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Felipe Ferreira
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Escritor &  Roteirista I Salvador-BA I Compartilho com vocês meus principais textos, entrevistas e poemas. E pra cada nova coceira, um novo gripho! Pra cada nova provocação, um novo debate! Bem vindos à minha ostra!  
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ostrafelipe-blog · 8 years ago
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“Escrevo porque amo, me demito porque preciso voar”.
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Há 1.574 dias parodio Chico e faço tudo sempre igual.                                       Mudava o ponto de referência e o número de conduções (todas elas muito bem acaloradas), mas o cotidiano era sempre o mesmo. Não que a rotina seja motivo de inquietações desesperadas. Ela é personagem onipresente da nossa vida e desde sempre “aprendemos” a administrá-la.
Hoje, faço tudo igual pela última vez.                                                                 O mesmo despertador, o mesmo percurso, o mesmo ir e vir e uma vontade incontrolavelmente arrebatadora de reprogramar a rota do GPS e assim trilhar um caminho diferente, ainda que sem nenhuma certeza, nem 3% de garantia do processo e a incredulidade capitalista de alguns.
É a minha história.
É o meu roteiro.
É a minha verdade.
Em quatro anos já estou a quatro de chegar aos 30, minhas entradas da calvície cresceram, me acostumei com o tamanho do meu nariz, meu grau de miopia aumentou, comecei a fazer terapia, fiquei solteiro, encontrei um novo amor, voltei a bater ponto no Twitter, conclui a pós-graduação, assinei minha primeira matéria de capa, conheci o Gregório, a Maria e o Xico, perdi, ganhei... E o sonho continuou aqui estático, na raiz do bom senso, esperando o “momento ideal”, “a hora certa”, “o tempo natural das coisas” e suas derivações acomodativas.
O que ela quer da gente é coragem...
Não pensei que o sonho de ser escritor no Brasil fosse uma marimba tão pesada de carregar. Fazer das palavras fonte de renda, em um país onde o hábito da leitura não é estimulado e a produção intelectual não é incentivada no seio familiar, nos muros da escola ou nas grades de Brasília, é foda!
Em meio à crise generalizada que assombra nosso país, entrar na estatística do desemprego por livre e espontânea vontade é um ato de insanidade (senso comum). Mas, tenho consciência de que a loucura é um estado relativo. Muda conforme o olhar, o lugar, o “ao redor” e o interior de quem se mostra apto a dar tal diagnóstico e do “louco” em questão.
Na neblina que embaça loucura e lucidez está o medo que nos paralisa diante nossas escolhas, e a coragem que nossa zona de conforto faz questão de não enxergar.
O último texto que publiquei ano passado no Cinemação fala sobre a cinebiografia de Elis Regina. E a coragem, mencionada de forma enfática e perspicaz no filme de Hugo Prata, foi a faísca que me fez parar, refletir e tomar essa decisão. 
Hoje, saio deixando o Felipe de outrora ainda mais convicto da minha escolha e despido de todo e qualquer orgulho de não ostentar o velho ditado de que o bom filho a casa torna. Deixo a porta aberta e amigxs pra vida!
A frieza camuflada da minha sociopatia involuntária esconde um afeto que cresceu com o tempo e se fortaleceu com os ventos. Minha acidez verborrágica, ora invasiva, sempre sincera, foi a forma que encontrei de deixar nossa relação mais leve e mostrar quem de fato sou. Conviver é uma simbiose entre a arte de encontrar e a arte de enxergar no outro, com respeito e alteridade, uma inspiração para seguir em frente. Todos os segredos confessados, todos os mal entendidos, todas as gargalhadas incontroláveis, todos os silêncios (in) compreendidos e todas as horas convividas extrapolam a carga horária de uma jornada de trabalho exaustiva e desaguam num ciclo de amizade e afetos.
Foi com a estabilidade de um emprego de carteira assinada, plano de saúde, plano odontológico, férias (não sabemos até quando), seguro de vida – o oásis do sucesso contemporâneo – que consegui publicar com suor e raça, meus “griphos meus”. E é abrindo mão de toda essa normatividade capitalista que publicarei meu segundo livro (aguardem, logo as memórias virão à tona!) e me encontrarei de forma plena e honesta com minha felicidade. Os paradoxos de ser e viver...
Ciclos são cíclicos e todo percurso precisa se renovar e encontrar sua pérola.
OBRIGADO!
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ostrafelipe-blog · 8 years ago
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Eu me chamo... OSTRA.
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É leviano e ‘herégico’ nos resumirmos a um número, a um canudo e a um currículo vitae (vintage?).
Eu quero… Ser Getúlio Vargas. Enrolar-me no próprio latim. Engasgar com o próprio discurso. E morrer com a própria bala.
Na verdade sou uma ostra. Uma ostra triste. E essa minha verdade, que estava com ele, foi revelada. E ele se revelou pra mim, como uma fotografia.
O revelador, o revelado, Rubem Alves.
A maneira como nós encontramos com um livro é subjetivamente enigmática. O que independe se o livro é fruto de uma coceira gostosa ou de uma paralisia generalizada. Passamos por ele com soberbia. O desdém prevalece. Os olhos se divergem…
Certo dia, o que não vimos ali, passamos a enxergar na margem oposta do rio. E o encontro pode acontecer de trás pra frente. O traseiro nos seduz. As longínquas costas de mais ou menos quinze linhas instiga. O samba é atraente, que te leva a entrar pela porta principal… O título é: “Ostra feliz não faz pérola”.
Seria uma parábola gigante, uma manual acadêmico de biologia, uma cartilha barata de auto-ajuda…? – Um filme.
Foi o que me veio. Um belo roteiro cinematográfico. A forma como o banal traduz o essencial é nostalgicamente poética. As banalidades das fotos compõem um lindo filme da alma humana. Revela nosso suculento, e opulento recheio. O filme é dividido em três atos, como uma peça. Esquartejadas em fotografias velozes, não lineares, cada uma com a sua própria coceira. A infância, as lembranças, todos os pensamentos e anseios, submersos na mesma água, desaguando no mesmo mar.
O cinema é espera. É ver os búzios na areia e esperar a maré levar. Às vezes a água da literatura mata a sede do cinema. E a escassez de um elixir sincero nos faz ver uma miragem, no deserto de bons filmes. Cheguei à conclusão de que esse livro é um filme onde a imagem é resultado instantâneo da leitura, do mergulho.
Vamos fazer um tratado... 
Eu, como ostra (não do ato de comer, detesto-as!), compartilharei com vocês textos de filmes que de alguma forma nos fazem coçar. E vocês abrirão as ostras, devorarão seu recheio e depois irão me dizer ela era triste ou feliz. Certo?
Primeiro “Eles”, depois a ostra, e por último… A felicidade! 
Publicado em 16 de abril de 2016 no Cinem(AÇÃO). 
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ostrafelipe-blog · 8 years ago
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MPB – Manifesto Popular Brasileiro: Um Grito e um Beijinho no Ombro.
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São tantos tópicos a inserir nesse manifesto: Estético (para quem não vê o belo apenas pelo prisma clássico imposto pelo conservadorismo); Dialético (para quem tem a mente aberta ao novo e a pluralidade de expressões); Poético (pra quem tem a alma libertária, sensível, não vive a base de 2+2, e da matemática e seus resultados exatos).
Confesso não saber por onde começar essa catarse mimeografada.
– Pelos clássicos ou pelos contemporâneos?
Iniciarei pelo epicentro de toda polêmica, traçando a trajetória da bala que acertou em cheio o peito inflado dos intelectos atemporais, que a grande maioria, prepotentemente, vos julga ser.
Uma cantora, um beijo, um funk, uma questão (que carrega em si tantas outras importantes questões que ficaram perdidas no ensaio sobre a cegueira), uma prova de filosofia (do grego: amor a sabedoria), e uma prova (é prova… O nosso modelo educacional ainda se sustenta a base de provas…) que prova – vale a redundância – como a sociedade brasileira continua extremamente preconceituosa seja pelo viés lingüístico, econômico e musical.
Tenebroso esse dom que certo mitiê de brasileiros tem – herança maldita– em valorizar apenas o que é erudito, ao que é fruto próspero da árvore academicistas, o biscoito fino da prateleira.
Um professor de Filosofia (ratificando: a matéria é FILOSOFIA, não MATEMÁTICA) insere na sua prova para os alunos do Ensino Médio (ratificando: 1º, 2º e 3º ano, pré vestibulandos) a seguinte questão:
“Segundo a pensadora contemporânea, Valesca Popozuda, se bater de frente é:”
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A música em questão é “Beijinho no Ombro” da funkeira (não é interprete, não é cantora, é DIVA) Valesca Popozuda (não é Zé, não é Chico, não é Tom, não é Maria, não é Gal, é Valesca, ex-Gaiola).
O parágrafo anterior é auto-explicativo, justifica, sem justificativa, toda a ação.
E completando os meios, usados para justificar os fins, assisto uma reportagem na TV – entre tantas – onde as pessoas questionam o viés filosófico de vosso mestre – o professor – sob a alegação de que em meio a tantos assuntos importantes; e em meio a um cardápio variado de música, ele poderia ter escolhido uma canção melhor – os critérios dessa avaliação não foram revelados (se é que precisa); por que escolher uma música de funk?
Alguns deles antes de cristalizar vossas teorias e cartilhas educacionais, pararam para se questionar o contexto no qual a questão estava inserida? Quais assuntos foram conversados, debatidos em sala? Tenho quase certeza, de como 2+2 são 4, que não. Perguntas que foram levantadas pelo réu… Quero dizer… O professor do caso, e um colega que saiu em sua defesa. Perguntas vãs, já que o que contexto pouco interessa quando se tem no centro do palco, uma personagem feminina, de personalidade, e sem falsos pudores.
Se os ‘críticos’ se permitissem escutar de maneira branca e assistir o videoclipe da música (um dos vídeos mais bem produzidos da nossa raquítica – quase inexistente – indústria cultural de clipes musicais) iam perceber que por trás do hit periférico e repetitivo, existe um subtexto que retrata toda uma condição feminina, até então imposta pela sociedade machista ortodoxa, e que vai ruindo gradativamente…
Se coloquem no lugar do Tico Santa Cruz – roqueiro, tatuado – e analisem a música “Lepo Lepo” do Psirico – banda baiana, de pagode, do carnaval – e vocês verão que beijinho no ombro não é só apenas ‘tiro, porrada e pomba’ e que o aprendizado de uma matéria não se resume a uma questão de prova.
Em uma das aulas de Literatura Brasileira IV, meu professor nos confessou que ao fazer sua tese pós graduação, foi instruído pelo orientador a controlar todo seu impulso emocional ao tecer seus comentários e análises sobre Paulo Leminski, poeta a quem tanto admira, e objeto da sua pesquisa.
Racionalidade não é um adjetivo muito presente nas linhas arianas. Minha curva segue pela ponta da intensidade. Seguindo lucidamente esse trajeto, cada vez mais convicto da minha admiração artística para com a persona feminina anti-recalque da nossa contemporaneidade, li sua entrevista concedida ao jornalista Léo Dias (Jornal O Dia).
– “Não sou pensadora”. (É modesta!)
Na primeira pergunta – certeira resposta – um ‘rala’ na indústria do patrocínio:
Léo Dias (O Dia): Você esteve na São Paulo Fashion Week e no Fashion Rio. Tem patrocínio de alguma marca?
Valesca Popozuda: Não, não. Eu não sou de ninguém.
Em tempos de monopólios culturais e cárceres de incentivos fiscais é louvável e cada dia mais raro ver artistas que ao invés de se curvar diante os padrões estéticos e comerciais cruelmente impostos pelo CNPJ das grandes empresas e seus CPF’s, assumem sua independência artística na autenticidade do seu trabalho – independente do gênero – e na verdade do conceito ideológico que eles se propõem a passar.
Como artística que sou – ou tento ser – a sagacidade dela me injeta uma dose considerável de otimismo e incentivo para que eu siga adiante, mesmo vendo o cruel jogo de panelas do quarto de empregada.
… E pra seguir o conceito da nossa pensadora contemporânea: – Beijinho no Ombro! E rala suas mandadas!
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Postado em 25 de abril de 2014 no Ambrosia (UOL).
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ostrafelipe-blog · 8 years ago
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O tutano musical de Criolo em “Convoque seu Buda”.
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Samba Do Crioulo Doido.
Você já ouviu falar, apontou, ou foi testemunha ocular de tal rótulo.
Eu conhecia o trabalho do Criolo, rapper e um dos principais nomes da MPB contemporânea, de maneira superficial. Mais especificamente por ouvir religiosamente duas músicas interpretadas magistralmente por ele: a poética concretista de Sampa em “Não existe amor em SP” (Nó na Orelha – 2011) e a versão introspectiva e naturalista de “Cálice”, em homenagem a Chico Buarque.
Imergi e fui mais além…
Nessa semana Criolo lançou e disponibilizou o download gratuito do seu mais novo álbum “Convoque Seu Buda” (2014). Ação cada vez mais comum entre os cantores brasileiros, como forma de potencializar a reverberação dos seus trabalhos, diante a velocidade das conexões globais.
Todo mundo bode baixar, baixa quem quer e colabora quanto puder!
Eu quis, baixei e fui pra casa depois de mais um exaustivo dia de trabalho ouvindo as 10 faixas do álbum.
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Evoque Do Criolo Insano.
Com seu novo álbum, Criolo subverte o significado pejorativo da expressão popular que abriu alas no início desse texto. “Convoque Seu Buda” faz jus ao imperativo do verbo e evoca em eco máximo a pluralidade de gêneros que caracteriza e faz da Música Popular Brasileira um berço esplendido de sabores e tons.
Nosso interprete entranha pelas raízes históricas, na origem mais genuína da nossa música e dessa premissa, consegue recriá-la com uma autenticidade ímpar.
Semiótica Mantra Por Mantra (07 de 10)
“CARTÃO DE VISITA”
Na frequência das ondas do rádio, com a participação da voz agridoce de Tulipa Ruiz (e das mais lindas), faz uma crítica aos dois pêndulos da sociedade capitalista do consumismo. De um lado, as partes mais interessadas em incentivar esse consumo; do outro a ostentação predatória do: quero-posso-consigo!
“CASA DE PAPELÃO”
A vulnerabilidade da existência e do poder autodestrutivo do homem. A canção me remeteu a “Ponteio”composta por Edu Lobo. Seria o papelão a matéria prima do despertar do violeiro?
“CONVOQUE SEU BUDA” (MÚSICA-TÍTULO)
A realidade controversa, erguida nas ambivalências motoras de uma cidade real, de um jogo que é de carne, osso, de gente. Violência Urbana X Trabalhador // Orixás – Budismo
“FERMENTO PARA MASSA”
Batuque, pandeiro, o samba!
“PADÊ ORÔ
Saudação à cultura afro. A ancestralidade africana que pulsa nas nossas veias.  “Pegue pra ela” Senti Gil e um “Caetanear” gostoso de ouvir, bom de flertar… Sopros, tambores e ela, sempre ela.
“PÉ DE BREQUE”
Reggae Roots, chá das 5.
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Kleber Cavalcante Gomes. Brasil, Tropical, Criolo.
Postado em 6 de novembro de 2014 no Ambrosia (UOL).
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ostrafelipe-blog · 8 years ago
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O Esquenta! e A Indústria Cultural Brasileira: Uma análise do discurso democrático de Marilena Chauí e uma releitura da Seleção Natural de Darwin.
cultura - do latim: cultivo, cuidado.
indústria - do latim: diligência, operosidade.  
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Para compreendermos, de forma mais expl��cita e abrangente, as engrenagens que constituem a indústria da cultura na sociedade brasileira, se faz necessário ter como premissa básica uma noção do que vem a ser cultura e de como o sistema econômico operacionalizou sua existência com o passar dos séculos. Assim como a velha indústria e seus ortodoxos métodos e modelos de produção, o conceito literal de cultura transcendeu o dicionário do latim e mudou significativamente em sincronia com o processo evolutivo da sociedade e do homem. 
"Brotar-frutificar-florescer-cobrir de benefícios" - O "mantra cultural milenar" dos deuses já não tem mais a mesma funcionalidade e foi substituído por uma linha de pensamento mais racional e capitalista. A germinação agora é trabalho, o fruto se faz pelo usufruto de alguém e os benefícios são centralizados na máquina que financia e administra toda a colheita. 
 A mesma cultura que no século XVIII restringia-se a um simples selo progressista de civilidade chega ao Iluminismo com um conceito político e ideológico de progresso e como um modelo colonizador de propagação e domínio do imperialismo etnocêntrico europeu. Essa cultura europeia capitalista se colocou em posição real de protagonismo, e como o fim indispensável para o desenvolvimento de toda a cultura em si e de toda a civilização.  Além de assumir essa posição centralizadora e discriminatória perante as estâncias sociais e culturais, ela se oferece como o modelo ideal para o almejado desenvolvimento histórico, tendo o sistema colonial e imperialista como ponto legitimador e justificável.
A partir daí a sequência das dicotomias é mudada. A ordem natural ou física, regidas por leis de casualidade, e a ordem vital ou biológica, regida pelas normas de adaptação do organismo ao meio ambiente (como na lei da seleção natural de Darwin) sofrem a ruptura da ordem humana e da ordem simbólica que destacam a capacidade do homem para se relacionar com o ausente e com o possível por meio da linguagem e do trabalho. Com esses dois mecanismos constata-se que a ação do homem não pode ser reduzida à ação vital, ele passa a ser definido como um agente histórico com o qual se inaugura a ordem do tempo e a descoberta do possível:
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"A cultura é a ruptura da adesão imediata à natureza, adesão própria aos animais, e inaugura o mundo humano propriamente dito" (CHAUÍ, MARILENA – 2009).
A quebra dessa perspectiva naturalista criou uma concepção mais abrangente e humanizada da cultura que seguirá o caminho contrário ao da ideologia etnocêntrica e imperialista. Inauguram-se as correntes da antropologia social e política, nas quais cada cultura expressa de maneira histórica e materialmente determinada, a ordem humana simbólica, constituída de uma identidade ou uma estrutura própria.
O "Ba�� Cultural" abraça a produção/criação da linguagem, da religião, da sexualidade, dos instrumentos e da forma de trabalho, dos modos de habitação, do vestuário, da culinária, e massifica-a sem democratizá-la. Ela se apodera de uma pluralidade identitária e passa a ser compreendida como o campo em que nós - sujeitos humanos em plena atividade - elaboram signos e símbolos, instituem práticas, a linha do tempo (passado, presente, futuro), valores (belo e o feio, justo e injusto), ou seja, de toda essa dualidade de forças que instauram a ideia de lei, determinando o sentido do estar vivo e do estar morto em suas relações sagradas e profanas.
evoluir - do latim: evolutione, desenvolvimento progressivo.
evolução - na biologia: teoria que admite a transformação progressiva das espécies.
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No livro "Origem das Espécies", o naturalista inglês Charles Darwin (1809-1882) defende duas teorias principais: a da evolução biológica - onde, segundo o cientista, todas as espécies de plantas e animais que vivem hoje descendem de formas mais primitivas - e a de que esta evolução ocorre por "seleção natural". Os princípios básicos da teoria sobre a evolução de Darwin, apresentados no livro, são quase que universalmente aceitos no mundo científico; embora existam controvérsias em torno deles. Assim, nasceu a doutrina Darwinista que defende da luta pela sobrevivência ou da sobrevivência do mais apto - peça fundamental do presente estudo.
Entre elas, a sua lei da "Seleção Natural" pode ser livremente aplicada ao funcionamento da Indústria Cultural. Dados seus respectivos meios e particularidades, os dois métodos de triagem dialogam entre si e tem como mecanismo básico um filtro "natural" entre os indivíduos inseridos em cada um dos contextos. Três dos princípios básicos das ideias de Darwin podem ser relidos por um olhar cultural, e personificar essa comunicação entre as áreas:
1 - "Os indivíduos de uma mesma espécie apresentam variações em todos os caracteres, não sendo, portanto idênticos entre si..."
As variações correspondem às diferenças de classes que são inerentes à supremacia do sistema capitalista. A igualdade social não existe, logo a acessibilidade aos bens culturais também se faz limitada. 
2 - "Todo organismo tem grande capacidade de reprodução..."
No escopo cultural, olhemos o "organismo" como o indivíduo - seja ele espectador, ouvinte e/ou leitor - e troquemos a "capacidade de reprodução" pela capacidade de entendimento e multiplicação dos produtos culturais independente do seu local de inserção na pirâmide social.
3-  "Na 'luta' pela vida, organismos com variações favoráveis às condições do ambiente onde vivem tem maiores chances de sobreviver..."  
Na luta de classes, quem possui condições mais favoráveis (R$) no sistema, tem chances de gozar de uma cultura mais erudita, culta, qualificada e com "C" maiúsculo. Quem é desprovido de tais condições tem que se conformar com o consumo de cultura mediana, popular, massificada.
segregar, do latim- segregare: processo de dissociação, separar ou isolar. 
A intertextualidade entre Biologia e Cultura, só deixa ainda mais evidente o poder segregador da indústria midiática, dos bens culturais e de como ela influencia diretamente na configuração cultural da sociedade e no acesso ao produto final. A alteridade, como conceito filosófico diz que todo ser humano é dependente de outro. Só há humanização através do outro, assim nenhum homem é uma ilha, para existir a individualidade é necessária a coletividade. Saber pensar a condição humana é saber se colocar no lugar do outro, isso é imprescindível para sermos verdadeiramente humanos.
"Na obra do artista compromissado com o registro documental de uma realidade estranha, a atenção aos detalhes sugere, a um só tempo, o interesse pela diversidade do mundo e o empenho em homogeneizá-lo através da prática civilizatória". (SIQUEIRA, VERA BEATRIZ – 2007).
O trecho acima, extraído da página 111 do texto "Aquarelas do Brasil: A Obra de Jean-Baptiste-Debret" nos faz refletir e analisar de forma mais profunda como essa diversidade cultural brasileira é retratada pela janela dos veículos de comunicação de massa, especialmente a caixa mágica da televisão. A beleza da obra de Debret parece surgir de uma possibilidade bem limitada e particular. Os traços sensíveis das suas aquarelas eternizam momentos escassos da intimidade de uma vivência pessoal. O belo ali expressado vem da fraqueza e de um distanciamento que suas lembranças aproximam. 
O olhar do artista parte de um imaginário pré-concebido e desemboca na representação dos elementos que reforçam esse ponto de vista unilateral do viajante. O clima tropical, costumes exóticos, paraíso natural exuberante e um povo estanho. A limitação da perspectiva estrangeira equivale a limitação midiática em focar apenas em um traço da periferia. O ângulo em que os contextos são retratados permanecem estáticos. Nos meios de comunicação, o pobre e o negro são sempre expostos e vendidos pela cartilha comportamental de suburbano, desfavorecido, malevolente, porém genuíno.
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Dentre os inúmeros programas que se nomeiam representante da mistura popular está o "ESQUENTA!", o programa de auditório comandando pela apresentadora e atriz Regina Casé, que começou sendo transmitido apenas no período de verão - em uma referência direta ao fervor da estação mais quente e esperado do ano (ao menos pela grande maioria) – e agora ocupa a grade fixa de programação da TV Globo, todo domingo.  
Desde sua estreia no dia 02 de janeiro de 2011, o programa divide opiniões. "O programa de auditório não tradicional", como frisa a jornalista do "O GLOBO" Patrícia Kogut, em sua crítica publicada no dia 20 de dezembro de 2011 - apesar do mesmo ser formado por todos os elementos que caracterizam o gênero (plateia, gritos e confusão) e de claramente beber na fonte vanguardista que deu origem ao gênero na década de 50-60 pelo José Abelardo Barbosa, o eterno Chacrinha - parecer estar na linha tênue entre o: compre aquela mistura bem embalada e harmônica e ame-o, ou desconfie, perceba as entrelinhas e concessões nos bastidores do show e odeio-o. 
... é idílico, não existe, mas se ele se materializa no palco da apresentadora, significa no mínimo que não se trata de uma utopia."
O pensamento exposto acima do último freguês - descrito como mal humorado na crítica - sobre o "mix cultural", não se sustenta, segundo a jornalista, baseado na teoria que se "ele se materializa no palco da apresentadora, significa no mínimo que não se trata de uma utopia." Entre o sonho e a realidade, questiona-se: A mídia produz e promove uma réplica do real, ou apenas manipula a utopia de gueto para ostentar uma plateia?
Misturar o popular e o erudito no mesmo tabuleiro pode ser possível e interessante, mas envernizar esse encontro com molduras e retoques de ambos os lados, e limitar o poder de representação da parte mais vulnerável é fazer a prática ir contra todo o discurso teórico do multiculturalismo e da diversidade. 
"Debret esforça-se, nos anos em que permanece no Brasil, para registrar os costumes antigos, rapidamente modificados pelo contato vaidoso com o cosmopolitismo dos cortesões europeus". (SIQUEIRA, VERA BEATRIZ – 2007).
O olhar de Debret documenta os costumes de uma época, mas esse registro sofre a influência direta das lentes polaroides urbana da alta sociedade europeia. Os olhares de toda a equipe que formata, produz e leva o programa "ESQUENTA!" dá a visibilidade até então inexistente ao "gueto", que a partir daí deixa imediatamente de ser "gueto" (palavras da própria Regina em entrevista ao jornalista Giuliander Carpes do Portal Terra em 01 de maio de 2013), que tem sua autenticidade moldada pelo controverso e questionável "Padrão Globo de Qualidade". 
Mas é preciso ser imparcial e deixar claro que não há parte lesada nessa negociata. A transigência é mútua. Um cede de lá, o outro cede de cá. O convidado se veste à caráter, e o anfitrião se rende as peculiaridades do "novo" e "exótico" que irá confraternizar sob seus domínios. "Juntar" e "Misturar" são dois verbos que aparecem com frequência em publicações sobre o programa em comento, e que se transformaram em sua marca registrada.
Na mesma entrevista a apresentadora diz que o programa "quer juntar". Em texto publicado no dia 10 de junho de 2013, o jornalista Marcos Sacramento do "Diário do Centro do Mundo", utiliza o "tudo junto e misturado" como termo genérico para enumerar a festa quente que mistura "samba, funk, estilo de vida despudorado e despreocupado, concurso de beleza, humor, artistas de novelas, e mais".
Um dos argumentos da análise do jornalista capixaba é que o programa justamente: 
"reforça o estereótipo dos negros brasileiros como indivíduos suburbanos, subempregados, mas ainda assim felizes, sempre sorridentes e que esquecem as mazelas do dia-a-dia na dança, no remelexo, no funk e se auto-afirmam em penteados e cortes de cabelo extravagantes". 
Essa linha ideológica volta no tempo e vai de encontro a teoria de Darwin. Por não ser o grupo felizardo da seleção, o "gueto" será sempre o "gueto" e será retratado como tal.  
Mesmo sendo o programa com o maior percentual de negros na TV - quem "manda" ali são os negros e pardos - essa exposição acaba tendo o efeito contrário. O discurso de inclusão social e anti-preconceito pode ser sucumbido por um discurso subliminar de aceitação e conformismo, a partir do momento em que em diálogo direto com a juventude ali retratada e público alvo majoritário do produto, entende o recado tão imperativo e sedutor como um bom comercial de batom.
"É isso, dancem, cantem, divirtam-se. Mas não saia do seu lugar". 
CONCLUSÃO
A identidade cultural é um sistema de representações coletivas e individuais que envolvem o compartilhamento de patrimônios comuns, um processo contínuo de construção imaterial. Embora haja o esforço em garantir o sentimento de pertencimento ocasionado pelas múltiplas fontes da cultura popular, a sociedade voluntariamente institui classes e divide a cultura em formatos antônimos: dominada e dominante. O argumento da pesquisa naturalista de Darwin, resignificada pelo discurso humanista de Chauí, contextualizada pelo olhar imaginário do Debret e a representação contemporânea de Casé, por exemplo, reafirma a dicotomia supracitada. O intercâmbio de valores e a massificação popular colocam em risco a democratização da cultura, são caminhos que des-orientam e des-arrumam a formulação e a construção das identidades.
Negar a ação história do indivíduo, bem como ausentar a profundidade do passado, é perder o norteador para o futuro. O caráter dinâmico e mutável da cultura faz com que o produto cultural seja um recorte artístico ilimitado e atemporal, reflexo da ação e do olhar individual. A superficialidade do discurso inclusivo se esgota na programação de domingo, sem continuidade, leviano, parcial e brutalmente segregador.
Cabe então, ao Estado, a promoção cultural, conferindo a ela generalidade regional, o acesso gratuito, reiterando os envolvidos, os atores antagônicos, os ambientes onde a cultura efetivamente acontece. Sendo a cultura um campo infinito de manifestações, não cabe prisma do mercado, devem-se criar democraticamente espaços públicos de discussão para as diversas demandas, urgentes e reais.
Artigo escrito em novembro de 2015 pra disciplina de Estudos Culturais, na Pós Graduação de “Estudos Culturais, História e Linguagens” da UNIJORGE.
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ostrafelipe-blog · 8 years ago
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"CISNE NEGRO”: O lado obscuro da perfeição.
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TV a cabo é assim.
Assinamos pelo desejo da melhor imagem, pela gula dos milhares e diversos canais… E quando estamos em casa, zapeamos, ficamos naquele vai-e-vem tecnológico sem fim, e não achamos nada que preste para conjugar verbos (refletir, entreter, distrair…).
Ou melhor… É (quase) sempre assim.
E aquele dia entrou na seleta lista das exceções…
Tarde de sábado.
Ordem crescente.
Paro em um canal que não recordo exatamente qual é (no meio de tantas agulhas fica complicado saber qual espetou nosso dedo). Créditos subindo.
Ordem etnecserced.
Furo o dedo na mesma agulha e uma gota de sangue pinga no chão.
“Cisne Negro” está começando! Literalmente!
– Um, dois, três (…).
– Um, dois, três (…).
Parei, pensei e não resisti. Deixei de lado toda minha pragmatização para assistir filmes, deitei na poltrona do cinema caseiro e joguei o controle no lixo (autocensura).
O som penetrante e perturbador da caixinha de música e a imagem da bailarina, sem cabeça, sem tronco e membros superiores, apenas com as pernas fincadas elegantemente no chão, não saíram de mim.
As notas musicais deslizaram pelos meus ouvidos e me conduziu – como em uma apresentação de Ballet – à história de Nina e seus cisnes.
Já a imagem da bailarina mutilada, me fez ruminar inúmeros significados e representações da autodestruição que podemos fazer com a arma mais letal e particular que temos: A PSIQUÊ – A MENTE.
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“… Chegava a determinado momento que o coração acelerava, os pelos se arrepiavam, as mãos suavam, a respiração ficava ofegante… Parceria que o duelo dos opostos acontecia aqui, dentro de mim, como num espelho…”
Darren Aronofsky (diretor) cria e executa um roteiro primoroso, instigante, e que no avançar das ações, recordações e devaneios excitam nossos mais doces e sombrios sentidos.
Esse equilíbrio entre CRIATURA e CRIAÇÃO, nos permite fazer um paralelo referencial entre o viés artístico da personagem personificada imageticamente na figura de um cisne, e o processo ‘alvenérico’ entre roteiro e direção cinematográfica.
De um lado, Nina. A bailarina determinada a chegar ao estrelato. Interpretada de maneira visceral e intensa por uma Natalie Portman, em sua melhor forma.
Do outro lado, uma personagem muito bem construída, cheia de nuances dramáticas, que transborda em conflitos internos e frustrações familiares.
“A repetição maternal “Sweet Girl” ao longo de todo filme, funciona como um pêndulo perturbador que despe Nina de toda sua instabilidade emocional e dos nós que os traumas familiares lhe enclausuraram”.
Darren ainda expõe através de sua personagem todo o espírito competitivo enraizado na natureza humana (que varia de cisne para cisne), cada dia mais exacerbado em tempos de globalização e de forte competitividade digna da arena taurina de Wall Street, que está no nosso dia-a-dia, seja na escola, na faculdade, no trabalho e no próprio seio familiar.
“A guerra se origina bem antes disso, lá no óvulo da vida. Todos nadam, um fura o bloqueio e os demais morrem na praia”.
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Eis que em meio a toda sua trajetória tão sonhada por ela – e pela bailarina frustrada da sua mãe – a guerra psicológica que Nina trava consigo mesma, é potencializada pela presença do seu exigente treinador Thomaz Leroy (Vicente Cassel) e pela atraente colega de companhia Lilly (Milla Kanis). Ambos perfeitos em seus respectivos papéis. Cassel com a sagacidade e frieza necessária para provocar e instigar sua aposta artística, e Milla, exalando sensualidade e mistério no olhar.
Plateia lotada.
Todos famintos pelo belo. Todos na expectativa do espetáculo.
O grande dia chega. O branco tem que dar lugar ao negro. A clareza precisa sucumbir diante o lado obscuro, nefasto do instinto animal.
Na guerra onde a cada mergulho, mais fundo se chega, mais temeroso se fica.
A bailarina sai da caixinha de música e segue seu desejo, seu sonho.
E pra Nina, a doce Nina, para o sonho se tornar realidade, a entrega tem que ser plena e a realidade da interpretação tem que ser real, e não encenada.
… Mesmo que para isso, o sonho signifique o fim, e a realidade seja o mergulho final na eternidade.
E eu, aplaudo de pé!
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Postado em 12 de abril de 2014 no “Cinem(AÇÃO)”.
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ostrafelipe-blog · 8 years ago
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O terror hipnótico e primoroso de “Penny Dreadful”.
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Terror nunca foi meu gênero predileto. Na verdade, desde pequeno fui muito medroso pra essas coisas sobrenaturais, de morte, de sangue. Tremia quando me desafiava a assistir “Brinquedo Assassino” na Tela de Sucessos do SBT, tinha pesadelos quando junto com meus primos desafiávamos uns aos outros a assistir “Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado” no auge das locadoras, e pedia perdão fervorosamente a Deus antes de dormir por ter passado o dia brincado de jogo dos espíritos (tabuleiro com copos americanos), jogo do compasso e suas derivações mais macabras.
Provocando medo ou impavidez, os clássicos da literatura de terror compõem o imaginário de toda criança e acompanham-nas até a fase adulta. Drácula, Frankenstein e Van Helsing são algumas dos lendários mitos da literatura mundial que perpassam gerações, inspiram filmes, releituras e séries de TV, como é o caso de Penny Dreadful. A série americana exibida nos Estados Unidos pelo canal Showtime e aqui no Brasil pela HBO, trás histórias universais do terror clássico junto à personagens místicos e com dons paranormais para recriar uma era de sombras e mistérios do Reinado Inglês.
Atualmente disponível no catálogo da Netflix, Penny Dreadful não é daquelas séries que fazem meu estilo e me despertaria uma vontade voluntária de assisti-la. Além do estímulo particular do Hori Leal, que inclusive falou sobre sua relação com a série no texto #03 da sessão especial “Nossas Séries" e da sua engenhosa construção dramatúrgico/estética que não reduz a história nos “efeitos pelos efeitos”, a presença da Eva Green como protagonista-mór sucumbiu meus preconceitos audiovisuais e me fez “devorar” a série. Sou um grande admirador do trabalho de Green, desde que a vi pela primeira vez – na primeira vez dela também – em Os Sonhadores do cineasta Bernado Bertollucci. Sua Isabelle me encantou, de tal forma que fiquei arrebatado por sua beleza clássica e fora dos padrões, por sua interpretação densa e enigmática. Vê-la em Penny Dreadful foi o ápice da minha admiração, e me propôs uma contemplação artística que inspira qualquer escritor que busca encontrar verdades e profundidade nas suas criações.
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Méritos:
O texto é um deleite literário. Poético, profundo e repleto de metáforas, nos faz imergir nas nuances mais abissais e paradoxais do existir.
A direção por episódios, realizada em esquema de revezamento pelos diretores A. Bayona, Dearbhla Walsh, Coky Giedroyc e James Hawes é primorosa e consegue manter uma unidade estética ao longo das duas temporadas, transpondo com veracidade a atmosfera soturna e misteriosa da Londres Vitoriana (1837-1901);
A Fotografia é belíssima. As cores, texturas e os enquadramentos realçam as qualidades estéticas da obra;
A verossimilhança é visível em toda produção. A riqueza de detalhes nos imponentes cenários, nos figurinos luxuosos e na delicadeza dos acessórios explodem na tela e impressionam.
O Elenco Principal:
A escalação por inteira é digna de aplausos. Os intérpretes de todos os personagens – dos protagonistas aos coadjuvantes – conseguiram encontrar e trabalhar as nuances cênicas das suas personagens de maneira precisa e sem excessos;
Eva Green é o destaque absoluto da série! Maravilhosa, intensa e completamente entregue ao íntimo de desejos, conflitos e contradições da complexa Vanessa Ives. Ela construiu a personagem com a engenhosidade artesanal e todos os recursos de uma grande atriz. Mis Ives flameja poder e mistério na linguagem corpórea e no olhar sem verbalizar uma só palavra.
O elenco constrói e mantém uma qualidade cênica que hipnotiza e cativa independente das intenções das personagens. A protagonista está acompanhada de verdadeiros monstros, todos numa atuação à altura do seu talento.
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Eles: Josh Hartnett preciso na dose de brutalidade e ternura do Ethan Chandler; Timothy Dalton firme e viril como Sir Malcon Murray, o patriarca assombrado pelos fantasmas do passado; Harry Treadaway, o vulnerável e astuto “Criador” Victor Frankenstein em constantes duelos internos de culpa e genialidade; Reeve Carney alia sua beleza clássica a uma construção cuidadosa do lendário sedutor Dorian Gray; Danny Sapani na introspecção do enigmático escudeiro Sembene; e Rory Kinnear que aflora com destreza o lado monstruoso e a faceta mais humana e sensível do primogênito do Dr. Frankenstein;
Elas (em menor número entre os personagens centrais, mas nem por isso com menor força na estrutura dramática da série): Billie Piper, ótima na difícil transição entre Brona Croft, a simpática prostituta à beira da morte, e a dissimulação frígida de Lily, a criação mais bem sucedida do Dr. Frankenstein; e Helen McCory que construiu uma interessante curva ascendente na interpretação da diabólica Madame Kali.
Extras:
John Logan, roteirista da série, não usa nenhum recurso dramatúrgico para protelar acontecimentos e isso concede uma fluidez narrativa à obra. Os clímax são muito bem arquitetados e as reviravoltas uma constante entre os episódios. Com isso o autor consegue criar uma teia entre as personagens, cruzando conflitos e ações.
A trilha sonora é muito bem desenhada e acompanha harmoniosamente as curvas sensoriais de cada ápice dramático;
Além de requintada e belíssima, a abertura uni o visual e o sonoro, ao fazer uma clipagem repleta de significados com imagens da série em perfeita harmonia com a força musical do violino, seduzindo o público e sendo coerente ao conteúdo da obra.
Os efeitos especiais, bem executados e de alto apuro técnico, ratificam ainda mais a sua impecável (re) construção histórica;
Os 18 episódios da 1ª e 2ª temporadas nos contemplam com momentos memoráveis. Cenas como a chuva de sangue em pleno salão de baile, as panorâmicas telas emautorretratosna mansão de Dorian Gray, a morte de uma das personagens ao ser queimada viva e as expressões de Brona Croft em seu primeiro contato com o teatro, podem ser livremente classificadas como frames expressionistas, tamanha beleza e simbologia peculiares de cada uma delas.
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A terceira temporada da série terá 09 episódios e estreou nos Estados Unidos no dia 1º de maio, e aqui no Brasil já está sendo exibida pela HBO.
Penny Dreadful carrega em suas entranhas um selo de garantia que começa nos mistérios da própria História, perpassa suave pela atmosfera de enigmas e sedução recriada em uma alvenaria artesanalmente minimalista, e evapora no calor da sua lírica textual, na poesia de suas metáforas mais cruas e em um convite ao deleite generalizado dos nossos sentidos.
Postado em 18 de junho de 2016 no “Feminino e Além”.
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ostrafelipe-blog · 9 years ago
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Cazuza - 58 anos de antimonotonia.
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04 de abril… A idade de Cristo separou nossos exageros, nossas ideologias, nossos codinomes. O quatro de abril que nos repete é o mesmo trevo de quatro folhas que comunga nossa transcendência.
Os impulsos embriagam o corpo e a intensidade transborda na alma em catarse contínua. Entre suas melodias & minhas palavras, Áries orquestra uma parte desse soneto.
Creio em tudo, mas engasgo no acaso! A indiferença e normatividade das suas entranhas são incompatíveis com minha essência onírica.
Há dois anos conhecia seu outro lado, Cazuza! Agenor, que honra germinar em colheita homônima ainda que a fertilidade seja de ventres distintos. Lucinha, a minha, veio do “Ferro”. Lucinha, a sua, veio do “Minho”.  
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Também adoro um amor inventado…
Primeiro, uma menina da escola. Fiz declaração em “carta-aberta”, ganhei um sorriso amarelo e só.
Depois, um menino do palco. Ele sempre ensaiava ao meu lado e fazia questão de tocar na palma da minha mão. Eu fantasiava segredos, o ponto aonde só eu queria chegar.
Platônicos Platões!
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Continuo a sonhar acordado…
O modo in natura que em mim tortura.
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Mentiras sinceras me interessam…
As que ouvi na escola eram sinceras, mas na época não me interessavam.
Hoje, consigo agradecer os rótulos, as gargalhadas e a arte escrota de jogar verdades
prematuras, quando ainda estamos entendendo quem realmente somos.  
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Quando aprendemos que tudo é questão de obedecer ao instinto, encontramos a plenitude do existir.
O resto é sorte e azar…
Os paradoxos do acaso indigesto. Nesse caso prefiro acreditar que os trevos e os frevos fazem parte do nosso show “AMA-DOR”.
Protegi os nomes de mim mesmo. E dia-a-dia realizo a façanha de elocubrar mais vivo do que quando estou morto. No sonho, entro em pranto, desejo o bom das coincidências amorosas e liberto os meus segredos em um liquidificador vintage, vermelho e de quatro lâminas.
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Eu sou um cara…
Que corre na contracorrente do realismo;
Que era o último a chegar ao pódio da aula de natação;
Que não tive namorada, beijava por convenção e no fundo não sentia porra nenhuma!
Não quero que o meu futuro repita alguns passados próximos, que hoje veem a luta de outrora definhar perante o sistema deteriorado.
O tempo não é dinheiro, o tempo não é em vão, ele simplesmente não para.
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Faz parte do nosso show, Agenor…
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Sempre fui de humanas! Aderi à barba, mas antes passei a admirá-la no rosto de terceiros. Tinha predileção pela história não contada, pela filosofia subversiva e com o passar do tempo tive a real noção de que os meus inimigos estão no poder.
(Quem não está quer entrar desesperadamente!).
Eles estão no Planalto e em casa. Sangue do nosso sangue. É a família tradicional brasileira que flameja blasfêmias contra a felicidade alheia, enquanto eu continuo a procurar uma IDEOLOGIA pra me manter VIVO!
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VIVA
CAZUZA!
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Postado em 04 de abril de 2016 no “Ao Avesso”.
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ostrafelipe-blog · 9 years ago
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Os cineastas Fabrício Ramos & Camele Queiroz falam das imersões e rupturas do “Cine Odé – Cinema no Terreiro”.
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Desde janeiro a mostra de filmes “Cine Odé – Cinema no Terreiro” abre as portas do histórico Terreiro de Odé, em Ilhéus-BA, para o acesso gratuito do público com a exibição de temáticos e debates que contribuem para o processo de resistência da cultura cineclubista e na quebra de preconceitos e paradigmas que envolvem as religiões brasileiras de matizes africanas e indígenas.
O projeto é realizado pelo Bahiadoc – Arte e Documento, sob a produção e curadoria dos cineastas Fabrício Ramos e Camele Queiroz, que juntos organizam e estruturam as sessões mensais do cineclube que estimulam a valorização e a convivência cordial e respeitosa entre as diferentes expressões de arte e fé.
Nessa entrevista exclusiva eles falam em uníssono discurso sobre a criação do Cine Odé, suas experiências com o Terreiro, a intolerância religiosa da nossa contemporaneidade e outras temas de grande importância para o “fazer” cinematográfico.
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1.) O “Cine Odé – Cinema no Terreiro” é um projeto que une a cultura cineclubista à um resgate histórico e autoafirmativo do candomblé. Essa intertextualidade entre o cinema e a fé ancestral entre Brasil e África colabora na quebra do imaginário e dos preconceitos que cercam essa religiosidade?
O cinema é expressão também de nossa cultura. Se olharmos com atenção, desde os anos 1950 as tradições afro-brasileiras aparecem no Cinema, mas às vezes de forma ambígua. O cinema Novo, no início dos anos 1960, em filmes de Glauber (Barravento, 1961) e mesmo de Geraldo Sarno (Viramundo, 1965), tendia a considerar a religião, qualquer religião, um fator de alienação do povo. A exceção da época foi “O Pagador de Promessas”, que mostrou uma visão mais simpática do Candomblé e abordou a marginalização e a intolerância das religiões africanas diante de religiões institucionalizadas. Este, inclusive, é o filme de nossa quarta sessão mensal, a sessão de abril, que começa no dia 30. Depois a coisa foi mudando. O próprio Geraldo Sarno fez “Espaço Sagrado” (1976), documentário que passamos na Mostra e que busca revelar e aprofundar o conhecimento de ritos e fundamentos do Candomblé. Glauber também passou a problematizar mais conflituosamente a razão e o misticismo em seus filmes. E muitos outros filmes (desde Nelson Pereira dos Santos até diversos documentários independentes) apareceram revelando visões mais diversificadas, simpáticas às religiões africanas, respeitando a sofisticação da cultura dos Orixás e buscando revelar a riqueza das tradições religiosas que sincretizaram, junto à religião dominante, conhecimentos de origens africanas e indígenas. Portanto, essa rica cinematografia que apareceu com essas outras visões,  inclusive filmes realizados por adeptos das religiões, existe e o problema agora é a lógica do acesso a ela: precisa ser mostrada, exibida, conhecida. Temos a internet que disponibiliza vários desses filmes. Mas a experiência coletiva de ver o filme, essa partilha presencial e, mais ainda, dentro do Terreiro, é poderosa. Acreditamos que o cinema tem um poder sem igual para revelar aspectos da própria vida, das visões sobre a vida, a cultura, a fé humana, e de interferir no imaginário das pessoas e de estimular descobertas e a reconfigurar relações e visões de mundo.
2.) A exibição dos filmes acontece dentro do Terreiro de Odé, em Ilhéus-BA. A acessibilidade do público ao solo sagrado dos orixás e das divindades africanas, foi pensando intencionalmente como instrumento de ruptura do distanciamento entre o espaço religioso e o imaginário humano?
Não foi uma intenção consciente, buscando possíveis efeitos simbólicos ou práticos, embora temos visto que sim, o Cine Odé, a cada sessão, tem diminuído distanciamentos, seja entre moradores do bairro e o Terreiro, entre os filhos de santo da casa e mesmo entre pessoas que nunca tiveram nenhum contato com o terreiro, às vezes nem com a  religiosidade, mas que apareceram lá atraídos pelo Cinema e afirmaram que a experiência foi marcante, pelo filme e pelo local, pelo conjunto de fatores, que impactam o imaginário. O Terreiro de Odé tem uma história muito rica, mas atravessada pela tragédia que foi o assassinato de seu fundador, dentro do Terreiro. Para nós, a história do terreiro não é única, mas emblematiza as histórias de resistência e afirmação que marcam as lutas das religiosidades de matrizes africanas e indígenas por suas permanências. O Terreiro de Odé já não opera como terreiro propriamente. O espaço está lá, depois de enfrentar abandono e situações críticas devido a vários fatores delicados, tentando se manter de pé como um espaço voltado para a o conhecimento da cultura dos Orixás e do seu fundador, Pedro Faria, que teve uma trajetória importante na paisagem religiosa de Ilhéus e em toda a região. Pensamos que a Mostra Cine Odé contribui com a dinamização do espaço, e o próprio espaço, por sua história e beleza, intensifica e amplia o impacto dos filmes, cujas temáticas se ligam à valorização e ao conhecimento das religiões africanas e indígenas. Sob certo ponto de vista, a experiência de ver um filme se relaciona com uma a experiência do sagrado, requer uma certa comunhão, certa imersão. Talvez por isso as conversas livres com o público depois de cada exibição no Cine Odé tenham sido, até aqui, muito intensas e emocionantes.
3.) Em diversos veículos de comunicação – principalmente na internet – vemos casos de violência e desrespeito oriundos de um sentimento de intolerância religiosa cada dia mais intenso e nocivo. Qual o papel que o “Cine Odé” tem nessa luta dos terreiros e seus membros contra as manifestações de ignorância e ausência de alteridade que o candomblé é vítima até os dias atuais?
Esperamos que o Cine Odé, dentro de seus limites, alcance nas pessoas que participarem o mesmo que alcança em nós: não somos adeptos de nenhuma religião, mas nos sentimos gratificados de conhecer e vivenciar, em alguma medida, a riqueza e os mistérios dessas tradições religiosas, que são vívidas, experienciais. Acreditamos que as pessoas não nascem para ser intolerantes e desrespeitosas. Como dizia Pasolini, se referindo aos jovens que se comportavam como fascistas:  “Talvez uma simples experiência diversa na sua vida, apenas um simples encontro, tivesse bastado para que seu destino fosse outro”. Acho que a arte, e o Cinema, são capazes de promover, de favorecer, esse encontro singelo e transformador. Se o Cine Odé tem algum papel, é esse: o de reconhecer o valor desses encontros e de apostar no cinema como um encontro.
4.) As sessões do cineclube são resultados de uma curadoria conjunta entre vocês dois. O processo de escolha dos filmes segue algum método especial, ou ele é exclusivamente guiado por critérios artísticos que definem qual filme será exibido ou não?
O critério primeiro que nos orienta na escolha dos filmes é no sentido de privilegiar a grande variedade de representações cinematográficas na história do nosso cinema nacional com filmes nos quais o universo das religiões de matriz africana é colocado em cena, sejam eles documentais ou de ficção. Outro critério que sempre estamos atentos é mesclar, numa mesma sessão, filmes que se complementem ou mesmo que se contradigam, refletindo as próprias práticas religiosas que, embasadas em tradições orais, se diversificam e se diferenciam de região para região, às vezes até de uma casa para outra. O filme “Santo Forte”, de Eduardo Coutinho, por exemplo, gerou uma discussão enérgica, assim como “Professor Agenor”, de Marcelo Serra e Freddy Ribeiro, que exibimos em março. São filmes que refletem idiossincrasias e visões religiosas diferenciadas, ainda que referenciadas essencialmente pelas mesmas origens. Outro fator que interfere muito nas nossas escolhas é ir sentindo o que mais mobiliza o público e com isso vamos equacionando a programação aos anseios e desejos do público. Para além dos critérios artísticos ou formais, a história do terreiro de Odé nos move em busca de filmes que, de alguma maneira, reflitam e potencializem o caráter de resistência e de reconhecimento da cultura afro-índia. Muitos curtas, por exemplo, são filmes independentes descobertos – ou garimpados – em pesquisas incertas no Youtube, orientadas apenas pela vontade de descoberta de algo novo, às vezes desconhecido, mas que ao assistirmos provocasse algo que harmonize com as razões do Cine Odé.
5.) A idealização do projeto partiu de alguma identificação e/ou experiência pessoal de vocês com a temática ou foi fruto de uma livre escolha de caráter cultural, artístico e social?
O cinema nos aproximou pontualmente do Terreiro de Odé. Em 2003, ano da morte de Pedro Faria, Fabricio fez um curta sobre religiosidade em Ilhéus. Não conhecia Pedro Faria nem o terreiro, nem pôde entrar ou falar com ninguém lá, porque o terreiro estava de Luto. Dez anos depois, retomamos o mesmo tema daquele curta e voltamos a Ilhéus, sem saber o que encontraríamos nem sequer fazer contato prévio com alguém ligado ao terreiro. Mas chegando em Ilhéus, a experiência de fazer o filme se transformou em um processo de descobertas. Resultou no nosso curta “As Cruzes e os Credos”, finalizado em 2014. Fazer o filme nos aproximou de Maria Marta, filha de santo de Pedro Faria e liderança que, com a ajuda de algumas pessoas, luta para manter de pé o terreiro de Odé. Surgiu uma relação de amizade que nos levou a pensar em realizar o projeto: exibir filmes no Terreiro, promover conversas sobre os filmes e ver a casa cheia de gente e de ideias, se não em torno de um evento religioso, em torno de um evento cultural e artístico, com impacto social.
6.) O “Cine Odé” estimula a valorização e o conhecimento das culturas religiosas brasileiras de matizes africanas e indígenas, e teve apoio financeiro do Fundo de Cultura da Bahia, através do edital público de Agitação Cultural 2015 da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SECULT). O apoio dos órgãos públicos à projetos engajados na propagação de conhecimento e na facilitação do acesso à novas culturas e produtos culturais diversificados, seria um dos vieses importantes e eficazes nesse combate ao preconceito e ao ódio religioso?
Contra o ódio, a arte. E a arte e a cultura precisam de estímulos para se concretizarem, tornando as políticas públicas culturais cruciais para o desenvolvimento cultural, a diversificação de iniciativas e para a criação artística. Os editais públicos são mecanismos de democratização do acesso aos recursos governamentais. Trata-se de um mecanismo em disputa e compete à sociedade e aos agentes do setor cultural propor e definir as políticas culturais mais democráticas e adequadas, considerando essa uma luta política e social relevante, e não uma dádiva governamental. Por isso, os mecanismos como os editais devem ser debatidos, criticados, repensados e melhorados continuamente, regulamentados como Lei, e não como mera política de governo, suscetível de ser interrompida a qualquer tempo. O fato é que o Cine Odé só é possível por conta dessas políticas, no caso, do Governo do Estado, através da Secretaria de Cultura e do edital de Agitação Cultural, que inclusive enfrenta vários problemas e protestos por conta de falhas em encaminhamentos da secretaria, apontadas por vários proponentes. O nosso projeto aconteceu, mas também enfrentou sérios problemas frente à Secult. Isso mostra que, por um lado, os editais são suscetíveis de falhas e precisam ser melhorados, tanto na gestão técnica, gerencial e conceitual quanto na transparência do processo, e por outro, que é importante que eles existam e dinamizem urgente e democraticamente a nossa produção cultural. É esse o desafio político de todos aqueles que querem realizar a Cultura através de ações e expressões concretas.
7.) Façam um convite especial para os cinéfilos, os admiradores da cultura do candomblé e as pessoas que lá no fundo ainda guardam um certo receio em relação as práticas religiosas dos terreiros, para irem até Ilhéus e conferirem as próximas sessões do “Cine Odé – Cinema no Terreiro”.
O Cine Odé, que começou em janeiro e vai até junho, acontece sempre no último final de semana de cada mês, lá em Ilhéus. As sessões tem apresentado filmes diversificados e um público crescente. A Mostra oferece uma Van para facilitar o acesso do público ao Terreiro de Odé, que fica no Alto do Basílio, cujo acesso não é difícil, mas também não é tão fácil (é preciso subir uma boa ladeira). A casa já não funciona como um Terreiro, mas quer se consolidar como espaço cultural voltado para o conhecimento da cultura dos Orixás e que preserve também a memória de seu fundador, Pedro Faria. Apesar de ser tombado pela Prefeitura de Ilhéus, somente de poucos anos para cá o Terreiro se recuperou, com muita luta, do estado de abandono. Por tudo isso, a presença de cada um é vital. A cada sessão, contamos com a participação de uma convidada ou convidado especial para conversar depois das exibições: artistas, pesquisadores, amigos do terreiro etc. Os filmes que temos escolhido valorizam o interesse e a participação ativa do público e a participação não requer qualquer tipo de aprovação. Ao contrário, a crítica e o debate, sempre respeitosos, são desejados também, aliás, são imprescindíveis, fica aí a nossa provocação. Por tudo isso, as experiências nas sessões têm sido marcantes e queremos que sejam ainda mais. Todos estão convidados a vivenciar o cinema como “espaço sagrado” da arte em relação direta com a vida e com as realidades sociais concretas que, em meio à resistência e afirmação, demonstram profunda identificação com a arte e a expressão cinematográfica. Toda a programação e informações sobre as sessões da Mostra podem ser acompanhadas no site do projeto Cine Odé e na página da Mostra no Facebook, para os adeptos da rede social. Garantimos apenas que a alegria pela participação de cada um será mútua!
Postado em 14 de abril de 2016 no Cinem(AÇÃO). 
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ostrafelipe-blog · 9 years ago
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Entrevista com a atriz Jéssica Ellen, a “Rose” de “Justiça”.
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Justiça, uma das grandes apostas da Globo em 2016, estreou essa semana de forma arrebatadora! Com um roteiro original e uma narrativa minuciosamente entrelaçada pela autora Manuela Dias e arquitetada pela direção viva de José Luiz Villamarim, a série já é sucesso de crítica e público. Dominou as redes sociais!
Com um elenco repleto de atores consagrados da TV e do Cinema (Adriana Esteves, Debora Bloch, Enrique Diaz, Cassio Gabus Mendes, são alguns exemplos), fomos surpreendidos também pela qualidade do elenco de jovens atores e atrizes. Entre elas, a entrevistada da Leitura em Série, a atriz carioca (24), Jéssica Ellen. Revelada em Malhação entre 2012/2013, ela emendou duas novelas das 19h (Geração Brasil e Totalmente Demais), e em Justiça faz sua estreia no gênero das séries, no horário nobre e como protagonista.
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1) Em Justiça, você dá vida a Rose, uma jovem que é presa injustamente por porte de drogas. Na batida policial ela é pega com os pertences da amiga Débora, personagem da Luísa Arraes, e não consegue provar que trata-se de um mal entendido. Você vê contradições entre essa “justiça” que condena a Rose e milhares de pretos e pobres no nosso país e a “justiça” que deixa a elite criminosa impune?
Na verdade, Rose, assim como os outros jovens da festa, também está consumindo drogas. Quando elas vão comprar com o Celso, metade fica com Rose, e a outra metade com Débora. Mas, quando a polícia chega só revista os negros, Rose é presa por isso. A cena está denunciando o que acontece diariamente em todo o país. Parece que a lei “só funciona” pro lado mais fraco. Enquanto muitos bandidos de terno ainda estão soltos por aí…
2) Depois de sete anos na cadeia, Rose é solta e reencontra a prova real de tal injustiça. Apesar de amigas e terem sido criadas juntas, elas representam relações antagônicas da sociedade brasileira (negra X branca, pobre X rica, patroa X empregada…). Na sua opinião, qual a origem da desigualdade social que segrega a sociedade? Quais ações e reações podem minimizar essa realidade?
Bom, a origem dessa segregação é histórica. O Brasil foi um dos últimos países a abolir a escravidão, e vemos esse reflexo ainda hoje na nossa sociedade. Os negros ainda são os que ocupam os cargos de sub emprego, ainda são os que muitas vezes são mortos “confundidos” com bandidos (a música “A Carne Mais Barata” diz isso em cada verso). E do outro lado, existem pessoas que, embora declare vontade de mudar esse reflexo na nossa sociedade, ainda não abriu mão de uma vida de “sinhô ou sinhá”, cheia de privilégios. Acredito que a única maneira de mudar essa realidade é investir na educação de berço. Existem muitos projetos sociais que envolvem artes ou esporte. Daí a criança pobre sonha em ser artista de TV, ou jogador de futebol. Mas precisamos abrir o olhar, e ampliar o leque. A criança negra tem que crescer acreditando que ela pode ser tudo o que quiser: médica, professora, advogada… E não só pensar que as únicas maneiras de mudanças, sejam através da arte ou do esporte (embora eles sejam fundamentais).
3) A história tem um protagonista diferente a cada dia da semana, ao longo dos 20 episódios. Esse revezamento narrativo entre os episódios é uma das inovações da série escrita pela Manuela Dias e dirigida pelo José Luiz Villamarim. Sua personagem compõe o núcleo das quintas-feiras. Qual a importância do protagonismo negro nas produções audiovisuais brasileiras? Como a Jéssica Ellen mulher, negra e artista vê esse processo árduo e vagaroso de inclusão do negro na cena artística?
A importância do protagonismo negro no audiovisual é FUNDAMENTAL. A TV ainda é a plataforma que mais comunica a massa, e ainda não vemos em números, essa representatividade presente. E quando vemos negro no lugar de protagonismo, geralmente está numa posição marginal, e isso também precisa mudar. Precisamos educar o olhar do público, e colocar o artista negro ocupando lugares de destaque, mas sem está à margem. Sonho com o dia, em que eu pegue um roteiro, e ao lado do meu personagem não esteja escrito a cor da minha pele. Porque com os outros personagens isso não acontece. Nunca está escrito ao lado, por exemplo, a palavra “branca, ou branco”.
4) Seus trabalhos anteriores foram em 03 novelas (Malhação, Geração Brasil e Totalmente Demais) e Justiça marca sua estreia no rol das séries Qual a expectativa? Atualmente existe uma discussão muito forte em torno dos gêneros de produtos audiovisuais. Enquanto uns defendem uma reinvenção, “serializando” a fórmula tradicional das telenovelas, outros são adeptos da teoria de que “novela é novela”. Você como atriz tem algum posicionamento formado com relação a isso?
Eu acredito que tenha espaço para todo mundo! Rs mas não podemos ignorar essa nova geração que já nasce com o dedo no touch. Tenho primos mais novos, e não adianta, eles não assistem TV. Estão sempre na internet, vendo coisas pelo computador. Já minha vó, assiste bastante TV. Eu, sendo uma atriz jovem, Rs achei ótimo entrar no rol das séries. Mas meus trabalhos anteriores foram novelas!!!! Uma coisa leva a outra e vise e versa. O público da série, não é o mesmo que acompanha as novelas. Agora, tem esse  público que só acompanha pela internet, precisamos dar atenção a ele!
5) Em entrevista ao jornal O Globo a Manuela Dias contou que apesar de estarem em núcleos distintos os personagens da série acabam se interligando espacialmente “A protagonista de segunda-feira é uma coadjuvante na terça, uma figurante na quinta e tem uma aparição relâmpago na sexta”. Essa alternância dramatúrgica faz com que a história tenha uma unidade e acentua o tom realista da obra. Como foi sua composição pra personagem? Houve alguma preparação específica com o elenco pra uma melhor compreensão dessa teia humana tecida na linha tênue e subjetiva da ética e das leis?
Tivemos uma preparação intensa com o Chico Accioly! Baseado na proximidade e distanciamento dos personagens com a gente, em improvisos longos, onde surgiam coisas maravilhosas que levamos pra cena. O trabalho com ele foi fundamental.
6) Além da série, tem mais algum projeto para este ano?
A princípio não!
Postado em 27 de agosto de 2016 no "Feminino e Além”. 
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ostrafelipe-blog · 9 years ago
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ENTREVISTA 🎬 MARIA CLARA SPINELLI, ATRIZ. | ROCHAS EM CORES🌈 |
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Desde os primórdios da Humanidade a Arte dialogava com os paradoxos do corpo e as formas de expressar curvas, beleza e mistérios. Hoje, na contemporaneidade de apetite voraz e proporção industrial, os discursos da diversidade de gênero rompem gradativamente o cárcere da censura e são debatidos com maior frequência e profundidade. O  chavão popular de que “ator não tem sexo” e o sensacionalismo midiático no “galã X que não pode assumir, mas é gay!” mostraram-se irrelevantes na discussão que precisa ser feita às luzes das questões de identidade de gênero em uma sociedade cuja produção (Teatro, Cinema e TV) foi historicamente guiada por um sexismo cultural que corrói as estruturas de criação e limita o recorte narrativo e o poder de reverberação das obras.
O equívoco na gênese de personagens homoafetivos é autenticado na construção de uma alvenaria vazia e superficial, que projeta os gays exaustivamente sob a cartilha de estereótipos da “bicha-engraçada” e do imaginário extremista da mulher masculinizada ou da fantasia erótica, no caso das lésbicas. Mais preocupante que essa distopia narrativa culturalizada pelos veículos de comunicação, vendida pelo mercado e comprada pelo telespectador, é o silêncio quanto aos transgêneros. Incluí-los de forma orgânica na conjuntura da psique da sexualidade humana, e ao mesmo tempo expandir o mercado através de oportunidades igualitárias é uma luta árdua e muitas vezes dolorosa, pra quem é artista no Brasil.
A entrevistada da vez é uma das atrizes que simbolizam a visibilidade e o espaço conquistado por artistas trans nas produções audiovisuais brasileiras nos últimos anos, Maria Clara Spinelli.
“Escutei seu nome pela primeira vez na avalanche de notícias sobre o filme “Quanto dura o amor?”. Comprei o DVD com tamanho desejo que nem lembrei que Blu-ray só funciona no aparelho específico. Mais de 01 ano depois e amando consegui assistir a obra do cineasta Roberto Moreira e eis que, enfim, pude conhecer a tão comentada Maria Clara. O roteiro tinha uma premissa interessante, que se perdeu em personagens mal construídos e acima do tom e relações forçadas. A salvação e o melhor da história foi a atuação dela, na pele de Suzana, uma advogada que tinha um relacionamento amoroso com Gil, personagem vivido pelo ótimo Gustavo Machado (a química entre eles foi das melhores e torci por um final feliz). O nu frontal em uma das suas cenas foi sensível, emblemático, mas não sobrepôs seu talento da atriz. Mérito do diretor e da atriz que a partir daí me encantou!”. (griphos meus)
Em 2013, ela participou da novela “Salve Jorge”, como a traficada Anita, e hoje, volta a TV no elenco da série “Supermax” como a empresária “Janette”. (E confesso, que estava na torcida pra que ela fosse a protagonista de “A Flor da Pele”, próxima novela de Glória Perez, que terá uma transexual como uma das protagonistas e abordará de forma inédita na TV a temática da identidade de gênero).
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#RochasEmCores🌈 apresenta MARIA CLARA SPINELLI.
1.) Em “Supermax”, série que marca a incursão da TV Globo no gênero do terror, você dará vida a “Janette”, dona de uma rede de salões de beleza. Ela viveu uma infância de privações, teve que lidar com o alcoolismo e a não aceitação do pai e fugiu de casa. Seu processo de criação foi realizado sob quais referências?
Todo personagem, em princípio, está dentro de nós mesmos. O ser humano, no fundo, é muito parecido. A busca pela aceitação, o desejo de ser amado, a necessidade de criar vínculos e conquistar segurança, etc… O que muda, para mim, é a forma com que cada pessoa (personagem) lida com tudo isso, juntamente com seus medos e traumas… Tentar se colocar no lugar do outro não é tão difícil assim… E, quando tentamos isso, descobrimos que há mais do outro em nós mesmos do que imaginávamos. Janette não é uma mulher tão diferente das muitas que convivemos durante toda a nossa vida… É assim que eu a vejo. E, além de tudo isso, tive a oportunidade (graças às coincidências da vida) de ter contato com uma mulher muito parecida com ela, profissional, social e emocionalmente, que me deu o ponto de partida pra criar a minha Janette.
2.)  Você é de Assis, interior de São Paulo, trabalhava no teatro e no funcionalismo público e ganhou inúmeros prêmios no teatro e no cinema (Mapa Cultural Paulista – 2003/2004, Festival Paulínia de Cinema – 2009, Hollywood Brazilian Film Festival e Mônaco Charity Film Festival em 2010). Conquistar esse mesmo espaço na televisão, onde os padrões ainda são conservadores é um trabalho árduo?  O que é necessário pra que a TV brasileira quebre barreiras e estereótipos artísticos?
Conquistar esse mesmo espaço e reconhecimento na televisão, onde os padrões ainda são conservadores, é um trabalho árduo. É natural que o novo assuste, incomode… Eu, particularmente, também sou uma pessoa conservadora, como a maioria. E por que não seria? Muitas pessoas me olham e esperam de mim posições fora dos padrões de comportamento social vigente. Talvez essas pessoas se esqueçam que também fui criada na mesma sociedade e cultura que elas… Eu aprendi, e estou aprendendo, a vencer meus próprios preconceito, e  o medo do novo também. Estou aprendendo porque vivo na pele a exclusão emocional e social, mesmo que velada, porque sou uma mulher branca, de classe média, com formação superior… Mas que também nasceu transexual. Portanto, talvez o meu caminho seja muito mais difícil… Porque não venho, nem me sinto pertencer, a uma classe marginal, embora me sinta excluída pela sociedade em que nasci… E, embora excluída, é esta a sociedade da qual eu quero fazer parte. Mas não como uma mulher de segunda categoria, nem como uma atriz de segunda categoria, nem como uma cidadã de segunda categoria. As barreiras e estereótipos já estão sendo quebrados…
3.)  Atualmente existe uma discussão muito forte em torno dos gêneros narrativos, Enquanto uns defendem uma reinvenção, “serializando” a fórmula tradicional das telenovelas, outros são adeptos da teoria de que “novela é novela”. Você, como telespectadora, acha que é possível a linguagem de “Supermax” ser absorvida pelas novelas?
Não sei… Se quando se fala em novela, estamos falando em um produto destinado às grandes massas, talvez “Supermax” seja demais para públicos de todas as faixas etárias,  por exemplo.  Mas não acho que uma coisa tenha que necessariamente ser absorvida pela outra. Há quem possa gostar de uma, outra ou de ambas.
4.) Para além da pesquisa, você, como telespectadora, tem assistido alguma produção do gênero o terror/suspense? Quais nos indicaria?
Não são gêneros que me agradem em especial. Neles, ainda fico com os clássicos. Mas também amo séries, como “Homeland” ou “Orphan Black”.
5.) Além da série “Supermax”, tem mais algum projeto para este ano?
O telefilme “A Felicidade de Margô”, dirigido por Maurício Eça, com roteiro de Paulo Garfunkel e Theo Garfunkel, baseado em crônica de Dráuzio Varella. Filme este que participa de um projeto envolvendo nove países que falam o idioma português, onde cada país produziu um filme. Todos os filmes serão lançados simultaneamente nos nove países. No Brasil, deve ser exibido pela TV Brasil.
Acompanhem a Maria Clara Spinelli como “Janette” na série “Supermax”, todas as terças-feiras, às 23h, na TV Globo.
Postado em 4 de outubro de 2016 no Cinem(AÇÃO).
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ostrafelipe-blog · 9 years ago
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Gaby Haviaras fala sobre sua personagem e a 2ª temporada de “Conselho Tutelar”.
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O que é o conselho tutelar?
O que faz um conselheiro tutelar?
Se você não trabalha em algum dos mais de 5 (cinco) mil órgãos tutelares espalhados pelo Brasil, se não precisou do serviço de nenhum conselheiro e/ou ainda não assistiu a 1ª temporada da série exibida pela RecordTV em dezembro de 2014, com certeza terá dificuldade em responder as perguntas acima.
O ineditismo de Conselho Tutelar, obra assinada por Marco Borges, com a direção geral do experiente Rudi Lagemann, o Foguinho, (REBELDE, CHAMAS DA VIDA, ANJOS DO SOL) é um dos chamarizes dramatúrgicos do projeto. As histórias baseadas em fatos reais mostram o papel do conselho tutelar na garantia dos direitos das crianças e adolescentes, e expõe de forma emocionante e realista um cotidiano de agressões e abandono.
A série – uma coprodução da RecordTV com a Visom Digital e a NBC Universal – é gravada em tecnologia 4K – e foi sucesso de público e crítica na sua primeira temporada. Nessa segunda, composta por mais cinco episódios, novos casos serão abordados e a conturbada vida pessoal dos conselheiros Sereno (Roberto Bomtempo) e Cesar (Paulo Vilela) continuará tendo destaque e maiores contornos.
Entre os grandes nomes do seu elenco principal como: Petrônio Gontijo, Paulo Gorgulho, Andrea Neves, Cássia Linhares, está a atriz catarinense Gaby Haviaras. Convidamos a interprete da assistente social “Lídia”, para uma entrevista exclusiva sobre a segunda temporada da série, do processo de criação da sua personagem, das novidades dos novos episódios e seus outros projetos para 2016.
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FF: Conselho Tutelar toca de forma inédita em uma temática social importante, porém pouco conhecida que é a assistência às crianças e adolescentes, e pra isso expõe as feridas de uma realidade cotidiana de agressões, maus tratos, violência psicológica e abandono. Como a Gaby Haviaras, atriz e cidadã vê essa abordagem?
Gaby Haviaras: Com extrema importância!!! Acho que a série, além de um produto dramatúrgico de qualidade, faz um grande serviço social de informação. Nós brasileiros somos carentes de cidadania, de civilidade. Muitas vezes não sabemos nossos direitos e deveres, por sermos mal informados e acomodados. A grande maioria do público não sabe que tem o direito de votar no conselheiro tutelar da sua região, que pode sim, ir até um CT se informar quem são estes profissionais. As eleições teriam que ser nacionais e com divulgação ampla no país. Mas isso não acontece. Ficamos achando que é um pequeno serviço de assistência que está lá em algum lugar. Que só procuramos saber quando alguém próximo no próprio seio familiar se faz necessário.
FF: Um dos pontos fortes da série, além das qualidades técnicas, é o caráter realista – ainda pouco explorado pelas emissoras de TV aqui no Brasil – e o trabalho cuidadoso realizado pela direção do Rudi Lagemann e sua equipe com as crianças em cada um dos episódios. Como foi essa preparação para vocês atores experientes? Tratar de temas tão fortes e densos com crianças demanda um trabalho de ator diferenciado?
GH: Não sei se diferenciado, mas talvez mais sensível e mais atencioso. As crianças são a temática deste trabalho, o foco, os protagonistas, nós somos os coadjuvantes para elas contarem estas dramáticas histórias. No set de gravação temos diariamente crianças em cena, desde a figuração até os atores mirins que representam as histórias. Então desde o momento que estamos fora da gravação a construção da boa relação com as crianças só engrandece o trabalho, um bom papo, saber do que ela gosta de brincar, falar o que estamos fazendo juntos ali. Quando se cria esta relação fora de cena conseguimos ir juntos para cena, ajudá-los, porque há cenas difíceis com eles. E há um cuidado enorme por conta do Rudi Lagemann em conduzir estas crianças no set, o tempo todo há carinho, conversa, brincadeira, condução delicada. E por lei crianças não podem gravar determinadas cenas que estejam presentes violência e arma de fogo. Então é um quebra cabeça para deixar as cenas reais e emocionantes e o Rudi conduz isso lindamente.
FF: A primeira temporada da série exibida em 2014 teve apenas 05 episódios e ficou claro para todos – audiência e crítica – que o produto tinha potencial dramatúrgico para muito mais. Nessa 2º temporada vem uma leva de mais 05 episódios e uma 3º temporada já está aprovada (nós agradecemos!). Em sua opinião, do ponto de vista artístico e de mercado, fazer um produto de temporadas tem mais prós ou contras?
GH: Pergunta difícil! Acho que são muitos pontos de vistas! Do artístico penso que seria interessante estudar, preparar e gravar os 15 episódios direto, na minha opinião. Por conta da imersão no tema, nas relações, nas histórias que vamos gravando ao longo dos dias e o que isso nos provoca enquanto processo artístico. No correr dos dias de gravação vamos ficando mais maleáveis, vamos nos entrosando melhor, conhecendo cada elenco novo de cada episódio. A continuidade e fluência só beneficiam o nosso trabalho. E na verdade a ideia inicial da produtora era esta, gravar todos direto. Mas por uma questão de mercado não foi assim! Em termos de mercado acho interessante termos temporadas. Cria expectativa, audiência e até abstinência, rs! Mas acho que só 05 episódios fica pouco, queria mais do que 05 por temporada! rs
FF: A primeira vez que a “Lídia”, sua personagem, apareceu em cena me foi inevitável lembrar daquelas atendentes do cartório e outros órgãos do gênero. A personagem representa bem o funcionalismo público exaurido, desestimulado e descrente com a própria instituição, com uma deliciosa dose de humor e ironia. Como foi o trabalho de criação em torno da Lídia? Há alguns pontos de semelhança da personagem com você?
GH: Foi uma criação desafiadora, a Lidia é bem distante de mim. Mas como todo bom desafio foi gostoso. Na minha semana de laboratório no CT da Rocinha, fui me envolvendo demais, sofri, questionei o ser humano sobre o que ele é capaz, tive impulsos de virar uma justiceira e notei o quanto seria difícil representar o oposto. Eu tive uma sorte imensa de ter uma primeira conversa com uma assistente social que me respondeu: “Não posso te ajudar muito, fui colocada neste cargo apenas a uma semana, não sei muito bem o que faço aqui, não sei ainda o que faz uma assistente social num conselho tutelar, to aqui cumprindo ordens porque sou concursada”. Mal sabia ela que tinha me ajudado mais do que imaginava, ela me deu a Lídia de saída! Fui criticada por construir uma assistente social burocrática, mas ao mesmo tempo acho importante retratar e humanizar os personagens, pois quantos funcionários públicos nos atendem deste jeito, sem gosto pelo que estão fazendo? Há pessoas assim por toda parte. O grande retorno que tive é que esta mesma assistente social que conversei, quando ela assistiu a serie ela se viu, refletiu e mudou o seu comportamento. Foi bem legal saber disso! E nesta segunda temporada Lidia tem surpresas!
FF: Nessa 2º temporada o que podemos esperar da “Lídia”, dos episódios de “Conselho Tutelar” e dos novos projetos da Gaby para 2016?  
GH: Lídia está mais atenta aos acontecimentos do CT. Continua com sua eficiência ajudando os parceiros a conduzirem e solucionarem os casos. Nesta segunda temporada ela sai mais, vai ao abrigo, luta um pouco mais pelas crianças, claro que com seu jeito humorado e irônico. Mas digamos que tem um raio de sol saindo por trás da nuvem! rs E para 2016 espero ansiosamente para ler e gravar a terceira temporada, que já fiquei sabendo que é transformadora. E em maio estreio no Rio de Janeiro um espetáculo chamado “Vai dar Samba?”. Eu e Raphael Vianna contando uma história de amor dentro de uma gafieira, coreografados pro Carlinhos de Jesus e dirigidos por José Lavigne. E claro o que mais aparecer… 
Postado em 4 de janeiro de 2016 no “Feminino e Além”.
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