Tumgik
a-moeda-tem-2-lados · 10 years
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Fica
Fica. Só hoje. Aliás, só essa noite. Prometo que amanhã eu te deixo ir sem nem tentar te segurar, assim sem mais nem menos. Mas hoje, fica. Fica aqui. Fica comigo. Deixa eu me embebedar de você, de carinho, de sonho. De amor, o meu amor. Fica e deixa eu me iludir, porque eu quero achar que essa noite vai durar pra sempre. Fica, que à noite faz frio. Mas não aquele frio que os jornais preveem. É um frio que vem de dentro. Dentro de mim. E esfria a alma. Esfria o coração. E o teu coração é tão quente... Ah, fica vai. Fica e me deixa sentir teu abraço, tua pele tocando a minha. Fica e deixa eu te fazer cafuné. Não precisa esperar até eu acordar pra me ver descabelada e com a maquiagem borrada. Não. Pode ir embora antes. Pode ir embora enquanto eu ainda estiver dormindo. Só fica e me espera dormir.
Não te seguro, só te peço: por favor, fica.
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a-moeda-tem-2-lados · 11 years
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Na Parede
As vezes a gente esquece de viver
Só vai sobrevivendo, até morrer
Então vai, quebra essa sina
Sai fora dessa rotina
Sai
sem plano
Sai
do cotidiano
Muda o que tu conseguir mudar
No corpo, na mente, em todo lugar
Faz uma nova decoração
Decoração
De Coração
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a-moeda-tem-2-lados · 11 years
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Assobio
Ela devia ter uns 15 anos quando, da janela de seu apartamento, ouviu um assobio vindo da rua. Primeiramente nem se importou, alias quase nem ouviu. No dia seguinte, na mesma hora, o mesmo assobio. E no outro. E no outro... Até que ela foi à janela ver o que diabos era aquele rotineiro assobio e... era só um garoto. Um garoto que aparentava ter a mesma idade que ela e que passava todos os dias na mesma hora, assobiando a mesma música. Então, sem saber muito bem porque, ela começou a sair na janela todos os dias naquele horário, só pra vê-lo passar assobiando uma música que ela não conhecia e nem queria conhecer. Aliás o assobio, a partir daí, era só um mero detalhe.
Ela sonhava: se perguntava o nome dele, se eram mesmo de idades semelhantes, se ele reparava que ela o observava todos os dias (as vezes até pensava em chamá-lo mas não tinha coragem) e o porquê dele passar por lá todos os dias na mesma hora. Nos raros dias em que ele não passava, ela se transformava num misto de tristeza e preocupação: será que ele estava bem? Será que adoecera? Será que teve medo da menina estranha que o observava? Mas no dia seguinte lá estava ele, fizesse chuva ou sol, para sanar todas as angústias dela. Algumas vezes ele até olhava pra cima, mesmo que rapidamente, e ela se enchia de alegria.
O tempo passou. Ele continuou passando por vários dias, talvez até 1 ou 2 anos, segundo ela. Até que um dia, ela não ouviu o assobio. Ele não veio. Nem no outro. Nem no outro... Por algum período, ela continuou indo à janela no mesmo horário, só pra se decepcionar ao não ver ninguém.
Ela esqueceu. Ou só empurrou pro fundo da memória. De qualquer forma, desistiu. Seguiu a vida. Conheceu um rapaz encantador. Bom partido. Bom emprego... Casou-se. Foram morar do outro lado da cidade. Teve filhos. Seus filhos tiveram filhos. A vida seguiu seu percurso.
Até que um dia, entre buzinas roncos de motores e o vai-e-vem acelerado da metrópole ela ouviu uma música. Uma música que ela não conhecia mas conhecia muito bem. Um assobio, fraco e distante.
Não podia ser. Ela havia mudado. E se mudado. Como poderia? Enfim, caminhou com dificuldade até a janela e, boquiaberta, viu estar ali parado um velhinho, trajando uma boina, paletó e levando consigo uma bengala, acenando discretamente para ela enquanto assobiava a mesma música de décadas atrás.
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a-moeda-tem-2-lados · 11 years
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Silly Love Textos
Já ouvi dizer Que o amor não existe Que o amor é prisão Que o amor é perda de liberdade. Concordo Plenamente Que o amor é manjado Que o amor é batido Que o amor é clichê
Mas mesmo assim Continuo escrevendo Sobre amor Porque amor é vida Amor é bonito Amor é tudo
Então...
'Here I go again
I Love You'
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a-moeda-tem-2-lados · 11 years
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Teme.
Te vejo Me cego Te acho Me perco Te sinto Me anestesio Te seco Me molho Te toco Me arrepio Te respiro Me afogo Te acinzento Me colore Te ntadora Me lindrado Te elogio Me critico Te afirmo Me nego Te esvazio Me completa Te são Me do CerTEza MEntira
E temerosamente Te amo
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a-moeda-tem-2-lados · 11 years
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Modernidade
- Caraca!
- Hm?
- Olha isso, cara!
- Ahn?!
- A Lua! Olha a Lua! Tá bonita pra caramba e... nossa, o que é aquilo? Tem uma estrela ali quase colada nela!
- Uhum...
- E a estrela tem um brilho muito forte também. Que sensacional! Acho que é Vênus, será que é Vênus?
- É.
- Mesmo? Ah, não sei. Só sei que tá bonito. Acho que nunca vi o céu bonito desse jeito. Se vi, não lembro. E olha que sempre tive esse hábito de ficar olhando pro céu.
- Aham.
- Pena que acho que não vai ficar assim por muito tempo. Ih, ó lá... já tá fechando. Tá com bastante nuvem...
- Hm.
- Ah, droga. Tão cobrindo a Lua já. Que pena, tava bem bonito. O que cê achou?
- ...
- Hein?
- Oi?
- O que cê achou?
- Ah, foi mal, tava vendo aqui no celular umas fotos que o pessoal tá postando da Lua. Ah... pena que não dá pra ver daqui, né?
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a-moeda-tem-2-lados · 11 years
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Procura
"Se a vi? Ah, com certeza a vi. Não hoje, nem ontem, contudo. Talvez faça uns cinco anos... ou mais. Bem aqui mesmo, nessa mesma praça. Costumávamos vir pra cá quase toda noite, exceto as que ela não queria. Eu topava sempre, obviamente. Era legal, vínhamos pra cá trocar ideia, fumar um cigarro ou outro e dar risada das outras pessoas. Parece pouca coisa, eu sei, mas até as menores coisas são grandes se estamos em boa companhia, não é mesmo? Ela vinha quase sempre do mesmo jeito: uma camiseta sem estampa, calça jeans e um tênis verde que parecia combinar com aquela única mecha verde dos cabelos negros dela e com os olhos, também verdes. E eu sempre a achava estonteante. Falávamos sobre qualquer coisa entre uma tragada e outra. Ela me hipnotizava enquanto fumava aquele cigarro, parecia uma daquelas mulheres super-elegantes que a gente vê em filmes antigos, sabe? Comecei a fumar por causa dela, pra ver se eu ficava bonito como ela ficava, mas isso não vem ao caso... Ela, então, me falava das outras meninas, de como 'aquela ruivinha ali perto da estátua não tira o olho de você'. E não tirava mesmo, descobri isso depois enquanto eu buscava substituir algo insubstituível. Bom, na época ela não sabia, eu acho, que eu não ligava. Estava perdido demais nos cabelos, olhos, jeito... tudo dela para reparar em outra. Ou talvez ela soubesse disso, não sei. Ela era bem esperta, sempre foi. Tinha resposta pra tudo e umas tiradas ótimas. Ela era perfeita, eu sabia disso. Perfeita pra mim, inclusive, porque a gente combinava e muito. Mas acho que isso é o mais incrível das pessoas, não acha? A gente olha pra elas e vê o que quer ver: qualidades e defeitos que se encaixam ou não nas nossas próprias características como se todo mundo fosse peça de um maldito quebra-cabeças. E aí a gente esquece que cada um tem sua própria profundidade: pensamentos, medos, desejos, projetos... E fossem quais fossem os projetos dela, eu sei que eu não estava envolvido porque ela simplesmente foi embora. Escafedeu-se. Sumiu assim, do nada, sem deixar pistas nem bilhetes nem juras de amor, amor esse que me ardeu no peito por tanto tempo que as vezes ainda volto a essa praça só pra ver se a encontro. Como hoje, entendeu? E hoje, de novo, ela não está aqui."
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a-moeda-tem-2-lados · 11 years
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Perdidaço
Se vejo teu traço, pelo meu pedaço, ideia não faço: boa ou má
Pensamento no espaço, sigo o teu compasso, me perco no abraço que tu me dá
Então eu disfarço, não sei o que faço, se vou e te laço ou se deixo pra lá
Fria como aço, tu dá o teu passo, e eu me desgraço: por favor não te vá
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a-moeda-tem-2-lados · 11 years
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Longe
E nessa solidão sem fim eu te procuro incansavelmente pela rua, internet ou celular só pra descobrir que não te acho. Ou até te acho, etérea e eterna comigo nos meus pensamentos e sentimentos. Mas não basta, quero te ver, quero falar com você todos os dias e, como sempre foi, te contar a minha vida inteira, desde os segredos mais bem guardados até as coisas mais corriqueiras como meu dia-a-dia, um filme que vi ou as minhas infinitas paixões. E quero rir de tudo isso de novo como se tivéssemos todo o tempo do mundo porque talvez nós realmente tenhamos todo o tempo do mundo e isso seja só um curto intervalo que vai passar num piscar de olhos pra você voltar logo e deixar de me fazer tanta falta porque, sinceramente, cada vez mais eu acho que essa solidão é, na verdade, pura saudade.
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a-moeda-tem-2-lados · 11 years
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Autobiografia
Sou medo e insegurança
Sou erros e lambança
Sou depressão e desesperança
Sou imaturo, sou criança
Sou amor e ilusão
Sou ódio e paixão
Sou lágrimas e solidão
Sou sem graça e sou só risada
Sou sorriso e trapalhada
Sou basquete e futebol
Sou um dia sem sol
Sou sem sal
Sou do mal
Sou brincadeira
Sou pequeno, sou bobeira
Sou à minha maneira
Sou eu
Sou seu.
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a-moeda-tem-2-lados · 11 years
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Sépia
Olho e te vejo. Você está diante de um dos majestosos arranha-céus da nossa cidade. Seu sorriso combina perfeitamente com seus olhos, cabelos, roupas... até com o lugar ao seu redor. O que eu sempre gostei de você é essa sua capacidade fantástica de hipnotizar só com um simples sorriso. E nesse dia você parece radiante, não sei porque. Acho que você sempre pareceu radiante. Sempre transmitiu alegria por onde passou e talvez tenha sido isso que te fez ser a pessoa mais incrível que já passou pela minha vida.
Não tenho nem palavras para descrever a dor que me acomete quando penso que você se foi. Algumas lágrimas ousam brotar quase que diariamente dos meus olhos graças à falta que você me faz, e o que as pessoas chamam de 'coração' pra mim é só um buraco de vazio imensurável no peito.
Contento-me, então, em te ver nesse velho retrato em sépia que tenho de um dos nossos passeios pela cidade. Deixo essa foto aqui na sua derradeira casa para que você transmita um pouco de alegria para esse amontoado de estátuas, flores sem cor e pedras frias como você sempre fez.
E te contemplo, agora, em um lugar de onde você nunca poderá partir: as minhas lembranças.
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a-moeda-tem-2-lados · 11 years
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Amorfo. Amor Fo.
Nunca soube fazer poesia
Mas posso até tentar
Sem métrica, só a rimar
Tentando te trazer alegria
Espero que você sorria
Quando, para isso, olhar
E saiba que te amar
Faz parte do meu dia-a-dia
Perdoe-me as pobres rimas
É tudo o que posso fazer
Não é nenhuma obra-prima
Se esse 'soneto' amorfo não te der prazer
Lembre-se: de tudo está acima
O meu amor por você
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a-moeda-tem-2-lados · 11 years
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Holodomor
Ultimamente tenho sentido uma fome desgraçada. Não, não é aquela fome que se sente antes do desjejum do jantar.
É uma fome da alma. Uma fome de amor.
Do seu amor.
É um desejo, é fogo que arde sem se ver... tanto faz. Chame como quiser. Só sei que alguma coisa dentro de mim parece faltar, um vazio tal qual o estômago de um desnutrido.
É você que me falta.
Me explica: por que e pra que toda essa mistificação? Qual o sentido de toda essa complicação? Por que você simplesmente não me dá a mão e voa comigo? Ora, eu que tenho tanto medo de voar... Mas não teria.
Não com você ao meu lado.
Então vem e me preenche. Me completa, que eu já to cheio de me sentir vazio e de ser uma peça solta nesse quebra-cabeça da vida.
Então vem e mata essa fome que sinto.
Aliás, não mata. Porque só se mata o que é vida.
E fome não o é.
Por favor, apenas sacia.
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a-moeda-tem-2-lados · 11 years
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Abre a janela
Abre a janela, menina, e vem ver a lua que tá bonita hoje. Tão bonita quanto você.
Abre a janela, menina, e deixa circular o ar no teu quarto. Troca o velho pelo novo, o que te machuca pelo que te faz bem... Deixa tudo circular na tua vida.
Abre a janela, menina, e vê que tem muita coisa bonita nesse mundão de Deus. Não tem motivo pra ficar fechada no quarto chorando por uma coisinha qualquer.
Abre a janela, menina, e abre junto o teu coração pra sentir o amor chegar de novo e mostrar que a vida vale a pena.
Abre a janela, menina, que o sol já vem vindo pra iluminar ainda mais toda essa tua beleza.
Abre a janela, menina, e percebe que não é difícil achar a felicidade porque ela também se encontra nas pequenas coisas.
Abre a janela, menina, porque tu é o amor da minha vida e eu to te esperando pragente fugir pra qualquer lugar.
Aqui, bem debaixo da tua janela.
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a-moeda-tem-2-lados · 11 years
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'Entre a escuridão e a aurora'
As ondas iam e vinham e a brisa batia de forma suave no meu rosto amenizando um pouco o forte calor que fazia mesmo tendo o sol já se posto há... sei lá quantas horas. Estava tão absorto em meus pensamentos ali sentado, olhando para a linha do horizonte, que até perdi a noção do tempo.
Um turbilhão de pensamentos passava pela minha cabeça, todos sobre o mesmo assunto. Na verdade, mais especificamente, sobre a mesma pessoa e o que ela havia feito comigo. Parte do meu cérebro se recusava a acreditar naquilo, a outra parte queria socar tudo o que aparecesse pela frente. Enquanto elas não chegavam a um acordo, eu permanecia sentado fitando o nada.
Não sei se dez horas ou dez minutos se passaram quando ouvi uma voz me chamando ao longe. Ignorei e ela foi chegando mais perto, até que eu vi uma silhueta que lembrava um ser humano vindo na escuridão da praia.
Se aproximou o suficiente (e num lugar iluminado por um poste de luz que se encontrava na ‘entrada’ da praia) para eu ver que era uma garota que eu conhecia muito bem. Manuela era minha amiga desde... sempre, acho. E desde sempre acho ela linda. Os cabelos naturalmente ruivos que desciam por suas costas somados aos olhos brilhantemente azuis faziam dela uma mulher maravilhosa, sem igual. Porém, tanto tempo de amizade fez com que nos tornássemos próximos como irmãos e eu não tinha coragem de fazer nada para que passasse disso.
- Dante! To te chamando há séculos! Você não me ouviu?
Olhei pra ela e vi que trajava um short jeans e uma regata laranja devido ao calor. Ficava mais linda ainda.
- Desculpe, Manu. Tava distraído...
Ela suspirou e se sentou ao meu lado:
- É por causa daquela menina, não é?
Diante do meu silêncio, ela prosseguiu:
- Dante, você não devia ficar assim por causa dela. Ela é uma idiota, uma vadiazinha qualquer. Se ela te largou pra ficar com um desses riquinhos...
- Chega, Manu. – meu tom de voz era quase suplicante – Eu só quero ficar quieto aqui com meus pensamentos, só isso. Não quero pensar nela nem em ninguém. Se você quiser ficar aqui comigo, ótimo. Mas por favor não fale nada.
Ela arregalou os olhos, meio assustada pelo jeito que eu falei. Encostou a cabeça no meu ombro:
- Eu só não quero te ver triste.
O problema da minha amizade com Manuela era esse. Toda vez que estávamos próximos eu sentia uma vontade incontrolável de abraçá-la, de fazer carinho nela, de tocá-la de qualquer forma e, por que não, beijá-la. Eu não sabia definir se isso era amor, paixão ou só tesão mesmo, mas eu nunca diria isso a ela. Sabe como é, né... todo aquele lance de estragar a amizade e bla bla bla.
Essa vontade bateu com força quando ela encostou no meu ombro. Apenas sorri e levei a mão aos cabelos dela. Ficamos um tempo assim, apenas fitando o mar. Até que ela quebrou o silêncio:
- Ah, Dan, eu sei que você não quer que eu fale nada mas eu não consigo!
Não reagi, deixei ela continuar.
- Aquela menina era uma idiota, isso sim. Uma interesseira, sempre achei isso dela. Ela não merece que você fique desse jeito por causa dela, não MESMO.
Ela levantou. Sempre fazia isso quando se empolgava falando sobre alguma coisa, não conseguia ficar parada. Naquele momento me bateu um desânimo sem igual de não ter interrompido ela antes, mas agora teria que ir até o fim.
- Olha, deixa isso pra lá. Vai, a vida segue. Pensa assim: sua vida é como o dia que nasce, ué. A escuridão ficou pra trás junto com aquele vagabunda sem sal. E sabe o que tem pela frente? Isso mesmo, a aurora! A aurora, Dante!
Ela agachou, ficando pertíssimo de mim. Pois as duas mãos no meu rosto:
- Tudo vai clarear agora, você vai ver. Decepções amorosas acontecem com todo mundo. E você... você é tão... bonito.
Mesmo com a luz fraca que chegava até nós eu conseguia ver que ela estava corada. Falava pausadamente, como quem não sabe o que dizer. Ora, dê a ela algum crédito, porque nesse momento eu também não tinha palavras.
Ela ainda me elogiou algumas vezes, ainda com as duas mãos no meu rosto e muito próxima. Se enrolava com as palavras, parecia com vergonha. Eu só ouvia, atento, olhando fundo nos belos olhos azuis dela. Me aproximei mais um pouco e ela ainda falava, mas eu já não ouvia. Foi aí que tomei coragem (não sei de onde) e sem nem pensar se ela ficaria brava, se a amizade acabaria ou qualquer coisa assim, eu a beijei.
Ela foi pega de surpresa mas retribuiu. E, como se fosse planejado, exatamente naquele momento o dia dava seus primeiros sinais e o sol já vinha: a aurora. A escuridão estava ficando pra trás, exatamente como ela me disse. Afinal, é vida que segue.
Ficamos abraçados vendo o espetáculo natural do nascer-do-Sol. Tudo estava claro, agora. O Sol sempre está ali para todos nós, mas só enxergamos a escuridão da noite. Só termos paciência porque entre a escuridão e a aurora, a vida e o amor sempre dão um jeito de nos surpreender.
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a-moeda-tem-2-lados · 11 years
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Outro mundo
A chuva caía devagar e fina acompanhada de uma brisa suave típica de uma noite de outono. Junho havia chegado com o característico friozinho-de-quase-inverno que Maio havia falhado em trazer.
As luzes da cidade pareciam brilhar com mais força aquela noite. 12 de junho era sempre um dia mais bonito do que os outros, exceto do que o Natal porque nenhum dia é tão bonito quanto o Natal. Acho que 12 de junho era assim pela aura de amor que parecia emanar das pessoas, dando um ‘quê’ a mais de poesia e paixão a todos os lugares e gentes.
Bom, menos a mim. Como sempre, eu me encontrava sozinho sentado numa mesa de um café qualquer em um lugar qualquer apenas observando quem ia e vinha, quase sempre em casais. Esse era meu passatempo predileto: ver gente. Gostava de criar mentalmente inteiras histórias de vida para cada um que passava por mim, além de me apaixonar a cada vez que uma daquelas mulheres estonteantemente bonitas caminhavam por ali e faziam parecer que o tempo corria mais devagar quando elas passavam.
Meu chapéu, que já não estava lá em ótimas condições, se via cada vez mais detonado com a chuva e eu já espirrava com certa frequencia. Sim, eu sabia que as chances de ficar doente por estar ali debaixo daquela garoa fria eram enormes, mas ir para casa no dia dos namorados me deprimia. Ora, ninguém gosta de solidão, não é mesmo? Não que ali, numa mesa externa de um café humilde eu estivesse acompanhado mas pelo menos eu podia olhar para outras pessoas e experimentar as ‘paixonites’ que iam e vinham constantemente. Certamente isso era melhor do que mofar em casa.
Depois de uma luta contra as intempéries para riscar um isqueiro, acendi um cigarro. A cada tragada via um casal passando. O primeiro era cúmplice, sorridente. Na minha cabeça ela se chamava Marta, tinha 23 anos e o coração partido em vários pedaços por uma desilusão amorosa anterior, mas agora encontrara nele alguém que a completava. Ele, Ricardo, mesma idade, via nela seu primeiro e único amor. Mal sabiam eles que aquilo acabaria em pouco mais de 3 meses. Mesma coisa com o casal que vinha logo em seguida, carrancudo, provavelmente por alguma crise porque ele amava sua melhor amiga e não aguentava mais a namorada fazendo o papel de ‘dublê de mãe’. Não iriam longe, também.
Vez ou outra passava gente sozinha. Talvez tão sozinhos quanto eu. Ou mais. Senhores com a pele já marcada pelo tempo e por uma vida bem vivida. Ou não, depende, as vezes a amargura era notável nos olhos. Jovens perdidos, cheios de sonhos. Desiludidos muitas vezes por fazerem o que não queriam... Enfim, cada um com a sua história e eu como narrador de todas. Poucos finais felizes, não acreditava neles. Me divertia com isso e esquecia da MINHA história.
Foi então que ela passou. Os cabelos negros, assim como os olhos. O nariz levemente arrebitado, os lábios carnudos e realçados por um batom tão vermelho quanto o sobretudo que cobria o corpo esbelto, porém curvilíneo. Linda. Linda demais. Senti uma palpitação, conhecia aquele sinal. Era meu coração se apaixonando... de novo.
Olhei fixamente pra ela, quem sabe ela não retribuía? Quem sabe não sentava comigo tomava um café conversávamos sobre a vida e descobríamos que fomos feitos um pro outro? Quem sabe ela não estava com o coração em migalhas porque o último namorado, aquele canalha imundo, a havia deixado para ficar com uma colega de trabalho, uma vaca maldita? Quem sabe ela não procurava um novo amor que a esquentasse nesse friozinho de dia dos namorados? Quem sabe...
Mas ela passou sem nem me olhar.
Tinha os olhos grudados numa tela, no mundinho retangular e tedioso de um smartphone.
E se foi, deixando a nossa linda história-que-poderia-ter-sido para trás.
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a-moeda-tem-2-lados · 11 years
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I ain't the worst that you've seen
Diante de tanta desgraça nessa vida, resolvi dar um 'basta'. Porra, eu tinha sido mandado embora depois de 23 anos no mesmo emprego, minha esposa havia me trocado por um ex-colega de firma ('ele é mais bem-dotado' a vagabunda teve coragem de escrever num maldito bilhete), eu estava viciado em uísque e cocaína e já era domingo, o que significava que o Faustão estava na TV interrompendo pessoas na velocidade da luz. Cansado de tudo (fala sério acho que nem o Dalai Lama aguenta o Faustão), levantei-me e caminhei até a varanda. A cidade de São Paulo se revelou 15 andares abaixo de mim, gigante, barulhenta e ameaçadora. Vagarosamente coloquei o pé direito sobre o parapeito. Respirei fundo e coloquei o esquerdo também, ficando de pé sobre uma fina barra de metal a uns 100 km de altura (era a altura que me parecia, pelo menos). Olhei para baixo e pensei ter visto algumas nuvens mas acho que foi só impressão (não me culpe, eu sempre tive pavor de altura). Não! Eu não estava bêbado o suficiente para isso. Pensei até em desistir. Foi quando uma ideia brilhantemente besta me occorreu: Deus! Ora, eu nunca tinha acreditado muito em Deus mas nunca se sabe né... Papai sempre dizia para recorrer a Ele nos momentos difíceis e acho que nada podia ser mais 'difícil' do que isso. 'Senhor Deus, mande-me uma luz, um sinal, QUALQUER COISA!' - eu disse em voz baixa De repente pude ouvir uma musica alta vindo de algum lugar, provavelmente do apartamento daquele roqueiro filha da puta do andar de baixo, o mesmo desgraçado que gostava de tocar bateria de madrugada. Parei pra prestar atenção na música e... Era uma do Van Halen. Mais precisamente: Jump. Porra!
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