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tanokindlecast · 4 years ago
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Uma Vida Pequena -  Hanya Yanagihara.
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É importante ressaltar que essa não é uma leitura a ser recomendada sem o repasse de seus gatilhos (pois são explícitos): estupro, pedofilia, prostituição, relacionamento abusivo, distúrbio alimentar, mutilação, agressão física, sequestro, suicídio, abuso sexual, físico e psicológico.
Qual livro vocês amam de paixão (e possivelmente é um favorito), mas que falar dele é uma tarefa difícil? Pra mim, sem dúvidas é 'Uma Vida Pequena'. Essa foi a minha leitura favorita de 2020, li em meados de Julho, e até hoje eu ainda penso sobre a trama. Nessa história, a autora nos conta a vida de quatro amigos pós faculdade. Conhecemos Malcolm, JB, Willem e Jude. O inicio do livro o narrador foca nos três primeiros personagens, temos vislumbre de sua criação, seus medos e suas projeções para um futuro. Embora esse início pareça um pouco arrastado, é importante sabermos um pouco sobre cada um dos três, para então vermos como o mecanismo da amizade e lealdade funcionará, como o nosso de fato, protagonista principal.
É claro, Jude, com seus pais completamente inexistentes (o que era um mistério – conheciam Jude havia quase uma década e ainda não sabiam ao certo quando ou se chegara a ter pais, somente que seu passado era triste e não devia ser comentado).
Jude St. Francis mantem a vibe de mistério não só para o leitor, mas para seus amigos. A narrativa ao redor dele, é a mais pesada e agoniante que já li até agora. O livro passa de uma história sobre 4 amigos tentando vencer na vida para 'a história mais triste do mundo'. Jude St. Francis para a ser o centro gravitacional.  Uma das coisas que mais me tocou, foi a maneira com que Hanya colocou o Jude sendo a pessoa que, vendo de fora "alcançou tudo na vida" que uma pessoa pode querer, mas internamente esse personagem carrega uma quantidade enorme de traumas e feridas, que chega a ser sufocante pra quem tá lendo. Começando literalmente com abandono parental, passando por uma infancia cheia de abusos físicos, psicológicos e sexuais da maneira mais pesada possível. Ela mostra toda uma cadeia de falhas que se perpetuou na vida dele enquanto criança/adolescente e o reflexo disso em um adulto. Um adulto completamente inseguro de si, complexo de inferioridade em uma extensão agonizando ao ponto de aceitar relacionamento abusivo, por acreditar que é isso que ele merece. E por mais que pense ‘ah, é apenas um personagem’, você se da conta do quão real e próxima é da realidade.
Sempre que Harold lhe fazia perguntas pessoais, Jude sentia algo se mover pelo seu corpo, como se estivesse congelando por dentro e seus órgãos e nervos fossem protegidos por uma camada de gelo. Naquele momento, porém, achou que pudesse quebrar, que se dissesse qualquer coisa o gelo racharia e ele se despedaçaria.
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Embora ao longo do livro conhecemos as várias partes soltas de Jude, e em sua maioria elas são feridas incuráveis, ainda há partes bonitas na história, mesmo que minúsculas. Na fase adulta, Jude tem um emaranhado de bons amigos. Os mais leais possíveis. Presenciar esses momentos em que não apenas eles demonstram esse afeto ao Jude, mas ele retribuindo a confiança apesar de tudo que passou, é lindo. Nos faz chegar ao famoso ‘ele tem tudo e ainda assim reclama’, o que acredito eu ter sido um feito intencional da escritora.
Amizade, companheirismo: essas eram coisas que tantas vezes desafiavam a lógica, que tantas vezes passavam longe de quem as merecia, e que tantas vezes agraciavam os esquisitos, os maus, os excêntricos, os perturbados.
Essa não é uma leitura que eu recomendo a todos. É algo pesado de se ler, os gatilhos são explícitos demais. Porém, ainda é uma leitura que faz você refletir sobre os vários Judes presentes, muitas vezes em anônimo, ao longo da nossa jornada.
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