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Agostinho Torres
Acho que todo escritor é meio Oppenheimer, criador e destruidor de mundos. Gerar universos a partir da realidade e das nossas experiências de existência é, para mim, o ponto central da literatura. Só que há uma parte laboriosa e cansativa para se chegar a esse ato germinador, que muitas vezes as pessoas esquecem. Eu subdivido a ação do verbo escrever em dois momentos: a concepção e a inscrição.
A concepção é a parte divertida, a atividade criativa que, grosso modo, as pessoas imaginam ser à função do escritor. É aquela ideia que você tem durante um sonho e anota para tentar desenvolver; a brincadeira constante do “e se fosse assim e não desta forma”; a experiência de criar uma mitologia individual a partir de coisas e pessoas banais; criar mundos a partir de nossa biblioteca mental; a leitura em sequência de vários livros sobre uma temática, como forma de pesquisa para substanciar as ideias; em resumo, é aquele estalo de prazer mental que todos temos constantemente na vida, quando pensamos nos conceitos do que poderia ser uma boa história.
Já a inscrição é a parte chata; durante esse momento o escritor trabalha como um pedreiro da linguagem, que palavra por palavra você vai enchendo uma tela em branco com um tracinho piscando. É cansativo, extremamente entediante e aporrinhador. Ao fim de algumas páginas (entre oito e dez), fico tão cansado que é como se eu tivesse exercido de fato uma atividade física. E o problema maior é que enquanto eu não terminar a obra, minha mente não desliga de sua construção. Por isso eu só parto para a inscrição depois de ter definido o máximo possível da concepção.
Esse é o esboço geral do meu processo de escrever. No entanto cada livro também possui uma história de nascimento própria: O meu primeiro livro, Vagabundo Sem Nome (romance), é fruto de um momento em que eu estava mais beat, escrevi durante um mês inteiro das 23h da noite às 5h da manhã; era o tempo que eu tinha disponível na época, já que de dia estudava na UFPI. O que acontece quando não estamos olhando foi resultado de dois ou três anos apagando e reescrevendo contos. Escrevi no começo desse ano outro livro, que por enquanto estou chamando de Relatos da Interzone, também de contos, em que o processo de concepção foi todo dormindo; eu acordava tarde da madrugada e ficava um tanto perdido sem saber se eu era eu mesmo ou a pessoa que aparecia nos meus sonhos, de alguma forma um enredo bem coerente saia de cada uma dessas noites; depois meu trabalho de inscrição era só tornar a escrita mais segura, acrescentar conteúdo e cortar algumas coisas que não faziam qualquer sentido.
______ Agostinho Torres, 24 anos, escreveu os livros de ficção "O Vagabundo sem nome" e "O que acontece quando não estamos olhando”, além de participar da coletânea "VII Demônios - Luxúria/Asmodeus". Como historiador participa com artigos em dois livros, "História, arte e invenção" e "História e Vida"; além da monografia "Reimpressões de uma identidade: as diversas facetas da escrita de Jomard Muniz de Britto na década de 60". Em Abril lança o livro “O que acontece quando não estamos olhando”, uma coletânea de contos.
#2 mil toques#produção#rotina#processos#literatura#escrita#ficção#procrastinação#escritor#livros#Agostinho Torres#André Timm
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Ramon Barbosa Franco
Escrever é uma atividade que realizo praticamente em todas as horas ativas do meu dia. Logo após me levantar, cumpro uma ampla rotina de produção textual. Redijo notas, notícias, requerimentos, respondo a e-mails, preencho postagens, preparo discursos. São produções associadas diretamente ao meu exercício profissional. Atualmente, estou assessor de imprensa da Câmara Municipal de Marília. Marília, cujo nome é inspirado num poema de Tomás Antônio Gonzaga, é uma cidade do Interior de São Paulo, onde vivo com minha esposa, filhos, uma cadelinha poodle e um calango, que habita clandestinamente o nosso quintal. Produzo literatura após desempenhar a jornada profissional e as funções de pai de dois meninos: um de 10 anos que deseja ser engenheiro e jogador de futebol ao lado de Messi e Cristiano Ronaldo, e outro de 4 anos que deseja ser peão para conduzir boiada até o Pantanal e disputar o rodeio de Barretos. Faço literatura do mesmo jeito que o dramaturgo Plínio Marcos escreveu a peça ‘Quando as máquinas param’: quando seus filhos estavam dormindo, à noite. Uma porque quando meus filhos vão para o quarto é perto das 22 horas. Outra porque, assim, o silêncio impera e, portanto, encontro condições perfeitas para as tramas serem colocadas no papel.
Nem sempre, no exercício profissional, fiquei responsável por textos rigorosos. Por 20 anos encarei a rotina de redações, exercendo funções de repórter policial, redator em diversas editorias, colaborador da Folha de S. Paulo, editor-assistente e, por fim, editor-chefe. Jamais abandonei a prática da escrita literária. Quase não escrevo poemas, apenas prosa. Para cumprir as exigências dos jornais e das editoras iniciava minha jornada antes das 6 horas e só terminava depois das 21 horas. Por isso, a madrugada sempre foi companheira do meu esforço literário.
De tudo que escrevo, o fazer literário é o que mais me preenche. São as linhas que mais me trazem satisfação. As outras que redijo me trazem a comida, pagam as contas e cobrem os custos da casa. O fazer literário é como se a mente, o corpo e o espírito consolidassem numa só forma, permitindo deixar palpável conceitos subjetivos em suas representações, como amor, liberdade, desejo, criação, justiça, medo e determinação.
Inspirado em dois grandes autores da minha formação, Ariano Suassuna e o mineiro Romulo Nétto, e por um comportamento profissional, sempre inicio o processo de escrita literária à mão. Escrevo capítulos, estrutura de tramas e cenas inteiras em cadernos ou folhas sulfite. Depois, traço uma versão à máquina de escrever, na Lettera 82, ou no computador. Textos por encomenda seguem direto para o computador, bem como as versões finais que preparo para enviar à editora. ∫
_____ Ramon Barbosa Franco, 36, é nascido em Paraguaçu Paulista, no Interior de São Paulo. Formado em Jornalismo pela Universidade de Marília (Unimar), já colaborou para jornais como O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo. Na imprensa, trabalhou como editor-chefe, editor-assistente e repórter policial. Atualmente é assessor de imprensa da Câmara Municipal de Marília. Escreveu ‘Getúlio Vargas, um legado político’ (Carlini & Caniato, 2015), ‘A próxima Colombina’ (Carlini & Caniato, 2014), ‘Contos do Japim’ (Carlini & Caniato, 2010), finalista em Literatura do Mapa Cultural Paulista 2009/2010, promovido pela Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, e do concurso de contos ‘Tragédias Cariocas Hoje’, organizado pela editora Nova Fronteira em homenagem ao dramaturgo Nelson Rodrigues. Ficou em 3º lugar no V Concurso Municipal de Contos ‘Prêmio Prefeitura Municipal de Niterói’, com o conto ‘Era de cubano’.
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Andrei Ribas
Como minha renda não vem da literatura (aliás, até quem vive só da literatura neste país dá pra desconfiar que tenha algum tipo, de fato, daquilo que conhecemos por renda – deixando de lado os “best-sellerianos”) e nem de atividades relacionadas – ensino, publicidade, jornalismo, tradução, frilas –, quando escrevo é em momentos de psicografia, mas sem espíritos pra culpar.
As inserções variam. Podem se dar antes de amanhecer ou quando já me convenci de que o dia estava terminado: tenho que incontinenti escrever à mão a ideia que vem em fragmentos ou, raro, completas, desde o mote até os diálogos detalhados. Quando não vem integralmente, a ideia fica ocupando meus afazeres laborais e as atividades de lazer. Não é difícil ficar tecendo continuações ou buscar o desenlace de uma ou mais histórias enquanto corro na esteira da academia ou vou passear no parque ou na praça. A(s) trama(s) persiste(m) e persegue(m).
De outro lado, todo esse insight advém das leituras. Vastas. Livres e obrigatórias. Não descarto nem as HQs, que são, como definem em inglês, novelas gráficas. Pra escrever, já disseram, é preciso antes ler, corroer as páginas do que há de bom e ruim procurando a própria saída (ou escrever não é criar labirintos e mais labirintos – sem, necessariamente, encontrar escapatórias – ?). Mas além das leituras perscruto também o cinema, do qual sou admirador dos roteiros complexos e instigantes em que garimpo imagens a serem decodificadas e descritas, e, claro, esta matéria bruta e afiada, fornecedora da sujidade a ser bem ou mal asseada, chamada vida.
De toda este amontoado, portanto, é separar, talhar, esconder, costurar, emendar, produzir, sangrar e parir o que acredito ser possível de ser lido.
Sem ter a menor certeza disso dali adiante.
_____ Andrei Ribas é autor dos livros O monstro (novela, 2007) e Animais loucos, suspeitos ou lascivos (contos, 2013). Prepara o lançamento de Cada amanhecer me dá um soco (romance) e Romântico visceral sob o céu fragmentário (poemas). Possui trabalhos reproduzidos nas revistas eletrônicas Plural, Flaubert, R.Nott, Pessoa, Mallamargens, jornal Relevo, entre outras publicações. Escreve resenhas/críticas literárias para os sites Amálgama e Homo Literatus.
#2 mil toques#produção#processos#procrastinação#escrita#livro#ficção#escritor#narrativas#andrei ribas#andré timm
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Calixto Afiune
Respiro fundo e abro a minha planilha de controle. Resmungo. “450 palavras hoje? OK.”, penso. Com esse bloqueio criativo que estou enfrentando, penso que só existem duas alternativas: ou mato algum personagem importante, ou abro uma cerveja.
Me levanto, vou até a geladeira e pego uma cerveja.
Já é noite em São Paulo. Vou até a janela. Daqui consigo ver a Catedral da Sé, monumental em meio à cidade, como uma roseira tentando crescer por entre as pragas do jardim.
Suspiro. Não queria estar tentando escrever neste momento. Queria sair, beber, conhecer pessoas, correr no parque, ver minha família e meus amigos, assistir um filme bom, continuar lendo aquele livro fantástico, dançar. Mas tenho fugido demais. Minha inspiração é meu cachorro; o bloqueio criativo é uma imensa parede. Consigo ouvi-lo latindo o tempo todo do outro lado da muralha, me chamando, mas não sei por onde passo para encontrá-lo. Isso me frustra. Daí eu fujo.
Mas hoje não vou fugir mais. Hoje vou encontrar minha inspiração, nem que eu tenha que sair voando.
Coloco uma música, bem alto – não sei como os vizinhos não reclamam – e penso. Penso naquele casal que vi mais cedo no ônibus; penso naquela história engraçada da época da faculdade; penso no mendigo que me chamou porque queria conversar com alguém; penso em uma história bizarra que li no jornal; consulto meu bloco de notas no celular, onde anoto qualquer coisa que possa vir a ser uma inspiração no futuro. De repente, encontro uma abertura no muro.
Não vou precisar matar um personagem importante.
Não hoje.
_____
Calixto Afiune, natural de Anápolis / GO, mora atualmente em São Paulo. É bancário de profissão, engenheiro agrônomo de formação, e sonha um dia poder viver da escrita. Seu primeiro romance policial, “A Luz Que Entra Pela Janela”, está sendo lançado grátis em capítulos através de seu website. www.calixtoafiune.com | www.facebook.com/aluzqueentrapelajanela
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Geny Vilas-Novas
O meu fazer literário é muito simples. Não tenho ritual e não forço nada. Não obedeço horário, as vezes passo a noite escrevendo. Um frase pode deflagrar um livro. Meus livros são escritos página a página, não sei como irão terminar, e o fim aparece de uma hora para outra. Faço apenas romances, contos e histórias infantis. Muitas vezes acordo no meio da noite com uma história na cabeça, tento dormir e afugentar as palavras, mas elas são imperiosas, e o melhor é me levantar.
Uso a técnica com parcimônia, ela precisa estar a meu serviço. Quando me sinto muito escritora, abandono. Escrever bem para mim não é suficiente. Não gosto de livros ou contos que seguem receitinha de bolo. Escrever não é difícil, dizem que o diabo mora nos detalhes. Nos meus livros, a primeira coisa que surge é o titulo. Faço as dedicatórias e dai para a frente, as palavras vão se agrupando. Sou econômica com as palavras e tento selecionar muito o meu vocabulário. Para mim, nada cai do céu, vou garimpando, lapidando, elaborando.
Meus textos, os que mais gosto, costumam chegar prontos. Escrevo há 30 anos e já tenho certa prática. Se o texto começa a se fazer de rogado, deleto e escrevo outro. Não tenho o menor apego ao que acho que não vale a pena. Muitas vezes escrevo dois livros ao mesmo tempo, não sinto que um dá prejuízo ao outro. São dois olhares, duas reflexões. Não me poupo, entrego a última gota de sangue. Sugestões são sempre bem-vindas. Posso passar o resto da noite escrevendo. O escrever em si já é sofisticado e dinâmico. O que é bom, para um livro, costuma não funcionar com o outro. A literatura é faminta. Temos que estar sempre alimentando esta fera, e esta fera é insaciável.
____
Geny Vilas-Novas nasceu em Fernandes Tourinho/MG, mas vive no Rio de Janeiro. É autora do romance Adeus, Rio Doce (Bom Texto) e participou de várias antologias, entre elas, Doze autores e suas histórias e Tempos de Nassau: um príncipe em Pernambuco. É casada e mãe de dois filhos.
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Rodolfo Lorenzato Patricio
A inspiração é o que torna esse ofício fascinante. Todo dia acordamos os mesmos, temos nossa rotina a cumprir e alguns sonhos ou objetivos a nos motivar. A vida pode seguir seu curso e ter as variações de felicidade ou frustração sem que, em nenhum momento, precisemos da inspiração. Porém, para um escritor, ela é simplesmente imprescindível.
Meu processo criativo é solitário, porém, dependente por completo da inspiração, que muitas vezes surge de conversas interessantes, filmes, livros ou peças de teatro enriquecedores ou, ainda, em incursões por paisagens maravilhosas. Eu não escrevo o tempo todo, considero até ser um tanto quanto preguiçoso para isso. Só escrevo quando algum clique se ativa dentro de mim e me faz enxergar além daquilo que se mostra como realidade à minha frente. Isso pode vir de imediato ou demorar algum tempo, mas a partir daí tento esgotar completamente o assunto, escrevo e reescrevo para lapidar as ideias que me vem à mente e, enquanto não fico satisfeito, não largo o texto.
Outra coisa interessante é que não escrevo só para mim. Escrevo pensando em como as pessoas vão ler. Nesse aspecto me coloco como leitor e tento descobrir o que tem de interessante no texto. Eu, geralmente, já sei o desfecho do que estou escrevendo, mas penso em como posso deixá-lo instigante para quem o lê pela primeira vez. É como se fosse um jogo de tentar adivinhar o que já sei e nesse jogo posso vir a descobrir algo dentro do processo criativo que efetivamente mude o rumo do que tinha planejado escrever. É um pouco de loucura, eu sei, mas quem gosta de escrever deve se identificar com esse desvario.
Reviso com certa frequência meus (poucos) textos, sempre buscando melhorá-los. Gosto de brincar com a língua e tirar dela seu lado mais saboroso. É comum usar referências implícitas, abusar de anagramas, paródias, intertextualidades, sarcasmo, antíteses e metáforas. Não devemos temer as palavras, por isso busco me afastar de algumas de suas seriedades nocivas e usá-las para me aproximar das pessoas. Acredito nesse poder transformador da literatura e que a leitura nos faz gostar mais das pessoas.
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Rodolfo Lorenzato Patricio é natural de Ipatinga/MG, foi cedo para São Paulo, onde se formou em Letras pela USP e economia pela PUC/SP, com pós-graduação em Língua Portuguesa. Possui três livros publicados pela Universo dos Livros e um pela editora Zeppelini. Autor do livro "Eu te Conto" pela editora Lápis Roxo. www.facebook.com/livroeuteconto.
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Cassia Cassitas
São três horas da manhã quando acordo para escrever. Desperto pronta, vou ao escritório e começo a ler o que já escrevi. Então as palavras acontecem e continuo de onde parei. Escrevo por horas sem parar. Às seis horas volto para cama descansar os olhos, me levanto antes das sete. Tomo o café da manhã com meu marido, nossos filhos indo e vindo. Adoro começar o dia assim.
Escrever é como conversar com as pessoas. Eu gosto de gente, de ser gente, todos iguais e diferentes, com suas idades, necessidades e interesses, nessa mistura que é a vida. Acredito que o leitor percebe e me escreve. Recebo depoimentos surpreendentes.
As pessoas são a minha prioridade e moldam meus dias. Por isso as manhãs são diferentes. Academia, supermercado, aulas de idiomas, encontro com amigas, reuniões no colégio, ida ao banco, reuniões, a vida prática acontecendo.
À tarde, eu estudo. Levei dois anos para escrever cada um dos meus três títulos. A partir de uma ideia , faço muita pesquisa, leio jornais, livros, teses acadêmicas, vou a eventos conversar com as pessoas, assisto a filmes, faço cursos. Cada livro tem seu processo.
“O menino que pedalava” nasceu da lembrança de uma frase de uma ex-aluna, dita há quase vinte anos. Durante as pesquisas, entrei em contato com um universo do qual eu sabia muito pouco. Visitei lugares, conheci pessoas incríveis e ganhei várias distensões musculares. Transformar a inspiração na historia de um paratleta foi uma jornada maravilhosa, libertadora.
“Fortuna, a Saga da Riqueza” foi uma busca de respostas. Estudava movimentos sociais ao redor do mundo e acompanhava tendências econômicas. Então eu sonhei a cena de um dos últimos capítulos. Dali emergiram os fatos, o enredo e a dinâmica de um casal em meio à crise de 2008.
Quanto a “Domingo, O Jogo”, bastou eu começar a estudar filosofia para dar forma ao que estava represado em mim. Nesse período eu escrevia e lia Carlos Drummond todos os dias.
Leio muito, horas. Tenho livros em todos os lugares e leio vários ao mesmo tempo. A lista inclui clássicos, best-sellers, os livros dos meus filhos e os que me agarram quando vou a uma livraria. E de vez em quando tenho a alegria de conhecer um mestre nas feiras literárias que participo. Aí, me debruço sobre a obra completa do autor.
Trabalho de segunda à sexta. Na fase inicial, a maior parte do tempo é dedicada a estudo, organizar o material em planilhas, fazer fluxogramas, agendas de acontecimentos. Então começo a alinhavar o que fui escrevendo aqui e ali, o livro toma corpo e passa a me acordar às três da manhã para lhe dar corpo. Neste período, escrevo de madrugada e de manhã, reviso à tarde. Quando o texto está completo, a revisão dura de seis a dez horas por dia.
Tenho agenda, cronograma, público-alvo, metas. Quando envio os originais para apreciação, começo a pensar na tradução e na divulgação. Publico em português e inglês. Uma verdadeira maratona que me deixa exausta e muito feliz.
“Entre a técnica e a emoção,
escolho conversar com o leitor,
cochichando segredos
e lançando raízes
de minhas histórias…”
_____
Cassia Cassitas nasceu no interior do Paraná, é docente em cursos superiores e MBA’s e fez carreira na área de Tecnologia da Informação. Autora de três livros, seus textos movimentam ideias acumuladas em meio ao cheiro dos cafezais, a produção de sapatos e a tecnologia da virada do século. Fala de episódios que transformam vidas, num caminho em que desfilam memórias e imaginação.
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Zé Alfredo Ciabotti
Ando com um bloquinho no bolso para anotações - nele escrevo todos os dias. Coisas que vejo, ouço, leio ou imagino. Ando bastante a pé. Pego vários ônibus por semana. Vejo muita coisa e, uma frase ou certas situações, podem se transformar em um conto ou uma crônica. Faço esta “decupagem mental” em espaços de tempo variados: pela manhã, tarde ou noite. Tenho uma rotina de quase cinquenta horas semanais como professor e pesquisador. E outras mais dedicadas à minha esposa e um filho de cinco anos. Não tenho um quartinho isolado com uma estante de livros e um quadro de um pintor famoso, nem um local de introspecção onde se recolhem as almas geniais dos escritores sorumbáticos. Escrevo em meio à correria diária, em meio ao pandemônio cotidiano. Na mesa da cozinha, cheia de farelo de pão e uma caneca de café. Meu livro ‘O amor pode ter fim e outros contos’ foi feito assim. São contos curtos, para se ler no ônibus, na fila do banco, no intervalo da novela ou entre uma foto e outra no Facebook. Quando escrevo, penso em quem tem pouco tempo para ler. Ou preguiça. Somos uma geração preguiçosa e sem brio. Queremos que outros imaginem por nós. Aí que entro: imagino para os outros, histórias de outros. Por outro lado, muito do que escrevo faz parte da minha indignação. E é assim que tento formar leitores: distraindo e provocando.
____
Zé Alfredo Ciabotti é autor de ‘O amor pode ter fim e outros contos’. Seus contos já foram publicados em diversas antologias pelo país. Posta ocasionalmente no facebook.com/zealfredociabotti
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Lucas Feat
Eu escrevo quando quero. Não tenho nada organizado em horários, dias da semana ou outra espécie de contagem. Exceção a isso se aplica quando o texto é encomendado, como ocorreu mês passado, daí encaixo o tempo de produção diário fazendo a matemática com os dias que tenho disponíveis. Tudo bagunçado. Quando a vontade clama, sento em frente ao computador com uma xícara de café e um maço de Marlboro do lado direito da mesa, janela à esquerda, estante atrás, deixando fluir a vida dos personagens. Ah, ultimamente ando anotando fragmentos do que vem à cabeça em papéis que levo no bolso quando saio de casa. E lapiseira. Escrevo de lapiseira. Felizmente, muito raramente isso acontece.
Comumente, eu escrevo ficção no fluxo de consciência mesmo, totalmente livre, para ver se a história funciona no papel. Só começo a auto-cobrança depois da história pronta, quando vou lapidando a linguagem, reescrevendo o texto com um tom que acredito que funcione.
Não tenho rituais para escrever. Quando estou sem ideias, abro os livros de ficção que mais aprecio, mergulhando dentro dos textos que mais gosto, revisitando-os. Depois, procuro uma música, um filme intenso, uma cena ou diálogo que escuto na rua. Sou minimalista nestas horas: um fósforo se ilumina por dentro, isto me causa um estalo para voltar com outra ideia para o texto, para desdobrar a partir de uma palavra apenas.
Não gosto de romantizar a escrita. Acredito que é uma verve que tenho. É como disse Eastwood: Um homem deve fazer o que um homem deve fazer.
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Lucas Feat nasceu em Brasília em 1986 e faz Ciência Política. Em 2012 editou a revista para a primeira Bienal do Livro e da Leitura de Brasília. Publicou a antologia de contos “Antes os jardins” em 2010. Possui textos em diversos jornais e revistas como Cronópios, blog da Cosac Naify e São Paulo Review.
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Paula Fábrio
Escrevo pouco. Corrijo muito. Uma página por dia, quando tudo dá certo. Todos os dias. Oito horas por dia. No computador. Sobre uma escrivaninha de vidro. Ao lado da janela. Com vista para uma sibipiruna que deve ter mais ou menos a minha idade. Com um cachorro a dormir sob meus pés. O cão não viverá muitos anos, está velho e dorminhoco. Mas um dia já correu na praia, como eu. Então sou uma afortunada, suponho.
Leio muito. Não assisto tevê e isso ajuda, imagino. Leio sempre. Clássicos e contemporâneos, de todas nacionalidades. Poesia, prosa, bula e manuais. Grifo as frases novas, as que dizem de outra maneira. Estudo. Se crio algo que valha, é com o silêncio. Me alimento de chocolate nos intervalos. Respondo e-mails e sigo amigos e escritores por aí. Também estendo roupas, lavo a louça, preparo minha comida, dou palestras, oficinas, e isso tudo rouba meu tempo da escrita. Mas a recompensa é a vida.
Gosto do buril, do cinzel, do insert e muito, muito mesmo do delete. Todo dia leio o que escrevo desde o início, para me odiar um pouco, talvez. Depois caminho para fortalecer os músculos, ter algo para a pele se prender. Assim escrevi dois romances. Com linha do tempo, resumo de personagens e arquivos de excel (não, não me perguntem nada). Isso tudo antes que o livro comece a desmoronar. O que acontece lá pela página trinta. Nessa hora percebo minha turra.
Mas agora tenho um livro de contos nas mãos, e enfrento um abismo. No entanto, há uma vantagem a ser colhida. Contaram-me essas histórias há muito tempo. E minha memória começa a falhar.
Ah, sim. Pesquiso pouco. Observo os vizinhos. Topo com personagens a todo momento. Componho vinganças mesquinhas.
Porém, não fujo à regra. Tenho compromissos pragmáticos, receber negativas de editoras é o mais corriqueiro. Aliás, dia desses concluí o mestrado em literatura. E pago contas, não sei dizer como.
_____
Paula Fábrio nasceu em São Paulo, em 1970. É escritora e mestre em Literatura pela USP. Seu primeiro romance, Desnorteio, venceu o Prêmio São Paulo de Literatura 2013, como Melhor Livro do Ano - categoria estreante. Um dia toparei comigo (Foz, 2015) foi agraciado com a bolsa de criação literária ProAC.
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Rafael Schultz Ribeiro
Em vez de expor aqui meus hábitos, manias e processos de escrita, farei algo que julgo ter mais valor a quem se interessar. Compartilharei com vocês uma notícia com que me deparei em um jornal pequeno, no ano passado. Logo, não se trata de mero “ouvir falar”. Ainda que o conteúdo dos impressos possa e deva ser questionado, lá estava, nas páginas de um jornal, que eu próprio li, recortei e guardei numa pasta azul, velha e de elástico frouxo. Não sei exatamente como conseguiram as informações de caráter íntimo, mas segue o que foi publicado.
“Frederico Weimar tinha o semblante sério, protocolar, e era de poucas palavras no trato cotidiano. No seu peito, contudo, habitava um coração de artista. E a arte que escolhera, ou que, talvez, lhe escolhera, era a literatura. Decidiu, pois, contar uma história ao mundo. Para isso, seguiu uma trajetória que, a princípio, seria recomendável a qualquer escritor iniciante. E eu, previsível jornalista de pensamento cartesiano que sou, sem a intensidade de espírito dos poetas, passo a enumerar seus passos nesse caminho.
I - Buscou um chamado para a sua história. Estabeleceu o que gostaria de transmitir com ela. Decidiu que confrontaria seus leitores com os riscos de se insistir em um modelo de pensamento, sociedade e Estado, o qual já se mostrou fracassado. Para isso, traria, em sua obra, “uma distopia, um futuro fantástico, surreal, terrível e maravilhoso, ambientado na Zaratávia, onde aparentemente concretizou-se uma impossibilidade, a morte de Deus”. Demonstraria que, “apesar do infortúnio imposto, não se dissipara a força intangível presente em cada ser humano vivo” (suas próprias palavras);
II - Organizou sua história. Traçou a estrutura dos capítulos, o que aconteceria em cada. Anotou as características dos seus personagens, local e data de nascimento, nome completo, temperamento, além outras variadas qualidades;
III - Cultivou o hábito da leitura. Já possuía o bom costume, e não deixou de ler, mesmo enquanto trabalhava na sua criação. Lia prosa e poesia, o que só lhe abastecia de ideias e inspiração;
IV - Não escrevia todos os dias – não julgava imprescindível –, mas sempre que possível. Costumava fazê-lo ao extremo da noite, e seguia madrugada adentro, quando tudo era apenas ele e o computador à sua frente;
V - Preocupou-se com a escrita, com sua lógica, gramática, sonoridade. Leu, releu, revisou e tornou a revisar o texto;
VI - Versão final pronta, buscou sua publicação. Passou meses, talvez anos, procurando uma editora que se interessasse, mas nada. Um editor chegou a propor que alterasse a maior parte do conteúdo e voltasse a lhe procurar, mas não poderia conviver com isso. A verdade é que, de todas as portas a que bateu, nenhuma lhe foi aberta.
Na noite da quarta-feira (26), em abril desse ano, Frederico Weimar atirou-se do terceiro andar, do prédio em que morava na Zona Sul do Rio de Janeiro. Populares relataram o que viram, embora ninguém tenha presenciado o momento exato da queda. Frederico foi encontrado estirado de bruços, sobre uma larga poça de sangue, abraçado a um volume de páginas impressas. Passados poucos minutos, um homem, que não foi identificado, retirou o corpo às pressas, sob pretexto de levá-lo a um hospital próximo. Chegaram, em seguida, uma equipe de reportagem, uma viatura da Polícia Militar e uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), que nada pôde fazer, pois já não havia mais quem socorrer. A polícia concluiu o caso como suicídio. Ocorre que, desde então, Frederico não foi mais visto vivo ou, lamentavelmente, morto. E o mistério sobre o seu paradeiro ainda sobrevive.
Desta incrível história, nada restaria, não fosse um pequeno e vasto detalhe. Resgatado do chão sujo e decifrado, apesar do sangue e do asfalto negro grudado às folhas, o original da obra de Frederico foi salvo. Por decisão editorial deste jornal e com autorização da família do autor, sua história será publicada aqui, um capítulo a cada quinta-feira. Nesta edição, o primeiro capítulo de sua obra única. O leitor é convidado a mergulhar no extraordinário mundo de Frederico Weimar. Capítulo 1 (...)”
E tendo acabado de ler a notícia e também o primeiro capítulo daquela história (posteriormente, li todos os outros), não pude deixar de pensar que àquele escritor fantástico só faltou uma qualidade. Se, de fato, morto, faltou-lhe resignação; e se ainda vive, e o mundo observa do breu de sua reclusão, mais ainda.
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Rafael Schultz Ribeiro é carioca, advogado e escritor, autor de contos, crônicas, como “Quatro e meia”, “O taxista da Samaria”, “Angústia” e “Nova Zelândia”, todos disponíveis na Amazon, além de publicações acadêmicas. [email protected]
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Maurem Kayna Escrever é uma forma de interagir com os fatos e com as coisas. Quando olho para o trânsito, para poças d’água nas calçadas do centro ou para a cara angustiada de um sujeito na esquina, estou lendo e escrevendo, embora nem sempre essas frases colhidas no cotidiano se convertam em narrativas.
Para tentar manter uma regularidade na escrita, já que não vivo (e sequer pretendo) de literatura, carrego sempre comigo um bloco de notas e vivo à cata de canetas que deslizem maciamente pelo papel. Assim, consigo escrever em quase qualquer lugar – café, sala de espera, fila do supermercado – mas, como minha caligrafia é um desastre, se espero muito tempo para digitar e reordenar as ideias, fica impossível decifrar algumas palavras.
Costumo escrever nos retalhos de tempo entre o trabalho e todas as outras tarefas imprescindíveis da vida – cozinhar (e comer!), cuidar da casa, da bicharada, das plantas e dos afetos, as aulas de flamenco e, claro, a leitura. Já tentei usar o gravador de voz do telefone enquanto dirijo, para registrar embriões de contos, características de personagens ou mesmo frases, mas não funcionou bem para mim porque acabava nunca passando a limpo.
Meu ritmo de escrita costuma(va) ser lento, mas depois do nanowrimo, em 2013, me impus uma revolução. Para cumprir a meta diária (1.666 palavras / dia) foi necessário desligar o modo auto-censura e refrear a mania de reescrever a mesma frase trocentas vezes, gastando horas em um mesmo parágrafo antes de ir adiante. Isso foi libertador. A rotina de escrever quase todos os dias também foi outro ganho da participação na maratona literária.
Atualmente não consigo manter a mesma disciplina porque o trabalho absorve tempo e energia, mas sempre reservo algumas horas por semana para me trancar no escritório e retomar os contos pendentes ou a estruturação do novo romance. Faz dois anos que deixei de usar o editor de texto word, gamei no Scrivener, um software ótimo que permite uma organização muito melhor dos textos e materiais de pesquisa.
A luta constante é para fugir de distrações pouco produtivas como as redes sociais e a dispersão nossa de cada dia ao mesmo tempo que tento equilibrar os esforços de divulgação necessários para todo autor independente e que inclui a manutenção do blog www.mauremkayna.com sobre autopublicação, a organização de material para concursos e ainda o envio de originais para editoras.
_____ Maurem Kayna é engenheira e escritora (afirma que talvez um dia a ordem se altere), baila flamenco e vem publicando textos em coletâneas, revistas e portais de literatura na web há quase uma década, além de apostar na publicação “solo” em e-book desde 2010. A seleção de contos finalista do Prêmio Sesc de Literatura 2009 – Pedaços de Possibilidade, foi seu primeiro e-book; depois disso, houve uma série de experiências com autopublicação, testando ferramentas de edição de e-books e plataformas para publicação independente. Em 2014 se deu a publicação de seu primeiro livro impresso, Labirintos Sazonais, que nasceu como um projeto de literatura digital.
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Nara Vidal Sou preguiçosa e tenho pouquíssima disciplina. Penso muito e não faço tanto. Se por um lado condeno em mim o mais sedutor dos pecados capitais, vejo na falta de regime uma vantagem. Frequentemente penso sobre escritores que têm hora certa para trabalhar. Seria lindo se tudo fosse tão singelo assim. O fato é que agora, por exemplo, estou escrevendo na sala de embarque, aproveitando o barulho impessoal do aeroporto. A minha falta de regras para criar me permite escrever inclusive quando a casa cai. Tenho dois filhos pequenos. Estou trabalhando um livro com textos mais duros. Estranhamente debaixo da minha mesa, enquanto todo o drama acontece no laptop, duas crianças brincam de pique-esconde. Coitados. Não têm culpa da mãe ser escritora.
Quando eu fazia Letras no Fundão, levava tudo muito a sério. Tinha hora pra escrever, tinha rituais. Devia ser insuportável! Mas lá atrás eu ainda não tinha filhos. E os filhos ensinam a gente a pisar no chão e rir de si mesmo. Rir inclusive da falta de rotina! A única questão que eu faço é de um café e, depois, quando o relógio muda de roupa, um tinto.
Minha escrita talvez ecoe a mudança de estações. Aqui na Europa são muito definidas e algo acontece lá fora que reflete aqui dentro. Nunca sei precisar como cheguei ao final de um texto. Às vezes ele começa pelo fim. Muitas vezes começa com um desfecho que se altera por completo. A cabeça está constantemente embaralhada e distraída. A escrita serve para tentar acalmar o que pulsa. Usualmente o inverso acontece. É quando a escrita me deixa ansiosa, agitada. Uma caminhada nos parques vazios daqui me acalma. Por vezes me ocorre uma palavra ou frase que eu sei que vão virar um texto. Tento colocar aquilo no papel pra não perdê-las de vista. Pode inclusive acontecer de eu voltar de uma caminhada falando sozinha. Tento me vigiar, já que acho isso esquisitíssimo. Pode ser que essas ideias me decepcionem e não virem coisa nenhuma. Fragmentos me vêm quando estou no trem, no metrô, num café. Vários deles vou usar depois. As pessoas me fazem sonhá-las, imaginá-las, julgá-las e dou a elas um destino a partir de um gesto, um objeto. Por exemplo, estava sentado ao meu lado agora, um senhor que mexia as mãos enquanto falava sozinho. Estava aflito. A partir daí, traço o dia desse homem, as razões de estar no aeroporto, etc e tal. Não consigo evitar. É um hábito. Mas se existe algo que costura minha escrita é a insignificância dos temas. Sempre que algo extraordinário aconteceu ou alguém me diz que aquilo daria um livro, é porque não daria. Tudo o que eu consigo criar vem precisamente da insignificância das coisas. Detalhes que ninguém nota e que provavelmente não fariam diferença alguma.
_______ Nara Vidal é mineira de Guarani. Formada em Letras pela UFRJ, é Mestre em Artes pela London Met University. Mora na Europa há 14 anos. É autora de infantis, juvenis e seu primeiro adulto, “Lugar Comum”, já em reimpressão, foi lançado em abril deste ano. Nara já participou como autora palestrante em diversas feiras literárias como a Flipoços, Clim, FNLIJ e Cheltenham Festival. Premiada com o Maximiano Campos e com o Brazialian Press Awards, Nara tem textos publicados em revistas como Germina, Mallarmargens e Confeitaria. Escreve sobre dança e artes para publicações inglesas.
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Miriam Mambrini
Uma coisa é certa: Escrevo sozinha, de preferência no meu quarto. Preciso de paz e silêncio, sem eles não há espaço para as ideias brotarem. Não gosto de interferências, Miriam isso, Miriam, aquilo, atrapalhando o mergulho no meu outro mundo, só meu, o mundo da criação. O escritor cria, inventa, mesmo quando parte de algum fato real. Decide quem serão seus personagens, o que eles vão sentir e dizer, como se relacionarão, em que ambientes viverão. Para criar, tenho que ficar fora do meu congestionado cotidiano.
Gosto de escrever de manhã, depois do café. Me perco nos caminhos que vou trilhando e esqueço a hora. Encontro meu marido de cara amarrada, esqueci que tinha prometido isso ou aquilo, esqueci as compras. Chego sempre atrasada nos compromissos.
Escrevo nas brechas. Quando sobra tempo, manhã, tarde, noite, o que der. Às vezes, há tempo livre, mas me distraio com o casal de pombos que fizeram ninho na minha janela e se revezam no choco, com a arrumação de uma gaveta que abri por acaso, e está um caos, com a lembrança de que ainda não dei um telefonema importante. Com isso, perco meu momento de criação.
De vez em quando rascunho à mão no papel que estiver à minha frente um início, ou meio, ou final de alguma história, mas isso é raro, pois os papéis se perdem. É o computador a testemunha do surgimento das ideias, é ele quem as fixa, transformadas em palavras. Companheiro e aliado no difícil trabalho de tirar alguma coisa do nada. Neste em que escrevo e nos muitos que o antecederam, nasceram romances, contos, crônicas, artigos, posts no blog e no facebook, e-mails...
Escrever não é fácil. Nem sempre o tempo possível para escrever coincide com o real momento de criar, isso que alguns chamam de inspiração. Nem sempre vem logo a verdadeira frase, a palavra certa. Mas é preciso escrever, nem que seja para depois reescrever ou apagar, abrindo espaço para algo melhor. A escrita depende mais do trabalho e da persistência do que da tal da inspiração. Pego um livro, o que estou lendo no momento ou outro, e, sem plágio, sem que o que li tenha alguma coisa a ver com o que vou escrever, surge a ideia e volto a digitar.
Posso também estar escrevendo mais de um texto ao mesmo tempo. Como agora. Deixei o romance policial de lado para contar a vocês como é minha rotina, mas ele não saiu da minha cabeça. Acho até que quando voltar ao capítulo em que parei, já terei resolvido minha dúvida principal e saberei quem é o assassino.
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Miriam Mambrini é carioca, formada em Letras pela PUC-Rio. Em 1994 publicou seu primeiro livro de contos, O baile das feias (Ed. Obra Aberta). Nesse e no que se seguiu, Grandes Peixes Vorazes, incluiu contos vencedores de vários concursos literários. Escreveu, entre outros, os romances As pedras não morrem (Bom Texto, 2004) e O crime mais cruel (Bom Texto, 2006), que foram adquiridos pelo Programa Nacional de Bibliotecas Escolares. Participou das antologias de contos 30 mulheres que estão fazendo a nova literatura brasileira (organização de Luiz Ruffato – Record, 2005) e Contos de escritoras brasileiras (Martins Fontes, 2003), entre outras. Seus dois romances mais recentes são Ninguém é feliz no paraíso (Ímã Editorial, 2012) e A bela Helena (7Letras, 2015).
#2 mil toques#produção#processos#rotina#procrastinação#literatura#escrita#narrativa#ficção#livros#escritora#Miriam Mambrini#André Timm
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Krishna Monteiro
Sou lento para a escrita. Produzo em média 1000 palavras por mês, sem me impor horários ou metas. Posso parecer indisciplinado, mas a literatura, para mim, está tão relacionada ao prazer que não conseguiria reduzi-la a códigos e rotinas de outras atividades, como se fosse um trabalho burocrático.
Encaro-a como instrumento de libertação contra aquilo que Max Weber e Karl Marx chamaram, respectivamente, de “gaiola de ferro” (normas da vida e sociedade que constrangem o homem contemporâneo) e de “alienação” (o ato de tornar alheia nossa vontade e pensamento, cedendo-os a outro). Ao produzir literatura, rompemos, ainda que temporariamente, esses constrangimentos. Criamos nossa própria narrativa, em oposição àquelas que nos são impostas pela família, pelas instituições políticas, econômicas, religiosas, pelo senso comum.
Embora produza pouco, penso a todo instante naquilo que estou escrevendo. Num personagem. Numa cena. Num enredo, símbolo, numa linha dramática. De certa forma, assim, a literatura é a principal atividade de minha vida. E, tão importante quanto o tempo destinado à escrita e reflexão, é o espaço reservado à leitura. Ler – em minha opinião – é tão ou mais prazeroso do que escrever. Não poderia produzir literatura sem o suporte e apoio do escritor que leio no momento. Muitas vezes, quando o fluxo da escrita se interrompe diante de um impasse ou problema na história, a solução surge pelas mãos e conselhos de Guimarães Rosa, Virginia Woolf, William Faulkner, Amós Oz, Issac Bábel.
Se não a encaro como trabalho, a literatura não deixa de ser ofício. E, como todo ofício, está sujeita a técnicas. Procuro sempre ler livros de criação literária em busca de aperfeiçoamento técnico. Presto atenção a críticas e resenhas. Muitas vezes, a crítica mais dura ajuda-nos a avançar, evoluir. Depois é deixar o texto dormindo na gaveta por algum tempo, revisá-lo, deixá-lo dormir novamente, e revisar, e pô-lo pra dormir, e revisar, dormir, até o dia em que se fecha o ciclo e o filho enfim desperta e está pronto para viver sua vida.
_____ Krishna Monteiro nasceu em 1973, em Santo Antonio da Platina, no Paraná. Depois de graduar-se em economia e obter um mestrado em ciências políticas, ingressou na carreira diplomática, em 2008. Foi editor de textos literários da revista Juca – diplomacia e humanidades, publicada anualmente pelo Itamaraty, e cocriador do blog Jovens Diplomatas. Em 2010, tornou-se vice-chefe de missão da embaixada brasileira no Sudão. Morando pela primeira vez em terras estrangeiras, foi tomado por lembranças de outras paisagens e cenas de infância escondidas na memória, e começou a escrever contos, em parte inspirados em sua própria história, em parte inventados, que resultaram no livro O que não existe mais. Foi Cônsul Adjunto do Brasil em Londres e atualmente trabalha em nossa Embaixada na Índia.
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