessária? Se às vezes é necessária, então continua sendo tão pouco confiável e imprevisível. Se nunca é necessária, então isso significa que não é realmente parte da definição. Se a emoção nunca é necessária para amar, então nunca é uma parte da definição. Em vez disso, o sentimento de afeição é incidental ao amor. Há uma correlação, mas não uma relação necessária ou proporcional.
A Bíblia retrata o amor como uma disposição benevolente que resulta na expressão ou ação correspondente. Os padrões que definem a benevolência e as ações que correspondem a ela são revelados por Deus na Escritura. Eles são explícitos e inflexíveis, de modo que o amor verdadeiro é sempre confiável. Pode ou não ser acompanhado por uma emoção de afeição. Aquele que ama opera por princípios, não por sentimentos. Ele salvará seu amigo mesmo que esteja totalmente mortificado. Ele resgatará seu inimigo, mesmo que não tenha bons sentimentos em relação a ele. Assim, o amor lança fora o medo, a dúvida, o preconceito antibíblico, a divisão injustificada e todas as coisas vis e más. À luz disso, a ideia popular de amor parece totalmente inferior e indigna, embora até mesmo os cristãos o favoreçam. É preferido porque é mais fácil, pois é apenas o "amor" dos brutos. As pessoas definem o amor como uma emoção porque não querem andar em amor.
Paulo escreve que o amor é o resumo e o cumprimento da lei (Romanos 13:9-10). Em outras palavras, o amor permite que uma pessoa entenda a lei e faça o que ela diz. E quando Paulo diz isso, ele fornece exemplos explícitos sobre o que o amor resume e cumpre: “Não adultere”, “Não assassine”, “Não furte”, “Não cobice”, e ele acrescenta, “e qualquer outro mandamento”. Então o amor não é um substituto para as leis e mandamentos de Deus; pelo contrário, garante que os tomemos de um só trago e façamos tudo o que eles dizem. Aquele que ama não cometerá adultério, não matará, não roubará, e assim por diante. Além disso, duas pessoas não podem se envolver em adultério, homossexualidade ou coisas do tipo, e alegar fazê-lo por amor uma à outra. Por definição, essas ações são contrárias ao amor, porque são contrárias às leis de Deus.
O amor é um resumo dessas leis, e essas leis são os aspectos ou implicações específicas do amor. Assim como a lei é independente das emoções, embora nossas emoções possam corresponder à lei, o amor é independente das emoções, embora nossas emoções possam corresponder ao amor. Então, a Bíblia diz: “Porque a aspiração da carne é inimizade contra Deus, pois não se submete à lei de Deus nem pode fazê‑lo” (Romanos 8:7). Uma vez que o amor é uma disposição que resulta no cumprimento da lei — o cumprimento da lei — isso significa que os não cristãos nunca podem possuí-lo ou exercê-lo, mesmo que estejam totalmente dominados pelas emoções que sangrem por todos os orifícios de seus corpos. Uma pessoa pode andar em amor somente depois de ter sido interiormente convertida pela ação graciosa de Deus, e essa mudança é evidenciada pela fé em Jesus Cristo.
— Vincent Cheung. Sermonettes — Volume 2 (2010), p. 57-58.
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Cristo e a Tentação
Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto, onde foi tentado pelo Diabo durante quarenta dias. Não comeu nada durante esses dias e, ao fim deles, teve fome. (Lucas 4:1-2)
Adão enfrentou a tentação como representante da humanidade, e quando ele pecou, toda a raça humana caiu com ele. Mas Deus mostrou misericórdia para com seu povo escolhido, e imediatamente prometeu um Salvador que resgataria um número seleto do pecado e da condenação. Antes de seu cumprimento, os homens eram salvos pela fé no Salvador vindouro. Agora que a promessa foi cumprida, os homens são salvos pela fé neste Salvador que veio e realizou a redenção.
Este é o dom da salvação. No entanto, o dom não é como a transgressão — não há uma correspondência exata. É verdade que Jesus teve sucesso onde Adão falhou, mas o Senhor não assumiu o mesma ordem dada ao homem e apenas a cumpriu. Os dois não operaram nos mesmos termos. Adão representava toda a raça humana, mas Jesus representava apenas os escolhidos, ou aqueles a quem Deus escolheu salvar, e a quem ele determinou conceder o dom da fé. O julgamento de Deus seguiu o único pecado de Adão, mas a graça de Deus por meio de Jesus Cristo cobre os muitos pecados, de muitos homens, cometidos ao longo de muitos séculos.
Ao contrário dos argumentos rebuscados dos teólogos, a Adão nunca foi prometida a vida celestial pela obediência, mas apenas a morte pela desobediência. Diz-se que houve um pacto, mas não há evidências disso. E mesmo que houvesse um pacto, uma ameaça em um pacto não implica uma recompensa correspondente. E mesmo que houvesse uma recompensa prometida, da qual não há evidências ou mesmo um traço de implicação, não poderia ser aquela que Jesus alcançou, pois em seu papel como mediador ele se tornou o Senhor da Glória, uma posição que recebe adoração e que é adequada apenas à divindade.
Se for dito que Jesus recebeu promessas maiores que se sobrepunham àquelas supostamente dadas a Adão, então a doutrina equivale a um suposto pacto com uma suposta recompensa, com uma suposta correspondência e, então, um suposto adendo. Se isso é teologia, então vamos supor que a coisa toda não tem valor e jogá-la pela janela, como muitos crentes frustrados fizeram. Alguns teólogos são muito ciosos por essa falsa doutrina, mas como eles não têm nenhum caso bíblico, mesmo que se recusem a se retratar, eles não podem nos impedir de ir embora. Podemos cuspir neles e rir deles, e eles não podem fazer nada a respeito. A tradição humana não tem autoridade sobre nossa fé e consciência.
Jesus Cristo agiu como o campeão do povo de Deus, e ele enfrentou tentações por nós, não apenas aqui em Lucas 4, mas ao longo de sua vida. Diz-se que Deus entende nossos sofrimentos e tentações porque ele veio a nós em forma humana e viveu entre nós. Hebreus 4:15 parece estar alinhado com esta ideia: “Pois não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer‑se das nossas fraquezas, mas sim alguém que, como nós, passou por todo tipo de tentação, ainda que sem pecado”. No entanto, não devemos interpretar isso de uma maneira que diminua a onisciência de Deus, ou sugerir que mesmo a onisciência não se estende às experiências e sentimentos humanos, de modo que a Divindade aprendeu algo novo pela encarnação de Cristo, ou que este novo conhecimento incitou simpatia para com os homens que não existia antes.
Deus sempre soube como eram os sofrimentos e tentações humanas, até mesmo como elas são sentidas. Embora ele não tivesse nenhum órgão humano para experimentá-las, por sua onisciência ele conhecia essas coisas exaustivamente, e em um sentido e grau infinitamente superiores ao que poderia ser registrado na carne humana. A encarnação não ensinou nada à Divindade. Em vez disso, Hebreus 4:15 e versículos relacionados se referem à experiência de Cristo como mediador e sumo sacerdote, que nessa capacidade de fato simpatiza conosco. Isso não significa que Deus ignorava nossa situação antes da encarnação, mas apenas que, ao nos concentrarmos em Jesus Cristo, somos lembrados de que em sua natureza humana ele experimentou nossos sofrimentos e superou com sucesso as tentações. Podemos ter confiança nele mesmo quando estamos fracos na fé, e como se a onisciência divina deixasse espaço para qualquer desculpa, a encarnação torna ainda mais evidente que não podemos dizer que Deus não entende nossas dificuldades.
O que é tentação? Primeiro precisamos distinguir entre o autor do pecado e o tentador do pecado. Deus exerce controle total e direto sobre todas as coisas, e como há pecado em sua criação, isso significa que ele deve ser o autor do pecado. Ele deve ser a causa total e direta do pecado no sentido metafísico, embora não o aprove no sentido moral. Ou seja, ele definiu certos pensamentos e ações como moralmente repreensíveis, mas deixados a si mesmos, meras criaturas não podem iniciar nada, bom ou mau. O pecado ocorre porque Deus faz diretamente suas criaturas transgredirem suas leis morais. Não há contradição, porque um se relaciona com a metafísica e o outro com a ética. Um tem a ver com determinação, e o outro tem a ver com definição. E isso não prejudica a responsabilidade moral, uma vez que a responsabilidade tem a ver apenas com definição moral, e não com causalidade metafísica.
A perspectiva metafísica nos diz por que, tal como na causa e no poder, uma criatura transgride o padrão moral definido, mas isso não tem nada a ver com responsabilidade. Em vez disso, a responsabilidade moral tem a ver com o fato de que a criatura transgrediu. O "porquê" metafísico é irrelevante. A tradição se recusa a reconhecer que Deus é o autor do pecado porque não consegue compreender essa distinção mais elementar, mas necessária. Como resultado, atribui a causa metafísica direta à criatura, e o produto é a heresia do dualismo ou do deusismo finito. Que fique claro: se uma pessoa não admite que Deus é o autor soberano e justo do pecado, ela comete blasfêmia e não pode afirmar consistentemente o Deus cristão.
A mesma distinção se aplica ao próprio Deus. Para Deus causar pecado em suas criaturas não é o mesmo que cometer pecado. Para cometer pecado, Deus teria de defini-lo como pecado ser o autor do pecado. Em outras palavras, ele teria de fazer algo que ele se proibiu de fazer. Não há evidências de que Deus se proibiu de fazer qualquer coisa, incluindo causar e controlar diretamente o pecado. Em vez disso, a Bíblia revela um Deus que é soberano sobre o pecado e ainda se chama de bom. Portanto, o padrão do bem quando se trata de saber se é bom para Deus ser o autor do pecado está no que ele realmente faz. E uma vez que ele é diretamente soberano sobre todas as coisas, o que significa que ele é diretamente soberano sobre o pecado, isso significa que é bom para ele ser diretamente soberano sobre o pecado. Contanto que ele faça o que quer, ele faz o que é bom.
Assim, Deus é o autor do pecado, mas a Bíblia diz que ele não é o tentador. Uma pessoa me disse que isso precisa ser reconciliado. Ele disse que a tentação é a persuasão para fazer o mal. Mas se é Deus quem endurece ativamente um pecador, como o Faraó, então parece que ele realmente persuade alguém a fazer o mal. Então, como ele pode ser o autor, mas não o tentador? Isso é muito tolo. A tentação é de fato uma forma de persuasão, mas à luz de sua confusão, também deve ser chamada de sugestão ou comunicação. Isso porque ele pensava na persuasão como persuasão eficaz, e às vezes pode assumir esse significado, mas não neste contexto. Por outro lado, endurecer ativamente alguém se refere à causalidade e, em si, não precisa incluir nenhuma persuasão, sugestão ou comunicação.
Se eu disser “Satanás persuadiu Tom a pecar”, a persuasão é de fato persuasão efetiva, mas isso ocorre porque o resultado foi especificado. No entanto, a persuasão em si não inclui a garantia de sucesso, mas se refere à tentativa, ou aquele ato de sugestão ou comunicação. Mesmo quando nos referimos à persuasão efetiva, a persuasão em si ainda é distinta da causa metafísica de sua eficácia. A persuasão ainda não toca a metafísica, mas a causalidade se refere à metafísica. Se Satanás persuadiu Tom a pecar com sucesso, isso significa que há um poder metafísico que fez Tom aceitar a sedução demoníaca. Esse poder pode estar associado a alguém que se comunica, mas não necessariamente. E na cosmovisão cristã, esse poder está completamente ausente em Satanás, ou em qualquer criatura, mas está somente nas mãos do Deus Todo-Poderoso.
Deixei a distinção clara na minha resposta e incluí a ilustração da pregação do evangelho e da conversão de um pecador. Quando a persuasão é usada no sentido de sugestão ou comunicação, é o pregador que persuade, quer tenha sucesso ou não, e é Deus que faz com que o ouvinte creia ou seja endurecido. Novamente, ele respondeu, como pode ser isso, pois não é Cristo quem persuade e faz com que uma pessoa creia? Então, embora tenha sido explicado a ele, ele persistiu em identificar persuasão com causalidade. Como, então, posso descrever a pregação? Espero que nem todos os cristãos sejam tão estúpidos, mas muitas vezes fico desapontado.
Se alguém insiste que “persuasão” é sempre bem-sucedida, se é assim que ele usou a palavra em inglês, então não deveríamos usar a palavra neste contexto, mas deveríamos substituí-la por “sugestão” ou “comunicação”, ou alguma palavra semelhante. Satanás se comunicou com Cristo, mas não conseguiu fazer Cristo pecar. Ele disse a Cristo para fazer pão, o que Cristo recusou, mas ele não conseguiu possuir Cristo, causá-lo a fazer pão e então enfiar o pão goela abaixo. Ele sugeriu que Cristo deveria fazer isso, e isso contou como tentação. Ele disse a Cristo para adorá-lo, o que Cristo recusou, mas ele não conseguiu possuir o coração de Cristo para fazê-lo adorar o diabo e dobrar seus joelhos diante dele. Ele disse a Cristo para pular do templo, mas ele não conseguiu possuir Cristo e fazê-lo se jogar, nem Satanás conseguiu empurrá-lo para baixo.
Realizar ativamente uma obra no coração de alguém ou fazer com que alguém realize uma ação ativamente é claramente diferente de persuasão para fazer o mal, no sentido de mera sugestão ou comunicação. É ridículo que precisemos discutir isso. Se a tentação, ou persuasão para fazer o mal, é identificada com a causalidade, então significa que Satanás não tentou Cristo, ou significa que Satanás tentou Cristo com sucesso, de modo que Cristo de fato cometeu pecado, incluindo adoração ao diabo. Como de costume, não há nada a reconciliar nas doutrinas bíblicas, mas precisamos reconciliar como esse idiota pode se chamar de cristão, a menos que a verdade seja que ele não era.
Deus não é o tentador porque ele não sugere que as pessoas façam o errado. Sempre que ele fala ou se comunica, ele ordena que as pessoas façam o certo e as adverte contra o pecado. E sua palavra constitui o padrão, ou a definição, do bem e do mal. Mas Deus é o autor do pecado porque ele faz com que as pessoas transgridam diretamente esse padrão sempre que isso convém ao seu propósito. Se ele não fizer isso, nenhum pecado pode acontecer, pois nenhuma criatura tem poder dentro de si para agir à parte de Deus. Ele poderia causar o pecado na ocasião da tentação, isto é, tentação que ele faz com que outra criatura execute, mas a causa em si é independente da tentação, de modo que ele poderia até mesmo fazer uma criatura pecar sem qualquer tentação. Se ele faz isso ou não é uma questão separada. Na verdade, Deus nunca é o tentador, porque sua palavra define o certo e o errado. Se ele sugerisse que uma pessoa deveria fazer algo, então seria por definição a coisa certa a fazer.
Tentação é conversa, seja no sentido literal ou figurado. E se tentação é conversa, significa que podemos responder a ela. Isso, por sua vez, sugere que o caminho para superar a tentação não repousa meramente no exercício da força de vontade, mas também no exercício da nossa inteligência, e nossa inteligência precisa ser informada pela palavra de Deus. Nisso, Jesus Cristo é nosso exemplo supremo. Ele combateu cada tentação com um ensinamento bíblico relevante. Quando Satanás viu que Cristo estava ancorado na palavra de Deus, ele apelou para o Salmo 91 em sua tentativa final. Mas Cristo o refutou com Deuteronômio 6.
Não há conflito entre as duas partes da Escritura, e seria pura ignorância sugerir, como alguns tendem a fazer, que isso mostra como a Bíblia pode ser manipulada para dizer o que uma pessoa deseja. O Salmo 91 é uma promessa de proteção, mas não ordena que uma pessoa se coloque desnecessariamente em perigo. Por outro lado, Deuteronômio 6 se refere a um mandamento que regeria como o Salmo 91 deveria ser aplicado. Assim, ao usar a Escritura para superar a tentação, sustentamos que o único uso adequado é um uso inteligente, e não um uso que trate o livro sagrado como uma coleção de feitiços e mantras.
— Vincent Cheung. Christ and Temptation. Disponível em Sermonettes — Volume 2 (2010), p. 52-55. Traduzido por Luan Tavares (07/07/2024).
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