Tumgik
abombordo · 2 years
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Coleção Veras Verão - último capítulo
Este será o último capítulo da coleção de verão, e do ciclo que se completa. Vagarosamente as árvores estão se vestindo de tons amarelados, voltando àquele mesmo cenário de quando comecei a primeira coleção. 
Continuo falando de "Nomes" mas hoje falo do nome não só de um povo, mas de um país.
Para começar, qual o nome do Brasil? Brasil... ou então Brazil, ou Brasile, versões em outras línguas da mesma raiz. E chama brasileiro os que nascem no Brasil. 
A França? France, Francia, e quem nasce lá são  chamados de franceses. 
O Peru? Peru! e seu povo é o povo peruano.
E a Alemanha?? Hummm .... aqui complicou de vez...
Deutschland, Germany, Alemania, Saksa.... , por que nomes tão diferentes, sem uma única raiz? Lembrando ainda que em italiano é Germania, onde vivem os tedescos.... Intrigante, mas tudo tem explicação, histórica.
Fui atrás dela ...
Precisa voltar ao Império Romano. Eles chamavam as tribos que viviam ao norte do território romano de “os germanos” que, ao que tudo indica, a palavra tem origem na língua da Gália, que já era território romano (exceto aquela vila onde viviam os gauleses Asterix e Obelix), e que significava ”vizinhos”, ou ainda, “vizinhos barulhentos”. Fácil de perceber que daí vem o nome Germania, e ainda Germany.
E Alemanha? As tribos francas lutaram contra tribos germânicas, que viviam no sul, hoje Baviera e Baden-Württemberg, e esses eram os povos “ALEMANI”. Por isso os franceses passaram a chamar o território de Allemagne, depois os povos da península ibérica traduziram em Alemania e Alemanha.
Saksa é como os finlandeses chamam este país. Eles se referem ao território onde vivia outro povo, os SAXÕES. Ainda hoje os estados do país unificado onde viviam esses povos se chamam Saxônia e Baixa Saxônia
Mas estou morando na Deutschland. O país dos Deutsch. Os germanos se intitulavam “diutisc” que significa “o povo” na sua língua original, palavra que evoluiu para DEUTSCH, a língua deste povo, e o povo que fala Deutsch mora na terra dos Deutsch, a Deutschland.    
Tem ainda uma palavra que sempre me intrigou: Teutônico/tedesco, forma como os italianos se referem aos habitantes dessas terras. Aí vamos mais para o leste, para a Prússia. Esse território havia sido concedido aos Cavaleiros Teutônicos, uma ordem católica medieval. Depois este espaço se tornou um Ducado e ainda o Reino da Prússia, que acabou sendo o estado mais poderoso no processo de unificação da Alemanha. Theutonicorum é a palavra latina que vai dar origem à palavra inglesa Teuton no século 16, para descrever algo alemão.
(Parentesis ... um paralelo que eu adoro fazer é com a Itália, país que também se unificou só no século XIX.  Como escrevi nos meus diários italianos, cada região, que eram repúblicas, cidades independentes, reinos, condados e ducados, tem histórias, tradições, hábitos e dialetos diferente e ainda muito vivos, parecem resistir a incorporação à nação italiana, ao sentimento de “italianidade”.  Fala mais alto a região de origem, o napolitano, o piemontês, o lombardo ou o siciliano, só vira italiano no exterior. Fecho o parêntesis)
E está aqui o fato mais interessante em toda essa conversa, para explicar tantos nomes diferentes para o mesmo país. Enquanto os demais países dão seu nome ao povo que o habita, na Alemanha, são os povos que habitam o território que lhe conferem um nome. Cada povo original nomeava seu território, e esses nomes pegaram, permaneceram vivos para os estrangeiros que estiveram em contato com os bárbaros germanos desde a queda do Império Romano.
Ahhh ia me esquecendo de contar como os eslavos, povo com o qual me identifico, chamavam ao povo/terra que é hoje a Alemanha. Na Hungria a Alemanha se chama Németország, na Polônia, Niemcy e na República Tcheca,  Německo. A raiz está no nome NIEMCY, que significa, nas línguas eslavas, “incompreensível” e era como eles comentavam a língua confusa e dura que os povos germanos falavam. E nisso eu concordo em gênero, número e grau.
beijos e até uma nova coleção, que já estou matutando!!! 
fuiiii....
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abombordo · 2 years
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Coleção Veras Verão - capitulo 2
Continua minha conversa sobre o tema: Nomes
Na tradição judaica esse é um elemento fundamental para qualquer pessoa, tão importante que todo judeu tem dois nomes, um civil, aquele que estará na certidão de nascimento, e outro, o nome judaico, que deve definir a sua identidade judaica, e é com este som que se  conectará com o transcendental.
É sagrado nomear o recém-nascido com este nome judaico. Os meninos recebem o seu nome judaico na cerimônia da circuncisão, que deve ser realizada no oitavo dia, o dia no qual Abraão circuncidou seu filho Isaac. Já as meninas recebem seu nome judaico no momento que seu pai for chamado para ler a Torá e anunciar seu nome, nos dias seguintes ao seu nascimento.  
Mas além disso, existem outras tradições do ramo azkenazi do judaísmo, como a de dar ao bebê o nome de um parente que morreu. Se trata de uma honra para ambos, ao falecido, por ter seu nome relembrado por essa outra vida que se inicia, ao bebê para lhe inspirar com as boas ações daquele a quem homenageia, e à ambos pois juntando suas experiências vividas, estaria somando pontos, tipo “milhas”, para que suas almas sejam elevadas.
Dizem também que, pela tradição judaica, quando uma pessoa está muito doente, deve mudar seu nome para enganar o anjo da morte, que quando faz a chamada pela lista, pensará que aquele nome que não responde foi um “no-show” no embarque para essa última viagem.
Estava falando de nomes, mas agora pulo para falar de sobrenomes em sociedades de origem judaica, especificamente da Península Ibérica.
Sempre ouvi a explicação de que os cristãos novos, ou marranos, que eram os judeus que se convertiam na marra ao cristianismo, pela força da Inquisição na Península Ibérica, adotavam um sobrenome inspirado em plantas, animais ou acidentes geográficos, como Pinheiro, Pereira, Carvalho, Raposo, Serra, Monte ou Rios. Certo? Não, errado...
Anita Novinsky, historiadora e professora na USP, fez um longo estudo sobre cristãos novos que emigraram para o Brasil. Entre 1500 e 1700, um em cada três portugueses que por aqui chegavam, era marrano. Daí, ela pesquisou nos arquivos da Inquisição que tratavam do "crime de Judaísmo" e entre os processos analisou 1.819 sobrenomes de cristãos-novos detidos e encontrou: 137 vezes Rodrigues, 120 vezes Nunes, 66 vezes Mendes, 51 Correia, 51 Lopes, e ainda Costa, Silva, Fonseca, etc ... Ou seja, os judeus se escondiam atrás de sobrenomes comuns porque buscavam uma invisibilidade, não queriam ser identificados, e por isso não escolhiam sobrenomes que pudessem rotular um grupo especifico...Muito lógico!!
Quero fechar esse capítulo sobre as tradições do povo judeu ao nomear os indivíduos com o único nome que nunca deve ser pronunciado, o de D´us.
Foi ele mesmo que determinou essa regra, naquela reunião com Moisés. Consta na ata, no terceiro item: “Não pronunciarás o nome de YHWH, teu deus, em vão”.  YHWH é o tetragrama que esconde o seu nome, mas como no hebraico não existem vogais, cada um lê o tetragrama de um modo, inclusive como Javé ou Geovah. Agora, para não correr o risco de ser barrado na porta do céu, melhor chamá-lo de “Adonai” ou “Elohim”, sempre um approach respeitoso (quer dizer SENHOR), mas sem citar nomes.
Ahhh ... antes de fechar, e já que estamos falando de nomes e mencionei Moisés, aproveito essa audiência super seleta para relembrar que o nome Moisés é um indício de que ele não existiu...
Pois é, tem vários estudos questionando a veracidade dos fatos relativos ao período egípcio da história do povo judeu, a ida para lá, a fuga, a reunião com D´us no Sinai e a autoria dos 10 mandamentos. Não vou entrar em detalhes aqui, mas apenas mencionar as dúvidas levantadas sobre o nome deste herói da Páscoa judaica.
A palavra “Moisés” tem a mesma origem que as terminações dos nomes dos faraós Ramsés e Tutmósis. Os três derivam do egípcio antigo “msézs”, que significa “filhos de”. Ramsés, portanto, quer dizer “filho do deus Ra” e Tutmósis,“ Filho do deus Tut”
No caso de Moisés, falta o nome da divindade da qual ele seria considerado filho. É como o “son” de “Anderson”. Não é um nome, mas um sufixo, que não faz sentido sem o devido prefixo.
Isso pode significar que Moisés foi uma personagem inventada e que seus criadores queriam dar a ele um nome que soasse egípcio, mas erraram na tradução por não conhecerem bem o idioma, tipo batizar um filho como “Maicon”.
Esse tema é muito abrangente e não me sinto preparada para seguir dissertando e aprofundando a análise mas, porém, todavia, contudo... tenho outro texto escrito sobre..... conto no próximo capítulo ...
beijos
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abombordo · 2 years
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Coleção Veras Verão - capitulo 1
Fiquei bem feliz com as mensagens recebidas, então vai o capítulo prometido.... de uma nova e curta coleção, como o verão alemão ... Veras, verão..
Na coleção anterior falei sobre a década de 30 na Alemanha, sem entrar em detalhes sobre a guerra, nem sobre o Holocausto. Aliás, sobre o Holocausto eu falei no capítulo que escrevi quando fui para Cracóvia e visitei Auschwitz. Foram dois capítulos escritos com os olhos marejados, mas tentando entender a lógica econômica daquele centro de extermínio.
Um dos parágrafos que escrevi trazia um tema que sempre me atraiu:
“A desumanização dos judeus passava por etapas. Primeiro apagar seu nome, e na eficiência germânica, trocar por números de identificação.”
Nomes!
Em vários momentos da minha vida, a questão de nomear pessoas ou coisas me interessou pela forma, pela importância, pela tradução deles.
Passo o dia inteiro vendo reservas de voos para as pessoas e observando seus nomes. Alguns deles são absolutamente incompreensíveis, essencialmente os orientais, mas outros são interessantes porque estimulantes, me fazem pensar nas razões que aqueles pais conferiram determinada etiqueta que seu filho/a levarão para o resto de suas vidas.
Não vou listar os mais engraçados, mas fico pensando quando a gente, de bebê, vai aprendendo a responder àquele som que é o chamado, que é seu nome, que é você.
Essa semana vi um videozinho, esses do tiktok, uma nenezinha que não olha quando a chamam pelo seu nome, mas olha para o pai quando ele chamava “Alexa”. Eu me preocuparia com isso ao invés de rir e postar em rede...
Em Portugal, segundo li em algum lugar, até o século XIX as crianças das famílias pobres só ganhavam um nome próprio depois de completarem 5 anos, após terem sobrevivido à miséria e escapado da estatística de mortalidade infantil.
Tem a história da minha tia, Rachela, mas chamada sempre pela sua mãe com diminutivo em Yidish, que soava como “Rurralé”. Vieram da Polônia quando ela tinha 4 anos e as vizinhas do Brás não entendiam bem esse "Rurralé", que acabou virando Rosa. Esse foi o som que ela identificava como seu nome mas quando ela entrou na escola, com 7 anos de idade, descobriu, assustada, que ela não era Rosa, era Rachela.
E na Bíblia tem um festival de troca de nomes, vários deles por ordem divina:
Abrão (significa pai grande ou pai elevado) virou Abraão (pai de muitas nações ou povos)
Jacó (significa enganador ou trapaceiro, suplantador ou usurpador, literalmente “aquele que segura pelo calcanhar”) virou Israel (príncipe de Deus, vencedor, que reina com Deus)
Simão (significa inconstante) virou Pedro (rocha, pedra, firmeza)
Saulo (significa o grande) virou Paulo (o pequeno), ou seja, humildemente aceitou seu real tamanho.
Mas volto para o começo da minha reflexão.
Depois da anulação da condição humana pelos nazistas, apagando seus nomes, um artista alemão, Gunter Demnig, criou e mantém o projeto Stolpersteine para devolver os nomes às vítimas anônimas da Shoah.
A tradução do título do projeto é “pedra do tropeço” e se trata de um memorial para as vítimas do nazismo, mas ao invés de uma grande instalação genérica plantada em um determinado lugar na Europa, são pequenas plaquinhas de metal, fixadas nas calçadas, em várias cidades, em frente as residências ou locais de trabalho de cidadãos judeus, na grande maioria, deportados e mortos, devolvendo sua identidade: seu nome, data de nascimento e seu destino fatal com o nome do campo de extermínio e data da deportação. Uma homenagem individual.
Como toda obra de arte, gerou aplausos e gerou críticas. A mais forte foi o fato das plaquinhas estarem no chão e serem “pisadas” pelos incautos. Mas para essa crítica, a explicação do artista é esclarecedora: as pessoas têm que se inclinar para ler a informação no chão, fazendo uma reverência ao indivíduo nomeado na plaquinha. Inclusive o nome da ação, pedra do tropeço, que não é um tropeço porque não estão em relevos, estão no mesmo nível do solo, mas para lê-la você pára de caminhar, você tropeça no destino daquela pessoa.
Desde 1995 já são 70.000 plaquinhas instaladas em diversas cidades na Alemanha, e também na Itália, Áustria, Polônia, França, Hungria, Holanda e Espanha. O artista repete: depois de serem arrancadas de seus cotidianos, as pedras pretendem trazer essas pessoas de volta à sua cidade, ao seu bairro, à sua casa.
Esse é realmente um tema importante, especialmente na religião judaica, por isso vou continuar ... no próximo capítulo!!
beijosss
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abombordo · 2 years
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Coleção Primavera-Verão - Capitulo 9
Pelo silêncio dos meus leitores, tô achando que vocês estão cansados desta coleção ....
Então vai aqui o último capítulo dessa série e, como prometido, vou falar de Ócio.
Em minhas andanças pela Alemanha, passei uma semana de férias numa ilha chamada Rügen, a maior Ilha alemã no Mar Báltico.
Sempre curiosa com a história dos lugares por onde ando, fui visitar um espaço chamado PRORA.
É ...palavra é curtinha mas difícil de repetir sem trocar a posição do primeiro ERRE...
Mesmo engasgando na língua, fui descobrindo que se tratava de um conjunto de prédios frente mar e, de história em história, acabei chegando no capítulo de hoje.
No meu texto anterior mencionei o nome do Fusquinha na sua criação, que era o “KDF Wagen”, o carro da KDF. Fundamental entender o que era o KDF – Kraft durch Freude (Força pela Alegria).
Essa sigla representava uma divisão, um departamento dentro daquele que seria equivalente ao Ministério do Trabalho no período nazista. Esse departamento era responsável pela organização de uma agenda muito ampla para atender o trabalhador alemão nas áreas de lazer, esporte e cultura. Criava inúmeras atividades culturais como exposições de arte (aquelas mencionadas), agenda de peças de teatros e sessões de cinemas para exibir os filmes do Reich (e os de Montanha) e os eventos esportivos em todas as modalidades como jogos, ginástica, dança, natação, além de caminhadas, passeios, que foram evoluindo virando viagens de trem, de ônibus e chegamos aos cruzeiros marítimos, em navios especialmente desenhados e construídos para esse objetivo: o lazer das massas.
Bom, os dois navios que foram construídos especialmente para o KdF seguiam aquela lógica dos radinhos sem grande alcance e o carrinho sem grande performance, ofereciam o mínimo conforto possível para a grande massa de trabalhadores que não teria nunca poder aquisitivo para embarcar em uma daquelas viagens luxuosas dos transatlânticos ingleses. No final das contas esse departamento acabou se tornando a maior operadora de turismo do mundo naquele período.
Voltemos ao Prora era uma parte muito importante dentro da política de lazer do nazismo. O projeto, iniciado em 1933, previa a construção de um grande resort de praia, uma construção em blocos num total de 10 km de extensão por 500 metros de largura, capaz de receber pelo menos 20 mil veranistas por vez, além de dois mil empregados em diversas funções. Seria um complexo de hotelaria, piscinas com ondas, cinema, teatro, espaço monumental para eventos e cais para receber os seus cruzeiros. Já os quartos, todos com vista para o mar, cujo desenho passou pela aprovação de nosso amigo Speer, media 5 x 2,5 m² e tinha duas camas, um guarda-roupa e uma pia. Chuveiro e WC comuns ficavam no final do corredor, conforto tipo o radinho, o carrinho e o barquinho ....
Mas isso era o que se via e se falava, por trás a história era muito mais complexa porque estamos falando da cereja do bolo da propaganda nazista: os reais objetivo da KDF.
Para entender melhor, preciso traduzir a palavra que definia um dos conceitos básicos da ideologia do Reich: “Volksgemeinschaft”. 
Até que essa palavra não é tão grande, já vi piores, mas essa quer dizer: “Comunidade popular”, comunidade do povo alemão, claro. Era o mundo paralelo que a propaganda criava para atrair o apoio do povo ao regime. Paralela porque o regime contava e mostrava em seus pôsteres e anúncios, que todos os trabalhadores alemães, os arianos com seus cabelos loiros ao vento, sua pele de pêssego, nariz arrebitado e maxilar viril, podiam ter lazer, passear, veranear, fazer cruzeiros marítimo, além de ter seu carrinho e ouvir a programação cultural pelo radinho. 
No mundo real, o nazismo acabou com os sindicatos, estendeu o horário de trabalho enquanto reduzia os salários, racionava os alimentos, não atendia as demandas por moradias e espionava todo mundo dentro e fora do horário de trabalho com a crueldade que foi sua marca registrada. Todo esse espaço de lazer do Estado era também uma forma de controlar o cidadão em seu momento de lazer, além de submeter cada um à lavagem cerebral que vinha junto na agenda cultural.
Depois foi ficando claro que o objetivo de todas essas ações populares era a preparação para a guerra, a construção de uma unidade povo + governo para assegurar sua lealdade ao Führer e gerar entusiasmo na defesa da Alemanha, para enfrentar e sustentar a guerra, ideia fixa de Hitler, escondida em um discurso que exaltava o povo alemão.
Para confirmar tudo que eu disse, as estatísticas dos que conseguiram gozar de toda essa infra de lazer deixa muito claro que menos de 20% dos que viajaram nos Cruzeiros do Reich eram trabalhadores assalariados. O resto era uma burguesia que aproveitava o preço atraente, comparando novamente com os transatlânticos de luxo, e depois enviavam um monte de cartas para o SAC da KdF, reclamando da qualidade das acomodações, comida e atendimento.
E quanto ao Prora, que era apenas o primeiro dos cinco resorts que Hitler havia programado, foi construído com recursos surrupiado dos sindicatos quando eles foram extintos, e nas letras bem pequenininhas, lá no final do briefing do projeto, estava a de ser equipado para funcionar como hospital de campanha... para a Guerra que já tinha data marcada para começar!
Com o início da guerra, em 1939, acabou esse papo de alegria, a KdF foi desativada, o Prora ficou pela metade e os navios foram modificados para atender as necessidades bélicas.
Com a divisão da Alemanha, a partir de 1945, a Ilha ficou com a URSS que usou as estruturas semi abandonadas para funções militares, herdadas depois pelas forças armadas da Alemanha Oriental. Na unificação do país, uma parte do espaço foi privatizada, reformada para se tornar apartamentos de veraneio, bares, restaurantes e um hotel, além do museu onde colhi todas essas informações.
E aqui acaba minha coleção da Década de 30 e o que consegui escrever sobre a propaganda nazista. 
Ficou claro que o escopo desses textos não incluía nenhuma pesquisa sobre o conflito (a 2° Guerra) em si nem sobre o Holocausto. Mas eu queria falar sobre um memorial pelas vítimas judias do Nazismo, que me fez enveredar por outro tema que sempre me desafiou e interessou.
Quer saber?? Mande sinais para eu atender tua curiosidade e te enviar o próximo texto, que bem podia ser o primeiro de uma nova série.
Topas??
beijos,
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abombordo · 2 years
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Coleção Primavera-Verão - Capitulo 8
Propaganda é a alma do negócio, certo?
Alma só? Não .... é o corpo e a alma, do ócio e do negócio.
Vou deixar o ócio para o próximo capítulo porque hoje vou falar de negócio. E o negócio de hoje é o AUTOMÓVEL.
Você já intuiu, né? Vou falar da VW, claro!!
Volta lá para o início do século passado, para a década de 20, na Europa. Já existia uma indústria automotiva se desenvolvendo em vários países (lembra do meu capítulo sobre esse tema quando morava na Itália??), cujo produto era algo acessível apenas para uma elite, mas começava a maratona para popularizar esse meio de transporte individual.
Béla Barényi, engenheiro austro-húngaro, desenvolvia um modelo básico. Hans Ledwinka, outro cientista que morava na região dos Sudetos, aquela parte da Tchecoslováquia que a Alemanha anexou, já produzia um carrinho chamado Tatra T77, com motor atras, e o judeu Josef Ganz ainda não tinha desenhado um carro, mas já tinha escolhido o nome: o carro do povo, o VolksWagen.
Enquanto isso, em 1932, Konrad Adenauer, então prefeito de Colônia, inaugurava a primeira Autobahn (autoestrada) ligando Colônia a Bonn. Hitler, que vinha sabotando esse projeto do Adenauer, acusando de ser útil apenas para a aristocracia, chegou ao poder 6 meses depois e fez aquilo que seu pupilo tupiniquim iria repetir no milênio seguinte: inaugurou de novo a Autobahn como se fosse ele o autor da obra.
E agora que a temos a Autobahn, temos que oferecer o tal carro popular. Hitler chamou Ferdinand Porsche e encomendou um carro pequeno, que acomodasse dois adultos e três crianças e que não ultrapassasse 100 km/h (tipo o rádio popular que não alcançava ondas internacionais....)
Porsche chupou então o desenho do Tatra e apresentou o carro popular: Kdf-Wagen (Kraft durch Freude - "Força através da Alegria"), com motor traseiro refrigerado a ar (que não congelava), suspensão de barra de torção e uma forma de besouro.
O preço tinha que ser tão pequeno como o espaço no porta-malas, ou seja, 990 Marcos e financiado com a prestação de 5 Marcos semanais ("Fünf Mark die Woche musst du sparen, willst du im eigenen Wagen fahren" - "Cinco Marcos por semana você deve reservar, se em seu próprio carro você deseja passear"). Claro que o valor era inviável para uma empresa privada, então o Führer criou uma empresa estatal, em 1937 e chupou o nome do judeu criativo chamando-a de VolksWagen.
336 mil alemães pagaram a prestação do Baú da Felicidade germânica, mas ninguém levou o prêmio porque a guerra começou antes do final do financiamento e todas as plantas fabris do território tiveram que se dedicar à produção dos acessórios bélicos.
Quando acabou a guerra e a Alemanha foi dividida entre os vencedores, o território e a fábrica da VW ficaram na zona britânica. E como vocês podem imaginar na Europa pós guerra, faltando tudo, um carro pequeno e baratinho de se produzir vinha em boa hora. Assim recomeçou a produção de carros de passeio.
Após 1948, a Volkswagen cresceu e se tornou um símbolo da recuperação econômica-industrial da Alemanha Ocidental. Começou a produção do "VW tipo 2", a querida Kombi, e o superesportivo Karmann Ghia.
Em 1960 o Estado Alemão se retirou da sociedade e a empresa passou a ser totalmente privada.
Bem a tempo porque a Tatra tinha processado o Porsche pelo plágio, lá no início dos confrontos nazistas, mas como a Alemanha ocupou os Sudetos, o processo foi engavetado. Quando acabou a guerra, a Tatra retomou o processo e em 1965 a VW acabou negociando e pagando uma compensação de 1.000.000 Marcos para os tchecos.
E quando ao ócio, falo disso daqui a pouco...
 Beijos
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abombordo · 2 years
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Coleção Primavera-Verão - Capitulo 7
Hoje vou saltitar um pouco entre períodos, personagens e aspecto da propaganda nazista, mas não se perca, segura na minha mão e vem junto!!
Para aquecer, vamos lembrar que a Alemanha se unificou em 1871, a partir de um mosaico de unidades políticas e sociais independentes, reinos, ducados, principados, como eu já tinha comentado antes, e cada uma dessas entidades tinha suas próprias moedas, leis, pesos, tarifas alfandegárias, dialetos e exércitos próprios. Um dos primeiros desafios do novo Estado Nacional era essa unificação. No exército, por exemplo, se fosse reunir os soldados vindos de cada ex-ducados ao novo Reich, ia parecer desfile de escola de samba com uma infinidade de alas, cada uma de uma cor e com um uniforme diferente.
Isso foi resolvido lá na primeira Guerra Mundial (1914) quando o exército alemão foi todo vestido com o mesmo uniforme cinza e em plena guerra, em 1916, resolveram trocar os tradicionais capacetes chamados Pickelhaube, aquele com uma ponteira de ferro que a gente sempre vê nos filmes, pelos Stahhelm, de ferro. O motivo era óbvio, os pickelhaube eram de couro e os soldados estavam morrendo nas trincheiras, feridos na cabeça.
Mas vamos dar um fast forward até a década de 30, aquela que nos interessa.
Goebbels, o cara da propaganda, sabia que uma imagem valia mais do que mil palavras. Ainda não existia o photoshop, mas as artes visuais atendiam bem as necessidades e espalhavam imagens onde os alemães eram retratados como super-homens e o führer como um ser superior, praticamente um deus, e lançavam mão de símbolos dramáticos e potentes como bandeiras, estandartes, grandes paradas, manifestações gigantescas, caricaturas dos declarados inimigos, suásticas onipresentes e uniformes militares.
Ahhh uniformes militares... voltamos a falar do exército já que estávamos às vésperas de uma nova guerra mundial. Os soldados já estavam equipados com seus capacetes de ferro, mas continuavam vestindo aquele uniforme padrão, básico e barato.
Existia, porém, um grupo de elite na hierarquia hitlerista, e quero falar deles. Na verdade, nem era exatamente um grupo militar, era “paramilitar” e estava diretamente ligado ao Führer porque originalmente eram seus guarda costas, comprovadamente leais ao chefe e que se tornavam mais fortes e mais numerosos na medida em que cresciam as tensões internacionais e se desenrolavam os acontecimentos: era a SS. Seu chefe, Heinrich Himmler, era o segundo homem em comando na Alemanha e eles se vestiam de forma a ressaltar sua importância.
Seus uniformes tinham sido especialmente desenhados pelo artista (nazista) Karl Diebitsch junto com o designer Walter Heck.
Podemos fazer uma breve análise semiótica dos uniformes. Começamos pela cor escolhida, o preto. Tem várias explicações, se fala até de copiar a batina dos jesuítas, mas nem vou entrar em detalhes, só vamos combinar que o preto é sempre o mais sóbrio, o mais sofisticado, o que nunca sai de moda, o mais fashion. Depois, o desenho dos trajes incluía vários adornos que pareciam condecorações ancestrais, impunha respeito para quem não entendia nada de condecorações. E para concluir, eram costurados sob medida, ou seja, caimento impecável porque quem vestia um desses uniforme, vestia uma peça personalizada. A elegância indiscutível!
Por que tanto cuidado com esses uniformes? Porque a SS era uma parte fundamental na máquina de propaganda nazista, e sua imagem, retratados em uma infinidade de posters espalhados pelo território, presente nos filmes e nos grandes comícios, resumiam o ideal nazista de força, de poder, de superioridade e elegância! 
Diebitsch e Heck desenhavam os uniformes, mas que os produzia? Quem costurava para os nazistas?? Hugo Boss. Sim, ele era alemão!! E sim, ele apenas produzia as peças que vinham já desenhadas!
Vou contar um pouco sobre quem era Hugo Boss.
Hugo Ferdinand Boss nasceu em 1885 no sul da Alemanha, perto de Stuttgart. Ele herdou a loja de lingerie de seu pai em 1908 mas após a Primeira Guerra e diante da tremenda crise econômica que arrasou a Alemanha, ele estava à beira da falência.
Se arrastou até o início da década de 30, quando se filiou ao Partido nazista porque entendia que ali estava o futuro da nação e se aproximou daqueles que estavam assumindo o poder real na Alemanha.
Neste mesmo período Himmler estava preocupado com a produção dos novos uniformes para seu distinto grupo, que Diebitsch havia desenhado. Tinha que ser alguém do partido, afinal essa era a condição para desenvolver qualquer negócio na Alemanha no período nazista: ser filiado ao partido. Jogou então a tarefa nas mãos de Hugo Boss, que se tornou um dos principais fornecedores do governo.
Sua empresa chegou a ter 300 funcionários completamente focados na produção dos uniformes e quando acabou a Guerra, Hugo Boss também foi para o banco dos réus, no momento de desnazificação do país. Mas foi considerado um caso “menor”. Sua pena foi o pagamento de uma multa de 25 mil marcos, o que era uma fortuna na época, não pelo fato de ter sido fornecedor do reich e sim por ter usado mão de obra escrava, provavelmente judeus vindos de campos de concentração, o que foi considerado um crime contra a humanidade.
Ele pagou a multa, foi destituído de seus direitos políticos e outros benefícios como cidadania alemã, e morreu em 1948, deixando para seu filho a empresa, que foi mantida de pé, e nas décadas seguintes se tornou uma marca para roupas masculinas super conceituada e próspera.
Mais um exemplo histórico de como a Alemanha penalizou os homens que lideraram a nação durante o regime nazista, mas não destruíram as empresas envolvidas, porque não queriam acabar de destruir o país que saía da guerra já esfacelado.
A Alemanha recebeu, no pós-guerra, os aportes do Plano Marshall, mas ficou apenas como o “Jardim” dos americanos, não foi considerada quintal, como os países latino-americanos, vítimas da interferência desse outro reich, que quer sim destruir as empresas nacionais porque assim tornam os países ao sul do Rio Grande como uma grande fazenda para seu próprio abastecimento.  
Sorry .... Tive que sentar em cima das minhas mãos para parar de escrever sobre o Império dos brothers...
Volto para a Europa, volto para Alemanha, e voltarei no próximo capítulo com mais um pouco da Propaganda Nazista.
Beijoss
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abombordo · 2 years
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Coleção Primavera-Verão - Capitulo 6
Sempre ouvimos que uma imagem vale mais do que mil palavras, não é?
Tai o Instagram e o Twitter, que não me deixam mentir.
Junta os dois e embarca com o Robert Colbert no Túnel do Tempo, para o ano de....
... de meados da década de 30 do século passado, e em qualquer cidade da Alemanha, claro!!
Olhe para os muros da cidade e entenda a importância dos POSTERS, na propaganda nazista.
Colados nas paredes em todos os locais públicos, este veículo era um dos pilares da propaganda do reich, seguindo sempre as linhas mestras: imagem impactante e pouco texto.
Sobre o texto, lembre-se do que Hitler dizia no seu livrinho:
- A massa é formada pelas mentes mais simplórias, quase infantis, que dificilmente compreende o que lhe é dito e tem memória curta, por isso a propaganda deve se limitar a alguns elementos essenciais que devem ser expressos em fórmulas curtas e estereotipadas: os slogans, e repetidas “ad nauseaum”
O texto dos pôsters era uma mensagem curta, um slogan, palavras-de-ordem, facilmente relembradas, até porque disponível em todas as esquinas.
Ainda sobre o texto, dizia ele: “a mensagem tem que apelar para o sentimento, à emoção, nunca à razão”.
Aqui entrava a caneta de Goebbels para formular frases fortes e emotivas, combinadas com imagens bem estudadas. Primeiro sobre o heroísmo nazista, que retratavam jovens uniformizados vistos de baixo para cima, com uma iluminação dramática para dar uma impressão monumental de grandeza e heroísmo. Depois vinha o inimigo, principalmente o judeu, que era caricato e sinistro, sujo, asqueroso.
As imagens em cores puras, com o preto e o vermelho, cores da bandeira nazista, mas também para dar mais vibração, mais destaque contra a parede, estavam por toda parte, ninguém conseguia evitar o olhar, impossivel nao ler as letras garrafais e ingerir seu conteúdo toxico.
A partir de 1936 o Ministério da Propaganda lançou também o que eu chamaria de jornal-mural, o “Parole der Woche”. Toda semana brotavam em todas as paredes do Reich, também nos trens e ônibus, os cartazes com mensagens que pretendiam educar e unificar o povo alemão em volta do seu líder e de seu destino: a Guerra.
Segundo a análise de estudiosos, esse canal era uma “combinação de um editorial de jornal, folheto político, cartaz político e jornalismo de tabloide".
O alemão, como digo sempre, tem vários verbos para a mesma ação, por isso tão difícil de se aprender, mas no tema II Guerra, digo eu, se usou todos os verbos disponíveis para dizer a mesma coisa: acusar o judeu como o inventor e propagador de todos os males políticos, econômicos e sociais do planeta, junto com os comunistas...
E como já passei dos 144 caracteres neste capítulo, paro de escrever e sugiro uma googlada para ver os posters , afinal é mais fácil entender uma imagem do que mil palavras ... (segundo o contador de palavras do meu Word, até aqui já usei umas 1036!!!)
Beijos !!
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abombordo · 2 years
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Coleção Primavera-Verão - Capitulo 5
Você quer assistir as Olimpíadas de 1936??
Abra o Youtube.... tá lá ... pode assistir!!
São mais de 3 horas de filme, na verdade em 2 filmes sobre aqueles jogos.
É, hoje vou falar de quem eternizou as Olimpíadas de 36, e não só aquele evento, mas deixou registros importantes dessa década: a pequena atriz e grande diretora Helene Bertha Amalie "Leni" Riefenstahl.
Para entender todo o contexto, vou contar um pouco do aparecimento desta senhora que esteve atrás das câmeras, ao lado de Hitler e na frente de muita polêmica.
Ela nasceu em Berlim, em 1902, e era apaixonada pela dança. Com 20 anos conheceu um banqueiro romeno, judeu chamado Sokal, que se tornou seu amante e patrocinador. Leni viveu sua juventude naquele período de Ouro da Arte e Cultura europeia, como comentei em vários capítulos anteriores e usou seu indiscreto charme para manipular todos à sua volta para produzir suas ideias e bancar suas iniciativas. Sokal era tão apaixonado por ela que em 1923 chegou a alugar um teatro em Munique para ela dançar, em um espetáculo escrito por ela.
Nesse período, o povo alemão (também os italianos e os franceses) adorava filmes cujas histórias aconteciam nos Alpes. A montanha era a protagonista, era como o filme de faroeste para os americanos. Olha essa listinha de filmes alemães ambientados nas Montanhas: Die Geierwally (1921), Berg des Schicksals (1923),  Der Kampf ums Matterhorn (1928), Die weiße Hölle vom Piz Palü (1929), SOS Eisberg (1933),  Der Berg ruft (1938), entre outros.
Em 1924, Leni conheceu o diretor Arnold Fauck, que escreveu e dirigiu um filme para ela, chamado "Holy Mountain”, que seguia aqueles estereótipos: tipos atléticos que escalavam a montanha, cenas de folclore e romance. Mas ela não perdia tempo, e ia aprendendo todos os truques de luz na cena, ângulos e filtros usados para a câmera. Com esse conhecimento, pulou para atrás da câmera e de atriz se colocou na posição de direção, edição e montagem de filmes.
Em 1932 apresentou um novo projeto para seu amigo Sokal, chamado “Blue Light” ou “Das blaue Licht ", outro filme de montanha, na qual estrelava o papel da mocinha. Na cadeira de diretor estava Bela Balazs e na câmera, Carl Mayer, ambos judeus.
Este filme estreou nos cinemas meses antes das novíssimas leis raciais. Quando isso aconteceu, (Leis de Nuremberg entraram em vigor em Setembro de 1935), Leni não teve nenhum problema de consciência ou de ética, e mandou apagar os nomes do trio: produtor – diretor – câmera, nos créditos, colocando o seu nome nas três posições!
Mais ainda, ela leu Mein Kampf e ouviu os discursos do Führer que a deixaram impressionada, embasbacada, e tratou de se aproximar dele, o que não foi difícil porque Hitler já havia assistido e gostado de seus filmes. Ela recebeu o convite para ser a diretora dos próximos filmes do 3° Reich.  
Não vou cansar vocês com a lista de filmes que ela fez, que formam um arquivo impressionante da propaganda nazista, mas para os mais curiosos sobre o tema, menciono aqui alguns:  Der Sieg des Glaubens (1933), Triumph des Willens (1934), Tag der Freiheit - Unsere Wehrmacht (1935), Festliches Nürnberg (1937), Olympia (1936) ....  e sobre este que quero comentar, afinal a gente veio aqui para falar disso, né? .
Na primeira parte, com o título “A Festa das Nações”, ela fala do corpo, o culto de origem grega do corpo perfeito, para depois apresentar cenas da abertura dos jogos, do percurso que a tocha olímpica fez, e as provas de atletismo.  A segunda parte chama “A Festa da Beleza” e mostra a Vila Olímpica, os atletas e outras modalidades disputadas. Foram gravadas mais de 250 horas com técnicas inovadoras que iriam fazer história, como lentes teleobjetivas, câmera lenta, ângulos inéditos ou bem abaixo do objeto ou panorâmico e o travelling lateral, criado aqui e usado desde então. Completando o espetáculo vinha a edição, porque a ilha de edição era onde a Leni realmente criava seus “blockbusters”, narrava os acontecimentos num ritmo intenso, criando expectativas até chegar no resultado final. Ela criou um novo padrão de filmagem de esportes, usado até hoje.
Bom, depois teve a guerra e Leni acompanhou tudo. Chegou a desempenhar um curto papel de correspondente de guerra (parece que não aguentou ver tanta brutalidade) e nesse período produziu um filme ficcional chamado Tiefland. Era um filminho água-com-açúcar, ambientado na Espanha, para relaxar o pessoal. Mas como não era possível filmar na Espanha, ela ficou caçando pessoas para a figuração com fenótipo mediterrâneo para rodar ali na Alemanha mesmo. Teve a genial ideia de escolher uns ciganos como figurantes, mas onde encontrá-los?? Ahh, num campo de concentração! E encontrou farta oferta em um campo em Salzburg, de onde os internos eram despachados para o temido leste, ou seja, para Auschwitz. Sobreviventes desse episódio contaram que ela caminhava, escoltada por soldados da SS, selecionando aqueles que lhe interessavam, entre homens, mulheres e crianças que aguardavam essa vistoria em filas.
A guerra acabou e ela foi presa. Ficou 4 anos em um campo de concentração francês. Quando foi a julgamento, a acusação era exatamente ter usado prisioneiros nos sets de filmagem, ao que ela respondeu que não sabia exatamente o que estava acontecendo e que ela nunca fez mal a ninguém. O tribunal classificou-a apenas como "simpatizante" do nazismo e ela foi liberada, mas o inquérito continuou aberto.
Ela nunca mais conseguiu financiamento para produzir ou dirigir um filme, maculada com uma suástica invisível na testa, num ambiente povoado por produtores e diretores judeus, pensa em Hollywood!!!
Aí virou fotógrafa e foi para África documentar o povo Nuba do Sudão. Aos 80 anos decidiu iniciar uma carreira de fotógrafa subaquática e fez ainda um documentário chamado “Impressionen unter Wasser” (Impressões Subaquáticas).
Quando completou 100 anos, em 2002, as autoridades alemãs decidiram arquivar aquele inquérito e inocentá-la definitivamente, baseados na afirmação de que todos os ciganos que participaram de seu filme haviam sobrevivido à Guerra.
Ela morreu em setembro de 2003, com 101 anos, em sua casa, na Alemanha. Diz seu obituário que foi a última personalidade famosa do período nazista alemão a morrer.
E aqui desligo o canal das Olimpíadas de 36, mas não da Década de 30, nem da propaganda nazista, que voltará em breve .... aguarde, comente, me escreva, interaja comigo.... bite ....
 Beijosss
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abombordo · 2 years
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Coleção Primavera-Verão - Capitulo 4
Imagina o mundo sem internet...
Eu não imagino, eu lembro!!
Quando comecei minha vida profissional, o instrumento mais avançado e tecnológico de comunicação a minha disposição era o telex!
Depois veio o fax, que nos deixava de boca aberta... como podia alguém passar uma imagem do lado de lá e recuperá-la do lado de cá!!??
Desnecessário lembrar do pager, dos primeiros celulares - tijolos ou da conexão à web via linha discada.
Impressionante como a tecnologia da comunicação evoluiu em uma só geração!!
Mas voltando ao nosso tema e à nossa Olimpíada, como foi a comunicação na década de 30, em plena Berlin olímpica??
Pois bem, essa foi a primeira transmissão de Olimpíadas por TV!
Quero voltar mais um pouco no tempo e descobrir como se distribuíam as notícias e a propaganda nazista antes da chegada da TV, é hora de falarmos do RADIO.
Em 1920 aconteceu a primeira transmissão de rádio na Alemanha. Era uma iniciativa da Deutsche Reichspost (Correio Alemão) e foram só os funcionários dos correios que puderam ouvir a transmissão porque o Tratado de Versailles, pós Primeira Guerra Mundial, proibia a transmissão de rádio para a população alemã (não bloquearam o Mcdonald's e o Credicard porque ainda não existiam, mas fica aqui o exemplo do que pode fazer um conjunto de sanções contra um país e como isso se reflete no entorno, tipo no continente, ou melhor, no planeta.... e como os brothers não aprendem com a História!!).
A partir de 1923 os aliados suspenderam a tal sanção que proibia a difusão radiofônica e no dia 29 de outubro daquele ano, o público alemão, quer dizer alguns privilegiados que tinham aparelho receptor, ouviu a primeira transmissão oficial e musical!!
Lembre-se que estamos numa década de grande furor cultural. Assim como na pintura, que comentei no capítulo anterior sobre o nascimento do cubismo, expressionismo e dadaísmo, os músicos também iniciam experiências sonoras inéditas com o dodecafonismo, a presença do Jazz, do tango e de outras possibilidades musicais que serão objeto de perseguição pelo nazismo, regime que pregava que todas as manifestações culturais do povo alemão tinham que ser puras, extirpando-se delas todas as influências não arianas.
Falei da Exposição da Arte Degenerada no capítulo anterior. Então, teremos também a exposição Música Degenerada (Entartete Musik), inaugurada em maio de 1938, na cidade de Düsseldorf. O poster de propaganda da Exposição tinha um personagem de uma opereta, um homem preto, mas com feições similares a de um macaco, tocando saxofone, que era um instrumento musical identificado com a música dos pretos, e com uma estrela judaica, de 6 pontas, na lapela. O grande inimigo da nação ariana era o judeu preto, comunista e gay, que seria deportado para um Campo de concentração e assassinado.
Mas estamos ainda nos maravilhosos anos 20, quando foram criadas 9 estações de rádio que transmitiam basicamente música para um pequeno número de ouvintes.
As luzes da festa democrática, porém, começavam a se apagar sem que o povo tivesse percebido realmente o que estava acontecendo (dejá vù??). Aconteceu então a Quebra de 1929.
Em meio a esta crise internacional, os nazistas começaram sua ascensão e chegando ao poder, em 1933, transferiram completamente a gestão da transmissão radiofônica para o Ministério de Esclarecimento Público e Propaganda, a pasta do nosso amigo Goebbels, que declarou:”O que foi a imprensa para o século XIX, será o rádio no XX”, afinal as ondas do rádio eram mais velozes do que o papel.
A partir deste momento todas as transmissões ficaram sob comando nazista, até 1945. O conteúdo oferecido aos ouvintes, como se pode intuir, era a propaganda do regime: o orgulho nacional, o patriotismo, as maravilhosas decisões do Führer, elevação da raça ariana, e assim por diante.
Até esse momento não eram todas as famílias que possuíam rádio e quem tinha um em casa, pagava um imposto de 2 marcos por mês pelo direito de ouvir as transmissões. Mas era necessário expandir a audiência e Goebbels lançou uma PEC do rádio, ou seja, patrocinou e mandou produzir, em larga escala, o Volksempfänger, o Receptor do Povo, que era um aparelho de rádio bem simples, com pequeno alcance e bem baratinho. Foi uma explosão de consumo, custava menos de 40 marcos, além disso o governo também criava ações para sortear e presentear a população com esses equipamentos.
O objetivo do ministro era que cada família tivesse um rádio e assim ficasse conectada e recebendo a propaganda produzida pelo Estado, ouvindo os discursos de Hitler e a música alemã. Em pouco tempo o governo já havia armado 70% da população alemã com seu radinho. Radinho mesmo porque apesar do hardware ser grande, eram simples o suficiente para não alcançar nenhuma transmissão estrangeira e não receber por outras ondas, notícias que não as oficiais nazistas. Isso era mesmo sério, quem fosse pego ouvindo a BBC de Londres ou qualquer outra emissora internacional (as que resistiram no continente porque tudo que era transmissora de rádio que exército alemão encontrava pela frente, era destruída) era considerado criminoso, traidor da pátria, terminava preso e enviado para campos de concentração.
Muitas vezes o grande evento era a própria transmissão radiofônica ao vivo. Podia ser irrelevante o conteúdo da transmissão, importante era a reunião da família ou dos amigos, em volta daquela caixa de madeira, para ouvir uma transmissão ao vivo de um acontecimento.
Tem também um caso que ficou famoso, de como o nazismo usava as ondas radiofônicas para a propaganda. Se trata de Mildred Elizabeth Gillars, uma atriz norte americana, que tinha emigrado para a Alemanha por conta de um romance, e que aceitou trabalhar para o governo nazista estrelando uma personagem, a Axis Sally, que no seu programa noturno falava (em inglês) para que as tropas americanas ouvissem. Seu discurso visava abalar e quebrar a moral dos soldados falando das saudades de casa, sugerindo que as esposas e namoradas estariam transando com outros homens enquanto eles lutavam na Europa. De posse de nomes de soldados feridos ou aprisionados, ela tocava um terror no ar, em ondas que chegavam na América, provocando sofrimento e desinformação geral. Depois da guerra ela foi reconhecida por gente do exército americano, foi enviada para América e julgada como traidora da pátria. Além de pagar uma multa de US $10.000, pegou 10 anos de cadeia.
Como eu dizia, o convencimento e a lavagem cerebral do povo alemão faziam parte da estratégia nazista para seguir garantindo apoio popular ao regime, e a comunicação intensa com fake News era a regra. Não existia ainda o Telegram, e mesmo quem não tinha um rádio, era bombardeado igualmente pelas notícias distorcidas e discursos dramáticos dos poderosos através de alto-falantes instalados em espaços públicos como fábricas, escolas, restaurantes e praças, transmitindo o dia inteiro. Ficava cada dia mais difícil fugir dessa lavagem cerebral.
Bem, voltemos para as Olimpíadas daquele 1936, onde se deu a primeira transmissão de TV. Os jogos foram transmitidos ao vivo, em preto e branco, em um circuito fechado que incluía a vila olímpica e outras 25 salas especiais, entre Berlim e Potsdam, onde umas 150.000 pessoas puderam assistir as transmissões da TV diretamente do Estádio Olímpico.
Mas foi pelo rádio, em 30 de abril de 1945, que chegou, e se espalhou, a notícia mais esperada pelos europeus: o aviso de que Hitler estava morto. Teria atirado contra sua cabeça e depois teria sido cremado (usei o futuro de pretérito apenas porque existem milhares de versões de que ele teria fugido em um submarino para América Latina). Morto ou fugitivo, acabava a Segunda Guerra Mundial. 
E eu vou ficar colada no radio-internet na madrugada de 02 para 03 de outubro de 2022, para ouvir a notícias mais esperada de quem gosta do Brasil e quer viver numa democracia: a da morte política do nazista que está sentado na cadeira presidencial e destruindo tudo que pode desse país.
Continuamos no próximo capítulo ...
beijos democráticos
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abombordo · 2 years
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Coleção Primavera - Verão - Capitulo 3
Depois de uma semana intensa, atravessando o Atlântico e cruzando o Equador, vai aqui mais um capítulo da Década de 30.
Abertura de uma Olimpíada é sempre um grande momento, que envolve um exército de profissionais de várias áreas.
Na Alemanha, desde a chegada de Hitler ao governo nazista, rolava um evento tipo abertura olímpica por mês. 
O ditador e sua trupe criavam e aproveitavam todo tipo de data, evento, ocasiões para realizar uma grande manifestação pública.
Não to falando de motociatas e carros de som em Copacabana no domingo cedo. Falo de eventos que movimentavam 300 mil pessoas assistindo e outras 300 mil performando, sempre em um local previamente “cenografado” e preparado para receber a audiência e os líderes nazistas, com muita pirotecnia, luzes, tochas acesas, fogos de artifício, bandeiras, estandartes e filas e mais filas de soldados uniformizados desfilando e seguindo verdadeiras coreografias que precediam a fala teatral dos líderes,
Hitler se preparava para estes discursos ensaiando na frente de um espelho*, afinando os gestos que usaria em cada parte de sua fala, entoado sempre com tom estudado para emocionar e envolver a audiência. Algo monumental.
Isso era fundamental para a manutenção e ampliação da base popular do regime e é exatamente aqui que entra em cena nosso personagem da semana, Albert Speer, ou como consta no seu pedigree: Berthold Konrad Hermann Albert Speer.
Jovem, belo, culto, refinado, filho de uma família burguesa, se dizia um apolítico, distante da vida partidária, até participar de um desses desfiles e ouvir um discurso de Hitler. Disse depois que ficou completamente capturado, impressionado e perplexo. 
Quando ouviu o segundo discurso, dessa vez de Goebbels, foi flechado de forma irreversível e se filiou ao partido. Uma vez dentro, foi se relacionando com o baixo clero e subindo o nível da conversa até chegar a Goebbels e propor uma mudança importante no cenário de um desfile que celebraria o dia do trabalho. 
A proposta foi tão admirada que o encontro seguinte já foi com o Führer e aí rolou paixão à primeira vista ... o chanceler se apaixonou por ele.
Speer passou a frequentar o círculo mais íntimo de Hitler, que andava com ele a tiracolo. Era o único ser humano que podia chegar na Chancelaria sem hora marcada, jantava na sala íntima de Hitler toda semana e viajava com o chefe, para cima e para baixo, inclusive na turnê em Paris ocupada, discutindo projetos e desenhando junto com o-pintor- medíocre-que-queria-ser-arquiteto não só desfiles, mas seu chalezinho nas montanhas, a chancelaria e o plano geral da futura capital do Mundo: Germania.
Quando o arquiteto oficial do reich, Paul Troost morreu, em 1934, Speer assumiu imediatamente a posição, sem concurso nem lista tríplice...
Foi de Speer o projeto da “Catedral de Luzes”, que era um sistema de iluminação do Zeppelinfield em Nuremberg, conjunto desenhado também por ele e inspirado no altar de Pérgamo, onde ocorriam grandes encontros e os congressos do Partido Nazista. Vale a pena dar uma googlada para ver o espetáculo noturno criado.
Mas embora a gente lembre Speer como o arquiteto do Reich, ele ocupou outra posição no reich, por um período menor, porém muito mais poderosa, que foi o cargo de Ministro de Armamento.
Foi assim: no dia 07 de fevereiro de 1942, o ministro de armamento, Fritz Todt, estava na cidade de Rastenburg participando de uma reunião e foi chamado para se apresentar em Berlim. Só para deixar a história mais interessante, esse ministro tinha sugerido, para desagrado de Hitler, abortar a Operação Barbarossa, de invasão da URSS, porque ele não acreditava na capacidade alemã de superar este inimigo. Speer estava na cidade, havia participado da mesma reunião e pediu uma carona no voo que sairia no dia seguinte. Horas antes de decolar, Speer mudou de ideia, disse que estava muito cansado e Todt embarcou sozinho para Berlim e para o além porque o avião misteriosamente explodiu logo depois de decolar, tipo Teori Zavascki.
Antes mesmo do funeral de Todt, Hitler já tinha nomeado Speer para a posição de Ministro do Armamento, uma das mais importantes posições em um país em guerra. Göring, que seria a indicação prevista para o cargo, ficou tão p. da vida que nem participou do funeral.
Speer assumiu o Ministério do Armamento e em seguida chamou todos os industriais do país para persuadi-los (eufemismo) a transformar suas plantas industriais em linhas de fabricação e montagens de armas, munições e qualquer coisa que fosse necessário nesse esforço bélico. Além da sua simpatia, Speer contava com a proteção de Hitler, que lhe deu carta branca para fazer o que achasse melhor, e todo mundo respeitava as costas quentes do Ministro.
Mas a verdade é que as decisões de Speer foram acertadas e até o final daquele mesmo ano,1942, a produção de armas aumentou em 60%. Esse sucesso gerencial e essa devoção de Hitler pelo seu posto Ipiranga, permitiu que Speer fosse concentrando poderes e no ano seguinte, 1943, já controlava a grana que ia ser investida na Guerra porque praticamente absorveu as funções do Ministério da Economia. A infra e os recursos para manter a guerra estavam em suas mãos.
Falando em mãos, começou a faltar mão de obra para as fábricas e demais serviços de manutenção na Alemanha, já que homens de todas as idades estavam servindo e morrendo no Exército. Speer encontrou então um manancial de mão-de-obra praticamente de graça: os prisioneiros de guerra. Inicialmente começou a transferir as populações dos países invadidos para o trabalho forçado na indústria alemã, e depois passou a usar a descartável mão de obra judia, diretamente dos campos de concentração para o chão da fábrica. Vocês lembram meus capítulos do Diário de quando visitei Cracóvia e Auschwitz?  Vou postá-los no Blog para quem quiser ler ou reler. Naquela visita eu quis entender por que “Arbeit macht frei”.
E com o olhar de arquiteto, ele sugeriu mudanças no formato e distribuição dos espaços dos barracões em campos de concentração para dobrar a capacidade de prisioneiros no mesmo espaço, e também autorizou a construção de mais barracões em Auschwitz.
No Julgamento de Nuremberg, quando não havia nenhuma prova material que o desmentisse, ele jurou que não sabia de nada, que nunca desconfiou que houvesse uma política de “Solução Final” com o genocídio da população judaica europeia. Os juízes da França e Grã Bretanha acreditaram na figura elegante e culta de Speer e ele ganhou uma pena de prisão por apenas 20 anos, contrariando os juízes russo e americano que haviam pedido a pena de morte por enforcamento.   
Na década de 70 encontrou-se documentos originais escritos e assinados por Speer, autorizando não apenas a expansão dos barracões como a instalação dos fornos crematórios em Birkenau. Se estes documentos tivessem sido encontrados antes, Speer, um dos homens mais importantes do Nazismo, intimamente ligados ao Führer, articulador de políticas antissemitas como aquela que assinou em 1939 expulsando 75 mil judeus de suas casas em Berlin para ocupar o terreno para as construções do reich, e do roubo das obras de arte que pertenciam a cidadãos judeus que ele pessoalmente supervisionou e mandou esconder na casa de um amigo ( e teve acesso depois que saiu da prisão), não teria tido a chance que teve de viver até os 76 anos de idade e escrever vários livros sobre sua vida. Um monstro elegante e culto, planejou como sugar as últimas gotas de energia dos prisioneiros de guerra nas fábricas e encomendou os fornos para queimar seus corpos, mas representou tão bem, em Nuremberg, o papel do bom nazista que conseguiu enganar os juízes.
Pois é, não só as aparências enganam, como o conteúdo de um discurso pode nos levar para conclusões equivocadas se não for ouvido desde uma posição crítica...hoje, mais do que nunca.
A história continua no próximo capítulo.
Beijos
* Procure na internet o ENSAIO FOTOGRÁFICO de Hitler
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abombordo · 2 years
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Coleção Primavera-Verão - Capitulo 2
Ouvindo Tchaikovsky, comendo strogonoff e vendo o Bolshoi na TV, vou postando esse capítulo da Alemanha durante a década de 30.....
Entre tantas coisas que li (me faltam todos os de Dostoiévski) e ouvi, após vários textos iniciados e semi cancelados, me dei conta que podia usar um evento acontecido na Alemanha neste período e que, a partir dele, podia abrir várias janelas para falar de vários personagens e aspectos ligados a propaganda do nazismo: as Olimpíadas de Berlim de 1936.
Para começar a pergunta é: porque sediar na Alemanha uma olimpíada, pós a 1° Guerra Mundial, com toda a humilhação e castigo que lhes foi imposto pelo Tratado de Versailles e a crise econômica que se estabeleceu no país nesse período?
A resposta é: exatamente por isso!
Em 1931 a República de Weimar (governo alemão pós Primeira Guerra) apresentou sua candidatura à sede dos jogos como uma forma de recuperar a amizade com os vizinhos, e o secretário do COI alemão na época conseguiu convencer o presidente internacional do Comitê, porque este era casado com uma alemã e de certa forma era mais sensível a determinados apelos, a apoiar a candidatura da capital alemã. Então, para aliviar a barra dos germânicos e dar uma força para a reconstrução da moral daquele povo, Henri de Baillet-Latour, presidente do COI, tirou Barcelona da parada e entregou as Olimpíadas aos alemães. Não sabiam ainda o que estava por vir.
Dois anos depois, em 1933 Hitler assumiu a chancelaria e o poder e embora não estivesse muito entusiasmado com a esse compromisso, escutou a Goebbels que sacou que seria uma ótima oportunidade de mostrar também para o Mundo, as maravilhas do regime nazista.
Começam os preparativos para receber os Jogos Olímpicos e aproveito este capítulo para falar da Estética e da Arquitetura Nazista.
Tenho que comentar que a década de 20 foi uma década artisticamente super intensa na Europa e na Alemanha, que contavam com uma vanguarda que chegou com o pé na porta, experimentando outras linguagens e iniciando outras “escolas” como o cubismo, o dadaísmo, o expressionismo e a pintura abstrata, que retratavam um mundo desconstruído pós a primeira guerra, a angustia humana, a introspecção. Arte, que deixando de ser apenas contemplação e entretenimento, era incompreendida e nem sempre reconhecida como arte.
Vamos lembrar também que Hitler era um artista-pintor frustrado pela sua mediocridade e dava, diferente desse mal-acabado do nazista tupiniquim, muita importância para a arte, bem entendido que era a Arte que Hitler considerava como a expressão da beleza humana. O nazismo voltou-se para o modelo Clássico greco-romano, porque achava que a arte grega era a mais bela, mais triunfal e limpa, (porque não tinha nenhuma referência judaica). E você sabe que o “belo” é sempre mais atraente do que o “imperfeito”, dá mais audiência e gera mais “likes”.
Em 1937 aconteceram duas exposições de arte simultaneamente, porque Goebbels tinha um senso de timing muito afinado e queria contrapor de forma contundente o Perfeito do Imperfeito.
Inaugurou-se com pompa e cerimonia, com a presença de toda a cúpula nazista, em um iluminadíssimo edifício neoclássico, a “Grande Exposição da Arte Alemã” (Große Deutsche Kunstausstellung) em Munique, que foi O grande evento da cidade. Um dia depois, a 6 quadras de distância, começou a exposição chamada de “A arte degenerada” (Entartete Kunst) com quadros retirados (censurados) dos grandes museus e galerias alemãs.
Na primeira tinha paisagens bucólicas pintadas por artistas alemães e retratos de Hitler e seus asseclas, além de esculturas de Thorak com seus deuses gregos. Na outra tinha Marc Chagall, Kandinsky, Paul Klee, Ernst Ludwig Kirchner, Emil Nolde, Van Gogh, Picasso e Matisse. Verdade que a montagem em si já seria algo de se estudar: a escolha do prédio do Museu de Arqueologia, escuro e estreito, a legenda de cada pintura que apresentava o valor pelo qual aquela obra tinha sido comprada e seu equivalente em salários, pãezinhos, litros de leite e outros itens da cesta básica, e as famosas fotos de seres humanos doentes, defeituosos ou inválidos, comparados com figuras expressionistas e cubistas. O objetivo de mostrar a semelhança entre a doença e a arte moderna pode ter chegado aos visitantes, mas é curioso destacar que o número de pessoas que visitou essa segunda exposição foi bem superior ao da outra, afinal, por que perder a chance de ver todas essas obras modernas e maravilhosas em um só lugar e de graça?
Essa exposição, da Arte Degenerada, foi itinerante, mas no final da turnê, os nazistas não jogaram fora quadros valiosos. Levaram para a Suíça e venderam para grandes marchands internacionais, por milhões de marcos...
Bom, dei uma volta olímpica, mas vou chegar na construção do Estádio Olímpico. Seu arquiteto não foi o Albert Speer que está todo mundo esperando ... Ainda não. Esse projeto foi assinado por outro arquiteto, Werner March.
Hitler liberou o cartão corporativo e sem olhar para a conta, como faz o fascista de plantão em Brasília, deixou a verba correr solta para construir, em tempo recorde, entre 1934 e 1936, o estádio com capacidade para umas 100 mil pessoas, além da Vila Olímpica, um cenário idílico que lembrava uma cidadezinha do campo, com direito a lago artificial e uma infraestrutura de fazer cair o queixo dos atletas internacionais, que saíram de Berlim embasbacados com a modernidade, eficiência, abundância e organização daquele jogos.
Detalhe: todos os trabalhadores que participaram da construção tiveram que mostrar seus pedigrees de arianos puros.
O estilo preferido do Führer, como já contei acima e que perpassa todos seus projetos, era o Neoclassicismo. Ele admirava as esculturas gregas que quase sempre representavam o corpo humano nu, lindo, harmônico, em equilíbrio num claro e forte paralelo entre o corpo ideal e a raça ariana.Por isso, encheu o espaço olímpico com esculturas em bronze e em pedras desses atletas belos e perfeitos, como uma representação da perfeição da raça ariana. O escultor preferido do Führer era Arno Breker, que assinou obras expostas no estádio e que acompanhou o ditador quando este visitou Paris recém ocupada, quem sabe em busca de inspiração.
Para vocês terem uma noção do tamanho e da forca dessa obsessão nazista pela arte neoclássica, conto que a discussão continuou pelo século seguinte. Em 2004, quando Berlim estava se organizando para receber algumas partidas do Mundial de Futebol nesse mesmo estádio Olímpico onde ainda estavam expostas as tais estátuas, jornalistas e pensadores alemães questionaram e reclamaram a sua permanência, relembrando serem obras de cunho racistas e nazista, e pediram sua retirada e destruição. Ao mesmo tempo, outros pensadores queriam manter viva a história, que se serve das pegadas materiais deixadas para ser relembrada e recontada.
Mas vamos adiante! Quando a gente fala de Olimpíadas, todo mundo quer assistir a abertura. E para falar de uma coreografia nazista, preciso de mais tempo e espaço, por isso vou deixar para o próximo capítulo, ok??
beijosss
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abombordo · 2 years
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Coleção Primavera-Verão - Capitulo 1
Caríssimos,
Vai aqui o novo capítulo.
Publicando no Blog, enviando por email e tava pensando que podia mandar por carta, pelo correio... quem não gostaria de receber uma carta, com envelope e tudo??
Mas vamos ao que interessa: Sejam bem vindos a minha nova Coleção!!
Então, este dia ia chegar, o dia de falar do nazismo afinal se vou falar da Alemanha, tenho que tocar nesse tema, ainda mais nesse momento brasileiro e mundial. Não vai ser tão divertida como a Coleção de Inverno, mas espero segurar a atenção de vocês.
Resolvi chamar essa série de: “A Década de 30”, porque não vou falar da guerra em si, mas do que acontecia na Alemanha antes de arrebentar o conflito.
A Alemanha sempre fala para o público interno desse período e não quer, não pode, não deve esquecer essa parte da sua história, quando morreram aproximadamente 80 milhões de pessoas (sendo que mais de 60% eram civis) e por isso o estudo desse fenômeno ideológico e suas consequências práticas continuam no currículo escolar, bem como a tradicional visita dos secundaristas aos campos de concentração em território alemão, que foram mantidos como Museus, centro de documentação e Memorial para suas vítimas, como Bergen Belsen e Dachau.
E escolhi um recorte, um tema, sobre o qual escrever, sem a pretensão de inaugurar nova análise para este período da História, já tão esmiuçado em livros, filmes, debates, documentários, séries de TV e palestras, atingindo tudo e todos que participaram da cena, naquela primeira metade do século XX.
Aprendi na faculdade que são as questões do presente que nos levam para o passado e olhando para o Brasil de hoje, quero falar da Propaganda Nazista. Provavelmente não trarei novidades, mas vale a pena ler de novo!
Quando a gente fala de propaganda durante o período nazista, vem quase que automaticamente o nome de Joseph Goebbels, mas o desenho dessa ferramenta para distribuir informação e fazer a lavagem cerebral na população começou bem antes e foi o próprio Hitler que escreveu sobre isso. Goebbels não criou tudo, não tinha todo esse talento, foi aplicando as ideias de seu grande inspirador, inclusive na morte, com seu indiscutível carisma. Mas vamos por partes.... (uiiiii)
No seu livro Mein Kampf, escrito em 1925, Hitler dedicou dois capítulos ao tema. Ele cunhou uma ideia, a da “Große Lüge” (grande mentira) afirmando que se propagasse uma mentira enorme, ninguém acreditaria na sua falsidade porque achariam impossível distorcer tanto a verdade, e assim a grande mentira passaria por verdade. Quanto maior a mentira, mais fácil ser assimilada como verdadeira.
E deu as seguintes características à Propaganda, como uma “arma”:
- A massa é formada pelas mentes mais simplórias, quase infantis, que dificilmente compreende o que lhe é dito e tem memória curta, por isso a propaganda deve se limitar a alguns elementos essenciais que devem ser expressos em fórmulas curtas e estereotipadas: os slogans, e repetidas “ad nauseaum”
- Se o objetivo da propaganda é despertar a imaginação da massa para apoiar o objetivo de quem está no Poder, a mensagem tem que apelar para o sentimento, à emoção, nunca à razão.
- A propaganda não deve falar da verdade objetivamente, deve apresentar apenas aquele aspecto da verdade que lhe é favorável. Quando não negada, pela Grande Mentira.
A propaganda nazista tinha como primeiro objetivo gerar ou melhor, fortalecer, o sentimento de nacionalismo, de reunir a opinião pública alemã ao redor de uma ideia de que formavam uma raça ariana superior, linda e loira, e de preparar o povo para uma guerra pela unificação do território onde viviam todos os “alemães étnicos”, com a anexação da Áustria e da Tchecoslováquia sob uma “Grande Alemanha”.
A partir daí era fundamental estabelecer os inimigos. Os internos, que eram os judeus, os bolcheviques, os ciganos e os homossexuais, que deveriam ser eliminados para o sucesso da limpeza racial, e os externos, que eram aqueles que haviam imposto a humilhação do Tratado de Versalhes. E não apenas vencê-los, mas destruí-los, apagá-los literalmente do mapa.
Para gerenciar essa poderosa ferramenta, criou-se, em março de 1933, um ministério específico, Ministério para Esclarecimento Popular e Propaganda, encabeçado pelo supra e sempre citado, especialmente hoje em dia, Joseph Goebbels.
Vou destacar alguns aspectos da biografia desse personagem.
Ele nasceu com um problema ósseo no pé e além de ser baixo, tinha aproximadamente 1m50, mancava de uma perna que ficou mais curta do que a outra. Mas, que sorte a dele, não entrou na lista dos que foram enviados à morte no programa conhecido como “Aktion T4” de “eutanásia involuntária” (morte por gás), que assassinou os alemães deficientes físicos e mentais em nome da higiene racial a partir de 1939. Pois é, ele foi poupado.
Obteve o doutorado em Filosofia e queria ser escritor, mas era um intelectual medíocre (e talvez por isso tenha determinado, na noite de 10 de maio de 1933, em todo o país, a queima de 25 mil livros dos maiores escritores alemães e estrangeiros, que tinham o destaque e reconhecimento que ele nunca teve, como escritor). Desempregado e deprimido, tinha se filiado ao partido em 1924 e era um líder distrital. Mas se não tinha o dom da escrita, tinha o da oratória e era um monstro (em todos os sentidos) com um microfone na mão.
Foi rapidamente reconhecido por este talento e liderou não só o poderosíssimo Ministério da Propaganda, mas herdou, pelo testamento de Hitler e por sua fidelidade canina ao Führer, a posição de Chanceler do Reich, quando este se suicidou, no dia 30 de abril de 1945. Mas ficou no cargo por apenas 24 horas, porque também se suicidou, eu disse que era de uma fidelidade canina, no dia 01 de maio, depois de envenenar os seis filhos e matar a esposa.
E nesse cenário macabro eu termino a minha introdução ao tema, neste capítulo inicial.
Destaco que a propaganda nazista era difundida por todos os canais possíveis e imagináveis, nas exposições de artes, nos posters espalhados pelo país, pelo rádio, nos filmes, nos projetos arquitetônicos, em livros e nos grandes eventos públicos, incluído os esportivos além dos comícios políticos, e o Reich vivia sob forte censura, o regime controlava a voz e o conteúdo de todas as mensagens. Estou lendo e estudando como isso se deu e nos próximos capítulos compartilharei, em gotas homeopáticas, detalhes desse processo de difusão de ideias e criação de uma realidade paralela, tipo essa que .. bem, vou deixar os nossos paralelos para depois.
beijos
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abombordo · 2 years
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Coleção de Inverno - Capitulo 9
Hoje vou fazer um outro pouporri, mas não é de gente, é de empresas, porque tenho certeza que ninguém quer que eu fique listando todas as maiores e melhores empresas do mundo da Alemanha, iria acabar depois da pandemia.
Todo mundo sabe que a Volkswagen é alemã, também a BMW e a Telefunken, mas escolhi algumas empresas que fui descobrindo que eram alemãs conforme comecei a frequentar esse pais, quem sabe vai ser surpresa para alguns de vocês.
Começo pela Beiersdorf. Nome bem alemão... Alguém aí já conhecia essa firma?
Acho difícil conhecer a empresa, mas todo mundo conhece as marcas que ela produz: NIVEA, Eurecin, La Praine e o famoso Labello, que se você pronunciar Labéllo, vai pensar que é uma marca italiana, e se falar Labellô vai achar que é francesa.
A empresa foi criada em Hamburgo, em 1882 e o Labello foi lançado em 1909, antes do creme Nivea, que nasceu em 1911.
Tudo ia super bem, abrindo filiais e escritórios em vários países, até que os nazistas chegaram ao poder, em 1933, e vários membros da diretoria, inclusive seu presidente na época, que eram judeus, tiveram que se desligar do negócio e emigrar. A Beiersdorf tentou se manter afastada do nazismo, mas a guerra deixou suas plantas fabris destruídas e após a rendição alemã, várias subsidiárias haviam sido expropriadas e a empresa havia perdido inclusive o direito da marca Nivea. No pós guerra a empresa se relançou e piano piano, com muita injeção de capital de outras empresas e a criação de novos produtos, foi retomando o caminho do crescimento.
E já que estamos na área da beleza, que tal falarmos da Wella, que eu achava que era brasileira!! Só que não, ela nasceu em 1880 na Alemanha Oriental, na região chamada Saxônia, por um cabeleireiro, o Sr. Ströher, que fazia a rede base de perucas. Na medida que as perucas foram saindo de moda, na década de 20, os filhos do Sr. Ströher, que herdaram a firma, inventaram outra coisa: um produto para ondular o cabelo, de forma permanente, ou seja, a nossa conhecida “permanente” e criou o nome Wella, a partir da palavra “Dauerwellapparat”, que significa "dispositivo de onda permanente", a maquininha de tortura que fazia os rolinhos se encherem daquele produto hiper forte que enrolava as madeixas e lacrimejava os olhos.
Como sempre, na história das empresas alemãs, a gente tem que ler o que foi até 1930, e o que vai ser depois de 1950. Neste caso, os irmãos Ströher eram anti-nazistas e impotentes viram suas instalações se tornarem fábricas para equipamentos de guerra. Depois da guerra, e com a transformação daquele território na República Democrática Alemã, a empresa foi expropriada, mas os irmãos se instalaram no lado ocidental e reabriram uma nova empresa Wella do zero. O resto da história está no google.
Mudando de área, tem uma companhia que eu achava que era norte-americana: Faber Castell. Uma empresa que pertence à mesma família por nove gerações!
Tudo começou com um marceneiro, Kaspar Faber, em 1761, na Alemanha, que resolveu produzir lápis seguindo uma técnica inglesa antiga de prender um pedaço de grafite dentro de uma estrutura de madeira.
Foi passando a empresa de pai para filho e para neto, mas foi o bisneto que teve oportunidade de viajar pela Europa e ter contato com outras empresas, aprender novas técnicas, investir em outros segmentos, ganhar muita grana, contribuir com iniciativas sociais para finalmente ganhar o título nobiliário de Barão e se tornar um VON Faber, Lothar von Faber.
Mas quando sua neta, Ottilie, se casou com o Conde Alexander zu Castell-Rüdenhausen, em 1898, mudou o nome da empresa para Faber-Castell. Isso foi em 1900 e até o brasão da família entrou no logotipo da empresa.
Na lista de seus consumidores está nada menos que Van Gogh, que teria feito uma bela publicidade do material, lá no finalzinho do século XIX
Tenho que fazer um destaque importantíssimo nessa história, que é a ligação da Faber Castell com o Brasil. Na década de 20, foi criada uma fábrica de lápis em São Carlos, cujo proprietário, era o suíço Germano Fehr. Este cara acabou vendendo parte da empresa para Johann Faber, que coincidentemente era irmão do Lothar von Faber. Quando a Faber Castell avisou que ia se instalar no Brasil, Johann Faber resolveu oferecer ao irmão a maior parte da empresa paulista que, comprada, tornou-se a principal filial do Faber Castell e base do seu projeto de reflorestamento e desenvolvimento sustentável. Atualmente a Faber Castell é considerada a maior fabricante de lápis do mundo.
E depois do lápis vem a caneta. Hora de apresentar a outra empresa alemã que eu achava que fosse francesa, ou suíça: a Mont Blanc.
Pois é alemã, nascida em Hamburgo no início do século XX, com o nome de Simplo Filler Pen Co. GmbH, e que produzia as primeiras canetas tinteiro com cartucho de tinta interno. Foi só em 1934 que a empresa assumiu o nome de seu novo lançamento, a chiquetésima Mont Blanc, cujo símbolo, a estrela num fundo branco significa o céu sob o cume nevado da Montanha.
Mas a marca alemã que mais me surpreendeu, porque pelo nome e pelo produto, podia ser italiana ou brasileira, é a Melitta. Sua história é pitoresca, porque escapa dos laboratórios de físicos, químicos e engenheiros, e entra na cozinha da Dona Melitta Benz.
O Sr. Benz reclamava toda manhã que o gosto do café que a Dona Melitta coava na sua velha meia ... brincando .. no seu filtro de pano, era horrível. Cansada desse contínuo nhenhenhe, ela resolveu arrancar uma folha do caderno do seu filho, um tipo de mata-borrão, prender no fundo de uma panela que ela tinha furado com um prego, e coar aí o café daquela manhã. Seu marido, que aposto nunca tinha viajado para a Itália, exclamou: Benhê, o café hoje está delicioso!!
Estava criado o primeiro filtro de papel. E estávamos em 1908.
A criação doméstica foi evoluindo e mudando de forma quando os químicos e os físicos se sentaram para conversar com os engenheiros para descobrir como economizar no papel, sem perder no sabor. Foi assim que ela conquistou a Europa e o mundo, não só com filtros, mas depois com a venda do pó, torrado e moído em diferentes filiais. Hoje a empresa é administrada pelos herdeiros, os bisnetos da Dona Melitta.
Tem uma torrefação deles aqui em Bremen, perto de onde trabalho. No final da tarde o cheiro do café torrando fica pairando no ar de forma perturbadora, reavivando a lembrança do café coado no coador de pano, do pão francês ainda morno, servidos na cozinha de casa, aquela no Pari, umas cinco décadas atrás.
Com essa lembrança vou encerrando a Coleção de Inverno, afinal o céu está clareando, azul royal as 18h00, sinalizando que a estação está mudando.
Esses 9 capítulos me estimularam para ler e estudar sobre o presente e o passado deste país e espero que tenha despertado a curiosidade sobre temas relacionados nas mentes maravilhosas que me leem. Mas o inverno está acabando porque a primavera está chegando. E se esta coleção está acabando, é porque tem outra começando!!!
Não perca minha próxima postagem e descubra o que ando pesquisando!!
Beijosss
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abombordo · 2 years
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Coleção de Inverno - Capítulo 8
O capítulo de hoje começa na cozinha, mas não sei onde vai terminar. Ficou curioso? Então mãos à obra.
Imagino que muitos dos meus leitores habituais estavam esperando o momento no qual me dedicaria à gastronomia. Vou tentar falar de gastronomia na Alemanha.
Para quem morou na Itália e pesquisou um pouco sobre a História da Itália através da sua gastronomia, de norte a sul da península, o texto sobre a Alemanha vai ficar bem curtinho: salsicha, repolho e batata.
Necessariamente nesta ordem!!!
Ok ... tem joelho de porco (Eisbein), tem também o schnitzel(de porco), tem a perna do porco (Schweinebeine) e tem ainda o Rouladen, que é um rocambole de carne... de porco.
É, a estrela da cozinha é o porco. Mas isso eu já tinha contado quando estava na Itália, lembra??
O confronto cultural entre os romanos e os germânicos foi também um confronto de valores alimentares. A cultura do pão, vinho e óleo, símbolo do desenvolvimento cultural romano, de um povo que havia desenvolvido uma agricultura e elaborava tecnologicamente sua produção (transformação do trigo, da uva e da azeitona) se chocou, para depois se mesclar, com a cultura de povos com uma estreita ligação com a Floresta, de onde extraíam a carne, o leite, o toucinho (gordura animal) e a manteiga, símbolos alimentares de quem praticava a caça, o extrativismo, a vida selvagem nos bosques do norte, revelando ausência de conhecimentos técnicos agrícolas.
A herança pastoril medieval da floresta se apoiava na criação do porco. Selvagem ou doméstico, este animal esteve sempre muito presente na alimentação europeia onde nunca foi proibido por nenhuma tradição religiosa ou cultural local, diferente do Egito, do Islã e da Palestina judaica.
Mas um porquinho selvagem, um javali, alimenta quantos?? Se o cliente for o Obelix, vai metade do rebanho. E estamos falando da Baixa Idade Média, de vilarejos explorando os recursos naturais sem planejamento, sem tecnologia, sem excedente de produção. Não sobravam alimentos, por isso foram desenvolvidas formas de aproveitar todos os recursos e não desperdiçar nada, e técnicas para preservar o que se produzia em determinada estação do ano, para alimentar a família nos meses seguintes, sem geladeira!
Alguém teve então a ideia de usar os intestinos do animal e colocar dentro o que sobrou da carne dele, amarrar bem e deixar secar para conservar. O clima frio e os ventos secos da região que depois vai se tornar a Alemanha, eram especialmente favoráveis e essa técnica se espalhou por aqui. E cada região foi imprimindo uma personalidade diferente na sua produção, uma característica específica do povo e da região que a produzia, um que temperava a carne com uma erva típica daquele local, outro que acrescentava uma carne de vitela que sobrara também, um fazia o embutido mais longo, outro mais grosso, um que cozinhava, outro assava, e assim os alemães inventaram uns 1500 tipos diferentes de salsicha (e linguiça porque aqui não tem diferença entre elas).
As salsichas alemãs se chamam “Bratwurst” e uma explicação para este nome diz que “Brat” seria uma palavra do alemão antigo, falado entre os séculos IX e XI, que deveria significaria “carne sem desperdício”. Já “Wurst” derivaria da palavra “Wirren” que significaria “mistura”. Achei essa explicação meio que “sob medida”, não me convenceu muito, previsível né?
Embora Otto Von Bismarck, o chanceler de ferro, tenha dito: “Quanto menos as pessoas souberem como se fazem as salsichas e as leis, melhor dormirão à noite“, as autoridades não brincavam com a saúde da população e desde o século XV existem regras severas para produzir essa iguaria germânica, com comitês encarregados de controlar a qualidade dos ingredientes e da produção.
Jurei que não ia fazer um guia gastronômico, mas antes que vocês reclamem de um texto superficial, eu aprofundo a informação.
Hoje elas são classificadas em três grupos:
Rohwurst - feitas com ingredientes crus e podem ser também defumadas
Brühwurst – o recheio parece um patê, como as de cachorro-quente
Kochwurst - as carnes usadas foram previamente cozidas.
Aí tem as famosas, como a Berliner Currywurst, que se trata de uma bratwurst assada, cortada em rodelas e servida com ketchup e curry, e é um prato típico de Berlim.
Tem também as salsichas DOC (denominação de origem controlada, como os melhores vinhos e queijos), como a Thüringer Rostbratwurst , que ganha esse nome somente se produzida no estado alemão da Turíngia (Thüringer). E a Nüremberger Bratwurst, que tem que ser feita em Nürnberg e por definição tem que ter entre 7 e 9 centímetros, ser fina e temperada com manjericão. Mas se a produção só acontece em Nuremberg, a venda se faz no país todo e até o McDonald's incluiu essa iguaria em seu cardápio, criando um negócio chamado de Nürnburger.
Salsicha no McD tudo bem, difícil é encará-las quando você está no hospital e te servem duas delas, com repolho cozido como primeira refeição depois de 36 horas de jejum.
E tem salsicha até no reino animal, como os cachorros (sem trocadilho) que não são quentes, mas são os Dachshund, o cão-salsicha, raça criada aqui. Aliás, se existe uma lista de filósofos alemães, de ganhadores de Nobel alemães, de cientistas alemães, têm uma longa lista de raças caninas desenvolvidas na Alemanha. Quer dar uma olhada??
Pastor alemão. Dizem que se desenvolveu no sul da Alemanha, no século XIX, de um animal híbrido entre cão selvagem e lobos. Um cara tinha um desses e que se chamava Hektor. Ele resolveu rebatizar o amiguinho como “Horand von Grafrath”, e fundou um clube, o do Pastor Alemão. E esse pimpolho, com nome de conde, se tornou o pai da raça.
Depois tem a história de Karl Friedrich Louis Dobermann que em 1860 cruzou uma cadela de pastor alemão com outras 5 raças e as ninhadas seguintes foram chamadas de “cães do Dobermann”. Em 1898 um deles foi registrado como “Graf Belling von Groenland”, nome de barão, e deu início a uma nova raça, os dobermanns.
Tem também o Boxer, que é fruto da mistura do Bullenbeisser com o buldogue inglês.
E para não ficar prolongando ad nauseum esse papo animal, encerro com um exemplo de imigração, sempre meu tema de preferência.
É a história dos cães romanos, os molossus, que no início da Era Cristã emigraram para o norte, atravessaram os Alpes e chegaram na Floresta Negra onde encontram cães locais, em geral pastores de gado que pertenciam aos açougueiros e se misturaram com eles, com os cães locais, não com os açougueiros. (Um parênteses único neste texto: naquela época os açougueiros cuidavam da produção da carne do começo ao fim, desde o pasto até o balcão)
Com a chegada das ferrovias no território, houve uma mudança profunda na dinâmica das cidades e do campo, os rebanhos não transitavam mais nas estradas e esses cães pastores foram desaparecendo.
Mas na cidade de Rottweil sobrou uma fêmea. Esta fêmea, depois de cruzar com outros cães pastores deu origem à uma nova ninhada, que deu origem a novas famílias, que deu origem a uma nova raça, que homenageando a cidade deu ao filhote macho “Russ von Bruckenbuckel”, nome de príncipe, o título de primeiro Rottweiler da história.
Moral da história: se misturou tudo e tanto até se chegar ao híbrido perfeito para então chamá-lo de “Raça Pura”.
Coisas da Alemanha...
beijossss
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abombordo · 2 years
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Coleção de Inverno - Capítulo 7
Uma queridíssima amiga me pediu que escrevesse sobre Goethe.
Aquele do Instituto Goethe, do Fausto, um dos mais importantes representantes da Literatura alemã, filósofo, estadista, cientista, dramaturgo e considerado pelo Instituto que leva seu nome como: “um verdadeiro Leonardo da Vinci alemão”.
Eu, que ainda nem terminei de ler “Os sofrimentos do jovem Werther”, nunca estudei o Romantismo alemão e nem falo sua língua, posso escrever sobre este personagem?? Topei a parada, pensando em fazer daquele meu jeito, descobrir algo do Goethe e não da sua obra. Procurar o que na sua vida podia ser contado para vocês, que já devem ter lido todos seus livros, assistidos os filmes e adquirido os CDs...
Me enchi de coragem e fui ler um pouco da sua biografia. Me chamou a atenção o tanto que esse cara amou no seu longo percurso nesta vida. Meu recorte então foi escolhido assim, as mulheres que passaram por sua vida e as marcas deixadas, além do costumeiro vai-e-vem de viagens que realizou tanto no Império como fora dele.
Para começar, vamos ao meu bordão habitual: Johann Wolfgang von Goethe nasceu em Frankfurt em 1749, no seio de uma família da alta burguesia. E como já foi dito antes, quem tem berço, tem escola, por isso o jovem estudou tudo que tinha direito, incluindo francês, inglês, italiano, latim, grego, ciências, religião, desenho, violoncelo e piano, além de dança e equitação. E tinha à disposição, em casa, uma biblioteca com mais de 2 mil livros. (abro o primeiro parêntese, queria puxar uma discussão sobre Meritocracia, mas não acho oportuno... ahahaha).
Mandaram o moleque estudar Direito, primeiro em Leipzig, depois em Strasbourg (entre 1770 e 1771). Como avisei antes, quero falar mais das mulheres do que da sua obra, então vou pular o fato de ter sido aí que ele conheceu a corrente literária “Sturm und Drang”, que o influenciou muito, e contar que foi quando conheceu Friedrike Brion, por quem nutriu uma paixão avassaladora e para quem escreveu muitas poesias de amor. Ficamos só na poesia mesmo porque a tese que ele apresentou na Faculdade foi rejeitada por ser confusa e ousada e por isso não obteve o diploma.
No ano seguinte, se mudou para Wetzlar, para trabalhar na corte de Justiça Imperial. Aí conheceu Charlotte Buff por quem se apaixonou. Acontece que ela estava noiva de outro, um tal de Kestner, com quem se casou. Tudo isso inspirou Goethe para escrever “Die leiden des Jungen Wethers” (Os sofrimentos do jovem Werther), sucesso absoluto no Império Alemão e além de suas fronteiras. A diferença entre a personagem e o autor é que o primeiro se matou pelo desespero de não realizar esse amor. O sucesso desse romance foi tanto que se criou uma verdadeira moda entre os jovens alemães, que passaram a se vestir como Werther, falar como ele e até se suicidarem como o personagem do livro. O próprio Goethe testemunhou a recuperação do corpo de uma menina que se suicidou, e que tinha um exemplar do seu romance no bolso. Estamos em 1774 e começa aqui sua fama internacional.
De volta à Frankfurt, um novo amor: Anna Elisabeth "Lili" Schönemann, filha de um banqueiro. Como um adolescente, se apaixonou perdidamente, e dirá a um amigo, já na velhice, que nunca esteve tão perto da felicidade como naquele momento. O esquisito é que depois de meses de relacionamento, quando o pai da moçoila quis organizar o casamento deles, Goethe rompeu o noivado e aceitou um convite para ir trabalhar em Weimar, para fugir do compromisso.
Chegando em Weimar, em 1775, deu de cara com Charlotte von Stein, casada, 7 anos mais velha do que ele, super culta e interessante (como são sempre as mulheres mais velhas!!) e se apaixonou perdidamente por ela. Será um amor platônico, mas ela influenciará fortemente o escritor, inspirando-o para escrever a novela “Wilhelm Meister” além da peça em prosa “Ifigênia em Táurida”.
Dizem que para fazer a encenação da peça, Goethe pediu que chamassem uma atriz, cantora e compositora importante no cenário cultural de então, com quem teve um breve romance. Não consegui pesquisar muito mais sobre ela porque parece que seu nome era Corona Shöter, então, com esse nome, os mecanismos de procura na web só identificaram o vírus!!!
A amizade entre Goethe e Charlotte durou uma década e foi interrompida quando, na noite de 3 de setembro de 1786, sem despedir de ninguém, escondido em uma charrete dos correios, e com um passaporte falso em nome de Phillipe Müller, Goethe fugiu para a Itália. Fugia tanto dessa relação mal resolvida, como do cansaço desses 10 anos no serviço público que desempenhava em Weimar. (ahhh .. eu faria exatamente o mesmo!!!)
Goethe ficou dois anos na Itália (eu também ficaria) e lá escreveu uma versão de “Fausto”, obra revista e revisada muitas vezes, escreveu “Torquato Tasso”, e ainda reescreveu, em versos, “Ifigênia em Táurida”, iniciando o classicismo alemão.
Em 1788 ele voltou para Weimar (eu teria ficado na Itália) mas não ao serviço do ducado. Depois deste retorno ele se dedicou completamente à sua arte. Agora estava mais maduro e centrado.
Conheceu, em 1794, o poeta Friedrich Schiller, com quem desenvolveu uma profunda amizade. Mas e quanto as mulheres?? Ahh, elas continuam sempre no seu radar.
Conheceu Chistiane Vulpius, jovem vinda de uma família de acadêmicos que foram empobrecendo. Seu pai teve que abandonar seus estudos na faculdade de Direito para sustentar a família e permitir que um de seus filhos estudasse. Ganhava pouco mas segurava a onda, até ser demitido de seu emprego como arquivista. A filha foi então forçada a buscar um trabalho e só conseguiu o de empregada doméstica. (é agora que a gente vai falar de Meritocracia??... não, melhor não ...)
Foi trabalhar na casa de um editor e foi nesse ambiente que conheceu Goethe.
Naquele mesmo verão já estavam apaixonados. (fico me perguntando como se faz para amar tanto...) Foi tanta felicidade que ele não parou de escrever poemas eróticos e felizes de doer e inventaram a moda de juntar os trapos, para horror e desespero da sociedade da época. Precisaram até se mudar para uma casa na periferia de Weimar, para se afastar da fofocagem.
Tiveram cinco filhos, mas o único que sobreviveu foi o primeiro, chamado August. Por fim, em 1806, se casaram, mas o preconceito contra a “empregadinha do Goethe” persistiu e ele chegou a pedir ajuda à uma amiga rica, Johanna Schopenhauer (mãe do filósofo), que convidasse sua esposa para tomar um chá. O comentário da viúva foi: "Se Goethe lhe deu seu nome, suponho que podemos dar-lhe uma xícara de chá."
Combinei com vocês de não entrar em detalhes sobre a obra e carreira de Goethe, mas posso dizer que entre final do século XVIII e início de XIX, ele exerceu grande influência tanto na política como na cultura, na arte e na filosofia europeia daquele período. Alguns nomes das pessoas com quem ele conversou e interagiu: Napoleão Bonaparte, Hegel, Beethoven, Schopenhauer, Schiller, além dos menos famosos.
Em 1816 morreu sua esposa, mas o coração do poeta não ficou vazio. Logo após essa perda, conheceu Marianne von Willemer, uma mulher linda e espirituosa, 40 anos mais nova, que será inspiração para um novo livro de poesias, “O divã ocidental-oriental”, recheado de erotismo, violência e filosofia.
Já com 72 anos, durante uma temporada de “águas curativas” em Marienbad, Goethe conheceu a jovenzinha Ulrike von Levetzov, no auge de seus 17 anos. Se apaixonou de novo (canso só de pensar...) e chegou a propor-lhe casamento, mas a família dela nem respondeu ao pedido absurdo.
Desiludido como o Werther de 50 anos antes, Goethe respondeu com uma nova peça literária: Elegia de Marienbad. Foi a última história de amor de nosso personagem, que passou os últimos anos dedicados à segunda parte de “Fausto”.
Ele morreu em 1832, dizem que solitário e infeliz.
Solitário.... depois de tanto amar ... e a Marisa Monte ta cantando aqui, agora:
“Bem que se quis, Depois de tudo, Ainda ser feliz....”
Simmmmmmmmm
Beijos
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abombordo · 2 years
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Coleção de Inverno - Capitulo 6 - No aquecimento
Final de semana, tempo para ler mais um capítulo da Coleção de Inverno.
No terceiro capítulo da coleção eu falei dos Irmãos Grimm.
Hoje vou contar a história de outra dupla de irmãos que é menos famosa, embora gere muito, mas muito mais grana do que os livros dos Grimm.
Os protagonistas deste capítulo são Adolf e Rudolf Dassler.
Queria ver a expressão de vocês nesse momento. Será que alguém já identificou do que estou falando? Fico aqui curiosa, esperando sua mensagem para me contar se foi surpresa ou não.
Mas vamos à História.
Os meninos nasceram numa cidade chamada Herzogenaurach, na Baviera. Rudolf em 1896, e Adolf, cujo apelido era Adi, em 1900.
A mãe deles tocava uma pequena lavanderia em casa, enquanto o pai, como grande parte da população da cidade que estava envolvida na manufatura de tecidos e calçados, trabalhava numa fábrica de sapatos. E foi com seu apoio que Adolf resolveu começar a produção, em casa, de sapatinhos de couro. Mas ele adorava esportes e com seus dons de designer e artesão, desenvolveu um modelo com pregos na sola, muito legal para a prática esportiva.
Logo o outro irmão se juntou ao caçula na pequena empresa, a “Gebrüder Dassler Schuhfabrik”, lá pelos idos de 1924, assumindo a parte comercial da firma, já que era conhecido pelos seus dons de negociador.
Estamos no início da década de 30 e Hitler está chegando ao poder. Se a gente assistir aos vídeos que retratam a Alemanha nesse período (pré-guerra), fica claro como o Nazismo (e o fascismo italiano também) estimulava a prática esportiva. Está cheio de filmes com grupos de jovens fazendo ginástica em espaços públicos. Os ditadores não estavam pensando apenas em corpos saudáveis, esses regimes usavam o esporte como forma de disciplinar a sociedade com dois propósitos importantes: preparar a população para a guerra e criar um clima de união nacional, de nacionalismo. Além disso, a Alemanha estava organizando os próximos Jogos Olímpicos de Verão, os de 1936, em Berlim.
Adi viu nesse evento a grande chance para seus sapatos esportivo ganharem visibilidade no mundo e foi à Berlim com um modelo desenhado exclusivamente para o atleta americano Jesse Owens. Usando aquele par de sapatilhas personalizada, o atleta americano negro humilhou o führer e ganhou 4 medalhas de ouro.
Em seguida veio a Guerra e os irmãos foram convocados para o front. Entre dispensas e reconvocações, intrigas, fofocas, traições, briga entre as cunhadas e prisões por delações não premiadas, os irmãos conseguiram voltar para casa mas após o final da Guerra Mundial, declararam uma guerra particular entre eles.
Em 1948 eles não se aguentavam mais, tinha ficado impossível a convivência no mesmo espaço, eles decidiram se separar e dividir a fábrica. Parte dos funcionários foi com Adi, parte com Rudi, que se mudou para o outro lado da cidade, do lado de lá do rio, onde montou outra fábrica de calçados esportivos. Desapareceu a velha Dassler Schuhfabrik e eles tiveram que inventar novos nomes para suas empresas.
Adi juntou seu apelido com parte do sobrenome e batizou a sua empresa como ADIDAS. Já Rudolf pensou inicialmente em RUDA, mas foi aconselhado a buscar um nome mais forte e acabou criando a marca PUMA.
E aí começou uma guerra comercial fortíssima, somada a guerra particular e a familiar. Tem um monte de fofocas sobre adultérios, denúncias anônimas e outras bombas de similar quilate, mas esse texto prefere se ater (hoje, só hoje) aos fatos documentados e não a bisbilhotar a vida dos outros .
A rivalidade dos irmãos dividiu também a cidade. Loja que vendia Adidas, não podia vender PUMA, bar onde costumasse ir os funcionários da Puma, pessoal da Adidas não entrava. Não existia família nenhuma com membros trabalhando nas duas fábricas. Se alguém labutava na Adidas, todos os outros familiares só podiam tentar uma vaga lá também. Dizem que na cidade todo mundo andava olhando para baixo para ver a marca do sapato antes de começar a conversa.
A Adidas ia de vento em popa. Em 1954 se disputou a Copa do Mundo na Suíça e a final foi entre Alemanha Ocidentais e Hungria. O jogo foi disputado sob um toró incessante, mas os alemães usavam moderníssimas chuteiras Adidas com travas rotativas na sola e foi esse segredo o fator decisivo para garantir o placar de 3X2, de virada, em favor do time germânico. Foi uma partida tipo Ayrton Senna correndo na chuva ....
Teve, porém, uma briga que preciso mencionar porque diz respeito a um atleta brasileiro.
Estamos na década de 60, o futebol se tornando o grande esporte planetário, a seleção alemã revelando grandes craques, e os irmão, que não se falavam mais, disputando o patrocínio de um ou outro craque, de clubes ou da seleção nacional, aquela briga padrão Fifa. Mas eles se encontraram uma última vez, e foi para selar um pacto. Existia um atleta que nenhuma das duas empresas iria procurá-lo por se tratar do melhor jogador de futebol do mundo e era certo que eles iriam falir se entrassem numa disputa para patrociná-lo. Sim, estou falando de Pelé.
Vamos para o México, 1970. A Puma mandou um representante que ficou de olho na equipe brasileira e lá pelas tantas, esse executivo começa a fazer acordos com os jogadores do time canarinho, um de cada vez, sem chamar atenção nem falar com o rei. Até que chega o momento certo, véspera da final, o cara chama o Pelé, coloca 120 mil dólares na mesa e o camisa 10 fecha o negócio. Fica com a grana e vai jogar com a chuteira Puma, de uma risca só!!
Anos depois Tostão teria contado uma nova versão dos acontecimentos no vestiário daquele dia. Pelé, antes de entrar em campo, teria pedido ao massagista que o ajudasse a arrancar 2 tiras das chuteiras Adidas, para parecer Puma e teria dito: “Prefiro Adidas, muito mais confortável!”
Esse evento mexicano foi a gota d’agua que marcou o rompimento definitivo da relação entre os irmãos, que nunca mais se encontraram.
Rudolf faleceu antes, em 1974 e Adi não compareceu ao enterro. Quatro anos depois faleceu Adi, que foi enterrado no mesmo cemitério, mas no lado oposto.
Em 2006 houve um novo confronto entre as marcas, e foi na final do Mundial na Alemanha, quando se encontraram as equipes da França (com Adidas) e Itália (com Puma). O título ficou com a Puma.
Porém em 2009 a cidade desse drama shakespeariano resolveu que estava na hora de encerrar as hostilidades e para pôr fim ao clima de rivalidade, foi marcado um amistoso entre os times de futebol das duas empresas. Não consegui achar a informação de quem ganhou a partida, mas isso já não tinha mais nenhuma importância porque o maior adversário agora estava do outro lado do Atlântico e se chamava Nike!
Beijos ... sem patrocínio!!
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abombordo · 2 years
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Coleção de Inverno - Capitulo 5 - Um potpourri
E aqui estou novamente, nesse final de semana de descanso, com mais alemães famosos!!
Tem algumas figurinhas muito importantes e super carimbadas na história da Alemanha, conhecidas, estudadas e discutidas o tempo todo. Fazer um capítulo inteiro sobre algumas delas seria um “porre” para quem lê, tipo chover no molhado, até porque não tenho repertório para discutir a fundo suas ideias ou teorias. Pensando nisso, imaginei um pot pourri de gente famosa.
Começo com Albert Einstein.
É verdade que ele nasceu na Alemanha, mas rodou o mundo, trocando de nacionalidade como a gente troca de canal no youtube.
Veio ao mundo em 14 de março de 1879, em Ulm, “no seio de uma família” de classe média judaica.
Aos 15 anos foi expulso da escola por excesso de faltas. Nesse mesmo ano viajou para Itália, onde seus pais estavam morando (eu também iria ...).  Dois anos depois, com 17 anos, renunciou a nacionalidade alemã para não fazer o serviço militar e se mudou para a Suíça. Ficou apátrida até seus 22 anos, quando pediu, e ganhou, a nacionalidade suíça.
Anos depois, os alemães congelaram a conta bancária que ele tinha na Alemanha, por ser judeu. Einstein correu para pedir ajuda ao governo suíço, que interviesse e comprasse essa briga já que ele era cidadão suíço, mas os helvéticos não quiseram nem ouvir o chororô porque estavam p. da vida pelo fato dele sempre se apresentar como um cientista alemão, e responderam ao seu pedido com um sonoro: cada um com seus problemas!
Sem aquela grana, ele continuou rodando o mundo até que, 40 anos depois, se tornou cidadão norte americano.
Em 1952 foi convidado para ser Presidente do país. Não dos USA... mas de Israel. Quando morreu o presidente Chaim Weizmann, o primeiro-ministro Ben Gurion chegou a convidá-lo para a função, convite que ele declinou.
Einstein morreu três anos depois, em 1955. Tinha deixado escrito que queria ser cremado, e foi. Antes disso, porém, durante a autópsia e sem a autorização da família, o médico legista retirou seu cérebro, colocou num vidrinho e levou para casa, para estudar de onde veio tanta genialidade.
Quando descobriu o fato, o filho do Einstein saiu enfurecido atrás do médico, mas se acalmou e chegou a autorizar o tal estudo, que se foi realmente feito, não revelou nada.
A viagem do gênio só acabou em 1997, mais de cem anos depois do início de sua jornada na vida, quando o médico devolveu o cérebro, ou o que sobrou dele, para sua neta.
Ah, as suas últimas palavras no leito de morte foram... em alemão e a enfermeira americana que o acompanhava não entendeu nada!
Nosso próximo personagem é Karl Marx.
O nome completo do tio Marquinhos (como diz a sensacional Rita von Hunty) era Karl Heinrich Marx. Nasceu em Trier (Prússia - Império Germânico) em 1818 “no seio de uma família” de origem judaica. Seus avós paterno e materno eram rabinos, mas seu pai se converteu ao luteranismo para escapar a fúria antissemita sempre em voga na Europa do século XIX (e não só ....).
Carlinhos, mesmo defendendo a tese de que a religião era o ópio do povo, revelava, na sua forma de discutir, estudar e escrever, um exercício rabínico.
Por exemplo, existe um preceito na religião judaica chamado Tzedaká que significa, de forma resumida, que todo mundo tem que oferecer 10% de seus ganhos aos menos favorecidos. Não deve ser entendida como caridade. Não! É considerada, pela religião, como “justiça social”. Quem tem, tem por obrigação contribuir de forma material com quem não tem, e também com a comunidade. Acho que Marx já ouvia essas coisas de justiça social e distribuição de renda em casa, na voz de seus avós.
Mas não vou fazer aqui nenhum resumo d’O Capital, relaxa! Como agente de viagens, quero apenas desenhar o itinerário dele pela Europa.
Em 1843 foi expulso da sua terra natal, Prússia, por fazer críticas ao governo através do jornal onde exercia papel de redator chefe, mudando-se para Paris. Mas foi expulso da França em 1845 a pedido do governo prussiano. Migrou então para Bruxelas de onde, 3 anos depois, foi expulso após divulgar seu Manifesto Comunista. Mudou-se para Colônia, onde fundou o jornal Nova Gazeta Renana, mas foi novamente expulso em 1849 após publicar ataques às autoridades locais. Fez a mala (quiçá uma sacolinha) e se mudou para Londres, onde viveu como apátrida até sua morte, em 1883.
Como disse aquele outro barbudo, o maior líder atual brasileiro, aquele que defende a mesma justiça social, que foi preso injustamente e que foi recebido, um século e meio depois, com honras de chefe de Estado pelos líderes desses mesmos três países, Alemanha, França e Bélgica:  Se expulsa (ou se prende) o homem, mas não se prende (nem se expulsa) uma ideia.
E vou encerrar esse capítulo do meu Diário falando de outro monstro da arte e cultura germânica, Beethoven, ou melhor, Ludwig van Beethoven, um personagem rodeado de mistérios.
O primeiro mistério está relacionado a sua data de nascimento, não se conhece. Sabe-se apenas a data de seu batismo, em 1770, em Bonn.
Não vou discorrer sobre sua entrada e seu desenvolvimento na música pelos motivos alegados anteriormente, mas quero apenas destacar que era um visionário, que escrevia suas sinfonias não para os ouvidos de seu tempo, mas para a posteridade. Um exemplo disso foi o fato de ter incluído um coro no movimento final da Nona Sinfonia, um gênero que era exclusivamente instrumental.
O segundo mistério foi sua vida afetiva. Nunca se casou e dizem as fofocas da época que “Für Elise” teria sido dedicada a uma cantora de ópera, chamada Elizabeth Röckel, a quem ele teria feito um pedido de casamento, recusado.
Foi um anti-monarquista e entusiasta da Revolução Francesa e tinha dedicado a Terceira Sinfonia para Napoleão Bonaparte, mas quando este se coroou imperador, encolerizado, rasgou a dedicatória e renomeou a obra como “Heróica”.
Outro mistério ronda o motivo de sua morte, em 1827, provavelmente de cirrose hepática, mas nunca confirmado.
A morte não foi suficiente para diminuir a importância desse gênio nem na Música, nem na tecnologia. Quando os engenheiros da Philips estavam desenvolvendo a tecnologia dos CDs de áudio no início da década de 80 do século XX, Herbert von Karajan, o regente, sugeriu que a capacidade dessa mídia fosse ampliada de 60 para 74 minutos para caber a Nona Sinfonia inteira. E assim se fez! (pode checar no google...)
Termino esse capítulo neste começo de ano, esperando que em 2022 o corona, em todas suas modalidades, dê um tempo para gente, que se torne um bichinho doméstico e que pegue pela mão o excrementíssimo vagabundo que que está com a faixa de presidente e o leve desta vida, dessa encarnação, deste planeta, porque ninguém merece viver perto de um monstro asqueroso como este f.d.p., corrupto, Ignorante, burro, idiota, imbecil, retardado, analfabeto, boçal, bronco, estúpido, iletrado, ignaro, ilegível, obscuro, sombrio, atrasado, inculto, retrógrado, beócio, rude, cavalgadura, tolo, alarve, grosseiro, jalofo, desajeitado, tapado, teimoso, chucro, intratável, desalumiado, asnático, bruto, desaforado, descortês, duro, estólido, inepto, lambão, obtuso, palerma, sandeu, selvagem, toupeira, incapaz, insensato, incompetente, imperito, impróprio, inapto, inábil, insuficiente, abagualado, sáfaro, insciente, inepto,  imprudente, alheio, estranho, estulto, fátuo, mentecapto, pateta, toleirão, írrito, vão, oco, chocho, frívolo, fútil, vazio, definhado, enfezado, frustrado, áspero, chambão, desabrido, difícil, escabroso, fragoso, incivil, inclemente, indelicado, inóspito, pesado, roto, ríspido, rombudo, tacanho, tosco, covarde, poltrão, safado, baldo, infundado, nugativo, curto, sinistro, arrogante, desinformado, atoleimado, estúpido, boçal, bronco, disparatado, rude, az��mola, desajeitado, lanzudo, brutal, asselvajado, bestial, protervo, truculento, violento, chulo, irracional, malcriado, desaforado, atrevido, insolente, descortês, inconveniente, indelicado, intratável, cruel, despiedado, insociável, mal-humorado, ranzinza, soberbo, maleducado, reles, rugoso, abestalhado, aluado, babão, bobalhão, bobo, bocó, demente, descerebrado, desequilibrado, desmiolado, lerdaço e paspalhão....
Uffff ... agora vou conseguir dormir melhor!!!
Beijossss
p.s. essa lista de adjetivos está incompleta.... se você quiser enriquecer seu vocabulário, procure na web por “216 palavras para a imprensa definir com precisão bolsonaro e seu governo” de Luiz Cláudio Cunha. Mais beijos
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