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ABISMO VOADOR
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abismovoador-blog · 7 years ago
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O OLHO
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- É verdade... O OLHO está em toda parte – Diz Helena com os lábios tremendo. – O OLHO tudo vê.
- Você acha que podemos sair dessa sem maiores danos? – Cláudio respira fundo. Está assustado, a imagem do rosto iluminado pelo relâmpago ainda está na suas retinas.
- Mas o OLHO não está em toda parte ao mesmo tempo – Continua Helena. – Não pode estar.
Emilia bate a porta e vai embora. Helena e Claudio ficam sozinhos na sala.
- Eu fui até lá e vi como as coisas funcionam. É estranho... Mas... Magnífico. – Diz Emilia. Seus olhos estão cheios de lágrimas.
O celular toca. Os três olham para ele em expectativa.
- E se ele Voltar? – Pergunta Helena.
- Ele voltou! – Grita Cláudio. – Ali na janela! Ele está de volta. O OLHO o viu e agora ele está de volta!
- Onde deixei as chaves? – Pergunta Helena.
- Eu vou descobrir. Vou sair dessa droga de casa e vou fazer o trabalho. – Diz Emilia. Ela pega a chaves e sai da sala. A porta bate nas suas costas.
- Eu não consigo mais aguentar! – Helena, histérica, quebra a garrafa de vinho.
Emilia chega. Ela coloca a garrafa de vinho no centro da mesa. Acende um cigarro e se serve de um copo. Enche mais do que deveria. Ela senta ao lado de Helena.
Esperam Cláudio chegar num longo silêncio.
Helena pega o guarda chuva e o olha com certa angustia. Não consegue explicar.
- Você acha que vai dar certo? – Pergunta Helena.
- Bobagem. – Emilia sorri. – É bom para acalmar os nervos.
- Faz parte do trabalho. Quando o celular tocar, já sabe o que fazer.
- Quer uma taça de vinho?
- Nada. Mas quando ele chegar eu vou sair. Aí é minha vez.
- Está tudo lá – Emilia se joga no chão, em choque. – O OLHO consegue ver sua vida inteira, do começo ao fim.
A porta vibra. A maçaneta é sacudida com violência, o som do ferro sendo forçado é angustiante. Os três prendem a respiração. Cláudio pega uma das facas do jantar servido – a comemoração sempre acaba, sempre, em algum ponto, de maneira sinistra – e fica em posição de ataque.
- Na ausência do olhar do OLHO você se torna uma folha em branco. – Diz Emilia.
Uma linha vermelha escorre pelo seu rosto.
- Você quer dizer uma reprise de televisão? – Pergunta Cláudio, incrédulo. – Não diga bobagens.
É como se pudesse ler meus pensamentos, pensa Emilia.
- Você deve estar louca – Diz Helena. – Como pode fazer isso!
Emilia grita. O sangue é muito vermelho. Não é como nos filmes.
- Não faz bem para mim. – Diz Helena. - Fico sonolenta demais. Não vou conseguir concluir o trabalho assim.
- E Cláudio? – Pergunta Emilia, cruzando as pernas e virando para Helena. - Alguma noticia dele?
Os cacos de vidro espatifam pelo chão. O vinho voa pelo ar. O piso de madeira fica ensopado.
- Eu fiz. Está feito e acabado – Claudio coloca um convite nas mãos de Emilia. - Tudo que precisamos fazer é ligar, Helena. Não vão atender. Não precisam atender, porque é nesse ponto que as coisas vão começar.
- Eu... Eu... – Emilia está assustada. Abraça Cláudio, e ele tem um calafrio. O rosto na janela sumiu. – Vocês não entendem... O OLHO. Ele vê. Então ele sabe. Eu entrei na sala, e todos estavam ajoelhados. Seguravam a lamina a centímetros da pupila direita. Eu fiz o mesmo... EU tive que fazer o mesmo!
Cláudio entra na sala. Ele está ensopado e sua camisa está machada de sangue. Ele não tenta mais esconder agora que está em segurança. Coloca o guarda-chuva molhado ao lado da porta. Helena e Emilia já tomaram meia garrafa de vinho.
- Ele se debateu um pouco – Diz Cláudio. – Mas finalmente conseguimos. Tudo dará certo agora!
- Meu deus, Por que fizemos isso! – Helena Grita.
- Não devíamos – Diz Helena.  Entrega o guarda-chuva para Cláudio. – Vai chover. Mas só use depois, antes...
- O OLHO! – Grita Emilia. Ela estava delirando. Devia estar...
- Ninguém me viu... Eu o segui, foi um longo caminho, mas quando ele estava desprevenido... Me passe o sal, Helena, por favor.
O pescoço de Cláudio está torcido. Seu queixo encosta nas costas. Caído no chão, os olhos congelados encaram Helena. Ela sente vontade de gritar, mas não grita.
- Quando o celular tocar, ai você Emilia, começa sua parte do trabalho.
- Eu estava ajoelhada ao lado de muitos outros. – Diz Emilia. Ela está em choque. Cláudio lhe dá uma taça de vinho que ela mal consegue beber. As gotas roxas caem no piso enquanto ela tenta beber. – E Então, lá estava O OLHO. No palco. Enorme. Muito acima de nós. Não... Não podia ser real. Mas...
Cláudio o esfaqueia repetidamente. O sangue pinga e mancha o assoalho. Há mais sangue da segunda vez do que da primeira, ele pensa, questionando-se como pode ser possível.
- Você é a substituta. Não vão perceber a diferença, é muita gente. – Diz Helena. – Mas lembre-se: Seu trabalho é ver e informar. Só precisamos de um ponto fraco, não faça besteira.
Emilia sentia que O OLHO olhava para ela e somente para ela. Era como se O OLHO olhasse para cada um deles especificamente. Também era como se não os enxergasse. Como se não fosse nada além da poeira no piso.
- Eu achei que você tinha matado ele? – Grita Helena.
- Helena, está carne está impecável. – Diz Claudio. – Sangrenta no ponto.
Helena se encolhe num canto. Lá fora ela ouve o grito de Emilia. É um grito vermelho, ela pensa.
Os retos da comida permanecem nos pratos. Cláudio acendeu um cigarro. Estava mais tranquilo agora que havia feito sua parte. Emilia por outro lado estava tensa. O telefone parecia a encarar. Fumou um cigarro também, olhando fixamente a borda da taça.
O rosto é ainda mais apavorante de perto, sorrindo, ele pensou.
- Mas o quê? – Gritou Cláudio. – Diz logo!
O tempo todo o tempo se tornará uma ilusão.
- Exatamente: Na roupa molhada, no escuro, será difícil de ver o sangue. – Diz Helena com um sorriso. – Agora vá.
- Não, por favor, de novo não. – Emilia grita, soltando-se das mãos de Cláudio. – Eu preciso sair daqui, preciso fugir.
- Talvez tenha sido um erro – Murmura Cláudio, sombriamente.
- Está decido – Diz Helena. – Assim vamos colocar fim em tudo isso. Vamos ter uma vida melhor. Essa será a escada que nós levará à um novo mundo. Está na hora.
A janela é espatifada. No meio da sala, a alguns metros de Helena, um braço cai e rola. O sangue ainda escorre do membro. Helena consegue identificar o anel de Emilia no dedo anelar.
- Eu não consigo explicar, tá legal. – Diz Emilia. – No começo eu não queria mostrar, mas... mas então eu queria mostrar tudo. TUDO, tá legal.
- Antes eu tenho que ficar encharcado – Diz Cláudio, revirando os olhos.
- E... – Emilia olha de um para o outro, procurando a palavra certa para explicar. – E você perde o controle. É agonizante no começo. É um nu além do nu. Então... Então se está completamente lá o tempo inteiro. Cada parte separada pela linha está junta. Eu... Eu não sei...
- Não Vá! – Grita Helena. Cláudio para diante da porta aberta, tremendo. Ela sente que não consegue respirar. – Sim, cometemos um erro...
O clarão de um relâmpago enche a sala. Logo depois o estrondo do trovão vem de muito perto. O chiado da chuva começa, como alguém pedindo silencio numa platéia silenciosa.
 .
Helena pega o telefone e disca o número. Da para ver de longe o cabelo da sua nuca arrepiado.
- É, ele me viu – Diz Cláudio. Ele corta o bife e coloca na boca. – Foi só por um segundo, no momento seguinte cravei a faca.
- É ser eterno – Diz Emilia. As lagrimas escorrem até os lábios e da curva deles pingam para o chão. – É errado, eu sei, mas é isso ser eterno.
- Eu vou atrás dela, ela está fora da si! – Diz Cláudio.
- É estranho. É como se... – Helena Procura as palavras. A porta finalmente parara de vibrar. – Não sei explicar. Estou com um mau pressentimento.
- É estranho, mas... Quando O OLHO nós olha... Eu... – Emilia engasga. Vai começar a chorar a qualquer momento. – Quando O OLHO nos olha é que começamos a existir. Eu Sinto! SINTO ISSO.
- Então é assim – Suspira Helena no chão. Os cacos de vidro lhe cortam a pele. A sombra cobre seu rosto. – Um crime secreto. A vista de todos.
Emilia ficou sozinha depois disso. Ajoelhada na grande sala. O piso xadrez, vermelho e preto, parecia refletir a luz do fogo. Apesar DO OLHO não estar mais lá, ela sabia:
O OLHO estava lá.
- Um brinde – Diz Helena, erguendo a taça. Cláudio e Emilia também erguem a suas. – Um brinde a vida que começa agora!
- E que ela seja longa... Bem longa...
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abismovoador-blog · 8 years ago
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“A hora do vampiro doidão” e “Câmbio desligo”
Esse ultimo texto eu escrevi para o curso de Ficções autobiográficas. A ideia era “teatralizar” o texto escrito, cambiando a palavra grafada, o ponto de fuga de uma realidade reimaginada, com objetos e imagens que pudessem “atestar uma veracidade ao texto”.
A ideia era muito boa, gostei muito. MAS... Não consegui fazer. Primeiro me envolvi com uma mudança de ares e locais e não consegui dar as caras na aula. Também não tinha terminado o texto a tempo. Esse é um fator importante. Achei ele extenso demais para o tempo proposto e ainda faltava trazer os elementos concretos (?) que não consegui arrumar até o dia da aula em questão.
Ou talvez eu tenha fugido de me apresentar e falar em voz alta. 
Blá.
Todas as apostas dão um prêmio, mas não faz diferença. O curso acabou. Só o texto está aqui. Finalizei ele sem ligar muito para os adendos-adereços ou para a extensão dele, porque, no fim das contas, a graça é jogar.
........
A hora do vampiro doidão
- Que horas são? – Uma mulher grita.
- Quatro e dois! – Uma criança grita de volta.
- São quatro horas. – A mulher confirma.
               Há uma pausa silenciosa; só o chiado dos carros passando na rua. Ela pergunta mais uma vez, aumentando o tom:
– Que horas são?
- Sete e doze! – uma criança diferente grita.
               Há ao fundo um riso-gritinho de expectativa.
- São sete horas... – A mulher confirma – Sete horas... É a hora do vampiro doidão!
               Ela berra e estoura o som agitado de sapatos batendo contra o piso de pedra. As crianças gritam num desespero divertido. As vozes se intercalam, os gritos se misturam, o ar se movimenta numa confusão de risos.
               Pego uma meia. Me pergunto se já brinquei disso na infância e, se não, quais seriam as regras do jogo. Tento montá-lo com os espaços vazios entre os sons e a memória, só conseguindo imagens mínimas: A mulher parada perguntando “que horas são?!” – vejo o sorriso dela, os olhos semicerrados sondando as crianças ao redor, mal conseguindo conter a graça que será vê-las correndo e gritando e rindo ao soar do “é a hora do vampiro doidão!” - e as crianças entre risinhos escondidos, bradando as horas - espalhadas em pontos fixos, pés juntos vacilando entre correr-berrar num desespero faz de conta antes da hora e correr-berrar depois seguindo as regras do jogo; na mesma expectativa da mulher, só que o inverso, com anos de experiência a menos para levar o jogo só como um jogo e não a maior aventura de suas vidas. E quando a hora certa chega, a mulher avança gargalhando sobre as crianças. Elas tentam fugir, sem nem se importar com a direção. Fugindo das mãos do vampiro doidão para, no momento seguinte, recomeçar o jogo.
- Que horas são?! – Ela grita.
               Se já joguei, não lembro. Pego um pregador do cesto. Junto ele e a meia numa ponta do varal.
               Duas camisetas, uma calça, uma camisa rasgada: Penduradas. Olho para o monte das restantes e suspiro. Não vou acabar tão cedo. Viro para a janela, protelando um pouquinho a tarefa inacabada, mas bem pouco, e observo os apartamentos acesos, apagados, se iluminando, titilando o ar de branco e laranja. Os carros passam, mas vão passando cada vez menos a medida que o tempo passa. Um ônibus risca a rua com o rugido do motor e foge.
- Cinco e dezessete! – Uma criança grita.
- São cinco horas... – A mulher confirma.
               Há um silencio expectativa, alto e retumbante, quebrado pela alta voz da mulher:
- Que horas são?!
               Da para ouvir a pontada de alivio e desapontamento das crianças: Ainda não é a hora do vampiro doidão.
                Mais camisas e calças, um shorts, a camiseta que... Não, essa não. Achei que tinha me livrado dessa. “Depois eu lido com ela”, penso jogando ela por baixo das roupas lavadas e úmidas. Confiro a pilha: parece não ter diminuído nada.
               Esfrego o rosto, estalo as costas. Viro para janela e protelo mais um pouco, mas dessa vez bem pouco mesmo, apoiando as costas na parede. As crianças gargalham e correm. É realmente uma boa noite para isso. Quente, mas com uma brisa fresca ondulando a cidade. O que eu estaria fazendo quando não tinha nem uma década nas costas numa noite como essa?! Não lembro. Suspiro e vou pegar mais uma peça de roupa... Mas não pego. Paro intrigado no meio do caminho. Dou a volta e olho pela janela para confirmar.
               Há um vulto assistindo o jogo do alto de um prédio vizinho. Sim, eu estava certo. Uma mancha escura ao lado de um para raio, encurvada e sinistra. Espectral. Sinto uma pontada de medo, e o medo cresce assistindo a figura saltar do alto do prédio. Congelo quando a vejo planar no ar feito um morcego, pousando no meio das crianças e as examinando, bem de perto agora... Perto demais, pressinto.
               As crianças ficam paralisadas diante da figura. As pernas tremem, porém não há ação nos músculos agitados. As respirações estão presas nos pequenos pulmões. Assistem o corpo alto, coberto por um manto negro que tremula na brisa feito uma sombra distorcida, bloquear qualquer ideia de caminho para fora do jogo.  Elas encaram o rosto redondo, pálido, repleto de rugas e cicatrizes semelhantes a números, e ficam hipnotizadas pelas presas em formato de ponteiro.
               Da para sentir o atrito dos tênis no piso de pedra, arrastando a sola devagar, procurando um ponto firme para iniciar os primeiros passos da fuga. Mas as crianças somente se fazem ouvir depois que a figura sinistra arqueia as costas, ficando com a face da altura delas, e sussurra, num ganido que lembra engrenagens enferrujadas girando, “é a hora do vampiro doidão”.
               As crianças correm e gritam, dessa vez em completo desespero. Espalham-se pelo pátio procurando lugares seguros, sem a menor noção de como proceder. Algumas choram imobilizadas, perturbadas demais pela transformação da brincadeira numa obrigação vital.
               A figura não mostra preocupação. Salta sobre uma delas, segura a criança que se debate como um gato assustado, e ergue-a a um metro do chão. Suas presas ficam no pescoço rosado de uma maneira teatral, empurrando a agitação da criança para longe e largando sobre ela um sono pesado e inerte. Em seguida, a figura simplesmente abre as mãos, num gesto de quem não tem mais interesse. A criança desaba de seus braços para o chão, num baque surdo, e ela fica parada da forma que caiu.  Um copo vazio, um brinquedo que perdeu a graça no meio da brincadeira. Um brinquedo quebrado... Ele salta em direção a próxima e a próxima e a próxima, deixando um rastro de crianças apagadas pelo piso de pedra cinza, estiradas de maneira torta, brinquedos velhos espalhado no chão do quarto.
               Nenhuma criança escapa. Ao desabar da ultima, batendo no chão com um baque, a figura sinistra se vira para a mulher petrificada pelo terror. O procedimento de ataque é o mesmo, mas quando as presas em formato de ponteiro cravam no pescoço dela, seus joelhos vão dobrando acompanhado o lento cair da mulher. A pele dela enruga, os ossos estalam, ela murcha conforme as presas cravam mais e mais fundo. A carne rosada enruga e perde a cor. Ela cai em tiras revelando um esqueleto tão pálido quanto as presas cravadas nele, contudo, as presas só se soltam no instante que dá mulher só resta pó e este é levado por uma lufada de ar.
               A criatura salta no ar e se vai. Sombra de uma nuvem carregada cortando o breu. As crianças, uma a uma, levantam desnorteadas. Arrumam os ternos, os uniformes, os vestidos de festa, tirando o pó, espreguiçando os músculos velhos. Dizem umas as outras “Nossa, olha a hora! Preciso ir.”, “Sim, amanhã trabalho, correria, rotina”, “Meus filhos estão esperando em casa”, “foi muito bom ver vocês, precisamos repetir a dose”, “Até mais, não esquece de ligar”, “Já estou sentido saudade”...  Seguem marchando, um a um, para fora do portão do prédio e, um a um, tomam direções opostas na rua, esperando sua vez de ir para não caminhar muito tempo com os outros porque despedidas são estranhas, sempre foram, desde a mais crua infância...
               Penduro uma meia – essa sem par, guardada para usar com uma meia de uma outra cor, deixando uma outra sem par num ciclo sem fim. Estico as costas, puxo a corda do varal. Os músculos dos braços ardem e penso que devo fazer mais exercícios, prometendo começar amanhã, já sabendo que esse amanha não vai chegar tão cedo.
               Admiro as roupas erguidas, tremulando feito bandeirinhas. A sensação de trabalho feito pingando.
- São vinte horas e dezessete minutos! – Uma criança grita.
- São vinte horas – A mulher confirma. Ela ri, as crianças riem. Ela joga no ar – Que horas são?
               Dou risada junto. Furto essa felicidadezinha alheia e guardo para mim. Será que não joguei mesmo? O jogo não me é estranho, mas também não me é claro.
               Ganancioso, aspirando roubar mais felicidade do que posso carregar, me forço contra a grade da janela, mas é inútil: Da minha janela não dá para ver o pátio. Tenho que me contentar só com os sons.
               Dou um tapa na barra de uma calça, ela balança. Estalo a língua resignado.
               É isso ai; No final das contas é só isso ai... E nada mais.
               Dou as costas para a janela e atravesso a cozinha me arrastando - Como é possível estar tão cansado? -; paro diante da pia compactada de louça suja de três dias, vacilando na tarefa à minha espera. Suspiro e esfrego o rosto, minhas pupilas baças saltam para o fogão e...  Eu deveria comer. Pessoas têm que comer... não é?! Esfrego o cabelo, agonizado, sem coragem. Não quero cozinhar nada, só quero deitar. Deitar e dormir milhares de segundos antes de acordar e trabalhar mais um dia. Arriscar um sonho antes de correr pelas calçadas esquentando conforme o sol sobe, lutar contra coletivos e fritar os olhos numa tela de acrílico.
               Suspiro suspiros – Blá! Quando virei um SOC? Hein? Diz aí quando você virou um suspirador obsessivo compulsivo?! -, apago a luz da cozinha e vou marchando como uma lesma até o quarto.
               Estanco os passos no meio do caminho e sinto um calafrio. Na sala escura listrada de branco pelos faróis de automóveis rasgando a rua lá fora, vejo uma sombra. Vejo o rosto redondo e pálido, repleto de rugas e cicatrizes intercaladas criando eternos números que sangram.
               A figura sinistra dá um passo para frente e não sou capaz de me mover. Meus pés ficam presos juntos no ponto do piso em que pararam. Engulo em seco. Pela a garganta fechada não passa nada.
- Que horas são? – Pergunta a figura sinistra. A voz de engrenagens enferrujadas soa ameaçadora, apesar de baixa como um sussurro.
               Encolho os ombros sem perceber. Encolho meu corpo o máximo que posso ainda me mantendo de pé. Minha mão escorrega para a barra da minha camiseta, e a puxo para baixo. É instintivo. Um espasmo de retraimento. Uma tentativa de me dobrar até sumir.
               A figura da um passo para frente, inclinando levemente a cabeça sobre o ombro. É como uma sombra engolindo outra.
- Você sabe que tem que dizer, por mais que não faça diferença dizer ou não. – Ele diz – Me diga então: Que horas são?
               Meu pé direito desliza para trás, tentando afastar meu corpo, tomar impulso e correr para quarto, bater a porta, esconder cada centímetro de pele debaixo do cobertor, quem sabe ele vai embora, quem sabe se estiver escondido ele não me ache. Quem sabe eu possa ganhar algum tempo correndo...
- Tsc, tsc, tsc, tsc...
               Ele balança a cabeça em reprovação. O estalar de sua língua soa  “tic tac tic tac”. Ele nunca aumenta o tom de voz, sempre o monótono tom de engrenagens enferrujadas rodando lentamente. Obedecendo a essa ordem muda meu pé volta ao mesmo lugar.        
- Vamos, diga-me: Que horas são?
               Ele da mais um passo para frente e abre um sorriso de lua crescente. As presas em forma de ponteiro revelam-se maliciosas, cada uma numa ponta do semicírculo.
- Vinte e qua...
- Tsc tsc tsc tsc – Ele me interrompe – Diga-me, Lucas: Que horas são?
               Ele me encara, olho no olho, e seus olhos são como foices negras cortando o sol.
               Meus lábios tremem, meus olhos umedecem. Sinto que vou desabar a qualquer momento. Nem sinto a voz sair da minha boca, ela sai mais singela que um sussurro. Um pensamento perene e denso como nevoa, uma nuvem obliqua. Cada palavra sai gotejando num silencio que cobre o silencio:
               “É a hora do vampiro doidão...” Sinto escapar de meus lábios.
               “É a hora do vampiro doidão...” ele confirma num tom monótono, sibilante e indiferente.
               A figura salta sobre mim. Vejo os números que eternamente sangram na face pálida engolir a escuridão. As duas presas em forma de ponteiros cravarem no meu corpo. O manto de sombras preencher a existência...
               Lá fora as crianças correm, gritam e riem.
               Correm, gritam e riem...
               Correm e gritam e riem
               Como sempre fizeram,
               Como sempre farão...
.
.
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.
               Bato a porta atrás de mim, todo agitado. Escapei por um triz... Ando em círculos pelo quarto, batendo nos moveis aos encontrões e adicionando objetos a bagunça do quarto. Desorganizando a desorganização. Escuto através da porta fechada um continuo tic tac tic tac sarcástico de reprovação.
                “Escapei?”, me pergunto, “Escapei de verdade?” Ainda mais agitado acendo um cigarro, acrescentando círculos viciosos aos círculos eufóricos. O coração estapeia minha caixa torácica feito um jovem Muhammad Ali. Não me aguento. Puxo uma cadeira e sento diante da escrivaninha, tamborilando na mesa com os nós dos dedos.  
               Pego uma folha. Tento lembrar... Mas se já joguei, não lembro. Tento montar imagens no ar e é tão fácil quanto construir castelos de fumaça com as mãos nuas. Pego uma caneta do cesto. Junto ele e a folha numa ponta da mesa. Que horas são?
 O jogo começa de novo.
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abismovoador-blog · 8 years ago
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Das coisas Das aulas De um tal curso De ficções autobiográficas
“uma vez me perguntaram o que eu fazia. Eu disse ‘passo meus dias numa salinha de uma clinica psiquiátrica ouvindo vozes e fazendo o que elas me pedem’. Quando a cara de espanto surgiu, eu ri e lancei os fatos ‘Fiquem frios! Eu atendo telefones...’.
ou algo assim.
Sobre o curso:
Sem explicações gerais. O exercício 2 passa reto, porque é analise e de analise os consultores psico estão cheios. Pula pro 3.
O exercício três é em 3 partes. Nada de explicações. fica ai as três peças:
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“Não se explica o caleidoscópio indecifrável”, explicou o Abismo Voador.
1999. Foi nos últimos graus do verão e das férias, quando o tédio bate com força total e é só estender o braço que as idéias, sem lógica nenhuma, saltam como peixinhos coloridos direto para a palma da mão. Não que precisássemos de muito. Eu e meus irmãos juntos éramos uma divindade hindu alucinada no doce. Então pode ter saído de qualquer uma das bocas que era de todas... Dar banho no nosso animalzinho de estimação. Genial: Água para o calor, ação para nossas mãos inquietas. Não demorou e dois braços abriram uma janela – está um forno aqui, abre essa droga! –, dois correram para pegar xampu, condicionador, perfume, um lacinho vermelho – por que não?! -; e enquanto dois braços foram verificar a água no tanque do apartamento, duas mãos traziam o Citrino. Ele se debatia como se o levassem ao inferno. Se tivesse escapado ali, teria alçando Marrakesh num pulo. Mas no instante que duas mãos abriram a torneira e duas aproximaram Citrino da água jorrando, um rojão estoura lá fora. Olhamos para a janela num susto. Olhamos para Citrino saltando no ar e, gargantas obstruídas pelo coração, vimos ele caindo... Ah, cara... que lamentável. Logo mais a divindade alucinada está diluída em dedos apontando para todas as direções, “A ideia foi dele!”, “A ideia foi dela!”, “Só sei que não minha!” e nossos pais, serpentes de duas cabeças, questionando alucinados de... bom, alucinados de filhos: “Que merda de ideia é essa de dar banho num peixe!”. É... Foram semanas com altas visões de peixinhos dourados me amaldiçoando do fundo dos ralos. (Suspiros) Bom... É isso aí, Citrino... meu amigo... Espero que esteja dormindo com os peixes.
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se eu mostrei ou falei algo em voz alta?! não.
mas sigamos trabalhando.
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abismovoador-blog · 8 years ago
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Sobre o Exercício 1, a impossibilidade da fala e “Confesse!”
Eu fiquei me debatendo que só o inferno para fazer o primeiro exercício do curso de ficções autobiográficas. Foi uma proposta interessante. Totalmente. E, por isso mesmo, complicada para mim por toda sua totalidade.  
               No inicio da primeira aula a professora pediu para que contássemos uma história de outra pessoa. Pegar uma história alheia, que nos representasse, e contar como se fosse nossa. O trabalho de se encontrar em outro é um exercício pesado, porque nos induz a uma busca de significado que não foi criado por nós mesmos. De enxergar pontos de um lugar que não estivemos. De se colocar no lugar no outro. Me pegou de surpresa, confesso: Esperava começar por nossas próprias histórias. Acho que exatamente por isso gostei tanto da proposta.
Ouvi várias histórias, mas não contei a minha. Queria. Tinha uma.  Apenas não a contei. Só falo em voz alta em publico raramente. É contraproducente, eu sei, mas não há muito a se fazer sobre isso.
De qualquer forma, eu achando que iria ficar por ai, ela passa a “lição de casa” e deu um tapa de instabilidade na minha cara. Disse que deveríamos pegar uma dessas histórias contadas e escrever um parágrafo – umas dez linhas – tomando a história como se fosse nossa. “Roubar a história de outro roubada de outro”, eu pensei, “Ta ai algo legal”. Legal. Suuuuper legal. E foi o que me assustou. Mostrar essa brincadeira para todos e, bônus-revés, usando brinquedos alheios.
Segurei a barra e fui jogando os fatos na minha cara, deixando as fichas caírem. Eu já fiz isso antes. Eu faço isso quase vinte quatro horas por dia. Eu sei jogar esse jogo porque eu vivo nesse jogo. Não é uma novidade. Na mesma hora se delineou a historia que escreveria na minha frente.  
Fácil. Fácil demais. Escrevi a primeira tentativa, satisfeito por ter feito a jogo literário da minha forma sem me trair, e com a sensação de trabalho feito. O júbilo durou a eternidade de cinco minutos mais ou menos. No fim de um cigarro senti que estava completamente errado. Para começar eu não usei uma história de outra pessoa. Eu usei várias. Compus uma concha de retalhos em pró de uma experiência.  Segundo, não havia concisão. Quebrava em seis o número de linhas.
Mas eu gostei! E agora?! Fique em duvida entre seguir minha visão daquele jogo literário ou seguir a risca a proposta. Havia dois pontos ai. Na primeira hipótese eu estava trabalhando no meu estilo de escrita; desenvolvendo ele, talvez. Na segunda, eu estaria domando minha criatividade e minha visão narrativa, aprendendo a ter controle sobre minhas ferramentas.
Fora isso,  tinha o “e se as pessoas escutassem minha história que era de outro e ficassem ofendidos ou simplesmente achassem que eu estava bancando o idiota para “sair da linha do curso e blá blá blást”?” e  “E se não sacassem a brincadeira e eu tivesse que explicar, em voz alta, o que eu estava jogando ali?”. “E se eu só estava pegando o caminho mais fácil em vez de me esforçar para fazer algo? E se alguém se ofendesse por eu ter embaralhado algo intimo, de alguma forma, deles?”.
Um dia com esses pregos perguntas na cabeça. No dia seguinte fiz outra tentativa. E outra. E outra. E outra. Não conseguia sacar qual era perspectiva do narrador certa, nem até onde eu deveria me colocar dentro na história, ou até onde eu poderia acrescentar e tirar fatos em pró da fluidez e gingado da narrativa. POrra! Alguma tinha que estar certa ou não mortalmente tediosa e odiosa.
Fui para o segundo dia de aula. Queimando. Tremendo. Querendo ler... Não. Não li. Não mostrei e nem nada do tipo. Publico?! Blargh. Quanta loucura pra nada, né?! No fim das contas ficou a história e a história da história e a história da história da história.
Mas, ei, os jogos não param tão fácil! Tive uma pequena iluminação: Arrumando as tentativas noutra ordem (Tentativa 5 – Tentativa 2 – Tentativa 3 – Tentativa 4 – Tentativa 1) e mascarando essa ordem real, formava um pequeno conto bizarro. Jogando com o jogo veio esse conto:
CONFESSE!
Tentativa 1
Chegar. Respiração presa. Confinamento. Eu lembro... Não. Não. Não. Olhos escondidos do outro lado. Hesitações. Eu... Tosse. Tosse. Movimentos do outro lado da tela. Sombras movendo-se sobre sombras. Eu quero... Eu quero mesmo?! Puxar a barra da camisa. Torcer os nós dos dedos. Silêncio expectativa. Silêncio expectativa meu ou de outro? Eu... Eu... Eu... Incompreensível. Inconcebível saber se as palavras se enrolam no teto da cabeça ou entre os dentes. Eu fiz... Eu fiz mesmo? Eu... Dizer algo sem nada a dizer? O que dizer quando o conteúdo não vem? Falar sem conteúdo é falar? Observar as paredes. Madeira. Próximas. Sufocantes. Gemer baixinho. Eu... Eu... Desistir. Levanta, cabisbaixo, abre a porta e se vai.
Tentativa 2
Eu estava entre minha prima e meu irmão, conversando sobre trabalho, passatempos, sobre a vida e suas peças... A conversa respigando entre o passar do vinagrete e as piadas do Tio Fabio, mudando a composição do diálogo, alternando componentes e assuntos, diminuindo a mesa com a fartura de palavras cruzadas de ponta a ponta. Mas todos ficaram num silêncio bem familiar quando minha mãe pegou a taça de cristal, tanto tempo guardada na cristaleira, e disse, admirando sua fragilidade e redescobrindo sua forma, que a comprou no mesmo dia da morte da minha avó. Ela bebeu do seu conteúdo infindável, reconhecendo cada gole, e acho que todos nós bebemos daquela taça também. Ficamos embriagados em nostalgias e lembranças, um gole chamando o outro, sabendo que alguma hora o jantar acabaria e a taça voltaria para o armário, esperando a próxima vez que bebêssemos dela enquanto o trabalho, os passatempos, a vida e suas peças iriam trazendo novos pratos para outros jantares. A família inteira estava lá naquela sexta à noite. Sim, sem exceções... Há tempos minha mãe não dava um jantar assim, tão grandioso que devorávamos o tempo.
Tentativa 3
Estávamos cansados - Havíamos passado de pique esconde à mãe da rua e de mãe da rua para três corta, só parando para o almoço e para discutir as regras dos jogos com os trapaceiros -, mas não estávamos exaustos. Nem pensar. Naquela época era impossível ficar exausto a ponto de não querer fazer nada. Então, ao ver a galera ir embora, eu e meu irmão e o primo Zé, meio entediados, sentamos na escada de casa e conversamos sobre nada em particular. Eles nos últimos degraus e eu de pé, me apoiando no corrimão, balançando. Zé, me vendo ali, falou de uma vez que caiu da escada e quebrou o braço. Meu irmão contou a queda dele também. Eu ri dos dois. “É porque são bobões. Eu nunca caí de uma escada!”. Um “É pra já, Lana!” de meu irmão e o mundo rodou. A cara do meu irmão e do Zé quando mamãe gritou “O que está acontecendo ai?”, Paulo tentando explicar, eu não sabendo se ria ou se chorava ao pé da escada... Era verão, ou devia ser verão, não lembro, também não lembro as regras dos jogos, mas lembro do mundo girar e eu e meu irmão subindo a escada em direção ao quarto, doloridos e risonhos. A gente ri até hoje.
Tentativa 4  
Estávamos cansados – Havíamos passado de um jogo para outro, só parando para o almoço e para discutir as regras com os trapaceiros -, mas não estávamos exaustos. Nem pensar. Naquela época era impossível ficar exausto a ponto de não querer fazer nada. Então, ao ver a galera ir embora, eu e meus primos, meio entediados, sentamos na escada de casa e conversamos sobre nada em particular. Paulo sentando do meu lado e Lana se apoiando no corrimão, balançando. Foi por causa disso que rolou tudo. Lembrei de uma vez que cai da escada e quebrei o braço. Paulo foi no embalo e contou a queda dele também.  Lana só riu: “É porque são bobões. Eu nunca caí de uma escad...”. Pra que... Ela nem terminou. Foi um “É pra já” de Paulo e lá vai Lana rolando escada abaixo. Tia Carmem veio uma fera só - “O que está acontecendo aqui?” - e Paulo levou a maior surra enquanto eu escapulia dali, morrendo de medo que sobrasse pra mim. É aquele negócio, né: “Briga de irmão, primo não coloca a mão; surra de tia, primo esperto sai de mira”.
Tentativa 5
Não, não dá. Eu não consigo, porque nem sei como fazer. Quer dizer... Eu lembro de jantar sexta passada na casa da minha mãe, toda a família reunida em volta da longa mesa com toalha de renda. Uma cadeira para cada ramo da árvore genealógica. Tita e Julio comendo, rindo e gemendo; Tita porque Julio a empurrou da escada – “ah é?! Nunca caiu de uma?! Já é!” – e ele da surra que levou da Tia G... Altas graças. A Tia G. lançava olhadelas irritadas aos dois.  A tia Fritz, que não era bem nossa tia mas estava sempre ali, com o livro do Veríssimo na mão dizia “Eis minha infância” para quem quisesse ouvir. E quando minha mãe pegou a velha taça de cristal, contando que comprou quando a vó, o tronco daquela grande árvore, morreu, todos entraram numa nostalgia familiar. Mas não dá para contar isso, porque isso nem é minha vida de verdade. Cinco dias olhando a grade do confessionário e contar o quê, se eu vivo a vida de outros?! Piro com o silencio expectativa e esbravejo para o padre escondido “Qual é disso?! Não consigo sacar o que tenho que falar!” e ele ri, manda rezar dez pais nossos e ir para o intervalo. Vou desconcertado, contorno o aroma gorduroso dos salgados da cantina, e sento no ponto cego atrás da maquina de refrigerantes, vivendo a vidas que vão passando entre o clinck das moedas, os clanks das engrenagens, e o TUM! das latas caindo... Como sempre...
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abismovoador-blog · 8 years ago
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Noitificações #222
2. Riscos e Riscos 4. Ser uma voz 6. Melodia e Harmonia 4. A chave nova de uma casa velha 6. exclamações encontradas num bolso 8. Imparidades em pares. pare.
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abismovoador-blog · 8 years ago
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uma frase concreta
uma fase secreta
uma parte esperta
uma língua incerta
.
uma fase incerta
uma ideia esperta
uma parte secreta
uma parte concreta
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abismovoador-blog · 8 years ago
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Noitificações #86
1. Aprender a ler: 2. O oceano 3. O tempo 4. As caras  5. As cartas  6. As rosas 7. A vida
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abismovoador-blog · 8 years ago
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Noitificações #152
1. O desejo de existir. 2. Flores ameaçadas amassadas 3. Jantar de esperanças 4. Inexpressivismos 5. Aceitação do caos 6. A queda da torre mais alta. 7. Anoitecer áspero como pó.
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abismovoador-blog · 8 years ago
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Noitificações #48
1. Vice versa attack 2. DesProjeções desproporcionais 3. Música para elefantes 4. Catulo e Carlos com seus cálculos diferenciais de absurdos. 5. Safo em pensamento
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abismovoador-blog · 8 years ago
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Bocas ocasionais com dentes de prosa engolindo poesias pelas beiradas iluminadas de falsos sóis de alguma promessa em noites caladas por medo de portas entreabertas que deixam escapar pontes impertinentes de cartas de catarse e memória.
o tiro sempre segue em linha reta, só faz a curva quando volta. Ele sempre volta.
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abismovoador-blog · 8 years ago
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MigalhoConto #3 Parte 1 e 2
1
Sonhava com o furo de reportagem que lhe daria o titulo de grande jornalista. Tentou anos, sem sucesso. Um dia procurou um seria killer famoso. Conseguiu: saiu na primeira pagina. O furo, no seu peito.  Idosos conversaram sobre a matéria, desconsolados, por um domingo inteiro.
2
A fama embriagou. Em sua ousadia resolveu entrevistar deus e o diabo. Tetê a Tetê. Ninguém leu - Na mesma semana saiu uma matéria sobre as roupas de uma cadela grã-fina.
Hoje, se dedica a tablóides. Ganhou um prêmio e comprou sua segunda mansão às margens do Aqueronte.
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abismovoador-blog · 8 years ago
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MigalhoConto #2
Era pobre. colocou sua única moeda numa maquina de refrigerante. Saiu uma lâmpada mágica. Pediu alguma bebida, sua moeda e uma nova lâmpada.
Num ano vendeu as lâmpadas, juntou as moedas e comprou uma empresa de bebidas - O garoto propaganda da sua empresa era o dragão do vizinho.
Algum idealista pediu que todos tomassem consciência. Nessas, a maquina de refringente tomou coragem e abriu um processo. Levou tudo.
Hoje o empreendedor engraxa sapatos. A maquina começou uma família.
O dragão é o novo James Dean de Hollywood.
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abismovoador-blog · 8 years ago
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Noitificações #87641
!) 1. Avessos 2. Questões sem endereço. 3. Uma idéia de luz. 5. Conceitos de sombra. 6. Cedidos à noite 9.poesia de você
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abismovoador-blog · 8 years ago
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Poesia
Tem que ser
Como bala correndo
                              Do grito do revolver
Tem que
               Queimar antes de curar
Tem que
               Meter a cara na lama
                              Antes de transcender
Tem que
                 Cair        Antes de voar.
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abismovoador-blog · 8 years ago
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Noitificações #165 Feat. Hein?
1.Sermente 2.pontos sem retorno. 3.me.mó.ria. 4.jovens prometeicos. 5.o mar é meu irmão. 6.três bares. 7.sapatos tortos, ruas retas. 8. "Você é só um outro Dedalus!" 9.poesia boiando na xícara de café. 10. "A infância é o sol cintilante num prédio abandonado." 12.todo fim é inesperado.
Torço torsos tórno tornos  Hein?
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abismovoador-blog · 8 years ago
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o momento, do tamanho de um fósforo, entre a luz e a escuridão.  Este instante vale mais do que mil sóis...
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abismovoador-blog · 8 years ago
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Qual a cor da sua voz?
parece papo furado, mas um estilhaço de pensamento nessa forma de pergunta
               riscou minhas idéias.
parando rápido para pensar minha voz é alguma coisa entre amarelo ocre e amarelo van gogh.
Pelo menos assim imagino que seja. menos quando grito.
quando grito ela é algo entre violeta e anil.
não me pareceu estranho. Pesquisei a harmonia das cores e:
cores opostas. Contrastantes. um choque de dualidade.
achei aí um prisma interessante.
Mas, e ai, qual a cor da sua voz?
 hein?
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