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Dois anos lendo mulheres
Comecei esse tumblr em 2014 quando a única coisa que me fazia realmente bem era ler livros escritos por mulheres. Aquele foi um ano memorável, principalmente porque foi o ano em que começamos a Capitolina e isso teve uma enorme consequência emocional e profissional sobre mim. Foi nesse ano que comecei a tatear um cuidado comigo mesma, um respeito pela minha saúde mental e uma nova maneira de me colocar diante daquilo que escolhi como ofício. Para escrever honestamente sobre o que sentimos é necessário um tanto de segurança, coisa que me faltava.
Tenho ótimas lembranças de 2014, mas também imagens turvas. O vazio da depressão ainda me rondava. As relações tóxicas. As pessoas que mantinha na minha vida sei lá porquê. E, claro, a eterna tentativa em gostar de algo que consumia toda minha vontade de viver. Em 2014 eu ia para biblioteca quase todos os dias e quase todos os dias queria dormir ou chorar ou só deitar de leve no chão aí eu tomava um café lendo literatura e, então, lembrava que a vida podia ser até legal. Em 2014 eu voltei a ler os livros “bobinhos”, eu esqueci o que era Literatura de Verdade, eu ignorei a crítica e a estética e eu voltei a ler compulsivamente.
Passei toda minha adolescência lendo compulsivamente. Ler era um modo de abstração e sobrevivência. Depois, quando ler se tornou uma obrigação social e meus amiguinhos de faculdade comparavam quem já tinha lido o quê, perdi o tesão. Não tem nada mais deprimente do que tentar entender Beckett pra dizer que leu Beckett. A proposta de ler mais mulheres me trouxe de volta para o que eu realmente amo nos livros. Se eu teimo em ser escritora é por saber o quanto um punhado de palavras pode ter um efeito poderoso. Essas autoras foram refúgios, abraços quentinhos, amizades, mas também socos, alertas e terremotos. Encontrei identificação, estranhamento, calma, força, amor e, enfim, possibilidade.
Durante o ano passado li ainda mais mulheres (dá pra ver a lista completa no meu goodreads). Essas escolhas literárias parecem ter um efeito físico sobre mim. Às vezes acho que mudei até na pele, até no sorriso e no modo de me colocar no mundo. Ler mais mulheres me tornou uma amiga melhor, uma escritora mais confiante e uma mulher mais...feliz. Eu ia dizer forte, mas força por si só não significa necessariamente algo bom. Acho que forte sempre fui, mas tudo desabava sobre mim. Não adianta força, se ela é usada para autodestruição. Não adianta força, se não h�� foco. Não adianta força, se estou sozinha. Eu sou quero ter força para ser também leve e feliz. Nem sempre é fácil, mas elas estão aí me apontando caminhos - e felicidade é isso.
Parei de atualizar esse tumblr, porque ficou chato contar das minhas leituras. Às vezes quero ler um livro e não ter nada a dizer sobre ele. Acho que é muito excessiva essa cultura da opinião. Nem sempre tenho o que dizer. Mas também parecia bobo só chegar aqui e fazer uma lista - até porque isso o goodreads já faz. Também me envolvi em projetos demais. Além de colaborar para Capitolina, Alpaca e a Ovelha, criei uma newsletter com a Natasha ísis - jornalista do El País e minhas bestie -, a Mulheres que Escrevem, onde semanalmente publicamos uma infinita conversa entre escritoras.
Então isso aqui é meio que uma despedida. Mas vou continuar lendo mulheres e escrevendo sobre isso, quem quiser me acompanhar, todo mês tem o Leitura das Minas no canal do Youtube da Capitolina onde vocês podem me ver gesticulando excessivamente e comentando sobre livros escritos por minas. Que venha o #LeiaMulheres2016 <3
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Agosto (que mês)
Agosto chegou ao fim e, migas, que mês. Apenas chegou nas livrarias O LIVRO DA CAPITOLINA - o lançamento acontece dias 06 e 12 na Bienal do Livro aqui no Rio de Janeiro. É o melhor livro do mundo <3 sério, não é porque é feito pelas minhas amigas e tem um texto meu (mentira, é por isso também), mas tá muito muito lindo. Dá muito orgulho desse projeto e é incrível que várias adolescentes tenham, finalmente, acesso a um conteúdo feminista que se preocupa com a segurança e a felicidade das mulheres.
Eu e Bebê 1:

Eu e Bebê 2:

Além dessa notícia maravilhosa, esse mês gravei o primeiro episódio do vlod Leitura das Minas que faz parte da coluna de literatura da Capitolina. O vídeo só vai ao ar semana que vem, mas vocês podem assistir a apresentação aqui - e de quebra conhecer as outras vloggers maravilhosas da Capitô:
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Agora, vamos aos livros lidos durante o mês e segura que também foi forte:
Presos que Menstruam da Nana Queiroz.
Livro incrível e importante. Eu tive o prazer de escrever sobre ele e entrevistar a Nana para a Ovelha.
Olhos D'Água da Conceição Evaristo. Conceição Evaristo escreve de um jeito tão poético e forte que seu livro em poucas páginas produz um peso devastador. Leitura importante para sair dos eixos brancos e universitários que ditam a literatura (nacional). Há força, poesia e criação pelos cantos das cidades que desconhecemos em nossa ignorância privilegiada. É incrível que seus textos possam ser ao mesmo tempo doces e violentos.

Amy & Matthew da Cammie McGovern
Eu detestei esse livro e larguei na metade. O que me incomodou foi a trama em que uma garota - que já tem uma vida suficientemente difícil - resolver ajudar um garoto complicado a lhe dar com seus problemas psíquicos. E, ai, gente, até quando essas histórias de minas musas/inspiradoras/amigas cuidadosas que se ocupam mais dos problemas de alguns caras do que com suas próprias questões? Eu quero ler histórias de amor em que todo mundo saiba cuidar de si mesmo e se ame, porque sim.
Todos nós adorávamos Caubóis da Carol Bensimon.
AMEI esse livro. Carol escreve de um jeito delicinha que te envolve rápido. Fala sobre/como as pessoas do meu tempo sem soar forçado. Amo/sou o jeitinho trouxa e arrogante de Cora.
Devia ter, na época, a idade que tenho hoje, não mais de vinte e seis nem menos de vinte e dois, mas quando a gente está na adolescência não crê que as pessoas dessa faixa etária ainda possam ser chamadas de jovens, achamos ao contrário muito natural que elas nos ensinem biologia ou português, que tratem nosso braço quebrado, que nos vendam um violão, afinal já parecem tão distantes, tão seguras, tão adultas, e só quando chegarmos nessa idade é que perceberemos que o abismo não era intransponível, que sequer havia um abismo, que apenas os detalhes nos separavam...
Vai, Brasil da Alexandra Lucas Coelho.
Meu prazer ao ler esse livro é um pouco narcisista. Muita coisa que a gente vivencia no Rio passa despercebida. Não digerimos a beleza, o absurdo e o caos. Então é bom ver Alexandra contar sobre minha própria cidade. Porque é uma estrangeria que se apropria rápido dos lugares. Parece que pra criar vínculo, basta provar um bom prato. Ela narra o Rio e pedaços do Brasil a partir da sua experiência - e descreve comida, gente, som, sentimento. Jornalismo ainda pode ser maravilhoso. E me deu a sensação de que não estou só no meio dessa bagunça, porque compartilhamos lugares, álbuns, autores e expectativas. Vai, Brasil situa meus vinte e alguns anos em algum inconsciente coletivo.

Os Casos de amor de Nathaniel P. de Adelle Waldman.
Fiquei um tanto desgraçada da cabeça lendo esse livro. Nathaniel P. é aquela figura recorrente do intelectual de esquerda que é totalmente contra o machismo, mas incapaz de desconstruir - ou no mínimo, reconhecer - sua própria misoginia. Adelle Waldman descreve dinâmicas tóxicas e abusivas de um modo tão exato que em alguns momentos foi perturbador demais. No meio do Vênus retrógrado, esse livro me obrigou a lidar com todos os relacionamentos ruins que tive no passado e constatar que é preciso muita autoestima e feminismo pra sair disso com saúde mental. Recomendo muito, mas fica o aviso que é pancada
Sinto que você quer pensar que o que está sentindo é realmente profundo, como alguma merda profundamente existencial. Mas, para mim, parece a coisa mais cansativa e banal do mundo, o cara que fica interessado em uma mulher até o momento em que ele percebe que a tem. Querer só o que você não pode ter. A aflição dos idiotas superficiais de qualquer lugar... Estou sendo dura, mas me dê um tempo. Se o que você diz é verdade, se você tem algum tipo de “problema”, isso meio que é foda pra mim também. Não posso sentar aqui e tentar fazê-lo se sentir melhor. É como o ladrão pedindo à vítima que simpatize com a sua compulsão incontrolável de roubar as pessoas...Me dê alguns anos até que você esteja no leio de morte ou algo assim.

#leiamulheres2015#leiamaismulheres#feminismo#adelle waldman#nathaniel p.#conceição evaristo#nana queiroz#carol bensimon#capitolina#vlog#leitura das minas#alexandra lucas coelho
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Julho
Julho foi um bom mês. Consegui ler bastante e livros bem diferentes. Teve quadrinho, poesia, não-ficção, ensaio... Me apaixonei por Natalia Ginzburg e Matilde Campilho. Finalmente, li a Alison Bechdel e fiquei um tanto perturbada. Vamos a lista do mês:
Como ser uma mulher - Caitlin Moran
Para as mulheres, encontra uma arena solidária e sem julgamento é tão importante quanto ter o direito de votar. Nós precisamos, além da legislação correta, da atmosfera certa, antes de finalmente encontrar nossos cânones - e então, no fim, nossas cidades e nossos impérios.
Caitlin Moran conta sua experiência de se tornar mulher, desde a adolescência até sua vida adulta, em crônicas sinceras e divertidas. É um bom livro. Às vezes seu feminismo é um tanto limitado a questões de raça e classe - por exemplo, quando ela dedica páginas de mais a assuntos como bolsas, roupas e depilação. No entanto, acho que seu relato é válido. Porque, já dizia Woolf, feminista é a mulher que conta a verdade sobre sua vida. E isso Caitlin faz muito bem.
As pequenas Virtudes - Natalia Ginzburg
100 palavras pra esse livro que é pequenino e destruidor. Essa mulher escreve de um modo brutal. É tão direto e perfeito. Não há uma palavra, um ponto, a mais em seu livro. Ela é forte e precisa. Pancadão.
Jóquei - Matilde Campilho
Apenas voltei a escrever poesia depois dele. Escrevi sobre Jóquei, esse livro maravilhoso, para a Alpaca: http://alpacaeditora.com.br/resenha-joquei-de-matilde-campilho/
Você é minha mãe - Alison Bechdel
Ainda preciso de um tempo para refletir sobre esse livro e lidar com seu impacto. Me identifiquei demais com a relação entre Bechdel e sua mãe. Provavelmente vou precisar reler esse quadrinho e em breve ele vira resenha para a Alpaca.
Caro Michele - Natalia Ginzburg
Mas é verdade que a certa altura da nossa vida molhamos os remorsos no café da manhã, como biscoitos.
De novo, o que dizer dessa mulher?
Um útero é do tamanho de um punho - Angélica Freitas
Acho que preciso reler, com mais calma, todos os poemas de Angélica Freitas. Seu ritmo e linguagem fáceis enganam e sinto que perdi muita coisa. Gostei, mas ficou essa sensação. Poesia é difícil.
E o que dizer de agosto que mal começou e já tem LIVRO DA CAPITOLINA NA PRÉ-VENDA?? É, migas, apenas se preparem, porque vai ser lindo.
#leiamulheres2015#readwomen2015#leiamulheres#KDmulheres#Capitolina#natalia ginzburg#alisonbechdel#angelicafreitas#matildecampilho#poesia#caitlin moran#feminismo
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Jóquei é um livro de poemas sobre estar perdida e nostálgica, sobre não pertencer. A colaboradora Taís Bravo sentiu a dor da autora Matilde Campilho. E você?
(Link clicável na bio) #alpacaeditora #leiamulheres #readwomen #livro #poema #poem #leitura #literatura #joquei #matildecampilho #escritora #brasil #arte #art
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O segredo para sempre estar segura de si:
Carry yourself with the confidence of a mediocre white man
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As leituras de junho
A vida anda corrida demais. Além de um emprego de 7 hrs por dia, estou escrevendo para três publicações online - Capitolina, Ovelha e Alpaca - e, claro, procrastinando muito também. Então está um pouco difícil manter um ritmo de leitura muito intenso e ainda ter tempo de contar sobre essas experiências aqui. Mas não quero de jeito algum abandonar esse tumblr que é o meu cantinho. Gosto de ter registrar minhas leituras e penso que talvez seja a melhor forma de arquivar minhas memórias. O jeito que encontrei para continuar é fazer pelo menos um post mensal em que faço um resumão das leituras e dos meus escritos sobre elas. Lá vai:
Lugares Escuros - Gillian Flynn
Írisz: as orquídeas - Noemi Jaffe
Ligações - Rainbow Rowell (escrevi sobre na Alpaca)

Este é um livro sobre amor - Paula Gicovate (a Luiza Spolito Vilela me convidou pra escrever uma breve resenha sentimental sobre na NOO)

E ainda sobre mulheres na literatura, durante o último mês tive o prazer de entrevistar a Aline Valek sobre esse difícil - mas apaixonante - ofício de ser escritora: http://www.revistacapitolina.com.br/sobre-arte-de-ser-escritora-uma-entrevista-com-aline-valek/
é isso, migas, até o fim de julho:)
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“I like reading more than i like living my actual life.” – Orange Is the New Black
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Lugares escuros - Gillian Flynn
Depois de ter me apaixonado pela escrita de Gilian Flynn em Garota Exemplar,fui ler Lugares Escuros cheia de expectativas. Infelizmente, me frustrei m pouco. Não consegui me envolver com os personagens e a trama não me pegou. Mas insisti e acabei gostando bastante do final. É um bom livro. Apesar de não ter me eletrizado, ainda gosto do modo como Flynn escreve sem receios. Ela definitivamente não é uma escritora feminista que pisa em ovos e se apega a uma cartilha - nesses tempos em que há tantas morais, tabus e censuras. Junto com Roxane Gay, Gillian Fly dá uma aula de escrita feminista que se mantém fiel à intuição e criatividade da escritora. Em outras palavras, você não precisa escrever um manifesto ou seguir regras para fazer literatura feminista, por que talvez o caminho seja exatamente o contrário. Amo como as personagens femininas criadas por Flynn são, como todos os outros personagens de suas histórias, cruéis e complicadas.Desse modo, ela nos liberta de alguns padrões e expectativas. O feminismo não é sobre a excelência e a superioridade feminina. Não é um código de condutas. Feminismo, afinal, não é sobre mulheres exemplares, é sobre poder e liberdade. É sobre uma mulher ser o que ela quiser e, inclusive se assumir com falhas, incoerente, imperfeita, enfim, humana.

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A arte de pedir - Amanda Palmer
Esse livro me deixou em um estado quase angustiante de ansiedade. Os melhores fazem isso. Eu quero mais do que as páginas, quero que me ensinem a viver assim, quero conquistar aquela realidade. Mas eu não sou Amanda Palmer, nem poderia ser. Sou filha única, preciso de silêncio quando acordo. Sou ótima em compartilhar. Crio laços e conquisto a atenção de estranhos com facilidade. Com álcool me passo por uma grande extrovertida. Mas sou uma pessoa reclusa e fechada. Tudo que dói eu guardo em textos. Não sei pedir ajuda, muito menos confiar. Espero sempre que as pessoas me desapontem. Então, vem Amanda e esse livro alfinetando exatamente onde dói. É para doer mesmo, porque também dói em Amanda, porque não é fácil. O modo como ela confia e se joga sobre estranhos não é o modo que nos ensinam a viver. Somos programados para esconder os pontos frágeis. A vulnerabilidade é mais do que um risco, é vergonhosa. Então é realmente incômoda - da melhor maneira - essa figura estranha de uma mulher que faz coisas que ninguém faz, que confia, pede e depois retribui nua. Não posso ser Amanda, mas posso me contaminar com sua arte, equilibrando um pouquinho minhas resistências - como os neuróticos precisam dos psicóticos e vice versa. Posso carregar suas palavras e lembrar que somos todos humanos, igualmente estranhos e perdidos pedindo um pouco de atenção e amor.
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Quando eu tinha 17 anos encontrei um livro que se tornou uma meta de vida. Era sobre a história da Shakespeare and Company, a livraria parisiense que era, na verdade, uma grande comunidade abrigando vários escritores entre outras pessoas necessitadas. Eu decidi que aquela vida comunitária era o que queria para mim. Entendi com esse livro que eu queria mais do que ser uma escritora, queria ser artista, no sentido menos glamouroso. Queria me tornar uma pessoa que cria espaços, possibilita conexões e brechas. Queria a arte que não tem nada a ver com prêmios, status ou um ofício estável. Queria quebrar algo dentro de mim, me expor e me entregar vulnerável aos outros. Queria que pela minha arte as pessoas também quebrassem algo dentro delas. Diante dos restos, nós faríamos mais do que comunicar, conexão imediata, dessas que transcendem e te levam a um outro lugar de repente. Todo mundo que se envolveu de verdade com alguém ou um livro, uma música, uma escultura, algo, sabe do que estou falando. Para mim arte é só isso, essa conexão que quebra tudo e nos permite voltar a alguma origem sem resistências. Em outras palavras, eu queria fazer parte de uma comunidade que se acolhesse em suas diferenças - muito diferente de um grupo organizado uniformemente - e mudar a vida das pessoas. A arte de pedir me lembrou que ainda quero isso e talvez já esteja fazendo isso sem me dar realmente conta.

Foi a Sofia quem me deu esse livro no meu aniversário de 25 anos, o que torna tudo ainda mais perfeito. Foi através da Sofia que eu entrei na Capitolina que é mais do que uma revista, é uma comunidade. Já escrevi algumas vezes sobre o impacto da Capitolina na minha vida e todo mundo que me conhece já deve estar cansado de ouvir sobre todo amor, alegria e poder que esse projeto me dá. Foi no grupo das capitolinas que aprendi que não tem problema em se mostrar vulnerável. Nossas conversas sobre as pautas do mês sempre nos levam aos mais diversos caminhos - na verdade, todas as nossas conversas, como boas amigas, sabemos que a graça de falar é não se ater ao tópico. Nunca vou me esquecer da edição que falamos sobre corpo e na hora de sugerir matérias acabamos abrindo nossos corações. Me vi conversando com estranhas sobre o meu distúrbio alimentar e problemas de autoimagem, um assunto que nunca compartilhei com meus amigos. Entendi em um golpe só que tudo bem se mostrar frágil, se abrir, porque as pessoas - ou as suas pessoas - vão entender, ouvir e acolher. Esse foi só o início desde então compartilhamos quase tudo que se passa em nossas vidas. Usamos um grupo do facebook - um lugar quase sempre frio de imagens calculadas - para desabafos, brincadeiras e apoio. Pedimos abraços, energias positivas e ajuda para lidar com assuntos muito sérios ou com empecilhos da rotina, por exemplo, foi nesse grupo que aprendi a descobrir qual era a senha do meu wifi. Criamos um laço que nos dá amor e confiança. Essa vivência se refletiu na minha escrita que cada vez mais não tem medo de falar sobre o que dói. Em alguns momentos do livro, Amanda conta sobre festas, eventos e episódios que parecem impossíveis. É surreal imaginar tantas pessoas estranhas unidas em uma explosão de felicidade. Mas eu sei que é real quando lembro das coisas que vive no último ano. Depois do piquenique de um ano da Capitolina eu tive uma crise de choro na rua porque não sabia direito o que fazer com aquela sensação de felicidade infinita.

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Luzes de emergência se acenderão automaticamente - Luisa Geisler
Eu não sei o que dizer sobre o livro da Luisa - porque foi assim que “Luzes de emergência se acenderão automaticamente” ficou conhecido entre minhas amigas, O Livro Da Luisa -, só sei sentir. Esse livro me fez escrever cartas para quem eu já deveria ter esquecido e, na verdade, já esqueci. Me fez perdoar quem nunca pediu desculpas. Sentir falta do tempo em que eu decidia perder o último ônibus só pra ficar mais um pouquinho. Hoje eu mal ando de ônibus - e sendo o Rio de Janeiro isso deveria ser bom. E olho essa história que se diz minha como quem lembra de cada cena, mas não se recorda muito bem porque foi mesmo que gostou. Então esse livro funciona como um trem ou um brt da memória. Ele interrompe, durante um intervalo de páginas, a distância entre quem eu fui e sou. Me reconduziu. Até Los Hermanos eu escutei - sem sentir a vergonha alheia porém muito próxima como é de costume.

Aos 25 anos, a gente - ou só eu mesma - sabe que identidade não é tudo isso. É tão sensível como uma foto revelada. A vida é quase sempre essa repetição de “sei lá”. É normal não durar. Sem crise. Uma angústia sem nome que um dia encontra destino ou se interessa por outro percurso.
tenho a sensação de que eu vou ficar o resto da minha vida procurando o que é que eu quero fazer e tal e nunca vou saber exatamente. Esse sentimento adolescente meio que permanece. Eu aos dezoito anos vou achar que aos vinte e dois vou saber, e daí aos vinte e dois vou achar que vou saber aos vinte e cinco, aos vinte e sete, aos trinta, aos trinta e cinco. Quando tu vê, tu não tem mais chances de fazer o que tu quer porque tu passou todo esse tempo procurando o que era isso.
E essa semana, na quarta feira, tem clube de leitura #leiamaismulheres na Blooks do Rio falando sobre O Livro da Luisa: https://www.facebook.com/events/1610211199224107/
#readwomen#readwomen2015#leiamulheres2015#leiamulheres#luisageisler#luzes de emergencia se acenderão automaticamente#loshermanos#juventude
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O histórico infame de Frankie Landau-Banks de E. Lockhart
Frankie Landau-Banks é uma garota que está no ensino médio e, como qualquer outra garota, precisa lidar com seu corpo escapando de seu controle, aulas entediantes, regras sem sentido, paternalismo e machismo para tudo quanto é canto. Frankie, no entanto, questiona todos esses papéis e normas. Ela não permite ser subestimada. Não permite que sua mãe a proíba de andar sozinha - só porque é uma garota que está vestindo um biquíni. Não permite que o que ela supostamente deve ser seja de fato seu destino.
"Aqueles caras estavam tão seguros do seu lugar no mundo - profundamente confiantes nos seus méritos e no seu futuro - que não precisavam usar qualquer tipo de máscara".
O histórico infame de Frankie Landau-Banks me lembrou um pouco Garota exemplar, porque é também a história de uma mulher que não se satisfaz com o que sua realidade tem a oferecer e, por isso, se esforça para criar sua própria narrativa. Frankie, como Amy Dunne, é inteligente, inquieta e criativa - até demais, alguns podem dizer. Ela pensa de modo estratégico, calcula como deve falar com seu namorado para que ele a ama e, por conta dessa capacidade, pode ser taxada como fria, psicopata e manipuladora. Mais uma vez, dois pesos e duas medidas: A genialidade e a rebeldia vestem os homens com ares heróicos, mas, quando se tratam de mulheres, essas características não devem ser temidas ou admiradas, devem ser desprezadas.

A sua revolta não é uma mera rebeldia para ostentar algum símbolo de viralidade, ela é movida por diferentes - e até mesmo contraditórias - sensações. Por um lado, há uma necessidade bastante narcisista de ser admirada. Ela deseja que seu namorado - ou algum dos seus amigos - finalmente perceba que ela não é só uma coisa adorável. Frankie quer que alguém reconheça o quanto ela é interessante, genial e intensa. No entanto, ainda que essas características sejam reconhecidas, nem sempre são vistas como qualidades. Mas Frankie quer ser mais do que uma jovem bonita e exemplar; ser admirada apenas por esse motivo não é suficiente. Ela não quer apenas tirar boas notas, ter um namorado, amigos e alguma diversão. Não quer seguir a linha que é imposta. Quer aprender conhecimentos significativos em seus aulas, quer compartilhar a vida com alguém que não a subestime, quer construir laços que não sejam sustentados por meras convenções sociais e quer se divertir fazendo algo, não apenas se distraindo de sua própria vida.
"Ela admirava a si mesma por ter assumido o controle da situação, por ter decidido o rumo que ela tomaria. Ela admirava sua própria habilidade verbal, sua coragem, seu domínio".
No fim, Frankie consegue ser quem ela é sem contar com ajuda de ninguém - ou talvez com uma ajuda indireta. É a criadora de sua própria história e reconhece quem quer ser. Isso parece suficiente mesmo que o preço para se tornar essa pessoa seja se afastar dos privilégios de seguir a vida em linha reta:
"É melhor ficar sozinha, ela pensa, do que ficar com alguém que não te enxerga como você é. É melhor liderar do que seguir. É melhor falar do que ficar em silêncio. É melhor abrir portas do que fechá-las na cara das pessoas"
E FIQUEM LIGADINHAS: Em junho vai ter Clube de leitura #leiamaismulheres sobre O histórico infame de Frankie Landau-Banks aqui no Rio de Janeiro com presença das ilustres editoras e colaboradoras da Revista Capitolina, então, se você leu e curtiu ou ficou com vontade de ler depois desse texto, chega mais: https://www.facebook.com/events/843769892368465/ <3
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e uma trilha sonora pra fechar.
#frankie landau-banks#readwomen#readwomen2015#leiamaismulheres#leiamulheres2015#capitolina#clubedolivro
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Abril
Abril foi um mês tumultuado. Muito trabalho e uma delícia de inferno astral me fizeram acumular livros e mais livros lidos pela metade. Até que consegui terminar alguns, mas nada que me cativasse muito. A exceção foi "Parafusos" um quadrinho que li bem no início do mês e que fiquei digerindo por semanas. O quadrinho é, na verdade, um livro de memórias no qual sua autora, Ellen Forney, conta sua experiência com o transtorno bipolar desde o diagnóstico até o momento em que alcança um nível de estabilidade. Mas Parafusos também é uma investigação, ainda que muito pessoal, sobre a possível relação entre arte e loucura.

A história de Ellen não é minha história, porque não sou bipolar - que eu saiba -, mas me ajudou a entender e lidar melhor com meus próprios limites psíquicos. Eu nunca recorri a tratamentos psicológicos - por tantos motivos que nem vale a pena numerar -, mas sei que passei por duas crises depressivas. Ainda hoje sou tomada por algumas ondas que me esvaziam de todo sentido e me largam em uma solidão sem palavras. Mas agora é significativamente mais fácil de lidar com essa sensação, talvez, porque, enfim, entendo que são ondas e não meu território; são fases que fazem parte de quem eu sou, mas não definem o meu destino. No entanto, foi um trajeto bem difícil até chegar a esse momento em que tenho um pouco mais de autoconhecimento e tento ser mais gentil comigo mesma. A verdade é que só pude me tornar uma pessoa melhor e mais feliz quando parei de enxergar meus problemas a partir de um estigma. Parafusos nos alerta sobre o perigo de romantizar a dor e enxergar pessoas de carne e osso através de ideais - um tema que eu já escrevi para a Capitolina. E faz isso de um modo brilhante. É um livro importante e até mesmo urgente. Escrevi mais sobre ele nessa resenha para a maravilhosa Revista Pólen

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Tomboy - Liz Prince
Não tenho o costume de ler quadrinhos, mas toda vez que faço isso não entendo porquê não me aventuro mais por esse tipo de literatura. Esses dias descobri “Parafusos” que parece ser incrível, ainda não consegui baixar/comprar o livro, mas por causa dele comecei a pesquisar no Goodreads sobre outros quadrinhos escritos por mulheres, foi aí que encontrei “Tomboy”. Esse quadrinho lindo conta a história de Liz Prince desde a primeira vez em que ela se recusou a usar um vestido até o fim da sua adolescência quando entendeu que poderia se identificar como uma garota sem precisar seguir os estereótipos sexistas que são impostos a esse gênero. Eu devorei o livro em menos de 24 horas, porque é bom demais. Cada vez mais eu acho que é mais produtivo pensar sobre questões de gênero q a partir de histórias pessoais do que através de conceitos e teorias descoladas da realidade. Ainda mais importante, é possível falar sobre esse assunto tão complicado de modo acessível! Tomboy é uma história nada simples, mas alguém que nunca refletiu muito sobre sexismo pode ler essa história e entender porque o sexismo é nocivo (e sem sentido).

(Liz criança coisa linda)
Liz, como o título já diz, desde criancinha não se identifica com as qualidades, roupas e objetos que são culturalmente destinados às garotas. Ela se identifica com personagens masculinos, odeia bonecas e vestidos. Sua mãe, felizmente, aceita que ela faça suas próprias escolhas, no entanto, sempre surge alguém para lhe explicar, geralmente de modo agressivo, que ela é uma pessoa estranha e errada, porque garotas não se comportam dessa maneira. Assim, ela cresce sendo renegada pelos garotos que fazem questão de afirmar que ela não é como eles, não importa o quanto ela queira parecer um menino, ela é uma garota, um ser inferior. Já as garotas, na maior parte do tempo, se sentem confusas com a personalidade de Liz e também são cruéis. Ela não consegue se identificar como um menino e menos ainda como uma menina, tem poucos amigos, se sente sozinha e estranha. É mesmo surreal que as pessoas fiquem tão incomodadas porque uma criança escolhe usar uma roupa ou brinquedo diferente do esperado/imposto e é doentio como esse incômodo se torna rapidamente uma violência gratuita Desde muito novinha Liz sofreu todo tipo de bullying, ler isso me fez pensar em todas as pessoas trans ou não binárias que passaram por anos de violência e silenciamento na escola. Me lembrou muito um texto da Maria Clara Araújo sobre não ter sido socializada como um garoto, porque desde sempre teve suas escolhas e descobertas julgadas por pessoas de todos os gêneros. As pessoas simplesmente não permitem que as crianças façam sus próprias decisões, construam e desconstruam suas identidades, sexualidades e ideias.
As coisas se tornam ainda mais complicadas para Liz quando ela chega a adolescência e começa a se informada sobe a menstruação e o processo de se tornar uma “mulher”. Essa época em que nossos corpos saem do controle e ganham novas formas é sempre assustadora, para uma pessoa que nega uma identidade de gênero é algo ainda mais violento. O pior, é claro, é a comum confusão entre sexualidade e identidade de gênero. As pessoas acham que Liz se veste como um garoto porque é lésbica, obviamente. É raro que as pessoas entendam que as preferências sexuais não tem nada a ver com a roupa que usamos. Na verdade, ela gosta de garotos e sofre por que esses, em geral, gostam das garotas “normais” que usam vestidos e coisas femininas. Em pouco tempo Liz começa a odiar garotas. Ela não quer ser como elas ou como supõe que elas devem ser: frágeis, bobas, delicadas, submissas e todas as características que podemos pensar para definir a passividade em pessoa. Até que um dia, Liz conhece Harley uma muher adulta e legal que a apresenta ao mundo dos quadrinhos e zines. Um dia elas vivem a seguinte conversa:
Liz: Eu não sei, eu estava pensando sobre como Phyllis e eu somos diferentes das outras garotas. E como nós conversamos sobre odiar garotas e que talvez eu não deveria ser uma.
Harley:...
Liz: Quê?
Harley: O que faz você pensar que não deveria ser uma garota?
Liz: Bem, eu pareço com uma garota?
Harley: Sim, eu acho que você parece com uma garota.
Liz: Quê? Mas eu não uso maquiagem ou vestidos!
Harley: Claro, mas essas coisas não definem uma garota! Você pode ser uma garota e usar roupas de garotos. E pode fazer isso de um modo bem mais fácil do que garotos podem usar roupas de garotas.
Liz: Eu não sei, é mais do que roupas, é como é esperado que garotas se comportem de um jeito que eu não gosto.
Harley: É uma ideia interessante, mas eu te desafiaria a pensar: Você odeia garotas? Ou você odeia as expectativas impostas às garotas pela sociedade?
Liz não entende exatamente o que Harley quis dizer nessa conversa até o momento em que começa a ler zines feministas. Nessa fase ela já está um pouco mais velha, estudando em um colégio em que se sente mais confortável, convivendo com amigos que entendem e estimulam sua personalidade. Enfim, um momento em que ela está se sentindo pela primeira vez mais confortável em sua própria pele, mas feliz e satisfeita enquanto um indivíduo. O que ela entende com o feminismo é que esse ódio às garotas é, na verdade, a mesma misoginia que a fez sofrer por toda sua vida por simplesmente querer fazer coisas que supostamente não são destinadas ao seu gênero. Ela entende que não queria ser um garoto, só queria ter as mesmas possibilidades. Ela se identificava com personagens masculinos apenas porque também queria ser heróis e, segundo a TV, as mulheres só podem cumprir papéis marcados pela passividade. Basicamente, ela estava seguindo a lógica que transforma o “Lute como uma garota” em uma ofensa até que entendeu que poderia lutar contra esse sistema exatamente como uma garota e ser incrível.

“Um garoto pode ser adorado por causa de sua personalidade e talentos, independente de sua aparência ser agradável. Na verdade, talento pode fazer um garoto se tornar popular ainda que ele não tenha uma aparência de acordo com os padrões de beleza. Mas uma garota geralmente só pode ser popular, se ela é bonita. Eu quero ser adorada por ser engraçada e uma boa artista. É claro, eu também quero gostar da minha aparência, mas nos meus próprios padrões”.
“Talvez o meu problema foi ter procurado por aceitação nos lugares errados todo o tempo?”

(Liz adulta com seu livro)
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Men explain things to me - Rebecca Solnit
“Men explain things to me” é uma coletânea de ensaios de Rebecca Solnit sobre silenciamento das mulheres, feminismo e possibilidades. O artigo que dá nome ao livro trata da irritante mania (majoritariamente) masculina de opinar sobre assuntos que muitas vezes estão longe de dominar. Mania que se torna mais incontrolável diante desses seres frágeis e desorientados que somos nós, mulheres. É terrível mas todas nós passamos por essas situações, desde informações curiosas (só que nunca) que não nos interessa a carteiradas acadêmicas - passando necessariamente por aquelas dicas de como ser uma feminista melhor, porque os homens também precisam falar sobre a opressão patriarcal e ai de quem tenha a ousadia de não se importar com isso.
O artigo de Solnit junto aos outros ensaios que compõem esse livro ganha uma outra proporção, pois juntos eles expõe de um modo profundo e inteligente como o silenciamento das mulheres em situações supostamente inofensivas (afinal, carteirada acadêmica e homem mala não mata ninguém, só enche muito o saco, provoca frustrações e inseguranças, o que infelizmente nós estamos acostumadas, de modo que sobrevivemos ainda que nem sempre inteiras) ratificam os piores tipos de violência de gênero.
“The battle for women to be treated like human beings with rights to life, liberty, and the pursuit of involvement in cultural and political arenas continues, and it is sometimes a pretty grim battle. I surprised myself when I wrote the essay, which began with an amusing incident and ended with rape and murder. That made clear to me the continuum that stretches from minor social misery to violent silencing and violent death (and I think we would understand misogyny and violence against women even better if we looked at the abuse of power as a whole rather than treating domestic violence separately from rape and murder and harrassment and intimidation, online and at home and in the workplace and in the streets; seen together, the pattern is clear).
Having the right to show up and speak are basic to survival, to dignity, and to liberty. I’m grateful that, after an early life of being silenced, sometimes violently, I grew up to have a voice, circumstances that will always bind me to the rights of the voiceless”.
Embora eles sejam textos de uma necessidade urgente e muito bem construídos, meus ensaios preferidos desse livro não foram os que falam sobre cultura do estupro ou violência doméstica e, sim, os que falam sobre possibilidade e liberdade. Um ensaio em particular provocou explosões maravilhosas na minha cabeça: Woolf’s darkness: Embracing the inexplicable. Comecei a ler este ensaio quando estava na minha rede, minha vista estava carregada de nuvens, logo logo ia chover, mas enquanto elas aguentavam, eu aproveitava a folga do balanço do lado de fora da casa. Foi uma coincidência muito perfeita ler sobre o desconhecido e o inexplicável enquanto estava suspensa no ar. Na verdade, foi como oficializar - mas sem grandes certificados e garantias - uma posição em que já me encontro há um bom tempo. Esse ensaio que tem como ponto de partida uma passagem de um diário de Virginia Woolf, “The future is dark, which is the best thing the future can be, I think” (O futuro é obscuro, o que é a melhor coisa que o futuro pode ser, eu acho), é sobre a capacidade de acolher o desconhecido, aceitar que não temos certezas sobre nossas vidas, tanto no nível particular quanto coletivo e continuar caminhando por essa via obscura que é a história. É um ensaio sobre ter esperança em vez de certezas, tanto otimistas quando pessimistas, sobre persistir pois - nas palavras da minha banda preferida - nem todo caminho é reto. Nosso tempo de vida limitado e pessoal está entrelaçado em muitas temporalidades e vias, construímos nossa existência em um exercício contínuo de tatear, adivinhar e esperar para que esse seja o passo certo. Mas planos e identidades não são nada mais do que formas que impomos a uma matéria fluida.
“Public space, urban space, which serves at other times the purposes of the citizen, the member of society establishing contact with other members, is here the space in which to disappear from the bonds and binds of individual identity. Woolf is celebrating getting lost, not literally lost as in not knowing how to find your way, but lost as in open to the unknown, and the way that physical space can provide psychic space. She writes about daydreaming, or perhaps evening dreaming in this case, the business of imagining yourself in another place, as another person”.
Todo esse elogio ao desconhecido parece destoar muito dos outros ensaios, mas, na verdade, é exatamente sobre o mesmo assunto. Virginia Woolf só pode se entregar à incerteza, por que negou um sentido que é precisamente o que destina todos os seres humanos a papéis limitados. E é claro que há algo ainda mais subversivo em uma mulher que se permite se perder. Se perder, sendo uma mulher, é abandonar a certeza da casa, se aventurar na insegurança da rua - essa que devemos sempre circular com cuidado e compostura, para não dizer medo - e apagar os estreitos moldes que cercam sua personalidade. Assim, acolher a impossibilidade de qualquer sentido ou previsão é uma posição revolucionária em que os limites são arrebentados, seja essa a história de uma mulher ou de toda a humanidade.

“For now she need not think about anybody. She could be herself, by herself. And that was what now she often felt the need of—to think; well, not even to think. To be silent; to be alone. All the being and the doing, expansive, glittering, vocal, evaporated; and one shrunk, with a sense of solemnity, to being oneself, a wedge-shaped core of darkness, something invisible to others. Although she continued to knit, and sat upright, it was thus that she felt herself; and this self having shed its attachments was free for the strangest adventures. When life sank down for a moment, the range of experience seemed limitless. . . . Beneath it is all dark, it is all spreading, it is unfathomably deep; but now and again we rise to the surface and that is what you see us by. Her horizon seemed to her limitless” (Virgia Woolf em Ao Farol).
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Quadrinho da Dora Leroy para o poema de Angélica Freitas.
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Americanah/ Sejamos todos feministas - Chimamanda Ngozi Adichie
“Americanah” é muitos livros em um: É uma história de amor, mas, também é sobre ser estrangeira, se perder, se conquistar e uma volta que nunca é umsimples retorno. É sobre uma experiência, é delicado e profundo como a vida.
“O mundo estava envolto em gaze; Ifemelu podia ver a silhueta das coisas, mas nunca com clareza o suficiente, nunca o suficiente. Ela contou a Obinze que havia coisas que devia saber como fazer, mas não sabia, detalhes que devia ter trazido para dentro de seu espaço, mas não trouxera. E ele lembrou a Ifemelu quão rapidamente ela estava se adaptando, com um tom sempre calmo, sempre consolador. Ifemelu fez entrevistas para vagas de garçonete, hostess, bartender e caixa e ficou esperando ofertas de emprego que nunca chegaram, sentindo que a culpa era sua. Tinha de ser ela que estava fazendo algo de errado; mas não sabia o que poderia ser”.

“Americanah” me fez refletir sobre como é fundamental ler mais mulheres de realidades diferentes. Os relatos de Ifemelu sobre o racismo - nem sempre escancarado, mas constantemente presente - da sociedade americana me fez pensar sobre o tamanho e a gravidade dos meus privilégios. O capítulo em que ela conta sobre o processo de alisar os cabelos e matar a natureza do seu afro acendeu algo na minha cabeça: um horror, uma tristeza e um reconhecimento de como há coisas que nunca vou realmente saber. Entender que há muitas vivências que não posso sentir na minha própria pele me faz pensar no quanto preciso ouvir/ler/aprender mais essas mulheres para enxergar melhor meus próprios privilégios e o racismo intrínseco a minha passividade branca.
“À noite, ela demorou para encontrar uma posição confortável no travesseiro. Dois dias depois, partes de seu couro cabeludo estavam em carne viva. Três dias depois, havia pus ali. Curt queria que Ifemelu fosse ao médico e ela riu dele. As feridas iam sarar, disse, o que aconteceu. Mais tarde, quando passou sem problemas pela entrevista de emprego e a mulher apertou sua mão e disse que “se encaixaria maravilhosamente” na empresa, Ifemelu se perguntou se a mulher teria achado a mesma coisa se ela tivesse entrado naquele escritório com a coroa espessa e crespa que Deus lhe dera, seu afro”.

Chimamanda é uma escritora incrível. Além de “Americanah”, li seu ensaio “Sejamos todos feministas” que também pode ser visto na sua conferência no TED (aqueeela famosa que aparece no clipe de Flawless). Esse discurso fala de um modo poderoso e pedagógico sobre os absurdos provocados pelo sexismo e a violência de gênero. É um texto que aponta precisamente porquê o feminismo é uma necessidade vital para todas nós, mulheres. Todas nós deveríamos ser feministas e não temer este termo já que este receio expressa justamente como a opressão de gênero destina nossas vidas a validação alheia, especialmente dos homens.
“Eu sou feminista. Naquele dia quando cheguei em casa e procurei a palavra no dicionário, foi este o significado que encontrei: “Feminista: uma pessoa que acredita na igualdade social, política e econômica entre os sexos”. Minha bisavó, pelas histórias que ouvi, era feminista. Ela fugiu da casa do sujeito com quem não queria se casar e se casou com o homem que escolheu. Ela resistiu, protestou, falou alto quando se viu privada de espaço e aceso por ser do sexo feminino. Ela não conhecia a palavra “feminista”. Mas nem por isso ela não era uma. Mais mulheres deveriam reivindicar essa palavra”.
Dá pra baixar o livro gratuitamente na Amazon.
E dá pra baixar o ebook de Americanah no meu dropbox.
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