Tumgik
aguis · 2 years
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Resenha do livro Empoderamento
Empoderamento é um dos livros da coleção Feminismos Plurais com coordenação de Djamila Ribeiro, e escrito por Joice Berth. O livro é do ano de 2020, da editora Sueli Carneiro; Jandaíra.
O livro nos traz uma ideia de empoderamento pela perspectiva do feminismo negro. E como nos outros livros da série, ele nos traz muitas citações de grandes e importantes autores que também abordaram o assunto nos seus livros, o que nos ajuda a entender o tema de uma maneira mais ampla.
Logo no início do livro nos é dado algumas informações para entender o significado, a origem e os usos da palavra empoderamento, que por muitas vezes, tem uma utilização “vazia”, ao pé da letra. A Teoria do Empoderamento e sua origem é abordada e mostra como a discussão do assunto ajudou na luta de grupos oprimidos. Ao longo da leitura entramos em uma discussão sobre a ressignificação da palavra empoderamento, e vemos que precisamos lutar contra opressões e situações que são injustas na sociedade e questionar as relações de poder. Entre as importantes citações que ajudam na construção do livro, uma que chama a atenção é a citação da fala de Monique Evelle, uma ativista negra brasileira, em uma palestra em 2015: “Nunca fui tímida, fui silenciada”. Uma afirmação sobre um sistema que promove a opressão. E também nos traz outra fala, da feminista e ativista Audre Lorde: “O peso do silêncio vai acabar nos engasgando”. Uma reflexão sobre o silenciamento que não é individual e sim institucional.
Precisamos pensar o empoderamento na prática e como isso pode ser realizado. Um exemplo é a criação do Bolsa Família no governo Lula e de que forma isso ajudou mulheres a ter o mínimo de autonomia financeira e a mudar relações de poder. Através disso as mulheres puderam ter mais confiança nelas mesmas e sair de situações de violência doméstica, ou ter a autonomia de escolher quando engravidar, com o uso do anticoncepcional, por exemplo. Outra estratégia de resistência é o acesso de grupos que antes não estavam diretamente ligados a atividades políticas e espaços de tomada de decisão. O que é uma crítica porque no Brasil não temos muitos incentivos para a população participar da democracia.
O livro também tem um capítulo inteiro sobre estética e afetividade, e nos mostra como esse assunto é manipulado de forma ruim para fazer com que pessoas se sintam mal com elas mesmas. Cito aqui a pergunta que Malcom X fez em um de seus discursos para as massas que lutavam contra o racismo nos Estados Unidos: “Quem te ensinou a odiar seu cabelo, seu nariz, a cor da sua pele?”. Mais especificamente, ele perguntou quem te ensinou a odiar sua própria aparência. Fica evidente que toda essa construção negativa da imagem da pessoa negra não teve outra motivação senão sociopolítica.
A leitura nos traz o que é o empoderamento feminino, da melhor forma possível e de uma maneira que não é difícil de ser compreendida. Com a leitura, temos uma visão para além do feminismo, com diversos temas complexos, e desafiadores, mas que precisam ser abordados e no caso de preconceitos, combatidos. Vemos que não podemos ficar paradas e esperar que as coisas mudem sozinhas, precisamos nos unir e através dessa união poderemos amplificar nossas vozes, sair da invisibilidade e mostrar que não estamos contentes com as formas de opressão existentes em nossa sociedade.
Sobre a autora do livro: Joice Berth é arquiteta e urbanista pela Universidade Nove de Julho, pesquisa sobre direito à cidade com recorte de gênero e raça e é assessora parlamentar. Ela também cria conteúdo para as redes sociais e escreve para a Revista “Elle Brasil” e o “Portal Terra”.
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aguis · 2 years
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Resenha do livro “Lugar de fala” de Djamila Ribeiro
Lugar de Fala (2019) é um livro da coleção Feminismos Plurais da editora Jandaíra escrito por Djamila Ribeiro. O livro traz um pouco da história do feminismo negro e discorre sobre o assunto com muitas referências à grandes autoras do tema, como Angela Davis e Bell Hooks. A obra busca uma reflexão do que é lugar de fala e tem como objetivo trazer ao leitor esse tema de forma didática e acessível.
No livro a autora cita Sojouner Truth (nome de Isabella Baumfree, mulher negra nascida em um cativeiro em Nova York) abolicionista afro-americana, escritora e ativista pelos direitos da mulher. Essa primeira parte do livro nos conta um pouco da história da ruptura do feminismo negro em relação às mulheres do Movimento Sufragista (como se chama o movimento das feministas brancas da época), ao entender que as demandas e necessidades da mulher negra não eram as mesmas das mulheres brancas. Truth faz duras críticas ao movimento feminista de sua época, devido ao fato das feministas brancas não incluírem a questão do racismo, fortemente enraizado nos costumes e pensamentos americanos da época em que ela viveu. Essa primeira parte do livro também traz um pouco do pensamento de Lélia Gonzales (pensadora e feminista negra), que tem como uma de suas propostas a descolonização do conhecimento.
No terceiro capítulo a autora nos traz diversas citações, uma delas a citação à autora Grada Kilomba sobre “[…] a invisibilidade da mulher negra nos debates acadêmicos e políticos”. Para Kilomba é importante lutar contra esse apagamento, essa invisibilidade, nos quais mulheres negras são submetidas. Essa parte do livro também nos traz a triste realidade de mulheres negras no Brasil da década de 1980, onde elas eram forçadamente esterilizadas. Também mostra a pesquisa de Jurema Werneck, que o movimento de mulheres negras é protagonista na luta contra o genocídio da população negra do país. Essa luta tem como resultado, em 1991, a CPI da esterilização como ficou conhecida, que constatou que essa prática realmente existiu.
No quarto capítulo a autora nos traz alguns conceitos do que é lugar de fala, como na Comunicação e na Psicanálise. Ela também aborda a reforma da previdência no Brasil, com o aumento do tempo de contribuição e idade mínima para as mulheres se aposentarem e diz que a reforma não leva em conta a divisão sexual do trabalho em nossa sociedade.
Djamila Ribeiro é mestre em Filosofia Política pela Universidade Federal de São paulo (Unifesp) e também uma ativista do feminismo negro com forte atuação nas redes sociais.
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