Don't wanna be here? Send us removal request.
Text
HOME
Senti medo ao sair de casa. Podiam me ver a qualquer momento e o sentimento de não pertencimento voltou.Digo voltou como se ele um dia tivesse partido. Permaneceu. Parecia algo bastante simples para os comuns. Entrar em uma padaria e fazer um simples pedido. Todavia eu não estava preparado, mas ainda assim inflei o peito em um ímpeto de coragem e bradei em alto e bom som. Todos me olharam com olhos cheios de si e vazios de mim. Triste realidade. O mundo parece tão grande em certos momentos e em outros parece não haver espaço suficiente para o nós. Me arrependi pelo brado. Me arrependi pela breve visita da coragem. Caminhei com sentimento de corrida. Parti por falta de tato na chegada. Não sorri por falta de alento. Não chorei pelo mundo que espero. Dia desses me peguei pensando que eu tenho um super poder. Bem, não diria exatamente super. Também não diria exatamente poder, uma vez que eu não posso grande parte das coisas. Mas sim, eu tenho um poder um tanto quanto diferente. Eu posso não ser visto na maior parte do tempo, mas em questão de segundos minha presença pode incomodar a todos.
Sim, eu confesso. Sou um morador de casa.
Falando sobre isso, foi exatamente o que eu disse em meu brado. Disse a todos que era um morador de casa e que tinha fome. Eu havia tomado um banho no mesmo dia e meu cheiro de sabonete poderia ser o motivo do desconforto. Também podia ser pelas roupas novas que eu trajava. Talvez ainda pelos dentes escovados. Não sei dizer ao certo, mas eu conheço aquele olhar. Eu o conheço desde o primeiro dia que coloquei meus pés dentro de uma casa. Não foi exatamente uma decisão fácil. Não sei nem mesmo se foi uma decisão, mas fui julgado pela minha consciente inconsciência.
Voltando a padaria, queria dizer que eu apenas tinha fome. Não sei se era exatamente de pão. Talvez fosse de atenção. Até mesmo de um olhar. Que fosse de reprovação, mas que antes de tudo fosse. Resolvi usar meu super poder. Todos me viram mas poucos me enxergaram. Como eu disse anteriormente, não era exatamente um super poder, mas naquele momento era tudo que eu tinha. Senti medo ao voltar para casa. Podiam me ver a qualquer momento e o sentimento de não pertencimento voltou.Digo voltou como se ele um dia tivesse partido. Permaneceu.
0 notes
Text
VOCÊ É DESSAS
Essa semana você me deixou para ir cuidar de uma amiga. Havia sido um dia difícil e eu fiquei um pouco chateado quando você me abraçou e se despediu. Logo depois eu deitei na cama, respirei fundo e sorri um sorriso largo. É tão bom saber que você é dessas.
Sim, você é dessas. Dessas que não faz jogo. Dessas que se importa. Dessas que faz surpresa em meio de semana. Dessas que dança dentro do carro. Dessas que da presentes com significado . Dessas que me leva no hospital pela madrugada e que liga para o médico no dia seguinte. Dessas que pede em namoro. Dessas que contraria o signo. Dessas que sorri com os olhos.Dessas que ama os animais e os trata igual gente. Dessas que é leal. Dessas que deixa mensagens escondidas para eu achar. Dessas que o tempo voa quando tá junto. Dessas que eu só preciso de uma.
E eu ?
Eu sou desses que gostam dessas...
0 notes
Text
CUIDA BEM DELA
Em uma primeira oportunidade ela me disse para cuidar bem de você. Eu não soube responder. Sim, eu deveria ter dito algo, mas eu quis ser cauteloso. Logo eu que que sempre rompi com o mundo e falei o que sentia. Talvez sejam sobras do eco de antigas palavras. Talvez eu apenas tenha sido pego de surpresa.
Falando em surpresa, você foi uma das boas. Das melhores eu diria. Eu era apenas um cantor de refrões recuperando o fôlego quando te vi sorrir. Foi quando eu quis habitar o seu sorriso. Ele parecia tão aveludado. Parecia delicado. Parecia até errado, mas eu te disse que não era pecado. Perdemos a noção do tempo.
Falando em tempo, com você passei a notar as horas e não vê-las passar. Eu nunca enxerguei o muro que você quis me contar. Então você ficou pro café, e eu te convidei pro jantar.
Falando em jantar, eu gosto de uma noite escura onde a luz do sol tirou seu cabelo para dançar. Eu tinha um sorriso nada furtivo em meus lábios enquanto você me contava algo, mas por favor não me leve a mal, eu habitava outra dimensão. Havia em mim um esforço desmedido para entender o que você dizia, mas eu sofro de ouvidos cegos, olhos surdos e coração atrapalhado. Tormenta de sentidos. Falando em tormenta, sempre ouvi que apenas depois da tempestade é que vem a calmaria. E por aqui a tempestade já passou. Eu tenho o arco-íris por testemunha.
Em uma primeira oportunidade ela me disse para cuidar bem de você. Eu não soube responder. Mas hoje eu saberia.
0 notes
Text
Ajudante fiel
Hoje eu te agradeci. Sim, você acertou em cheio como dois e dois são cinco. Quanto a mim, eu apenas esperava mais. Muito mais. Entre rodopios e canções presentes você se torna passado. Entre a falta de cuidado e a ausência de verdade no elóquio você pode se torna um alguém qualquer . Logo você que já foi única. Logo você.
Hoje a mágoa chegou sem pedir licença. Sem dizer olá. Mas na mesma medida que me dói ser testemunha dos erros, me alegro no auxílio que eles me trazem. Sim, seria muito mais difícil apagar a imagem imaculada que criei de você se não fosse pelo torcer sem vibrar. De fato você tem sido uma ajudante fiel. E eu que previa lágrimas desferi um sorriso. Não era de alegria, mas era um sorriso. Eu também esperava mais de mim. Mas a sua ajuda tem sido muito além do que eu poderia imaginar. Doce amargor. Nos longos abraços. No entrelaçar dos dedos. No olhar cruzado. Na risada sem motivo. No encontrar dos corpos. Na miscelânea do amor. Foi tudo tão intenso que eu gostaria apenas de ter a chance de me despedir sem ferir ou ser ferido. Mas eu sinto que você precisa jogar o jogo, desferir os golpes que sente vontade para então poder caminhar em paz.
Sim, indiferença é um golpe dos mais baixos, mas hoje toda e qualquer tentativa sua tem efeito contrário. O que era veneno hoje é antídoto.
Eu vivo um novo verão. Eu vivo um novo verá. E você ? Vive ou sobrevive ?
Ó cara ajudante fiel, seja razoável, seja inteira ou deixe de ser. Já tentei ser metade e veja no que deu.
Já dizia Manuel que é mais fácil fazer da tolice um regalo do que da sensatez.
Hoje eu te agradeci. Sim, você acertou em cheio como dois e dois são cinco. Quanto a mim, eu apenas esperava mais. Muito mais.
1 note
·
View note
Text
(RE) COMEÇO
Em uma manhã qualquer meus passos me levaram até a sua porta. Eu podia sentir a ventania que fazia em meu peito. Sua porta logo se tornou a minha. Pelo menos era isso que eu sentia. Ou queria sentir.
Eu sempre achei um tanto quanto assustador o fato de eu querer sentir algo e por vezes conseguir. E digo assustador pois quando o sentimento não carece de consentimento é como se eu não tivesse qualquer responsabilidade sobre ele, mas uma vez que tenho algum controle eu passo a ser responsável por cada lágrima que eu venha a derramar, seja ela minha, sua ou de quem for. Mas algo que sempre me confortou foi o fato de raras vezes eu conseguir ter tamanho autocontrole a ponto de sentir o que gostaria. O que devia.
Hoje eu acordei numa espécie de confissão. Me senti no dever de contar ao mundo que passei a controlar o que sinto por você. Veja bem, tem uns meses que eu venho dizendo que não quero sentir menos, pois eu sei a beleza do que sinto, mas não seria nada mal dar um novo nome e poder guardar em um novo lugar para que eu possa ter mais espaço no peito.
Tornar um sentimento racional não é um exercício nada eufônico mas eu cansei do desperdício do querer.
Eu me entreguei por completo ao coração disparado da chegada e a dor no olhar marejado da partida. E com a mesma intensidade eu já escuto ao longe a música que lhe compus.
Em uma manhã qualquer meus passos me levaram até a sua porta. Já não sinto mais a ventania de antes…
2 notes
·
View notes
Text
O amanhã que faz hoje
Buscar sentido nas coisas não faz sentido para todos. Deveria eu confiar nos meus sentidos então ?
Alimento pois o prisioneiro do peito, ou talvez simplesmente deixo que saia e habite um novo lugar. Quem sabe uma casa de verão a beira mar ou quem sabe um pequeno apartamento próximo ao parque da cidade.
A morte muitas vezes trás vida, e talvez esse seja o ciclo natural das coisas. Não estou certo disso, mas respiro compassado em meio aos meus pensamentos. Observar o amor diluído, não me faz deixar de acreditar em sua essência.
Está ficando agitado por aqui, mas de uma maneira diferente dos meses passados. Tenho a boca cheia de palavras que não sei se devo dizer. Ainda há um lugar cativo em minhas cicatrizes. Vejo cenas como um Déjà vu. Sombras sobre uma tela a óleo. Reflexos de nós. Mas os nós estão sendo desfeitos aos poucos e as sombras dão lugar a luz.
Não quero mais me perder dentro dos seus olhos nus. Há uma pequena janela em meu peito e talvez seja a chance de tomar uma xícara de chá com outro alguém.
Eu desejo a mudança implacável que visitou meus dias. Já arrumei minha mala de roupas. Minhas rimas não fazem sentido neste momento, mas eu me dedico ao compromisso do novo.
Hoje eu cantei no banho e você sabe o que isso significa. Eu estou prestes a encontrar o caminho de casa. Eu sei que está escuro, e que nunca foi fácil tatear na escuridão, mas eu sou mais que a soma de nós.
Não lhe dei permissão de pertencimento ou atemporalidade. Então porque deveria eu ser tão cauteloso ? Eu repito para mim todo o tempo que nenhum caminho novo é claro o bastante.
Tenho pensado em dar a ela o direito de me curar. Não há nada que eu possa fazer se não desejar o meu bem.
Buscar sentido nas coisas não faz sentido para todos. Deveria eu confiar nos meus sentidos então ?
2 notes
·
View notes
Text
Cantiga de Marinheiro
Saudade, quem foi que te inventou ?
Deve ter sido um alguém qualquer, mas vazio, daqueles que nunca amou.
Caso contrário como poderia lhe inventar ? Haveria de doer, na intensidade do verbo amar.
Uma vez tentaram me explicar a sua complexidade mas não entendi. Mal sabia eu que para entender precisa sentir.
E quando digo sentir não é chuva de verão. É chuva torrencial, que onde passa deixa destruição.
Começamos bons amigos e onde foi parar essa relação ? Não digo que te odeio, mas tenho saudade da minha razão.
Se torturar é crime você deveria logo ser presa. Uma criminosa como você não pode sair ilesa. Não sei o que te fiz para querer me ver sofrer. Não te peço mordomias, apenas me deixe viver. Saudade, quem foi que te inventou ?
1 note
·
View note
Text
Parede de Giz
Eu gosto tanto de você. Em 2013 isso já não era novidade pra ninguém.Muito menos para você que acordava e dormia vendo essa frase em sua parede com minha grafia nada agradável. Novidade é não estarmos mais juntos. Por onde eu caminho as pessoas perguntam, e mal sabem elas que eu sou a pessoa que mais gostaria de saber como você está.
Eu sempre gostei de cuidar de você.Não por acreditar de fato que você precisava ser cuidada, mas eu gostava. Talvez seja culpa da minha infância onde eu sempre escutava a velha frase “quem ama cuida”. E eu amava. Amo. Logo cuidava.
Na sua nova parede não tem qualquer mensagem minha, eu sei, e talvez por isso eu tenha me arrependido de ter ficado com este guardanapo que tenho em mãos. Eu o entreguei a você no seu aniversário de 2015. Ainda lembro da minha chateação por um pequeno borrão de tinta no canto esquerdo. Mas isso em nada atrapalhou o que eu quis te dizer.
Em sua nova parede não há qualquer mensagem minha mas eu sei que você nunca vai esquecer a nossa parede original. Eu gosto tanto de você. Em 2013 isso já não era novidade pra ninguém...
0 notes
Text
A MENINA DA BOTA AMARELA
Aperto um botão e logo aparece pressione início para desbloquear. Eu procuro evitar, mas no final das contas pressiono. Neste momento não me sinto privilegiado pela tecnologia. Me sinto rendido. Gostaria sinceramente de poder voltar ao tempos das cartas. Por mais que elas me pareçam mais românticas, e isso só piora o cenário, elas levavam meses, e talvez eu pudesse me refazer neste meio tempo. Pouco provável claro, mas por agora tenho saudade. ‘’E por falar em saudade, onde anda você’’.
Eu já não sei, mas quando imagino é sempre com a velha bota amarela.
Lembro do dia exato que a presenteei. Você ficou tão, mas tão charmosa, que eu fazia um esforço descomunal para não parecer um bobo te olhando.
No final das contas acredito que de nada adiantou meu esforço, mas eu seguia ao seu lado sorrindo calado e fingindo normalidade.
Eu sei que a maioria das mulheres quando se imaginam sexy, logo pensam em um salto alto com um Q provocativo, mas a cena que me vem a mente é você com sua meia soquete um tanto quanto gasta, colocando sua bota amarela de cadarço igualmente amarelo.
Foi a primeira vez que você me levou até a Redenção. Por lá tudo era novidade para mim, inclusive sua companhia. Posso sentir ainda agora o dia gelado que fazia enquanto um sujeito um tanto quanto estranho tocava I'm Yours com sua sanfona. Eu achei aquela cena engraçada e decidi filmar.
Ultimamente me pego vendo esse vídeo repetidamente, como se a menina da bota amarela fosse voltar a habitar meus dias. Aperto um botão e logo aparece pressione início para desbloquear. Eu procuro evitar, mas no final das contas pressiono. Neste momento não me sinto privilegiado pela tecnologia. Me sinto rendido.
1 note
·
View note
Text
Vanilla Caramel
Queria te sentir uma última vez. Levantei do sofá com todo o cuidado do mundo para não acordar a nossa filha que dormia sobre minha perna. Mas não teve jeito, ela não só acordou como levantou e foi até a cozinha assistir de camarote a minha grande decepção.
Pelas minhas contas ainda restavam três. Exatamente três sachês. Mas parece que mais alguém havia descoberto aquele sabor. Aquele cheiro.
Minha primeira reação foi de raiva. Como alguém poderia o ter tomado e sequer ter dado a notícia ?
Logo depois tentei entender o motivo da minha raiva, e ele era bastante simples e direto. Aquele era o nosso sabor. Sim, o nosso sabor.
Eu sempre gostei tanto de lhe dar presentes. Era uma das maneiras mais simples que eu tinha de lhe mostrar o quanto te amava. Nunca foi a sua linguagem do amor mais importante, longe disso, mas você sorria com os olhos quando eu te surpreendia, e isso era tão viciante para mim quanto aquele sabor era para você.
Gostaria de me lembrar do dia que você o experimentou pela primeira vez, mas eu estava tão obcecado em lhe apresentar novos sabores que provavelmente perdi o momento exato. Mas ele passou a ser tão importante em nossas vidas que por vezes eu criei e recriei esta memória em minha mente, como se ela já estivesse lá.
Como era gostoso colocar a água para ferver e surgir com ele em mãos.
Tão pequeno mas tão poderoso. Era como sentir o seu gosto na boca. Era com sentir você.
Hoje levantei do sofá com todo o cuidado do mundo. Tive saudade.
Queria te sentir uma última vez.
1 note
·
View note
Text
A rosa solitária
25 de fevereiro, te recebi com uma rosa.
Acordei cedo, fui até a padaria. O cheiro de café me consumiu a alma. Comi o misto padrão, com duas fatias de queijo, peito de peru e requeijão. Pronto, o dia começou muito bem. Voltei para casa e fiz um lista das floriculturas mais próximas. Eu queria te receber de maneira especial. Fui até a primeira, mas as flores não faziam jus ao local. A segunda não era tão longe da primeira, inclusive em qualidade. Fui embora frustrado já torcendo por mais sorte nas próximas. Na terceira as coisas melhoraram, mas estavam longe de agradar um perfeccionista como eu, ainda mais se tratando de uma surpresa para você. Com uma cara de cachorro pidão conversei com a atendente e expliquei que você vinha de longe e que eu precisava de apenas uma rosa. Ela tentou me convencer a te dar um buquê completo e me disse que qualquer mulher iria amar receber um, principalmente com uma caixa de chocolates. Mas você nunca foi ou será uma mulher qualquer e eu segui atrás de uma rosa solitária.
No caminho para a próxima vi um lugar vendendo cactos e suculentas na calçada. Parei o carro como se estivesse em uma competição e perguntei para uma senhora que estava sentada em uma cadeira de fio colorido em uma pequena cobertura onde havia uma sombra. Ela abriu um sorriso nada estético mas carregado de empatia. Bingo ! lá vem ela com uma rosa branca, solitária, do jeito que eu havia imaginado. Dei um urro de alegria seguido de um abraço. Coloquei dinheiro a mais do que devia em suas mãos e comecei a me dirigir para a saída. Ela não se conteve e gargalhou, mas dessa vez não sei explicar se foi bonito ou empático, já que eu tinha o caminhar de um maratonista.
Fui para o aeroporto como uma bala, o clima da competição continuava em meu sangue e eu me sentia num circuito. Eu estava um pouco atrasado, já que imaginei mais simples a missão de conseguir uma única flor.
Você me escreveu que havia chegado quando eu estava a um farol do estacionamento. Parei em um local proibido e corri para o saguão. Me escondi atrás de uma pilastra com as mãos suadas. Você surgiu.
25 de fevereiro, te recebi com uma rosa.
0 notes
Text
O anel cigano
Tudo começou com um rolamento. Me recordo de pensar que só o fato de você gostar da idéia já me fazia o maior sortudo do mundo. Sim, eu costumava me sentir assim. Eu tinha tanto orgulho de nós e do nosso encaixe de dedos. Quem mais teria essa idéia ? quem mais teria esse encaixe ? O tempo foi passando e conhecemos um nômade. Mais um vez a simplicidade nos tocou, cruzamos olhares, trocamos anéis. O episódio do nômade se seguiu por duas vezes na realidade, e em uma delas caminhamos pela avenida paulista como se estivéssemos em outra dimensão.
Eu sempre esquecido perdia constantemente nossos símbolos, mas você entendia. Reclamava, mas entendia. Você dizia para mim que eu podia fazer tudo sem precisar tirá-los dos meus dedos. Mas eu nunca consegui. Eu e minhas manias. Por vezes desejei ter menos manias ou ser mais simplista como você, que consegue fazer de tudo com o que tiver nas mãos, mas você me entendia. Então estava tudo bem.
O tempo foi passando e eu comecei a pensar maior. Comecei a imaginar peças mais caras e com maiores significados. Passei meses atrás de algo que me fizesse os olhos brilhar, e para você não desconfiar disse que não sabia o que você queria ou que não sabia se te faria feliz. Mas eu menti. No fundo se existe um homem capaz de acertar em cheio o que você gostaria de receber, este homem sou eu. Talvez isso não importe mais para você agora, mas por favor me deixe pensar que sou apenas eu. Do veludo cheguei a uma pedra diferente. Como nós. Ela brilhava, mas não era como um diamante qualquer. Aquele verde me consumiu e eu bolei um plano dos melhores. Caro. Mas dos melhores. Mas entre as pesquisas e nossos planos surgiram pessoas nos dizendo que não era hora. Mas para mim já era sim o momento. Sempre foi, gritei calado.
Eu contei para sua melhor amiga da época as minhas intenções. Foi durante um chopp no aeroporto. Lembro do sorriso que ela abriu e do sorriso que fui para minha casa após a confissão. Ela seria nossa madrinha. Também era sua amiga que eu mais gostava. Era uma das poucas que eu sentia que realmente se alegrava por você. E eu sempre gostei muito de quem cuidava do seu coração.
O tempo passou mais uma vez e eu queria colocar em prática meu grande plano. Ele envolvia um pedra, uma viagem e alguns amigos. Como se não bastasse o tamanho da operação e sua dificuldade eu ainda precisava te encontrar e você não podia desconfiar de nada. O peso foi grande para mim na época e resolvi me dar tempo, já que ele era um elemento que eu acreditava dispor.
Falando em tempo, passamos algum sem nos cobrar. A vida seguia seus rumos naturais. Nós crescíamos. Meu plano seguia em meu coração.
Certa vez você me disse que ficaria feliz com algo que vimos em uma loja do shopping, e mesmo tendo gostado eu sabia que aquilo não chegava perto do que eu sempre quis fazer. Eu não queria algo que qualquer um pudesse entrar naquelas lojas chiques, passar o cartão e dizer estar apaixonado. Eu queria mais. Nós éramos muito mais que apenas uma loja de shopping.
O senhor tempo continuou passando, nossos planos começaram a ficar mais palpáveis e eu comecei a sentir que poderia voltar para o meu planejamento. Nesse meio tempo começamos a olhar detalhes para o nosso grande dia. Encontramos a fazenda, já tínhamos o fotógrafo, você disse conhecer o seu vestido.
Após esse início de preparativos eu me senti traído por você. Em uma de nossas conversas eu acabei sendo mais duro que de costume. Aquilo bastou. Pela primeira vez me vi sem você, e a imagem não era nada boa. Mas durou pouco, éramos mais fortes que isso, o senhor tempo era testemunha que éramos. Aquele longo abraço em prantos me fez acreditar mais uma vez.
Logo você estava ainda mais longe. Mas para mim continuava muito perto. Eu dizia para mim mesmo que essa distância era apenas psicológica. E não demorou muito para que eu fosse te visitar.
Você então começou a me apresentar sua nova vida, nova casa, novo bairro. Fizemos feira. Passamos frio. Fomos 1 milhão de vezes ao supermercado. Era o nosso programa predileto. Descobrimos o app dos vinhos, e até hoje não sabemos quais são os melhores queijos, mas o sucrilhos, esse nós sabemos sim.
Um dia você me levou para passear em outra cidade com sua família. Nesse dia eu o avistei. Na realidade você o descobriu primeiro que eu, e quando me mostrou fiz pouca cara de surpresa, eu não podia dar mole. Quando saímos do lugar das velharias eu te pedi um abraço, mas eu na realidade estava fazendo fotos daquela fachada para que eu pudesse voltar e comprá-lo. Claro que eu corria o enorme risco de alguém o fazer antes de eu voltar, mas eu resolvi confiar nos meus instintos de que tudo daria certo, e de que eu não precisava mais da pedra verde. Eu vi o seu olhar para aquela peça. E eu queria lhe dar.
Chegamos a um momento que aquele anel talvez teria a validade de um rolamento para você. Das 10h as 19h fica aberto o OH GENTE DA MINHA TERRA em Sintra. Mas você me pediu para seguir novos rumos, e talvez eu não volte a fazer aquele caminho. Sigo na d��vida se ele ainda está lá, e tenho a mesma dúvida sobre os seus sentimentos. Aliás, nada me machuca mais que tais dúvidas. E eu sigo gritando, mas dessa vez não tão em silencio, encontrei a palavra escrita, já que hoje estou com menos direitos que um detento. Não tive sequer minha ligação.
0 notes
Text
Uma lágrima
Você nasceu e eu percebi em uma lágrima.
Era apenas mais uma manhã de 2011 para alguns, mas para mim já era possivelmente tarde demais. Eu estava em frente ao computador vendo seu status se alterar.
Resolvi me fazer presente cultivando o passado, mas era uma luta de um guerreiro só.
Batalhei com as armas que tinha, fiz os sinais que podia. O tempo passou.
Um dia acreditei tê-lo sepultado, cometi um erro, perante você, um pecado. Mas você estava ali, debilitado mas vivo. Não sei como você respirou todo esse tempo, não sei do que se alimentou, a sua morte era certa, mas você vivo ficou.
Em julho eu te libertei, te dei nome, te dei cor. Fazia frio nas ruas, e verão em nós. Voltamos para casa com um compromisso.
Em seis anos te levei para conhecer lugares, pessoas, texturas, sabores, prazeres. Você se acostumou rapidamente com essa vida. Mas não te julgo, qualquer um teria.
Juntos conquistamos tantas coisas, e você parecia crescer forte e saudável, mesmo que um pouco orgulhoso também. Mas as vitórias eram tantas, que não me atentei ao orgulho, ou aos seus sinais mais primitivos.
Um ano atrás caímos numa emboscada, mas só eu podia lutar, já que você estava ferido. Foi um golpe e tanto o que te feriu, mas quase um mês depois você recebeu alento de quem menos esperava. Sentimos juntos o gosto salgado de um abraço. Um longo abraço de aeroporto.
Eu gosto de um retrato desse dia. Lembro do sorriso largado enquanto o café da manhã ficava pronto num lugar aconchegante e cheio de plantas.
Os momentos seguintes nos deixaram marcas profundas, mas não maiores do que as que estariam por vir. Queimamos em um quarto de hotel qualquer.
Falando em retrato, também gosto de alguns do nosso ato seguinte, seja na Cidade Luz ou no Chiado. Fazíamos planos, falávamos sobre o futuro e pela primeira vez eu estava tendo a coragem de me mudar de país e tornar você ainda maior. Não que você não fosse grande o bastante ou não tivesse seu lugar, pois você tinha, mas já era hora de viver o aguardo.
A lua de mel terminou em um ônibus ao som de You're Gonna Live Forever in Me. Antes houve o último abraço. Eu não sabia o que ali se passava, e se soubesse teria apertado tanto, mas tanto, que não te largaria mais. Eu filmei o nosso Adeus. Mas eu não preciso ver essa fita já que tenho tudo em minha mente.
Olhamos juntos pela janela, sofremos aquilo que acreditávamos ser uma das ultimas despedidas. Mal sabíamos que na realidade era a última. Inocência de uma criança.
Sim, eu quis te tornar maior, mas você era apenas aquela criança de quase seis anos. E quanto a mim, eu era tão refém de você quanto você do meu peito.
Tento agora te libertar, te deixar habitar um novo lugar sem minha presença. Você está mais uma vez debilitado.
Muitos doutores já dão sua morte como certa e amigos preparam seu funeral. Outros preparam uma grande festa regada a bebida e prazeres. Quanto a mim, eu apenas assisto tudo de longe, tentando não piorar os danos causados. Não sinto que você queira ir, e também não sinto que exista ferida incurável para você. Já suportastes tanto, que ja te considero um daqueles mocinhos de filme que nunca morre. Mas você é real. E tudo que é real pode sim morrer. Mas eu também não quero que se vá, mesmo que eu tenha tirado os quadros da parede. Mas pouco me importa os quadros já que eu não preciso da fita ou das polaroídes. Está tudo ainda vivo em minha mente nada sã.
Te sinto como uma vela de aniversário que se apagou e que todos pensam não poder mais pegar fogo.
Mas quando foi que um estalo de dedos salvou vidas? Talvez nunca, mas eu continuo esperando um que faça o fogo voltar.
Um estalo de dedos e mais nada.
Caro amor, você não morreu, e eu percebi em uma lágrima.
0 notes