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Esperando a eterna morte
A primeira vez que morri foi quando nasci
O feto despreocupado que antes flutuava em água
Ia morrendo proporcionalmente a cada força feita pela mãe
Automaticamente ia nascendo algo cru, pronto para ser moldado
Renascido
Tudo que eu já havia aprendido e me adaptado
foi arrancado de mim naquele empurrão
Eu chorei
Eu também matei muita gente aquele dia:
o casal que encarnou como pais
a garota foi transformada em irmã
o mundo cresceu em mais um
Foi uma chacina
Nessa brusca gênese me adaptei inconscientemente
Mamei
Criei novos hábitos
O meio me modificava periodicamente
Enquanto eu e meus criadores alinhávamos nossos instintos
buscando o silencioso prazer da evolução
Muito anos se passaram desde minha primeira morte
mas muito pouco tempo desde minha última
Pois em todos esses anos
aquele recém-nascido faleceu incontáveis vezes
e surgiu como uma criança, um adolescente ou um adulto novinho em folha
O que me resta fazer nessas inevitáveis frações de segundos que me transformo
é torcer para que eu me torne uma versão melhor que a vida passada
As vezes falho
Mas sabendo que ainda tenho toda uma existência para morrer e nascer
conforto-me
Vivendo meu infinito looping de demolição e construção
minhas primeiras mortes reverberam até hoje
O barulho constante do carro na estrada me põe para dormir
inspirado no som que uma vez existiu no ventre de minha mãe
Mesmo após umas dezenas de falecimentos
traumas, transformados ou não, em aprendizados
antecipam ou retardam minha próxima morte
Ainda quero morrer e matar muita gente
Quero me corrigir e fornecer-te o meio para suicidar-se de sua antiga versão
Mas também quero ser o médico todo vestido de branco
Pronto para te receber e te pôr para chorar
Pois agora você é seu próprio criador
Crie
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A felicidade é encontrada nesses momentinhos, rotineiros ou não, de descuido.
1- Quando eu vejo o pé feio da rafaela. (A Prevatti)
2- Quando eu tô falando com a mariana mas ela tá viajando. (Ela faz uma cara engraçada)
3- Quando o Tobias entra no meu quarto enfiando o focinho na porta entreaberta, e vem me dar bom dia. (Confesso que no começo eu fico meio puto)
4- Quando você está com sarna, e durante alguns minutos a coceira passa, e momentaneamente, é como se você nunca a tivesse pego. (Eu tô com sarna)
5- Quando no meio da tarde, enquanto faço alguma importante futileza, o vô me liga para saber qual e quando será o próximo jogo de futebol. E óbviamente, para que eu recite os números, que podem, ou certamente não, torná-lo um véio rico que ganhou na mega-sena. (Felicidade em dobro se for chamada de vídeo)
6- Tô sempre frisando que minha sexualidade cabe somente a mim e fodase, mas confesso que quando algum famoso ou personalidade que meus pais admiram, sai do armário, minha respiração fica mais tranquila. (Abraço, Gianecchini!)
7-
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