amortual

[amortual]

Ela chegou, sentiu o peso das frustrações caírem sobre os seus ombros. Lembrou das tantas vezes que teve que mantê-lo erguido para transparecer força de vontade e determinação no trabalho, suspirou e permitiu que o cansaço a dominasse.

Ali ela já estava desamparada, olhou para a cama e viu a pessoa que mais amava na vida. Rastejou até o lado da pessoa, deitou descansandoa cabeça no peito dela.

Ambas se acomodaram e após alguns segundos ouvindo só as batidas reconhecíveis daquele coração ela sussurrou:

- Estou feliz por ter você aqui.

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Throwbacks for the occasion <3

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Carmen & Lola (2018)

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Grinding with a view.

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“E se sentir saudades, olhe para o céu; eu serei a constelação em seus olhos.”

— W. 

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“Tudo é estranho! Não é nada mas é tudo. Não é intenso mas não é vazio. É tudo mas não é nada. É intenso mas não é. Eu gosto mas desgosto. Eu choro mas eu sorrio. Eu gosto mas eu odeio. Eu fujo mas eu volto. Eu sumo mas eu apareço. Ele fode mas sou eu quem não sai de cima. Eu amo mas odeio. É insensível mas sensível. É confiante mas inseguro. É gostoso mas nem tanto. É complexo mas é fácil. É confuso mas nem tanto assim. É ele, é eu, é você, é nós, é a gente, é o mundo, é o sentido da palavra oposta que sutilmente cabe tão bem entre nós. Nós, mundo. Nós ela. Nós ele. Nós nós. Finalmente encontro palavras que por vezes não se conectam, por ser opostas, e talvez nós sejamos essas palavras confusas que se complicam e se bugam na maior parte do tempo. Talvez, se eu fosse menos louca, se eu não fosse soca, desesperadamente, sem parar, um travesseiro branco… Como dizia Clarice Falcão, Talvez. Talvez se não fossemos opostos não admiraríamos uma obra de artes dessas, que são as diferenças. Mas ESPERA AI! Você não gosta de arte, e eu sou a arte. Vemos novamente como não nós conectamos por estados ou sentimentos, então somos como imãs? A direção sul se sente atraída pela norte? Ou vise-versa? Loucura! Mas o que mais poderia se esperar de nós dois? Ou três, quatro, ou dez, ou vinte, ou mil, um milhão ou o universo?”

— He. 

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Estava voando entre uma nebulosa, acredito que era a de Órion. Parecia que estava atravessando um algodão com glitter para todos os lados. Haviam pontos brilhantes, uns maiores que outros. Podia sentir que havia morrido e estava no céu, aquela era a minha recompensa por ter sido uma pessoa incrível.

Meus olhos estavam cheios de lágrimas e meu corpo parecia estar prestes a desintegrar de tanta felicidade quando ela bateu em meu ombro me trazendo pra realidade.

- Me desculpa te acordar, mas também preciso de companhia e a Luísa acabou de ir embora. - foi sentando ao meu lado e encostando a cabeça no meu ombro direito.

- Está tudo bem - fui me aproximando para deixar a cabeça dela à vontade. Continuei falando - tem uma nebulosa chamada NGC 1976, mais conhecida como Nebulosa de Órion. Ela fica a aproximadamente 1800 anos-luz do Sistema Solar.

- O sistema solar é onde estamos?

Sorri e respondi:

- Sim, é. Imagine a Nebulosa de Órion como uma densa nuvem que, embora seja um monte de gases, agora vai ser um enorme emaranhado de algodão e glitter. O glitter seriam as estrelas. Um lugar rosa, lilás, roxo e todos os outros tons semelhantes mais inacreditáveis.

- Isso me parece ser lindo.

- Sim, é. Estava sonhando que a atravessava quando me acordou.

- Me desculpa, precisava de companhia.

- Está tudo bem, estou feliz em poder te contar sobre isso agora. Veja bem, perdi a chance de falar muita coisa... Agora só me resta não cometer o mesmo erro.

- Ela te chamava de nerd, mas no bom sentido.

Suspirei e respondi segurando as lagrimas:

- É, Eu sei. Ela amava que eu contasse sobre essas coisas para ela. Geralmente costumava fechar os olhos e quando eu terminava, sorria.

Ela afastou a cabeça do meu ombro, virou para mim e disse com o olhar cabisbaixo enquanto tocava nas minhas mãos:

- Você sabe, ela tinha namorada. A amava muito. Mas nunca a vi tão feliz e sorridente por alguém como a via quando vocês ficaram aquele tempo juntas.

- Mas não foi nada sério, não precisa inventar história. Tá tudo bem. Aquela foi a nossa breve história.

- Não, agora eu que preciso falar. Talvez ela não tenha te dito isso por vergonha, orgulho. Sei que do que aconteceu entre vocês. Ela te amava, às vezes pegava a pintura que você fez pra ela e ficava encarando, sorrindo. Nunca a entendia. Mas agora eu sei.

- O que você acha que sabe?

- Sei que você a ama porque não quer sair daqui sequer um segundo, está desolada e queria uma máquina do tempo para trazê -la de volta. Sei que ela te amava porque fazia de tudo para não te encontrar por medo e vergonha. Medo porque não conseguia ficar perto de você sem sentir algo. Vergonha porque ela te magoou demais, você sabe disso. Ela era a pessoa mais cheia de amor que eu conhecia, fazia de tudo por quem amava. Mas às vezes negligenciava de si mesma.

Comecei a chorar compulsivamente, ela me abraçou e disse:

- Pode chorar, você vai precisar. - foi enxugando meu rosto e dizendo enquanto puxava meu rosto para encará-la:

- Fico triste que tenha sido assim. Mas tenho umas coisas pra você.

Nesse momento ela puxou uma agenda cheia de papéis que estavam dentro da bolsa dela.

- Eu ia ficar com isso, depois pensei em dar para a namorada dela. Não sabia o que fazer, até agora. Você é a pessoa certa. Sempre foi.

Peguei o caderno e respondi:

- Você sabe o que é?

- Não - respondeu fechando a bolsa - Mas sei que tem muito de você aí dentro. Aparentemente você estava na lista de amores impossíveis dela. Ela tinha muitos amores, confesso. Mas sei, com toda a certeza, nenhum foi como você. Vocês nem sequer puderam se beijar direito, mas ela te amava muito.

- Pode ficar tranquila, era recíproco. Um dia a vi, de longe. Passei quase 3 meses sonhando sem parar com ela, comecei a sair cedo para pegar o ônibus que passava pelo caminho dela... Tudo para voltar a vê-la, hoje provavelmente faz uns 5 meses. Se eu tivesse mandado mensagem, ela não teria respondido. Disso eu sei. Talvez esse fosse o nosso destino mesmo. Um caderno, nem um beijo. Nada além disso.

Ficamos em silêncio por um segundo, olhei em direção contrária onde ela estava e ela falou vagamente.

- Olha dentro do caderno. Tem algo lá pra você, voce não vai embora, né?

- Não vou.

- Então vou até o mercado comprar algo. Não esqueça de ver o que tem dentro do caderno.

Ao ela virar as costas esperei alguns minutos, sentia medo. Dor. Perturbação. Era como se qualquer chance de ser feliz tivesse ido embora. Aquilo tudo agora estava sendo em vão, se me amava não devia ter vindo atrás de mim? Estava revoltada. Furiosa. Comigo sempre é assim.

Depois de tanto pensar, fui abrindo o caderno que estava envolto por um elástico. Tinham flores secas entre as folhas, folheei rapidamente e pude ver uma rosa amassada. Aquela eu reconhecia, tinha dado a ela quando nos vimos pela penúltima vez.

Era aniversário de uma amiga, ela apareceu sozinha na festa, se aproximou de mim e começamos a nos divertir juntas. Parecia que tínhamos sempre as mesmas ideias do que fazer ou falar. Depois da festa fomos para a minha casa, Ela segurou a minha mão o caminho inteiro pra casa. Lembro que o motorista perguntou o que ela era pra mim, ela respondeu:

- Minha esposa.

O motorista perguntou:

- Há quanto tempo?

- 4 anos.

Olhei para ela, dei um beijo e sorri. Ao chegarmos em casa descemos e entramos para dormir. Ela vestiu uma roupa minhas e fomos para o meu quarto. Como estávamos bêbadas, apenas ficamos nos beijando e rindo a noite inteira. Ainda lembro do perfume e do abraço.

Durante algum momento na madrugada levantei para ir ao banheiro e descobri que tinha ficado menstruada, obviamente ia ter que me limpar antes de voltar para o quarto. Por isso demorei cerca de 30 minutos.

Depois de me arrumar e vestir outra roupa retornei ao quarto, abri a porta e a vi em cima da minha irmã. Elas estavam se beijando. Ao perceberem que estava vendo, ela saiu de cima da minha irmã e veio em minha direção. Fechei a porta para impedi-la de chegar até mim e voltei ao banheiro. Ela batia na porta pedindo para que eu saísse, mas não respondi. Fiquei lá dentro respirando fundo para não chorar muito. Porém, acabei chorando muito. Ela ouvia meu choro e pedia para que eu saísse. Uns 30 minutos depois consegui sair porque minha mãe queria entrar no banheiro, percebendo que tinha algo errado perguntou o que havia acontecido, respondi:

- Estava vomitando.

Entrei no quarto e ela veio em seguida fechando a porta. Sentei na cama e ela sentou ao meu lado dizendo:

- Pode explicar, por favor. Me deixa explicar. Você é tudo pra mim, estou falando a verdade. Pelo amor de Deus - ela falava enquanto eu olhava para o chão em silêncio - Olha para mim. Foi um erro, não vai se repetir.

Após uns 5 minutos, ela ainda se desculpa a inutilmente. Olhei para ela e respondi enquanto me arrumava para deitar na frente dela:

- Está tudo bem. Vamos dormir.

- Não, por favor. Não está tudo bem, eu sei da merda que fiz.

Levantei bruscamente e falei em tom agressivo:

- Eu sei também, eu vi! - sentei novamente, toquei na mão dela e disse calmamente:

- Não é a primeira vez que acontece comigo. Só... Por favor... Vamos dormir. Preciso descansar. Amanhã você já vai e nós esquecemos sobre isso e sobre tudo. Tá bom?

- Não posso perder você, vamos conversar. Por favor. - começou a chorar.

- Vamos deitar, não podemos consertar isso. Nunca mais. Você estava com a minha irmã. Já chega, tá bom?

Puxei ela para o meu lado e dormimos. Não sei se foi o cansaço ou a bebida, mas naquela noite só ignorei o que aconteceu. Nos outros dias fiquei um caco. Não julguei minha irmã, tampouco fiquei com raiva dela. Já sabia que estava bom demais para ser verdade.

Depois disso nos vimos uma única vez, conversamos e parecia que o tempo não havia passado. A não ser pela saudade que sentia mesmo estando ao lado dela. A última vez que a vi, ela não me viu. Ela continuava linda, estava sorrindo. Com o tempo a dor foi passando e ela se tornou um amor impossível. Ou mal resolvido.

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Pior que se sentir à beira de um colapso é não sentir nada. Como se não fosse capaz de ter sentimentos por nada nem ninguém, apenas um monte de células úteis para os outros mas nunca para si mesma.

De vez em quando torna-se útil para algo, mas não sempre. Sua presença não faz diferença e estar aqui ou não é só questão de acaso. É bem mais uma crise existencial, é a beira de um precipício. Pois nesses momentos você não sabe o valor de nada, nem de si mesma. A linha tênue entre o tudo e o nada é o que leva alguém a morte. A tristeza profunda, castiga. A felicidade plena, eleva. Sentir nada é o que leva alguém tirar a própria, pois é nesse momento que o desprezo pela existência se desperta de forma mais expressiva.

A apatia sim, essa é o monstro há muito tempo. Espero que percebam a tempo.

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Não sei o que esperar de mim em um dia, às vezes acordo sentindo que posso fazer tudo. Levanto e já arrumo a cama, escovo os dentes e me arrumo para um dia incrível. Chego até a escolher a melhor roupa e passar o batom vermelho que faz com que eu me sinta a mulher mais desejável do mundo.

Minha cabeça fica me dizendo que ainda não sou a pessoa que sempre sonhei em ser, mas posso chegar lá. Basta cumprir com todos os meus objetivos, torno-me capaz de fazer isso.

Mas pode ser que uma fala, um post da internet ou uma simples lembrança surja na minha mente e, de repente, eu me torne novamente aquele indivíduo medíocre triste e sem esperança. Volto a querer deitar na cama, não responder as mensagens ou só dormir até o fim da vida. Volto a ver quem eu normalmente sou, alguém com essa tristeza profunda e paralisante.

Não sei o que vem depois dessa tristeza, pode ser que algo me faça rir sem parar e logo em seguida volto a me sentir a pessoa mais triste do mundo.

Depois dessas nuances, me sinto esgotada. Infelizmente nos momentos tristes, carrego o cansaço. E os motivos são diversos.

Sinto inveja de quem consegue extrair o melhor de suas nuances mais controladas, elas conseguem ter sucesso no que fazem. Chegam à beira da perfeição de suas vidas. São melhor compreendidas e melhor vistas. Essas são as pessoas ideais, uma pessoa como eu não consegue ser. Vive uma vida medíocre e solitária, por estar sempre cansada e impaciente consigo mesma.

Elas não se sentem cansadas de si mesmas, nao sentem vontade serem normais, não sentem que tem um monstro imprevisível dentro de suas cabeças.

Não sei em que momento descobri esse monstro, apenas sei que ele me afasta de uma personalidade ideal e faz com que eu aja de forma agressiva às vezes. Quando estou mal, de uma forma negativa. Quando estou bem, prefiro dizer que é por uma autoconfiança exagerada.

No fim das contas, vivo um relacionamento abusivo comigo mesma. Passo por todos os estágios e no fim sempre saio machucada.

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Eu tive um momento feliz com ela. Mas passou como um vento. Não preciso passar a vida presa no motivo de um único suspiro. Disso eu entendo.

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Saudade de ler poesias para você nos dias difíceis

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O dia estava ensolarado, o sol ardia lá fora. Ela veio para minha casa, então tive a ideia de chamá-la para um piquenique.

Ela estava de shorts preto e uma blusa branca brilhosa. Resolvi usar um vestido de renda branco de costas nuas e alças finas. O lugar era de mata fechada, segurei a mão dela e fui à guiando até o lugar onde costumava ficar sozinha.

Sentamos debaixo de uma árvore de tamanho médio de altura e enorme de largura, aquele emaranhado de galhos formava um grande teto de folhas, de onde pouca luz era capaz de atravessar.

Estendi um pano e arrumei nossas frutas, suco e outras coisas. Ela sentou ao meu lado e sorria um pouco tímida, suas covinhas e aquele sorriso enorme era um convite para um beijo. Seus cílios brilhavam graças os raios de sol que atravessavam aquela cúpula de folhas. O vento, a terra, o pano vermelho e as nossas almas nuas, sorrisos, sussuros, carinho e ela, com a cabeça nas minhas pernas.

Tocava seu rosto com a ponta dos dedos, seus cabelos estavam espalhados pela minha perna e chão. As árvores faziam o som da liberdade, as horas se congelaram. Aquela parecia uma tarde infinita.

Acarinhava o rosto dela, ela apenas sorria para mim. Podia ficar olhando para aquela pele morena e aqueles olhos castanhos para sempre. A vida inteira. Cortando o barulho dos pássaros, ela disse:

- Você sempre vem aqui?

Respondi, sorrindo:

- É meu lugar preferido, mas sempre não.

Ela puxou uma mecha do meu cabelo, colocou no rosto formando um bigode e disse com um largo sorriso no rosto:

- Você me amaria se eu fosse assim?

- Mas eu nunca disse que te amo.

Ela levantou, seus cabelos caíram sobre seus ombros, senti seus olhos se direcionarem para a minha boca e sua mão direita tocar na minha cintura e disse:

- Eu sei que você não costuma falar, eu também sou assim.

Não precisávamos dizer eu te amo em voz alta, quando nossos olhos se encontravam podíamos sentir tudo fazer sentido. Ali nos beijamos, pela primeira vez.

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