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Helenos

Não sou herói, nem mártir, se sou algo, sou apenas mais um entre os helenos, que sobrevivia à guerra sem jamais ter empunhado uma espada.

Não sei por qual razão eu morri, só sei que deixei de existir antes de deixar de respirar, meu corpo ainda anda, come e até ri às vezes, mas meu pensamento... esse ficou preso em algum ponto cego entre um ontem qualquer e o vazio do amanhã.

Ando pelas ruas como se fossem as mesmas ruas de sempre, e talvez sejam, mas agora estão cobertas por um véu cinzento, feito de poeira fina e lembranças mal lavadas. Cada passo ecoa, não nas calçadas, mas dentro da minha cabeça, como se o som voltasse para me lembrar que ainda estou aqui, apesar de tudo já ter ido embora.

Chego ao banco de um colégio vazio durante o recreio, as paredes ainda guardam ecos de risos que um dia também foram meus. É estranho, o tempo passa, mas certas memórias continuam sentadas na mesma carteira, olhando pela mesma janela. Um ritual morto, e como todo ritual, há repetições: mando mensagem para os mesmos amigos, ignoro as mesmas pessoas, rio dos mesmos vídeos como um aluno repetente das próprias emoções. Não é tristeza. é outra coisa, um limbo de sensações diluídas, um intervalo entre sentimentos, sem hora de voltar para a aula.

Meus vícios mudam com a semana, gasto o que tenho, consumo o que encontro, mas nada me consome de volta. Já fui preenchido por paixões, já fui tragado por ideias, agora sou só recipiente, um corpo de vidro com uma rachadura: vazando lento, sem pressa de terminar.

Quando durmo, acordo sempre no mesmo sonho: estou debruçado sobre o balcão de um bar que reconheço só de nome, peço uma dose de mim mesmo, servida num copo já quebrado. A garçonete tem o rosto de alguém que amei, mas a voz de quem partiu sem se explicar. A bebida arde, mas não aquece, o copo está sempre meio vazio, e sou sempre eu que o esvazio.

Estou cansado de pedir por mim, cansado de buscar o que deixei escapar.

Talvez, no fundo, não seja morte, talvez seja só essa forma de viver onde se morre devagar, como fogo de palha, como um conto mal terminado.

Escrevo isso como quem escreve uma carta que nunca será enviada, talvez alguém leia, mas escrever é a única maneira que encontrei para manter viva a parte de mim que insiste em morrer todos os dias.

A ideia morreu, sim, mas seu escritor... ainda treme os dedos.

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Humano

Na mitologia grega, Eros (deus do amor, personificação da paixão) nasceu do encontro de Pênia (a pobreza) e Poros (prudência), isso ocorreu durante a comemoração do nascimento de Afrodite (a beleza), isso tornou o amor belo como Afrodite, mas ainda pobre por herança da mãe.

O amor não liga para as consequências de seus atos, é grosseiro e pedinte, vive de porta em porta pedindo misérias, quando estamos sobre seu domínio fazemos isso de corpo em corpo, indo de pessoa em pessoa, pensando em maneiras de conseguir esse objetivo. Herdou de Poros, seu pai, a astúcia, a lábia de um galante, por isso reina na habilidade de sumir quando necessário, e aparecer tão rápido quanto.

O amor não é imortal, e não é sequer mortal, é algo superior, é temido e amado, louvado e admirado, mas acima de tudo, humano.

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Sonhos

Hoje recebi um convite para dormir acompanhado, o que não seria ruim devido ao frio da chuva, porém havia uma cláusula: teria que dormir mais cedo do que o comum, aceitei por medo da solidão.

Enquanto se deita ao lado esquerdo da cama, meu demônio mais íntimo diz tudo o que eu gostaria de ouvir , ou melhor, sussurra tudo aquilo que um dia ouvi falarem, cantarem, rirem, ele sussurra os gritos, as tristezas, ele sussurra os beijos, os gestos, as danças (...)

Ele sussurra saudades

E hoje eu não durmo sozinho, estou cercado de pensamentos.

E de demônios para narra-los.

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Estrelas

Subo ao coliseu em busca de fortificação, um remédio para minha solidão latente. A alma dos homens impuros rangem ao tilintar do aço e gritam pela glória eterna, o calor da batalha aquece o mais simples coração mortal. O templo da luta está no auge de suas orações.

Em paralelo, o templo de Afrodite derrama o mais venenoso dos vinhos: vinho de amora que um dia já fora branca e que hoje possui tons escarlates, em declínio dos amantes, subjugados através das raízes.

A cura dos problemas parte de cada enfermidade, para a alma busca-se conforto, para o corpo entretanto prefere-se o prazer. Diana e Febo me prometeram ambos, o cintilar das luzes noturnas trariam paz e aconchego, e ao clarear do dia, o par de olhos turvos de uma garota seriam minha lua particular. Errôneo pensar que Febo dedicaria uma das suas mais belas profecias para minha pessoa, a garota que Diana me entregava não poderia ser minha, não por falta de amor ou outro rapaz qualquer, nem mesmo Eros e Anteros trariam ela aos meus braços, pois a mesma era uma loba solitária, devota a Diana e caçadora lunar, uma fera indomável que abdicaria de seus prazeres em prol da independência.

A cada palavra de amor ela se afastava mais e mais, ao ponto que os olhos que me traziam paz tornaram-se viciosas fontes de prazer distante. O medo de perder-la tomou forma em meu ser, então para tê-la mais perto de mim tive que fazer um voto de devoção, não para Diana e muito menos Febo ou Afrodite, me coloquei devoto a ela, aos olhos turvos, privando-me de qualquer palavra de afeto afinco de trazer ela de volta, a dor para o sucesso é desgastante, mas por entrelinhas obtive aproximação, e de pouco em pouco terei esses olhos perto novamente.

De tanto lhe amar, lhe dedico estrelinhas que só você decifraria.

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Confusão

Outro dia em que o céu acorda nublado, pensamentos se acumulam na mente formando uma tempestade de emoções, estou quase para chorar e alagar o pouco de terreno seco que resta nessa cidade. Talvez o amanhã não seja tão radiante quanto imaginei.

As leituras que costumavam me acalmar não produzem mais efeitos e na busca eterna, ou talvez desesperada, de prazer me encontro de frente a uma tela e um cavalete, pronto para colorir as mais infames ocorrências da vida.

Uma tela vívida, produzida por um único pintor, seria uma obra de luxo? Ou talvez, para mérito do pensamento, um resultado de psicose?

Decido produzir uma paisagem, um céu púrpura que me lembrasse você, tons calmos e movimentos espirais, formando um conjunto tão amoroso quanto seus carinhos. Num acidente fatal derrubo tinta vermelha no leve arroxeado do céu, grito aos demais cantos todas as maldições que me surgem a cabeça enquanto tento arrumar a bagunça que havia feito, os tons calmos agora tornaram-se bruscas pinceladas quentes, as espirais que simulavam seus cabelos de mais nada valiam, tornou-se uma bagunça. O "você" que eu havia imaginado pintar, transformou-se no "você" que eu me negava enxergar.

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They're taking a break from their hike :)

(Illustration of story in previous post)

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Uma dose de você

Entro num bar, local adentro as mágoas se agrupam numa dança de cadeiras em que a maior se mantém em pé.

Peço uma dose de um veneno tão poderoso quanto o pensamento que me levou até lá, um remédio tão eficaz quanto um ombro amigo.

— Uma dose por outra dose? - uma voz rouca se dirige a mim

— Essa dose não inclui a dose de amar- fracasso num infame trocadilho

O tempo voa, e durante diversas e curtas conversas no bar percebo que me encontro bêbado -agora não mais triste-, levanto e saio para tomar outra dose, uma dose de ar. Sinto que meu peito arde em fornalha, com saudades de alguém não mais presente e uma dose de lembranças fazem com que eu me sente junto ao meio fio, em uma dose de pensamentos, lá avisto um casal em carícias, trocando doses de afeto dos quais nunca beberei novamente, meu copo estava vazio e num pedido desesperado entro novamente no bar, dessa vez em busca de algo para enchê-lo.

O acervo de bebidas num bar pode ser enorme, altas doses que duram por altas horas, porém não se comparava a multidão de lágrimas que ali havia, de uma forma ou outra, haveria uma dose reservada para mim.

— Aceita algo?- diz uma voz doce, segurando uma bandeja de lindas bebidas, enquanto aponta a bandeja para mim

Hesitei em aceitar, porém cedi, os olhos da moça refletiam em brilho a forma das garrafas, tão belo que me fez tomar uma dose de atitude.

— Uma dose de sua companhia- digo torcendo para que a moça aceitasse.

Felizmente ela aceitou sentar-se a mesa comigo, dessa vez, longas conversas me deixaram com água na boca e a garota havia entrado na conversa tal qual uma bebida se ajeita dentro de um copo, ela me preenchia.

Ao ver meu reflexo no copo, percebi estar encantado, não mais efeito da dose que tomara mais cedo, mas sim uma dose de amor que aquela moça entregava-me sem tirar uma dose sequer da bandeja

Após um soluço, percebo que estou sozinho na mesa, o bar estava fechando e as mágoas dançando até minha cabeça, juntando-se aos meus pensamentos, procuro a garota e descubro num péssimo despertar que ela nada mais foi que um delírio meu.

Ela me deixou bêbado de amor, e agora vivo numa eterna ressaca.

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Estou me desgastando com toda e qualquer forma de amor, catando pedaços daquilo que um dia desejei pra mim.

Hoje entendo que, de toda perca de tempo, esse quebra cabeça foi o maior, não minto em dizer que juntar as peças é complicado, ainda mais quando se está correndo atrás de algo, alguém, alguma coisa, algum destino, pois as peças caem, voam, se perdem e se encontram em outros cantos, corpos, toques e pessoas, não sei mais onde procurar, não sei onde você está.

Talvez, só talvez, eu sinta falta de estar completo, não por alguém específico ou por um hobby qualquer, sinto falta de me sentir incluso, me sentir parte de algo inteiro, de algo concreto, de algo que eu possa ao deitar no travesseiro chorar de alegria e não repetir o que tenho feito na calada da noite, chorar de desgosto, de desprazer, chorar sentindo falta de ter um "você".

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Noutra noite pensei que pudesse sim esquecer tudo que planejei, desde estar ao seu lado até o formato caricato da minha xícara favorita, mas desabar planos propositalmente nunca foi meu forte e, por mais que eu tente, ainda não sou capaz de desistir de tentar algo.

Nessa noite consegui romper o elo que criei entre nós, desatei o meu lado da corda só pra perceber que sequer estava amarrado, nunca estivemos juntos e agora só dedico-lhe juras que jamais ouvirá.

Dedico-lhe sorrisos, lágrimas e memórias, na esperança de que um dia você as tenha.

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A cama permanece quente mesmo sem sua presença, aproveito para dormir e sonhar com nossos momentos, torcendo para que nesse mundo seu calor aqueça o travesseiro.

Falho, acabo por encarar o teto enquanto tento não martirizar essas decisões, decido por fim esvaziar a mente num jogo de letras, uma simples pergunta: com quantas palavras se escreve um eu te amo?

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Deslizo as mãos por dentro do copo recém esvaziado enquanto imagino seu sorriso enchendo o ambiente de alegria, o festival estava animado, diferente de mim.

Como poderia aproveitar a festa? Talvez bebendo um pouco mais, talvez dançando as antigas que ainda faziam sucesso, um bom modão ou trilha de novela, poderia conversar sobre as mazelas da vida com algum desconhecido quando houvesse a chance

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A linha de chegada as vezes não é bela

Um dia me disseram "Se alguém corre atrás, significa que é ruim, se fosse boa, correriam atrás dela", de primeiro momento não entendi bem, mas ouvindo melhor, percebo que sou a pessoa que corre atrás, em todos os sentidos, e que nunca correram por mim

Correram de mim, correram para mim, correram para longe, verdadeiros maratonistas, maratonistas esses que nunca correram comigo, por ser um peso nessa caminhada, por ser a pessoa que sempre corre atrás