Tumgik
agathagatha · 2 years
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Cheiro de Sol (ou sobre transar chapada)
Litoral. Oceanos azuis. Brisa e sol suave de final da tarde. Colchão no pátio, limpo e sem lençol. Dois travesseiros com cheiro de sol. Peles macias. Ela tem curvas, travas e volumes. Formas e dobras. Tudo nela desliza fácil. E escorre. A fenda, os seios, os cabelos crespos e ruivos. É vênus em carne de mulher.
Nele tudo é cheiro de mar. Pelos fartos e sujos de areia. Ombros finos e largos. Pele torrada em cor de quase outono. Faróis baixos que parecem risos. Os corpos entrelaçam-se. Dançam. Sobem e descem. Penetram-se. Uma chuva rápida toca o chão, e a terra faz-se presente pelo cheiro. Os pelos arrepiam-se. Trovões no fundo são como tambores, como os corações que batem forte e quase se encostam. Peito com peito. Seios nobres de uma mulher real. Assimetria e poesia. 
Tudo aquilo que não é máquina. Ritmo inconstante. Corpos pulsam, rápido e devagar. Um momento que é protagonista, não é transição. Nada veio antes, nada vem depois. Tempo que não existe. Não para, nem passa. Não importa. Só existe a transa. E o conforto dos travesseiros com cheiro de sol.
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agathagatha · 2 years
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1. O Motorista
Já fazem alguns anos queTeofânia ganhou dos pais um Jimny Sierra 4x4, verde musgo com escada e bagageiro para camping. O bagageiro abrigava facilmente uma barraca montada no teto do carro, sob o céu estrelado, protegida de cobras, insetos e toda a vida que brota da terra. 
Num rompante de menina mimada (já era mulher mas esse hábito era um grilhão herdado de pessoinha rica), exigiu um motorista junto com o carro. Aos quase 30 anos, mal dirijira e portanto não fazia balisa muito bem. Odiava com todas as forças a ideia de não saber fazer qualquer coisa com perfeição, de primeira. Então não fazia, deixava que o dinheiro compensasse pelas suas falhas e incompetências. Assim, os pais, tão negligentes quanto generosos, deram o carro e contrataram o motorista.
Recrutado em uma agência de seguranças de celebridades, Rômulo fora escolhido para conduzir Teofânia pelas ruas de Alegre Porto. Fora segurança de Palmira Maravilha por 8 anos, até que na saída de um dos shows da dançarina no Gigante Teatro Alegretense, um fã alucinado lhe acertara a tíbia esquerda com um tiro originalmente dedicado à Palmira. Na tentativa de eternizar na morte o amor não vivido, o fã de Palmira tirou a própria vida e deixou Rômulo manco da perna esquerda.
Depois do acidente, Rômulo tornou-se motorista particular, perdeu a boa pinta de modelo, ganhou bons quilos de gordura sem perder os quilos de músculos e passou a cultivar uma barba rala e morena. Entre corridas, dedicava-se a paixão pelos livros. Devorava um atrás do outro e narrava a melhor parte para os seus passageiros preferidos (usualmente os mais bem humorados). Agora era contratado em tempo integral pela família Palaviccini e tinha tempo de sobra para degustar as plavaras, enquanto aguardava Teofânia entre compromissos.
Teofânia, a caçula da família, era um tipo de muitos humores. Sentava-se na frente, ao lado de Rômulo , quando se sentia solar, aberta a conversar. E sentava-se atrás quando o mau humor era tanto que só podia rosnar. Já tinha Rômulo com um bom amigo e não media mais as palavras nem os humores. Não escondia choros, nem vomitos, ataques de raiva ou de alegria. Nem de fogo entre as pernas. Também não escondia as investidas esdrúxulas no cartão Amex do pai, nas idas e vindas ao Shopping Iguatupim. 
Para Rômulo , Teofânia era essa alma perdida, querida, caçula. Reconhecia a mulher potente por trás das inseguranças, mas não só era fruta proibida, como era das frutas maduras que ele gostava mais. Das mulheres apropriadas da própria sujeira. Das próprias vontades. Da boa liderança, que sabe dar e receber comandos. Não fosse Teofânia 12 anos mais nova. Não fosse tão tropeça. Não fosse tão perdida, quiçá, ele já teria a melhor contratação dos últimos nos arruinada pela troca de fluidos no diminuto banco traseiro do Jimny Sierra. Não fosse o indesejável, o improvável (o incorreto até), já teria cedido às muitas investidas de Teofânia, depois das caronas pós baladas.
Ela meio bebada, braba, com hálito de whisky e chiclete de canela, assumindo a direção e o colo de Rômulo . Ele já com o falo rijo entre as pernas e a saia de seda azul. Se entendem entre olhares, pelo espelho retrovisor, que o banco traseiro tem mais espaço. Ele percebo o terno no joelho umidecido com o mel que corre fartamente pela fenda de Teofânia. Ela se percebe mordendo o lábio com vontade de chupar, e acariciando o pau torto de Rômulo. Um bom pau, ao que parece. Se empoleiram no banco traseiro e tentam se acomodar no espaço tão pequeno. Ela se incomoda com todas as posições e ele perde a paciência com o tête-à-tête. Segura o quadril com força e acomete o falo com golfadas, na fenda quente e úmida. Ela geme de prazer, prensada de frente pelo baco e de costas pelo ex-atleta, atual manco intelectual. Não perdem tempo abrindo as janelas, então suam como selvagens e o calor ensurdecedor acentua o prazer, a pressão, a vontade de agredir com a vagina. De ferir com o falo. 
Com uma mão ele a tem pelos pulsos, com a outra massageia a vulva e o clitóris. Chupa a orelha, arranha o pescoço com a barba. Rosna de paixão momentânea. É um barulho ameaçador, mas o tom de voz é lar. O respeito é abundante e a segurança que se cria autoriza a selvageria.
De pronto, ela bate a porta e ele desperta do sonho ainda acordado. O pênis duro embaixo do livro. Ela sentou-se na frente, é um dia solar. Ela pergunta sobre o livro, já sabe que vai ouvir uma boa história. 
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