#𝒘. 𝒗𝒊𝒕𝒕𝒐𝒓𝒊𝒐.
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Caminhava devagar, tentando manter o mundo girando o mínimo possível. A claridade já me incomodava — e isso que o céu estava meio cinza, como se Monteluna também tivesse exagerado no vinho na noite passada. Sábado de manhã e as ruas já estavam vivas, pulsando. A Piazza Centrale fervilhava com os moradores montando as barraquinhas. O cheiro de pão recém-assado e café fresco se misturava com um som abafado de martelos, de coisas sendo construídas ou penduradas, sei lá. Os panfletos espalhados pelos postes — que ontem eu só conseguia ler entre um piscar demorado e outro — anunciavam com o tradicional evento de Páscoa. Haviam fitas coloridas nas sacadas, as árvores exibiam bandeirinhas e luzes, e até os vasos de flores pareciam perfeitos. Mas minha cabeça latejava. Tudo era bonito demais, vivo demais. Estímulos que me faziam querer rastejar de volta pra cama e me esconder debaixo das cobertas. Só que meu estômago tinha outros planos. E, francamente, ele gritava mais alto do que minha dor de cabeça. Passei por uma roda de crianças rindo, por uma senhora discutindo com o neto sobre o preço do queijo, até que, no meio da multidão, senti um puxão agudo na cabeça. ━━━━━━━━ Ai! ━━━━━━━━ grunhi, virando de lado com o susto, já pensando que alguém tivesse tropeçado em mim ou tentado arrancar meu cabelo de propósito. Mas não. Lá estava ela. Uma bebê rechonchuda, de sorriso escancarado, dedos pequeninos bem enfiados no meu cabelo. Ela me olhava com olhos brilhantes, completamente satisfeita com a confusão que tinha acabado de causar. ━━━━━━━━ Oi, docinho… pode soltar o cabelo da tia? ━━━━━━━━ forcei um sorriso, tentando parecer mais simpática do que a ressaca deixava. Atrás da pequena estava o pai. E que pai. O tipo de homem que parecia ter saído de um editorial caro de moda italiana. Em uma das mãos, uma cestinha rosa com orelhas de coelho — provavelmente da bebê, pensei. E na outra, claro, segurava a menina, agora minha nova cabeleireira particular.
Monteluna estava em festa. E Vittorio Gaggero estava... presente. Usava um suéter bege de cashmere com as mangas cuidadosamente dobradas até os antebraços, e seus sapatos reluziam mesmo pisando no paralelepípedo antigo. Uma mão segurava uma pequena cestinha rosa com orelhas de coelho — que era de Ludovica, óbvio —, e a outra segurava a criança em seu colo. ❛ Tutta questa scenografia per gente che maltrata persino a simetria dos beirais…¹ ❜ Murmurou, baixinho, mais para si do que para alguém em específico. Estava cercado por barracas, risos e vozes que não conhecia. Novos rostos, novas intenções. Alguns vinham de fora com seus sonhos de recomeço e ideias mirabolantes para “renovar” Monteluna. Segundo Vittorio, o que esses amadores queriam mesmo era mutilar o que existia de belo com tons pastéis, janelas redondas e azulejos baratos. Toscani de Pinterest, todos eles. ❛ Ti piace, figlia? ² ❜ Questionou com um sorriso para a bebê em seu colo, que apesar de não entender, devolveu o sorriso banguela para ele. Era sua primeira páscoa, e isso era o que amenizava o mau humor de Vittorio.
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