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Ri tambĂ©m, meio sem querer, quando ouvi a gargalhada da Chiara. Aquela risada escancarada, sem vergonha de ser alta, me pegou de surpresa. Achei que ia se ofender, ou no mĂnimo me julgar como essas senhorinhas que me olham atravessado toda vez que passo com o cabelo bagunçado ou um vestido curto demais pro gosto delas. ââââââââ TĂĄ. Eu odiei um pouco, confesso. ââââââââ Levantei as mĂŁos como se fosse me render. ââââââââ Mas pelo menos tentei, nĂŁo tentei? ââââââââ Inclinei a cabeça, ouvindo enquanto ela falava. ââââââââ Eu nunca me esforcei muito pra me encaixar. ââââââââ Encarei o doce meio mastigado na mĂŁo. ââââââââ Monteluna me fez pensar nisso, nĂŁo sei. Talvez porque tudo aqui parece jĂĄ ter o seu lugar. ââââââââ Soltei um suspiro. Sincero. ââââââââ Mas, valeu por dizer aquilo. ââââââââ Olhei ao redor, as bandeirinhas balançando no vento, os cheiros e os sons todos misturados num caos organizado. As vozes, os risos, atĂ© o tilintar de moedas trocando de mĂŁos. ââââââââ As velhinhas maldosas eu ainda vou colecionar.ââââââââ Puxei mais um doce, um diferente. Menor. Menos enfeitado. Dessa vez, encarei a missĂŁo com menos expectativa e mais curiosidade. ââââââââ Se for ruim de novo, vou fingir atĂ© o fim. ââââââââ Dei a mordida. E dessa vez⊠nĂŁo era tĂŁo ruim. Talvez fosse atĂ© bom. Ou talvez eu sĂł estivesse começando a me acostumar. EntĂŁo, de um segundo para outro, um choro veio de repente â agudo e fininho. Um garotinho, pequeno demais pra estar sozinho, em lĂĄgrimas no meio da praça, os confetes espalhados aos pĂ©s como se o mundo tivesse desmoronado ali mesmo. NĂŁo pensei. SĂł fui. Me agachei perto dele, tentando parecer menos estranha e mais... humana. ââââââââ Hey... hey. TĂĄ tudo bem? VocĂȘ tĂĄ machucado? ââââââââ Perguntei, a voz mais doce do que eu sabia que conseguia fazer soar. Ele balançou a cabeça, fungando alto, e apontou para algum lugar no meio da multidĂŁo. Era confuso, e eu entendi que ele tinha se perdido da mĂŁe. Olhei pra Chiara, ainda meio perdida no que eu sentia sobre ela. Talvez fosse a primeira pessoa que me fazia sentir menos deslocada desde que cheguei. ââââââââ Vem comigo? A gente ajuda ele a encontrar a mĂŁe!
Ao acompanhar as expressĂ”es da mulher, conseguiu perceber de imediato que ela nĂŁo tinha gostado mas fez o possĂvel para manter a expressĂŁo neutra para esperar e ver o que ela falaria; apĂłs a ouvir acabou soltando uma gargalhada que chamou atenção atĂ© dos vendedores da barraquinha "VocĂȘ odiou..." a encara com ainda um sorriso nos lĂĄbios, completamente entretida pela tentativa da outra em concordar com sua opiniĂŁo. Em um momento de boas intençÔes que talvez culparia pelo feriado cristĂŁo, abriu a boca de novo "sabe, vocĂȘ tĂĄ num lugar novo, nĂŁo acho que se encaixar deva ser seu objetivo..." para por alguns segundos, uma expressĂŁo contemplativa no rosto "espero que se acostume com o aqui mas que nĂŁo deixe de ser vocĂȘ, Mannon." abre um sorriso gentil ao dirigir a garota o comentĂĄrio que queria ter ouvido a chegar ali "apesar das velhinhas serem bem maldosas no inĂcio, elas se acostumam..." dĂĄ de ombros, pegando um de seu doce favorito para o jogar inteiro na boca "e com certeza ainda vai achar alguma coisa gostosa por aqui."
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€â đđ„đšđŹđđ đ đĄđđđĄđđ âą @subtextboy.
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đŒđ, đđđđđŸ đœđŸ đœđđđđđđ.

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€A praça tinha aquele ar de coisa improvisada demais. Luzes penduradas por fios visivelmente frĂĄgeis, caixas de som que chiavam quando o vento mudava de direção. Um homem cantava uma canção. Eu encostei no canto, braços cruzados, sem muita intenção de ficar. Mas aĂ meus olhos encontraram o cartaz, torto, pendurado com fita crepe. "a partir de 19h" Sorri de lado. O tipo de coisa que me pegava de jeito â feito carta escrita. Minhas mĂŁos jĂĄ estavam Ășmidas. Os pĂ©s, inquietos. Era idiota, mas eu sentia aquele velho calor subir pelo corpo como um reflexo involuntĂĄrio.
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€NinguĂ©m se levantou quando o cantor terminou. E antes que eu mesma pudesse me convencer do contrĂĄrio, dei dois passos. Depois mais dois. E quando percebi, estava subindo o palco como se tivesse sido chamada. O adolescente do microfone â uma criatura franzina com um bonĂ© vermelho torto e um sorriso inseguro â apenas fez um gesto com a cabeça. Tomei o centro do palco. Senti o chĂŁo ceder sob meu peso. Respirei fundo. O som da praça se apagou. A brisa leve carregava o cheiro de algodĂŁo-doce e alguma coisa frita. Mas ali, de pĂ©, o mundo estreitou atĂ© caber dentro do silĂȘncio da minha garganta. E eu falei.
ââââââââ Il nây a pas de honte Ă aimer trop. Il nây en a que dans le silence. ââââââââ Minha voz saiu limpa, firme, como se tivesse estado presa ali o tempo todo, sĂł esperando a chance de respirar. Comecei a andar devagar pelo palco, me permitindo cair no corpo da personagem. Uma mulher despedaçada. Um amor abandonado. Cada palavra saĂa rasgando por dentro, como faca bem afiada.
ââââââââ Je me suis noyĂ©e dans ton absence. Et mĂȘme ça, tu ne lâas pas vu. ââââââââ Me inclinei levemente, mĂŁos tremendo em gestos contidos, olhos voltados ao horizonte de uma dor inventada â mas que ainda era minha, de alguma forma. A plateia ficou quieta. TĂŁo quieta que eu ouvia o papel do cartaz balançar ao vento. Fiz a pausa certa. O silĂȘncio certo. E o fim veio como deveria. ââââââââ Je tâattends encore. Idiotement. EntiĂšrement.
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€Curvei o corpo em um gesto mĂnimo, quase imperceptĂvel. Um agradecimento mudo. Eles ficaram confusos. A primeira palma demorou, depois veio outra, e entĂŁo cessaram rĂĄpido, como se o pĂșblico nĂŁo soubesse se eu deveria ser aplaudida jĂĄ que esperavam outra canção. Eu nĂŁo me importava. Desci do palco com o coração batendo errado, o sangue quente, os olhos marejando sem permissĂŁo. Continuei andando. Montelune parecia menor agora. Ou eu, talvez, um pouco maior.
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€â đđ„đšđŹđđ đ đĄđđđĄđđ âą @pagliarvlo.
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€â đđđș đœđŸ đđđđđŸđ
đđđș, đđđđđŸ đœđŸ đđșÌđ»đșđœđ.

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€As pedras da calçada eram disformes, velhas, provavelmente da mesma Ă©poca em que Montelune foi fundada. Eu devia ter prestado mais atenção, mas estava ocupada tentando equilibrar duas sacolas de compras, o vinho barato e a prĂłpria frustração acumulada do dia. Um passo em falso, um pedaço de pedra maldita mais alto que os outros e â pronto. CaĂ de bunda no meio da calçada, com um baque surdo e pouco gracioso. NĂŁo escorreguei, nĂŁo tropecei com leveza, nĂŁo tive nenhum pingo de dignidade no processo. Simplesmente caĂ. Como se o universo tivesse decidido me colocar no meu devido lugar: sentada, derrotada, no meio de uma ruazinha esquecida de Montelune. Algumas pessoas olharam, Ă© claro. O tipo de olhar que se desvia rĂĄpido demais pra parecer educado. Nenhum oferecimento de ajuda, sĂł aquela tĂpica reação de quem se pergunta se deve se importar e decide que nĂŁo. Eu sĂł fiquei ali. Respirei fundo, afastei uma mecha de cabelo do rosto e, com toda a calma que me restava, tirei a garrafa de vinho da sacola. Um vinho tinto dos mais baratos, cuja rolha jĂĄ parecia meio solta. Olhei ao redor, depois para o cĂ©u, e, por fim, coloquei a borda da garrafa entre os dentes. Um estalo seco. Um leve puxĂŁo com a mĂŁo. Rolha fora. Bebi um gole.
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€A brisa da noite passou pelos meus ombros, sussurrando algo que eu preferi nĂŁo escutar. Montelune estava barulhenta, mas me atentei ao som distante de uma mĂșsica. A luz da lua caĂa oblĂqua, bonita demais pro estado em que eu me encontrava. Quase uma ironia. E entĂŁo, bem Ă minha frente, uma criança atravessou a rua correndo. Pequena, risonha, com o casaco aberto balançando atrĂĄs dela como asas improvisadas. Correu direto para os braços do pai, que a ergueu no ar com facilidade, girando-a uma, duas vezes. Eles riram juntos. Ela gritou algo e ele respondeu com um beijo na bochecha. Louis fazia isso comigo. Quando eu era pequena. Quando tudo era diferente. A garganta fechou de repente e nĂŁo foi culpa do vinho. Eu senti aquela coisa estranha crescer dentro do peito, como um soluço preso. Pisquei rĂĄpido. Uma, duas vezes. NĂŁo. NĂŁo aqui. NĂŁo agora. Outro gole. Seco. Talvez eu estivesse caindo aos poucos em Montelune, mesmo tentando lutar contra. Mas ali, sentada na calçada, sentindo a pedra fria nas costas e o gosto do vinho barato na boca, eu soube: Ă s vezes, o fundo do poço vinha com cĂ©u estrelado.
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Eu estava tentando me misturar. Era isso. Tinha acordado tarde, a cabeça latejando depois da noite anterior, e decidi sair antes que começasse a me arrepender de ter vindo pra Monteluna. Eu ainda me sentia uma intrusa no meio de tudo, um sono que parecia grudado no meu rosto. Mas andar por ali, observar as pessoas e fingir que fazia parte daquilo, parecia menos difĂcil do que encarar o teto da minha casa velha. Minha casa. Foi quando parei diante de uma barraquinha com doces tĂŁo coloridos e bem feitos que mais pareciam peças de exposição. Estava encarando eles, me perguntando se algum ia me matar de enjoo, quando uma garota se aproximou. Começou a explicar cada um dos doces, de onde vinham, quem fazia, o que significavam. E eu⊠eu sĂł ouvi. Porque, por alguma razĂŁo, escutar ela falar me acalmava. Era como ouvir uma histĂłria de ninar, dessas que a gente escuta de olhos semiabertos, sem entender tudo, mas querendo ficar mais um pouco. Apertei a mĂŁo dela, ainda com aquela lentidĂŁo de quem nĂŁo sabe muito bem se estĂĄ sonhando ou sĂł com ressaca. ââââââââ Mannon. ââââââââ respondi, puxando um meio sorriso. ââââââââ Cheguei faz pouco tempo. Ainda tÎ⊠me encaixando. ââââââââ Olhei de novo para o doce que ela havia apontado. Respirei fundo, peguei um com um certo cuidado â como se fosse cometer um crime mordendo algo tĂŁo bonito â e dei uma mordida. A textura. Era muito pegajosa. ââââââââ Hmm⊠que⊠interessante. ââââââââ murmurei, mastigando devagar e fingindo que estava tudo Ăłtimo. Depois sorri para Chiara como se aquele fosse o sabor da infĂąncia e nĂŁo uma gosma agarrando minha garganta. ââââââââ VocĂȘ tem bom gosto.
closed starter w/: @mannnnon barraquinhas de comida

A aquele ponto do dia, Chiara jå estava com o estÎmago cheio até demais mas não queria voltar para casa tão cedo ou desperdiçar a chance de comer de graça o dia todo; com um café em mãos seguia andando pela cidade como se essa ação fosse magicamente a ajudar a ingerir imediatamente toda massa doce e pizza que tinha comido mais cedo. Ao perceber uma residente nova encarando os doces tradicionais da cidade como se fossem fugir a qualquer momento, se aproximou para apontar para um deles "Esse é o melhor." diz da forma mais clara que conseguia, ainda se acostumando com a ideia das pessoas estrangeiras vindo para a cidade nos confins da Itålia em que havia crescido. Após apontar seu favorito, fez questão de explicar cada um e dizer de onde tinham vindo; achando pelo menos um pouco justo compartilhar um pouco da história da cidade jå que ela estava ali e parecia um pouco interessada. Por fim, estendeu a mão "Sou Chiara, moro aqui a muito tempo."
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€â đđ§đ§đŹ âą đđđđđĄđđđđ âđđđ .
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€â đđđœđșđ đșđ đŒđđđ đđșÌđ đ
đđđđŸđ đđșđđș đ/đż/đđ»!

Amizade por acaso ⹠Seu personagem e Mannon se conheceram numa apresentação de teatro que ela protagonizou aos 8 anos, durante uma curta visita a Montelune com o pai. Conversaram nos bastidores, trocaram contatos e prometeram manter contato, mas isso nunca aconteceu. Agora, anos depois, se reencontram por acaso na cidade.

Vizinho relutante ⹠Seu personagem vive na casa ao lado da que Mannon herdou. Inicialmente age com frieza, mas com o tempo começa a ajudar Mannon com reparos na casa, ainda que com relutùncia e sem admitir que se importa.

Encontro na farmĂĄcia âą Seu personagem Ă© farmacista e atendeu Mannon quando ela procurou remĂ©dio para seu vĂcio com cigarros. Reconheceu o sobrenome dela dos rumores sobre a compra da casa sinistra.

Amiga do pai âą Seu personagem teve um envolvimento amoroso com o pai de Mannon nos Ășltimos anos da vida dele. Guarda segredos importantes e se aproxima de Mannon, dividida entre manter o passado oculto ou revelar verdades que podem mudar a forma como ela enxerga o prĂłprio pai.

Colega de infĂąncia esquecide âą @marziasantori âą Seu personagem brincava com Mannon durante os verĂ”es que ela passava em Montelune na infĂąncia. Mannon nĂŁo se lembra claramente, mas seu personagem se recorda bem dela â especialmente do dia em que ela partiu prometendo voltar.

Amizade improvĂĄvel âą Seu personagem trabalha com entregas ou pequenos serviços na cidade. Tem sonhos artĂsticos, como a mĂșsica ou o teatro, e se aproxima de Mannon com naturalidade. Ao descobrir seu passado com as artes, propĂ”e uma colaboração inesperada que pode ajudar ambos a encontrar propĂłsito naquele lugar.

ConexĂŁo espiritual âą @parthedellatorre âą Seu personagem Ă© uma figura excĂȘntrica da cidade, alguĂ©m que lida com tarot, ervas ou espiritualidade. Diz ter conhecido o pai de Mannon e acredita que o retorno dela a Montelune Ă© parte de algo maior. Avisa que hĂĄ âcoisas nĂŁo resolvidasâ e insiste que ela deveria prestar mais atenção aos sinais.

Ădio total âą @nisanerg âą Mannon conheceu Nisa em um momento pĂ©ssimo. Nisa foi exatamente rude com ela e se arrepende amargamente disso. Agora Nisa fica tentando compensar ela, mas todas as tentativas dĂŁo errado e acaba ou dizendo algo ruim ou estragando tudo.

Fã silencioso ⹠@nisanerg ⹠Cael é um admirador da atuação teatral de Mannon, sempre presente em suas apresentaçÔes. No entanto, ele estå longe de ser o tipo de fã que faria um fã clube - o que Mannon até agradece.

Parceiras de festas âą @milliesaway âą Camille e Mannon se encontram para ir para Roma, sĂŁo parceiras de festa, porque igualmente começam a surtar com toda a tranquilidade e calmaria de Monteluna. Elas sĂŁo almas agitadas, precisam de um pouco de bagunça, barulho e caos para se sentirem eles mesmos, entĂŁo sempre vĂŁo juntos para baladas, festas, ou apenas viver por algumas horas em um lugar menos pacĂficos.Â

Confidente ⹠@milliesaway ⹠Em uma das brigas que Chiara teve com o pai, as coisas acabaram escalando demais e muse acabou presenciando a discussão tão severa. Foi Mannon que a retirou de lå e prometeu não falar sobre isso com ninguém após tudo ter acabado.

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ALVA BRATT via instagram
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€â đđ„đšđŹđđ đ đĄđđđĄđđ âą @milamonda.
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€â đŒđșđđș đđđđđđđđș, đđșđœđđđđșđœđș đœđŸ đđŸđđđđœđș.

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€A rua girava um pouco. Ou era eu quem girava? NĂŁo fazia diferença. Meus pĂ©s estavam... âfuncionandoâ, de certo modo, meio tortos, meio fora do compasso, mas firmes o suficiente pra nĂŁo me deixarem cair de cara no chĂŁo â ainda. A garrafa de vinho balançava na minha mĂŁo, restinho vermelho como sangue no fundo. E minha risada escapava fĂĄcil, solta, dançando no ar da noite como se eu fosse a protagonista de algum filme italiano mal dublado.
ââââââââ Buonaseraaaa! ââââââââ gritei pra um casal que passou. O homem puxou o marido com cara de poucos amigos, e eu sĂł acenei com a mĂŁo livre. ââââââââ Gente simpĂĄtica⊠ou talvez nĂŁo. ââââââââ Soltei um assobio tosco pra um gato na mureta. O bicho nem olhou. Ingrato. ââââââââ VocĂȘ tambĂ©m jĂĄ me julgou, hein? MiserĂĄvel. ââââââââ Trombei num poste. Pedi desculpas.
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€E entĂŁo minha casinha apareceu na minha frente, com sua cara torta e charmosa, a porta de madeira velha toda empenada, cheia de histĂłria, igual minha vida. Suspirei.
ââââââââ Ma maison! ââââââââ anunciei, como se alguĂ©m tivesse me esperado. ââââââââ Finalmente. ââââââââ Enfiei a chave na fechadura. Girei. Nada. Girei de novo. ââââââââ Ah, nĂŁo. Mais non, non, non⊠ââââââââ Chutei a porta. Uma, duas, trĂȘs vezes. Ela gemeu, mas nĂŁo cedeu. Teimosa igual a dona. ââââââââ Ouvre-toi, putain de porte de merde! ââââââââ gritei, batendo com a palma da mĂŁo agora, jĂĄ bufando, o vinho chacoalhando no vidro.
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€Olhei ao redor, tonta, frustrada, suada. E foi entĂŁo que a vi â uma silhueta feminina passando ali perto, andando calmamente como se o mundo nĂŁo estivesse um caos embriagado como eu. Num impulso, tropecei atĂ© ela e me joguei meio que na frente do caminho, braços meio abertos como se fosse abraçå-la (nĂŁo era a intenção. Acho).
ââââââââ Excusez-moi! ââââââââ falei, com um sorriso bĂȘbado colado na boca. ââââââââ VocĂȘ sabe abrir portas de casas velhas? Porque essa aqui tĂĄ de mal comigo e eu⊠eu tĂŽ de bem com o mundo, entende? ââââââââ apontei com o queixo pra porta, depois pra garrafa. ââââââââ E isso aqui... nĂŁo ajuda em nada. ââââââââ Forcei outro sorriso. ââââââââ VocĂȘ parece sensata. Eu preciso de alguĂ©m sensato agora. SĂł... ajuda a girar essa droga de chave, por favor.
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O copo gelado entre meus dedos era uma promessa de esquecimento. Dei um gole longo, sentindo o gin misturado com alguma fruta cĂtrica cortar o caminho pela garganta. Era meu segundo â ou terceiro â e eu ainda nĂŁo tinha decidido se estava ali para relaxar ou me esconder de alguma coisa que nem sabia nomear. O som do bar estava abafado, como se tudo acontecesse atrĂĄs de um vidro. E entĂŁo, no meio do zumbido de vozes e risos, surgiu uma melodia. Uma voz, sem pretensĂŁo de perfeição, mas com alguma coisa crua e verdadeira que me fez levantar os olhos. Encostei no encosto da cadeira, os dedos ainda presos ao copo, e fiquei ali. Ouvindo. Observando. O bar inteiro ainda parecia vibrar com aquela energia morna de fim de noite, entre risadas altas e copos tilintando, quando senti aquele arrepio estranho â o tipo que vem quando alguĂ©m te olha por tempo demais... ou talvez quando vocĂȘ nĂŁo consegue parar de olhar. Eu nĂŁo a conhecia. E ainda assim, ali estava ela, voltando com um drink na mĂŁo e o tipo de sorriso que faz a gente esquecer que tem mais gente na sala. Vi quando ela me notou. NĂŁo do tipo que apenas registra um rosto, mas do tipo que reconhece, que brinca com a atenção. E entĂŁo veio a provocação. Ela piscou. E por um segundo, meu cĂ©rebro deu uma pequena pausa. Tentei parecer indiferente, mas o sorriso escapou antes que eu pudesse impedir. ââââââââ SĂ©rio? Nem um adesivo exclusivo? ââââââââ respondi, dando um passo mais perto, como se nĂŁo estivesse prestes a perder a compostura. ââââââââ Porque eu sou fĂŁ fiel, do tipo que faz campanha e tudo. ââââââââ Cruzei os braços, inclinando levemente a cabeça, analisando cada detalhe. ââââââââ Mas aviso logo... fĂŁs assim costumam cobrar atenção personalizada. E talvez um drink. ââââââââ NĂŁo estava tentando flertar. Ou talvez estivesse.
      ê     âââ    vivianna & open
quem   conhecia  vivianna   sabia   que   subir   no   palco   e   encarar   o   microfone   aberto   nĂŁo   combinava   com   sua   personalidade   distante   e   reservada   ,   mas   tambĂ©m   sabiam   que   ela   nunca   dizia   nĂŁo   a   um   desafio   .   entĂŁo   ao   ser   desafiada   por   uma   de   suas   amigas   ,   a   morena   deixou   de   lado   seu   drink   e   caminhou   atĂ©   o   palco   sem   pensar   duas   vezes   .   alĂ©m   de   nĂŁo   ter   uma   voz   muito   bonita   ,  tinha  faltado  a  algumas  aulas  de  piano  ,   porĂ©m   deu   o   seu   melhor   ,   sempre   dava   ,   e   o   fim   de   sua   performance  de   via  con  me  rendeu   palmas   e   atĂ©   mesmo   alguns   gritos   .   com   a   mesma   confiança   com   a   qual   subiu   no   palco   ,   vivianna   mandou   um   beijinho   para   a   plateia   e   desfilou   para   fora   do   palco   .   voltou   para   o   grupo   de   amigas   ,   tomando   uma   um   gole   do   drink   que   lhe   esperava   enquanto   ria   com   elas  .  porĂ©m  um   olhar   em   particular  continuava  lhe   chamando   a   atenção   .   â   eu   posso   te   dar   um   autografo   ou  até  uma   foto   se   quiser   ,   â   disse   para   muse  .   â   adoro   meus   fĂŁs   ,   â  brincou  ,  mandando   uma   piscadinha   em   sua   direção   .
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A verdade Ă© que a ideia de conseguir uns ovos de PĂĄscoa parecia, no mĂnimo, interessante. Talvez fosse a gula, talvez o tĂ©dio â ou sĂł o fato de que eu andava precisando de uma vitĂłria, mesmo que fosse em forma de chocolate envolto em papel brilhante. EntĂŁo, depois de rir com a garota da cesta vazia e confirmar que sim, era real mesmo a tal caça, decidi participar. Caminhei devagar pelo gramado, os olhos varrendo o cenĂĄrio em busca de qualquer sinal suspeito de grama revirada ou arbustos disfarçados. Foi quando ouvi a voz dele. Um homem, provavelmente responsĂĄvel pela brincadeira, observava o caos infantil. Falava sozinho, com um meio sorriso divertido no rosto. Ri baixinho, sem que ele me notasse, e me aproximei curiosa â talvez pela chance de uma dica. Ou sĂł pelo tom leve e descontraĂdo que ele usava, como se tivesse esquecido do prĂłprio papel de adulto responsĂĄvel. Foi aĂ que ele se virou com um cesto ainda cheio de ovos coloridos, os olhos castanhos me encontrando com um brilho tranquilo. E entĂŁo, pronto. Me pegou desprevenida. Ele era... bonito. Tipo, realmente bonito. Do tipo que a gente nĂŁo espera ver aleatoriamente em meio a uma praça cheia de crianças enlouquecidas. Mas disfarcei. Fingi que nĂŁo reparei. Cruzei os braços, tentando parecer casual enquanto ele. Mordi o canto do lĂĄbio, ponderando, e dei de ombros com um meio sorriso. ââââââââ Hm... talvez no cesto de flores da senhorinha que tĂĄ vendendo lavanda? NinguĂ©m mexe com ela. Ă praticamente uma armadilha invisĂvel. ââââââââ Depois, dei uma risadinha, olhando de canto de olho pra ele. ââââââââ Mas se quiser posso ajudar... desde que eu tenha direito a pelo menos um ovo de recompensa. Eu funciono Ă base de chocolate. ââââââââ acrescentei.
escolha entre: starter pós missa ou starter durante a caça aos ovos.
Javier não tem qualquer obrigação com a igreja, mas mesmo assim se faz presente ao fim da missa. Apesar do sino jå ter tocado, o homem continua em movimento ajudando a desmontar decoraçÔes, abaixando as tendas, limpando os bancos. Grande parte das pessoas presentes eram idosas e Javier não deixaria o trabalho pesado para elas. "Se quiser me ajudar com as caixas, prometo pagar com um pedaço de colomba." Direcionou as palavras para a pessoa mais jovem que seus olhos conseguiram localizar, apontando para as caixas em questão que pareciam muito similar com a que estava carregando sobre um dos ombros. "A boa, de hoje, não aquela seca que sobrou do ano passado. Ainda estão tentando vender essas nas barracas, pra só depois trazerem as frescas."
O capitĂŁo bombeiro apoiava as mĂŁos no quadril, observando desacreditado um grupo de crianças correndo pelo gramado com chocolates. Imaginava que demorariam mais tempo para encontrĂĄ-los. "Te juro que escondi bem os ovos de pĂĄscoa. Ou as crianças viraram detetives profissionais ou me observaram durante toda a manhĂŁ." Era Ăłbvio que suas conclusĂ”es nĂŁo eram sĂ©rias, a expressĂŁo descontraĂda deixava isso claro. Segundos depois, Javier voltou a pegar o cesto dos ovos ainda nĂŁo escondidos. Havia prometido a mĂŁe que os esconderia atĂ© o fim da competição, mas precisava de novas ideias. "Se fosse vocĂȘ, onde esconderia? SĂł nĂŁo em lugares altos, por favor, jĂĄ tirei criança demais de ĂĄrvores por hoje."
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Domingo em Monteluna tinha gosto de pĂŁo quente, tomates maduros e alguma coisa frita que eu nunca sabia o nome â sĂł sabia que era viciante. SaĂ pela praça outra vez, como quem jĂĄ aceita que o corpo nĂŁo vai resistir Ă prĂłxima barraca de comida. A vila inteira parecia desperta e animada, crianças correndo, turistas olhando em volta como se estivessem presos em um cartĂŁo-postal vivo. Eu sĂł queria alguma coisa gordurosa pra enganar meu estĂŽmago atĂ© o jantar. Foi entĂŁo que a vi: uma garota abaixada perto do canteiro de flores, com uma cesta largada aos pĂ©s. Dentro dela, solitĂĄrio, repousava um Ășnico ovo de chocolate decorado. Fiquei parada por um instante, olhando da cesta para o campo, e depois para ela, franzindo a testa. ââââââââ Eu... nem sabia que tava rolando uma caça aos ovos. ââââââââ respondi, erguendo as mĂŁos como quem foi pega no lugar errado. ââââââââ Achei que aquela plaquinha com um coelho fosse sĂł propaganda de chocolate artesanal ou algo assim. ââââââââ Dei uma risadinha breve, sem jeito, e olhei de novo pro ovo solitĂĄrio na cesta. ââââââââ Sinceramente, se tivesse me dito antes, eu tinha me inscrito. Mas sĂł se o prĂȘmio for mais comida. ââââââââ completei, dando uma olhada disfarçada em volta, como quem ainda esperava ver uma barraca de arancini brotar do chĂŁo. Monteluna sempre dava um jeito de me surpreender â ora com um empurrĂŁo de um estranho, ora com uma caça aos ovos onde todo mundo parecia saber o que estava fazendo, menos eu.
durante a caça aos ovos com qualquer pessoa
A cesta repousava aos seus pĂ©s, vazia, com um Ășnico ovo de chocolate decorado repousando no centro como se zombasse dela. Parthenope mordia a ponta do indicador, rindo sozinha do fracasso, quando percebeu alguĂ©m se aproximar. âSe me disser que encontrou mais de cinco, vou me sentir pessoalmente atacada.â Ela apontou com o queixo para o campo de flores Ă frente. âEstive ali por vinte minutos. Tudo o que encontrei foi poeira e um casal discutindo por um ovo dourado.â
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Eu sĂł queria tomar um banho. Caminhava pelas ruelas de Monteluna com a sacolinha de queijos presa contra o peito como se fosse um prĂȘmio de consolação. JĂĄ conseguia imaginar a ĂĄgua morna enchendo lentamente a banheira velha da casa, o vapor subindo pelas janelas, e eu, afundada atĂ© o queixo, me permitindo, por um momento, fingir que estava tudo bem. Um gole de vinho tinto barato, um pedaço de caciotta trufada... talvez atĂ© dois. Eu me demorava nessa imagem â o banho, os queijos, o silĂȘncio â quando levei um choque seco. Um corpo bateu no meu ombro e me fez perder o equilĂbrio por um segundo. ââââââââ Mais câest pas possible, putain! ââââââââ escapou alto demais, quase como um reflexo. Fiquei ali, com os pĂ©s ainda tortos na calçada, o peito arfando. SĂ©rio? Segunda vez no mesmo dia que alguĂ©m se esbarrava em mim como se eu fosse invisĂvel. Ou um alvo. Eu jĂĄ estava começando a considerar a possibilidade de um plano secreto dos habitantes dessa vila para me expulsar. Ou me enlouquecer, o que viesse primeiro. Ergui o rosto, pronta pra descarregar mais alguma coisa, e dei de cara com uma loira. Alta, magra, meio desajeitada. Ela nĂŁo parecia uma lunĂĄtica â mas tambĂ©m nĂŁo estava no topo da minha lista de pessoas que mereciam um ânĂŁo foi nadaâ. Soltei um bufo irritado, mais pra mim mesma que pra ela. JĂĄ tinha aceitado que brigar sĂł ia me atrasar. Quanto mais tempo eu ficasse parada ali, mais fria a ĂĄgua da banheira ia estar. ââââââââ TĂĄ tudo bem. ââââââââ murmurei, balançando a cabeça. Mas aĂ a raiva escapou antes que eu conseguisse segurar. ââââââââ SĂł... espero que, da prĂłxima vez que vocĂȘ for girar feito louca numa barraquinha de jogos, verifique se nĂŁo tem alguĂ©m passando perto. Vai que vocĂȘ acerta outra ficha na testa de um desavisado. ââââââââ A garota â que eu ainda nĂŁo sabia se queria bater ou abraçar â arregalou os olhos e gaguejou um pedido de desculpas em italiano. Scusa, disse ela, como se fosse normal sair atropelando pessoas nas ruas.
đ° âȘ đđđđ đđđđđđđ! at âŻÂ đđđđđđđ đđ đđđđđ â«
âž» SĂ©rio?! âž» reclamou quase num suspiro resignado enquanto alternava o olhar entre e o dono da barraquinha e sua Ășltima ficha de madeira que caĂra bem longe de onde havia mirado. Jogava tiro ao alvo obsessivamente hĂĄ algum tempo e tudo o que houvera conseguido foram algumas farpas nos dedos e um pequeno chaveiro de resina no formato de um ovo da pĂĄscoa que o dono fizera questĂŁo de dar a ela, tĂŁo envergonhado quanto a garota por sua mira inexistente. Maeve respirou profundamente antes de dar Ă s costas ao lugar, ajeitando sua blusa preta de decote U e, posteriormente, as calças jeans levemente esfiapadas apenas nas bainhas, nĂŁo deixando de checar as condiçÔes do seu oxford preto que jĂĄ sofrera alguns atentados naquela noite: Meabh houvera tropeçado e chutado involuntariamente muitas pedras do percurso, e isso ela culpava o seu lado desajeitado. PorĂ©m, num rompante, seus olhos azuis voltaram a cor vĂvida, e decidida a retornar ao tiro ao alvo e sĂł sair de lĂĄ apĂłs um prĂȘmio decente, girou sobre os calcanhares tĂŁo rapidamente que acabara se chocando contra muse. âž» Ah⊠desculpa! S-scusa.* âž» ela gaguejou seu italiano bĂĄsico antes que visse o rosto alheio. Teve que conter um suspiro ao lembrar tardiamente do quanto a vida gostava de brincar com a sua falta de equilĂbrio. A Ășnica sorte era que Maeve era confiante o suficiente para lidar com aquilo.
* tradução de scusa: desculpa.
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Inspirei fundo, ajeitando o cabelo com os dedos â agora livres das mĂŁos gordinhas da bebĂȘ â e encarei a multidĂŁo Ă frente. Com a barriga cheia de comida e compras suficientes para uma semana, poderia voltar para casa. No entanto, antes de dar um passo, um estranho surgiu. Camiseta simples, sotaque que tentava se disfarçar e um buquĂȘ de flores nas mĂŁos. Eu pisquei devagar. Uma vez. Duas. NĂŁo porque estivesse surpresa, mas porque meu cĂ©rebro ainda estava tentando decidir se aquilo era real ou parte de alguma alucinação induzida por cansaço e ĂĄlcool. ââââââââ Sou eu⊠ââââââââ respondi, com a voz rouca, meio arrastada, o tom mais de ressaca do que de romantismo. ââââââââ Mannon. ââââââââ Olhei para as flores. Um buquĂȘ bonito, colorido, exuberante demais pro meu humor e pra aquela manhĂŁ. Segurei devagar, como se ele pudesse morder. O papel era macio, cheirava bem. Cheirava demais. Fiz uma careta involuntĂĄria e dei um passo para o lado, longe do sol que começava a esquentar minhas costas e minha paciĂȘncia. ââââââââ Isso foi⊠inesperado. ââââââââ murmurei, sem saber se agradecia ou perguntava quem diabos tinha feito isso. Eu mal conhecia alguĂ©m aqui. Fora a senhora da vendinha da esquina e um cachorro manco que me seguia Ă s vezes. Levantei os olhos pra ele de novo. O tal entregador. Tinha olheiras, calos nas mĂŁos e a mesma expressĂŁo cansada de quem passou mais tempo entregando coisas do que descansando. ââââââââ EstĂĄ fazendo entrega assim⊠no meio da multidĂŁo? Sem endereço? ââââââââ ergui uma sobrancelha, mais curiosa do que debochada. ââââââââ Ă assim que funciona em Monteluna? ââââââââ Suspirei. Ainda nĂŁo me acostumei com essa cidade que parece uma novela italiana com trilha sonora e cheiro de alecrim em tudo quanto Ă© canto. Tudo acontece rĂĄpido demais, barulhento demais. E eu, que sĂł queria um cafĂ© da manhĂŁ e um pouco de silĂȘncio, agora segurava um buquĂȘ anĂŽnimo como se estivesse numa cena mal escrita de comĂ©dia romĂąntica.
âȘ  ✠open starter  /  praça  â«Â  :  joey tinha tido uma vida regrada e com desafios, mas sua experiĂȘncia de trabalho nĂŁo era muita. alĂ©m de trabalhos de meio expediente durante a Ă©poca de escola e o trabalho na prefeitura do final da faculdade atĂ© alguns meses atrĂĄs, nĂŁo tinha feito muitas coisas. mas uma coisa era certa, joey nĂŁo tinha medo de trabalhar. assim que adquiriu sua kombi, antes mesmo se chegar Ă casa destra, joey jĂĄ sabia que precisaria fazer por onde. fez alguns ajustes na kombi mal assombrada, ainda sem nome, e saiu pelo comĂ©rcio da cidade para oferecer seus serviços como entregador. e, por incrĂvel que pareça, funcionou. pelo menos um pouco. ele nĂŁo sabe se os comerciantes estavam com pena dele ou desesperados o suficiente pelo feriado chegando que aceitaram usar de entregador um estrangeiro que tentava se comunicar em espanhol. com italianos. do modo que fosse, joey deu graças aos cĂ©us pelo dinheiro muito bem-vindo. mesmo com o seu salĂĄrio de cinco dĂgitos que tinha em nova york, ele nĂŁo tinha muito sobrando. alĂ©m de uma poupança de emergĂȘncia, ele nĂŁo estava nadando em dinheiro. joey observava de longe o movimento que a tarde de sĂĄbado havia trazido, as barraquinhas espalhando aos montes e as pessoas se divertindo. ele se deu ao luxo de comer algumas coisas e tentar ganhar uns presentes para loca, mas agora estava sentado no banco do motorista esperando ansiosamente que seu telefone tocasse. e, como mĂĄgica, ele tocou. era de uma floricultura hĂĄ algumas quadras da praça, entĂŁo ele foi. ao chegar no local, a interação foi curta. leu o nome no papel e viu que tinha uma foto junto. ao perguntar o endereço, o dono da floricultura foi curto e grosso: nĂŁo sabia. sĂł sabia que a pessoa estava aproveitando o evento e que ele deveria achar ele. a prĂncipio ele se sentiu um pouco ofendido. ele era entregador e nĂŁo garoto de recados, mas, do jeito que fosse, ele nĂŁo podia fugir de emprego. nĂŁo na situação que estava, e se contentou em comentar como aquilo era brega. jĂĄ o florista, se contentou em fazer uma careta que joey interpretou como concordĂąncia. de volta na praça, ele saiu por aĂ procurando o rosto da pessoa na foto. se sentiu um pouco humilhado, mas nĂŁo foi tĂŁo difĂcil quanto ele esperava. mesmo no mar de gente que estava ali, a pessoa surgiu como um milagre de pĂĄscoa. " Ă©... *nome*? esse Ă© seu nome certo? isso Ă© para vocĂȘ. " ele nunca tinha entregue flores daquela maneira, mas alguĂ©m definitivamente queria agradar a pessoa na sua frente, entĂŁo...
ou, para um starter fechado com joey solano comente aqui um prompt daqui ou daqui + uma atividade do evento. (up to 4)
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Caminhava devagar, tentando manter o mundo girando o mĂnimo possĂvel. A claridade jĂĄ me incomodava â e isso que o cĂ©u estava meio cinza, como se Monteluna tambĂ©m tivesse exagerado no vinho na noite passada. SĂĄbado de manhĂŁ e as ruas jĂĄ estavam vivas, pulsando. A Piazza Centrale fervilhava com os moradores montando as barraquinhas. O cheiro de pĂŁo recĂ©m-assado e cafĂ© fresco se misturava com um som abafado de martelos, de coisas sendo construĂdas ou penduradas, sei lĂĄ. Os panfletos espalhados pelos postes â que ontem eu sĂł conseguia ler entre um piscar demorado e outro â anunciavam com o tradicional evento de PĂĄscoa. Haviam fitas coloridas nas sacadas, as ĂĄrvores exibiam bandeirinhas e luzes, e atĂ© os vasos de flores pareciam perfeitos. Mas minha cabeça latejava. Tudo era bonito demais, vivo demais. EstĂmulos que me faziam querer rastejar de volta pra cama e me esconder debaixo das cobertas. SĂł que meu estĂŽmago tinha outros planos. E, francamente, ele gritava mais alto do que minha dor de cabeça. Passei por uma roda de crianças rindo, por uma senhora discutindo com o neto sobre o preço do queijo, atĂ© que, no meio da multidĂŁo, senti um puxĂŁo agudo na cabeça. ââââââââ Ai! ââââââââ grunhi, virando de lado com o susto, jĂĄ pensando que alguĂ©m tivesse tropeçado em mim ou tentado arrancar meu cabelo de propĂłsito. Mas nĂŁo. LĂĄ estava ela. Uma bebĂȘ rechonchuda, de sorriso escancarado, dedos pequeninos bem enfiados no meu cabelo. Ela me olhava com olhos brilhantes, completamente satisfeita com a confusĂŁo que tinha acabado de causar. ââââââââ Oi, docinho⊠pode soltar o cabelo da tia? ââââââââ forcei um sorriso, tentando parecer mais simpĂĄtica do que a ressaca deixava. AtrĂĄs da pequena estava o pai. E que pai. O tipo de homem que parecia ter saĂdo de um editorial caro de moda italiana. Em uma das mĂŁos, uma cestinha rosa com orelhas de coelho â provavelmente da bebĂȘ, pensei. E na outra, claro, segurava a menina, agora minha nova cabeleireira particular.
Monteluna estava em festa. E Vittorio Gaggero estava... presente. Usava um suĂ©ter bege de cashmere com as mangas cuidadosamente dobradas atĂ© os antebraços, e seus sapatos reluziam mesmo pisando no paralelepĂpedo antigo. Uma mĂŁo segurava uma pequena cestinha rosa com orelhas de coelho â que era de Ludovica, Ăłbvio â, e a outra segurava a criança em seu colo. â Tutta questa scenografia per gente che maltrata persino a simetria dos beiraisâŠÂč â Murmurou, baixinho, mais para si do que para alguĂ©m em especĂfico. Estava cercado por barracas, risos e vozes que nĂŁo conhecia. Novos rostos, novas intençÔes. Alguns vinham de fora com seus sonhos de recomeço e ideias mirabolantes para ârenovarâ Monteluna. Segundo Vittorio, o que esses amadores queriam mesmo era mutilar o que existia de belo com tons pastĂ©is, janelas redondas e azulejos baratos. Toscani de Pinterest, todos eles. â Ti piace, figlia? ÂČ â Questionou com um sorriso para a bebĂȘ em seu colo, que apesar de nĂŁo entender, devolveu o sorriso banguela para ele. Era sua primeira pĂĄscoa, e isso era o que amenizava o mau humor de Vittorio.
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â * đđđđđđđđ ... đđđđđđđ đđđđđđđĄ đđ đđ đđđ đĄđ.
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€Revisei minha passagem pela terceira vez antes de chegar ao portĂŁo de embarque, como se o nome da cidade no bilhete pudesse ter magicamente mudado. Mas lĂĄ estava ele: Montalune. Suspirei. Um nome bonito atĂ©, poĂ©tico... mas nĂŁo para mim. Eu precisava estar em Paris. Tinha planos, contatos, uma vida que mal começava a ganhar forma. Mas precisava, mais ainda, daquilo. Meus dedos tamborilavam o passaporte com inquietação. Tinha visto algumas fotos da cidadeâcasinhas apertadas, Sol quase constante, um lago morto no centro como se tudo ali fosse feito pra parecer suspenso no tempo. NĂŁo parecia o tipo de lugar propĂcio aos meus objetivos, mas... nĂŁo era uma escolha. Meu pai havia sido esperto. Um apelo emocional talvez funcionasse com alguĂ©m mais sensĂvel, mas comigo ele deixou o testamento como uma armadilha de nĂșmeros: um ano em Montalune e a herança estaria liberada. Uma quantia considerĂĄvel. O suficiente para manter o apartamento em Paris, continuar pagando os medicamentos da minha mĂŁe, respirar com um pouco mais de liberdade. E sim, me sentia pĂ©ssima. Por querer o dinheiro. Por associĂĄ-lo Ă morte dele. Por precisar tanto de algo que ele sĂł pĂŽde me dar partindo.
ââââââââ Merde. ââââââââ murmurei, ajeitando a alça da mochila no ombro.
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€Avancei na fila, mostrando meu bilhete, tirando os sapatos para a detecção de metais, quase no automĂĄtico. Cada passo me afastava da minha vida e me empurrava para outra, provisĂłria, que eu fingiria aceitar por 365 longos dias. JĂĄ no aviĂŁo, encontrei meu assentoâjanela, felizmente. Mas o homem ao lado... corpulento, espaçoso, com as pernas esticadas como se tivesse alugado o corredor inteiro.
ââââââââ Com licença. ââââââââ falei, firme, sem paciĂȘncia.
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€Ele me lançou um olhar atravessado, malcriado, mas se encolheu o suficiente pra eu passar. Afundei na poltrona estreita com um suspiro pesado, abraçando os ombros com os prĂłprios braços como se pudesse me conter inteira naquele gesto. O aviĂŁo começou a se mover. Vi Paris encolher pela janela, virar miniatura e depois sumir sob as nuvens. Fechei os olhos. Um ano, pensei. Ă sĂł isso que preciso suportar. Por fim, retirei a carta amassada do bolso interno da jaqueta. O papel jĂĄ estava gasto, dobrado mil vezes e ainda assim intacto de um jeito quase cruel â a escrita trĂȘmula, o borrĂŁo de vinho no canto inferior esquerdo. Cada detalhe parecia feito hĂĄ cinco minutos, como se meu pai tivesse acabado de escrever, como se ainda estivesse em algum lugar, Ă minha espera. Desdobrei com cuidado, como se a carta pudesse quebrar entre meus dedos. Li devagar, embora jĂĄ soubesse cada frase de cor. E mesmo assim...
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€"Mannon, minha menina, sei que vai me odiar por isso."
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€A primeira lĂĄgrima caiu antes que eu pudesse detĂȘ-la.
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€"Mas vocĂȘ precisa ir. Montalune tem mais do que um começo."
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€Meu peito arfou e o mundo Ă minha volta encolheu atĂ© caber dentro daquela folha suja de emoção. Eu queria detestĂĄ-lo. Queria xingar, gritar, rasgar tudo aquilo e voltar correndo pra minha vida. Mas a dor vinha mais forte do que a raiva. E no fundo... eu sĂł sentia falta dele.
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€"Sei que vocĂȘ vai entender um dia."
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€Entender.
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€Dobrei a carta com mĂŁos trĂȘmulas, agora molhadas pelas lĂĄgrimas que nĂŁo consegui conter. Enfiei de volta no bolso com mais delicadeza do que jamais havia demonstrado com qualquer coisa que ele me deu em vida. Ao meu lado, o homem corpulento jĂĄ roncava. Um som grave, irregular, como se ele tivesse engolido um motor velho. Bufei. Claro que ele dormia. Eu, por outro lado, jamais conseguiria. NĂŁo com o coração entalado na garganta. NĂŁo com o som do ronco invadindo meus ouvidos. E, principalmente, nĂŁo com o peso de um ano inteiro jĂĄ começando a pressionar meus ombros naquela altitude.
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€Assim que o aviĂŁo pousou, esperei sĂł o tempo suficiente para ouvir o cinto do homem ao lado destravar. EntĂŁo empurrei discretamente meu cotovelo contra suas costelas, apenas o bastante para que ele se encolhesse com um resmungo inconsciente e abrisse espaço. Ele nem percebeu. Melhor assim. Me levantei com um movimento sĂł, agarrando a mochila e o cansaço como se fossem parte do mesmo fardo. A prĂłxima hora foi uma pequena guerra. Lutando com as malas â duas delas quase perdendo uma rodinha no caminho â, negociando com um motorista de tĂĄxi que parecia querer me cobrar o dobro pela viagem, e, por fim, enfrentando a fechadura enferrujada da nova casa. A chave girou com um estalo seco e um rangido que pareceu ecoar pela vila inteira. Entrei. O ar ali dentro era pesado, mofado. Respirei fundo, me arrependi no mesmo instante. Tosses curtas e secas me rasgaram a garganta, e precisei me escorar no batente da porta atĂ© recuperar o fĂŽlego.
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€Olhei ao redor. O que antes era sĂł uma imagem borrada agora se erguia diante de mim com paredes manchadas, mĂłveis antigos cobertos por lençóis e um frio Ășmido que subia pelo chĂŁo. Tive que rir, amarga. Ia precisar de tinta, de vassouras, de coragem. E de sorte. Talvez, se eu fosse muito, muito sortuda, aquela casa valesse um euro a mais quando tudo acabasse. Guardei as malas no que um dia foi o quarto de hĂłspedes. Empurrei o velho armĂĄrio do meu pai contra a parede, tirei as capas dos sofĂĄs, ajeitei as cadeiras com pernas bambas â sĂł movimentos mecĂąnicos, como quem monta uma peça ruim com as instruçÔes erradas. O tempo correu sem que eu percebesse. Quando finalmente me sentei no chĂŁo da sala, ofegante, jĂĄ era fim de tarde. Um dourado melancĂłlico atravessava as janelas, iluminando partĂculas de poeira que dançavam no ar. Foi quando achei a caixa. Uma de papelĂŁo, mal fechada, com a palavra "fotos" rabiscada em caneta azul. Dentro, quadros de famĂlia. Meus dedos puxaram uma foto da minha mĂŁe â jovem, bonita, com aquele sorriso manso que ela raramente usava nos Ășltimos anos. Coloquei sobre o aparador, com cuidado.
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€A segunda foto era nossa. Minha e dele. Meu pai com um braço ao redor dos meus ombros, rindo de algo que jĂĄ esqueci. Eu devia ter uns dez anos. Ainda confiava nele. Ainda achava que o mundo se ajeitava com um pedido de desculpas e um beijo de boa noite. Senti a pontada antes mesmo de saber que estava vindo. Um espasmo no peito, pequeno, ardido. Agarrei a garrafa de vinho barato que tinha comprado na estrada. Dei um gole seco, direto no gargalo. Amargo. Quase me fez engasgar. Mas, de algum modo, caiu bem. Estava ali. Entre paredes que nĂŁo me pertenciam, com lembranças que nĂŁo pedi pra herdar, tentando encontrar sentido num plano que nunca foi meu. Paris parecia outro planeta. Minha mĂŁe, outra vida. Meu pai⊠uma ausĂȘncia barulhenta demais pra ignorar. E ainda assim, lĂĄ no fundo, uma parte de mim sabia: aquele era sĂł o primeiro dia. Faltavam trezentos e sessenta e quatro.
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đŽđșđŒđđđžđđžđđ đčđŽđđŒđżđŒđž

â ParabĂ©ns, MANNON MONTAGNE! VocĂȘ recebeu uma carta de aceite no programa Una casa per 1 Euro e agora uma casa aos pedaços com uma vista bonita demais para desistir lhe espera em Monteluna. Seu registro diz que vocĂȘ tem 23 ANOS e veio de PARIS/FRANĂA. Seus antigos vizinhos dizem que vocĂȘ Ă© alguĂ©m INQUIETA, mas tambĂ©m INSTĂVEL, talvez seja justamente isso que te trouxe atĂ© aqui. Por enquanto, tudo que sabemos Ă© que vocĂȘ se parece muito com ALVA BRATT, serĂĄ que jĂĄ podemos te chamar de NONO? â Â
â đđđđ âą đđđ âą đđđđđđđđ

Histoire âą Mannon Montagne nasceu sob o palco do teatro francĂȘs, filha de um dramaturgo, Louis Montagne, e da atriz Sophie Duvant. Cresceu nos bastidores das tragĂ©dias que seu pai escrevia e nas memĂłrias instĂĄveis da juventude flamboyant de sua mĂŁe. Desde pequena, Mannon mostrou uma sensibilidade fora do comum para as emoçÔes humanas â e as encenava com intensidade assustadora. Ainda criança, jĂĄ era conhecida pelos diretores de teatro como âa filha do Louisâ, mas logo se tornou mais do que isso: passou a ser âa menina que faz chorar sĂł com o olharâ. Sempre ao lado do pai, Mannon acompanhava nĂŁo apenas os ensaios e as estreias, mas tambĂ©m as brigas impulsivas nos bares de Paris e os silĂȘncios longos entre tragos de absinto. Levou alguns anos atĂ© compreender que o pai, seu Ădolo, era tambĂ©m um alcoĂłlatra. E que sua mĂŁe, antes musa dos palcos, havia trocado os scripts por escĂąndalos, pulando de amante em amante, invariavelmente escolhendo os maridos de suas amigas. Eles nĂŁo eram pobres â mas a instabilidade era constante, e cada centavo parecia medido para garantir as aulas de teatro da filha prodĂgio. Mannon era esperta. Estudiosa. E de um talento cru, magnĂ©tico. Sempre escolhida para os papĂ©is principais, encantava plateias, mas tambĂ©m enfrentava o lado mais sombrio do mundo artĂstico. NĂŁo era incomum ter que fugir discretamente pelos fundos de teatros para escapar de diretores com mĂŁos e intençÔes erradas. Ainda assim, nĂŁo cedia. Nunca. Seu sonho era maior do que o medo. Ela queria ser atriz. Uma grande atriz. A adolescĂȘncia passou como um vendaval. Mannon, agora mais madura que os prĂłprios pais, virou a confidente e cuidadora do pai, mesmo enquanto ele se perdia cada vez mais em seus vĂcios e lembranças. Quando finalmente foi aceita na faculdade de artes cĂȘnicas, ela jĂĄ era quase uma adulta desde muito antes. Trabalhava meio perĂodo â fazia de tudo: garçonete, figurante, dubladora, animadora de festas infantis. NĂŁo vivia, apenas resistia. E aos poucos se afastava do pai, que ligava bĂȘbado, carente, deixando mensagens confusas e doces em sua caixa postal. Mas tudo valeu a pena. No dia de sua formatura, Mannon jĂĄ estava escalada para uma peça importante. O sonho finalmente parecia ao alcance. Mas foi uma ligação de madrugada que destruiu tudo. Louis Montagne havia sido encontrado morto em seu apartamento. Silencioso, sozinho, vencido por um cĂąncer de garganta que escondeu de todos â especialmente de Mannon. O choque foi avassalador. Ela perdeu o chĂŁo. NĂŁo havia ninguĂ©m no mundo que ela amasse mais do que seu pai. O velĂłrio, conforme desejo deixado por Louis, foi uma peça teatral. Literalmente. Ele queria ser celebrado no palco. Queria cortinas, mĂșsica, monĂłlogos, lĂĄgrimas verdadeiras. Coube a Mannon organizar tudo, enquanto Sophie, sua mĂŁe, dormia embriagada num dos bancos do teatro. ApĂłs a cerimĂŽnia e as despedidas, Mannon chorou como nunca antes. Horas inteiras de soluços profundos, do tipo que parece quebrar o corpo por dentro. AtĂ© que sua mĂŁe se aproximou e, sem dizer uma palavra, lhe entregou uma carta do pai. Era uma carta longa. E estranha. Nela, Louis deixava uma lista de dez coisas que Mannon deveria fazer ao longo de um ano. A primeira delas? Mudar-se para uma casa velha e abandonada no interior da ItĂĄlia, que ele dizia ter comprado por um euro. Mannon riu, ainda com lĂĄgrimas no rosto. Achou que sĂł podia ser uma piada de mau gosto. Ou um Ășltimo roteiro do pai, tentando fazĂȘ-la viver uma de suas tramas absurdas. Mas no fundo, uma voz sussurrava que aquilo poderia ser o inĂcio de algo. Uma Ășltima peça escrita por Louis â e protagonizada por sua filha. O palco estava montado. E a cortina ainda nĂŁo havia caĂdo.

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